Guia de Boas Práticas no Mergulho Contemplativo

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GUIA DE BOAS

PRÁTICAS NO

MERGULHO CONTEMPLATIVO


O QUE É O PROJETO O Projeto Meros do Brasil desenvolve ações de pesquisa e conservação do mero (Epinephelus itajara) através do estudo da biologia pesqueira, genética, piscicultura marinha, educomunicação ambiental e mergulho científico ao longo da costa brasileira.

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Para realizar suas ações de pesquisa, o Projeto Meros do Brasil trabalha com uma rede de parceiros formada por instituições de ensino e pesquisa distribuídas pelo litoral brasileiro que atuam de forma autônoma, em cooperação técnica e científica. Dessa forma, o Projeto propõe unificar os desafios de pesquisa e conservação de uma espécie que é distribuída amplamente em quase todo o litoral brasileiro. O Projeto Meros do Brasil é executado por instituições que trabalham juntas nos sete pontos focais de atuação: Universidade Federal do Pará (PA); Universidade Federal de Pernambuco e Instituto Recifes Costeiros – IRCOS (PE); Associação de Estudos Costeiros e Marinhos – ECOMAR (BA); Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/ CEUNES (ES); Universidade Federal Fluminense - UFF (RJ); Instituto de Pesca de São Paulo (SP) e o Laboratório de Educação Ambiental - LEA da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (SC), além de novas instituições que estão sendo agregadas nos estados do Paraná e Alagoas. g2

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O Projeto conta também com a parceria de mais de 50 instituições e grupos no auxílio do desenvolvimento das ações em prol do conhecimento sobre a espécie e dos ambientes que habita. Para maiores informações, visite www.merosdobrasil.org

Conheça mais sobre o Mero O mero é um peixe marinho da família Epinephelidae, uma dentre as tantas espécies que compõe a família das garoupas, chernes e badejos. Por ser um peixe de crescimento lento, com maturação tardia, que atinge grande tamanho (pode chegar a mais de dois metros de comprimento e 400 kg de peso) e habitante dos vários ecossistemas costeiros, a espécie é muito vulnerável às atividades antrópicas, como a pesca e poluição, e corre o risco de ficar cada vez mais escassa na costa brasileira.

2 metros 2 metros (maior (maior que umque homem) um homem)

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até 400 até 400 Kg Kg motos 3 motos = 3=

(aproximadamente) (aproximadamente)

PesoPeso 1,65 metros 1,65 metros

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Os meros ocorrem em águas tropicais e subtropicais do oceano Atlântico. Habitam zonas estuarinas e áreas costeiras entre essas manguezais, recifes de coral, costões rochosos, parcéis e estruturas artificiais como naufrágios e pilares de pontes. Sabe-se que os meros alimentam-se de crustáceos (como camarão, caranguejo, siri e lagosta), de peixes variados (como raias, bagres, peixes cofre e baiacus), polvos e jovens tartarugas. São animais que, apesar do grande porte, são considerados pacíficos, permitindo, em muitas vezes, a aproximação orientada de mergulhadores.

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Um mero pode viver mais de 40 anos e sua reprodução se inicia por volta dos sete anos de idade, quando a espécie tem em torno de um metro de comprimento total. Os meros formam cardumes, conhecidos como agregações, em épocas e locais específicos com a finalidade de encontrar parceiros para a reprodução ou ainda para alimentar-se. Nesse aspecto, esforços de pesquisa têm constatado o desaparecimento gradual dos meros em locais onde costumavam ser abundantes, especialmente em locais de ocorrência de agregações. A destruição de habitats também constitui uma séria ameaça aos meros, sendo a espécie atualmente considerada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como criticamente ameaçada de extinção. Sua pesca e comercialização são proibidas em todo o território nacional desde 2002 e atualmente pela Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA INI Nº 13/2012.

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Os meros podem ser encontrados em diversos ambientes • Recife de Coral Os recifes de coral são ecossistemas marinhos encontrados principalmente em regiões de águas quentes e claras e formados pela deposição do esqueleto calcário de organismos como corais, algas e moluscos. Esses ambientes abrigam uma extraordinária riqueza de organismos, sendo considerados como os mais diversos habitats marinhos do mundo, além de fornecerem uma barreira de proteção da zona costeira. Por outro lado, são também intensamente utilizados pelas populações humanas, pois são economicamente muito valiosos. No Brasil, os recifes de coral se distribuem por aproximadamente 3.000 km, da costa do Maranhão ao emblemático banco dos Abrolhos, no sul da Bahia, representando únicas e singulares formações desse ecossistema no Atlântico Sul.

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• Manguezal Os manguezais formam um ecossistema costeiro que representa a transição entre os ambientes marinho e terrestre, ocupando 8% das costas do planeta. No Brasil, a cobertura vegetal predominante e muito peculiar é composta pelo mangue-preto (Avicennia schaueriana), mangue-branco (Laguncularia racemosa) e o mangue-vermelho (Rhizophora mangle) que têm suas distribuições relacionadas ao regime de marés. Por servir como local de abrigo, alimentação e reprodução de uma grande quantidade de espécies da fauna (peixes, aves, mamíferos, crustáceos, moluscos, dentre outros) é considerado um dos ecossistemas mais produtivos e ainda proporciona proteção contra a erosão costeira. É um ambiente frágil, onde os meros passam seus primeiros anos de vida, e apesar de sua importância ecológica e social (muitas famílias retiram seu sustento dessas regiões) os manguezais hoje se encontram em grande parte ameaçados por ações antrópicas. O Brasil possui uma das maiores extensões de manguezais do mundo (cerca de 10.000 km2), distribuídos desde o Cabo Orange no Amapá, até o município de Laguna, em Santa Catarina. Vale ressaltar que o mero é considerado uma espécie estuarino-dependente, ou seja, juvenis de meros (abaixo de 20cm) só são encontrados em manguezais.

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• Costão Rochoso Costões Rochosos são ambientes costeiros que, assim como os mangues, encontram-se no limite entre o ambiente marinho e o terrestre. Contudo, são considerados mais uma extensão do ambiente marinho do que terrestre, visto que a maioria dos organismos que os habitam está relacionada ao mar. Os costões rochosos sofrem influência das marés, do embate das ondas e dos raios solares, sendo as espécies que os habitam altamente adaptadas a essas adversidades. Neste rico ecossistema convivem vários tipos de algas e animais marinhos que buscam proteção e alimento. Lajes e Parcéis também são ambientes rochosos submersos que servem, assim como recifes de coral e costões rochosos, de substrato para a fixação de diversas espécies de algas, esponjas e outros animais marinhos, abrigando também complexa biodiversidade em sua trama de tocas e fendas, locais habitados por garoupas e grandes meros. Estruturas artificiais como pilares de pontes e naufrágios também são potenciais habitats para os meros, que tem preferência por estas grandes estruturas para abrigo.

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Programa de Pesquisa Participativa Mergulhadores, pescadores e pesquisadores podem participar do Projeto Meros do Brasil através do site www.merosdobrasil.org na seção “Participe do Projeto”.

Através desta ferramenta é possível colaborar com o projeto deixando seu relato de experiência e encontro com meros. Através do preenchimento de um log book, semelhante ao utilizado para registro de mergulho, é possível postar fotos, vídeos e comentários sobre as avistagens de meros. Se preferir, pode também enviar suas imagens diretamente para participemeros@gmail.com. As informações são periodicamente analisadas pelos pesquisadores e geram resultados muito interessantes, fomentando ainda outros trabalhos como a Fotoidentificação. Vale lembrar, que através desse canal é possível, ainda, fazer denúncias, críticas e sugestões para aprimorar o desenvolvimento do projeto e potencializar os trabalhos de conservação. Participe!

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Foto-identificação dos Meros Ao fotografar/filmar um mero você pode contribuir diretamente com um esforço nacional que busca uma melhor compreensão de aspectos da bioecologia da espécie e, portanto, ajudando na sua conservação. As imagens enviadas para identificação de indivíduos podem ser obtidas através de fotografias/vídeos subaquáticos ou de capturas acidentais em pescarias, quando ele é devolvido ao ambiente. Há alguns anos, o Projeto Meros do Brasil, em parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e os desenvolvedores do software I3S® (Sistema Interativo de Identificação Individual), iniciou uma campanha nacional de foto-identificação (Foto-iD) de meros. A ideia consiste em utilizar o rico material enviado por diversos colaboradores que mergulham em toda a costa brasileira para auxiliar na identificação de meros que ocorrem no nosso litoral.

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Nesse aspecto, os meros podem ser reconhecidos em uma fotografia, através de algumas características como: pintas negras distribuídas na cabeça, padrão de manchas claro/escuras ao longo da lateral do seu corpo e as cicatrizes. Esses atributos funcionam como uma identidade particular de cada animal. Assim, fotografias que mostrem as partes laterais (cabeça e corpo) e cicatrizes dos meros, vem sendo utilizadas de forma pioneira no Brasil, para identificar e monitorar os meros ao longo do tempo, em trabalhos conhecidos como marcação-recaptura/reavistagens.

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O mero HABITA sempre O mesmo lugar ou vive passeando? Na verdade as duas coisas podem acontecer! Os peixes da família Epinephelidae, têm a característica de serem sedentários, ou sejam, deslocam-se muito pouco entre os recifes que habitam. No entanto, podem sim, realizar grandes migrações, como já observado por pesquisadores na Flórida, onde um mero migrou cerca de 400Km durante o período de reprodução. No Brasil ainda conhecemos pouco sobre essas grandes migrações, mas já temos ótimos resultados obtidos através das análises do programa de Foto-iD. Nossas análises já mostraram que um mero em Fernando de Noronha migrou 14 km em menos de quatro dias. Outras, como o mero que “mora” no Naufrágio Marte em Pernambuco, evidenciaram que esse já vive por lá a mais de quatro anos! Naufrágio Marte - Serrambi - Pernambuco

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Aproveite a companhia dos meros Fique atento a emissão de sons característicos dos meros, os conhecidos “boons” pois você pode estar sendo observado por algum; Ao avistar um mero mantenha-se calmo e espere o animal se aproximar. Meros são curiosos e tendem a buscar a aproximação; Evite de qualquer forma tocar nos meros. Você pode assustá-los e por em risco a segurança do seu mergulho; Por fim, faça quantas fotos e vídeos puder e colabore com o Programa de Pesquisa Participativa do Projeto Meros do Brasil enviado suas fotos/vídeos através do nosso site www.merosdobrasil.org na seção “Participe do Projeto”.

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Dicas para uma boa fotografia • Mergulhar com um mero nunca é um mero mergulho! É quase sempre, sinônimo de mergulhar com peixe grande. O ideal para essa situação é ter sua câmera preparada e procurar enquadrar o peixe na foto sem ter que se distanciar muito dele, aproveitando a chance de se aproximar; g19

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• Como o mero geralmente é de fácil aproximação, é possível também fazer excelentes registros de alguns detalhes com uma lente macro, como seus olhos, boca, nadadeiras e especialmente do seu padrão de manchas e pintas na cabeça; • Em águas com baixa visibilidade ou seja, com muitas partículas em suspensão, evite usar o flash, especialmente se estiver com câmera compacta e com flash embutido. Ele pode causar o reflexo das partículas em suspensão; • Uma dica bacana de composição é ter o mero num primeiro plano e um mergulhador no segundo plano. O efeito faz com que o peixe, que já é grande, pareça muito maior que o mergulhador, mostrando sua grandiosidade; • Para os trabalhos de foto identificação o registro do padrão de manchas da lateral e as pintas negras na cabeça são as imagens mais importantes, pois podem ser consideradas como a impressão digital do peixe; • Para que as imagens possam ser utilizadas para o Programa de fotoidentificação precisam seguir algumas premissas: uma boa fotografia deve estar no foco. Assim, sugerimos que as fotografias sejam feitas a uma distância menor que 2 metros do mero, procurando enquadrar o peixe inteiro e detalhes de sua cabeça de ambos os lados. Procure não tocar, perseguir ou bloquear o caminho do animal, pois pode influenciar negativamente seu comportamento e diminuir as chances de aproximação para uma boa fotografia.

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Boas condutas ambientais para seus mergulhos

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• Antes de mergulhar busque informações com profissionais da área e com as administrações das Unidades de Conservação (UC), caso esteja em alguma; • Observe e informe-se sobre os horários e ciclos de marés a fim de evitar situações imprevistas e potencialmente perigosas; • Fundeie a embarcação na areia, pois a âncora jogada sobre os recifes provoca destruição dos corais e de outros organismos, além de ser proibida por lei (Art. 33 da Lei Federal 9.605/98 de crimes ambientais); • Não pise nem toque nos corais, eles são animais muito frágeis e morrem facilmente; • Nos recifes existem organismos que possuem substâncias urticantes e tóxicas, como alguns corais, peixes, águas-vivas, ouriços e outros que podem machucá-lo se pisados ou tocados; • Os equipamentos de mergulho autônomo devem ser mantidos perto do corpo do mergulhador, para que os mesmos não destruam os corais; • Movimente-se lentamente para não afugentar os animais; • Em águas rasas evite o uso de nadadeiras, pois estas provocam a quebra de corais e outros organismos, além da suspensão de sedimentos;

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• Não alimente peixes nem outros animais marinhos para não prejudicar a saúde destes; • Ao mergulhar em piscinas de maré ou áreas com pouca circulação da água, evite o uso de filtro solar, bronzeadores, óleos e cremes; • Comprar e comercializar artesanato produzido com corais é proibido por lei e estimula a predação dos recifes (Art. 33 da Lei Federal 9.605/98 de crimes ambientais); • Ao visitar um ambiente natural, leve o lixo produzido de volta ou deposite-o em local adequado. Nunca jogue lixo no mar, pois isso prejudica a fauna marinha; • Controle sua flutuabilidade! Não se apoie em corais, esponjas e tente não tocar o fundo; • Não colete nada. Leve do ambiente recifal apenas memórias e fotografias. E muita sorte no seu próximo encontro com o mero! Fonte: Ministério do Meio Ambiente.

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Saiba mais! Baixe o aplicativo de leitura de QR Code em seu aparelho. Com o aplicativo aberto, mire o QR Code com sua câmera e capture o código ao lado. Logo você será direcionado, pelo aplicativo em seu aparelho, para o conteúdo do Projeto Meros do Brasil.

GUIA DE BOAS PRÁTICAS NO MERGULHO CONTEMPLATIVO PROJETO MEROS DO BRASIL | PESQUISA E CONSERVAÇÃO

2ª edição, 2013 Autores da 2ª edição: Áthila Bertoncini, Vinícius Giglio e Matheus Freitas. g Fotografias: Áthila Bertoncini: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 12, 16, 21, 22; Rômulo Araújo: 8. Guilherme Cavalcante: 14, 15 e 17; Luis Pessoa: 11, 13, 17, 18, 19, 20 e capa. Edição e Produção: Fazemos Comunicação. Programação Visual e diagramação: Wilson Venâncio. Revisão: Maíra Borgonha e Flavia Moreira (Fazemos). 1ª edição, 2007: Vinícius Giglio e Fabiano Grecco.

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