LIFE Saramugo - Boletim Informativo n.º3 - Especial Ações C, junho 2019

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www.lifesaramugo.lpn.pt BOLETIM INFORMATIVO | EDIÇÃO ESPECIAL | junho 2019 PROJETO LIFE SARAMUGO

NESTA EDIÇÃO

Ações concretas de conservação do Projeto no habitat

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Uma das Ações preparatórias do LIFE Saramugo foi a avaliação da área de distribuição e a situação atual do saramugo, ao nível da bacia nacional do Guadiana, com o levantamento e identificação de ameaças à sua conservação. Entre estas conta-se: a expansão de espécies piscícolas exóticas; a poluição; a destruição da vegetação ribeirinha entre outras. Este trabalho foi determinante para assegurar a eficácia das Ações de conservação a ocorrerem, no âmbito do Projeto, no habitat do saramugo. A identificação das ameaças levou à procura de soluções e medidas adequadas à sua minimização. Essas medidas são agora apresentadas neste boletim informativo, inteiramente dedicado às Ações de gestão concreta de habitat realizadas pelo Projeto no terreno. Espera-se que a médio-longo prazo todas estas intervenções se traduzam numa melhoria do habitat ribeirinho e consequentemente na melhoria da situação populacional do saramugo e demais espécies autóctones da rede hidrográfica do rio Guadiana.

Os Guardiões do Saramugo

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1. Ações concretas de conservação do Projeto no habitat 2. Os Guardiões do Saramugo Medidas de minimização do impacte do gado nas linhas de água 3. Melhoria da vegetação ribeirinha 4. Limitação do acesso de animais à linha de água Reabilitação do meio aquático e requalificação hidromorfológica 5. Desassoreamento e erradicação de canavial no SIC Guadiana 6. Requalificação do leito e taludes no SIC Moura/Barrancos

Criada no âmbito do Projeto LIFE Saramugo e de adesão voluntária, a Rede de Custódia para a conservação do saramugo em Portugal, conta já com 1 Câmara Municipal, 2 Juntas de Freguesia, 1 entidade pública regional, 2 Agrupamentos de Escolas, 1 Escola Profissional, 2 empresas, 5 proprietários rurais, e 30 cidadãos. A partilha de conteúdos nas Redes Sociais, a implementação e disseminação de boas práticas favoráveis à conservação do saramugo, passando pelo voluntariado ou a divulgação de materiais de comunicação, são alguns exemplos de como qualquer pessoa ou entidade pode tornar-se num Guardião do Saramugo.

7. Instalados dispositivos de demonstração de retenção de peixes exóticos

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Junte-se a nós! Juntos conseguimos dar uma voz ao saramugo! Mais informações e formulário de adesão aqui: https://lifesaramugo.lpn.pt/pt/acao-c6

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Melhoria da vegetação ribeirinha

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A destruição da vegetação ribeirinha por pisoteio e pastoreio, pela presença de gado junto às linhas de água, foi identificada como uma das ameaças à conservação do saramugo. Este tipo de destruição diminui o grau de ensombramento dos cursos de água, com consequências ao nível da temperatura e oxigenação da água. Há ainda um aumento da evaporação da água, problema que se agrava no estio (verão) altura em que as ribeiras ficam reduzidas a pegos, assim como falta de alimento e de abrigos adequados à fauna piscícola. Este tipo de pressão e danos foram maioritariamente verificados na ribeira do Murtigão, no SIC Moura/Barrancos. Um dos locais identificados como tendo uma maior degradação e, até mesmo, ausência de vegetação nas margens, devido à ação do gado, foi um troço da ribeira do Murtigão que confina com a herdade da Coutada dos Frades. A intervenção neste local passou assim pela recuperação da vegetação em cerca de 550m de margem, a qual ocorreu na primavera de 2018 e compreendeu a plantação e estacaria de 449 árvores e arbustos autóctones, como freixos, salgueiros, tamargueiras, roseiras-bravas, tamujos e loendros. Para além disso, foram ainda instaladas 2 passagens canadianas para impedir o livre acesso de gado à linha de água. Outro dos locais, onde a galeria ribeirinha era deficitária e se entreviu, foi o Baldio do Rabo do Coelho (a jusante da Coutada dos Frades). Aqui foram colocados no outono de 2018 um total de 209 espécimes de plantas ribeirinhas ao longo de 288m da margem esquerda da ribeira.

Plantações Coutada dos Frades

Pormenor loendro plantado

Passagem canadiana na Coutada

Para garantir o sucesso de todas as ações de melhoramento do coberto vegetal, realizadas pelo projeto, as plantas enraizadas foram fornecidas pelo parceiro ICNF (que recolheu previamente sementes e estacas para obter plantas de origem local), e as estacas foram obtidas nos locais das intervenções. Foram também colocados protetores metálicos em todos os espécimes de modo a evitar danos por animais (sobretudo selvagens) e garantidas regas periódicas, em especial, nos meses mais quentes do ano. Plantações no Rabo do Coelho

Limitação do acesso de animais à linha de água

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A presença e abeberamento direto de animais de grande porte (gado e fauna silvestre) nas ribeiras têm um efeito negativo na qualidade da água, sobretudo em contexto de pegos (no verão), pela deposição de excrementos, e quantidade deste recurso. Um dos locais referenciados pelo LIFE Saramugo, onde esta pressão era mais evidente, foi também na ribeira do Murtigão, num pego existente no troço que atravessa a Herdade da Contenda. Por forma a evitar o abeberamento de animais naquele local, foi construída, em novembro de 2018, uma barragem de aterro, como ponto de água alternativo e o acesso ao pego será limitado, na altura do estio, com recurso a uma vedação elétrica amovível. Foram também plantados 206 espécimes vegetais autóctones entre estacaria e plantas enraizadas, para reforçar o coberto vegetal e para no futuro o ensombramento sobre o pego ser maior e dessa forma diminuir a evaporação da água.

Durante a intervenção

Barragem na cota máxima

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Desassoreamento e erradicação de canavial no SIC Guadiana

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A perda da integridade das margens, pela erosão ou expansão de vegetação exótica invasora e a sedimentação do leito foram outros fatores identificados que diminuem as condições de adequabilidade do habitat para a espécie. O assoreamento, sobretudo de pegos, e a presença de grandes canaviais é particularmente evidente no SIC Guadiana, onde se efetuou uma Apoio reabilitação do meio aquático e margens. Foi em outubro de 2016 que se realizou, na ribeira do Vascão, o desassoreamento do pego de Cerro das Relíquias, com a remoção de 1.050m3 de sedimentos do leito, por forma a aumentar a quantidade e qualidade da água disponível no verão naquele local. Dado que a margem direita do pego registava ausência de coberto vegetal e na margem esquerda existia uma grande mancha de canavial (Arundo donax), entre 2018 e 2019, realizou-se uma ação de recuperação da galeria ribeirinha.

Antes da intervenção

Após a intervenção

Manta orgânica colocada

Os trabalhos deram-se em 3 fases. A 1ª consistiu no corte e remoção (com extração de rizomas) de cerca de 100m lineares de canavial, seguidos de recobrimento da área (aproximadamente 1.000m2) com uma manta orgânica de base opaca para minimizar a erosão no talude intervencionado e impedir o ressurgimento de canas. Numa 2ª fase estabilizou-se o talude recorrendo a três técnicas de engenharia natural (biorolo, entrançado de varas de salgueiros e muro vivo), ilustradas nas imagens que se seguem.

Por fim, entre plantas enraizadas (dos viveiros do ICNF) e estacaria, foram plantados, em ambas as margens, 252 exemplares de árvores e arbustos autóctones (como loendro, murta, tamujo, tamargueira, freixo e salgueiro). Esta intervenção, embora espaçada no tempo, teve uma visão holística dos problemas inicialmente detetados. A falta de água no verão fez com que o desassoreamento fosse indispensável e a ausência de margens ribeirinhas frondosas, que contribuíam para uma maior evaporação de água, levou à renaturalização da vegetação ribeirinha.

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Requalificação do leito e taludes no SIC Moura/Barrancos

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Por também apresentar problemas de integridade e adequabilidade do habitat para o saramugo, a ribeira de Safareja foi outro local onde se interveio. A intervenção abrangeu um troço com cerca de 600m, que atravessa a herdade da Arradinha, onde existe um pego com registos de ocorrência de saramugo e se verificava um elevado assoreamento do leito, uma grande erosão das margens e, com isso, um défice de vegetação ribeirinha. Com início em outubro de 2018, a obra deu-se em 3 fases. A 1ª fase consistiu no desassoreamento das áreas onde se verificava uma maior colmatação do leito tendo-se retirado cerca de 3.000m3 de sedimentos (finos e cascalho). Para aumentar o volume de água disponível, a primeira área intervencionada foi o pego onde era conhecida e ainda se regista a presença de saramugo. Seguiu-se o desassoreamento a montante por forma a salvaguardar perturbações no regime hidrológico nomeadamente no caudal e transporte de sedimentos, para zonas a jusante, nomeadamente para aquele pego. No decurso deste trabalho, os sedimentos retirados foram sendo utilizados no reperfilamento de taludes. Para sua estabilização, deu-se início à 2ª fase da obra, com a execução de cerca de 900m lineares de entrançado com ramos vivos de salgueiro, em ambas as margens. Foi ainda colocada uma manta orgânica numa das margens do pego dos saramugos, por ter solo mais desagregado, por forma a minimizar a erosão e perda superficial de sedimento do talude para o leito.

Antes do desassoreamento do pego da Arradinha, entre verdemãs, bogas e bordalos retiraram-se cerca de 4.500 saramugos. Foram todos devidamente salvaguardados num tanque e devolvidos ao pego assim que a intervenção terminou.

Seguiu-se a renaturalização da galeria ribeirinha em todo o troço intervencionado, com recurso a plantas autóctones enraizadas (loendro, murta, tamargueira e freixo) e estacaria de tamujo e roseira-brava. Esta 3ª fase iniciou-se com o arranque do último inverno, em pleno período vegetativo, tendo-se colocado 651 espécimes. Com o tempo esta vegetação irá reforçar a estabilidade das margens e aumentar o ensombramento do curso de água, além de aumentar a qualidade da água e promover abrigos para a fauna piscícola nativa. Para proteger o pego dos saramugos foi ainda instalada uma vedação na margem esquerda. Ao limitar o acesso do gado, esta medida vai favorecer a qualidade da água e o crescimento da vegetação já existente e dos espécimes plantados.

Abertura das covas

Plantação

Vedação permanente

Aspeto final da intervenção

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Instalados dispositivos de demonstração de retenção de peixes exóticos

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As espécies exóticas são as que não são originárias e nunca foram registadas como ocorrendo naturalmente num determinado local. Atualmente nos nossos rios existem inúmeras espécies piscícolas que foram introduzidas pelo homem, sobretudo para fins lúdicos. Por estarem mais adaptadas a águas paradas ocorrem em abundância em barragens e açudes, onde proliferam com sucesso. Quando há descargas destes sistemas, estas espécies passam para os cursos de água naturais, originando situações de competição (alimentar e espacial) ou mesmo predação sobre as posturas, juvenis ou adultos, de peixes nativos, colocando em causa a sua sobrevivência. Na bacia do rio Guadiana contam-se já 14 espécies de peixes exóticas (e.g. achigã, chanchito e perca-sol) comparativamente às 11 nativas que ali ocorrem naturalmente, sendo a sua proliferação uma séria ameaça à conservação das espécies autóctones. Uma forma de minimizar o impacte desta ameaça passa pela redução da quantidade de peixes exóticos nos cursos de água, sobretudo nos troços lóticos, procurando restringi-los às massas de água parada. Com o objetivo de demonstrar que é possível reduzir a passagem (o aporte) de espécies exóticas de sistemas lênticos artificiais, como são as barragens, para as linhas de água naturais, foram construídos na barragem do Tasnal (concelho de Loulé) e na barragem do Pessegueiro (concelho de Alcoutim) dispositivos de demonstração de retenção de peixes exóticos junto ou no descarregador de superfície de cada barragem.

Achigã (Micropterus salmoides)

Chanchito (Australoheors facetus)

Perca-sol (Lepomis gibbosus)

Dispositivo em grelha no Tasnal

Estes dispositivos atuam sempre que a cota das barragens suba acima do valor de armazenamento máximo, retendo exemplares de espécies exóticas que iriam passar para a linha de escorrência que conflui com a ribeira do Vascão e com isso colonizar aquele curso de água. Dependendo do sucesso desta medida, a mesma poderá ser replicada no futuro em outros locais, constituindo uma boa prática implementada por outras entidades no controlo da disseminação de espécies exóticas predadoras, invasoras e competidoras nos habitats fluviais naturais. FICHA TÉCNICA Comissão editorial: Natasha Silva e Sónia Fragoso Design: Make a Dream Maquetização: Natasha Silva Textos: Natasha Silva e Sónia Fragoso

PROJETO LIFE SARAMUGO Conservação do Saramugo (Anaecypris hispanica) na bacia do Guadiana (Portugal) LIFE13 NAT/PT/000786 CONTACTOS Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho. Herdade do Vale Gonçalinho, apartado 84. 7780-909 Castro Verde Tel. +351 286 328 309

Visite-nos em:

www.lifesaramugo.lpn.pt

Ilustrações: Marcos Oliveira Fotos: LPN

ou em /projetolifesaramugo

Edição: 2019

Tlm. +351 934 970 932

Distribuição digital

E-mail: lpn.cea-castroverde@lpn.pt

Beneficiário coordenador

Dispositivo em cesto no Pessegueiro

Beneficiários associados

Cofinanciador

Apoio

Financiamento comunitário

LIFE13 NA/PT/786 – Contribuição financeira do Programa LIFE da União Europeia a 50%


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