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Body Art: o corpo como tela

Artistas de Sorocaba e região contam e mostram um pouco do que é essa forma de arte pouco explorada

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Por Maysa Ferreira

arte corporal nos rodeia a todo momento, sem nos darmos conta disso. A dança, a música, na TV e no cinema. Todas as formas de expressão que vão além de apenas palavras, feitos com gestos, sentimentos, aquilo que podemos, ou não, tocar. Como a arte em si, nos leva a refletir para tentar compreender o que o autor quer nos mostrar. Uma das vertentes artísticas mais interessantes da arte corporal é a Body Art, esse movimento que se iniciou no final da década de 60, tomou as forças da famosa Pop Art e do minimalismo, e rapidamente se

alastrou pela vida noturna estadunidense. No final da década de 80 e início da década de 90 aconteceu o famoso movimento dos Club Kids que faziam parte da vida noturna de Nova Iorque, e ficaram conhecidos pela sua forma extravagante de se vestir e de se comportar, além de maquiagens artísticas e uso de diversos acessórios. Esse movimento foi uma das mais famosas extensões da Body Art. A cultura Drag Queen caminha junto com a Body Art, tendo em vista que também utiliza elementos pelo corpo. Artistas das duas vertentes podem ser

encontrados em boates e eventos artísticos, enquanto drag queens fazem performances envolvendo dança e dublagem de música, os adeptos da body art apenas comparecem a esses eventos para mostrar a arte feita pelo corpo. E o que é de fato a Body Art? O corpo é a tela, nele você coloca tudo aquilo que quer expressar. Pode se transformar numa pintura, do realismo ao abstrato. Não se limite a tinta, tudo pode ser usado. De objetos encontrados em uma papelaria a metais inusitados, o que reflete a arte que deve ser mostrada.

Grupo de Club Kids com vários dos nomes mais influentes da época, como Amanda Lepore, Walter Paper e Christopher Comp /Foto: Michael Fazakerley


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Trazendo para a nossa atualidade, a Ariel, 18 anos, drag queen e performer de Votorantim, começou a desenvolver trabalhos na área há oito meses. Inspirada por ícones da moda como Gianni Versace, Alexander McQueen e Moschino, e ícones pop como Lady Gaga e Rihanna, Ariel vem criando visuais que mesclam um pouco do que cada uma dessas personalidades tem a oferecer. Utilizando também materiais pouco convencionais “Já utilizei CD’s e bexigas, acho que foi o mais diferente”. Essa forma de arte ainda luta para garantir um espaço na cultura popular, buscando o reconhecimento de seus artistas. “É levado a sério por quem reconhece a arte drag, mas pelo resto da sociedade todos nos veem como loucos. Eu gosto, então não é um problema” conta Ariel.

“Uma drag pode fazer parte da Body Art, mas não que a Body Art seja especificamente drag” – Pamdora Moon

Foto: Maysa Ferreira


Pamdora Moon, 23 anos, também é drag queen e performer, e reside em Sorocaba. É amante das artes desde criança, fazendo teatro e dança, mas em 2012 ingressou nessa forma de arte que chamou bastante sua atenção, aperfeiçoando-a desde então. Suas inspirações vêm de diversas figuras femininas presentes em sua vida, como sua avó, mãe e irmã, mas também com cantoras como Gal Costa e Maria Bethânia. Tocou também no assunto do reconhecimento da sua arte, que possui um público específico e fiel, mas que poderia alcançar muito mais “Eu acho que é reconhecido, mas não é valorizado. Esse é o grande problema, porque se eu não valorizo a coisa não pode crescer, a coisa fica no marginal, fica no independente”.

Foto: Maysa Ferreira


Jean Torres, 23 anos, é um artista que atualmente mora em Boituva. Se expressa dessa forma há 3 anos, suas inspirações variam entre o maquiador americano Ryan Burke, o fotógrafo de moda Tim Walker e a cantora islandesa Björk. “Ainda é um processo da gente estar trabalhando nisso, eu acho que nem todo mundo está apto a receber e a perceber, a ter percepção desse tipo de arte” contou Jean, que assim como os outros, concorda que sua forma de arte é reconhecida, mas apenas por um público específico.

Foto: Maysa Ferreira

“É levado a sério por quem reconhece a arte drag, mas pelo resto da sociedade todos nos veem como loucos. Eu gosto, então não é um problema” – Ariel


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Um belo exemplo de Body Art é o trabalho que o artista visual Austin Smith faz, que atualmente reside em Nova Iorque / Foto: Mateus Porto

O movimento Body Art e o Drag Queen dialogam muito bem, mas não são a mesma coisa. A grande maioria das drag queens buscam o estereótipo da beleza feminina, com seus traços, cabelos e roupas, mas essa arte não é uma caixinha fechada nisso. Há drags que fogem desse padrão, aí se enquadrando nas propostas da Body Art. “Uma drag pode fazer parte da Body Art, mas não que a Body Art seja especificamente drag”, afirmou Pamdora. E por que Body Art não é especificadamente drag? Enquanto a cultura drag pode ou não utilizar elementos femininos para

a sua composição, a Body Art não se espelha em nenhum gênero. Então uma drag que não busca a figura feminina e se identifica numa estética andrógena pode se enquadrar na Body Art. Não fazendo parte da arte drag, Jean comentou se é correta a associação entre os dois movimentos artísticos, da Body Art e Drag: “Eu acredito que em certos pontos é correta porque é uma manifestação artística do corpo, então você vai trabalhar a extensão da sua personalidade ou a criação de um outro personagem através da arte, então acho que existe

uma certa relação sim”. Todos fazem parte de uma corrente artística de pouca valorização, mas que exige muito esforço e criatividade de seus artistas, que criam e fazem tudo pelo amor à arte, muitas vezes não recebendo nada em troca.

“É uma manifestação artística do corpo, então você vai trabalhar a extensão da sua personalidade ou a criação de um outro personagem através da arte” – Jean Torres


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