Seguranca, trafico e milicias no Rio do Janeiro

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referências BIBLIOGRáficas: FARIAS, Juliana (2005), Posso me identificar? Moradores de favelas por justiça,

dos movimentos sociais” , e, no caso específico das favelas, essa recorrência se alimenta na real dificuldade dos dirigentes de associações de moradores frente à imposição dos traficantes locais, discutida em profundidade neste texto e em outros (Machado da Silva e Leite, 2004; Rocha, 2006; Machado da Silva et alli, 2008). No entanto, a comprovada ação violenta das polícias e agentes de segurança pública, nessas localidades – com completo desrespeito aos direitos humanos, de forma indiscriminada e provocando humilhações e mortes –, reforça a percepção disseminada na população de que todos ali são traficantes, e logo, “matáveis ”. Esse quadro de desrespeito aos direitos básicos apresentaria temas e demandas suficientes para uma atuação coletiva dos moradores de favelas, visto que vivemos em um estado democrático de direito em que não há pena de morte. Talvez exista nesse campo uma possibilidade de início de uma reflexão que ajude a redefinir o papel político das associações de moradores de favela do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, pode ajudar a sensibilizar as ongs que atuam nesses locais para a necessidade de uma reflexão sobre o sentido político de suas ações, que não podem estar dissociadas da tarefa de garantir rotinas “civilizatórias”, ou seja, um cotidiano dentro dos territórios da favela em que sejam respeitados os direitos civis e a segurança pessoal dos moradores. O objetivo deste artigo não é criticar ou anular a atuação da associação de moradores, mas sim buscar entender qual será seu futuro. Acreditamos, contudo, que, se as associações não buscarem repensar sua atuação e seu formato, estarão destinadas ao vazio político e institucional em que foram colocadas pelo poder público, e onde são mantidas pelo controle dos traficantes de drogas, enredadas nessa dinâmica de “captadoras” e “gerentes” de projetos sociais. Ainda que o panorama para as associações de moradores pareça pouco otimista, é possível inventar uma saída, mas somente através da reflexão e do rompimento com essa teia que no momento atual as restringe e controla. 13

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13. Sobre a criminalização de dirigentes de associações ver Machado da Silva e Leite (2004) e Miranda e Magalhães (2004). 14. A representação dos moradores de favelas como “matáveis”, como vítimas necessárias na luta contra os traficantes de drogas ou como cúmplices dos bandidos e passíveis das mesmas penalidades dadas aos traficantes, é discutida em diversos trabalhos apresentados por pesquisadores do grupo que realizou a pesquisa aqui apresentada, por exemplo: Fridman (1999); Leite (2000, 2001); Machado da Silva et alii (2008).


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