Entrevista Cris Guerra

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Entrevista com

CRIS GUERRA “Não imaginava nunca essa repercussão, nem que estava criando algo tão pioneiro ou original”.

“Gostava de algumas produções que eu fazia para o trabalho e fotografá-las era uma forma de não perdê-las”.

“Uma ideia absurdamente simples e, por isso mesmo, impactante”.


CRIS GUERRA Ela tem 42 anos, é muito simpática e tem humor contagiante. Sua rotina é super atarefada, afinal tem uma coluna na Band News BH, escreve crônicas quinzenais para Veja BH, é modelo uma vez por dia no seu blog Hoje Vou Assim e as vezes posa de modelo profissional. Já fez campanhas para Luiza Barcelos, Iódice, Renner e H. Stern. É publicitária e escreve em mais dois outros blogs amor e ponto e Cartas para Francisco (que virou livro) tem diversas outras atividades, além de mãe.

fazer o Hoje vou assim? Imaginava ter esta repercussão toda?

Defina Cris Guerra.

Uma pessoa de 42 anos, dentro da qual convivem uma menina tímida, uma jovem modelo querendo espaço na passarela, um homem de negócios, uma comediante frustrada, uma mãe apaixonada, uma mulher que acredita no amor e uma dona de casa exausta.

Quando e como começou sua relação com a moda? Começou

ainda

quando minha mãe me levava à feira Hippie pra comprar roupinhas pra minha Susi. Mas só comecei a tomar consciência disso quando fui trabalhar como redatora publicitária. Aí é que a moda aflorou em mim, pois comecei a ter acesso a melhores referências estéticas e comecei o longo processo de descoberta do meu estilo.

criança, Como surgiu a idéia de

Foi um impulso, algo sobre o que não cheguei a refletir nem por cinco minutos. Provavelmente já existia em mim a vontade de registrar os looks, como forma de eternizá-los. Eu gostava de algumas produções que eu fazia para o trabalho e fotografá-las era uma forma de não perdê-las. Mas o dia que resolvi fazer isso foi um impulso mesmo, como tudo o que eu faço de mais importante na vida. Não conhecia nada parecido e nem tinha os olhos voltados para fora. Eu estava vivendo um momento muito peculiar na minha vida particular, tentando me acostumar à falta do pai do meu filho, falecido dois meses antes de ele nascer. Acho que sem querer o blog também foi uma válvula de escape, uma terapia da alegria, algo para olhar para frente e não ficar cultuando o passado. Não imaginava nunca essa repercussão, nem que estava criando algo tão pioneiro ou original. Uma ideia absurdamente simples e, por isso mesmo, impactante.


Você foi a primeira a ter um blog com looks diários no Brasil e hoje blogs de looks do dia se multiplicaram na internet. Qual é a sua opinião em relação isso? Eu sinto um certo orgulho de ter sido a primeira, como se tivesse, de certa forma, autorizado as outras pessoas a fazer mesmo. É como se já houvesse um desejo latente em cada um, que precisou de uma primeira pessoa dar o exemplo para dar vazão a ele. Acho que a moda trabalha dessa forma: com as permissões. Precisamos do exemplo ou da inspiração

Acredito que o grande lance dos blogs é justamente revelar pessoas reais que, por serem de carne e osso, são imagens com as quais o público em geral pode se identificar com mais facilidade. do outro para dar o primeiro passo. E se eu admiro muitas das pessoas que para mim são referência, é gostoso ter sido referência para outras. Por outro lado, acho que o excesso de blogs de looks diários levou a uma deturpação do principal diferencial dos blogs, que é a vida

real, a espontaneidade. Vivemos um tempo em que algumas blogueiras de grande poder aquisitivo são as novas musas das adolescentes. Não existe aí uma crítica ou uma fala pejorativa. Apenas acredito que o grande lance dos blogs é justamente revelar pessoas reais que, por serem de carne e osso, são imagens com as quais o público em geral pode se identificar com mais facilidade. E se acontece um excesso de glamurização também em alguns blogs, eles acabam por inverter novamente a lógica, provocando o inverso

do que os blogs trouxeram e estimulando falsas posturas.

Na sua opinião a moda existe para uniformizar as pessoas? Comente.

Muito pelo contrário. O conceito da palavra moda é, de certa forma, uniformizante. Porque a moda é a manifestação cultural que retrata um tempo, uma forma de vida de um grupo de pessoas. Mas o que passamos a chamar de moda é o vestuário de uma forma geral. Moda é oferta, como diz a Glória Kalil. Estilo é escolha. E estilo é o contrário de uniformização.


Moda existe para nos oferecer muitas escolhas e para que, com essa possibilidade de escolha ampliada, possamos nos encontrar e nos individualizar dentro dela. Nesse sentido, a moda existe para nos oferecer muitas escolhas e para que, com essa possibilidade de escolha ampliada, possamos nos encontrar e nos individualizar dentro dela. Moda é identidade, por esse ponto de vista. Depende de como a pessoa recebe. Existem os que seguem a moda e os que fazem a moda. Eu prefiro ser desse segundo grupo e convido as pessoas a se juntarem a mim.

Paraíba. Acompanho e cubro várias semanas de moda brasileiras. Apoio a moda brasileira acima de tudo, principalmente a moda mineira, de todas as formas possíveis. Estou com os dois pés no segmento. E a minha experiência de vinte anos como redatora publicitária só me ajuda nisso tudo.

Você tem tatuagens por todo o corpo. Acredita que elas também te vestem de alguma forma? Quais são seus projetos Considera que elas são em relação à moda atual- um acessório? mente? Acho que elas me vestem Estou escrevendo um livro sobre moda, mas não posso falar detalhes sobre esse projeto. Tenho uma coluna de rádio composta de pílulas de dois minutos sobre o assunto, veiculada em Belo Horizonte e em João Pessoa,

sim. Mas eu não paro pra pensar nelas, porque tatuagens passam a fazer parte da gente, passam a nos integrar, e desse modo acabamos nos esquecendo delas. Então eu não as considero mais um acessório. Houve um tempo

em que eu as considerava assim, e nas primeiras postagens do blog isso fica bem visível. Eu não usava maquiagem, brincos, anéis, colares. Quase não usava nada. Achava que as tatuagens eram suficientes. Hoje, percebo que elas são parte de mim e os acessórios são sempre muito bem-vindos. Não tem mais essa de usar uma roupa para combinar com a tattoo.

Se pudesse dar uma única dica de moda qual seria?

Nunca use a moda para parecer ser quem você não é, mas para gostar mais de ser quem você é. Outra dica, de brinde: toda produção precisa ter uma peça clássica que é a estrutura do look, o alicerce. Sem uma peça clássica, manjada, que deixa você segura, todo o resto fica ameaçado.



Diagramação: Letícia Nogueira


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