Juno

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juno

Julho 2014 // Numero 0

Ser mulher beleza de verdade sonhos possĂ­veis


abrace quem voce ĂŠ.



SUMÁRIO carta da editora pág. 5 expediente pág. 6 colaboradores pág. 7 cartas dos leitores pág. 9 10 músicas (pro girlpower de todo dia) pág. 11 10 livros (pra amar as personagens) pág. 41 10 filmes (pra ver com as amigas) pág. 61 coluna da vivi pág. 93 5 coisas que amo (e não são coisas) pág. 95 agradecimentos pág. 96

VIVER conversa de mesa de bar pág. 13 amigas de internet pág. 17 coluna da jana pág. 19 primeiras coisas primeiro pág. 20 que belezinha! pág. 21 o preço da beleza pág. 22 vida boa pág. 24 dia de feira pág. 26 seja sua própria heroína pág. 27 3

pág. 12

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ANA, AQUELA QUE FAZ

ALÔ, POSSIBILIDADES

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PENSAR

pág. 42

POR TRÁS DAs CULPAs pág. 46 MAD WOMEN & MEN pág. 51 AMORES, LUGARES E FOTOGRAFIA pág. 55 FEMINISMO GOES POP pág. 58 MULHERES QUE SE AMAM

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SONHAR

pág. 62

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SAUVAGE!

QUEM TEM MEDO DAS FEMINISTAS?

85 de bonitas

um dia na vida juno // julho de 2014

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CARTADAEDITORA

SOBRE ABRAÇOS

Q

uando imaginei essa revista pela primeira vez, ela não era assim. Não nasceu Juno, se tornou Juno! Botando a mão na massa e pensando em cada matéria que estaria aqui, fui me apaixonando cada vez mais pela ideia do projeto. E um pensamento sempre ecoava na minha cabeça: “o que eu quero que as pessoas sintam ao ler essas páginas?”. Vou contar uma história: fui uma adolescente como qualquer outra. Tinha muitas inseguranças, zero autoestima, nenhuma confiança no meu próprio taco. Eu até achava que tinha uma ou outra qualidade, que, poxa, me faziam especial. Mas o tempo todo eu queria ser outra pessoa. Uma atriz de algum filme, uma garota que chamava a atenção dos garotos da escola, uma amiga que conseguia circular em todos os grupos enquanto eu sofria de certo isolamento social... Passei anos querendo ser alguém que não era eu, evitando a minha própria pele e a minha personalidade. Quando eu cresci isso mudou? Naquelas, né. É uma luta. Quero me amar, do jeito que eu sou, como eu sou. E por que é tão dolorido? Eu não tenho uma resposta pra isso. Tenho várias. É difícil amar nossas diferenças quando o mundo só valoriza quem é igual. Estamos todos numa caixa de padrões. De beleza, de comportamento, de personalidade. Tem o jeito certo de expressar sua opinião – não pode pagar de chata, né? –, a maneira ideal de ser sensual – mas não vá ser vulgar, por favor –, e até um manual de como deixar seu cabelo cacheado domado – bora tirar a personalidade desses cachos aí, amiguinha. Eu me sinto sufocada. Você também? “Nós não queremos nos sentir somente aceitas, nós queremos nos sentir lindas”, falava uma das respostas à pesquisa feita pra acompanhar esse projeto. E não é isso? Ninguém é feliz com condescendência. Ser diferente não fica mais fácil quando se é apontado como tal. Ninguém se sente melhor comprando roupas que ficam na seção de tamanhos “especiais”, assim como não faz o menor sentido incluir “para mulheres” em algum produto xis que possa ser usado por qualquer identidade de gênero. “Como a mídia tradicional faz você se sentir?” era outra das perguntas da pesquisa. As respostas? Insegura, fora dos padrões, que eu vivo em um mundo machista, foram as mais votadas. As menos? Bem sucedida e bonita. Definitivamente não é isso que eu quero que as pessoas sintam ao ler a Juno. Eu quero que elas se sintam bem. Morena-tropicana (ou não), loira com luzes, sem luzes, natural, platinada, ruiva de verdade e de mentira, com aquele cabelo maravilhoso tóin-óin-óin, tamanho 52, 44, 36, pequeninha, muito alta, na média mas podia rolar uns centímetros a mais ou a menos, que gosta de futebol, que não suporta qualquer esporte, que não tem vontade de ser mãe, que não vê a hora de casar, que está na campanha “chega de fiu-fiu”, que tá solteira e ninguém vai segurar, que têm 17 anos e não sabe o que quer, que têm 25 e também não sabe o que quer, mas sabe sim que quer ser respeitada, que se apaixona todo dia pela mesma pessoa, que usa lingerie de algodão, que vai no

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juno Stephanie Noelle Idealizadora e editora Sex Shop, que é menina e gosta de outra menina, que é menina e gosta daquele outro menino, ou daqueles meninos, que vai na Marcha das Vadias, que não entende porque uma bolsa com preço de carro popular é “tem que ter”, que economiza pra fazer viagem, que paga o próprio aluguel naquela “suadeira”, que tá tentando não precisar mais da grana dos pais, que é negra com uma pele de dar inveja, branca e às vezes têm sardinhas, a avó é Índia e por isso esse cabelo brilha tanto, que tem o cabelo curtinho tipo a Mia Farrow, que tem o cabelo compridão, que curte se arrumar só de vez em quando, que não sai de casa de Havaianas porque não gosta de pé, que é feminista e fala mesmo, que tem olho de jabuticaba, olho da cor do céu, olho que parece mel? Chega mais. Abrace quem você é. Um beijo e espero que você goste muito. Eu amei!

Mayra Rodrigues Gomes orientadora Bárbara Carneiro Editora-Assistente Lucas Rodrigues Projeto Gráfico colaboradores Adelaide Ivanova Aline Jorge Aline Louise Ana Luiza McLaren Ana Paula de Souza Ana Pinho Andreia Tavares Bela Gil Bruna Tavares Carol Guido Carolina Vianna Christiane Silva Pinto David Bitencourt Fabiana Gomes Felipe Abe Heloísa Dela Rosa Jana Rosa Joanna Moura Juliana de Faria Karen Pompeo Kelsen Fernandes Larissa Felsen Luiza Brasil Marcos Costa Marina Botter Micheli Provensi Nuta Vasconcellos Rafael Ciscati Raoni Marqs Rebeca Brait Romeu Silveira Santa Modena Bordignon Tamara Gomes Tatiana Feltrin Vanessa Rossi Vanessa Rozan Vânia Goy Vic Hollo Vivi Whiteman Vivian de Souza eca -usp julho de 2014

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COLABORADORES

MICHELI PROVENSI // “5 COISAS QUE AMO (E NÃO SÃO COISAS)”

LARISSA FELSEN // “POSSIBILIDADES“ E “UM DIA NA VIDA“

LUCAS RODRIGUES // PROJETO GRÁFICO

FELIPE ABE// “DE BONITAS”

BÁRBARA CARNEIRO // UM POUCO DE TUDO (É SÉRIO!)

NUTA VASCONCELLOS // “SEJA SUA PRÓPRIA HEROÍNA”

ALINE JORGE // “POR TRÁS DAS CULPAS”

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JANA ROSA // “coluna da jana“

CAROL GUIDO // “POR TRÁS DAS CULPAS“

juliana de faria // “quem tem medo das feministas?“ VIVI WHITEMAN // “COLUNA DA VIVI“

ROMEUUU // “FEMINISMO GOES POP“

raoni marqs // “o preço da beleza“

VANESSA ROSSI // “UM DIA NA VIDA“ MARINA BOTTER // “DE BONITAS“

ANA PINHO // “O PREÇO DA BELEZA“ MARCOS COSTA // “DE BONITAS“ RAFAEL CISCATI // “FEMINISMO GOES POP“ juno // julho de 2014

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JUNTOS SOMOS FORTES

E

nquanto essa revista era feita, pedimos pra diversas pessoas responderem a um questionário sobre a mídia, a beleza e como somos representadas nos veículos tradicionais. Queríamos saber se a direção que seguíamos ia ao encontro do que muitas dessas pessoas sentem falta. Se o descontentamento com boa parte da mídia era só no círculo que frequentamos. Se as outras pessoas também queriam sentir

aquilo que desejamos sentir ao ler uma revista. Foram exatamente 1000 respostas e algumas delas estão aqui. Mas todas as mil responderam aos nossos questionamentos e seus depoimentos nos fizeram acreditar que o caminho é por aqui mesmo. Pra frente é que se anda, já dizia alguém que admiramos muito, e com companhia – você, que tá aí lendo – a jornada vai ser muito mais divertida.

A gente perguntou: Você se sente oprimida (o) pelos padrões de beleza?

resolver meus problemas comigo mesma. Após a recuperação, apesar de ficar superfeliz com o resultado, vi que continuava insatisfeita com o que via no espelho, que aquilo não tinha me libertado das minhas inseguranças, e chorei muito de frustração. Percebi que nada que eu fizesse nesse sentido iria me libertar, e que eu tinha que trabalhar essa segurança em mim mesma, sem me comparar com os outros ou achar que “ser bonita” resolveria todos os problemas da minha vida.

Você respondeu: Sinto que não sou tão livre quanto eu gostaria de ser. Não me encaixo exatamente no padrão de beleza, mas, ao mesmo tempo, sinto que existem certos “limites” quanto à aparência. Por mais que já existam muitas campanhas sobre aceitar as diferenças e os vários tipos de corpo, ainda falta conscientização sobre belezas que fogem do padrão. Afinal, nós não queremos nos sentir somente aceitas, nós queremos nos sentir lindas, mesmo estando com uns quilos a mais na balança e uns quilos a menos de maquiagem no rosto. Quando entrei em uma universidade pública, ganhei dos meus pais, após muito pedido e insistência, uma rinoplastia. Achei que aquilo iria mudar a minha vida e

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Tem dias em que eu me olho no espelho e realmente me acho bonita sabe? Mas aí eu saio na rua, vejo algo na internet ou na TV e penso “eu realmente devia estar louca por achar que me considerariam bonita”. Aceitar o cabelo como ele era foi o primeiro passo para minha autoaceitação. Aprendi que todos nós somos diferentes e são nossas

DADOS DA PESQUISA:

76% 67%

das pessoas se acham bonitas

se sentem mais bonitas quando estão bem consigo mesmas, independente de maquiagem na nossa pesquisa, pra ser bonito, de acordo com o padrão, precisa ser:

89% magra 79% cabelo liso 73% alta 85% maquiada 89% depilada 61% branca 68% corpo com curvas 64% olhos claros juno // julho de 2014


singularidades que constroem nossa beleza. Descobri que não tem graça ter a mesma cara que todo mundo, e que é muito incrível ser único. A gente perguntou: O que é beleza pra você?

Algo que brilhe o olho, independentemente de estar encaixado em padrões.

Você respondeu: É paz, cabelo solto, pés descalços, cara inchada quando se acaba de acordar, é brincar de balanço, rir até fazer ruguinhas, nadar, dormir na rede.

A gente perguntou: O que faz você se identificar com uma revista?

Beleza é ser feliz, se amar além dos padrões impostos. Quando eu perguntava para minha mãe se estava bonita com alguma roupa ela sempre me perguntava “você está se achando bonita?”. Se a resposta era positiva, para ela era isso que importava. Aprendi muito com ela. Sempre pude ser eu mesma.

Me identifico quando ela não se coloca num patamar acima da gente, escreve como se estivesse contando pra amiga.

É o resultado do que você é por dentro e transborda pra fora. Beleza é autoestima, é se arrumar de acordo com o que faz você se sentir bem. Mas não é só isso. Queria ter meu cabelo “diferente”

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{

Coisas do meu mundo. Revistas usam tanto Photoshop e tanta coisa podre que até as próprias modelos olham e pensam: gostaria de ser aquela moça na capa. Acho tudo tão autoritário, tudo tem que ser seguido, a linguagem, tudo tão taxativo, não só com beleza, mas também com assuntos como sexo, trabalho, bem estar, enfim.

Você respondeu:

Beleza é amar a si mesma. É ir além do que se vê em um espelho ou em uma fotografia. É cuidar da saúde e da mente e, principalmente, ser leve e feliz. Não há maquiagem, dieta e corte de cabelo que disfarce tristeza. É clichê e brega dizer isso, mas é a verdade. Beleza é mais simples do que se imagina, o mundo é que complica...

a mídia tradicional faz as pessoas se sentirem...

Quando a revista não tenta impor regras pra você, pelo contrário, dá dicas. A revista precisa ter mente aberta e abraçar todos os tipos de pessoas lindas que existem, pelo menos no local onde é distribuída. Eu preciso me sentir inspirada lendo, e não insegura por não seguir o padrão que é ditado pela mídia.

e ser reconhecida como bonita, porque sei (no fundo) que sou, e não como alguém que se aceitou e luta contra o preconceito, mas que é louca por fazer isso. Isso é um puta saco.

A qualidade e aprofundamento do texto. A curadoria de conteúdo é muito importante e hoje só tenho vontade de ler revistas que saem do rasinho do conteúdo da internet e escrevem sem medo de ser feliz. O que faz com que eu me identifique com uma revista é seu discurso. E hoje, nenhuma revista consegue representar a amplitude do universo feminino. Não somos só mães, profissionais, leoas na cama, independentes e ricas. Somos tudo isso e mais um pouco... Talvez por isso as revistas têm perdido espaço para os blogs, que por mais que muitas vezes sejam mal escritos ou estranhos, conseguem ser mais plurais do que a revista que reduz tudo ao sexo, tudo a dietas, tudo aos filhos e tudo a independência da mulher.

Inseguras Fora dos padrões Que vivem num mundo machista

Matérias que não tratem a leitora como burra e que não sejam colocadas como se todo mundo fosse magro, passasse as férias na Riviera francesa, estivesse com uma bolsa de R$ 14.000 e trocasse todo o guarda roupa a cada nova estação. Quando a revista demonstra ter um viés feminista, principalmente nas colunas sobre beleza e sexo, não aparecendo coisas como “dicas de como conquistar aquele gato”, “do que os homens gostam”, “o que os homens acham das roupas das mulheres”, etc, como se o mundo fosse completamente heterossexual e machista. Gosto quando ela mostra pessoas livres, fortes e independentes e que não devem se submeter a vontades alheias por qualquer motivo que seja.

quando elas leem essas revistas, elas NÃO se sentem:

{

Bem-sucedidas Bonitas Inteligentes

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VIVER

INSPIRAÇÃO

Ana, a carioca do Enjoei que faz mais do que sonha pág. 31

vida real

Cinco looks, uma peça e três mulheres que mostram como faz pág. 34 juno // julho de 2014

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CONVERSA DE

MESA

Tá, não foi no bar. Mas tinha bebida, duas amigas de longa data e conversas sobre a vida, o universo e tudo mais. Um brinde! por stephanie noelle

S

e você gosta muito de maquiagem, sabe quem elas são. Mas se você não sabe, deixa que a gente faz as honras: uma é maquiadora sênior da M.A.C., a outra é maquiadora oficial da Maybelline, e também é sócia do Liceu de Maquiagem! As duas são amigas de longa data, profissionais sensacionais e com uma bagagem de vida e cultura que vai muito além das maletas de maquiagem que carregam pra lá e pra cá. A gente fez um convite inédito: topam entrevistar uma a outra, sobre o que quiserem? Elas disseram sim. Com vocês, Fabiana Gomes e Vanessa Rozan. Vanessa Pra você, qual a pior parte de ser maquiadora? Fabi A gente já convive com maquiagem há muito tempo, a minha casa é a Neverland de qualquer menina, recebo os lançamentos da M.A.C. em sacolas. E mesmo antes de ser assim... É difícil eu me emocionar muito com alguns produtos, ou

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ter essas reações malucas que às vezes eu tenho que conviver, tipo “Aaaahhhh essa sombra, meu deus, esse produto, vou morrer!” e aí eu fico “O que eu tenho que fazer agora? Pego os pompoms na bolsa, grito junto?”, porque é difícil eu me emocionar com produto, e acho que o mais difícil é conviver com essas reações, completamente diferentes das minhas. V. Quando a vida de um maquiador se resume naquilo que o produto é, e mais nada. F. O que você acha dessa história que a gente responde diariamente, sobre a maquiagem certa pra diferentes tons de pele? V. Eu nunca respondo! F. Ah, eu odeio, cara! V. Hoje em dia eu me dou ao luxo de falar: esse tipo de matéria eu não respondo. F. É uma crença sua mesmo? V. Eu acho que tem cores que ficam melhores, mas isso não quer dizer que você não pode usar as outras. Fico ótima de azul marinho, não quer dizer que não posso usar o vermelho! Vou aproveitar agora que tá gravando: o problema é que as juno // julho de 2014


DE BAR pessoas querem as coisas muito mastigadas! F. É, não querem ter que lidar com o subjetivo! V. É muito individual! Falar “sombra azul fica ótima em ruivas”, e aí a pessoa que não gosta de sombra azul? Faz o quê? V. O que você acha que a maquiagem não conserta?

F. Coisas que estão muito arraigadas. Tem pessoas que já foram tão maltratadas na vida... Conheço gente que a avó sempre falou “você é gorda”, “tá feia”, “precisa operar esse nariz”. A maquiagem não conserta isso. Não tô falando que é o certo. Não acho legal uma pessoa sair por aí com nariz cheio de contorno pra ficar de acordo com um padrão. Mas essas coisas, essas feridas, essa violência da vida inteira de “isso é errado”, isso a maquiagem não conserta. Esses padrões de beleza nojentos que a mídia impõe. Sempre foram impostos, mas agora quem impõe é a mídia. V. Teve algum momento que você não quis mais ser cacheada, quis ser lisa pra sempre? F. Isso é um vai e vem, sempre. Mas acho que tem a ver com a maturidade. Liso é muito mais bem aceito socialmente, tem uma imagem mais polida. O cabelo cacheado tem personalidade própria, né? Tem dia que tá lindo-maravilhoso e tem dia que Jesus Cristo! Mas eu quero não ligar pra isso. É tão sem emoção o cabelo liso, né? É tão chato... E todo mundo tem cabelo liso. E no Brasil, ainda! V. Existe uma cultura de cabelo liso, né? F. É ridículo, porque a gente

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tem a maior profusão de tipos de cabelo. Minha vez agora? V. Duas páginas de perguntas? F. Ah, é que tinha bastante coisa... Pergunta cretina, mas preciso perguntar: se você tivesse que falar sobre a próxima tendência, considerando que a gente acha essa palavra uma droga, inventa outra palavra aí, o que vai estar usando? V. Instinto, assim? O que eu acho que vai ser? F. Claro! Ou se você tivesse o poder de guiar o rumo disso, qual seria? Já mudei a pergunta! V. Posso estar enganada, mas acho que hoje é mais sobre o produto e menos sobre a tendência. O avanço tecnológico, da indústria. Mas posso pagar minha língua! Da última vez que me perguntaram, eu falei “Anos 90, contorno de boca!”. F. Amo isso, sabe? Não vejo a hora de me deixarem fazer isso num editorial. F. O que você considera uma mulher chique e o que você considera uma mulher cafona? V. Ave Maria! Vou falar uma coisa bem óbvia. Cafona é quando parece que teve um esforço, “nossa, coloquei tudo, a onça, com o dourado, com o peep toe, com o Louboutin...”, teve um esforço pra passar a mensagem:

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“Eu quero que as pessoas saibam que tenho acesso, dinheiro, informação, hype”. Chique é quando parece que isso vem de dentro, nasci com isso. Por mais que a pessoa não tenha nascido com aquilo. E não tem certo e errado. Às vezes você vê uma coisa muito errada que funciona, que fica incrível. Chique é quando o esforço tá ali, mas parece que não tá. F. Não importa que você tenha trocado de roupa quinze vezes até chegar onde você queria... V. Não! Uma vez a Ana Mendes, uma das primeiras MRO (Manager of Retail Operations) da M.A.C. aqui, falou “É fácil ter olho bom pra comprar na Barneys, na Selfridges... Quero ver ter olho bom não tendo um tostão no bolso!”. Não é questão de dinheiro. V. Você acha que o cliente tem sempre razão? F. Não! (risos). Mas eu finjo que sim. V. Foi tão rápida que eu vou fazer outra: fala um livro que você gostaria de ler, mas sabe que nunca vai ler. F. Ai, qualquer um do James Joyce! Já tentei várias vezes! V. Pra mim é Faulkner! As palmeiras sei que nunca vou ler... F. Convivi com intelectuais a minha vida inteira, e acho que meu sonho frustrado é não ser uma, e acabei fazendo coisas que, se eu fosse perguntar pra eles – nunca perguntei – talvez eles reprovassem. V. Eu comprei três livros do Faulkner e falei “vou ler!”... F. Mas sabe o que eu acho, Van? Tenho uma teoria. A biblioteca, pra mim, é uma das partes mais importantes da casa, e que poucas pessoas dão essa importância aqui. Ninguém tem biblio-

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teca em casa, só os ricos, que também não leem, é decorativa, na real. Eu gosto de comprar livro e aprendi, depois de um tempo, que não tenho obrigação de ler aquele livro naquele momento da minha vida. Mas que ele tá ali pra mim, pros meus filhos, é uma herança. Eu sou um pouco materialista com livros. Eu não só guardo livros comigo, como roubo de outras pessoas – então se liga aí – que eu empresto e não devolvo. V. Eu tô com um CD seu do David Bowie que nunca vou te devolver! F. Ah sua...! É antigo? Me devolve aquele porque foi presente! Como você pegou? V. Você me emprestou, tá tipo há dez anos comigo! F. Não, Van, por favor, me devolve! Ainda bem que não procurei. V. Esperei esse momento pra te contar. Sua vez agora. F. Falando de livros, qual foi o que mais te emocionou na vida? V. Discurso... da Escravidão...? F. Não, se ele tivesse te emocionado mesmo você não tava procurando aí no Google! V. Que me emocionou mesmo? F. Isso, de verdade! V. Trópico de Câncer. F. Por quê? Você achou ele sujo? V. Achei sujo! Falei “Henry Miller, Nossa Senhora!” F. Você queria ter dado pra ele? V. Provavelmente sim! F. Eu queria ter dado pra ele e pra aquele outro... como é o nome dele? Bigodudo! Ai minha memória... Hemingway! O Hemingway! V. Lembrando que ele se matou com um tiro na cabeça. F. Eu sei! V. Devia ser bem conturbado. Por que a gente sempre quer

dar pra esses caras conturbados? Por que nunca pode ser um cara normal? F. Empresário. V. Gerente de banco. Tá, vamos continuar falando de livro: Um livro transformador? F. Transformador? Ai, mas é muito difícil estabelecer isso... Que talvez tenha me feito parar mais pra pensar? V. Pode ser! F. Quando eu li Dostoiévski – e comecei por Crime e Castigo – era estudante, já morava aqui em São Paulo, e tava no busão quando ele matou aquela velhinha. E perdi o ponto, onde tinha que descer, porque eu tava tão dentro daquele livro, daquela história, que nada mais importava pra mim naquele momento, só queria saber onde aquela maluquice ia parar. E é bizarro porque é a história daquele anti-herói... não tem muito a ver, mas é tipo ver Breaking Bad hoje, que é o anti-herói, você se identifica com ele, fica juno // julho de 2014


nha filha não. Você sabe disso, você é mãe!

Elas entrevistaram uma a outra, e também se fotografaram. Aqui, Fabi e Vanessa meio afim dele, meio torce por ele, só que ele não tá fazendo coisas necessariamente legais, mas foda-se e aí você começa a se questionar “mas então eu não sou uma boa pessoa?”, e não é sobre isso. Não é uma questão maniqueísta, é uma outra questão. F. O que é culpa pra você? O que te faz se sentir culpada e como você lida com isso? V. Eu sou a pessoa que mais carrega culpa na vida. Minha mãe é pisciana, o signo mais culpado do zodíaco, e me ensinou o que era culpa desde pequenininha. Tive uma educação católica, que depois do judeu ortodoxo, é a religião que você se sente mais culpada, acho. Meu pai é desses que acredita que se você tá sorrindo muito hoje, amanhã você vai ser punido. Eu sou canceriana, que é o signo da culpa também. Ou seja, eu carrego uma mochila de culpa. Se tô aqui, é porque não tô com a minha filha, se tô com ela, não juno // julho de 2014

tô aproveitando a vida, porque sou jovem e depois eu vou ser velha, se tô trabalhando, tô trabalhando demais, se não tô, deveria estar. Sou a maior culpada do universo. Se quiser falar de culpa, posso abrir aqui a minha mochila cheia dela. É a coisa mais presente na minha vida. V. O que você quer pra você daqui cinco anos? F. Não vou ser babaca de falar que não tenho sonhos materiais, mas se eu me esforçar, posso realizar. Eu queria estar em paz, estar feliz, tranquila. Só isso. V. Uma casa de campo, meio Elis Regina? F. Isso! F. Qual teu maior medo? V. Difícil falar isso pra uma mãe, né? Que aconteça algo com a minha filha. Porque todo o resto eu posso lidar. Se eu perder o emprego, amanhã posso cortar cabelo na Sé, posso lavar banheiro, eu vou sobreviver, entendeu? Agora com a mi-

V. Uma viagem que você quer fazer antes de morrer? F. Qualquer uma! Eu viajo tanto, cara. O tempo todo. Mas nessas férias eu e minha família decidimos que a gente ia pro interior de São Paulo, explorar. Fui parar num lugar chamado Casa Branca e adorei! Qualquer lugarzinho que eu desembarque, gosto de viver a vida daquelas pessoas por um tempo. Pirar ali um tempo. V. E você sente culpa de não estar com seus filhos quando viaja? F. Sinto, igual a você. Mas minha relação com a culpa é outra. Eu sofro antes, choro, fico com o olho inchado, não quero ir. Mas lá, quando estou lá, eu não sofro. Eu vivo a vida lá, naquele momento. V. A última! Que tipo de efeito, sensação, você acha que causa entre os homens? F. Acho que de curiosidade. A curiosidade vem atrelada a tudo que a curiosidade envolve. Querem saber mais de você. Por que olhos tão grandes? Por que essa boca tão grande? Tipo Lobo Mau, sabe? Ah, você vai responder essa também, queridinha! V. Ai meu deus... Vou falar outra coisa, que não tem nada a ver, mas acho que responde. Acho que eu passo uma imagem de ser o que eu não sou. Eu sou uma canceriana, pacata, gosto de ver filme junto, abraçadinho, sabe, uma coisa bem tranquila? Lingerie de algodão? Calcinha grande? Acho que não passo essa imagem, sabe. Acho que passo uma imagem totalmente diferente.

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AMIGAS DE INTERNET Quer um passatempo na internet que não seja Candy Crush? Perca uns minutos do seu dia descobrindo canais no youtube de meninas & meninos como eu, como você por STEPHANIE NOELLE

S

abe aquela amiga que pensa como você, gosta dos mesmos livros que você – e tem boas indicações dessa e de outras searas –, se maquia de um jeito descomplicado e é bem humorada? Então, ela está no YouTube. O site deixou de ser só uma biblioteca de videoclipes e esquetes engraçadinhas e se tornou a televisão de toda uma (nova?) geração. Com uma vantagem: nós nos sentimos muito próximas de quem está do outro lado. Há inúmeros exemplos de meninas e meninos que um belo dia ligaram a câmera e começaram a falar sobre o que tinham vontade. Algum tempo depois (não muito, vale frisar) se tornaram celebridades virtuais. A graça está aí: mesmo alçados ao status de estrela (alguns têm mais de seis milhões de inscritos), eles continuam iguais a nós, vivendo uma vida ordinária, com idas ao supermercado, sorvete na praia e compras em lojas de fast fashion. A diferença é que eles gravam tudo isso. Os youtubers, como são chamados, crescem em números de assinantes e a cada dia compartilham um pouco mais das suas

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vidas com seus viewers, o termo pra quem assiste a seus vídeos. A gente falou com três youtubers aqui do Brasil pra saber porque é tão legal fazer vídeos – e quais eles mais gostam de acompanhar.

Beca Brait youtube.com/user/becabrait O canal existe há... 5 anos! Os seus temas são do... Universo feminino em geral com foco em maquiagem e beleza; Os youtubers fazem sucesso porque... O leitor se identifica muito mais com uma pessoa próxima da realidade dele do

Tati Feltrin (do Tiny Little Things)

youtube.com/user/tatianagfeltrin Tem canal desde... 2007, mas deletei todos os vídeos, e comecei tudo de novo em 2009; juno // julho de 2014


Bruna Tavares (do Pausa para Feminices)

youtube.com/user/pausaparafeminices Você está no YouTube há... 5 meses; Nos seus vídeos você faz... Tutoriais de maquiagem e truques tipo como aplicar cílios postiços, delinear, etc;

que com uma celebridade inatingível. Acredito que justamente por essa proximidade, os vídeos vêm ganhando tanto espaço;

Seus vídeos fazem diferença pra quem assiste? Meus vídeos vão direto ao ponto, as pessoas conseguem ver exatamente o que estou fazendo, e acabo recebendo muitos comentários de pessoas que antes não tinham

paciência pra assistir vídeos e assistem aos meus; A gente deveria assinar seu canal pra... ver maquiagens variadas de um jeito fácil de fazer. Sou alguém normal que aprendeu a maquiar sozinha e está tentando ajudar quem está no mesmo caminho; E as duas youtubers a que você mais assiste? NikkieTutorials: youtube.com/ user/NikkieTutorials Batalash Beauty: youtube.com/ user/BatALashBeauty

A gente deveria conhecer seu canal porque... Os meus vídeos possuem muita sinceridade. Se gosto, gosto. Se não gosto, não gosto. E acredito que é isso que os leitores procuram em uma blogueira, né? E suas preferidas? Bethany Mota: youtube.com/ user/Macbarbie07 Miss Glamorazzi: youtube. com/user/missglamorazzi

Você fala de... O meu canal é literário – posto impressões de leituras (não consigo chamar de “resenhas”- não sou tão “técnica” assim nas minhas falas), vídeos levantando discussões sobre assuntos do mundo da literatura e vlogosfera literária, e, quando sobra tempo, faço vídeos de dicas de músicas; Por que fazer vídeos? A troca de ideias continua sendo o principal motivo – e entrar em contato com gostos diferentes (e buscar leituras que normalmente não faria). Mas hoje em dia tenho certa responsabilidajuno // julho de 2014

de de incentivar a leitura, de instigar pessoas a lerem autores e livros diferentes, e, de certa forma, de cobrarem qualidade do mercado editorial brasileiro; O motivo do sucesso... Ainda fico espantada com o número de seguidores e não sei por que tem crescido tanto, mas vou chutar: talvez porque eu fale de forma despretensiosa, como se estivesse no sofá da sala com amigos... Não tenho roteiro, não tenho uma megaedição (ainda uso o Movie Maker), comprei uma câmera melhor há pouco, enfim, simplicidade

oposta a complicação; O que faz você assinar um canal? O gosto literário nem é o principal motivo. É mais o “como” ela fala sobre o livro. Quanto mais paixão a pessoa demonstrar pelo que indica, mais tenho vontade de continuar vendo os vídeos; E seus canais preferidos? Ron Lit: youtube.com/user/ bookjunkielit The Readables: youtube.com/ user/thereadables

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Colunadajana

O MEU NÉCESSAIRE

S

hampoo pra cabelos secos, danificados, raiz oleosa e pontas secas, couro cabeludo sensível. Shampoo seco que saiu na revista dizendo que é top, shampoo seco pra levar na bolsa, shampoo seco com cheiro de algodão, de amora, de macaxeira, sem cheiro. Máscara pra espinha, máscara pra fechar poros, máscara pra dar uma descansada depois daquele dia difícil. Espuma de

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rosto de deixar a pele viçosa, sabonete de rosto comprado em Nova York, sabonete de rosto pra peles intolerantes, sabonete de rosto comprado na farmácia perto de casa dividido em 3 vezes no cartão. Hidratante corporal caríssimo, hidratante Nivea da latinha porque é fofo, hidratante que foi presente da tia no Natal, hidratante comprado em uma viagem porque esqueceu de levar. Manteiga exótica de marca americana que uma garota disse no Twitter que a Gisele Bündchen usa, óleo corporal da marca da manteiga exótica que mela a mão e mancha o travesseiro. Pincel de esfumar, de blush, de pó, de sombra, de delineador, de corretivo, de base, de sobrancelha, de outra cor de sombra. Batom vermelho, vermelho aberto, vermelho fechado, vermelho alaranjado, vermelho que vai pegar na próxima temporada segundo um site, Snob pela lembrança, rosa 80, roxo, azul, preto porque vai que precisa algum dia, cor de

boca, cor de boca de outra marca, cor de boca da Chanel. 7 bases, 5 corretivos, 150 sombras da MAC, rímel que vibra, rímel sem vibrar, rímel que dá volume, rímel que alonga, rímel colorido caso precise no Carnaval. 15 blushs, 10 iluminadores, 4 canetas delineadoras, 2 delineadores em gel. Demaquilante cremoso, demaquilante bifásico, demaquilante Bioderma porque as blogueiras dizem que ele é tudo, demaquilante em lenços pra preguiça. Um dia olhei pras prateleiras brancas e divisórias de resina compradas só pra estocar os produtos de beleza riquíssimos, que faziam eu me sentir tão especial, e percebi que o que eu realmente precisava cabia em apenas um nécessaire. 1 base, 1 corretivo, 1 blush, talvez 2, porque um é daqueles pra afinar o rosto, 1 sombra marrom, 1 pincel de sombra, 1 delineador canetinha fácil de usar, lápis de olho, lápis 6B pra sobrancelha, 1 curvex e 1 máscara de cílios. Batom? Sempre usei o Ruby Woo, porque eu comprei esses outros 65? Shampoo e condicionador, só um óleozinho pra passar depois de secar. Protetor solar, sabonete de lavar o rosto, demaquilante de embalagem pequenininha, hidratante classicão. Botei abaixo e distribui produtos de beleza pra tanta gente que garanti meu lugar no céu, onde pretendo chegar um dia belíssima com esse mesmo mini nécessaire na bagagem de mão. juno // julho de 2014


PRIMEIRAS COISAS PRIMEIRO POR stephanie noelle

Q

ual base vai cobrir minhas espinhas?”, “Esse pó vai deixar meu rosto sequinho?”, “Cadê um corretivo pra esconder essas olheiras?”: reconheceu? Pois é, odo mundo gostaria de

disfarçar algo com maquiagem. Mas não é bem esse o caminho. Tudo começa com a pele. A maquiagem é só a parte mais divertida e que realça suas qualidades. Pra saber por onde começar, vem com a gente:

2. 3. 1. 7. 4. 6. 5. 8.

PRIMEIROS PASSOS

TIRE A MAQUIAGEM Use um demaquilante que não agrida seu rosto e que você não precise passar o algodão várias vezes – o que pode irritar a pele. O bifásico é ótimo pra produtos pesados, tipo máscara de cílios, e os lencinhos são para os momentos de preguiça

USE UM SÉRUM - se você quiser Sérum é o nome da consistência do produto, bem levinho, quase água. Há sérum pra tudo e ele vem primeiro, pra pele conseguir absorver

LIMPE SEU ROSTO São vários os produtos pra limpeza – leite, gel, espuma, óleo, etc – então escolha aquele que funciona melhor pra você, e use duas vezes ao dia. Também tenha um esfoliante pra usar no máximo três vezes na semana, e voilà!

CUIDE MAIS UM POUQUINHO

Hora daqueles produtos que deixam sua pele mais bela, mais jovem, mais hidratada, mais firme... Ih, opções infinitas. Um jeito menos complicado de montar sua rotina é primeiro usar os produtos mais leves e deixar os de consistências mais grossas pro final.

A VEZ DOS OLHOS Pode usar só um hidratante pra área dos olhos –a pele é bem mais sensível e fina –, um antirrugas ou algo pra olheiras. Vá de acordo com o que precisa. Só não deixe de hidratar essa área

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TONIFIQUE - se estiver com tempo Tonificar é legal, mas pode pular na pressa. Ele regula o pH da pele e retira resquícios das etapas anteriores. Se sua pele for mista ou oleosa, troque por um adstringente

AQUI VÃO OS EXTRAS Se você tem um antiidade, um produto pra realçar a luminosidade do rosto, algo com efeito firmador... Enfim, um potinho que promete algo, a hora é agora. No inverno, experimente acrescentar um óleo facial, à noite. Busque ingredientes que tragam benefício pro seu tipo de pele, e sim, pele oleosa também pode usar – e se beneficiar

HIDRATE SEMPRE Não importa se sua pele é oleosa, mista ou seca. Hidratante é algo que você tem que aceitar na sua vida. Pesquise, fale com todas as pessoas que você conhece, até chegar a um que funcione pra você. “Ah, mas minha pele é oleosa...”. Juro, também precisa usar. E vai mudar sua vida

ME PROTEGE Por último sempre vai ser o protetor solar. Precisa mesmo falar que é indispensável?

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QUE BELEZINHA!

P

POR stephanie noelle foto bárbara carneiro

rodutos pra cuidar do rosto e do corpo que fazem bem pra gente e não fazem mal pros animais. E tem mais: alguns são orgânicos, outros são vegans, e outros são 100% naturais.

7.

5. 6.

4. 8. 13. 11.

9. 12.

3. 2.

1.

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10. 1. MD Multi-Definition Fluido Hidratante Facial CONTÉM1G 2. Clarimatte Invisible Pores Detox Mask REN 3. Coconut Body Scrub THE BODY SHOP 4. Creme Microesfoliante Purificante NATURA 5. Óleo Suavizante Corporal Castanha do Brasil GRANADO 6. Purity Made Simple Mineral Oil-Free Facial Cleansing Oil PHILOSOPHY 7. Eau de Beauté CAUDALIE

8. Deep Brightening Serum TATCHA 9. Cleanser Angels on Bare Skin LUSH 10. Hidratante Labial Rejuvenating BURT’S BEE 11. Silky Masque Beauté des Paresseuses Hydratant Visage HERBORIST 12 .Sabonete Líquido Demaquilante QUEM DISSE, BERENICE? 13. Máscara de Argila Branca da Amazônia IKOVE

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O PREÇO DA BELEZA A União Europeia proibiu de vez testes de cosméticos em animais. Hora de a indústria retomar sua mais polêmica discussão POR ANA PINHO ARTE RAONI MARQS

E

stá tudo quantificado. Pra cada novo ingrediente ou produto cosmético, são necessários em média 32 porquinhos da

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índia pra testar a sensibilidade da pele. De 1 a 3 coelhos pra irritação nos olhos. Cerca de 400 ratos pra saber se há efeitos a longo prazo, e entre 4 e 12 pra medir a absorção da substância no metabolismo. Esses são apenas alguns dos exames feitos antes que muitos sabonetes, shampoos, esmaltes e batons apareçam na farmácia. A Food and Drug Administration (a Anvisa dos EUA) define um cosmético como “artigo aplicável no corpo humano para limpeza, embelezamento, promoção de atrativos ou alteração de aparência sem afetar as funções ou estruturas corporais”. Testá-los em animais para garantir a segurança dos consu-

midores tornou-se necessário nos anos 1930, após a máscara de cílios Lash Lure se transformar em um pesadelo que causou cegueiras e uma morte. O contraponto definitivo veio em março de 2013, quando a União Europeia proibiu de vez o comércio de cosméticos (importados ou não) testados em bichos, assim como o fim da prática em seu território. “Esperamos que a Europa dê o exemplo quando se trata de inovação cosmética e bem-estar animal”, disse Tonio Borg, Comissário de Políticas do Consumidor da União Europeia. É um contraste com a China, onde tais testes são não apenas tolerados como exigidos – e estima-se que 300 mil animais sejam usados por ano. Em resposta à pressão de ativistas, o governo chinês declarou que as empresas poderão escolher testar seus “cosméticos não-específicos” de outros jeitos a partir de junho de 2014. Entre os métodos alternativos

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mais populares estão os modelos de pele humana e sintética. Graças à proibição da UE, outros estão por vir. O NOTOX, um projeto de pesquisa com apoio da indústria europeia, está criando modelos biocomputacionais pra prever como o organismo humano reage aos químicos, e culturas de células hepáticas in vitro pra testar toxicidade. A decisão chinesa também trouxe alegria pra quem não tinha permissão pra aportar no lucrativo mercado. São marcas como The Body Shop, Urban Decay e Burt’s Bees, todas premiadas com o selo cruelty free da Leaping Bunny, que garante que não há testes de produtos finais, fórmulas ou ingredientes em cobaias. LUSH e Clinique devem ser inclusas logo mais. Gigantes como Nivea, M.A.C. e L’Oréal, porém, ainda não estão entre as certificadas. NO BRASIL // A ONG BUAV estima que entre 82 e 154 milhões de vertebrados sejam usados anualmente em testes mundo afora, incluindo em experimentos científicos – e o Brasil está no top 10 de países usuários. O uso de cobaias está previsto na lei 11.794, de 2008. Ela prevê a “morte por meios humanitários [...] que envolva um mínimo de sacrifício físico ou mental” e cria o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, que é responsável, entre outras coisas, por avaliar métodos que possam substituir tais testes. Mesmo assim, o Brasil se tornou alvo da Humane Society Internacional, que encomendou uma pesquisa do IBOPE sobre o tema: pra 66% dos brasileiros, testar cosméticos em animais deveria ser proibido.

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Uma mudança de hábito no 3º maior mercado mundial de cosméticos – a indústria faturou R$ 38 bilhões em 2013 – teria um grande impacto. E, como mostra a gigante Natura, é possível. “Foi uma escolha de negócio por condizer com os princípios e valores da empresa”, diz a gerente de ciência Vanessa Rocha. O processo de erradicação levou três anos e foi concluído em 2006, com a abertura de um laboratório avançado de estudos in vitro. Pra ajudar no desenvolvimento de modelos 3D em pele e córnea, a empresa firmou parcerias internacionais.

Quando não há informações toxicológicas cruelty free suficientes, no entanto, novas matérias-primas precisam ser descartadas. “Ainda existe um longo caminho de pesquisa cientifica pra que haja, neste segmento, a substituição total de todos os modelos animais”, explica Vanessa. Em janeiro, São Paulo se antecipou e proibiu testes cosméticos em animais em todo o estado. A multa para as empresas paulistas que infringirem a nova lei (são cerca de 700) é de cerca de R$ 1 milhão por animal. Resta saber se vai pegar.

Pra 66% dos brasileiros, testar cosméticos em animais deveria ser proibido CRUELTY FREE BRAZUCA No país, a lista mais abrangente de marcas que não testam seus produtos em animais é feita pelo Projeto Esperança Animal (PEA) e está disponível online. Pra ser aprovada, a marca precisa encaminhar um documento assinado por um representante legal em que garante não utilizar cobaias. Abaixo, algumas das marcas que firmaram o compromisso com a organização: Água de Cheiro

Leite de Rosas

Anna Pegova

O Boticário

Bioderm

Quem Disse, Berenice?

Contém1g

Vult

Granado

Weleda do Brasil juno // julho de 2014


VIDA BOA Ao invés de pensar em diminuir o número do seu manequim, pense no que você coloca pra dentro do seu corpo. É exatamente essa a visão de saúde de Bela Gil por stephanie Noelle foto Daryan Dornelle

O

nome é Bela, o sobrenome, Gil. Sim, ela é filha de Gilberto e irmã de Preta. É também chef e nutricionista, e tem um programa no canal GNT, o Bela Cozinha. Depois de morar sete anos em Nova York e cuidar da alimentação de muita modelo natureba por lá, voltou pra terra natal e tem causado rebuliço com suas declarações nada ortodoxas sobre comida e, principalmente, dietas. Por quê? Oras, porque Bela, ao contrário da febre do momento, não tá muito preocupada com peso e calorias. “As pessoas vinculam muito saúde com magreza, e fazem de tudo pra ficarem mais magras”, falou. “Número na balança não

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mede saúde”. E o que mede? “Pra mim, vida saudável é viver o mais natural possível, aceitando seu corpo como ele é, não necessariamente atrelado a suplementos alimentares ou produtos lights ou diets”, explica. Tais produtos, inclusive, enganam quem busca opções menos nocivas nas gôndolas do supermercado, já que alguns deles foram criados como alternativas pra pessoas com patologias, tipo diabetes, e funcionavam como medicamento, não como algo do dia a dia, que pudessem fazer parte tranquilamente da alimentação de qualquer indivíduo. Hoje é mais do que comum encher seu carrinho com tudo quanto é produto diet e acreditar que

está no #projetosaúde. “Essas palavrinhas enganam as pessoas”, fala Bela. É importante descobrir o que faz bem pro seu corpo, porque nem tudo o que faz bem pra você, faz bem pra outra pessoa. Então sabe aquela ladainha da vida saudável que muita gente repete automaticamente? Pois é, tá na hora de parar e pensar. “A questão de ficar contando calorias, por exemplo, é um mito!”, diz nossa amiga Bela. “Arroz branco tem menos caloria que arroz integral, mas eu jamais trocaria um pelo outro, porque o integral alimenta

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MÃO NA MASSA Comidinha pra aquecer a alma e te fazer bem <3 MINGAU DE AVEIA 1 copo de aveia em flocos 3 copos de leite de amêndoas (receita aqui embaixo) 1 copo de água 1/2 copo de coco ralado 1/3 copo de castanha picada 1 pitada de cravo em pó 2 paus de canela Como faz? Coloque a aveia, o cravo e a canela em uma panela em fogo alto. Depois a água e o leite e espere ferver. Adicione o sal, abaixe o fogo e cozinhe por 15 minutos. Tem que mexer com frequência pra evitar que a aveia grude no fundo da panela. Quando o mingau estiver pronto, adicione as nozes e o coco. Mexa bem e, dica da Bela, coloque morangos por cima. “Tem propriedades tranquilizantes”, explica. LEITE DE AMÊNDOAS melhor o corpo, com o que ele precisa”. E nem pense em dar o truque: todo mundo já fez (ou pensou em fazer ou ainda vai fazer) dieta contando as calorias e pensava “vou comer esses três brigadeiros no lugar do almoço”. Mesmas calorias? Sim. Saudável? Nem brincando. Fato: a gente tem mais vontade de comer o brigadeiro e não o prato com comida de verdade. Mas e aí, como lidar? “Tem que educar o paladar e começar de leve, assim o que te dá prazer

na hora de comer vai mudando”, ensina. A gente faz isso? Quase nunca. “O ocidental – e o brasileiro em geral – tem uma relação diferente com a comida, é tudo 8 ou 80”, fala. “Fica uma semana se privando de tudo e no fim de semana enfia o pé na jaca com gosto. Vale muito mais, e é muito melhor pro corpo, comer razoavelmente bem todos os dias, entende?”. Ficar se privando loucamente durante um tempão pra depois descontar tudo isso em algu-

TÁ, EU QUERO SER SAUDÁVEL. COMO EU COMEÇO? Troque os refinados por suas versões integrais Evite ao máximo produtos industrializados Se você gosta de lasanha, coma! “Mas faça em casa, não compre a congelada”, aconselha Bela Tenha como critério de uma boa refeição os vegetais, não a carne. “Um prato sem vegetais não é comida de verdade”

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1 copo de amêndoas cruas 4 copos de água Como faz? Deixe as amêndoas de molho por umas cinco horas. Escorra a água que ficou de molho, retire a película (se quiser) e bata no liquidificador com os quatro copos de água, e coe em um pano fino. Se não for usar na hora, bote pra ferver e aguarde esfriar pra colocar na geladeira.

mas barras de chocolate, um milk shake e hambúrguer todos os dias não funciona. “Quer comer? Pode comer! Mas não come a barra de chocolate toda, come um pedaço, sem culpa, e tá tudo bem”. Exige uma disciplina, mas o resultado vai, felizmente, muito além de um número grudado na sua calça jeans. “Ser saudável é ser integralmente saudável: é estar bem consigo mesma no mental, espiritual e físico”. juno // julho de 2014


DIA DE FEIRA POR ana pinho

N

o momento em que Gisele Bündchen publicou no Instagram a foto de uma fumegante xícara de chá de limão, muita gente pensou em testar. Os saquinhos de limão recém-adquiridos podem ter parado na geladeira ou num drink, mas a ideia da top é boa: ingerir ali-

1.

ANTIOXIDANTES: Entre as frutas, mirtilo e açaí são ótimos antioxidantes, combatentes das moléculas de radicais livres que surgem da reação com a poluição e a luz solar e causam rugas e manchas. O betacaroteno contido em cenouras, abóboras e batatas doces preenche a mesma função

3.

2.

VITAMINA C: Clássico companheiro do sistema imunológico graças às propagandas de Cebion, ajuda a deixar a pele radiante, produzir colágeno e curar feridas e manchas. Além de na manjada laranja, existe em pêras, kiwis e morangos, entre outros

mentos saudáveis consistentemente de fato dá um up no seu organismo. O limão é um famoso agente bactericida que ajuda no sistema digestivo, além da auxiliar na produção de colágeno. No mundo hortifrúti da beleza, no entanto, há agentes muito mais poderosos pra pele. Olha só:

ÔMEGA 3: As sementes de chia, por exemplo, assim como peixes do tipo salmão e sardinha, são riquíssimas em ômega 3, que garante a hidratação da pele e dos cabelos

4.

VITAMINA E: Conhecida por proteger a pele e acelerar o crescimento de novas células, pode facilmente vir de amêndoas e abacates, hidratantes naturais poderosos – assim como um pouco de azeite de oliva extra-virgem. E já que o assunto é tempero, é esperto ter algumas raízes de gengibre e açafrão-daterra, visto que ambos são antiinflamatórios intensos e deliciosos

No fim, é tudo questão de números. Siga o velho conselho de consumir cinco frutas ou vegetais por dia, tome muita água e mantenha-se firme por pelo menos quatro semanas, período médio que a epiderme leva pra se revitalizar. Quando der resultado, admita: a natureza é mesmo muito sabida. La belle juno // julho // junho de 2014 de 2014

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SEJA SUA PRÓPRIA

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O Roller Derby é um esporte divertido, que incentiva o amor próprio e não acredita em padrões por nuta vasconcellos fotos carolina vianna

C

onhecido por celebrar o poder das garotas, o Roller Derby é superpopular nos Estados Unidos, e ganha cada vez mais espaço no Brasil. Por lá, o esporte tem uma ligação muito forte com o feminismo e o movimento Riot Grrrl, que surgiu nos anos 90 como uma forma de expressar o poder feminimo através da arte, música e do ativismo. Mas e aí, como tudo começou? Ele foi criado em 1935 pelo promotor de esportes americano Leo A. Seltzer, o primeiro a organizar uma partida de Roller Derby na história, quando realizou uma corrida de patins cuja intenção era unicamente demonstração de resistência. Foi assim durante dois anos, até que o escritor esportivo Damon Runyon (muito conceituado na época) declarou em uma reportagem que as colisões, tombos e empurra-empurra entre os participantes era o mais legal nas partidas. Espertamente, Seltzer transformou a prova de resistência em um jogo de ataque/ defesa. E aí sim chegamos ao esporte como conhecemos hoje. Anos depois, o esporte viraria exclusivamente feminino e conhecido por aproveitar todo tipo de estrutura física. Pra jogar Derby você pode ser baixa, alta, magra, gorda, tanto faz! Cada uma encontra sua função e tem sua importância no jogo. Você pode ser Jammer (quem

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marca pontos) ou Blocker (as bloqueadoras), e normalmente a Jammer é mais veloz e as Blockers quem tem uma melhor estratégia de bloqueio. Em 2009 estreou nos cinemas Garota Fantástica, dirigido – e estrelado – por Drew Barrymore, uma adaptação do livro de Shauna Cross, Derby Girl. O filme conta a história de Bliss, vivida por Ellen Page, uma garota de 17 anos que não se adapta muito bem na escola por causa do seu estilo mais alternativo e por gostar de punk rock. Pra piorar as coisas ela é obrigada pela mãe a participar de concursos de beleza. Meio que sem querer, ela descobre o Roller Derby, finalmente encontra sua tribo e faz amizades verdadeiras, além de entender melhor quem ela mesma é. Falando em amizade, o mais legal de acompanhar os treinos é perceber como as garotas não são só companheiras de time, são amigas mesmo! É maravilhoso observar que um esporte também pode unir garotas e ajudá-las a superar problemas e trabalhar a autoestima. Ficou com vontade de experimentar? REGRAS DO JOGO // Uma partida de Roller Derby consiste em uma série de corridas (chamadas de jam, com duração de dois minutos cada) entre dois times, cada um com cinco jogadoras. Uma atacante (a única que pode marcar pontos), três

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Dinâmica da quadra em uma partida de roller derby pivô jammer zagueiras e uma pivô. No começo da partida, as zagueiras e a pivô ficam em fileira, em cada lado da pista e o árbitro apita. Então, elas patinam em grupo enquanto as atacantes esperam na linha de partida. Quando as outras estão a 6 metros da linha

de partida, as atacantes já podem atacar. Pra isso, elas precisam desviar das zagueiras e chegar ao outro lado. Cada jogadora ultrapassada pela atacante conta um ponto. Quando terminam os jams os juízes contam os pontos e conhecemos o time vencedor.

Bloqueadora Árbitro

regras do roller derby

O JOGO Um jogo tem 60 minutos divididos em 2 tempos Um tempo é dividido em múltiplos jams Cada jam tem até 2 minutos Cada time tem um total de 3 minutos de timeout por jogo

OS PONTOS Pontos valem quando as jammers ultrapassam as jogadoras opostas A primeira passagem não vale pontos e define qual dos times tem a vantagem de encerrar a jam

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Usam uma listra no capacete Comandam a velocidade do grupo Atentam para a posição das jammers

BLOQUEADORAS No iníco, alinham-se atrás das pivôs e à frente das jammers

Somente as jammers marcam pontos

DERBY NAME E DRESS CODE // Toda jogadora ganha um nome de guerra, o derby name, mas você só é rebatizada depois que deixa de ser uma novata. Tem que ter o equipamento completo, ter aprendido as habilidades e fazer 27 voltas em 5 minutos na pista de Roller Derby, uau! A escolha do novo nome é feita pela própria jogadora, mas às vezes acontece de alguém do grupo inventar um

PIVÔS

Mantêm a formação do grupo Atuam tanto na defesa quanto no ataque.

JAMMERS Utilizam uma estrela no capacete Marcam pontos

apelido e ela adotá-lo. Não existe uniforme no Roller Derby e geralmente o foco fica por conta dos acessórios! Principalmente nas meias e customização de capacetes. O visual quase sempre mistura elementos fofos como saias e tutus de bailarina, com detalhes mais rock’n’roll, tipo tachas e meia-arrastão rasgadas. ONDE JOGAR // Pra começar

a praticar, o primeiro passo é achar uma liga na sua cidade. Todas estão listadas no site rollerderbybrasil.com (atualmente são mais de vinte ligas). E claro, você vai precisar do equipamento básico: patins, proteções e capacete. Entrar no mundo Derby pode ser uma chance de se descobrir, se amar mais e se tornar sua própria heroína. Isso é girl power! juno // julho de 2014


treino no clube boqueirรฃo, na glรณria (Rj). Elas se encontram lรก toda semana

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ANA, AQUELA QUE FAZ “Eu não sou muito de sonhar, sou mais de fazer”. Essa é Ana Luiza McLaren, 32 anos, carioca, moradora de São Paulo, e criadora do site Enjoei (e tô vendendo) por Stephanie Noelle fotos Bárbara Carneiro

O

Enjoei nasceu em 2009, mas é empresa de gente grande desde 2012, com mais de 1 milhão e 600 mil fãs no Facebook, 40 funcionários e quase 4000 mil novas peças entrando por dia. Começou quando Ana, depois de se mudar pra São Paulo, não tinha mais espaço no apartamento pras suas coisas – e pras de Tiê, na época seu namorado, e hoje seu marido. “Falei pra ele ver se o domínio Enjoei.com tava disponível e criei o blog, onde todo mundo podia vender também”, contou entre uma xícara de café e outra. “A gente assinava como Enjoei Inc., era abusado mesmo, até hoje é!”, brinca. “Desde pequenininho ele queria ser grande.”

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Invejosos até falaram que foi sorte – afinal, a ideia, como a própria Ana diz, não é nova – mas não foi só isso. Ana é dessas mulheres loucamente inspiradoras, que só bota sua mão naquilo que ama e acredita, e que trabalha duro pra fazer dar certo. A gente virou fã e você vai virar também. O COMECINHO // Sempre gostei de vender coisas. Já fui revendedora da Contém1g e da Natura, e quando entrei na faculdade [ela cursou Publicidade na ESPM] tinha essa ideia que queria trabalhar no Shoptime. E fui! Desde o primeiro semestre da faculdade trabalhei com internet ou vendas, ou as duas coisas juntas. Naquele tempo eu já levava minhas coisas pra vender, e tinha dia que o que eu vendia dava mais que o meu salário do mês todo! Trabalhei também nas Lojas Americanas, na Editora Abril, no IG e no Google. ENJOEI, E TÔ VENDENDO! // No fim de semana eu não dava conta das coisas que chegavam pra vender no blog, era uma loucura. O Tiê falava que tinha demanda reprimida, e decidiu sair do emprego, conseguiu um investimento e abrimos a empresa. Mas eu ainda não tive esse clique que você tá me perguntando, de falar “poxa, olha onde chegou!”. Dá é mais urgência de fazer dar certo, porque tem mais responsabilidade juno // julho junho de de 2014 2014


com todo mundo que tá ali. Muita gente fala “ai, mas essa ideia é velha”, e eu digo “é mesmo, é a ideia do comércio, quer alguma coisa mais antiga que isso?”. Quando comecei o Enjoei, poderia ter vendido em outros sites, mas achei que não iam valorizar em nada as peças que eu tinha. E essa é uma preocupação nossa, porque quando você vai a uma loja, tá perfumada, é bonitinha, você é bem atendido. Por que na internet precisa ser diferente? BOA EM TUDO // A Juliana Paes falou em uma entrevista que a gente se vira nos 30. E se vira, juno // julho de 2014

mesmo! E a gente precisa de ajuda, pra dar conta de tudo. Saber pedir ajuda é uma coisa assim, genial! Antigamente as mulheres tinham 12 filhos e o mais velho ajudava a cuidar do mais novo e da casa. Essa coisa que a mulher precisa fazer tudo sozinha, isso não existe, tá tudo bem pedir ajuda! MODELO // Eu nunca tive chefe mulher, mas a minha mãe trabalhou a vida inteira. E cuidava das duas crianças, e às vezes a casa ficava uma zona e tinha que comer no mesmo prato eu, minha irmã e ela. E nunca foi ruim, tava tudo funcionando. E

nunca teve problema nenhum em trabalhar. Talvez isso tenha sido um modelo pra mim, porque sempre foi muito normal em casa. E minha mãe trabalhava e amava o trabalho. Beijo, mãe! Por eu ter visto essa relação tão amorosa com o trabalho desde cedo. Acho que isso foi fundamental. E talvez eu tenha aprendido muito com as minhas professoras de balé! Era muita disciplina e você nunca podia falar que não conseguia, se não era só você no meio da sala, tentando. CULTURA DO TOPO // Ih, acho um saco! Não é sobre isso! Co-

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nheço muitas mulheres maravilhosas que não querem ter empresas enormes. Querem exatamente aquilo que estão fazendo. É sobre o pequenininho ali, que é maravilhoso. Se fizer bem feito e colocar o coração, tá ótimo. NÃO TEM QUE TER CULPA // Tenho um modo de trabalhar que quando eu estou no escritório eu fico louquinha: executo, executo, executo. Quando eu chego em casa, não quero mais saber, vou fazer as minhas coisas, tricotar... Tem uma coisa que a gente não fica sabendo rápido: você tem que entender o seu ritmo. A hora que você consegue administrar que é assim que você gosta de fazer, e que você respeita isso, tudo flui e você não fica se cobrando com “ai, eu devia estar fazendo tal coisa”. É tão saudável você gostar do seu trabalho e ter seu ofício. E você ter uma entrega pro mundo que você gosta, que você diz “olha que legal isso, eu que fiz”, isso é tão maravilhoso. Eu não tenho culpa nenhuma de trabalhar!

dando, cuidando dos filhos, tudo bem! Essa coisa do trabalho, da liderança, não tem que ter a ver com menino ou menina. Mas sobre o que é você no mundo, que é anterior ao sexo. Dizer “eu sou essa pessoa”, e tratar de se respeitar, se colocar no mundo se respeitando. VOCÊ É FELIZ? // Muito! Tinha mó vergonha de falar, sabia? As pessoas têm muita dificuldade em falar isso, né? E eu tinha também. A gente é treinado pra viver dessa forma, né? E não,

tô ótima! Tô mó feliz, me encontrei demais! Porque nunca, em nenhum outro lugar, pude ser tão eu. Em alguns lugares pude ser muito eu, mas a partir do momento que começaram a me cortar, aí ficou ruim. E agora meu coração tá inteiro ali, então é maravilhoso. Tá tudo bem, pode ser que amanhã não esteja. Perdi meu pai faz três anos. Você acha que o mundo vai acabar, mas passa, você elabora aquela dor. Pode ser que amanhã eu não esteja mais assim, mas hoje eu estou muito plena.

TUDO O QUE QUERIA // Tudo o que eu queria eu conseguia. Porque eu queria de verdade. E eu fazia de alguma forma por onde, não ficava só esperando, não. Aí, quando as pessoas falavam que era sorte eu pensava: “que sacanagem! Eu sei a hora que acordo, sei as coisas que faço, a hora que vou dormir, pras pessoas falarem que tenho sorte!”. Meu pai falava: “filha, não fica assim, não. A gente tem que ter sorte mesmo, nem anda com gente azarada!”. Eu tive sorte, claro, mas tem que trabalhar mesmo. Mas se você gostar, tá? Se você não gostar, pode ser dona de casa, que tá tudo bem! Bor-

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ALÔ,

POS BI

SI

LI DADES

Elegemos três mulheres pra estampar essas páginas: Luiza, Joanna, Vânia, fortes, únicas, interessantes. Feito isso, cada uma teve um desafio, o de escolher aquela peça curinga, que sempre salva o dia - no caso uma camiseta listrada, um vestido preto e uma camisa jeans - e criar cinco looks incríveis. Porque ninguém precisa de montes de roupas. Legal mesmo é arrasar com um armário enxuto. Anota aê! por Stephanie Noelle fotos larissa felsen juno // julho de 2014

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La belle // junho de 2014


Joanna moura, 30, publicitária e autora do blog um ano sem zara GOSTO DE ME ARRUMAR QUANDO... ... eu tenho tempo. Pior coisa é ter que escolher roupa com pressa.

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SER MULHER PRA MIM É... ... intenso, é sentir em excesso. Pro bem ou pro mal. Mas geralmente pro bem. É uma aventura!

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VÂnia goy, 29, jornalista VOCÊ AMA SER MULHER PORQUE... ... acredito, como os povos antigos, que o poder da vida é feminino. É a mulher que gera e dá à luz todos os seres vivos.

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VOCÊ NÃO AMA SER MULHER PORQUE... ... as minhas reclamações da vida não cabem em questões de gênero.

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La belle // junho de 2014

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La belle // junho de 2014


luiza brasil, 25, jornalista EU ME SINTO MAIS BONITA QUANDO... ... faço uma produção que alie: me sentir bem, confortável e adequada pra ocasião.

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SE EU PUDESSE MUDAR UMA COISA NO MUNDO, SERIA... ... sem dúvida a desigualdade, pois é um fator que dá origem à discriminação, injustiça e outras mazelas.

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PENSAR

inimigas?

Muito amigas, isso sim! A amizade entre mulheres sรณ nos fortalece pรกg. 43

tabu

Nรฃo precisa ter medo de assumir o feminismo pรกg. 48

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MULHERES QUE SE

AMAM Aqui não tem essa de mandar beijo pras inimigas! A amizade entre mulheres não é só possível, como também nos deixa muito mais fortes por bárbara carneiro fotos acervo pessoal

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uando escrevo sororidade no computador, a detestável cobrinha vermelha indicando palavra errada surge imediatamente assim que eu aperto a barra de espaço. Isso acontece porque a palavra não é dicionarizada no idioma que geralmente uso (no caso, aquele que permite que você entenda este texto: o português do Brasil). Mas não é por isso que a palavra não existe e, muito menos, que a coisa seja mito. Basta um breve rolê nos círculos feministas, uma conversa no colo da amiga ou a entrada em fóruns de discussão de mulheres pra sacar que “sororidade” é cada vez mais uma palavra corrente. Vinda do inglês, sorority, a ideia é a de que existe uma fraternidade feminina. Pense agora em quantos almoços de domingo tiveram sua paz interrompida por comentários como “mulheres se detestam”, “mulheres ficam competindo umas

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com as outras”, “mulheres não são amigas de verdade”. Ainda que isso nunca tenha acontecido com vocês (o que talvez se deva à ausência de um tio-mala), basta ligar a televisão e ver um filme numa tarde qualquer. Excluímos os que têm como personagens principais animais que falam e o que sobra? Em geral, filmes com protagonistas homens em que as mulheres

aparecem ou desejando-o, por vezes em disputa com outras mulheres, ou apenas como muleta pra que a história se desenrole da perspectiva masculina. Mas não é só Hollywood que constrói a ideia de que as mulheres se odeiam. Tem uma porção de pessoas achando que de fato mulheres competem o tempo todo e, via de regra, por conta de homens. A propagação juno // julho de 2014


da palavra sororidade talvez indique justamente o contrário. Indica que mulheres podem se unir (e muitas vezes buscam essa união) por vontade própria e por motivos alheios ao tema “homens”. A sororidade torna-se assim um compromisso ético entre mulheres, que vivem e entendem que sofrem de males semelhantes em estruturas sociais dominadas pelos homens. juno // julho de 2014

A sororidade não é um clubinho, nem deveria ser motivo de exclusão de ninguém. Todo grupo coletivo cria relações de pertencimento e de construção de identidade. E nós precisamos desses espaços, precisamos – sejamos homens, mulheres, o que queiramos – nos identificarmos com certas coisas e com certas pessoas ao longo das nossas vidas. O pro-

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blema é que toda identidade coletiva acaba gerando algum tipo de não-pertencimento. A partir do momento em que alguém é algo, muitas outras coisas ficam do lado de fora. Com essa perspectiva, podemos entender o porquê de a sororidade não ser um conceito aceito unanimemente no movimento feminista. Primeiro, porque não é só o gênero que importa. Se pensarmos a importância de questões de classe e de raça no trato entre seres humanos hoje em dia e ao longo da história, já temos um perfil bastante complexo de o que é estar no mundo. E, segundo, que a idéia de uma fraternidade entre mulheres veio como resultado de uma das ondas do feminismo em que era muito importante deixar claro o papel da identi-

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dade feminina. Hoje em dia, o movimento feminista não pode se eximir de discutir o corpo como algo amplo, ou como algo menos relevante do que toda construção social por trás dele (ou feita através dele). Isto é, o feminismo já não pode mais ser movimento de umas poucas mulheres brancas de classe média e, cada vez, incluem-se mulheres com perfis menos elitistas (não-brancas, pobres, as que não nasceram com vagina). Mas o que fica de todas as ressalvas? Para mim, que a sororidade como criação social (já deu pra perceber que eu sou dessas que acha que grande parte do que somos no mundo é criação social?) faz mais sentido do que a ideia de que mulheres rivalizam por natureza. As mulheres são seres huma-

nos – isso é bem óbvio hoje em dia, mas por muito tempo essa constatação foi negada por homens em diferentes espaços de poder – e, por isso, são capazes de se articular por cooperação e por competição. A graça, de verdade, é permitir-se quebrar estereótipos tontos e é experimentar compartilhar política e eticamente espaços com outras mulheres. Assim podemos descobrir que somos ainda melhores quando estamos juntas. juno // julho de 2014


POR TRÁS DAS CULPAS O seu tamanho não é um problema. A sua roupa não é um convite. Você não tem que dar uma emagrecida ou ter curvas pra alguém pegar. Precisa é parar de se culpar pelo seu corpo e o que você faz com ele por bárbara carneiro e carol guido arte aline jorge

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asta uma sutil entrada numa opinião pública genérica pra escutar como a violência contra a mulher é algo ruim, mas que a vítima não é de todo inocente. Os comentários podem vir acompanhados de medidas do comprimento da saia, dos hábitos noturnos das moças; podem até vir de chefes de Estado que minimizam a responsabilidade masculina em casos de estupro dizendo que às vezes isso pode ser algo certo (uma dica: nunca pode). Existe, por trás dessas frases rasas de culpabilização da mulher, um fator cultural muito forte. Quantas gerações de mulheres cresceram imaginando que, de fato, provocaram a violência (ou as violências, né?) sofridas? Quando dizemos que há uma cultura do estupro, não significa acusar todos os homens de violentos, mas de entender como o corpo da mulher é visto na sociedade. É um lance mais de estrutura social e é por isso que não raras vezes vemos mulheres repercutindo certos discursos que vão contra elas mesmas.

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A VERGONHA DO SEXO // Em geral, o pessoal chama de slut-shaming uma prática muito recorrente de constranger mulheres por suas escolhas de vestuário e de comportamento. Quando alguém aponta o dedo pra uma mulher na rua, dizendo algo como “nossa, que vadia com essa roupa!” ou desqualificam alguém dizendo “é uma periguete mesmo” está praticando um grandiosíssimo ato de slut-shaming. A coisa também pode começar dentro de casa ou nas dicas de moda; um “Aonde você pensa que vai com essa roupa?” combinado com “Se for usar decote, não ouse no comprimento da saia” vai aos poucos dizendo pra mulher o que pode e o que não pode. E, se a regra é essa, é responsabilidade dela (e quase que só dela) se algo de ruim acontecer. É preciso - dizem - ser sexy sem ser vulgar. E as mulheres entram na pira e pensam “é

verdade” e dizem “é preciso” e às vezes não vêem que reproduzem culpas que não deveriam existir e que, desconfio, o sexo oposto nunca pensou em sentir. (Quantos homens temendo por sua integridade física após tirarem a camiseta numa tarde de calor vocês contaram?). A VERGONHA DO CORPO // Agora, já pensou se nós vivéssemos em um mundo em que padrões de beleza fossem opressores com a maior parte das pessoas que simplesmente não nasceu conforme dizem que é o jeito ideal de ser? Provavelmente, se isso acontecesse, muita gente ia sofrer de uma vergonha do próprio corpo e ia se esforçar pra parecer algo que não é, e ia sofrer ainda mais se falhasse, num ciclo eterno de esforços vãos e culpas generalizadas. Soa familiar? Esse fenômeno de vergonha do próprio corpo é algo conhe-

A liberdade pode ter muitas faces, mas, ao que parece, nenhuma delas combina com toda a carga de culpa que boa parte das mulheres ainda carrega 47

cido como body-shaming. E não importa o quanto a pessoa se esforce. Somos diferentes. Tentar padronizações é uma afronta à nossa condição de seres humanos. Mas dá dinheiro. Ô como dá. Há quem passe a vida toda sofrendo e correndo atrás do corpo “perfeito” enquanto gasta todas as suas cifras em tratamentos, dietas, produtos, remédios. Não cabe julgar as mulheres que fazem isso, mas talvez seja importante a autocrítica: fazemos isso por nossa felicidade ou por nossa culpa? (A melhor resposta, com certeza, é a primeira alternativa). LIGANDO OS PONTOS // Segundo dados do Disque Denúncia do Rio de Janeiro, a cada 15 segundos uma mulher sofre violência no Brasil. Além disso, uma em cada cinco sofrerá estupro durante a vida. Enquanto estes números martelam na cabeça, lembramos das vezes em que pessoas dizem a vítimas de estupro que, se elas estivessem usando roupas menos provocativas (ou se não estivessem bêbadas, ou se “tivessem se dado ao respeito” - o que quer que isso queira dizer), o ocorrido poderia ser evitado. Por outro lado, uma pesquisa realizada pelo Instituto Sophia Mind aponta que 54% das mulheres brasileiras não estão satisfeitas com o seu corpo. Algumas por conta do peso, outras por terem celulite, a lista é imensa. Mas será que essa preocupação com mais da metade da população, veja bem, mais da metade, é normal? É “coisa de mulher”? Não é possível. A liberdade pode ter muitas faces, mas, ao que parece, nenhuma delas combina com toda a carga de culpa que boa parte das mulheres ainda carrega. juno // julho de 2014


QUEM TEM MEDO DAS

FEMINISTAS? Não precisa ficar assustada, chega mais! Não é um bicho de sete cabeças, muito menos um culto de ódio aos homens. É só amor, seja bem-vinda!

por juliana de faria fotos kelsen fernandes

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omo a maior parte da geração Y, eu tenho um blog. E um dos meus primeiros posts a ter repercussão pela web – entre amigos e completos desconhecidos – foi intitulado “Por que é difícil ser feminista?”. O que soava como uma pergunta retórica, era, na verdade, uma indagação que eu fazia pra mim mesma. E uma para a qual fui buscar explicações. O termo “feminismo” é tão carregado de preconceitos e de ideologia que muita gente defende as ideias por trás dele sem nem saber, perceber ou assumir. Desde que me conheço por gente acredito na liberdade da mulher. E sempre fui a favor da igualdade entre gêneros. Mas nunca havia relacionado minhas crenças ao movimento e jamais havia me assumido como feminista – termo que, na época, relacionava a “mal amada”, “raivosa”, “odiadora de homens”... E nada disso me representava! Nunca estive sozinha neste barco. A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que foi elevada a figura pop ao ter sua palestra We Should All Be Feminists sampleada pela cantora Beyoncé na música Flawless, conta uma história se-

melhante. “Enquanto eu estava promovendo um livro na Nigéria, um jornalista, um homem bem-intencionado, veio me dar um conselho. Ele me disse que as pessoas estavam dizendo que meu livro era feminista”, disse. “Sua dica pra mim era a de que eu nunca deveria me intitular feminista porque elas são mulheres infelizes que não conseguem arranjar maridos.” Nascemos e crescemos em um mundo onde todos os holofotes estão voltados aos homens. Aprendemos que o importante são os prazeres, as necessidades e as habilidades masculinas. O feminino é visto, muitas vezes, como padrão de segunda classe, defeituoso, desimportante. Não à toa “mulherzinha” e “garotinha” são termos quase sempre usados como adjetivos negativos. E a maior prova disso é exatamente o que estamos falando: feminismo ser entendido como algo negativo. Pessoas me perguntam, às vezes envergonhadas, às vezes curiosas: “você se assume feminista?”

imagens da marcha das vadias, evento que reuniu em são paulo centenas de manifestantes a favor das causas das mulheres

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Fazem cara de espanto, como se eu estivesse aderindo a uma religião de outro planeta. Mas é bem fácil achar uma resposta para essa pergunta. Basta olhar no dicionário: feminismo fe.mi.nis.mo sm (lat femina+ismo) 1 Sociol. Movimento iniciado na Europa com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos políticos e sociais de ambos os sexos. Em outras palavras, se você acha que homens e mulheres merecem os mesmo direitos, bem-vindo(a) ao feminismo! Mas, além das confusões semânticas, há outro motivo pelo qual acabamos renegando a credencial de militante: acreditar que o feminismo nos renega em primeiro lugar. Se luto por relações igualitárias, não posso pegar o nome do meu marido quando casar? Se quero uma maior representatividade feminina em posições de lideranças na empresa, posso apoiar que mulheres saiam mais cedo do trabalho pra jantar com seus filhos? Posso querer comprar um monte de produtos de bejuno // junho de 2014

leza? Posso escolher ser dona de casa? Dá pra lutar pelos direitos das mulheres e gostar de moda ao mesmo tempo? Muita gente acha que não, mas é desse ativismo que precisamos. Além da aceitação da ideia de que homens e mulheres devem ser tratados de maneira igualitária, devemos batalhar pela aceitação de que os gêneros podem e devem ser exercidos da maneira que homens e mulheres bem entenderem. O importante é que seja uma escolha efetiva, e não algo imposto. E é justamente esse espectro do movimento que o vem fazendo ganhar força hoje. Há diversas correntes do feminismo e isso é algo extremamente positivo. As pessoas são diferentes e têm vários objetivos e necessidades. Cada um tem a sua bandeira. Da minha parte, sigo o lema de que o feminismo deve lutar pra que as mulheres possam ter mais escolhas. E garantir que elas tomem suas próprias decisões sem qualquer necessidade de pedir desculpas por isso. Então arrebente a porta e saia do armário feminista. Não há ódio a nada. Apenas liberdade.

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A complexidade das personagens de Mad Men é o maior dos 43 motivos que temos para gostar da série texto bárbara carneiro fotos divulgação

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ad Men estrou na televisão americana em 2007, mas a primeira temporada se passa no ano de 1960. A série toda – que no momento está na sétima e, dizem, última temporada – se desenrola nessa década, tendo como cenário principal Nova York e como supostos protagonistas os publicitários da Madison Avenue (por isso Mad Men, uma ambígua menção aos “Homens da Madison”, que também pode ser traduzida como “homens loucos”). O nome da série evoca esses personagens, mas disse “supostos” protagonistas porque não é tão simples assim. Por uma dessas coincidências sem sentido que mostram como a vida é um mistério insolucionável, as meninas do clube do livro feminista do qual

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faço parte decidiram que a discussão desse mês seria sobre A Mística Feminina. O livro de Betty Friednan é uma grande reportagem que investiga um mal sem-nome que a autora começou a identificar nas falas de ex-colegas de faculdade nos finais dos anos 1950. Aquelas mulheres se mostravam claramente insatisfeitas com suas vidas de donas-de-casa; muitas deixaram de lado estudos e carreiras promissoras para casar cedo, ter filhos e morar nos subúrbios. A voz que predomina no livro é a de Friednan mas, a cada conjunto de páginas que eu passava, apenas uma personagem se materializava no meu inconsciente como catalisadora de todos aqueles fenômenos: Betty Draper, interpretada pela atriz January Jones em Mad Men. “QUEM NÃO ESTARIA FELIZ COM TUDO ISSO?“ // Betty é dona-de-casa, está sempre bem vestida, é mãe de duas crianças, mora no subúrbio nova-iorquino. Seu marido é Don Draper (Jon Hamm), diretor de criatividade de uma importante agência de publicidade. Ele trabalha em Manhattan, é rico, influente, tem amantes, toma whisky sempre que possível e carrega algo de um homem-que-se-construiu. Juntos, os dois são bastiões da feminilidade e da masculinidade idealizadas na sociedade em que vivem. No segundo episódio de Mad Men, chamado Ladies Room, somos introduzidos a uma infelicidade “sem motivos” vivida por Betty. Poderíamos esquecer um pouco que a personagem não é uma pessoa de verdade e acreditar que ela é uma das mulheres que vivia o espírito da época sobre o qual escreve a

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outra Betty, a Friednan. A infelicidade sem nome da senhora Draper é incompreensível na medida em que ela tem tudo o que deveria querer: uma casa linda, filhos saudáveis, um marido bem-sucedido. A publicidade lhe diria que ela estava no caminho certo pra ser uma mulher realizada. E até seu marido se pergunta “Quem não estaria feliz com tudo isso?” quando expõe seu problema doméstico ao chefe e amigo Roger Sterling (John Slattery). “QUEM SE IMPORTA?” // No mesmo episódio em que Betty busca ajuda de um analista para tentar resolver seus problemas (o que a própria Friednan talvez não recomendasse, já que via na vertente psicanalista dos anos 1960 uma tendência muito maior de culpabilizar a mulher infeliz a partir de sua sexualidade do que exatamente

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investigar as causas profundas de sua não realização pessoal), Peggy Olson (Elisabeth Moss) é ferozmente assediada por seus colegas homens na agência em que trabalha como secretária. Um deles, em um cargo superior, beija-lhe de surpresa. Diante da rejeição, pergunta – meio retoricamente – se Peggy pertence a outro homem. Em seguida, Peggy vai ao banheiro feminino, onde uma de suas colegas chora (no começo do episódio, havia outra ali mesmo, em prantos). É nesse momento que a personagem de Elisabeth Moss começa a se tornar diferente das outras. Olha-se no espelho, depois de fitar a moça que chora, e sai dali. Algo nessa sequência nos mostra como os espaços são restritos para a mulher: se não são donas-de-casa, atuam como secretárias; as poucas que avançam em suas carreiras são tão poucas que estão ali como notável exceção.

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E o segurar de choro de Peggy não quer dizer anulação de seu sofrimento. Os roteiristas, que provavelmente leram A Mística Feminina e mais uns bons livros sobre a sociedade americana da década em questão, mostram pra gente o começo das negociações que essa personagem tem que travar para ascender no seu trabalho. Se Donald Draper é um selfmade man, pra uma personagem feminina o caminho nunca pode ser tão mitológico. Quando Don e Roger travam um diálogo sobre o que querem as mulheres, podemos imaginar que a preocupação da pergunta são suas próprias experiências pessoais, com esposas, filhas, amantes. “Quem se importa?” é a primeira resposta, dada por Roger, seguida por um “as mulheres querem o que as outras mulheres têm”. São dois homens brancos, heterossexuais e publicitários po-

Em Mad Men, homens e mulheres compartilham o mesmo espaço, mas não sem alguma tensão. Na foto (da esq. pra dir.), Roger Sterling, Joan Holloway, Pete Campbell, Peggy Olson, e Don e Betty Draper

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derosos que vivem – e vendem – essa vida de uma classe média americana com alto poder aquisitivo. Apesar de proporem a questão, eles de fato não se interessam verdadeiramente pelo assunto. O que importa aí não é a busca por soluções reais para problemas com ou sem nomes

que assombram as mulheres. O interesse é criar campanhas e estratégias de venda que garantam a seus clientes melhores resultados e, por consequência, um espaço de liberdade em sua masculinidade a eles próprios e a seus iguais. Os discursos sobre feminilidade são reforçados

As mulheres em Mad Men são fortes porque são complexas e nós não estamos acostumadas a ver isso

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“EU POSSO SONHAR, NÃO POSSO?“ // Mas nem tudo é cinismo na Madison Avenue. Ainda cabe um pouco de romantismo, mesmo que de um jeito enviesado. O episódio vai se encaminhando para o seu desfecho e, enquanto Peggy Olson datilografa em sua mesa, a trilha sonora é composta por I Can Dream, Can’t I? (“Eu posso sonhar, não posso?”) de Andrews Sisters. Eu tenho uns quarenta e três motivos pra gostar de Mad Men, mas visto o avançado do texto, deixo apenas essa empatia que sinto por essa personagem. A ideia de que o espectador deve se identificar com a obra de arte é relativamente recente. Quando, no século XIX, os homens ocidentais começaram a imitar o jovem Werther de Goethe com seus trajes e - em alguns casos - seu suicídio, não era comum esse tipo de empatia. Esse conceito, inclusive, foi

nos espaços públicos e privados e as mulheres se angustiam nessa forma de agir a que são forçadas a seguir. Assim, a feminilidade (e é sobre isso a mística feminina) que serve à liberdade dos homens passa a ser desconstruída como um dado da natureza das mulheres. criado apenas no começo do século XX, e indica a habilidade de conseguirmos nos colocar no lugar do outro. Por mais que eu busque justificativas históricas, é capaz que seja um tipo bem raso de egocentrismo nos identificarmos com um ser ficcional a ponto de buscar semelhanças constantes com ele e se irritar quando o teste virtual diz que sou outro personagem da série (a quem interessar possa, o teste mais recente que fiz disse que sou a Megan e isso é tão mentira que nem vou perder meu tempo falando disso). Mas Peggy Olson é uma das personagens mais bem construídas que conheço e o mérito é, mais uma vez, dos roteiristas da série. A complexidade dos personagens de Mad Men e a quebra de dicotomias “bem” e “mal” dão a eles uma humanidade muito pouco caricata e, por isso, bastante diferente da maioria das narrativas exibidas na televisão. As mulheres em Mad Men são fortes sem serem heroínas. Não são, de modo algum, exemplos pra seguirmos. Estão tão perdidas em seu mundo em transformação como provavelmente todas nós estamos. O grande mérito dos roteiristas é que eles construiram personagens femininos com dúvidas, problemas, personalidade. As mulheres em Mad Men são fortes porque são complexas e nós não estamos acostumadas a ver isso.

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AMORES, LUGARES E FOTOGRAFIA Somos fãs (e você vai virar também): pela obra, pelo cérebro, pelo jeito de enxergar a vida. É Adelaide, mas pode chamar de Ivi, tá?

FOTOGRAFIA

POR BÁRBARA CARNEIRO fotos ADELAIDE IVANOVA

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delaide Ivanova é fotógrafa, vive na Alemanha desde 2011 e é dona de uma obra que conversa muito com o que é - ou não - ser mu-

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que fugiu com o amante no primeiro capítulo da obra. Essa entrevista é, então, um retrato composto por amores, lugares e fotografia dessa personagem não-ficcional que a gente adora.

lher hoje em dia. Seu nome tem uma força própria. Tirado do livro Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, Ivi ri quando diz que a personagem era uma maravilhosa

Como você começou na fotografia? Não sei exatamente. Comecei a fotografar meu primeiro namorado, quando eu tinha 18 anos. Tentava imitar alguns fotógrafos que gostava. Mas não era consciente, nem eu queria juno // julho de 2014


ser fotógrafa. Com 20, ganhei uma Zenit 122K (clássico dos iniciantes) da minha tia e aí comecei a experimentar mais. Acho que foi aí que eu comecei a ficar inquieta com essa mídia. Fui pra São Paulo fazer um curso com Gal Oppido no MAM e nunca mais a fotografia me deu sossego.

a fotógrafa adelade ivanova, retratada por Jakob Ganslmeier

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Você trabalhou um tempo fotografando moda e depois desencanou. Por quê? O “mundo da moda” me libertou de algumas amarras pessoais que eu tinha e desse tempo ficaram alguns dos meus melhores amigos até hoje. Mas a mesma coisa me libertou (que foi entender que roupa, maquiagem, a música que ouço, as pessoas com quem ando (etc.) é política) foi a que me deu horror ao tal mundo da moda: as pessoas que só vivem dessa autoencenação e que vivem ocupadas de si próprias. Eu trabalhava num site que eu adorava e um dia fui demitida de uma maneira escrota, e aí foi a gota d’água pra mandar tudo às favas. Recomecei do zero, fui fazer estágio num birô de

fotografia ganhando R$700 por mês. Você acha que há um papel social na fotografia? Sim, mesmo que o fotógrafo não pense nisso. Porque você está se comunicando com alguém, inspirando ou influenciando alguém de alguma maneira ou de maneira alguma (o que também é um papel social, mesmo sendo inútil). Não acho que você possa sair por aí fazendo e publicando coisas sem se preocupar com a reverberação disso - mesmo que só meia dúzias de pessoas venham a ver isso no seu Twitter. Eu tendo a pensar como Clarice Lispector, que diz que a arte (ela usa na verdade a palavra “literatura”) não muda nada, mas tem que ser feita e não pode ser de qualquer jeito. Você relaciona seu ativismo com seu trabalho? Nunca pensei nisso de ativismo. É uma necessidade pessoal, mas não sei responder isso direito. Acho que um artista tem que refletir seu tempo, pensá-lo. Quando Nan Goldin fazia

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autorretratos e fotografava seus amigos, era política. Tava todo mundo ocupado da Guerra Fria, aí Nan Goldin, fotografando sua vida íntima, tipo “Ei, a gente existe também”, fez um statement universal. Mas agora o tempo é de olhar pro outro, de pensar no outro, porque estamos numa década em que a vida íntima virou capital. Estamos ficando cegos em relação ao outro. TEMPO-ESPAÇO O que significou pra você viver em Recife na décade de 1990, em São Paulo na década de 2000 e na Alemanha atualmente? Ai, amei essa pergunta porque nunca pensei assim, em décadas. Me senti uma senhora. Só posso falar da minha experiência, não conseguirei definir essas cidades e essas décadas de maneira universal. Recife nos anos 90 pra mim era o Mangue Beat e o grunge, tinha uma cena artística literalmente nascida do caos e era muito bonito. São Paulo nos anos 2000 foi minha fase indie e niilista, o começo dessa tendência de se ocupar de si mesmo (maximizada pela minha vivência nas modas), e a Alemanha nesses cincos anos representa meio que meu despertar pessoal, tipo “porra, o mundo lá fora e eu aqui pensando em mim mesma”. Tem também o fato de que fiquei mais velha, né, ajuda a ficar menos burra. O que você colocaria hoje numa cápsula do tempo pra abrir somente daqui a uns 20 anos? Sei não, acho que nada. Espero em 20 anos não precisar de nada que acho precisar agora.

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AMORES Você tem uma relação muito forte com a sua avó, né? Sim, mas foi depois que fiquei véia e saí de casa. Até os 18 anos morei com ela e ela era insuportável. O que você vê de parecido em vocês duas? Sei não. Ela tem muita força de vontade e nunca duvida de si própria, isso eu sei que não tenho. Mas somos bem vaidosas (no bom e no mau sentido) e isso é muito parecido! O que você aprendeu com ela e nunca mais esqueceu? Uma vez, eu tinha uns cinco ou seis anos, eu estava ajudando-a a fazer um bolo e deixei um ovo cair. Fiquei com muito medo, pavor, pânico, porque ela era

muito brava e impaciente e exigente, mas ela me surpreendeu quando se mostrou compreensiva com o acidente. Ela disse alguma coisa como “é lindo um ovo quebrado, né?”. Não sei se ela achava lindo mesmo ou se tentou apenas ser compreensiva com meu pavor. Sempre penso que podemos abrir mão de nós mesmos quando é preciso. Ainda vale a pena sofrer por amor? Estou esperando que alguém volte a sofrer por amor como se sofria nos anos 90. Agora as pessoas sofrem e tiram uma selfie com cara triste ou em Mykonos fingindo estar superada. E boy de Áries: hot or not? Tem seu valor, mas eles são emocionalmente retardados. juno // julho de 2014


FEMINISMO GOES

POP

Antes ninguém tocava no assunto. Agora, qualquer celebridade (mulher, claro) precisa ter uma opinião. Precisa mesmo? POR RAFAEL CISCATI ARTE//FOTO ROMEUuu//DIVULGAÇÃO juno // julho de 2014

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la é a chefe”. Anualmente, a revista americana Time escolhe uma lista de 100 personalidades influentes, símbolos de seu tempo. A edição de 2014 traz Beyoncé na capa. Exemplo de mulher bem-sucedida, capaz de ditar os rumos da própria carreira, é Beyoncé quem dá as cartas: “Ela não se senta à mesa. Ela constrói uma melhor”, escreveu Sheryl Sandberg sobre a cantora. Sandberg é Chefe de Operações do Facebook, uma das pessoas mais poderosas do mundo da tecnologia e criadora da Lean in Org, uma plataforma-manifesto destinada a encorajar mulheres a travar suas próprias batalhas, acreditando ser capazes de vencê-las. Feminista prestigiada, as palavras de Sandberg caíram como um selo de aprovação, validando as credencias feministas da cantora. Revelaram também um traço característico do mundo pop: hoje, feminismo é a palavra da moda. Ao mesmo tempo em que o mundo do entretenimento assistiu a feministas convictas conquistarem seu espaço, caso de Beyoncé e da cantora e compositora Amanda Palmer, passou também a cobrar ativismo e opiniões categóricas de mulheres que nunca pretenderam, por escolha própria, lançar-se nessa seara. De repente, toda

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De repente, toda mulher em evidência se viu forçada a dar explicações. “Você é feminista?”, perguntam os jornalistas

mulher em evidência se viu forçada a dar explicações. “Você é feminista?”, perguntam os jornalistas. Questão perigosa. Diante dela, a atriz Shailene Woodley, de 22 anos, disse que não, durante uma entrevista à revista Time: “Acho que a ideia de ‘alce as mulheres ao poder, tire o poder dos homens’ nunca dará certo, porque precisamos de equilíbrio”. Seguiu-se um festival de críticas, a maioria comentando que Shailene não entendia o significado de feminismo. Por que deveria? Celebridades não dão os melhores exemplos de ativistas. Nem precisam ser, se não o quiserem. Mesmo porque, feminismo é um tema mais espinhoso do que parece a princípio. Quase um século depois do movimento sufragista, e décadas passadas desde a luta pra liberdade sexual, o feminismoassumiu mais de uma face. Faces que, por vezes, se chocam. Hoje, feministas bem estabelecidas na academia, como a intelectual Camile Paglia, defendem que tudo bem a mulher sonhar em ser mãe e dedicar-se exclusivamente ao lar - afirma-

ção que causaria esgar a muitas de suas colegas de geração. Se mesmo para feministas escoladas o tema é campo de debate aguerrido, sem respostas claras, parece um tanto cruel cobrar que cantoras pop e atrizes de vinte e poucos anos forneçam uma explicação definitiva. O fenômeno fica ainda mais injusto quando percebe-se que essa necessidade de posicionamento não é cobrada dos homens. A igualdade de direitos entre os gêneros é uma questão social que não diz respeito somente às mulheres e, portanto, não é responsabilidade exclusiva delas. Mas dificilmente alguém se lembrará de perguntar a, digamos, Chris Hemsworth, se ele já leu Betty Friedan. Como celebridades, cuja imagem em evidência influencia comportamentos de fãs em todo o mundo, essas mulheres devem se responsabilizar pelo que dizem, sabendo que suas opiniões possuem impacto desproporcional. O problema é que são também cobradas, desproporcionalmente, a se posicionar sobre questões das quais não têm domínio. Cobrança à qual juno // julho de 2014


A atriz Shailene woodley, criticada por supostamente não entender o significado de feminismo

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seus pares do sexo masculino dificilmente serão alvo. O que nos traz de volta a Beyoncé e à capa da Time. Ela é uma das mulheres mais poderosas do mundo da música. Demitiu o pai, seu empresário, para assumir maior controle sobre a própria carreira. É ela quem se encarrega de tomar decisões sobre sua imagem. E foi ela, que, gradualmente, decidiu assumir o posto de feminista moderna: “A palavra é um pouco forte mas, sim, eu me considero uma feminista”, disse ela em uma entrevista a revista Vogue. Em uma de suas músicas, dá uma definição bastante satisfatória do que significa ser feminista, ao incluir na letra um discurso da escritora Chimamanda Ngozi Adichie: “Feminista - uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica dos sexos”.

Beyoncé assumiu o feminismo como uma face fundamental de sua imagem pública. Seu discurso bem arquitetado, muitas vezes calcado nas afirmações de intelectuais respeitadas, não é unanimidade. Muitos de seus clipes e músicas reproduzem imagens de mulheres sensuais. “Os homens acham que as feministas não gostam de sexo, mas sexo é algo que as mulheres adoram”, lembram os dizeres em francês de uma de suas músicas, Partition. Bastante justo. A sexualidade que ela defende levanta críticas, segundo as quais a cantora usaria o corpo e sua sensualidade como moeda de troca. “Vejo uma parte de Beyoncé que, na verdade, é anti-feminista - que é terrorista, em termos do impacto que tem sobre as meninas jovens”, afirmou a ativista Bel Hooks durante um debate em maio. Tudo bem. Beyoncé decidiu, conscientemente, assumir posições em um debate espinhoso. Por isso, acaba sendo cobrada pelas supostas incoerências de seu discurso. É saudável que isso ocorra, e sua disposição deve ser comemorada. O mesmo não se aplica às outras mulheres em evidência, que, sem aviso, foram atiradas em uma discussão de conceitos que se desenrola há décadas. São cobradas a dar explicações por, simplesmente, ter atingido o mesmo destaque e sucesso que muitos de seus colegas homens. Deveriam ser celebradas por essa conquista. Em vez disso, precisam se justificar. Beyoncé é a chefe e, como tal, escolhe quais batalhas travar. A mesma liberdade não é oferecida às suas companheiras de fama. O feminismo está na moda no mundo pop. Para o bem e para o mal das mulheres envolvidas.

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SONHAR

beleza natural Sauvage! pรกg. 63

capa

Um dia na vida pรกg. 73

maquiagem De bonitas pรกg. 85

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SAUVAGE! Sabe aquele padrão de beleza gritando no anúncio da marca de roupa, esfregado na sua cara na novela e enfiado goela abaixo custe o que custar? A gente não acredita nele. A beleza vai muito além do físico (escutamos isso de uma pessoa que está aqui nessas páginas) e nunca, nunca mesmo, confie quando disserem o contrário. Nos inspiramos na iniciativa do blog GWS – Girls With Style, que deu o pontapé inicial no movimento #TerçaSemMake no Instagram – um dia pra você ficar de cara lavada e se curtir mesmo assim (porque maquiagem é pra realçar, não mascarar) – e convidamos pessoas queridas, e reais, pra se amarem assim, ao natural, nas nossas páginas. Com o rosto nu, desnudaram também suas emoções. E o resultado é lindo. Aliás, você é linda. Você é lindo. E nisso a gente acredita. por Stephanie Noelle fotos bárbara carneiro

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tamara gomes


bรกrbara carneiro


Tamara Gomes

Bárbara Carneiro

O que é beleza pra você? Cara, é uma pergunta muito ampla! Mas ultimamente tenho achado que beleza é estar confortável com você mesmo, com as suas escolhas, com as suas ideias e aceitar suas mudanças - porque isso era muito difícil pra mim . Achava que eu não podia mudar, se eu tinha uma opinião, ela não podia ser mudada. E não. Inclusive meu conceito de beleza mudou.

O que é beleza pra você? Esses tempos eu me dei conta que a beleza me dói muito. Quando eu entro em contato com algo muito belo pra mim, é muito um choque. Quando eu pego um livro que é maravilhoso, eu fico chocada. Eu fico sem saber pra onde ir, o que fazer, fico sem reação, até dói um pouco. Essa relação da dor e da beleza é muito forte.

Quando você se sente mais bonita? Ah, eu preciso muito do elogio das pessoas. Mas, geralmente, quando eu me sinto bonita, as pessoas me elogiam. Eu meio que transpareço. Quando você tá “apaixonadinha”, e seus olhos brilham e seu cabelo tá glamouroso também!

Rafael Ciscati

Chistiane Silva Pinto

O que é beleza pra você? Beleza é sorrir sem culpa, sentir-se bem com o que você é. Ainda que você não se sinta bem com quem você é o tempo inteiro.

Quando você se sente mais bonita? Engraçado, acho que me sinto mais bonita quando não tem ninguém vendo! Aquele momento em que você tá sozinha em casa e, sei lá, seu cabelo tá incrível, sua cara tá boa, cê tá feliz, tá confortável.

Quando você se sente mais bonito? Quando faço alguma coisa certa. Depois de uma tarefa complicada, eu triunfo. Sabe aquela coisa de “estou me sentindo foda hoje”? Me sinto bonito, e belo, e bem comigo mesmo quando sinto que fiz algo do qual eu possa me orgulhar, então não tenho porque me esconder, esconder as minhas ideias ou a minha imagem.

juno // julho de 2014

O que é mais bonito em você? Eu gosto muito das minhas duas pernas. Um dia eu percebi “Nossa, ó que bonitinhas!”. Acho que ficam bem juntas. E quando eu faço umas tiradas legais – às vezes eu sou meio idiota – mas às vezes eu penso “ah, é isso que me faz legal”, e isso é bonito.

O que é mais bonito em você? O que acho mais bonito em mim é o meu cabelo, mas também por todo processo de aceitação dos cachos e do meu cabelo como ele é. Não ficar mais brigando com ele, tentando entrar num padrão com ele liso, ou de determinada maneira que antes eu achava que era “a” bonita. E acho que gosto tanto dele hoje em dia justamente porque com ele eu aprendi a me aceitar do jeito que eu sou também.

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rafael ciscati


christiane silva pinto


vivian de souza


karen pompeo


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Vivian de Souza

Karen Pompeo

O que é beleza pra você? É muito difícil né? Beleza é uma coisa que vai além do físico, e tem muito a ver com o que tô sentindo naquele momento dentro de mim. Talvez o que é sincero. Quando é mais sincero, é mais bonito. Seja a pessoa que está carregada de maquiagem sinceramente, a pessoa que não. A pessoa que fala uma grande merda sinceramente, porque ela acredita naquilo, ou a pessoa que para pra pensar. Acho que o sincero costuma ser bonito.

O que é beleza pra você? Beleza é tudo que a gente acha bonito, né? Pode ser qualquer coisa, não precisa ser bonito em si, mas se inspira, se toca a gente, é uma coisa bonita.

O que é mais bonito em você? Tenho sérios problemas de autoestima, então é difícil. Fisicamente falando, acho que é o cabelo, porque é uma coisa muito comentada. Mas é um processo engraçado falar disso, porque o que sempre foi elogiado foi o cabelo e eu tô raspando. Acho que é justamente uma busca por uma outra beleza. Ou talvez não, mas redefinir isso, nem que seja pra voltar pra uma escolha de “eu gosto mesmo do meu cabelo”.

O que é beleza pra você? Beleza eu acho que são as pessoas boas de coração, que fazem caridade, têm paz, paz com Deus e com todos.

O que é mais bonito em você? Eu gosto do meu cabelo, apesar dele ser meio rebelde, e eu tentar mudar! Mas no meu interior, de personalidade, acho bonito tentar não levar tudo tão à sério.

Santa Modena Bordignon

O que é mais bonito em você? O que eu achei mais bonito na minha vida foi o dia em que eu me casei. E quando eu tive meus filhos ao meu lado, nenenzinhos, adorei bastante também.

juno // julho de 2014


santa modena bordignon


UM DIA NA VIDA Elas se chamam Vic, Aline e Ana. Estão na faculdade, sofrem quando chove e o trânsito fica difícil, querem ter um trabalho legal, economizam pra ir ao show da banda que amam – e que mudou a vida delas –, adoram sair com os amigos pra qualquer coisa que for, postam #selfies no Instagram e se acham bonitas. Mas também têm suas inseguranças, dias que acordam querendo não encontrar com ninguém. Elas são garotas como eu, você e a sua amiga. Vivem vidas como a minha, a sua e a daquela sua amiga. E tudo bem sonhar e desejar. Mas vale – e muito – enxergar a beleza e a graça que tá dentro da nossa própria realidade. por Stephanie Noelle e Lucas rodrigues edição de moda vanessa rossi fotos larissa felsen VIC Hollo | ANA Paula | ALINE Louise Agradecimentos Can Can Acessórios e Pink Vanilla Shop

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DE BONITAS Você provavelmente já ouviu a expressão “make de bonita”, mas que maquiagem é essa? Definitivamente não a mesma pra todo mundo. Convidamos três meninas diferentes: a Larissa, que é fotógrafa, a Helô, que tem um blog massa, o delarosa.com.br, e a Andreia, que é jornalista, pra mostrarem nas lentes do Felipe Abe, com a maquiagem do sensacional Marcos Costa, o que faz elas se sentirem bonitas, todo dia. E mais: qual a maquiagem que elas sempre quiseram usar, mas não tinha rolado a chance – ou a coragem. O resultado? Tá tudo aí, documentado e provado. Tudo com make de bonita. E cada uma do seu jeito. por Stephanie Noelle beleza marcos costa fotos felipe abe ILUSTRAÇÕES MARINA BOTTER larissa felsen | helô dela rosa | andreia tavares

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2.

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1. LASTING EYE LINER NA COR NAVY BLACK SEPHORA 2. BATOM GLITTER NA COR ROSALETE QUEM DISSE, BERENICE? 3. BLUSH COMPACTO NA COR DRACENA PHEBO

juno // julho de 2014




2. 1.

3. 1. SOMBRA TRIO MULTI EFEITO NA COR 3 NATURA 2. PÓ ILUMINADOR SHIMMER BLOC MOSAIC LAURA MERCIER 3. BATOM NA COR PALÊ DUDA MOLINOS MAKE UP

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4. 1. HIDRADANTE LABIAL HONEY COM VITAMINA E BURT’S BEES 2. DELINEADOR KAJAL NA COR AÇAÍ O BOTICÁRIO 3. SOMBRA COLOR TATTOO 24 HOUR NA COR PAINTED PURPLE MAYBELLINE 4. DUO BLUSH NA COR DESERT TAN SHINING IVORY CONTÉM1G

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Colunadavivi

QUER SER LINDA? PERGUNTE-ME COMO

Q

uando eu fiz 30 e poucos anos, uma bomba atômica de autodepreciação tomou conta do meu cérebro. Era como se todo o lixo que eu já havia lido sobre corpo, dietas, velhice, padrões e outras bobagens de revista tivesse ficado escondido em algum canto, esperando pra aparecer numa explosão de insatisfação. Ironicamente, os anos seguintes coincidiram com um período de “alta” da minha carreira. Conquistei um dos cargos mais cobiçados da minha área, passei a ganhar mais dinheiro, a atenção sobre meu trabalho ganhou força e repercussão. E isso só piorou as coisas, trouxe ainda mais cobranças. Nerd que sempre fui, cumpria todas as minhas obrigações, mas estava deprê. Passei a dormir mal, a comer mal, engordei e me sentia extremamente cansada e nervosa. De fora, todos me davam os parabéns, comentavam a minha grande sorte: cobrir desfiles em Nova York, Paris, entrevistar grandes nomes, ver coisas bonitas. É claro, todas essas coisas são ótimas. Mas, naquele momento, também traziam cargas negativas bem pesadas. O mundo da moda é um dos mais interessantes desdobramentos da cultura humana. Um prato

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complexo onde beleza e feiúra se misturam sobre o fogo da vaidade. De um lado, profissionais de altíssimo nível, exercícios de criatividade admiráveis, uma indústria bilionária e peças que fazem sonhar. Do outro, um mar de futilidades, guerrinhas de status e algumas das pessoas mais desagradáveis que já tive o desprazer de conhecer. Em tempos de crise pessoal,

é fácil ser desestabilizado pela crueldade dos fashionistas e pela capacidade da moda em se alimentar do desejo de aceitação. Imaginem quantas mulheres e homens passando por momentos complexos se sentem ainda piores ao ler o batalhão de bobagens e regras furadas que a maioria das revistas insiste em propagar? Um mundo onde Jennifer Lawrence é “gordinha” e Lara Sto-

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ARTE bárbara carneiro

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ne é plus size? Um mundo onde revistas pra mulheres de 40, 50 anos, tem capas com gatinhas de 20 e poucos? Um mundo onde a bolsa must have custa um, dois, três meses de salário da maioria das leitoras? Um mundo insosso e sem vida, onde as casas parecem estar sempre arrumadas, os filhos sempre limpos, as unhas sempre feitas, as olheiras sempre apagadas? Não sei se o diabo veste Prada (o que seria de muito bom gosto), mas isso parece mesmo uma descrição do inferno. Felizmente, eu me libertei a tempo. Não deixei de gostar nem de escrever sobre moda. Mas aceitei que, se fosse pra falar sobre o tema, seria do meu jeito. Determinei que não seria escrava dos eventos, nem me preocuparia tanto por não estar sempre atrás das roupas, das compras, dos jabás do momento. Eu poderia ser um outro tipo de editora, um outro tipo de colunista, de crítica de moda. Sei que epifanias em Paris são um clichê, mas num dia nublado, andando sozinha por um endereço comum, depois de comprar pão, frios e chocolate pra fazer um lanche no hotel, vi um menino ouvindo música no fone de ouvido e cantando. Ele era bonito de um jeito sem alarde, estava com um casaco velho e bacana, tênis gastos, cabelo arrumado de um jeito bom. E cantando. Era o tipo de cena que os anúncios de moda atuais, a maioria deles tão forçados, montados e cafonas, tentam desesperadamente reproduzir. A vida real pode ser muito cool. Depois disso, encontrei um dos meus melhores amigos pra um desfile. E rimos da pose e da

cafonice de muitos convidados que estavam ali. Depois jantamos num lugar barato, rimos, falamos besteiras e coisas inteligentes. Voltei a pé pro meu hotelzinho sem estrelas, me sentindo bem. No elevador, todo bagunçado de vento, achei que meu cabelo estava ótimo. De volta a São Paulo, nos meses seguintes, rolaram muitas mudanças. Algumas foram extremamente difíceis. Voltei a dormir mal, quase parei de comer, emagreci por total falta de ânimo, falta de apetite de vida. E fiquei muito, muito sozinha. Mas, felizmente, não me apeguei ao drama. Me livrei de falsos amigos, abracei os verdadeiros. Fiquei muito em casa, dei metade do meu guarda-roupas, pensei na vida, nas coisas que realmente importavam. E quando voltei a sair, o efeito da bomba atômica havia passado. Foi um processo de anos, mas valeu a pena. É bom se dar bem com a sua cara de manhã, vestir suas coisas sem nóia, se divertir sem pensar no penteado, no sapato, assinar suas ideias sem medo, aprender a ignorar o coleguinha venenoso que tira uma com a sua cara pelas costas porque não vê o próprio ridículo. O tempo passou, mudei de casa, de cidade, de trabalho, casei e minha primeira filha acaba de nascer. Engordei com gosto, nem pouco nem muito, amei cada segundo da minha barriga (até quando ela parecia mais um travesseiro velho embaixo da roupa) e estou aberta pra todas as outras mudanças que virão. Olhe para os lados, você não está sozinha. Livre-se dos filhotes de fashionista esnobe que atravessarem o seu caminho,

dos venenosos, dos vampiros de atenção e dos puxa-sacos interesseiros. Não custa muito, geralmente eles são como fantasmas bobocas, basta atravessá-los sem dar muita atenção. Lembre-se de que a vida é sua e está passando agora, o tempo todo. Não tenha pressa, mas não perca tempo. Saiba que você não é nova nem velha, esses adjetivos são bons pra objetos. Você tem a sua idade, que ela seja bem vivida. Divirta-se com suas roupas, suas montações, suas coisas. Não seja o tipo de babaca que acha que precisa estar maravilhosa todos os dias. Escolha coisas que te sirvam, não coisas que você gostaria que te servissem e caíssem como no corpo da Gisele Bündchen. E o mais importante: encontre a sua turma. Tudo fica mais bacana com a companhia certa. Meu time não é o das fashionistas tresloucadas nem o das bonitas, “bem-nascidas” e sofisticadas. É o das lyndas. As lyndas vêm em todos os formatos, idades, estados civis, carteiras, cores e picumãs. Se divertem até na barraca de cachorro quente. Têm problemas e alegrias reais, gostam de comprar, mas também sabem pagar conta de água e aluguel. Acham legal ter uma bolsa boa, mas não se enterram no cartão de crédito e não têm vergonha de andar com sacola de loja popular. Não se escondem na praia, na rua, na chuva ou na fazenda. Ah, os traumas, as pequenas e grandes gorduras, o frizz, a pele ressecada. Arrume um produtinho amigo, faça o que der, e depois deixe isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? Entre para o time das lyndas você também.

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por Michelli Provensi

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obrigada... ... Mãe! Por ter me ensinado desde pequenininha que eu podia conquistar todos os meus sonhos. E esse é o maior deles até agora! Sem você, nem USP, nem Jornalismo, e muito menos Juno seriam reais. Obrigada por ter me ensinado a acreditar em mim mesma. ... Mayra Rodrigues, por ter aceitado orientar esse projeto e, melhor de tudo, ter me apoiado quando eu tive a ideia maluca de começar de novo. E por ter sido uma professora incrível – que cita Harry Potter nas aulas! ...Lucas Rodrigues, por fazer esse projeto virar realidade nas páginas. Se ficou lindo de morrer (e ficou!), a culpa é sua! Muito, muito obrigada por ter entrado nessa comigo – e ter perdido as suas noites de sono <3 ... Bárbara Carneiro, por ser a gênia que é e pirar nas mesmas ideias que eu. Obrigada por ter feito fotos lindas, textos incríveis e dado palpites providenciais. Ser sua amiga faz essa jornada doida chamada vida muito mais maravilhosa <3 ... Larissa Felsen, que acreditou na Juno desde quando ela nem tinha nome e dividiu com a gente toda a sua poesia fotográfica. ... André Rodrigues, por ter sido o professor da vida real mais incrível com quem eu já tive o prazer de trabalhar e ter me ensinado (e ainda me ensinar) grande parte do que eu sei. ... Luigi Torre, por ser o jornalista que mais me inspirou até hoje – e ter me ensinado a andar de salto alto! ... Erika Palomino, por ter me aberto tantas portas incríveis e me ensinado outras tantas coisas igualmente incríveis; ... Helô Dela Rosa, Ana Paula de Souza, Vic Hollo, Aline Louise, Andreia Tavares, Vivian de Souza, Tamara Gomes, Karen Pompeo, Christiane Silva Pinto, Vânia Goy, Joanna Moura, Luiza Brasil e minha avó, Dona Santa, por terem aceitado serem fotografadas e embelezar muito mais essas páginas aqui. .... Rafael Ciscati, Ana Pinho, Juliana de Faria, Nuta Vasconcellos, Carol Guido, Romeu Silveira, Vanessa Rossi, Raoni Marqs, Marina Botter, Aline Jorge, Kelsen Fernandes, Carolina Vianna e Micheli Provensi, por terem compartilhado seus talentos escrevendo, fazendo styling, ilustrando e fotografando com tanto amor e boa vontade. ... Fabi Gomes e Vanessa Rozan, por terem topado estar nessas páginas e proporcionado uma das melhores conversas dos últimos tempos – e me inspirem todos os dias com o trabalho de vocês. ... Adelaide Ivanova, Ana Luiza McLaren, Bela Gil, Tatiana Feltrin, Bruna Tavares e Beca Brait, por terem feito parte da Juno com entrevistas ótimas e depoimentos deliciosos; ... Vivi Whiteman e Jana Rosa, por serem essas mulheres incríveis e compartilharem isso comigo e com todo mundo que ler. ... David Bitencourt, por ser quem você é desde o começo e me amar por eu ser quem eu sou. E por todo o apoio incondicional nesses anos todos de ECA, por vibrar comigo a cada conquista e cada ideia maluca (tipo essa!) e nunca me deixar afundar. ... Pai, por ter me ensinado a ser forte e a trabalhar duro, desde pequenininha. ... Mônica Salgado, chefe especial, pela inspiração e compreensão com todos os pedidos de “é pelo TCC!”. ... Fer, Carol, Marina, Karen, Matheus e Augusto, por serem amigos que me ensinam, me apoiam e acham que eu sou mó legal ;) ... Julia Petit, por ser uma amiga-quase-mãe e uma profissional sensacional que me inspira loucamente. ... Gente querida da vida, da internet, da profissão, da escola, que estão na minha vida ou já passaram por ela, e fizeram tudo ser mais especial. Vocês sabem quem são ;) ... Alice Cardoso Brandão, Anny Reded, Beatriz Coltri Ferreira, Bianca Bordignon, Carolina Cardoso, Danielly Bucci, Gabi Barbosa, Gabriela Neves, Gabriela Oliveira, Gabriele Sousa, Hannah Hebron, Julia Viana, Juliana Boechat, Juliana Hamabata, Kamilla Silva, Kassandra Lopes, Letícia Amorim, Manu Alves, Pamela Jacobus, Sofia Soares, Tabata Tezza, Taís Lisboa Garcia, Thais Archanjo, Trícia Borgmann Lorenzi, Victoria Schara e a todas as suas amigas, por mandarem suas fotos lindas pra ilustrar a matéria “mulheres que se amam”. E a todas as outras mulheres muito especiais que mandaram suas fotos também <3 ... a todas as leitoras do Chez Noelle, por serem tão sensacionais e me inspirarem tanto. Essa revista também é pra vocês.

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