Mahalo Press 5º Edição

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Mahalo Press | Ano 1 | #5 | Distribuição gratuita

www.mahalo.com.br

Atleta da MAHALO, Bruno Galini

Bino Lopes Num papo divertido, mostramos um pouco da forte personalidade do talentoso surfista baiano

Radical Grupo de skatistas longboarders invade ladeiras de Salvador com manobras radicais

Morro de São Paulo Fomos a um dos destinos turísticos mais mágicos do Brasil para surfar ondas perfeitas em uma bancada de coral










Rolé em Morro

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Fala do editor

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De olho na série

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Conceito Mahalo

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Editorial MAHALO Terra

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Palavras salgadas

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Quiksilver Arpoador

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Editorial EDYE

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Meio Ambiente

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No Trilho

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Editorial MAHALO praia

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Flávio Marola

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Sons, filmes e afins

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Musa Mahalo

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Foto: David Campbell

Foto: Zecops

Além da importância histórica, da beleza e do agito, Morro de São Paulo também tem ondas perfeitas

Skate

Conheça a galera que arrisca o pescoço nas ladeiras de Salvador andando de skate longboard

Foto: Diego Freire

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Bino Lopes

Determinação, garra e convicção no que faz são os lemas de um dos surfistas mais talentosos do Brasil

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Foto de capa: Bruno Galini curte as ondas e o astral de Morro de São Paulo (Foto: Zecops)

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Foto: Tiago Lima

Conceito surfwear

Yordan Bosco yordanbosco@mahalo.com.br

Em busca de roupas que possibilitassem conforto e segurança para a prática do surf e que, ao mesmo tempo, dessem uma identidade à tribo, surfistas americanos e australianos começaram a confeccionar, artesanalmente, as primeiras peças da moda surf nos idos de 1960. Nascia então as primeiras grifes de um segmento da moda que não representava apenas um jeito de se vestir. Mas sim a reprodução de toda uma cultura e um estilo de vida, baseado no espírito de liberdade e aventura, na atitude, na coragem e na independência dos padrões conservadores e pré-moldados das sociedades na época. Inspiradas nas suas próprias demandas, no movimento hippie e no homem havaiano, as camisas com estampas floridas, as bermudas com três agulhas e as camisetas e calças mais folgadas e confortáveis deram o tom da primeira fase da surfwear. Passado cerca de meio século, temos um dos segmentos de vestuário mais atuantes e influentes do planeta, que inova e apresenta tendências a cada estação. O mercado de surfwear produz todas as peças de roupas e acessórios para seu público. Além disso, é responsável pela confecção de equipamentos necessários para a prática do surf e de outros esportes de ação. De acordo com pesquisas, só no Brasil, esse mercado movimenta mais de R$ 2,5 bilhões por ano e, vai aí outro dado interessante, 95% dos consumidores não têm ligação com o esporte, são admiradores. Isso

A revista MAHALO PRESS é uma publicação bimestral do grupo Mahalo, Wave Beach, Edye RADICAL CO. e Asa Classic WEAR e tem tiragem de 30 mil exemplares. A revista é produzida pelo Departamento de Comunicação do grupo.

comprova a influência e o fascínio que a cultura surf e, consequentemente, a moda ligada a este esporte exercem sobre as pessoas. No Brasil e em todo o planeta. E a MAHALO vem exatamente nessa pegada. A grife de origem californiana, criada em 1982, desenvolve produtos de alta qualidade, investe pesado em tecnologias de confecção e inova na criação dos produtos a cada coleção. Esta quinta edição da Mahalo Press celebra exatamente um ano repleto de conquistas, crescimento empresarial, inovações e consolidação de nossa marca no mercado brasileiro. A Coleção Verão 2012 está nas lojas, encantando e fazendo com que cada vez mais pessoas se sintam MAHALO. Com o tema Terra e Mar, a coleção é inspirada nos espaços de ligação dos ambientes aquáticos e terrestres. O mix de mais de 350 peças traz como principais características estampas coloridas e tecidos especiais, confeccionados com alta tecnologia. As modelagens exclusivas foram pensadas para proporcionar conforto e bem-estar, sem esquecer da funcionalidade para a prática de esportes. Também para celebrar este momento mágico produzimos editoriais de moda para a MAHALO e para a EDYE RADICAL CO (nossa marca da linha streetwear). Você pode conferir os resultados fantásticos desse trabalho nesta edição. Ousado e atual, o ensaio é diferente de tudo que o segmento está acostumado, e traduz, com muita arte e criatividade, todo o conceito e filosofia da nossa marca e dos nossos produtos.

Edição e produção: Yordan Bosco (DRT–BA 2992); Projeto gráfico, diagramação e tratamento de imagens: Alexandre Karr; Revisão: Socorro Araújo; Assessoria comercial: Fabiano Gonçalves; Estagiária: Adriele dos Santos; Colunistas: Fábio Tihara, Juliano Bório, Lucius Gaudenzi, Luiz Augusto Pinheiro e Marcos Pellegrino; Colaboraram nesta edição: (textos) Daniel Smorigo, Gabriel Almeida, Kelly Cestari, Natália Arjones e Zedu Carvalho; (fotos) Aleko Stergiou, Bruno Veiga, David Campbell, Diego Freire, Enrico Marcovaldi, Fabriciano Júnior, Fred Pompermayer, Gugah Mariano, Hugo Zechin, Paulo Fontes, Pedro Accioly, Tiago Lima e Zecops; Ilustração: Rafael Brasileiro; Impressão: Vox Editora.

Os textos assinados reproduzem as opiniões dos seus autores e não necessariamente do veículo e do grupo. Contatos por e-mail: comunicação@mahalo.com.br redacaomahalo@mahalo.com.br Telefone: (71) 3443-1546. Correspondências: Avenida Tancredo Neves, nº 2915 - Loja 1075 - Salvador Shopping, Caminho das Árvores Salvador – BA - CEP 40 820 021



Foto: Zecops

Criado em Fortaleza e surfista competidor até os 16 anos de idade, o atacante do Bahia e ex-Vitória Júnior, o Diabo Loiro (na foto, ao lado do shaper Luiz Algusto Pinheiro), fez uma visita a uma das lojas e à fábrica de pranchas da MAHALO, em Salvador. Artilheiro nato, matador, o ídolo da torcida tricolor encomendou sua terceira prancha com o shaper Luiz Augusto Pinheiro e, de quebra, ganhou outra de presente, uma ‘fish’. Ele ainda fez uma sessão de remada de stand up paddle em Itapuã e pegou umas ondas com a galera em Jaguaribe. Apesar do mar muito pequeno e ruim, Júnior mostrou que manda bem. Andou com velocidade e fez umas manobrinhas nas marolas de menos de meio metro. “Sempre que o mar está bom e consigo um tempinho, dou uma caída no Barravento, que fica perto de casa. O surf sempre fez parte da minha vida”, explica o jogador.

Medina vence 2 e Slater é 11 vezes campeão Este segundo semestre foi um dos mais movimentados da história do surf mundial. Além da conquista do 11º título de Kelly Slater, 39 anos, na penúltima etapa da temporada (o Rip Curl Search) nos EUA, o mundo assistiu incrédulo à estreia arrasadora do jovem brasileiro Gabriel Medina, 17, no Tour. Com duas vitórias (na França e nos EUA) nas suas primeiras quatro etapas disputadas, o brasileiro impôs respeito, mostrou que fatalmente trará o título para o Brasil e fez o que nem o próprio Slater conseguiu no seu debute no WT. De quebra, Mineirinho também venceu a etapa de Portugal, a sua segunda no ano, já que havia conquistado a prova do Rio.

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Foto: Kelly Cestari / ASP

Funcionário MAHALO alcança 3ª colocação no baiano de jiu-jítsu Em outubro deste ano, o funcionário do setor comercial da MAHALO Diones Cerqueira disputou o Campeonato Baiano de Jiu-Jítsu, que aconteceu em Salvador, e alcançou a 3ª colocação. O nosso campeão levou a medalha de bronze com apenas sete meses de treino, depois de um ano e meio parado. Entretanto, ele já pratica a arte marcial há, no mínimo, quatro anos pela Equipe Dela Riva, com o mestre Neto Orvile. Diones conta que quando ganhou a medalha ainda era faixa branca e que agora já é azul. “O jiu-jítsu é minha paixão e sou bastante grato às orientações de meu mestre, que me fez descobrir o potencial para o esporte”, comenta.

Galini é o Brasil nos Jogos Sul-Americanos O surfista da MAHALO Bruno Galini, 24 anos, foi convidado pela Confederação Brasileira de Surf (CBS) para integrar a equipe nacional que disputa, entre os dias 2 e 11 de dezembro, os Jogos Sul-Americanos de Praia. A competição será realizada na cidade de Manta, Equador, e contará, além do surf, com disputas de handebol, esqui, natação em águas abertas, rugby, triatlo, vôlei e futebol de praia. Os Jogos Sul-Americanos de Praia têm chancela do Comitê Olímpico Internacional (COI), supervisão da Organização Desportiva Sul-Americana (Odesur) e serão organizados pela Federação Equatoriana de Surf (ESF), em parceria com International Surfing Association (ISA).

Alex Cardoso fatura etapa do Sergipano de Skate O skatista baiano Alex Cardoso, patrocinado pela EDYE RADICAL CO, foi o grande campeão da terceira etapa do Sergipano de Skate 2011, realizado entre os dias 29 e 30 de outubro, na Praia de Atalaia, em Aracaju. Participaram da prova, que teve status de regional nordestino, atletas de Sergipe, Alagoas, Bahia e Pernambuco. Cardoso já é grande referência regional no esporte e alcançou o primeiro lugar na categoria Amador 1.

Mahalo Alagoano é encerrado com sucesso Após seis etapas de disputas emocionantes, o Circuito Mahalo Alagoano de Surf 2011 foi encerrado nos dias 19 e 20 de novembro, na Praia da Lagoa do Pau, em Cururipe, litoral sul do estado. Além de Cururipe, o circuito teve provas realizadas em praias de Maceió e no Francês, com excelente estrutura e organização e atletas de toda a região Nordeste. Quem melhor aproveitou o evento foram os campeões da temporada, os sergipanos Bruno Marujinho (Open), Robson Fraga (Longboard) e Paula Mourão (Feminino) e os alagoanos Wellington Reis (Grommets), Victor Ramos (Iniciante), Amando Tenório (Mirim), Denisson Rocha (Junior), Klinger Peixoto (Senior e Master) e Fábio Nascimento (Grand Master).

Foto: Zecops

Craque nas ondas


Foto: Diego Freire

Coleção de Verão 2012 Terra e Mar Inspirada nos dois elementos de maior grandeza Com um novo olhar, exploramos, de forma artística, alguns detalhes que compõem uma natureza rica e que está diante dos nossos sentidos a todo instante. O espírito é lembrar que em nossa volta há, constantemente, um ambiente sublime e fantástico, facilmente percebido, se dermos mais atenção aos nossos sentidos. Assim, notamos que, ao nosso redor, além de toda essa correria, há outras influências, como as flores, a brisa, o cheiro e a umidade do mar, o sol, entre muitas outras coisas. Todos esses elementos nos dão equilíbrio, paz e segurança nesse caminho constante que é viver.

Surfista é o ser ideal para ilustrarmos esse conceito. Ele é habitante fiel do lugar que liga toda extensão terrestre com o mar, vivendo bem os dois ambientes. A praia é um lugar de calor, emoções, sentimentos e vivências, onde o que há de mais forte é a liberdade. De um lado está a terra e, do outro, o mar. Caminhos distintos que podem nos levar para um universo de possibilidades e novos horizontes em nossas vidas. Viva a vida na terra e se renove no mar. Esse é o conceito da Coleção Verão 2012 Mahalo. Gabriel Almeida Gerente de Desenvolvimento de Produto

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Da mata Fotos: Tiago Lima | Edição de Moda: Zedu Carvalho

O melhor lugar não é em casa. É aquele onde você se sente em casa. As entidades do verde te dão as boas-vindas. É hora de pegar a estrada e cortar a Mata Atlântica. Depois dela, ali pertinho, sempre o mar.






Modelos: Arnaud Cornevin (One Models) e Ágatha Borges (Model Club) Beleza: Dai Alves Produção e Tratamento de Imagem: Hebert Valois (Cinzoo) Produção Executiva: Zedu Carvalho Agradecimentos: Projeto Floresta (Reserva Sapiranga, Praia do Forte), Restaurante Casa do Poeta (Reserva Sapiranga, 71 9916 8860) e Restaurante Le Pompom Rouge (Rua da Paciência, 251 Rio Vermelho, 71 3023-3566).




Maldito Carnaval Por Juliano Bório*

na mesma direção. Aquilo os lembrou de algo. – Será que vai ter onda? – alguém resmungou baixinho. – Claro que não. Eles parecem com a gente, todos os anos. Desencanaram da ideia e riram daqueles caras. Horas depois, com a lua iluminando o céu, chegaram à tal praia onde ficariam. Som pegando, mulherada doida pela rua e rumores circulando pelos bares de que um swell de leste estaria se aproximando. Não estavam nem aí, afinal, todo Carnaval era a mesma coisa. Dessa vez, não se enganariam. Caíram na folia, tomaram todas. Mal sabiam onde estavam de tão bêbados. Quando a noite deu lugar ao dia, em companhia de algumas garotas mais tortas do que eles, foram até a praia ver o nascer do sol. Deram de cara com seus piores pesadelos. O mar havia reagido e quebravam boas ondas de meio metro. Carros chegavam a todo instante e moleques entravam no mar esbanjando disposição e fome por ondas. Sentaram-se no alto de uma pedra e por ali ficaram. Sem pranchas, sem surf, sem ondas e de cabeça inchada. Apenas com umas barangas e uma garrafa de cachaça. Aquilo não combinava nada com eles. É. Naquele Carnaval algo estava estranho. Realmente, muito estranho.

Ilustração: Rafael Brasileiro

Todo Carnaval era a mesma coisa: pranchas em cima do carro, adrenalina na mochila, um pico alucinante que quebrasse boas ondas, bebida no isopor e a noite bombando. Não queriam mais nada da vida. Aqueles ingredientes tornavam a trip sempre uma caixinha de surpresas, exceto por um deles: as ondas. Parecia praga. Nos últimos quatro anos, o mar esteve totalmente flat para onde quer que fossem. As pranchas nem saíam das capas. Só serviam de enfeite. Naquele ano, escolheram um lugar mais exótico. Queriam cair na folia, chutar o balde geral. E, como naquele pico, para rolar uma vala, o swell tinha que estar grande e de leste, raro naquela região e, principalmente, naquela época do ano, optaram por nem levar as pranchas. Cansaram da mesma decepção de sempre. Dessa vez nem sonhavam com as ondas. Partiram eufóricos, como sempre. Era estranho ver aquele Uno vermelho 85, tomado por adesivos na traseira, passar sem aquele monte de foguetes amarrados no capô. Mais estranho ainda era vê-los escutando marchinha de Carnaval. Logo eles, que sempre odiaram esse tipo de coisa; viviam para as ondas e nunca trocavam um dia de surf por balada que fosse. Algo estava realmente estranho. Num paradouro qualquer, ficaram apreensivos quando viram alguns carros atrolhados de pranchas e que, provavelmente, estavam indo

*Juliano Bório é gaúcho, publicitário, mora na Austrália e está preparando um livro de contos



Fotos: Daniel Smorigo / ASP

Bino perdeu nas quartas de final com 16 pontos, escore que o classificaria em duas das quatro baterias da fase

Filipe Toledo, Hizunomê Bettero, Léo Neves e o campeão Kolohe Andino formaram o pódio no Arpoador

Bino faz bonito em mais uma prova internacional Quiksilv e r O p e n of Sur fing Surfista da MAHALO passou por cinco baterias nos quatro dias de eventos seis estrelas no Rio de Janeiro e só parou nas quartas. O grande campeão da prova foi um norte-americano de 17 anos Mesmo com uma atuação espetacular nas quartas de final, quando fez um escore de 16 pontos, de 20 possíveis, o surfista baiano Bino Lopes, 23 anos, não conseguiu superar o carioca Léo Neves no Quiksilver Open of Surfing, finalizado no dia 23 de outubro, na praia do Arpoador, na cidade do Rio de Janeiro. A prova teve nível seis estrelas, distribuiu US$ 145 mil de premiação e coroou o campeão, o norte-americano Kolohe Andino (EUA), 17, com US$ 20 mil e 3.500 pontos no ASP World Star, circuito classificatório para a elite do surf mundial de 2012. Andino derrotou na grande final o brasileiro de Ubatuba (SP) Hizunomê Bettero, pelo placar de 17,5 x 16,57 pontos. Com um surf de encher os olhos de todos que estiveram na praia do Arpoador desde o primeiro dia de disputas, Bino Lopes mostrou muita técnica, determinação e força para brigar entre alguns dos melhores surfistas do mundo, em ondas de cerca de um metro e meio e boa formação. Vencedor da prova do ASP World Star da Bahia em setembro, Lopes foi muito bem na segunda bateria das quartas, mas não contava com a sorte de Leo Neves, que achou uma onda espetacular e fez a maior nota da competição, um 9,6 pontos. Com as notas 8,77 e 7,23 pontos que fez na disputa, o baiano se classificaria tranquilamente em duas das quatro baterias da fase.

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“Surf competição é isso mesmo. Cada um tem seu dia e, mesmo fazendo um dos escores mais altos de toda a prova, parei nas quartas. Mas estou feliz, porque chegar até aqui em um evento dessa importância é muito bom”, explica Bernardo Lopes. “Este ano, graças a Deus, venho conseguindo bons resultados e adquirindo muita experiência. No ano que vem quero me dedicar mais a este circuito e participar de mais provas fora do Brasil”, promete o surfista. Talento emergente Nova sensação do surf norte-americano, Kolohe Andino venceu as duas etapas da ‘perna brasileira’ de fim de ano da ASP South America (a outra foi no litoral paulista na semana anterior) e deu um grande passo para compor a elite do ASP World Tour em 2012. “Foi uma final muito difícil. Sabia que estava enfrentando um grande surfista que, assim como eu, fez um grande campeonato”, comemora Andino.

Resultados 1) Kolohe Andino (EUA) 2) Hizunomê Bettero (BRA) 3) Filipe Toledo (BRA) 3) Leonardo Neves (BRA) 5) Bino Lopes (BRA) 5) Thiago Camarão (BRA) 5)Thiago Guimarães (BRA) 5) Jessé Mendes (BRA)


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Famoso destino turístico é abrigo de ondas perfeitas Por Yordan Bosco | Fotos Fabriciano Júnior

Sabíamos que o destino escolhido para a seção Rolé desta edição seria uma grande incógnita. Morro de São Paulo é um lugar maravilhoso, sem dúvida um dos mais bonitos e mágicos do Brasil. Mas, em relação a um fator fundamental para a nossa visita, as ondas, tínhamos consciência que poderíamos trazer algo sensacional ou ficar na mão. O fato é que o local, pertencente ao município de Cairu, na Costa do Dendê, produz ondas perfeitas em uma das melhores bancadas de fundo de coral da Bahia. Porém nem todo dia é dia de surf, devido a inconsistência das ondulações. Morro tem uma importância histórica muito grande. A vulnerabilidade a invasores, saqueadores e contrabandistas no período colonial fez com as autoridades da época transformassem o local em um estratégico ponto de defesa do litoral baiano.

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abíamos do potencial das ondas de Morro de São Paulo, mas também tínhamos conhecimento da inconsistência das ondulações. Então, aproveitamos o período da terceira etapa do circuito baiano de surf pro-am, no final de agosto, e partimos com os surfistas Bino Lopes, Bruno Galini e Ian Costa. Seguimos em uma quinta-feira à noite, pois o campeonato, vencido por Galini, aconteceria de sexta a domingo e havia a previsão de um swell de leste para a segunda. A época era a mais propícia do ano, a ondulação estava a caminho e os ‘cabra’ estavam lá, com ‘sangue nos óio’, só esperando para atacar. Com os fotógrafos Zé Cops e Fabriciano Júnior a postos, tínhamos três dias (segunda, terça e quarta) para aproveitar as ondas que estavam prometidas e produzir umas fotos, já que na quinta os atletas tinham que estar em Itacaré, para a disputa de uma etapa do circuito nordestino. Mas, naquelas condições, de ondas pequenas, apenas o pico da Pedra do Moleque funcionava. Como em todas as bancadas de fundo de coral, as ondas quebram em um lugar exato e por isso o pico ficou reservado para a competição. Foi nos confrontos das primeiras baterias que nossos atletas surfaram em Morro pela primeira vez. Ao sair da sua disputa inicial, Galini aprovou de cara o potencial das ondas. “Apesar de não ter tamanho, dá pra ver que o pico tem uma formação muito boa. As ondas são fortes, perfeitas e extensas e o astral é impressionante”, aprova o surfista. “É um dos lugares mais bonitos que já vi. Se esse swell entrar realmente, vamos ter sessões de surf incríveis”, disse. Bino Lopes já havia estado no paraíso, mas só naquela sexta-feira também surfaria pela primeira vez por lá. Ele chegou à decisão e ficou em terceiro lugar na prova,

As ondulações não entram em Morro com muita frequência, mas a qualidade das ondas da Pedra do Moleque é inquestionável. Ian Costa que o diga

mas um imprevisto o afastou da melhor sessão de freesurf, na segunda-feira. Contraiu um furúnculo embaixo do braço e foi parar no posto médico da ilha. Competiu no sacrifício, mas teria que ficar de molho na segunda e na terça, pois havia tomado antibiótico e tinha de esperar a ferida desinflamar. Até o domingo, as ondas continuaram pequenas, porém perfeitas e com força suficiente para manobrar. Ficamos instalados na confortável pousada Villa dos Graffitis, a uns 200 metros do pico, e aproveitamos então para torcer pela equipe, monitorar tudo e curtir outros atrativos do paraíso, que não são poucos. Tem tirolesa, fortes, piscinas naturais, passeios de barco pelas ilhas, praias maravilhosas com águas cristalinas e peixe em abundância para quem gosta de caça submarina e pesca. Isso sem falar nas opções noturnas. São festas, shows, barzinhos, restaurantes e até boates, que funcionam todos os dias.

Dos cerca de 80 mil turistas que visitam Morro a cada ano, 57,9% são mulheres

Nosso cicerone na ilha foi o simpático e talentoso surfista Dinho. Ele foi um dos primeiros ‘locais’ a surfar em Morro

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Em ação Proprietário de lanchas de turismo e um dos primeiros surfistas do paraíso, o veterano Osvaldo Dinho, 39 anos, foi nosso cicerone nas ondas de Morro. Dinho é um ex-pescador que há uns seis anos resolveu vender os barcos que tinha e comprar lanchas de turismo. Ele conta que começou a surfar com uns 9 anos de idade, inspirado em caras de Salvador que tinham casa em Morro, a exemplo de Amilka, Rui, Saracura e Paulinho, e em uma galera de Valença, liderada por Guidinho, Joy e Dalmo Meirelles. Marcamos com ele uma saída de barco para ver outros picos no domingo. Havíamos constatado que o swell prometido havia enfraquecido. Além da Pedra do Moleque, havia as bancadas da Quarta Praia e outro pico perto do Guaibim (em Valença), também de fundo de coral, chamado Ponta Grossa. Acordamos umas 5h da madruga na segunda, embaixo de uma chuva muito forte. Quando São Pedro deu uma trégua, por volta das 8 horas, ligamos para Dinho e fomos ao seu encontro na pousada Casa Blanca, de sua propriedade. As ondas estavam um pouco maiores que no final de semana. Ainda estavam pequenas, mas muito perfeitas, com água limpa e céu azulado àquela altura. “Acho que não vale a pena ir a Ponta Grossa. É longe e o mar não deve estar muito diferente daqui”, avisou Dinho. Ele, então, foi buscar um flex-bolt (lancha inflável bastante confortável, com dois motores de 115 HPs e 15 lugares) no Porto e nos encontramos na Primeira Praia. Antes da caída na Pedra do Moleque, a barca seguiu para a Quarta Praia, para checar o Sueiro, onde, infelizmente, não tinha muita coisa.

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Fotos: Fabriciano Júnior

Ian Costa deitou, rolou e voou nas ondas de Morro de São Paulo

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Além de Dinho, Morro tem outros bons surfistas, que se criaram naquelas direitinhas da Pedra do Moleque. Demi Brasil, Joilson Purora, Silas Duggane os irmãos Matheus e Thiago Souza são alguns deles. “O surf por aqui é muito comum entre moradores e hoje em dia já existem muitos ‘locais’ que praticam o esporte”, explica o secretário de Turismo de Cairu, Júlio César Gonçalves de Oliveira. Galini, Dinho, Ian Costa, Filipi Simões, Demi Brasil e o empresário Carlos Cunha formaram o cround com mais uma meia dúzia de surfistas locais e ‘agregados’.


Morada privilegiada Já na terça e na quarta-feira, não demos sorte. Choveu sem parar durante os dois dias. Até que tinha umas ondas, mas a luminosidade, ou melhor, a falta dela, não permitiu que a rapaziada produzisse um bom material fotográfico. Mas nossos heróis não quiseram nem saber e entraram no mar. Bino ignorou as recomendações médicas e partiu para o outside para surfar as ondas, que estavam um pouco maiores que o dia anterior. Pela falta de consistência das ondas, Morro de São Paulo não ganhou fama de destino de surfistas. Porém, existem alguns registros de ondas perfeitas e de bom tamanho em pouquíssimos veículos especializados. Quem mora no vilarejo ou anda por lá com frequência garante que o local possui uma das ondas mais perfeitas do Brasil. Frequentador de Morro há 11 anos e morador há uns cinco, Carlos Cunha, o Carlinhos, explica que o surf é um privilégio na Ilha. “A grande vantagem é que o cround é formado sempre por pessoas conhecidas, por amigos, pois pouca gente se arrisca a vir aqui só pra surfar. Embora de junho a agosto seja a época mais consistente, já pegamos ondas boas aqui em outras épocas do ano”, explica o empresário de 35 anos. Dono de três lojas no local, ele reforça que a vantagem de morar em Morro vai muito além do surf. “Trabalho onde as pessoas estão de férias. Os clientes estão sempre bem-humorados e simpáticos”, comenta Carlinhos, que cuida das lojas Local Brasil e sempre que pode está no mar fazendo alguma atividade física. Agito Que Morro de São Paulo possui uma vocação esportiva muito forte, isso é fato. Além do surf, o mergulho, o futevôlei, o frescobol, os esportes de vela, o kite, a tirolesa e as caminhadas são atividades bastante praticadas na ilha. Uma pesquisa da Secretaria de Turismo de Cairu mostra que 97% dos 80 mil turistas que frequentam Morro durante o ano vão atrás de lazer. E nessa categoria estão incluídos os esportes. A pesquisa revela também que 54,4% desses turistas são jovens entre 16 e 31 anos e que 57,9% são mulheres. Ou seja, Morro de São Paulo é um lugar de muita festa e badalação. Durante os dias de sol, mesmo durante a semana, as praias estão cheias de pes-

Fotos: Fabriciano Júnior

Traços da herança colonial podem ser vistos nos casarões da vila de Morro de São Paulo

Bino ficou impossibilitado de surfar nos melhores dias. Mas, quando pôde, o surfista entrou no mar e deu seu recado

Leandro Sasso administra a pousada Villa dos Graffitis e, nas horas vagas, surfa, anda de kite ou de wakeboard

Foto: Zecops

As ondas tinham, no máximo, 4 pés, porém a perfeição, o visual da praia, a água quente e cristalina fizeram daquele um dia muito especial. Galini e Ian voando como loucos e o resto da galera mandando ver. Quem não demorou a se integrar com a trupe foi o também veterano local Peninha. Chegou de barco, numa fissura danada, e mostrou que está no rip. Remava sem parar. Aproveitamos o resto de tarde que nos sobrou para produzir umas fotos de moda, junto com a equipe de marketing da MAHALO, comandada por Sandro Sanper. Depois de algumas sessões em um mirante colado no Farol, voltamos famintos para a pousada. Foi o tempo de se arrumar às pressas e correr para o Sambass Café para jantar. O cardápio do restaurante, do simpático italiano Hugues Carrara, 35 anos, é simplesmente fantástico (veja box).

Peninha, a todo gás, na Pedra do Moleque

soas em busca de sol e diversão e à noite tem sempre festa. Os restaurantes e bares da Vila ou da Segunda Praia costumam ficar cheios e tem música ao vivo. Sem falar nas festas que rolam a partir de 1h, 2h da madrugada, em locais fechados ou nas praias. O público que participa dessas baladas é formado, em sua maioria, por estrangeiros vindos da Europa e da Argentina.

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Alta gastronomia no Restaurante Sambass Café Em meio a tantas opções, escolher um lugar para comer em Morro de São Paulo não é uma tarefa fácil. São cerca de 50 bares, restaurantes, creperias, pizzarias, cafés, açaís e por aí vai. Mas, na passarela da Segunda Praia, encontramos o Sambass Café. Fica de frente para o mar, é confortável, tem atendimento de primeira e, o que mais importa, comida sensacional. Comandado pelo simpático italiano Hugues Carrara, 35, o restaurante é diferenciado em tudo. Mistura a culinária baiana com a italiana e tem no cardápio desde grelhados de frutos do mar e mariscada roial a opções de carnes, legumes e moquecas. O Linguine ao fruto do mar, servido com camarão, lagosta e polvo, é uma das opções que indicamos. Maravilha. Carrara está no Brasil há cerca de 10 anos e em 2005 abriu o estabelecimento, a princípio como disk bar. Ele resolveu deixar pra trás o trabalho no setor têxtil na Itália e chegou a Morro, com um amigo jornalista, em busca de um lugar paradisíaco para morar e exercer uma atividade que amava, mas só fazia por hobby: cozinhar. Hoje é casado com uma mineira e tem um filho baiano. “Com um mês de funcionamento do disk bar, resolvi mudar de ramo e transformar em um restaurante. Chamei um amigo chef italiano para montar o cardápio”, explica. “A princípio, queria mexer apenas com peixes e frutos do mar, mas como percebei que o brasileiro é extremamente carnívoro, resolvemos mesclar o cardápio”.

Localização estratégica

Da esquerda para a direita: Ian, Bino, Sandro, Galini e Hugues no Sambass Café

MAHALO PRESS indica Pousada Villa dos Graffitis (75) 3652-1803 Pousada Vila das Pedras (75) 3652-1075 Villa dos Corais (75) 3652-1560

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Restaurante Sambass Café (75) 8148-9239

O filé ao molho de gorgonzola foi aprovadíssimo por Bino

Foto: Zecops

O Forte e a grande muralha de Morro começaram a ser construídos no século XVII, para proteger o Recôncavo Baiano dos invasores

Foto: Zecops

Morro de São Paulo é um braço da Ilha de Tinharé e tem em torno de 4,5 mil moradores. Abrigo de piratas e contrabandistas por muitos anos e refúgio de invasores holandeses no século XVII, o local era estratégico para o acesso à rica região do Recôncavo Baiano, no início da colonização portuguesa. Como o local era de difícil fiscalização para a Capitania dos Ilhéus, ficava vulnerável às invasões e saques. Por isso o governador Diogo Luís de Oliveira ordenou, em 1630, a construção de um Forte no local, que passou a desempenhar um importante papel na defesa da costa baiana. O povoado desenvolveu-se em função da fortaleza e adquiriu características de núcleo urbano militar. Essas características são percebidas logo na vila de Morro e dão um charme especial ao lugar. Na chegada de barco percebe-se o imenso muro remanescente do Forte, além do Farol. As casas e os sobrados coloniais se misturam às construções mais modernas. A fortaleza era protegida por uma muralha de grande extensão. Toda a construção levou cerca de um século para ficar pronta. Vale destacar que a produção de farinha foi a principal atividade econômica do local durante o período colonial.


Conforto e sustentabilidade ambiental na Villa dos Graffitis O surfista e empresário Carlinhos Cunha trocou o agito de Salvador por Morro

Nesta sequência, Bruno Galini tira toda a energia da onda da Pedra do Moleque

Foto: Zecops

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O local que hospedou toda a equipe da MAHALO em Morro de São Paulo não poderia ser outro. Extremamente confortável, bonita, café da manhã reforçadíssimo e serviço de primeira, a Pousada Villa dos Graffitis foi toda concebida, há três anos, com base em conceitos de sustentabilidade ambiental. Com quartos amplos, arejados e confortáveis e uma decoração que une sofisticação e modernidade, a pousada foi construída com madeira de reflorestamento, possui aquecedores movidos a energia solar para os chuveiros, além de escadas feitas com garrafas pet. A Villa dos Graffitis possui ainda a área externa toda arborizada e ilustrações nas paredes dos quartos e nas áreas de convivência. “A pousada foi toda pensada para um público jovem, que vem em busca de diversão, agito e conforto. Temos 26 apartamentos simples e dois duplex”, explica um dos donos do estabelecimento, Leandro Sasso, 23 anos. Paulistano, Sasso resolveu dá um tempo do curso de hotelaria em São Paulo para administrar o novo empreendimento da família, que já possuía no local as pousadas Villa dos Corais e Villa das Pedras. “Meu pai construiu a pousada Villa das Pedras no início dos anos 90, mas nunca morou aqui. De lá de casa eu fui o primeiro que decidiu se instalar em Morro, há três anos”, explica. Surfista e praticante de kite e wakeboard, Leandro é ligado ao mar desde moleque, quando ia para o litoral paulista pegar onda por influência de um tio surfista e do pai, velejador. “Poder morar e trabalhar aqui é um grande privilégio. Conciliar bem-estar, esporte, diversão e qualidade de vida é muito bom”, explica. Ele destaca que a Villa dos Corais é direcionada para famílias com crianças e que a Villa dos Pedras é segmentada para casais.

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Sentados: Ian Costa e Bino Lopes; em pé, Leandro Sasso; e, na piscina, Bruno Galini

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Prazer e adrenalina no asfalto Por Natália Arjones* | Fotos David Campbell

Em busca de adrenalina, um grupo de praticantes de skate longboard de Salvador está agitando a cidade. Lugares com asfalto liso, ladeiras extensas e pouca movimentação são os preferidos da turma, que cresce a cada dia. Além da busca por aventura e por bem-estar físico e mental, os skatistas das pranchas grandes, de alta velocidade, promovem ações sociais e eventos beneficentes No começo de 2011, alguns praticantes de skate longboard da Bahia começaram a pensar na

da cidade são extremamente difíceis de achar. Mas a palavra ‘difícil’ não intimida os aventureiros.

possibilidade de se reunir. Até então, a galera era

Ser longboarder em Salvador é uma atitude que de-

composta por cinco pessoas. O vídeo Cai’pira’ção,

manda persistência e muita vontade. A cidade, apesar

produzido pelo grupo e disponível no Youtube,

de oferecer uma geografia apropriada para a prática,

foi ao ar antes do São João e fez sucesso na in-

carece de espaço e incentivo. Mas isso também não im-

ternet. Ao mesmo tempo, o grupo Longboard

pede que os longboarders promovam o crescimento do

Salvador, no Facebook, crescia cada vez mais e o

esporte. Se não existia espaço, eles descobriram. Se não

esporte foi conquistando novos adeptos e novos

existia divulgação, eles criaram formas de incentivo.

espaços na capital baiana. O público feminino

Foi nesse contexto que em 5 de setembro deste ano

também cresceu e hoje é uma representação for-

foi ao ar o portal B-Longs (www.b-longs.com). Além

te, que tem seu espaço garantido e respeitado.

de informações e notícias, o B-Longs traz uma leitura

A galera de Salvador dá nó em pingo d’água

sensível do esporte, aliada a uma programação visual

quando o assunto é andar de long. Faça chu-

de tirar o fôlego. O site tem organizado um movimen-

va, faça sol, os integrantes do grupo se reúnem

to forte na capital baiana, provando que a prática es-

praticamente todos os dias nos melhores picos

portiva vai além da diversão e da adrenalina. Ações

da cidade. Asfalto liso, ladeiras extensas e pou-

sociais são organizadas, como eventos beneficentes,

ca movimentação de carros são características

que levam o esporte até as crianças, como uma alter-

fundamentais para bons drops. Lugares assim

nativa, um desafio para o corpo e um estilo de vida. *Natália Arjones é redatora do site B-Longs.com

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Os picos para a prática de skate longboard em Salvador são escassos, mas Guim Vasconcelos e sua turma vão à luta e encontram onde andar

Faça chuva ou sol, os longborders estão firmes em busca de adrenalina

As grandes ladeiras com boa qualidade de asfalto são os ambientes mais propícios para a prática do esporte

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Nas lojas da rede MAHALO e WAVE BEACH, você encontra diversos modelos de skate longboard

Salvador contaminada A Mahalo Press entrevistou o músico Renato Nunes, baixista da banda Diamba, e a estudante Manuela Tibiriçá. Praticantes ativos de longboard, eles falaram um pouco sobre a prática esportiva. Para os dois, assim como para outros longboarders, o esporte é como um vírus que, uma vez em contato, não tem cura. A capital baiana está contaminada. Em menos de um ano, o espaço conquistado pelo esporte foi além do esperado. Mahalo Press - Como você conheceu o esporte e por que decidiu praticá-lo? Manuela Tibiriçá - O longboard surgiu na minha vida em agosto deste ano. Depois que vi uns vídeos do Longboard Girls Crew, me apaixonei. Hoje não consigo parar de andar, principalmente depois que conheci o grupo Longboard Salvador. O astral da galera é tão bom que contagia e deixa o rolé sempre divertido, mesmo com as quedas e feridas. Os meninos sempre dão uma força para as meninas nos treinos de slides ou em alguma manobra nova. MP- Qual a sensação de andar de longboard? Renato Nunes - A sensação de poder praticar um esporte que te oferece, de acordo com a sua escolha, tanto o prazer de curtir um rolé tranquilo, quanto descarregar altas doses de adrenalina em downhills de velocidade e em slides com alto grau de dificuldade. MP: O que você aprendeu andando de longboard? RN: Aprendi que devo saber respeitar os limites. Além de andar com equipamento de segurança, é preciso saber muito

bem como é o drop. O treino te ajuda a superar esses limites e atingir níveis melhores de execução de uma manobra. MT: Além de uma atividade física, o que é sempre saudável para o corpo e para a mente, o longboard carrega também uma cultura de sempre agregar pessoas. Nos grupos, sempre tem espaço pra todo mundo, independentemente da modalidade. Por termos uma grande quantidade de pessoas, a gente sempre consegue promover eventos de cunho social, agregando a comunidade ao esporte e unindo outras atividades que tenham a mesma iniciativa. É daí que vem a força pra transformação, né? A união das pessoas, seja pelo esporte, pela cultura, pela música. Onde tem gente boa reunida sempre sai coisa boa! Manuela Tibiriçá

Renato Nunes




Arterias Urbanas Fotos: Pedro Accioly | Edição de Moda: Zedu Carvalho

De madrugada, enquanto a cidade adormece, ela não deixa de ter vida. Suas artérias pulsam. Movimentos, luzes, manobras e o espírito nightlife navegam rumo ao desconhecido. A cidade não para.




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Agradecimento: Polícia Militar da Bahia

Modelo: Henrique Netto (One Models) Beleza: Dai Alves Produção e Tratamento de Imagem: Hebert Valois (Cinzoo) Produção Executiva: Zedu Carvalho

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Inspiração pra tudo que eu viver Por Yordan Bosco

Um dos surfistas brasileiros mais respeitados da sua geração, Bino Lopes, 24 anos, conversa com a gente sobre carreira, faz um balanço de 2011 e projeta as perspectivas para 2012. Determinado, explosivo, inteligente e coração sempre à frente em tudo que faz, o atleta da MAHALO passa por um dos momentos mais felizes da sua carreira

Foto: Aleko Stergiou

Feriadão prolongado de 15 de novembro rolando e a Praia do Forte, no litoral norte baiano, bombando. No hall de uma elegante pousada, um grupo de jovens conversava. Entre eles um surfista profissional bem articulado, conversando muito e fazendo as outras pessoas rirem. Com uma contusão no joelho em fase de recuperação, na reta final de uma temporada muito desgastante e vitoriosa, Bino Lopes se reabilitava, com a família, e assistia, muito agoniado, seu pai e uma leva de amigos, primos e o colega de profissão e da equipe MAHALO Bruno Galini desfrutarem de um swell sensacional nas bancadas de coral do famoso destino turístico. Em casa, feliz e com a ansiedade de cair no mar estampada no rosto, Bino nos recebeu, falante como sempre, para esta entrevista. A personalidade do surfista é a tradução exata do seu comportamento como competidor. Determinado, explosivo, inteligente e, mesmo acostumado a usar estratégias muito bem pensadas dentro d’água, coloca o coração à frente de todos os outros sentimentos. De jeitão marrento e muito divertido, Bino é um cara que chama a atenção também pela atitude e por

acreditar que sempre é capaz de chegar no lugar que projeta, mesmo quando ninguém bota fé. Com 24 anos completados no início de dezembro, Bino Lopes confessa que se sente muito feliz com a profissão que escolheu e celebra o ano 2011. E olhe que ele tem muito o que contar. No início do ano fez uma temporada fantástica no Hawaii, quando surfou o famoso pico de Waimea, com ondas de 18 pés (6 metros). Fez diversas finais e semifinais em eventos regionais e conquistou uma vitória e um quinto lugar em etapas do mundial de acesso ao World Tour, em Salvador e no Rio de Janeiro. “Estou feliz pelo ano. Conquistei uma vitória em um evento internacional aqui na Bahia, mas fiquei muito feliz também com uma quinta colocação em uma competição seis estrelas no Arpoador, no Rio. Não pelo quinto lugar em si, mas porque derrotei muitos atletas de ponta e perdi em uma bateria acirrada, com um escore que venceria outras duas disputas da fase. O evento teve um excelente nível técnico e estavam lá alguns dos melhores surfistas do mundo”, comemora. Com passagem marcada para passar 25 dias no Hawaii em janeiro, para treinar e produzir fotos e vídeos institucionais para a MAHALO, Bino projeta um 2012 com mais viagens internacionais, para participar do mundial de acesso. “Quero ir à Europa, aos EUA e, quem sabe, à África do Sul. Este ano foi de muita experiência e testes para mim e agora é hora de buscar voos mais altos. Tenho capacidade de conquistar muito mais para minha carreira e vou em busca desse objetivo”, promete Bino. Autoconfiança Com uma autoconfiança muito grande, Bino só entra nas baterias para vencer, independentemente de quem está com as outras lycras, do local e das condições do mar. Mas o surfista conta que nem sempre foi assim. Começou a competir aos 14 anos, tarde em relação à maioria dos seus colegas, e sempre teve em


Foto: Diego Freire Fotos: Fabriciano Júnior

De jeitão marrento e muito divertido, Bino é um cara que traça suas metas e luta por elas até o fim

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Foto: Bruno Veiga

“Lembro que foi uma fase difícil, mas de muito aprendizado. Tive que trabalhar muito o psicológico. Quando fechei o patrocínio com a MAHALO, minha autoestima melhorou bastante e isso também influenciou em minhas melhoras”, confessa. “Foi a primeira vez que uma marca grande de surfwear me patrocinou e isso me deu mais confiança para acreditar no meu valor”. O atleta destaca também o trabalho de treinamento físico, realizado pelo professor Sidney Resende, da academia Atitude Sport, de Villas do Atlântico. “Fazemos um trabalho há sete anos e a cada competição sinto os frutos desta parceria”.

Frequentador assíduo de Fernando de Noronha há sete anos, Bino venceu lá, em 2010, o campeonato profissional com maiores ondas do surf brasileiro

seu pai, Aberlado Lopes, o maior incentivador. “Eu não tinha muita gana de vencer. Na verdade, meu pai sempre acreditava mais em mim do que eu mesmo. Ele foi um dos grandes responsáveis por eu estar onde estou. Sempre agilizou tudo para que eu pudesse surfar”, confessa. Dois fatos na carreira de Bino Lopes foram preponderantes para uma mudança de postura e para ganhar a confiança que tem hoje. Um foi uma final do Brasileiro Amador que participou na época de Junior. Ele ficou em terceiro lugar em uma prova, no Ceará, em bateria vencida pela ex-promessa Jeferson Silva, composta ainda por dois integrantes brasileiros na elite mundial: Jadson André e Alejo Muniz. Aquela competição fez uma diferença muito grande na carreira de Bino. “Além de chegar na final com dois futuros integrantes do WT e com uma das maiores promessas do surf brasileiro na época, tirei muitos favoritos no caminho”. Outro acontecimento motivador na carreira foi quando, há quatro anos, após diversas dificuldades no início da carreira como profissional, decidiu fazer faculdade. Em seguida, descobriu que o surf era sua verdadeira vocação, voltou com tudo e fechou patrocínio com a MAHALO. Ele chegou a cursar um semestre de Biologia e dois de Administração. “Quando estava na aula, só pensava em surfar e competir e por isso resolvi largar tudo e voltar a fazer o que realmente gosto e escolhi pra mim”, explica.

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Ondas grandes Com viagens para lugares como Hawaii, Tahiti, África do Sul, Europa, Austrália, EUA, Peru, entre outros, no currículo, Bino pode ser considerado um surfista experiente, apesar da pouca idade. Atirado nas ondas grandes, ele é reconhecido no meio como um cara de atitude. Uma das recompensas por esse feeling veio em 2010, quando venceu um campeonato que foi considerado o evento profissional com as maiores ondas realizado no Brasil. Foi uma etapa do Nordestino Pro, Bino conta que em Fernando de Noronha. hoje só entra nas baterias para vencer, Participaram alguns dos meindependentemente lhores surfistas do Brasil. No dos adversários, primeiro dia, as ondas chegado lugar e das condições do mar ram aos 15 pés (cerca de 5 metros) e as condições eram absurdamente difíceis. “Naquele evento, muita gente passou perrengue. Encontrei muitas dificuldades, pois, além dos fortes adversários, as condições impostas pela natureza eram um grande desafio. Foi muito difícil mesmo, quebrei duas pranchas e venci com uma prancha pequena (6’1”). Passo temporadas em Noronha há sete anos e tenho uma certa experiência naquelas ondas, o que me ajudou muito. Desde moleque vou para a casa do amigo Pablo Neruda. A família dele me trata muito bem e sua mãe sempre cuidou de mim como filho”, explica. Foto: Fabr iciano Jú nior



Foto: Hugo Zechin

Foco na vida aquática Por Yordan Bosco

O fotógrafo, videomaker e documentarista Enrico Marcovaldi nos conta um pouco sobre os 25 anos de experiência registrando a vida marinha. Um dos fundadores do Instituto Baleia Jubarte (onde trabalhou até 2008), ele tem como especialidade captar imagens dos mamíferos gigantes de dentro d’água Produtor de um dos mais ricos acervos de imagens marinhas do Brasil, o carioca Enrico Marcovaldi, 48 anos, é um privilegiado por viver uma eterna aventura e por ser um profissional bastante requisitado. Após anos de dedicação e ousadia, o fotógrafo, videomaker e documentarista vive coletando imagens subaquáticas por diversos mares do mundo, para revistas, produtoras de vídeos, TVs e para as principais instituições de conservação marinha do país. Um dos fundadores do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) e coordenador da base da Praia do Forte de 2000 a 2008, esse filho de imigrante italiano despertou a paixão pelo mar ainda menino, quando começou a pegar onda de peito no Costão do Leme, Zona Sul Carioca. Aos 18 anos, após fazer seu primeiro curso de mergulho, em Arraial do Cabo, começou a investir na fotografia aquática. Com 25 anos de dedicação, ele já viveu diversas experiências e participou de muitas expedições de pesquisas. “Para ser um bom fotógrafo submarino, antes de tudo, tem que ser um bom mergulhador. Tem que praticar e ter esta identificação com o mar. Os equipamentos são caros, principalmente os de imagens submarinas, e o mercado é restrito”, indica. Declaradamente apaixonado pelas baleias, Marcovaldi, que hoje reside na Praia do Forte, litoral norte baia-

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no, explica que elas são suas maiores inspirações para fazer imagens. É tanto que uma das suas peculiaridades profissionais é o mergulho para registrar os mamíferos gigantes, ao lado deles. A ousadia e a perspicácia para realizar a atividade são para poucos. Por isso, devido aos perigos que ela proporciona, o documentarista tem uma autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente, para fazê-lo. Marcovaldi é um dos poucos profissionais no mundo a fazer esse tipo de imagem. “É um animal de 15 metros, com 40 toneladas. Apesar de dóceis, são selvagens e enormes. São mais de 20 anos de experiência, mas, mesmo assim, a minha adrenalina vai lá pra cima. Já passei algumas roubadas e aconselho se, porventura, alguém quiser mergulhar com elas, ter muito, mas muito, cuidado e buscar uma autorização legal”, recomenda. Documentários Diretor e produtor de dezenas de documentários de importantes instituições ambientais brasileiras, ele lançou em novembro o vídeo Projeto Tamar Nossos Sonhos não Envelhecem, em comemoração aos 30 anos da instituição, e em janeiro é a vez do Atlântico Sul, o Mar das Baleias, do IBJ.


Foto: Enrico Marcovaldi / Projeto Tamar

Enrico Marcovaldi faz imagens para as principais instituições de conservação ambiental do Brasil, a exemplo do Projeto Tamar

Expedições Entre as tantas expedições realizadas ao longo de duas décadas e meia, Enrico Marcovaldi destaca uma à Antártida, nas Ilhas Geórgia do Sul. “Foi para identificar a área de alimentação das jubartes, pois no Brasil elas vêm para reproduzir. Comprovamos que a região é a área de alimentação das nossas baleias brasileiras”, conta. “Foram 50 dias embarcados e no retorno pegamos uma tempestade durante 28 horas. O vento chegou a 70 nós (120 quilômetros por hora). Foi uma experiência e tanto”, relata.

Abrolhos Outra experiência marcante na vida do documentarista foram os 11 anos que morou em Caravelas, no extremo sul da Bahia. Foi proprietário da agência e operadora de mergulho Abrolhos Turismo e um dos pioneiros em ecoturismo e mergulho na região. “Muitas aventuras, trabalho e dificuldades. Foi a melhor escola da minha vida”. Nesse período, ele foi convidado pelos gestores do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos para captar imagens, principalmente submarinas. “O principal objetivo do meu trabalho lá era divulgar e identificar as espécies do parque, além de ajudar no que fosse possível”, conta. “Foi bem no início da implantação do parque e tudo era novidade naquele paraíso. Nas nossas idas e vindas entre Caravelas e Abrolhos (a 32 milhas – 51 quilômetros – de distância) foram avistadas as primeiras baleias Jubartes e, a partir dali, criou-se o Projeto Baleia Jubarte”, detalha.

Total interação entre o fotógrafo e o modelo peixe boi

Captar imagens de baleias de dentro d’água é uma atividade para poucas pessoas no mundo

Marcovaldi conta que os 11 anos que viveu entre Caravelas e o Arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia, foram de muito aprendizado

Foto: Enrico Marcovaldi / Projeto Peixe Boi

Fotos: Enrico Marcovaldi / IBJ


Com certeza, esse momento, em Teahupoo, no Tahiti, vai frequentar as boas lembranças de Yuri Soledade por toda a vida

“Se nos voltarmos para dentro de nós, encontraremos todo tipo de experiência, algumas boas e outras nem tanto”

Foto: Fred Pompermayer

A busca Marcos Pellegrino Pastor e coordenador da Missão Surfistas de Cristo no Nordeste Pellegrino.marcoantonio@gmail.com

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O surf é um esporte de alma. Quando não há esta compreensão, dificilmente se consegue provar da mistura homem e natureza, algo tão difícil nos dias de hoje. Mas aqueles que conseguem são movidos por algo indescritível, sentimento que eu chamo de Espírito do Surf. Para alguns, chega a ser um ideal de vida e para outros uma relação espiritual. Quando somos movidos por esse sentimento, alguns valores, que foram construídos ao longo da nossa história, tornam-se como luzeiros para nossa relação com o surf. Lembro dos meus primeiros anos de aprendizado na praia da Pituba, em Salvador. Os amigos e as experiências vividas com eles me levam a um sentimento único (como sonhei na noite anterior) e quando volto a surfar não precisa nem ter onda, pois me satisfaço só com as lembranças. É uma procura dentro de mim, de experiências tão boas. Assim somos em diversas áreas da nossa vida. Se nos voltarmos para dentro de

nós, encontraremos todo tipo de experiência, algumas boas e outras nem tanto. E nesse ‘mar’ chamado eu mesmo precisarei de muita paixão para me encarar, desfrutar das boas experiências e resolver as pendências ainda lá existentes, para que possa a cada dia me conhecer e ser uma pessoa melhor para mim e para o próximo. Para isso preciso ir à procura da minha história, seja ela qual for. Sei que para alguns não é muito fácil, um verdadeiro desafio. Deixo aqui algumas palavras de motivação. Vá nessa viagem. Se for feita da forma correta, será de grande valia para sua vida. E aí vai um sábio conselho: “Todo caminho do homem é reto aos seus olhos, mas Deus sonda os corações” (Provérbios 21:2). Chamar Deus para esta trip é realmente um bom conselho. Valeu, até a próxima, e boas ondas.




Do mar Fotos: Tiago Lima | Edição de Moda: Zedu Carvalho

Ano novo, tudo novo. Mais sol, mais alegria, mais realização, mais diversão. Do primeiro nascer do sol do ciclo que começa, a inspiração pra fazer tudo com um pouco mais de energia. E que venha forte o que for de bom.


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Agradecimentos: Projeto Floresta (Reserva Sapiranga, Praia do Forte), Restaurante Casa do Poeta (Reserva Sapiranga, 71 9916 8860) e Restaurante Le Pompom Rouge (Rua da Paciência, 251 - Rio Vermelho, 71 3023-3566).

Modelos: Arnaud Cornevin (One Models) e Ágatha Borges (Model Club) Beleza: Dai Alves Produção e Tratamento de Imagem: Hebert Valois (Cinzoo) Produção Executiva: Zedu Carvalho

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Marola usa os espaços e as possibilidades de comunicação dos eventos para chamar a atenção sobre a doação de órgãos

Foto: Gugah Mariano

Doador de esperanças Por Yordan Bosco

Através da campanha Doe Órgãos. Doe Vida, o surfista baiano Flávio Marola tem como propósito levar esperança para pessoas que esperam por um órgão na fila de transplante. Há dez anos, ele foi transplantado de rim, após ter seus dois órgãos paralisados e fazer sessões de hemodiálise por mais de dois anos Quem convive no meio do surf da Bahia e acompanha as competições, certamente conhece o simpático surfista Flávio Marola. Apaixonado pelo esporte e pela vida, Marola está sempre nas baterias dos campeonatos de longboard. Bom competidor no pranchão, ele também pode ser visto com frequência nas ondas ou nas areias de praias como Jaguaribe e Stella Maris. Através de mensagens na prancha, em banners esticados nas áreas dos eventos e nos pódios, em conversa com a moçada e em cam-

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panhas nas redes sociais da internet, ele é incansável na missão de conscientizar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos para salvar vidas. A motivação de Flávio Augusto Coelho Coutinho, 43 anos, em mostrar para as pessoas que a doação é responsável por devolver a vida a milhares de pessoas que estão doentes nas filas de transplante veio da sua própria experiência. Aos 28 anos de idade, seus dois rins pararam de funcionar e ele teve de fazer sessões de hemodiálise por mais de dois anos, até que, em 2001, foi transplantado de um rim, doado por sua mãe, Vera Lúcia Coelho.


O surfista passou a ter uma vida normal e saudável após receber o rim da sua mãe, Vera Lúcia Coelho, em 2001

Bom no Pranchão, o atleta foi vice-campeão baiano profissional de longboard duas vezes e já ficou entre os 20 melhores do Brasil

Foto: arquivo pessoal

Na hemodiálise, uma máquina faz a função dos rins, de filtrar todo o sangue, removendo as substâncias tóxicas e as impurezas que saem pela urina. No processo, a circulação sanguínea passa pelo equipamento e retorna ao organismo. No período de espera pelo transplante, Flávio Marola foi submetido a três sessões de quatro horas de hemodiálise toda semana. Na Bahia, quase 4 mil pessoas esperam por um transplante de órgão. Desses, em torno de 2,5 mil esperam por novos rins. Vida nova Hoje, o surfista tem uma vida saudável. Formou uma família, tem duas filhas e uma atividade esportiva intensa. Mas a barra que ele e a família seguraram foi muito pesada. Além da fragilidade do organismo, do isolamento das pessoas e do sofrimento físico da doença, ele teve de conviver com a perspectiva de morte. Segundo o surfista, só no período de espera pelo transplante perdeu 15 amigos que sofriam do mesmo problema. “Tinha que conviver com a morte ao lado o tempo todo. Às vezes, chegava no hospital e não encontrava alguma pessoa. Quando perguntava, tinha a notícia de que havia morrido. Ficava difícil buscar forças para acreditar na recuperação e na sobrevivência”, lamenta. “Fazia hemodiálise sempre com um grupo de 25 a 30 pacientes, sendo que eu era um dos piores, pois meus rins estavam 100% sem realizar filtragem do sangue”, explica. O processo gera o aumento de fósforo, potássio e creatinina no organismo. Entre os riscos provocados pela insuficiência renal, o paciente pode ter uma parada cardíaca, por causa do alto índice de potássio, ou convulsão no processo de hemodiálise. Além disso, o não funcionamento dos rins poderia causar diabetes e hipertensão e a alta taxa de creatinina poderia tê-lo levado à morte. Solidariedade Flávio Marola explica que tem um agradecimento muito grande a Deus por estar transplantado e vivo e por poder ajudar as pessoas que sofrem com sessões de hemodiálise e em filas de transplantes. “Sempre que estou no mar, agradeço muito a Deus. Tenho uma felicidade muito grande de estar com saúde e mostrar para as pessoas que estou vivo graças a um transplante de órgão”. Levantando a bandeira da doação de órgãos em uma competição no Rio de Janeiro

Flávio Marola está escrevendo, com um amigo ator, uma peça teatral com o tema da doação de órgãos. Ele também está formando um grupo para realizar blitzes informativas na cidade sobre a importância da doação e intensificando as campanhas nas redes sociais. Através do site www.doeorgaosdoevida.com.br pode-se obter mais informações sobre as campanhas. “Hoje, meus maiores propósitos de vida são minha família e ajudar as pessoas que estão na fila de transplante. Não posso ficar de braços cruzados enquanto sei que muitas pessoas estão passando o que eu passei”, emociona-se. Doação Os doadores de rins podem ser pessoas vivas ou mortas. Após doar um dos seus rins para o filho, dona Vera Lúcia continua com uma vida normal. “Um doador vivo tem que estar consciente e inteirado do que vai acontecer. Desde a ausência do rim que será doado ao procedimento da cirurgia e do risco de haver uma rejeição por parte do doador”, explica a matriarca. Dona Vera Lúcia conta ainda que nem por um minuto recuou da decisão. “Doei e doarei, se necessário for, para salvar a vida de alguém. Sou doadora de todos os órgãos. Ver hoje meu filho saudável, alegre, casado e com duas lindas meninas me faz muito feliz. Agradeço a Deus e aos médicos por ele poder surfar, comer de tudo, beber água e fazer xixi”. Foto: Arquivo pessoal

Foto: Gugah Mariano

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para ouvir

Algo de novo no cenário brazuca Aqui mesmo na minha coluna escrevi que não me atentava aos sons nacionais e que faltava algo no cenário musical tupiniquim. Deixo claro que gosto de música brasileira. Meu problema é com a nova cena. Eis que me surpreendo com uma série de excelentes lançamentos. São agradáveis surpresas musicais que me levaram a considerar minhas palavras e a me render, enfim, à nova musicalidade brasileira.

Wado - Samba 808 Já tinha ouvido o burburinho sobre o catarinense radicado em Alagoas chamado Wado. Seu disco novo e sexto da carreira se chama Samba 808, em alusão ao famoso teclado Roland TR-808. Um disco que define bem o que deve ser a musicalidade brasileira: diversidade. Wado acerta em cheio ao reinventar sambas com toques eletrônicos e embala na moda com uma inclinação pop em suas letras. Nomes como Zeca Baleiro, Curumin, Chico César e Marcelo Camelo só acrescentam mais tempero numa mistura que é, por si só, maravilhosa. Detalhe importante: o artista disponibilizou em seu site o disco para download gratuito. Vá lá: www.wado.com.br.

Mundo Livre S/A Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa Depois de um hiato de seis anos sem gravar em estúdio, os recifenses do Mundo Livre S/A estão de volta e com um disco que faz jus à longa espera. Apesar do nome estranho, Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa é um Mundo Livre na essência, mas com as devidas atualizações do período. O marcante cavaquinho, o flerte eletrônico, o discurso politizado e comportamental e uma sonoridade dançante é o que apresenta a trupe liderada por Fred 04. E, assim, uma das melhores bandas brasileiras mantém uma hegemonia de excelentes discos na praça.

Fábio Tihara Jornalista, especializado em sons e vídeos

Bixiga 70 - Bixiga 70 O nome da banda vem do tradicional bairro paulista do Bixiga e é uma referência ao Afrika’ 70, banda que acompanhava o nigeriano e precursor do afrobeat Fela Kuti (1938-1997). Uma big band com dez integrantes, muito suingue e energia, numa orgia de instrumentos musicais. O primeiro disco vem para mostrar que o mundo é pequeno para a banda, famosa no circuito alternativo paulistano. São dez canções instrumentais com sonoridades africanas, jazz, funk e dub. O grupo também disponibilizou o disco na íntegra, através do site www.bixiga70.com. Lá, você pode comprar, baixar ou, simplesmente, escutar.


para assistir

Enxurrada de novidades na rede Depois de alguns meses sem nenhuma novidade no mundo dos vídeos de surf, uma enxurrada de bons lançamentos invadiu a rede. E como não poderia faltar, a coluna Sons, Filmes e Afins disseca o que de melhor apareceu. Now O australiano Chippa Wilson é a grande estrela do filme da marca californiana Analog, do diretor Riley Blakeway. O jovem, conhecido por suas manobras inovadoras e modernas, mostra que tanta fama não veio por acaso. Com um estilo progressivo, Chippa decola em todas as condições possíveis de ondas. Seja na Nova Zelândia, no Panamá ou na Califórnia, o que interessa é voar. Em sua companhia, surfistas do mesmo estilo progressista como Dion Agius e Andrew Doheny. A trilha sonora é rock do começo ao fim e, em pouco mais de 30 minutos, agrada ao espectador, ávido por aquela instigação para uma sessão de surf.

Get-N-Classic A Vans mostra toda a versatilidade de sua equipe de surf. Um filme muito bom de assistir, pois não cansa os espectadores. Num primeiro momento, podemos conferir toda a elegância do mestre do estilo Joel Tudor e do não menos estiloso longboarder californiano Alex Knost. É de tirar o fôlego a atitude de Nathan Fletcher em ondas de peso (como Mavericks, Puerto Escondido e Teahupoo). Tem ainda toda a competitividade dos irmãos Gudauskas e de novos talentos como Andrew Doheny e Dillon Perillo; sem falar na desenvoltura de John John Florence dando aula de como entubar fundo em Pipeline, Backdoor e Teahupoo.

Lost Atlas O tão aguardado filme de Kai Neville já se encontra disponível para download na internet. Depois do estrondoso sucesso de Modern Collective, Kai mostra um amadurecimento natural como cineasta. Para olhos pouco perceptíveis, seu novo filme parece ser uma continuação de seu primeiro trabalho, mas, aos poucos, o aussie imprime seu estilo próprio de captar e mostrar suas impressões do surf moderno. Cortes rápidos, diálogos intercalando cenas de ação e uma trilha sonora que vai do caos à paz em segundos. Os amigos Dion Agius, Yadin Nicol, Jordy Smith e Dusty Payne estão presentes, mas gratas surpresas como Owen Wright, John John Florence e Chippa Wilson roubam a cena e protagonizam as melhores sequências do filme. O cenário da ação pouco importa, porque, para essa geração de surfistas, o segredo é extrapolar os limites.

Podcast da edição (as mais ouvidas na redação) Drake - Headlines “O canadense está tomando de assalto” Jessica 6 - Prisoner of Love “A nova rainha das pistas” Polock - Nice to Meet You “Fórmula manjada, mas receita de sucesso” Projota - Mais do que Pegadas “O rap nacional vai muito bem, obrigado” Seu Jorge & Vanessa da Mata - Boa Reza “Dessa vez, ele acertou na parceria”

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Rafaela Fiorani Fotos Paulo Fontes

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ossa Musa desta edição veio do Espírito Santo. Cabelos

dourados e pele bronzeada, a linda Rafaela Fiorani é professora de Educação Física e dançarina. Ela tem 27 anos e está radicada em Salvador desde o início de 2011. Apaixonada por praia, por música e pela vida, sempre que tem uma oportunidade não pensa duas vezes e vai para Morro de São Paulo. Já na capital baiana, frequenta as praias de Stella Maris e Aleluia. Fiorani se define eclética para música, mas confessa ter um gostinho especial por Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, Shakira e Jason Mirage. Professora de natação, essa capixaba de personalidade forte já fez box e capoeira e, atualmente, além da dança, mantém a forma com musculação. Neste ensaio, a musa foi clicada pelo fotógrafo Paulo Fontes.

Produção: Kayalla Rocha Assistente de iluminação: Bruno Belém Cabelo e maquiagem: Cláudio Pimenta Rafaela usa biquinis MAHALO

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