Literaturas

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Literaturas o mundo real impregnado de impressões fantásticas

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Luíç Caixote Literaturas

— o mundo real impregnado de impressões fantásticas —

Luíç Caixote projeto gráfico,

textos e imagens

Belorizonte 2012


Luíç Caixote Luís Fernando Siqueira Dias, hoje com 27 anos de idade. Nasceu em Bocaiúva (norte de minas) nos idos 1984, filho do meio de Sô Antônio (Antônio Gonçalves Dias) e Dona Zélia (Zélia Siqueira Dias). Aos 23 anos (2007) mudou-se para Belo Horizonte para cursar a Escola de Belas Artes (EBA-UFMG) e se formando em 2011 na habilitação de Artes Gráficas. É artista gráfico, fotógrafo e contista com trabalhos que se caracterizam pela interação entre fotografia e literatura (com olhar especial para literatura fantástica).

Exposições Coletivas Mostra dos Ateliês de Fotografia 2/2010 Trabalho Nem todos tem seu dia de folga Po.li.gr.af.ic.05 - 2010 Trabalho Grande Teatro da Vida A mostra mostraanual.wordpress.com - 2011 Trabalho Passos de um sonhador Exposição de Formandos 1/2011 EBA- 2011 Trabalho Cada coisa em seu lugar Fotografando com minha caixa de fósforos - 2011 Trabalho sem título Corpo coletivo - 2011 Trabalho Diga-me quem sou Intac - TAMK (Finlândia) - 2012 Trabalho Unet, Sueños, Sonhos, Dreams I <3 - OCAD (Canadá) - 2012 Trabalho Unet, Sueños, Sonhos, Dreams

Eventos Vendendo peixe 2010 Trabalho Janela de Possibilidades (parceria com Camila Fernandes) Corpo Coletivo (Collective Body) 2010 eba.ufmg.br/collectivebody

Trabalho 1 Guia Sinais de Bolso Trabalho 2 Diga-me quem sou (parceria com Lorena Galery (Brasil) e Lucy Sloss (UK) Corpo Coletivo (Collective Body) 2011 Trabalho 1 Era uma vez... Trabalho 2 Memórias INTAC (International Art Collaborations) 2012 intac.tumblr.com | ourcrazycdreams.tumblr.com

Trabalho Unet, Sueños, Sonhos, Dreams Publicações eletrônicas Laboratórios Urbanos

issuu.com/laboratoriosurbanos/docs/laboratoriosurbanos

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Breve auto-biografia “Amanheceu eu peguei a viola Botei na sacola e fui viajar Sou cantador e tudo nesse mundo Vale pra que eu cante e possa praticar A minha arte sapateia as cordas E esse povo gosta de me ouvir cantar (...)1” Em uma manhã dessas da vida, saí de casa e ganhei o mundo. Botei o pé na estrada com a cara e a coragem, deixei o medo de lado. Não levei viola porque em seu lugar enchi a sacola com aquilo que não podia me desapegar. Botei lá meu sotaque, o jeito de olhar pras coisas e todos os outros ensinamentos que aprendi lá em casa, nas Geraes... (Por mais que a gente tente sair de casa, a casa não sai de dentro da gente). No começo da jornada encardi os pés no asfalto de tanto caminhar, mas logo lavei na primeira travessia de rio. Caminhei, caminhei. Pedi carona. Pedi ajuda. Pedi esmola e continuei. Peguei chuva, peguei gripe e peguei mais carona. Andei, andei e apeei em Belorizonte. Aproveitava um cantinho em cada parada eu molhei a garganta, mesmo não sendo de beber cachaça. No meio da roda lá eu estava contando causos enquanto os outros bebiam. Comecei como um bom falador. 1. Música Amanheceu, peguei a viola. Compositor Renato Teixeira

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Falei, falei, falei e contei muito. Foi tanto falatório que a língua não deu conta parou para um café e o lápis resolveu continuar. Da falação os causos verídicos viraram estórias e foram para um caderninho de contos. Contei estórias de bicho, de gente, de coisas e até lendas. E cada estória eu contei de um modo especial. Usei minhas próprias palavras e algumas outras que inventei. Como mágica tudo que eu dizia virava palavra escrita, depois a palavra escrita virava gente e mais “gente” que saltou pra vida real. No fim do dia estava muito cansado de falar, escrever, prosear e de tanto cuspir “gente” que povoou esse mundão. Botei tudo na sacola e no meio desse botamento de coisas arrumei outras tantas pra guardar ali junto. A sacola engordou numa safadeza! Ela ainda tem muito espaço para engordar. E a noite vem vindo. Peço licença para recolher minha sacola e tomar novo rumo nessa vida na qual sigo buscando meu lugar. “(...) Anoiteceu e eu voltei pra casa Que o dia foi longo e o sol quer descansar Amanheceu...”


Sumário Opiniões...............................................................6 Apartamento modelo...........................................9 Guia Sinais de Bolso.............................................12 Um tal de Fura-bolo.............................................15 Passos de Um Sonhador.....................................18 Grande Teatro da Vida..........................................21 Janela de Possibilidades......................................24 Cada Coisa em seu Lugar.....................................27 Unet, Sueños, Sonhos, Dreams...........................30 Anexo I.................................................................33 Anexo II................................................................38

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Opiniões As folhas e flores simplesmente caem das árvores? Só se movem quando e para onde o vento quer? Ou quando varridas por alguém? Será que gostam de ser levadas por aí? Quais são seu reais desejos, sonhos, verdades? Se um dia conversássemos com elas seriam sinceras e nos revelariam suas opiniões? Só perguntando mesmo!

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Técnica Fotografia, escrita Dimensões Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave poesia, texto, textura Proposta Usar elementos naturais (folhas e flores) como suporte para escrita. Elaborar pequenos contos ou poemas a partir da disposição das folhas encontradas.


Opiniões

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Opiniões

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Apartamento modelo Seria bom se ao sentar em um banco qualquer na praça poder puxar um bom livro e ler ali mesmo. Não se importar com o cair da noite, bastava acender um poste como luminária... E se enjoar do livro, há muitos outros na estante, bastava pegar outro título. Por que não ver TV e acompanhar no noticiário as informações sobre o trânsito enquanto se espera o ônibus? Só seria chato ter que esperar o sinal abrir para chegar a cozinha e tomar um chá quentinho...

Técnica Fotografia, maquetes em papel Dimensões Cenário (30 x 45 cm ) Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave público x privado, interno x externo. Proposta Transpor elementos da cidade para o interior de uma casa, criando relações dos objetos e mobiliários domésticos com mobiliários urbanos.

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Apartamento modelo

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Apartamento modelo

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Guia Sinais de Bolso Senti sede e tive água ao meu alcance. Senti fome e tive onde comer. Tomei um bom banho e dormi muito bem. Foi fácil pois tudo que eu precisava estava no meu bolso.

Técnica Fotografia, sinalização com pictogramas Dimensões Pictogramas (5 x 6 cm ) Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave ocupação, espaço público, humor x ironia Proposta Re-interpretar o espaço urbano. Implantar pequenas sinalizações reatribuindo sentidos aos locais visitados. Exposição Corpo Coletivo 2011

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Um tal de Fura-bolo — Foi assim: “...dei uma golada na cachaça, só para experimentar. Corri o olho pela venda, à toa mesmo! Firmei lá no fundo, aí, sem perceber, minha boca chamou o dono dali ‘Ei, amigo. Eu tô muito enganado ou aquilo ali é um tatu bebendo cachaça?’ O homi assustou também ‘O quê? Onde?’ Daí ele agitou a cabeça procurando. Mostrei a cena bizarra ao homem da venda tentando não passar por louco ou coisa parecida aos olhos da cidadezinha — e pensar que achei o lugar por acaso quando viajava à trabalho pelo norte de minas. Pensei que seria só mais uma cidadezinha, mas lá vi algo inacreditável. Na venda havia um animal debruçado na mesa enquanto afogava na bebedeira. Quando falei o que vi nem o vendeiro acreditou. Ele respondeu algo como ‘moooço, ucê deve tá de palhaçada comigo!’ Então estiquei a mão, aprumei o dedo apontando para a mesa lá do fundo. O vendeiro franziu a testa lançando um olhar de raiva. Aí meus olhos me tapearam de novo, pois tive a impressão de ver os olhinhos do animal voltados em nossa direção. Logo que cruzaram o olhar raivoso do dono da venda o tatu se mostrou bastante inquieto e agiu como se dissimulasse sua presença ou como se tentasse passar desapercebido. Pensei bem sobre aquilo e eu tava redondamente enganado, pois animal algum faria coisa parecida. Quando se sente acuado, acho que, no máximo, ele tenta fugir. Os bichos não têm a capacidade de dissimular, isso é coisa de ser humano. Luíç Caixote

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‘Ah, mas dêxa que eu resolvo isso...’ Pois o homem bravo pulou o balcão com uma vassoura na mão, pisou fundo, chegou à mesa do animal. Lá berrou que toda a venda ouviu ‘Ô, seu incravado, quantas vezes vou ter que te falar pra não entrar mais na minha venda? Só fica aí procurando resto de cachaça no copo dos outros...’ Percebi que ele ia afugentar o animal e imaginei a confusão se formando: o bicho correndo debaixo das mesas, as pessoas gritando enquanto saíam do recinto, o homem desesperado, com a vassoura, batendo para todos os lados. Pensei logo na bagunça, porém o que vi foi diferente. No primeiro contato o dono da venda ficou de pé perto da mesa esbravejando, aos poucos foi abaixando o tom de voz, até parecer sussurrar com o animal. Não entendi o acontecido e nem acreditei no que passou; pareceu que o tatu conversou e convenceu o homem. Não esperei que retornasse, já no meio do caminho eu o interrompi: ‘Você não vai afugentar o animal?’ ‘Dessa vez não!’ ‘Uai! Por que não?’ ‘Hoje ele trouxe dinheiro pra pagar. Hoje é comemoração!’ ‘Se você não tem coragem, eu resolvo então’.

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Antes que o vendeiro voltasse conformado para trás do balcão eu tomei a vassoura de sua mão e — nem deixei que reagisse — segui direto para a mesa do animal. Fui com os olhos em brasa de tanta raiva, pisando duro e quase espumando. Cheguei. Parei. Levantei a vassoura sobre minha cabeça, preparei um golpe violento e certeiro. Um pouquinho antes deu descer o braço com força, fui interrompido. ‘Ei, cumpadre. Solta essa vassoura e vamos comemorar minha casa nova’. Senti um calafrio que correu até minha nuca. Pensando ter ouvido o animal falar comigo — jurei, nesse exato momento, largar a bebida. Desci a vassoura e a escorei na mesa, atônito sentei junto ao tatu. Descumpri minha jura e peguei de seu copo e bebi na esperança de que aquela miragem apagasse. Olhei de novo e lá estavam os olhos do animal voltados para mim. Passamos muito tempo nos olhando. Virei, virei e virei mais copos. Fiquei tontim... Nunca, em toda minha vida, encontrei um bom companheiro de bebedeira e de papo como aquele. Setando eu ouvi todas as histórias que contou. Cada coisa interessante que o bichinho viveu...”


— Qüaqüaqüaqüa... Anos depois e eu ainda cismo de contar essa velha história. Achei essa venda, ela é tão parecida com aquela outra. Entrei por isso! Contei tudo outra vez na esperança de reencontrar aquele animalzinho aqui. Nem pus o ponto final e já começaram a rir de mim... Já não apelo mais, pois isso é história muito fantasiosa, até mesmo eu acredito pouco nela. Penso que aquilo que presenciei foi puro efeito da cachaça lá de Curato de Macaúba... Quem mandou abrir a boca?! Agora tenho que agüentar calado enquanto sou humilhado pelas risadas do povo. Só me resta abaixar a cabeça. É isso que faço... Começo a me afogar na vergonha cortejado por uma enxurrada de gargalhas. De tão acanhado não percebo o dono da venda se aproximar, só noto quando ele aperta seus dedos no meu ombro, também com os olhos lacrimejando de tanto rir tenta me consolar como se fôssemos bons amigos: “num carece de ficar com vergonha não, pois esse Fura-bolo conta esse causo de casa nova há mais de 15 anos. É só aparecer um viajante que ele faz isso para ganhar cachaça... Rarara...” Termina com mais risada, ele me serve uma cachaça e volta para atrás do balcão. De tanta vergonha mergulho no fundo do copo à minha frente.

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Passos de Um Sonhador Juro que vi! Pode parecer delírio meu, pode parecer fantasia de minha cabeça. Não me importo. Mas tem um animalzinho que cismou de me perseguir pra todo lado que vou. Já esfreguei os olhos, já lavei o rosto, tomei café forte e nada o tira de minhas vistas... Tentei comentar com outras pessoas, até apontei para ele e mostrei, mas sempre me dizem a mesma coisa “não tem nada aí”... Mas eu juro que ainda vejo!

Técnica Fotografia, recorte em papel Dimensões Fura-bolo (9 x 5 cm ) Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave literatura, conto, ocupação do espaço, humor Proposta Implantar em lugares inusitados e/ ou engraçados um personagem de papel. Criar relações com o espaço ocupado elaborando contos e pequenas estórias. Exposição Exposição de Formandos 2011.1

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Passos de Um Sonhador

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Passos de Um Sonhador

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Grande Teatro da Vida Quase pisei no que me pareceu atores. Meus olhos devem ter me engado... Eram objetinhos de casa mesmo. Mas o estranho é que pareciam que estavam vivos... Não, não. Pior que isso! Achei que estavam atuando...

Técnica Fotografia, maquetes em papel Dimensões Cenários (15 x 20 cm) Folderes (21 x 29 cm) Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave teatro, ocupação do espaço, humor Proposta Simular apresentações de peças teatrais em locais públicos (praças, parques). Utilizar maquetes de papel para representarem a montagem dos espetáculos. Distribuição de folderes com a ficha técnica e sinopse de cada peça. Exposição Poligráfic0.5

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Grande Teatro da Vida

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Grande Teatro da Vida

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Janela de Possibilidades Vimos um mundo escondido na linha do horizonte. Nele uma cidade que contornava onde o sol se punha. Parecia longínqua e também pequena, mas aproximamos do peitoral da janela e vimos que ela era realmente miudinha. Estava ali à mão. Praticamente um recorte de papel fingindo ser real, aliás, fingindo não, ela era real pois o pôr-dosol que banhava os prédios, as casas, as pessoas era o mesmíssimo que banhava esse mini-mundo.

Técnica Fotografia, recortes em papel Dimensões Blocos vazados (20 x 20 cm) Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave intervenção urbana, ocupação do espaço, arquitetura Proposta Habitar uma parede de tijolos vazados construindo nela uma pequena cidade recortada em papel. Aproveitar a relação estabelecida entre essa pequena cidade e o recorte da linha do horizonte da cidade real ao fundo. Artistas Luíç Caixote e Camila Fernandes Eventos Vendendo o Peixe 2010

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Janela de Possibilidades

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Janela de Possibilidades

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Cada Coisa em seu Lugar Outra vez... agora além de ver objetinhos entre nós, eu também os ouvia. Eu podia ouvir uma mãe brava raiando com suas filhahas. Podia ouvir as lamentações de um cadeira que chorava pela filha aventureira... A cada estória eu me sentia menos são... Preciso de um médico.

Técnica Fotografia, recorte em papel, maquetes Dimensões Livro-obra (20 cm x 14 cm). Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave sonhos, realidade, fantasia, mobiliário, vida a seres inanimados Proposta Criar estórias narradas a partir do ponto de vista de seres inanimados (móbiliário) que se tornam vivos e de personalidades fortes. O texto se insere na imagem criando uma relação plástica e ainda preservando a legibilidade. Exposição Exposição de Formandos 2011.1

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Cada Coisa em seu lugar

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Cada Coisa em seu lugar

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Unet, Sueños, Sonhos, Dreams Parecia que eu acordava, mas a cada despertar eu caia em outro sonho. Não eram os meus sonhos, pareceria que eu estava na cabeça de outras pessoas. Eu podia ver seus sonhos e descobrir coisas sobre elas... Será que eles também podiam ver dentro de minha cabeça?

Técnica Fotografia, recorte em papel Dimensões Fotografias (tamanhos variados) Palavras-chave sonhos, realidade, íntimo, segredos Proposta Produzir imagens a partir de sonhos relatados pelos parceiros do projeto. Exposição Exposição de Formandos 2011.1

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Unet, Sueños, Sonhos, Dreams

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Unet, Sueños, Sonhos, Dreams

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Anexo I Exposições

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Anexo II Folder distribuído na Exposição po.li.gr.áf.ic.05 como parte integrante do trabalho Grande Teatro da Vida

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frente Mini-cartaz

verso Sinopse e Ficha Técnica

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verso Sinopse e Ficha Técnica


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verso Sinopse e Ficha Técnica

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