Revista canto

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SOM E SILÊNCIO DO CATALÃO


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Reitor Carlos Antônio Levi da Conceição Vice-Reitor Antônio José Ledo Alves da Cunha Decana do Centro de Letras e Artes Flora De Paoli Faria Vice-Decana do Centro de Letras e Artes Cristina Tranjan Diretor da Escola de Belas Artes Carlos Gonçalves Terra Vice-Diretora da Escola de Belas Artes Helenise Monteiro Guimarães Diretor Adjunto de Graduação Dalton Almeida Raphael Diretor Adjunto de Pós-Graduação Marize Malta Teixeira Diretor Adjunto de Cultura Antonio de Souza Pinto Guedes


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EDITORIAL

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SUMÁRIO

Inventário de espécies A vida no parque

O corredor ecológico Espaço de resistência da Mata Atlântica

O som no canto Evento de música

Caminhos de descoberta Programação de visitas guiadas

Botânica na reserva A importância do verde


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Cultivar o conhecimento A importância do Horto

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História do Catalão As origens da Cidade Universitária

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Ecossistemas integrados A diversidade no Catalão

A sensibilidade no silêncio Artes visuais


O Parque Frei Vellozo na Península do Catalão, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, possui 17 ha e apresenta vegetação de restinga e manguezal

INVENTÁRIO DE na faixa litorânea. Em sua implantação, foram introduzidas cerca de 200 espécies típicas

ESPÉCIES de floresta estacional tropical litorânea no

seu território e mais de 40.000 mudas foram

plantadas, com sucesso, na parte central da ilha.

Por Ernani Diaz Renato Moraes de Jesus (Escola de Engenharia, UFRJ) Janie Garcia da Silva (Instituto de Biologia, UFF, Niterói)


O Parque Frei Vellozo localiza-se na extremidade norte da Ilha do Fundão, na Baía de Guanabara, dentro do Campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A área do Parque corresponde à antiga Ilha do Catalão, que agora está unida à Ilha do Fundão por um istmo formado por aterro. O local agora é designado simplesmente por Catalão. O Parque tem uma área de 17 hectares, e é, quase que, totalmente rodeado pelo mar, tendo nas suas margens vegetação de restinga e de mangue. O seu relevo apresenta-se ainda como originalmente, caracterizado por uma pequena colina. O solo do Parque também é original, não tendo sido desbastado, nem aterrado, a menos do istmo que é constituído por um aterro sobre o mar.

O NOME DO PARQUE

HOMENAGEIA FREI JOSÉ

O nome do Parque homenageia Frei José Mariano da Conceição Vellozo, que viveu de 1742 a 1811 e foi o autor da Flora Fluminensis, concluída em 1790. Ela contém classificação de 1.640 plantas nativas. Frei Vellozo foi o mais importante botânico brasileiro do século XVIII.

MARIANO DA CONCEIÇÃO VELLOZO, QUE VIVEU DE

A criação de um Parque na Ilha do Fundão já havia sido cogitada no programa inicial de trabalho da Reitoria, pelo Reitor da UFRJ da época, Prof. Paulo Alcantara Gomes e o Vice-Reitor, atualmente Reitor, Prof. José Henrique Vilhena de Paiva. Em setembro de 1996, foi liberada uma verba especial, pelo Governo Federal, para a realização de obras de melhoria da infra-estrutura da Ilha do Fundão, prevendo-se uma possível realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Desta verba foi destinada uma parte para implantar o Parque no Catalão.

1742 A 1811 E FOI O AUTOR DA FLORA FLUMINENSIS, CONCLUÍDA EM 1790.

PESQUISA NO PARQUE Antes do reflorestamento foi realizado um inventário das principais espécies arbóreas e arbustivas existentes no Catalão (Silva, 1999).

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AS ESPÉCIES ENCONTRADAS SÃO: Espécies exóticas: Espécies nativas da Agave sisalana, Albizia região: ACROCOMIA ACUlebbeck., Artocarpus altilis, LEATA, Aspidosperma sp., Artocarpus heterophyllus, Cocos nuciAstrocariym aculeatissimum, fera, Delonix regia, Diospyros sp., Dracaena Allophylus puberulus, Avicennia schauefragrans, HIBISCUS TILIACEUS, Malvaviscus riana, Caesalpinia bonduc, Caesalpinia pluarboreus, Mangifera indica, Manilkara zapota, viosa, Capparis flexuosa, Cupania sp., Mimusops coriacea, Persea americana, Dalbergia ecastophyla, Erythroxylum pulSterculia foetida, Syzygium aqueum, chrum, Eugenia uniflora, Ficus clusiiSyzygium cumini, Tamarindus folia, Ficus enormis, Gochnatia indica, Terminalia catappa. Espécies brasileiras estranhas à região: polymorpha, Hibiscus perBougainvillaea spectabilis, Calliandra brevinambucensis, Inga pes, CLITORIA FAIRCHILDIANA, Licania tomenlaurina, Laguncularia tosa, Psidium guajava, Triplaris sp. racemosa, Lecythis pisonis, Luehea divaricata, Machaerium cf hirtum, Manilkara subsericea, Maytenus obtusifolia, Peltophorum dubium, Chloroleucon tortum, Pseudobombax grandiflorum, Schinus terebinthifolius, Senna pendula, Sideroxylon obtusifolium, Sophora tomentosa, Sparattosperma leucanthum, Spondias sp., Syagrus romanzoffiana

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AS ESPÉCIES INICIALMENTE PLANTADAS EM DEZEMBRO DE 1996 FORAM AS SEGUINTES: Espécies nativas plantadas: Acosmium lentiscifolium, Acrocomia aculeata, Anacardium occidentale, Andira fraxinifolia, Andira nitida, Andira ormosioides, Apuleia leiocarpa, Ardisia crenata, Aspidosperma aff. subincanum, Aspidosperma cylindrocarpon, Astronium graveolens, Bauhinia forficata, Bauhinia variegata var. alboflava, Bauhinia variegata var. rubra, Bixa arborea, Bombacopsis sp. (Paineira barriguda), Bombacopsis stenopetala, Bouganvillea sp. (Buganvile maravilha), Bowdichia virgilioides, Caesalpinia echinata, Caesalpinia ferrea, Cariniana legalis, Caryocar edule, Cassia ferruginea, Cedrela odorata, Centrolobium tomentosum, Chorisia glaziouii, Clarisia racemosa, Clusia spiritusanctensis, Coccoloba alnifolia, Copaifera langsdorffii, Cordia trichotoma, Dalbergia nigra, DEGUELIA LONGERACEMOSA, Dimorphandra jorgei, Diospyros sp. (Abricó da mata), Eriotheca macrophylla, Erythrina velutina, Eugenia involucrata, Eugenia sp1 (Praianinha), Eugenia sp2 (Araçá de balaio), Eugenia sp3 (Grumixama amarela), Eugenia sp4 (Grumixama preta), Eugenia sp5 (Jamelão da praia), Eugenia sp6 (Pitanguinha), Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Gallesia integrifolia, Galphimia glauca, Goniorrhachis marginata, Guazuma crinita, Guettarda viburnoides, Inga laurina, Ixora coccinea, Joannesia princeps, Kielmeyera membranacea, Lecythis pisonis, Licania tomentosa, Lonchocarpus cultratus, Manihot sp. (Bálsamo de horta), Manilkara bella, Melanoxylon brauna, Miconia hypoleuca, Miconia

sp. (Cabeludinha), Mimusops sp. (Abricó), Myrcia multiflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria sp. (Araçá vermelho), Nectandra oppositifolia, Ocotea spectabilis, Ormosia arborea, Ormosia nitida, Paratecoma peroba, Parkia pendula, Peltophorium dubium, Phyllocarpus riedelii, Plinia strigipes, Poecilanthe falcata, Posoqueria latifolia, Pseudobombax grandiflorum, Psidium aff. macrospermum, Psidium cattleianum, Psidium guajava, Psidium sp1 (Araçauna), Psidium sp2. (Goiaba do ipiranga), Pterocarpus rohrii, W, RHEEDIA BRASILIENSIS, Rheedia gardneriana, Sapindus saponaria, Schinus terebinthifolius, Chamaecrista ensiformis, Senna multijuga, Sophora tomentosa, Sparattosperma leucanthum, Spondias sp. (Cajazão), Spondias venulosa, Sterculia elata, Syagrus romanzoffiana, Syagrus sp. (Côco da pedra), Tabebuia arianeae, Tabebuia chrysotricha, Tabebuia cristata, Tabebuia heptaphylla, Tabebuia riodocensis, Tabebuia roseo-alba, Tabebuia serratifolia, Tapirira guianensis, Terminalia cf. kuhlmann, Thrinax excelsa, Tibouchina stenocarpa, Zeyhera tuberculosa, Zizyphus platyphylla.


AS ESPÉCIES ENCONTRADAS SÃO: Espécies exóticas: Espécies nativas da Agave sisalana, Albizia região: ACROCOMIA ACUlebbeck., Artocarpus altilis, LEATA, Aspidosperma sp., Artocarpus heterophyllus, Cocos nuciAstrocariym aculeatissimum, fera, Delonix regia, Diospyros sp., Dracaena Allophylus puberulus, Avicennia schauefragrans, HIBISCUS TILIACEUS, Malvaviscus riana, Caesalpinia bonduc, Caesalpinia pluarboreus, Mangifera indica, Manilkara zapota, viosa, Capparis flexuosa, Cupania sp., Mimusops coriacea, Persea americana, Dalbergia ecastophyla, Erythroxylum pulSterculia foetida, Syzygium aqueum, chrum, Eugenia uniflora, Ficus clusiiSyzygium cumini, Tamarindus folia, Ficus enormis, Gochnatia indica, Terminalia catappa. Espécies brasileiras estranhas à região: polymorpha, Hibiscus perBougainvillaea spectabilis, Calliandra brevinambucensis, Inga pes, CLITORIA FAIRCHILDIANA, Licania tomenlaurina, Laguncularia tosa, Psidium guajava, Triplaris sp. racemosa, Lecythis pisonis, Luehea divaricata, Machaerium cf hirtum, Manilkara subsericea, Maytenus obtusifolia, Peltophorum dubium, Chloroleucon tortum, Pseudobombax grandiflorum, Schinus terebinthifolius, Senna pendula, Sideroxylon obtusifolium, Sophora tomentosa, Sparattosperma leucanthum, Spondias sp., Syagrus romanzoffiana

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REFLORESTAMENTO: IMPLANTAÇÃO Para executar o reflorestamento foi contratada a Companhia Vale do Rio Doce, que possui larga experiência em programas de recuperação florestal. As mudas da fase inicial foram oriundas do Viveiro da Reserva Florestal de Linhares (ES). Elas foram transportadas por caminhão e estocadas no Horto da Prefeitura da UFRJ. As matrizes destas mudas são da Reserva Florestal de Linhares (ES), que é constituída por uma vegetação original de Floresta Estacional Tropical de Tabuleiro. Prescreveu-se que as mudas plantadas deveriam ser de espécies da Floresta Estacional Tropical Litorânea da costa do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

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Sterculia foetida O Chichá-fedorento (Sterculia foetida), oliva-de-java ou castanha-da-Índia é uma árvore que chega a medir até 20 metros, da família das esterculiáceas, nativa de regiões tropicais da Índia e Malásia e introduzida no Brasil como planta ornamental.

Mangifera indica Mangifera indica é uma espécie de planta da família Anacardiaceae. Pode ser encontrada na forma nativa nas florestas do sul e sudeste da Ásia, tendo sido introduzida em várias regiões do Mundo.

Aroeira-vermelha Aroeira-vermelha, aroeira-pimenteira ou poivre-rose são nomes populares da espécie Schinus terebinthifolius, árvore nativa da América do Sul da família das Anacardiaceae.



Artocarpus heterophyllus Artocarpus heterophyllus, vulgarmente conhecida como jaqueira, é uma árvore tropical cujo fruto é conhecido como jaca.

Artocarpus incisa A árvore-do-pão ou fruta-pão é uma árvore frutífera, aparentada com a jaca. Planta originária da Indomalásia ou da Malásia; seu fruto é base alimentar para povos ilhéus da Polinésia.

Delonix regia A Delonix regia, também conhecida por flor-do-paraíso, pau-rosa, flamboyant, flamboaiã e acácia-rubra, é uma árvore da família das leguminosas. É nativa da ilha de Madagáscar e da África tropical.

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A grande maioria das espécies plantadas são da Floresta Estacional Tropical Litorânea, com algumas exceções. Nesta fase inicial foram plantadas cerca de 38.000 mudas. Para os replantios foram obtidas mudas de diversas origens: Viveiro da Reserva Florestal de Linhares (ES), Horto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ), Horto do Dep. de Biologia da UFF em Niterói (RJ) e mudas originárias das diversas coletas feitas nos trabalhos de inventário de remanescentes de matas da Ilha do Governador e cultivadas no Horto da Prefeitura da UFRJ. Mudas das seguintes espécies nativas foram introduzidas nestes trabalhos de replantio, nos últimos dois anos: Espécies nativas, fase nov. 1997, com aprox.

1.000 mudas: Allophylus puberulus, Bauhinia forficata, CAPPARIS FLEXUOSA, Cecropia glazioui, Ceiba erianthos, Chorisia sp., Cupania paniculata, Cupania sp., Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Ficus enormis, Ficus tomentella, Guarea guidonia, Inga sp., Inga laurina, Jacaranda jasminoides, Luehea divaricata, Moldenhawera cf floribunda, Ocotea sp., Peschiera fuchsiaefolia, Pseudobombax grandiflorum, Pterocarpus rohrii, RAPANEA SP., Schinus terebinthifolius, Senna macranthera, Senna pendula, Tibouchina sp., Xylopia sp.


Espécies nativas, fase junho 1998, com aprox. 860 mudas: Acrocomia aculeata, Annona sp., Caesalpinia echinata, Caesalpinia pluviosa, Cedrela sp., Clusia hilariana, Clusia sp., Cordia sp., Cordia trichotoma, Cupania sp., Cybistax antisyphilitica, Erythrina verna, Erythroxylon pulchrum, Eugenia uniflora, Ficus arpazusa, Ficus clusiifolia, Ficus enormis, Ficus luschnathiana, Ficus maxima, Ficus tomentella, Genipa americana, Hymenaea courbaril, Lafoensia glyptocarpa, Lecythis pisonis, Luehea sp., Miconia sp., Peltophorum dubium, Sapindus saponaria., Schinus terebinthifolius, Sophora tomentosa, Swartzia sp., Syagrus romanzoffiana, Tabebuia chrysotricha, Tibouchina granulosa, Tibouchina sp., Xylopia sp., Zeyera tuberculosa.

Espécies nativas plantadas em diversas ocasiões, com aprox. 300 mudas: Chorisia sp., Clusia fluminensis, Cordia trichotoma, Eugenia copacabanensis, Ficus glabra, Ficus pertusa, Inga sp., Lecythis pisonis, Piptadenia gonoacantha, Chloroleucon tortum, Pterocarpus rohrii, Samanea tubulosa, Schizolobium parahyba, Tapirira guianensis.

Algumas espécies desenvolveram-se muito bem na área. Entre elas podem ser citadas as seguintes: Cecropia sp., Cedrela odorata, Ceiba erianthos, Chorisia sp., Deguelia longeracemosa, Erythrina sp., Ficus clusiifolia, Ficus glabra, Gallesia integrifolia, Johannesia princeps, Ormosia sp., Peltophorum dubium, Pterocarpus rohrii, Schinus terebinthifolius, Schizolobium parahyba, Senna macranthera, Tabebuia sp., Zeyhera tuberculosa etc. O Programa de reflorestamento, ainda em desenvolvimento jáFoi constatada a reocupação de aves na área do Parque. Em pesquisa feita pela UFRJ, foram encontradas 80 espécies diferentes de aves na área do Catalão, mostrando que ela está em franca recuperação ecológica.

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A Cidade Universitária da UFRJ foi formada,

HISTÓRIA DO no fim dos anos 1940 pela união de 8 ilhas.

No processo de construção da Cidade Universitária foram utilizados

CATALÃO

grandes tratores chamados “bulldozers” que cortavam o relevo e jogavam o material retirado entre as ilhas, aterrando e unindo elas. O resultado foi uma grande área plana, porém, na época, com aparência de um deserto.

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Em 1944, por sugestão do engenheiro Alberto de Melo Flôres, diretor de Obras do Ministério da Aeronáutica, foi considerada a possibilidade de locação para a Cidade Universitária em uma área a ser constituída pela unificação de seis ilhas pertencentes à União (Bom Jesus, Sapucaia, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Pinheiro e Fundão, com exceção da sua parte alodial), situadas entre a Ponta do Caju e a Ilha do Governador, em frente a Manguinhos. Havendo necessidade, a área poderia ainda ser expandida com a inclusão das outras três ilhas circunvizinhas (Baiacu, Cabras e Catalão) que compunham o arquipélago. Existia, até então, a indicação de outras localidades, mas, dentre as propostas apresentadas, surgia, pela primeira vez, a ideia de se criar uma Ilha Universitária. A “felicidade da indicação” (Barbosa, 1945), em comparação às outras áreas cogitadas, foi confirmada pela opinião dos diversos especialistas, autoridades, professores, urbanistas, arquitetos e engenheiros consultados pelo ETUB (Escritório Técnico da Universidade do Brasil), Hildebrando de Araújo Góis, Raul Leitão da Cunha (Reitor da UB), General Eurico Gaspar Dutra (Ministro da Guerra), Gustavo Capanema (Ministro da Educação), Henrique Dodsworth (Prefeito do Distrito Federal) e Ana Amélia Carneiro de Mendonça (Presidente da Casa do Estudante).

Os critérios formulados pelo ETUB dividiam-se em três grupos: 1. Fatores de ordem política

e social: facilidade para obter a área; acessibilidade; custo da condução; integração ao meio; ambiente universitário. 2. Fatores de ordem econômica: custo dos terrenos e das obras complementares; custos das construções; custo das utilidades (instalação de redes de água, esgoto, eletricidade, etc.). 3. Fatores de ordem técnica: circunvizinhança; condições do clima; área, forma e relevo topográDocumentos produzidos pelo fico; condições favoráveis ETUB sobre a localização da Cidade ao ensino científico, artísUniversitária expuseram as avatico, cultural; condições liações feitas segundo “critérios de favoráveis à educação máximo rigor e imparcialidade”, sugeridos física e esportiva. pelo engenheiro Paulo de Assis Ribeiro, examinando fatores como distâncias, acessibilidade, custos de aquisição, despesas de preparo do terreno e de construção, custos financeiros e sociais decorrentes de desapropriações, demolições de benfeitorias, valorização do patrimônio, etc.

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Após transitar por todas as esferas envolvidas, direta e indiretamente, com a localização da Cidade Universitária, o diretor do DASP, Luiz Simões Lopes, apresentou, na Exposição de Motivos nº 936, de 14/05/45, os fundamentos que iriam embasar a escolha final pelo arquipélago. (ETUB, 1954, Barbosa, 1945, Oliveira, 2005): A proximidade da área ao centro de gravidade da população estudantil, garantindo, ao mesmo tempo, um relativo isolamento; A construção de um hospital em área vizinha a bairros operários proporcionaria a ocorrência de uma variedade de casos típicos para estudo, devido à vasta clientela que se destinaria aos seus ambulatórios e clínicas; As condições climáticas da área favoreceriam a prática de esportes; A existência de pedra, areia e saibro na área e a possibilidade de receber, por via marítima, ferro e cimento, facilitariam as obras do aterro; A constituição geológica das ilhas de Bom Jesus, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Fundão, Pinheiro e Sapucaia(exceto uma parte) propiciariam um terreno firme de 3.720.000m²; Por fim, a possibilidade de expansão do terreno, em caso de necessidade, com a inclusão das ilhas de Baiacu, Cabras e Catalão,resultando em área superior a 5.000.000m².

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Assim como as demais localidades analisadas, o arquipélago também apresentava alguns inconvenientes, porém, considerados menos graves: o ruído de aviões decorrente da proximidade da Base Aérea do Galeão e do Aeroclube de Manguinhos, e a proximidade de corporações militares, o que, em situações de rivalidades e conflitos, poderia amplificar os choques entre soldados e praças.


Dessa forma, o presidente Getúlio Vargas respondeu favoravelmente à Exposição de Motivos encaminhada pelo diretor do DASP, assinando o Decreto-lei nº 7.536, dispondo sobre a localização definitiva da Cidade Universitária da Universidade do Brasil.

Outra crítica referia-se à “importunidade do início de obra de tão grande vulto numa época de inflação e de escassez de materiais de construção, de transporte e de mão de obra”, para a qual Luiz HildebrandoBarbosa sublinhava a importância do empreendimento para a nação, ressaltando os numerosos imóveis federais inutilizados que, por lei, seriam vendidos para pagar despesas com as obras e que, devido a sua complexidade, estas se estenderiam por 6 a 8 anos, prazo em que provavelmente a carência de materiais, transporte e mão de obra não se constituiria mais um problema.

ASSINANDO O

Apesar da aprovação oficial, logo foram manifestadas algumas dúvidas, críticas e especulações em diversos jornais da época sobre o projeto, devendo aqui mencionarmos o cuidado de Luiz Hildebrando Horta Barbosa (1946) em examinar e responder a todas elas, com vistas a “formar uma opinião mais justa e exata a respeito desse problema fundamental”.

DECRETO-LEI Nº 7.536, DISPONDO SOBRE A

Além da construção da Avenida Brasil, inaugurada em 1946, consolidando a expansão industrial da cidade em direção à zona norte, toda a região da Ilha do Governador estavapassando por grandes transformações, sobretudo em torno da criação da Base Aérea do Galeão, pelo Ministério da Aeronáutica.

LOCALIZAÇÃO DEFINITIVA

Projeto da Cidade Universitária 1954

Havia ainda nos jornais a opinião que qualificava de “absurda” a construção de uma universidade em ilhas, haja vista o excesso de áreas livres na cidade. A esse respeito, ponderava-se que as maiores áreas disponíveis situavam-se em bairros como Bangu, Campo Grande e Recreio dos Bandeirantes e que, por esse motivo, não atendiam à exigência imprescindível de que a Cidade Universitária fosse “urbana”, construída em “um grande terreno em zona a mais central possível, de fácil e rápido acesso”.

DA CIDADE UNIVERSITÁRIA

Um anúncio de venda de lotes no Jardim Guanabara, indicava, já no final dos anos 1930, a valorização do bairro insular, no varredores da capital. Lembrando o exemplo de Copacabana, a propaganda da Companhia Santa Cruz (1936) previa: “O que hoje custa tão pouco representa uma fortuna no dia de amanhã!”.

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*R$ 0,0000046764

Tantas eram as condições favoráveis que em 20 de outubro de 1948 - três anos após o decreto-lei que havia definido o arquipélago como local a abrigar a futura Cidade Universitária - foi sancionada a Lei nº 447, dando um ponto final ao longo processo de discussões e questionamentos sobre a sua localização e permitindo ao ETUB pleitear a abertura de um crédito especial de *Cr$12.860.000,00 pelo Decreto nº 25.995, de dezembro de 1948, para finalmente dar início às obras.

ANTES DO ATERRO

Em 1881, o oficial de artilharia Fausto de Souza calculava haver, na Baía da Guanabara mais de oitenta ilhas, com natureza e destinos diversos (Doria, 1922). Parase ter uma visão mais geral sobre as ilhas existentes no momento em que se iniciavamas obras de aterro hidráulico, no final dos anos 1940, Gastão Cruls, no livro Aparência do Rio de Janeiro, descrevia: De todas as ilhas da Guanabara, não só pela vastidão, como pelos foros que assumiu de importante subúrbio marítimo, destaca-se a Ilha do Governador, com 28.906.250m² de superfície e mais de 30.000 habitantes. Entre ela e as outras ilhas também integrantes do Distrito Federal (…) há uma grande diferença de tamanho, pois a que se lhe segue logo abaixo, Paquetá, já não tem mais de 1.093.075m², e vêm depois, sempre em ordem decrescente e apenas relacionadas às maiores, arredondando as cifras, Bom Jesus com 753.000, Fundãocom 613.000, Sapucaia com 440.000, Boqueirão com 230.000, Catalão com 166.000, Cambembi com 162.000, Cobras com 154.000e Brocoió com 143.000m². Ao todo, a área total das ilhas estácomputada em 35km².

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A breve reconstituição do que eram as nove ilhas localizadas na Enseada de Inhaúma anos antes de serem escolhidas para abrigar a Cidade Universitária baseou-seprincipalmente na série intitulada A Guanabara como natureza, publicada aosdomingos, entre maio e junho de 1936, no jornal Correio da Manhã, na qual o jornalistaMagalhães Corrêa relatava as suas observações e impressões sobre a região a partir dasexcursões realizadas por sua equipe à bordo do barco A carioca. Tais excursões compreenderam a zona que ia da Ponta do Caju a Meriti, englobando quatorze ilhas consideradas “rurais”: Bom Jardim, Bom Jesus, Pinheiro, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Catalão, Cabras, Baiacu, Fundão, Cambembi, Sapucaia, Raimundo, Anel e Saravatá.


CATALÃO

cabras

baiacu

fundão

bom jesus

pindaí do frança

sapucaia

pindaí do ferreira

Arquipélago que compõs a Cidade Universitária

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*R$ 0,0000046764

Tantas eram as condições favoráveis que em 20 de outubro de 1948 - três anos após o decreto-lei que havia definido o arquipélago como local a abrigar a futura Cidade Universitária - foi sancionada a Lei nº 447, dando um ponto final ao longo processo de discussões e questionamentos sobre a sua localização e permitindo ao ETUB pleitear a abertura de um crédito especial de *Cr$12.860.000,00 pelo Decreto nº 25.995, de dezembro de 1948, para finalmente dar início às obras.

ANTES DO ATERRO

Em 1881, o oficial de artilharia Fausto de Souza calculava haver, na Baía da Guanabara mais de oitenta ilhas, com natureza e destinos diversos (Doria, 1922). Parase ter uma visão mais geral sobre as ilhas existentes no momento em que se iniciavamas obras de aterro hidráulico, no final dos anos 1940, Gastão Cruls, no livro Aparência do Rio de Janeiro, descrevia: De todas as ilhas da Guanabara, não só pela vastidão, como pelos foros que assumiu de importante subúrbio marítimo, destaca-se a Ilha do Governador, com 28.906.250m² de superfície e mais de 30.000 habitantes. Entre ela e as outras ilhas também integrantes do Distrito Federal (…) há uma grande diferença de tamanho, pois a que se lhe segue logo abaixo, Paquetá, já não tem mais de 1.093.075m², e vêm depois, sempre em ordem decrescente e apenas relacionadas às maiores, arredondando as cifras, Bom Jesus com 753.000, Fundãocom 613.000, Sapucaia com 440.000, Boqueirão com 230.000, Catalão com 166.000, Cambembi com 162.000, Cobras com 154.000e Brocoió com 143.000m². Ao todo, a área total das ilhas estácomputada em 35km².

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A breve reconstituição do que eram as nove ilhas localizadas na Enseada de Inhaúma anos antes de serem escolhidas para abrigar a Cidade Universitária baseou-seprincipalmente na série intitulada A Guanabara como natureza, publicada aosdomingos, entre maio e junho de 1936, no jornal Correio da Manhã, na qual o jornalistaMagalhães Corrêa relatava as suas observações e impressões sobre a região a partir dasexcursões realizadas por sua equipe à bordo do barco A carioca. Tais excursões compreenderam a zona que ia da Ponta do Caju a Meriti, englobando quatorze ilhas consideradas “rurais”: Bom Jardim, Bom Jesus, Pinheiro, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Catalão, Cabras, Baiacu, Fundão, Cambembi, Sapucaia, Raimundo, Anel e Saravatá.


Cartão postal com foto da ilha do Fundão Mapa atual da Cidade Universitária

com destino à Buenos Aires, 1903


1 2

3

4


5

1 Contrução do Hospital Universitário 2 Centro de Tecnologia 3 Parque do Catalão 4 O desmonte da colina do fundão 5 Bulldozers que cortavam o relevo 5

6 Prédio da Reitoria


ILHA DO CATALÃO CATALÃO - Corrupção de quâ-atã-ã. De quâ, "ponta"; atã, "têsa, ereta", a ã, "em cima". Lit., "ilha que Tem ponta ereta, em cima". Seu terreno é montanhoso. Situado na baía da Coroa Grande, próximo às ilhas Cabras e Fundão.

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Ao atracar na praia da Ilha do Catalão, a equipe de Magalhães Corrêa avistou cestos especiais para apanhar peixes e lagostas vivas, canoas de pescaria, uma grande plantação de mamoeiros, bananeiras e outras árvores frutíferas, além de dois pescadores da colônia Z5, junto a uma velha casa de tijolos.À esquerda, havia um alpendre coberto de zinco, sustentado por colunas de estipes de coqueiros, grandes árvores e uma enorme amendoeira. Ao sul da ilha, havia uma lavoura e, na extremidade meridional, uma enseada cuja praia era de fácil atracação com qualquer maré, havendo ali próximo um grupo de pedras, formando uma ilhota.

A criação de um Parque na Ilha do Fundão já havia sido cogitada no programa inicial de trabalho dejunção das ilhas para a Cidade Universitária, para sua arborização. Em setembro de 1996, foi liberadauma verba especial, pelo Governo Federal, para a realização de obras de melhoria da infra-estruturada Ilha do Fundão, prevendo-se uma possível realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Desta verba foi destinada uma parte para implantar o Parque no Catalão.

Com 166.123m², a ilha era dividida, nos anos 1930, em duas propriedades particulares por uma linha feita de soqueira de bambu que a atravessava de praia a praia. Uma metade da ilha pertencia ao Sr. José Paz e seus irmãos e a outra ao Sr. Cândido de Araújo e irmãos, embora esta também fosse administrada pelo Sr. José Paz. Assim, como as demais ilhas do arquipélago, a Ilha do Catalão possuía uma rica flora e fauna nativa. Na propriedade da família Paz, onde outrora havia uma criação de gado, encontrava-se uma diversidade de aves (socós, garças, patos, galinhas, etc) e um grande e belo pomar, com mangueiras, pitangueiras, goiabeiras, araçazeiras, sapotizeiros, coqueiros, cajazeiros, parreiras, bananeiras, jambeiros, etc.

O nome oficial de registro desta área é Parque da Mata Atlântica da UFRJ (Boletim da UFRJ portaria Nº 44, de 06 de janeiro de 2000), No seu ponto mais alto, um morro ao centro, encontrava-se um verdadeiro solar mas também é chamado Parque Frei colonial, com uma grande varanda, doze quartos, sala e cozinha, além de várias casas Vellozo, em homenagem a Frei José espalhadas. Da fachada deste solar, onde viviam seis irmãos com seus respectivos Mariano da Conceição Vellozo, filhos, descortinava-se um “extraordinário panorama da Baía da Guanabara”. que foi um importantebotânico brasileiro do século XVIII, ou Por ocasião da criação da Cidade Universitária, um Parque da Mata Atlântica foi previsto no Parque do Catalão. Catalão desde os planos iniciais deconstrução, sendo preservado até a atualidade.Foi unido por um “istmo” a partir de 1953, mas preservado com seu relevo e mata. Existia nele um dos 3 hortos com a função de arborizar o restante do Campus.

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A SENSIBILIDADE NO SILร NCIO

ARTES VISUAIS

Fotos Marina Moraes e Mayara Zรกvoli








PROGRAMAÇÃO

CAMINHOS DE DE VISITAS

DESCOBERTA GUIADAS 52


Você sabia que a UFRJ mantém uma reserva de mata atlântica na Ilha da Cidade Universitária?

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O Parque da Mata Atlântica da UFRJ, também chamado Parque Frei Vellozo, ou Parque do Catalão está situado na antiga Ilha do Catalão. Já previsto no plano inicial da construção da Cidade Universitária foi preservado mantendo seu relevo e vegetação natural. Existia nele um dos 3 hortos conduzidos com o objetivo de arborização das demais áreas e seu bosque foi enriquecido com diversas espécies. Possuiu uma área de 17 hectares situada na extremidade norte do conjunto de ilhas que se tornou a Cidade Universitária. A entrada do parque é próximo do hangar de hidroaviões onde era a antiga Ilha das Cabras. Esta reserva biológica de mata atlântica constitui corredor ecológico estratégico interligando fragmentos de vegetação em torno da Baía de Guanabara. Sua preservação é importante pela conexão potencializando os fragmentos de mata atlântica existentes em área densamente povoada. Já foram registradas 180 espécies de aves trazendo biodiversidade. Além da mata atlântica, a área preserva ecossistemas como os manguezais e uma lagoa que é reabastecida quando a maré é alta.

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CATALÃ0

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VISITAS GUIADAS são feitas todas as últimas sextas feiras de cada mês, das 10 hs as 11:40h sendo a próxima dia 27 de setembro. A inscrição é feita enviando e-mail para catalaoufrj@gmail.com ou pelo telefone 2598 9323, que é o telefone do Horto Universitário da UFRJ . É necessário enviar um telefone de contato para confirmar até a quinta feira do dia anterior até o meio dia para reservar lugar no ônibus. Mantenha-se atualizado sobre o Parque, curta nossa pagina no Facebook

Recuperação e Enriquecimento do Parque

Fotos Marina Moraes e Mayara Závoli



EXPEDIENTE Revista Canto Revista do Parque do Catalão UFRJ Edição Julie Pires Angela Iaffe Design Marina Lobão Mayara Závoli Fotografia Alfredo Heleno Oliveira Marina Lobão Mayara Závoli Tratamento de imagem Marina Lobão Mayara Závoli Revisão Julie Pires Colaboradores deste número Angela Iaffe Jofre Silva Leticia de Luna Freire Impressão Gráfica Definir Tiragem 1000 exemplares Contato revistacanto@ufrj.br




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