Macau e Pequim à Socapa (jornal Hoje Macau)

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 26 DE OUTUBRO DE 2012 • ANO XII • Nº 2722

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Funcionários apelidam José Chu de ditador PÁGINA 2

ELEIÇÕES NO CLUBE NÁUTICO

Jorge Fão fez queixa ao CCAC PÁGINA 5

FAOM SEGURANÇA SOCIAL

Patrões acusados de falsificarem contribuições

GONÇALO LOBO PINHEIRO

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 24 MAX 29 HUMIDADE 55-95% • CÂMBIOS EURO 9.4 BAHT 3.7 YUAN 0.7

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Presidente da APOMAC assume candidatura

Manhão a deputado Francisco Manhão, presidente da APOMAC, assumiu ao Hoje Macau que vai tentar candidatar-se a um lugar na Assembleia Legislativa pela via indirecta. O antigo funcionário público pretende ver melhorias nas áreas sociais e desportivas. Para já, iniciou os devidos contactos com os possíveis apoiantes. PÁGINA 3

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• A DESCOBERTA DA OUTRA

YUNNI CLÁUDIA DAN

ARTISTA SUGERE UMA VIAGEM AO MUNDO DO AMOR PÁGINA 13

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C H I N A C

MACAU E PEQUIM À SO

Texto e fotografias de Marcos Fernandes HÁ UMA feliz ilusão quando um português se estreia pelo Oriente da forma como o fiz. Cheguei a Macau e a Pequim de mochila às costas e máquina fotográfica à frente, à espera de encontrar um estilo de vida sucumbido à imponência dos casinos macaenses e ao poder económico da capital chinesa. Não podia estar mais enganado. O poderio e a imponência estão lá, é certo. Mas convivem com a vida de rua tradicional, de gentes que tocam estranhos instrumentos musicais, jogam mahjong, ou ziguezagueiam bicicletas com crianças ao colo. A primeira impressão de Macau estampa-se na face logo ao colocar o pé fora do aeroporto de Hong Kong. O calor e a humidade exageram, e sentimos uma espécie de viscosidade no rosto e uma pressão intensa do ar pesado. O ferry que nos vai levar à antiga colónia portuguesa está logo ali e, apesar da distância considerável, a veloz embarcação faz a viagem num piscar de olhos. Da janela compreendemos porquê. Os ferries voam sob a água. Em Macau, à chegada, no cais, há um corrupio de ho-

mens, notoriamente empresários, que fazem escala de outros ferries de Hong Kong para os táxis que os levem aos casinos. É final da tarde, e será ao redor de mesas de jogo que vão passar a noite, para de manhã bem cedo os vermos a apanhar o barco de regresso ao mundo real. O nosso destino é outro. São as ruas de Macau. Começamos pelo centro histórico que se expande a partir do Largo do Senado, com os pitorescos e coloridos edifícios coloniais, e a calçada portuguesa que neles se espraia, em ondas de pedra preta e branca. Agora que nos adaptamos à humidade, estranhamos a paisagem, com um vaivém de pessoas de olhos rasgados num local que mais parece saído de uma velha vila do interior de Portugal. Essa mistura entre Oriente e a antiga metrópole está por todo o lado. Encontra-se, por exemplo, junto à barroca fachada de São Paulo e à Fortaleza do Monte, cenário de postais mas que é vizinho de lojas com gigantes caracteres cantonenses e de venda ambulante de alimentos picantes.

O cruzamento do Oriente com Ocidente está também no Parque Luís Camões, um pequeno éden numa zona residencial, onde velhos fazem ecoar música de estranhos instrumentos, e novos pulam, correm, caem, e retomam o ciclo de brincadeira. Até na comida - nas natas, por exemplo -, se confundem paladares de dois mundos. As natas são apresentadas como irmãs dos portugueses pastéis de Belém mas mais parecem primos afastados. Porém, facilmente se consegue filtrar o que imaginamos como tipicamente oriental. No templo de AMa, por exemplo, junto ao delta do rio das Pérolas, muitos acendem incenso para prestar culto à deusa que outrora protegia os pescadores. Ritual semelhante se vê noutros templos taoistas e budistas espalhados por Macau, bem como na Taipa e em Coloane, no sul do Região Administrativa Especial. E vive-se lentamente, da mesma forma que o incenso se esfuma. Há um sentimento de paz, de vagar, que ora se traduz nos escriturários que se juntam ao final do dia para fazer tai chi na Fortaleza do Monte,

como em transeuntes que se sentam em bancos públicos para descansar, e descaem para um sono profundo. Pequim é uma gigante aldeia. Temos essa noção ao caminhar pelas infindáveis novas avenidas de edifícios empresariais e pelos circundantes hutongs, ancestrais bairros de vielas com casas térreas de pátio central. Nas avenidas, os ruidosos transportes dançam um ritmo caótico, por vezes surpreendentemente em harmonia. Buzina-se para ultrapassar, desrespeitam-se semáforos, buzina-se para quem atravessa a via na sua vez, acelera-se, buzina-se. Os peões fintam automóveis e motas dentro ou longe de passadeiras, tenham, ou não, direito a atravessar para o outro lado. E as bicicletas, em enxame, imiscuem-se na confusão. Serpenteiam-se, sem esbarrar. Não é inédito ver um ciclista com braço no guiador e o outro a segurar um bebé, de lado. Comum, mesmo, é ver casais a partilhar um mesmo selim no meio da agitação, qual metáfora para a vida a dois. A capital chinesa oferece alívio a quem di-


OCAPA

ficilmente se tinha habituado à humidade extrema de Macau. Há um peso que sai das costas mas, em compensação, uma névoa alaranjada, smog, que espreita sob a cidade. Alheios à morte lenta, muitos refugiam-se nos parques, em exercícios vagarosos de Tai Chi ou em golpes frenéticos de Jiànzi, a desafiar a gravidade pontapeando o que a sensibilidade ocidental chamaria de volante de badminton. Procurar a essência ancestral de Pequim leva-nos aos principais destinos turísticos, como a Cidade Proibida, a Praça Tian’an Men, o Parque Jing Shan, ou Templo do Céu, entre muitos outros. Mas é grande a dificuldade em entender aqueles locais segundo as razões por que foram eregidos, tamanho o magote de turistas. É nas ruas mais pequenas, nos hutongs, que deixamos de reconhecer dialectos. Ali, velhos jogam mahjong no passeio, e novos sentam-se à soleira da porta a comer de tigelas, atentos ao estranho que por ali passa de máquina fotográfica em riste. É justo. Olho por olho. Dente por foto.

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