Seguranca, trafico e milicias no Rio do Janeiro

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Jailson de Souza e Silva, Fernando Lannes e Raquel Willadino, do Observatório de Favelas, no texto Grupos Criminosos Armados com Domínio de Território: reflexões sobre a territorialidade do crime na região metropolitana do Rio de Janeiro, trabalham com o conceito de “domínio de território” para analisar as práticas realizadas pelo tráfico de drogas e pelas milícias; mapeia a influência desses grupos em diversas comunidades do Rio de Janeiro e apresenta propostas de políticas públicas de segurança. Capitalismo dependente e direitos humanos: uma relação incompatível, do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Leher, amplia o debate ao relacionar as atuais políticas de segurança para a América Latina com o processo histórico de formação dos Estados nacionais no continente. De acordo com o autor, o modelo de controle social – exemplificado no “Plano Colômbia” – encontrou seguidores no Rio de Janeiro e tem resultado em violações de direitos humanos vinculadas à criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Avaliando o surgimento dos grupos de extermínio na Baixada Fluminense nas décadas de 1970-80, José Cláudio Alves Souza, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, problematiza o fenômeno das milícias na cidade do Rio de Janeiro no artigo Milícias: Mudanças na Economia Política do crime no Rio de Janeiro. Para o autor, as milícias e os grupos de extermínio são evidências de que membros do aparato policial reconfiguram uma nova relação com o crime. Deixam de ser apenas mediadores na economia política do crime para estabelecer seu próprio controle militarizado das áreas pobres da cidade, o que possibilita o avanço de certas atividades criminosas e funciona de maneira complementar à prática de execuções sumárias adotada por sua política de segurança. As redes

do crime são analisadas no emaranhado que abrange a mãode-obra barata para o tráfico de drogas, os grupos econômicos e políticos envolvidos, e, claro, o Estado. No artigo Associações de Moradores de Favelas e seus Dirigentes: o discurso e a ação como reverso do medo, Itamar Silva, coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas (IBASE) e Lia de Matos Rocha, doutoranda do IUPERJ, apresentam e discutem as percepções de lideranças de movimentos sociais - principalmente lideranças ligadas às associações de moradores de favelas - diante de suas possibilidades de ação no contexto político atual no Rio de Janeiro, da tensa relação com o tráfico de drogas e dos limites da representação política nas favelas cariocas. Por fim, a pesquisa Seis por Meia Dúzia?Um estudo exploratório do fenômeno das chamadas “Milícias” no Rio de Janeiro, de autoria do professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência (LAV-UERJ) com colaboração da Justiça Global, realiza uma minuciosa reflexão do fenômeno das milícias na cidade do Rio de Janeiro. Com base em um farto levantamento de dados notícias da imprensa, informações do serviço de “disque-denúncia” e entrevistas com pessoas que moram em comunidades dominadas por milícias - a pesquisa evidencia o modus operandi desses grupos armados, a sua extensão no poder político local e a sua abrangência territorial na cidade. A manutenção do controle exercido pelo tráfico e, agora a rápida expansão das milícias, em áreas pobres da cidade, aliadas ao aumento do número de execuções praticadas por agentes do Estado são provas contundentes da falência deste modelo de segurança adotado pelo Estado do Rio de Janeiro, que se baseia exclusivamente em uma “política de enfrentamento”, com uma clara opção por medidas repressivas e pela difusão da violência estatal.


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