Torcida #2 (2011)

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EDITORIAL

Contra a turbulência, marchar, marchar. Vivemos aquela que é, talvez, a crise mais profunda do Sporting Clube de Portugal desde a sua fundação em 1906. Uma crise que se manifesta não só na vertente desportiva, onde os medíocres resultados e péssimas exibições do Futebol Profissional mancham a imagem do Sporting de Francisco Stromp, mas acima de tudo num desnorte interno e na destruição da Idêntica Verde e Branca. O barco parece andar à deriva, perante uma forte tempestade que não quer abrandar. Nestas alturas, os ratos são sempre os primeiros a fugir usem eles fato e gravata, sejam eles ídolos proveta inventados pelas pressões comerciais que ditam as regras do Futebol Negócio. Custa-nos a crer que o problema tenha surgido por artes mágicas, no decorrer do último ano e meio. As questões de fundo levam-nos a uma viagem mais longínqua, ao final da década de 90, inícios do novo milénio. A era das SAD’s, a transformação do Clube numa marca como a Coca-Cola ou o Mac Donalds, a destruição de modalidades como o Hóquei, Voleibol e Basquetebol e a entrega da formação juvenil a interesses parasitas ao Clube e o gigantesco fosso construído entre “notáveis” dirigentes e “estrelas” do futebol em relação aos Adeptos que vivem apaixonadamente o Sporting, são problemas de fundo que devem ser atacados. Internamente a Torcida Verde segue o seu percurso, coerente com aqueles que iniciaram a luta nos anos oitenta, na defesa do SCP1906. Estamos longe das passarelas e das câmaras televisivas. Não queremos protagonismo pelo protagonismo nem andamos aqui para nos promovermos à conta do Clube. Assumimos a nossa posição de cabeça erguida, estejam elas alinhadas ou não com os pensamentos dominantes. Somos Leões, não somos carneiros. Apesar das tempestades, internamente o mês de Janeiro fica marcado pelo lançamento do novo Website. Muitas foram as horas perdidas para tornar real este projecto. Um espaço em permanente construção que necessita da colaboração colectiva.

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Na Curva as coreografias há muito parecem “normais”, mas só são possíveis graças ao empenho voluntarioso daqueles que acreditam e fazem acontecer. Os ultras crescem na dialéctica da Luta, no trabalho em prol do Clube e afirmação do Grupo. Apesar das dificuldades impostas pelo intenso calendário futebolístico, agravado pelo caos reinante, não abdicamos do apoio a outras modalidades. Os Atletas (com A grande) do Futsal e do Andebol têm sentido a nossa presença e sabido reconhecer. No final de cada jogo, o “estranho” ritual de agradecimento reforça o sentido de Clube e alimenta a convicção de que ainda é possível ter o nosso Grande de volta.

EXIBIÇÃO CONSISTENTE Sporting 2 - Braga 1

Na última jornada da primeira volta da principal competição do futebol nacional, o Sporting recebeu e venceu o Sp. Braga com golos de Salomão e Valdés. O resultado foi construído no primeiro tempo, naquela que terá sido das exibições mais consistentes do onze de Paulo Sérgio, perante um opositor sempre complicado. Tratou-se de uma vitória capaz de potenciar motivações de adeptos e futebolistas, rumo a uma 2ª volta à altura das exigências do SCP. Neste importante jogo, a Torcida Verde preparou novo tifo que exigiu intenso labor na sua preparação e confecção. O resultado terá compensado todos os esforços em mais um momento alto do Grupo. Os ultras e simpatizantes que se juntaram no sector Tor Ver, foram embalados pela dinâmica da coreografia e pelos dois golos de “rajada” do onze Leonino.. Embalados pela dinâmica da coreografia e também pelos dois golos de “rajada” do onze Leonino. O apoio na Curva teve bons momentos, ainda que de forma intermitente.

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A HISTÓRIA NOS JULGARÁ Sporting 2 - Paços de Ferreira 3

A primeira jornada da 2ª volta da Liga de Futebol Profissional ficou assinalada por um inusitado desaire do onze leonino, no Estádio José Alvalade, com o Paços de Ferreira. Este desaire, em boa verdade teve o contributo (in)voluntário da equipe de arbitragem, o qual jamais poderá ser factor de desculpabilização dos profissionais, que no momento representam o futebol verde e branco. De forma inesperada, esta derrota da equipe de futebol é apontada como a principal razão para a fulminante renúncia de José Eduardo Bettencourt, algo que merece uma profunda reflexão na nação Sportinguista, num cenário em que os resultados da bola se apresentam como determinantes no rumo da Instituição. Uma situação semelhante ocorreu em 2005 com Dias da Cunha, agora com José Eduardo Bettencourt. Este trajecto, determinado pelas peripécias do Projecto Roquette, conduziu ao conceito tão redutor como perigoso denominado “clube do futebol”, no qual tudo parece estar dependente dos resultados do desporto rei. Uma reflexão que aponta para o futuro do SCP e dos seus futuros responsáveis que, no actual paradigma, estarão sempre dependentes da bola que entra, da que bate no poste e por aí fora. Na Torcida Verde, hoje como ontem, sempre lutámos pela preservação e pela identidade do SCP, ainda que em tantas e tantas vezes, com a sensação de “travessia no deserto”. Esta sensação agrava-se especialmente nos momentos das grandes conquistas do Futebol, em que evocar a identidade do SCP e valores como o Ecletismo, parece uma heresia.

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Ainda assim sempre lutámos pelas nossas convicções, com a força da nossa consciência, com a força dos nossos valores. Ainda assim sempre lutámos pelas nossas convicções, com a força da nossa consciência, com a força dos nossos valores. Foi com esta convicção, que vivemos esta dramática jornada para o Futebol, de consequências imprevisíveis para o futuro do SCP. Implementámos uma coreografia em que reafirmámos a convicção nas nossas posições, certos que o tempo determinará inapelávelmente o seu “juízo final “A história nos julgará” foi o grito que ecoou da nossa curva numa coreografia inesquecível para todos os militantes que trabalharam na sua construção. Referimo-nos à história do SCP que, sem falsos pretensiosismos ou excessiva modéstia, sabemos pertencer como adeptos intervenientes. Adeptos e apenas adeptos com a única ambição de sermos adeptos, assumindo deveres, lutando por direitos. O actual momento do nosso grande SCP exige tanta contenção na retórica como determinação na acção. Na Torcida Verde lutamos por estar à altura do momento. SCP1906, hoje e sempre!

ESCLARECEDORES 4 A 0 Sporting 4 - Penafiel 0

Depois do terramoto que se abateu sobre Alvalade com a derrota ante o Paços de Ferreira, o SCP recebeu em casa a equipa do Penafiel, em jogo a contar para a Taça da Liga. O início de partida não se revelou fácil. No entanto, a equipa leonina acabou por bater o onze do norte por uns esclarecedores 4-0, com os tentos a serem apontados por João Pereira, Liedson e pelo espanhol Zapater a bisar, com dois bons golos.

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Ansiamos, uma vez mais, que o plantel do SCP possa estabilizar definitivamente e partir para uma segunda metade de época bem mais condizente com os pergaminhos do Clube. Registamos que, embora os preços dos bilhetes fossem acessíveis, infelizmente foram poucos os leões que se deslocaram ao estádio. No entanto, o sector Tor Ver esteve muito bem composto, com cerca de 250 indefectíveis. Na entrada em campo das equipas foi aberto um pano que cobriu na íntegra o sector A-23, tendo sido ainda aberta a frase ULTRAS 1906.

DERROTA NA AMOREIRA Estoril 2 - Sporting 1

No último jogo desta fase da Taça da Liga, o Futebol Profissional do SCP deslocou-se à Amoreira para defrontar o Estoril. Infelizmente uma nova derrota do onze leonino flagelou os resistentes adeptos presentes no Estádio António Coimbra da Mota. Um golo madrugador do lateral Abel adormeceu o onze de Paulo Sérgio, que permitiu a viragem no marcador com um enorme contributo da equipe de arbitragem. O polémico lance que prejudicou a equipa verde e branca ocorreu na 2ª parte. O árbitro Cosme Machado assinalou uma grande penalidade por alegada falta de Tiago (que foi expulso) sobre Luís Leal. Com a passagem às meiasfinais praticamente garantida, a Torcida Verde mobilizou-se para nova jornada de apoio ao Ideal de Francisco Stromp.

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Num momento tão turbulento da vida do Sporting, a Torcida Verde reafirmou posições que de há muito escolhemos como bandeiras na vanguarda dos valores do nosso clube. O “tifo” inicial foi composto por 3 megaestandartes que retrataram a reverência, a subserviência e a cumplicidade com que a generalidade dos “notáveis” leoninos se relacionaram com os interesses que se foram instalando na Instituição. Os eminentes notáveis que operam na órbita do poder, estão invariavelmente com “a situação”, em caso de vitórias do Futebol, saltando fora do barco aquando dos insucessos. Estes são os maiores responsáveis pelo actual momento do nosso grande Clube.

São os mesmos que nos anos 80 defendiam o Ecletismo e o paradigma do “clube diferente” e depois em meados dos anos 90 aplaudiram o esvaziamento do modalidades amadoras, a edificação do megaprojecto imobiliário e pouco depois a sua alienação. Foram “Rochistas”, depois “Roquettistas” (haverá maior contradição?), “fiéis” de Dias da Cunha e num notável golpe de rins passaram a “apoiar” Soares Franco. Aclamaram José Eduardo Bettencourt com o “entusiasmo de sempre”, na verdade um entusiasmo “estratégico”. Nunca se assumiram como baluartes dos valores do SCP junto dos dirigentes, alguns dos quais apareceram no Clube sem qualquer vivência leonina, sem qualquer militância. Nesse contexto seria fundamental, a intervenção de referências da Instituição. O efémero consulado de José Eduardo Betencourt, denuncia as “fratricidas” lutas de bastidores que fragilizam qualquer projecto quando o Futebol não é vitorioso. Esta será a questão central. Qualquer futuro líder do SCP estará cada vez mais dependente da bola entrar. Se a bola não entrar, por muitas boas intenções que possa ter, os notáveis e candidatos a notáveis entram em cena. Tratem-se de ancestrais notáveis, ou daqueles que “intervêm” no admirável mundo virtual no conforto do seu sofá

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O “tifo” de intervenção da Amoreira denunciou esta verdadeira traição ao Ideal Leonino. O terceiro estandarte foi retratado com um leão “apunhalado”. A frase “A história os julgará” foi desta forma direccionada a estas proeminentes figuras e figurões que os militantes verde e brancos nunca encontram nas curvas, nem nos pavilhões.

No início do 2º tempo implementámos a 2ª parte do nosso “tifo”, com um novo megaestandarte onde estava retratado um “notável” com uma fisiologia muito própria e onde a boca está directamente ligada ao intestino grosso, “explicando” a maior parte das intervenções dessas personalidades. “Eu sou um notável” era o grito que ecoava deste megaestandarte.

LONGE DAS DISPUTAS

Apenas Adeptos!

No actual momento do Sporting Clube de Portugal, a Torcida Verde vem reafirmar que não irá envolver-se nas disputas pelo poder. O nosso Grupo luta com uma única ambição: honrar a nossa condição de Adeptos que aspiram a ser... apenas Adeptos! Hoje como ontem, a nossa acção centra-se na preservação e expansão do Ideal Leonino de Francisco Stromp, que tem na mobilização dos adeptos e no incentivo da militância, as nossas causas. A militância faz-se nas curvas dos Estádios e Pavilhões, com as bandeiras e estandartes no ar e as gargantas bem afinadas. Queremos aind a exortar os futuros intervenientes no contexto que se avizinha, a abordar o futuro do SCP como Instituição com 104 anos de história. Esta seria uma abordagem valorizada se, para além dos megaprojectos em torno do Futebol, fossem clarificadas as posições em relação a temas como a edificação de um Pavilhão e o futuro das modalidades, assim como relativamente à mobilização e fidelização dos adeptos. Exposto isto, a Torcida Verde informa que não estará vinculada a qualquer candidatura ou posições tomadas fora dos canais oficias www.torcidaverde.pt, www.facebook.com/torcidaverde ou http://twitter.com/torcidaverde.

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ESCLARECIMENTO Internet e os canais virtuais

O mundo virtual da Internet e dos canais de conversação apresenta novos desafios e problemáticas, algumas delas contraditórias. A Torcida Verde só reconhece como posições da sua responsabilidade, aquelas reproduzidas exclusivamente no Website oficial www.torcidaverde. pt, ou nas páginas das redes sociais facebook.com/torcidaverde e twitter. com/torcidaverde. As intervenções fora destes espaços virtuais, ainda que “virtualmente” feitas em nosso nome, jamais terão qualquer legitimidade e não vinculam nem tão-pouco responsabilizam o Grupo pelo teor das mesmas.

NOVO WEBSITE ONLINE

Comunicado

Quando no final dos anos 90 iniciámos a nossa aventura na “Web” estávamos a anos-luz de imaginar que volvida mais de uma década a Internet assumiria na vida da população mundial um papel tão fundamental que todos hoje lhe reconhecemos. De facto, seria impossível conceber o Sec. XXI sem Internet.

Neste contexto, o novo Website da Torcida Verde – criado no âmbito 26º aniversário - é um passo em frente em relação aos que lhe antecederam. Trata-se de uma ferramenta com outra agilidade que nos permitirá publicar as actividades em que o grupo se encontra envolvido num mais curto espaço de tempo, para além de ter uma imagem/grafismo que espelha fielmente o que é a Torcida Verde. Paralelamente, encontra-se dotado de pequenas (grandes) valências que permitem ao leitor extrair todo o potencial que 26 anos de história têm para oferecer. Naturalmente, está em causa um órgão informativo de construção e em construção, pelo que está longe de estar acabado. Seria uma tarefa virtualmente impossível, porquanto bastasse que qualquer um dos milhares sportinguistas que construíram na historia da Torcida Verde, pretendesse publicar uma imagem da Curva, ou um qualquer episódio que tenha participado.

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De todo modo, “comprometemo-nos” junto de todos aqueles que admiram a Torcida Verde a, paulatinamente, completar o site, com mais conteúdos, mais informação, mais fotografias e vídeos, etc. Neste âmbito importa registar igualmente a dinâmica que a página do Facebook (facebook.com/torcidaverde) têm conhecido, a qual conta já com mais de três milhares de “seguidores”. Frise-se que, quer o site, quer a página do Facebook, têm um papel meramente acessório em relação à actividade da Torcida Verde que é verdadeiramente realizada no “terreno”, no apoio incondicional ao Sporting Clube de Portugal, que os 26 anos de fidelidade ininterrupta são disso cabal exemplo. Reforçamos assim, que pese a importância (relativa) que atribuímos à “rede”, privilegiamos a acção nos estádios e nos pavilhões, habitat natural dos verdadeiros e genuínos sportinguistas praticantes.

Eusebio - ícone do regime

O ícone do regime, hoje como ontem RTP, como uma sucursal do “canal benfica”

No dia 25 de Janeiro de 2011, quase 37 anos decorridos sobre o 25 de Abril, os cidadãos contribuintes para a estação estatal RTP, foram brindados com um espectáculo de evocação de um dos mais destacados ícones do antigo regime - Eusébio da Silva Ferreira.O ex-jogador festejou o seu aniversário que coincidiu com os 50 anos da sua chegada a Portugal oriundo de Moçambique Não pretendemos fazer apreciações pessoais relativas ao cidadão Eusébio, até porque tal poderia ser aproveitado para tiradas de teor racista. Eusébio, hoje como ontem, é usado como uma valiosa “marca” para atingir objectivos bem concretos, pelo que se torna importante denunciar uma operação de marketing de exaltação do clube mais representativo da freguesia de Benfica, ao melhor estilo de qualquer regime totalitário que constrói e usa os seus ídolos.

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A originalidade desse degradante espectáculo de exaltação clubista, ganhou maior expressão por ser transmitido em canal aberto pelo canal benfica, que parece ter requisitado os meios da RTP para concretizar os seus objectivos. A RTP, canal público de televisão integralmente financiado pelo Estado, pelos cidadãos contribuintes de todos os clubes, continua ao serviço dos poderes instituídos. Este é um tema politicamente incorrecto, pela grande visibilidade e popularidade do homenageado. Por isso, é de difícil abordagem pelos partidos políticos que tantas e tantas vezes se queixam de “asfixia democrática” ou de “governamentalização da televisão estatal”. Dos representantes partidários seria utópico esperar um pingo de coerência que os levasse a denunciar esta degradante manifestação de exaltação clubista, porque na verdade tal significaria mexer com o mito do ”clube dos 6 milhões”. Isso poderia significar comprometer a imagem eleitoral junto da turba benfiquista. Dos dirigentes do Sporting deveríamos esperar uma pronta intervenção, uma vez que se tratou de um espectáculo de exaltação encarnada sob a capa de um ícone do Futebol onde nunca faltaram as camisolas, os cachecóis assim como referências “fundamentalistas”, repetidas à exaustão, ao clube da 2ª Circular. Se Bin Laden pensar em avançar com um canal televisivo, por certo terá neste programa um modelo de referência. Goebels estaria por certo orgulhoso destes seus aprendizes se assistisse a tal encenação propagandista. Tiradas como “Eusébio chegou a Portugal à 50 anos e nunca mais deixou de nos dar alegrias”, iniciou um chorrilho de intervenções que revelaram um total despudor em relação aos adeptos de outras cores, que ainda tiveram que levar com os golos de Eusébio às suas cores, repetidos à exaustão. Esse total despudor revelaria um “facto” que ridiculariza o homenageado e por certo reescreve o seu percurso. Ficámos então a saber que o homenageado recusou sair de Portugal, numa manifestação de amor à camisola. Afinal foram falsas as inúmeras entrevistas, algumas das quais transmitidas pela RTP, onde o homenageado se lamentava, qual “calimero”, por Salazar, o ditador do antigo regime, ter proibido a sua transferência para o Inter de Em noite de festança foi uma tirada claramente programada para encher a alma dos telespectadores. Tornou-se ridículo querer branquear o facto histórico e indesmentível de o Benfica, no tempo do antigo regime, ter sido o clube “eleito”, uma bandeira que Salazar explorou tanto a nível interno como externo.

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Eusébio conquistaria a sua “carta de alforria” com o 25 de Abril, aproveitando para rumar à América do Norte, numa comovente manifestação de “amor à camisola”. Quando algum tempo depois regressou ao país que o adoptara anos antes, protagonizou novo episódio de “amor à camisola” ao escolher o Beira-Mar para terminar a sua carreira profissional. Ingenuamente poderíamos até afirmar que este espectáculo abriu um precedente. Depois deste “show off” seria de esperar que outras figuras do desporto e da cultura nacionais pudessem também ser homenageadas. Os eternos 5 Violinos, entre os quais Albano, o primeiro jogador seleccionado para a selecção da Europa de Futebol; António Lazaro, atleta que faleceu numas olimpíadas; Azevedo, reconhecidamente o melhor guarda-redes nacional; Joaquim Agostinho, o melhor ciclista nacional que atingiu uma dimensão mundial; Livramento, o melhor hoquista mundial de todos os tempos; Carlos Lopes, o primeiro português a conquistar o ouro olímpico e Rosa Mota a primeira mulher a conquistar o ouro olímpico. Estas são referências nacionais e mundiais, suspeitamos que jamais irão merecer o tributo do “novo regime” agora manietado pelos “shares” de audiência. Este é um regime que também usa e manipula os seus ícones e para o qual desporto é igual a “futebolite”. Neste contexto o clube dos “6 milhões” é continuamente salvo, em nome dos “shares”. Foi assim em 1993 quando a Olivedesportos injectou uns milhões, salvando-o da insolvência. Foi assim em 2002 quando o governo de então presidido por um “sportinguista” limpou de forma escandalosa um colossal calote fiscal, para desespero do presidente de então do SCP. Foi assim aquando do Euro2004 com o criminoso financiamento estatal e camarário (CML liderada por um antigo presidente leonino) do novo Estádio da Luz, o qual dispensou grande parte dos requisitos impostos pela lei. Imperativos nacionais exigiram a cumplicidade generalizada do espectro partidário. Estes são alguns de muitos outros exemplos de afirmação do clube da freguesia de benfica como clube do regime, ou melhor clube do sistema. Nesse sentido, até poderemos considerar “normal” a necessidade do sistema potenciar a imagem do “clube dos 6 milhões”. Sim, até é possível que sejam 6 milhões num país no topo da Europa em rankings como a taxa de analfabetos, de violência doméstica, de acidentes de viação, na taxa de tuberculose. Um país que está no topo da Europa no que diz respeito à “aceitação popular” da corrupção como um expediente para ascensão social ou económica.

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Neste contexto este foi um previsível espectáculo de exaltação do “clube dos 6 milhões” pelo sistema, ávido em potenciar o seu “mercado”. Nesta noite de exaltação do ícone do antigo regime, houve ainda lugar para a surpresa da noite quando Artur Agostinho, figura da comunicação, teve um inusitado protagonismo. O mítico actor do eterno filme “Leão da Estrela” também interviu na qualidade de amigo do homenageado. Até aqui, os adeptos leoninos não teriam exagerados motivos para a perplexidade. Quando Artur Agostinho aborda a polémica transferência do homenageado da antiga filial do SCP, para o seu futuro clube de forma leviana, quase grotesca, branqueando a realidade dos factos e para além disso afirmou a viva voz “festejei os seus golos como os do meu clube” a estupefacção deu lugar à indignação. Na qualidade de amigo do homenageado, de Artur Agostinho esperava-se o bom senso de manter a instituição SCP fora daquele circo. De um antigo director do Jornal do SCP, esperava-se que não permitisse a manipulação do bom nome do nosso Clube naquela manifestação primária de clubismo. Ao contrário, permitiu dar um “ar de falso pluralismo” aquela exaltação fundamentalista. Para muitos adeptos leoninos o radialista não conseguiu resistir ao glamour das luzes da ribalta, nem a associar-se à mitologia do antigo regime transmitindo uma imagem de reverência. Este episódio ganha maior dimensão se pensarmos que ainda semanas antes, Artur Agostinho havia sido agraciado pelo Presidente da Republica, numa cerimónia que contou com a presença do presidente do Conselho Directivo e da Assembleia-geral do SCP, para além de outras figuras institucionais, em sinal de reconhecimento para com o radialista e antigo director do Jornal do Clube. Poucos dias depois Artur Agostinho participaria numa outra cerimónia de homenagem de um seu grande amigo e de exaltação clubista do clube dos “6 milhões”, assim como diversos outros eminentes “notáveis leoninos” que não conseguem resistir às luzes da ribalta.

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Mix ultrรก - Velho Estรกdio

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