O Reino do Coração de Jesus

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O Reino

do Coração de Jesus

1 | O Reino do Coração de Jesus

A Doutrina Social da Igreja e a crise

Publicação Trimestral nº 207 | Outubro - Novembro - Dezembro 2011

A Doutrina Social da Igreja a doutrina social da igreja e a crise e a crise


Caros amigos e benfeitores

Director Pe. Leandro Garcês, scj Secretário Ir. José Camacho dos Santos, scj

Edição, Sede, Propriedade e Administração Colégio Missionário S. Coração Caminho do Monte, 9 Apartado 430 9001-905 Funchal 291 221 023 Impressão Gráfica Almondina Zona Industrial 2354-909 Torres Novas 249 830 130 (tel) 249 830 139 (fax) Tiragem 9000 exemplares Registo no ICS | 100.861 ISSN 0873-8912 Depósito Legal | 149281/00

NESTA EDIÇÃO

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A Doutrina Social da Igreja e a crise

Design gráfico Antonino Gomes de Sousa, scj

Queremos abordar nesta edição um tema muito atual e que vem fazendo parte da nossa vida de cada dia, sobretudo neste últimos tempos: a crise. Todos os dias ouvimos falar dela pelas razões mais variadas. A dado momento dá para perguntar: será que temos crise ou crises? Isto de direcionar a crise só para o aspeto económico pode ser o querer tapar o Sol com uma peneira. A crise económica incomoda o nosso presente, é verdade! E aquela que ameaça o nosso futuro? Todos falam de impostos, desemprego, falências, quebra do poder de compra, etc. São sem dúvida aspectos muito cruéis para as

Sociedade atual: A Doutrina social da Igreja e a crise Assis 2011- encontro inter-religioso Correspondência dos nossos amigos e benfeitores Notícias do Colégio Missionário


no Coração de Jesus, Pe. Leandro Garcês, scj

A Doutrina Social da Igreja e a crise

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pessoas. A humanidade sempre teve crises económicas que de uma maneira ou outra foram ultrapassadas. Mas a de índole moral?! Será que ainda acreditamos nos valores como: justiça, verdade, responsabilidade social, lealdade, transparência, fraternidade…? Será que a família está a ter a devida atenção, sendo ela o principal agente de socialização onde se adquirem valores, ideais e as normas sociais mais básicas? O artigo de D. Manuel Linda pode ajudar-nos a refletir sobre a verdadeira crise à luz da Doutrina Social da Igreja. Estamos no mês de Novembro. Mês de oração e recordação daqueles que nos precederam. Rezar e recordá-los ajuda-nos, na dimensão da fé, a compreender que, como pessoas, não morremos. Nascemos para a eternidade, estamos marcados pelo selo divino da imortalidade. Somos todos pessoas humanas para viver para sempre. Não esqueçamos que o 2 de Novembro, não é a Comemoração das Almas, segundo os ensinamentos da Igreja. Mas, a Comemoração dos Fiéis Defuntos. E os fiéis defuntos são pessoas que não desapareceram, não morreram, não acabaram na hora da morte. Vivem junto de Deus. Não fixemos o olhar somente nos túmulos. É para céu que devemos elevar o nosso olhar. É lá que está a nossa morada eterna, porque lá se encontra o tal lugar preparado por Jesus Cristo.


Sociedade atual

A Doutrina Social da Igreja e a crise

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A Doutrina Social da Igreja e a crise

O conceito não é unívoco. Pode ter mais que um significado. Tanto pode referir-se a oportunidades e a passagem para estádios superiores (crise de crescimento, de adolescência) como dizer respeito a aspetos negativos. É neste sentido que habitualmente se fala da atual situação económica e social portuguesa.

De forma grosseira, pode ser simbolizada na balança de braços: por qualquer motivo, os pratos que estavam em equilíbrio deixam de o

Crise! Que é a crise?

estar e um afunda-se enquanto o outro sobe. Porquê? Ou porque a estabilidade era mantida artificialmente ou porque um novo fator veio desestabilizar tudo.

De seguida, deixo uma reflexão incipiente sobre isso. Fixo-me em umas poucas notas com o único objetivo de favorecer a reflexão. Obviamente, situar-me-ei numa dimensão humanista, já que esta, na mente da Igreja constitui a solução do problema.


Da mesma forma que se um prato sobe o outro desce, também se milhões e milhões de pessoas perdem, alguém ganha. E de facto, essa perda é canalizada para uns poucos, que lucram imenso. Dotados de mecanismos eficientíssimos (sobre-posição dos instrumentos financeiros às economias reais, agências de rating manipuladoras, transferências de capitais, especulação bolsista, etc.), uma reduzida minoria impõe regras a que nem sequer os governos conseguem subtrair-se. E regras… desumanas. A roçar a extorsão… «legalizada». É o pecado estrutural, essa soma de pecados pessoais que interagem uns com os outros e se potenciam enormemente. E sobre os quais é difícil intervir. É

como no caso do maquinista do comboio: orientar nesta ou naquela direção não depende dele, mas da disposição exterior das agulhas.

Por isso, tem razão a Igreja quando refere: a saída da crise não depende apenas de soluções técnicas, mas de um enquadramento global ou de uma nova síntese humanista. Depende da conversão pessoal e coletiva. O problema é, de facto, moral. São os valores que estão em jogo. É preciso saber se o nosso mundo ainda dá crédito a noções tais como justiça, responsabilidade social, bem comum, lealdade, transparência, dignidade, fraternidade, etc. Sem mudança de conceitos, sem mudança cultural, não sairemos da crise. E sem moral não existe verdadeira mudança cultural.

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Voltemos à imagem da balança.

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Uma reduzida minoria impõe regras a que nem sequer os governos conseguem subtrair-se. E regras… desumanas....


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A modernidade fracionou os saberes. Atomizou-os. Desintegrou a realidade em partículas infinitamente pequenas. E muitos aspetos sectoriais das ciências, inegavelmente, progrediram. Mas conhecer as partículas não é a mesma coisa que abarcar a realidade. Até pode ser desfazê-la. Por isso, hoje exige-se “uma interdisciplinaridade harmónica, feita de unidade e distinção” (Encíclica Caridade na verdade, 31). Ciência, metafísica, ética, teologia e fé, no respeito da especificidade de cada uma, devem conjugar-se para encontrar aquela unidade que cons-

titui o humano integral. Mas alguns recusam-na. Porque será? E a crise alastra…

Na conhecida expressão de Ortega, a pessoa é ela e as suas circunstâncias. Eu diria: é ela e as suas instituições. Pois bem, algumas delas não estão a cumprir o que deviam. A que mais falha parece ser a ONU. Como referia, há tempos, o Card. Maradiaga, a ONU parece ter desistido da sua função de motor de humanização do nosso mundo para se ocupar com a difusão do preservativo e do aborto, dos direitos

Hoje exige-se “uma interdisciplinaridade harmónica, feita de unidade e distinção” (Encíclica Caridade na verdade, 31)


fundamentam-se numa dada ideologia. Parece que a ideologia que sustenta grande parte delas é o neoliberalismo económico. Assim, faz-se do capitalista o «sacerdote do progresso», como se dizia no século XIX,

Entre nós, esse liberalismo imposto pela troika e, pelos vistos, bem aceite pela maioria das pessoas que frequentaram as Faculdades de Economia, tem, no mínimo, de ser mitigado pelo bom senso. É lógico e urgente que se racionalizem as despesas e os desperdícios. Mas que jamais falte a alguém os bens de quatro setores fundamentalíssimos: saúde, educação, justiça e segurança. Bens que, em muitos casos, segundo o princípio de subsidiarieda-

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Quase sempre, as instituições

e o benfeitor da humanidade. Mas essa ideologia, enquanto materialismo intramundano, que desconhece outra dimensão de vida que não seja o lucro, a adoração do velho deus Mammon, não pode ser aceite pelos cristãos: é contrária à verdade integral da pessoa humana e ao desígnio de Deus na história. Por isso, economia absolutamente liberal, não, não e não!

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dos gays e da ideologia do género. A ONU está, de facto, em crise profunda. Ou se reformula ou… não sei. Mas algo de semelhante também se pode dizer da União Europeia. Parece que os Estados mais fortes estão a impor as suas visões (e os seus interesses?) aos mais débeis. Certos «eixos» apontam para aí. A EU não poderia ter feito mais pela Grécia, Irlanda e Portugal do que aplicar as eufemísticamente designadas «regras do mercado»? A Europa não necessitará de um «suplemento de alma» que a torne diferente, porque humanista? O cristianismo não poderá contribuir para isso?


de, podem ter origem na iniciativa privada, apoiada pelo Estado. E, especialmente, que ninguém passe fome ou deixe de poder comprar os medicamentos indispensáveis. Isso não constituiria somente a vergonha da Segurança Social: seria a vergonha… nacional.

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Mas também não fiquemos no pessimismo e no fatalismo. É possível a mudança! É possível uma outra cultura e uma outra mentalidade. A crise pode ser uma oportunidade. Para isso, é indispensável o contributo dos cristãos. Como? Difundindo um novo humanismo. Um humanis-

mo integral, para o qual a economia é apenas um setor, embora importante. Mas não é tudo. Como escreve Bento XVI, “somente se pensarmos que somos chamados, enquanto indivíduos e comunidade, a fazer parte da família de Deus como seus filhos, é que seremos capazes de produzir um novo pensamento e desenvolver novas energias ao serviço de um verdadeiro humanismo integral. Por isso, a maior força ao serviço do desenvolvimento é um humanismo cristão” (CV 78). Eu também assim penso. Piamente. D. Manuel Linda

Bispo auxiliar de Braga in agência ecclesia


Assis 2011- encontro inter-religioso 27 out 2011

Ausência de Deus provoca a violência

O Papa falou numa ‘decadência’ do ser humano como fruto de “uma alteração do clima espiritual”. “A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contrarreligião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal”, declarou, observando que “uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o ho-

mem destrói-se a si mesmo”. Bento XVI justificou o convite endereçado a quatro professores universitários que se assumem como agnósticos com a importância de atender às “pessoas que procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus".

“Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito”, acrescentou o Papa.

“Queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz»”.

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lia) que a “ausência de Deus” provocou “crueldade e uma violência sem medida” na história recente da humanidade, criticando os “inimigos da religião”. Para Bento XVI, “os horrores dos campos de concentração [II Guerra Mundial] mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus”, que" foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo".

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Bento XVI afirmou em Assis (Itá-


Correspondência dos nossos amigos e benfeitores Ex.mo Director do Colégio Missionário Sagrado Coração de Jesus, segue junto a minha oferta para uma Bolsa de Estudos a fim de ajudar um aluno mais pobre e que deseje ser missionário. Também envio umas ofertas das minhas amigas para as SS. Missas Perpétuas. Bem hajam pelo vosso trabalho! A vossa amiga.

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Mª Lourdes G. - Funchal

Rev. Sr. Padre Superior, com muita admiração pelo vosso trabalho na formação de novos missionários, aqui estou a remeter-vos a minha contribuição, cuja aplicação deixo ao vosso critério. Fiquei muito sensibilizado pela vossa atenção em me felicitarem pelo meu aniversário. Continuo a confiar na vossa oração pelas minhas intenções. Os meus cumprimentos.

A.A. Carvalho - Carrazeda de Ansiães

Rev.mo Sr. Padre, agradeço toda a vossa correspondência: calendário, revistas, cuja leitura aprecio muito, as vossas mensagens que nos vêm aliviar nos momentos mais difíceis da vida. Envio-vos a minha oferta, e só lamento que não possa ser maior neste momento de crise. Que haja outros que o possam fazer para que possais continuar a vossa missão. Com amizade... Mª J. N. Moreira B. – Braga

Caros Amigos do Colégio Missionário, quero apresentar a toda a comunidade as minhas condolências pelo falecimento do amigo Ir. Tarcísio. Pensei que já não ia ter este carinho, cheio de mensagens positivas, mas, graças a Deus, que apareceu outro para continuar o mesmo serviço ao povo de Deus. Peço ao Senhor que lhe dê todas as qualidades para o desempenho da sua tarefa. Junto segue a minha costumada ajuda. Muito obrigada! Com estima e consideração. Mª R. V. N. Silva - Chainça

Amigos do Colégio Missionário, estou-vos muito agradecida pela maravilhosa mensagem que me enviastes pelo meu aniversário. Desejo que o novo ano lectivo possa atingir os seus objectivos e assim os vossos alunos sejam os verdadeiros seguidores de Cristo de quem o Mundo precisa cada vez mais. Aquilo que vos envio é feito com todo o meu coração, esperando que se multiplique como Jesus fez com os pães e os peixes. Com a minha amizade e respeito... L. Sarmento - Mondim da Beira


No dia 17 de setembro, 4 jovens religiosos dehonianos, fizeram a sua Profissão Perpétua tornando, assim, a sua entrega a Deus total e para toda a vida.

No dia 23 de outubro celebramos no Colégio Missionário, o Dia Mundial das Missões. A Eucarístia foi presidida pelo Pe. Manuel Martins, scj, por ocasião do 50º aniversário da sua ordenação sacerdotal.

No dia 23 de outubro, o Senhor chamou para a casa do Pai, o Pe. José Diomário. Que o seu exemplo faça frutificar vida em nós.

No dia 5 de outubro, feriado nacional, fizemos o nosso primeiro passeio da comunidade, aproveitando aquilo que de mais belo encontramos pela Madeira. [Itinerário: Caniçal e Santo da Serra]

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Alguns seminaristas participaram nas Jornadas Mundiais da Juventude em Madrid [agosto 11], sendo para todos eles um momento de alegria e de comunhão eclesial.

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Notícias do Colégio Missionário


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Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos.

Mateus 7, 7

Acreditamos nas palavras de Jesus, que nos convida a pedir trabalhadores para a vinha do Senhor. A sua oração por nós – seminaristas, irmãos, missionários, padres – é já um grande gesto de generosidade, pelo qual agradecemos de coração. Aceitamos e agradecemos qualquer forma de participação neste grande investimento para a educação e formação de adolescentes e jovens candidatos à Vida Consagrada. Qualquer Donativo Livre, Inscrições em Missas Perpétuas [folha avulsa], Mensalidades*, Bolsas de Estudo**, serão preciosas ajudas para mantermos de pé esta obra, que acreditamos ser um dom para a Igreja e para o Mundo. Um homem bom não precisa de monumentos: os seus actos permanecem como o seu santuário. Mishne Sheqalim

Se optar por realizar uma transferência bancária, indique-nos, por favor, a descrição do movimento: Donativo, Missas Perpétuas, Mensalidade, Bolsa de Estudos. Colégio Missionário Sagrado Coração - Apartado 430 - 9001-905 Funchal NIB [Número de Identificação Bancária] 0035 033 6000 91540 93054 Pode, sempre que o desejar, pedir o documento relacionado com o donativo para entrar nos cálculos do IRS. Para esse efeito, precisamos do seu número de contribuinte. * O Colégio Missionário Sagrado Coração despende por mês cerca de € 250 por cada seminarista. Sendo que as suas famílias contribuem apenas com o que podem, óptimo seria encontrarmos um grupo de pessoas dispostas a assegurar, em conjunto, uma mensalidade. ** Por Bolsa de Estudos entendemos um montante de € 750 que assegura as despesas trimestrais de cada Seminarista. Tal contributo representa um gesto enorme de generosidade em favor dos candidatos à Vida Consagrada. Se desejar contribuir com uma Bolsa de Estudos poderá fazê-lo como entender: individualmente ou em conjunto com outras pessoas, de uma só vez ou de modo fraccionado.

colégiomissionáriosagradocoração Caminho do Monte, 9 | Apt. 430 | 9001-905 - Funchal 291 22 10 23 | colegiomissionario@dehonianos.org http://www.dehonianos.org/colegiomissionario


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