Revista Brasil Literando 4

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BRASIL

DISTOPIAS

Curiosidades sobre o gênero que dominou as livrarias e os cinemas

Entrevista com Bárbara Morais autora da trilogia Dissidentes

Edição 4 - Agosto de 2015 VENDA PROIBIDA Material feito com o apoio de voluntários. Brasil Literando - 1


BRASIL

EDITORIAL Num mundo cada vez mais compartilhado, onde opiniões repercurtem como um tiro, quase sempre ferindo alguém no caminho, cá estamos nós com nossa Revista sobre literatura. Demorou. Demorou demais. Nossa última edição foi publicada em meados de 2013, porém o que importa é que a espera acabou! E o que trouxemos de bom? Ela está mais com a sua cara, com cantinhos especiais para você, peça mais importante de todo esse mundo dos livros. Na matéria de capa vamos abordar o assunto que virou moda. Uma moda bem bacana, diga-se de passagem. Temos até uma entrevista super top. Vale conferir e matar a curiosidade! Falamos de capas pelo mundo, lançamentos, os mais vendidos e muito mais. Vem com a gente viajar por esse universo e não deixe de expressar sua opinião. Uma boa leitura, hoje e sempre para todos vocês.

SUMÁRIO

04

MAIS VENDIDOS

ESTANTE DO LEITOR

A Redação. CAPAS PELO MUNDO

2 - Agosto 2015

05 08


18 10

ENTREVISTA: BÁRBARA MORAIS

RESENHA DO LEITOR

22 24

MATÉRIA DE CAPA

DISTOPIAS EM GENÊROS

14

CONTOS DO LEITOR

Brasil Literando - 3


MAIS VENDIDOS

5

Philia Padre Marcelo Principium

Cidades de papel John Green Intrínseca

3

4

Floresta encantada Johanna Basford Sextante

Não se iluda, não Isabela Freitas Intrínseca

2

1

Philia Jardim secreto Padre Marcelo Johanna Basford Principium Sextante

Fonte: www.publishnews.com.br 4 - Agosto 2015


ESTANTE DO LEITOR

Estante do leitor

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Gaby Santos

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acĂĄ Adria

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RogĂŠrio H. Perei

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Mari Sco

Brasil Literando - 5


NICK HORNBY Companhia das Letras | 424 Páginas | R$ 44,90

O inocente

HARLAN COBEN Arqueiro | 336 Páginas | R$ 29,90

Dias de sangue e estrelas

LAINI TAYLOR Intrínseca | 448 Páginas | R$ 29,90

A garota do penhasco

LUCINDA RILEY Novo Conceito | 528 Páginas | R$ 34,90

A vingança veste Prada

LAUREN WEISBERGER Record | 448 Páginas | R$ 40,00

ÚLTIMOS LANÇAMENTOS

Funny girl

Fonte: www.publishnews.com.br 6 - Agosto Julho 2015 2015


DICA DICA DE DE LEITURA LEITURA Buscando novas aventuras, romances e fantasia no Wattpad? Confira quatro super dicas! Montanha da Lua, Mari Scotti

Com a Bola Toda, Nathália Novikovas

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Um Amor de Recomeço, Lívia Lorena

Violetas ao Vento, Jéssica de Paula

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Quer indicar uma história também? Envie para o e-mail liloflor@gmail.com Brasil Literando - 7


o d n u o m d o n l u e m p o s l a e p a pa s p Ca C PA ESCOLHID NESTE MÊS, A CA

A PARA A SEÇÃO

FOI A

TORA CECELI DO LIVRO DA AU

A AHERN, P.S. EU

Brasil País

Espanha País

Inglaterra País

8 - Agosto 2015

TE AMO


França País

Polônia País

Alemanha País

Indonésia

Hungria País

País

Brasil Literando - 9


MATÉRIA DE CAPA

10 - Agosto 2015


DISToPIAs E

mbora esteja em alta novamente, a distopia teve os seus maiores destaques na primeira metade do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, tempos de Admirável Mundo Novo e 1984. A diferença é que hoje o público dessas histórias são adolescentes e jovens adultos que nunca conviveram com governos totalitários. Conhecidas, cultuadas e expressas nas mais variadas formas de alienação, os contos distópicos sempre mexeram com o imaginário coletivo. Seria pelo fato de levantar em nossas mentes o alerta de que podemos, nós mesmos, estarmos vivendo dentro de um universo antiutópico? Mesmo que histórias assim não sejam algo recente, percebemos de alguns anos para cá a explosão de cenários distópicos para adolescentes e jovens adultos. São inúmeros os títulos nas livrarias e incontáveis as adaptações para o cinema. Aproveitando o bonde, nós da Brasil Literando, investigamos a fundo e agora trazemos esta matéria que vai falar um pouco sobre esses mundos que nos fazem refletir sobre nossa sociedade e os caminhos que queremos traçar para ela no futuro.

Brasil Literando - 11


MATÉRIA DE CAPA DE ONDE VEIO? O termo “Distopia” surgiu em um discurso ao Parlamento Britânico, feito por Gregg Webber e John Stuart Mill, em 1868. Nesse discurso, Mill disse: “É, PROVAVELMENTE, DEMASIADO ELOGIOSO CHAMÁ-LOS UTÓPICOS; DEVERIAM EM VEZ DISSO SER CHAMADOS DIS-TÓPICOS [‘DIS-’ DO GREGO ANTIGO ΔΥΣ, TRANSLIT. DYS: ‘DIFICULDADE, DOR’] OU CACO-TÓPICOS [‘CACO’, DO GREGO ΚΑΚΌΣ, TRANSLIT. KAKÓS: ‘MAU, RUIM’]. O QUE É COMUMENTE CHAMADO UTOPIA É DEMASIADO BOM PARA SER PRATICÁVEL; MAS O QUE ELES PARECEM DEFENDER É DEMASIADO MAU PARA SER PRATICÁVEL.” E esse termo carrega com ele o significado de uma sociedade construída no sentido oposto ao da utopia, que por sua vez prevê um sistema perfeito para todos, o ideal de sociedade, onde vigora a máxima felicidade e a total concórdia entre seus cidadãos. Quando uma distopia nasce, ela fala de um

PROBLEMAS DA SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS

estado que busca alienar o cidadão, ocultando a realidade muitas vezes injusta e regida por um mandatário ditatorial, corrupto e de domínio ilimitado sobre a população. Muitos autores apostam nas distopias como uma crítica, sátira ou advertência, expondo problemas reais da sociedade, que costumam muitas vezes passar despercebidos. Geralmente elas se passam no futuro ou tempos que estão prestes a chegar, e costumam usar a tecnologia como forma de controlar e amedrontar as pessoas. Observamos, também, que a maior parte das distopias são narradas por um protagonista ciente da realidade e dos problemas ao seu redor, mas que ao mesmo tempo vive cercado da ignorância coletiva de seus pares. Além disso, nessas histórias o conhecimento em todas as suas formas é tido como uma das maiores armas contra o governo opressor, sendo assim, combatido a ferro e fogo. Livros são queimados, a censura estende seus braços a todos os meios de comunicação e é comum termos um veículo que sustenta as mentiras do governo ou grupo que está no poder. A quantidade de histórias com tal teor nos leva a pensar sobre os caminhos de nossa sociedade. Hoje, cada vez mais jovens se interessam por histórias que em muito se parecem com nossa realidade. Talvez isso levante a questão se tudo o que vivemos é real ou fruto de uma cadeia articulada para ser assim.

KATNISS EVERDEEN, A MOCINHA DA SÉRIE JOGOS VORAZES

12 - Julho 2015


PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

A maioria das distopias tem alguma conexão com o nosso mundo, mas frequentemente se refere a um futuro imaginado ou a um mundo paralelo no qual a distopia foi produzida pela ação ou falta de ação humana, por um mau comportamento ou por ignorância. A literatura distópica costuma apresentar pelo menos alguns dos seguintes traços:

TEM CONTEÚDO MORAL, PROJETANDO O MODO COMO OS NOSSOS DILEMAS MORAIS PRESENTES FIGURARIAM NO FUTURO.

OFERECEM CRÍTICA SOCIAL E APRESENTAM AS SIMPATIAS POLÍTICAS DO AUTOR.

EXPLORAM A ESTUPIDEZ COLETIVA.

O PODER É MANTIDO POR UMA ELITE, MEDIANTE A SOMATIZAÇÃO E CONSEQUENTE ALÍVIO DE CERTAS CARÊNCIAS E PRIVAÇÕES DO INDIVÍDUO.

DISCURSO PESSIMISTA, RARAMENTE “FLERTANDO” COM A ESPERANÇA.

VIOLÊNCIA BANALIZADA E GENERALIZADA.

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Distopias em Totalitarista:

1984, V de Vingança, Jogos Vorazes

Corporativista:

Robocop, Clube da Luta, Rollerball

Tecnológica:

Divergente , Admiráve Mundo Novo

Generalizada:

Cybernética:

Cyberpunk:

Moral:

Religiosa:

Criminosa:

La Belle Verte

Beleza Americana, Cisne Negro

14 - Agosto 2015

Minority Report , Matrix

O livro de Eli

Akira, Avalon, Metropolis

A Laranja Mecânica


m Gêneros

el

Ambiental:

Nausicaä do Vale do Vento

Anárquica

Jogos Vorazes, Divergente

Consumista:

Pandêmica

Superpopulação:

Pós-apocalíptica:

Clube da Luta

Battle Royale

12 Macacos, Filhos da Esperança

Mad Max, O Planeta dos Macacos

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MATÉRIA DE CAPA Existem muitas e muitas distopias para o deleite dos leitores e cinéfilos, que convenhamos, não são poucos. A cada ano, mais e mais pessoas se interessam por esse tipo de história, prova disso são os filmes em cartaz e as ilhas nas livrarias que destacam as distopias como verdadeiras minas de ouro. Pode ser

o viés político ou ambientalista atrelado a elas. Sua força em dizer que, de alguma forma, a sociedade está desperta, com a anteninha ligada aos sintomas de uma antiutopia. E não há governo opressor e radical que faça a voz do povo se calar.

Distopias nacionais:

NÃO VERÁS PAÍS NENHUM, IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

A ILHA DOS DISSIDENTES, BÁRBARA MORAIS - GUTENBERG

MONTE VERITÁ, GUSTAVO BERNARDO ROCCO

BLECAUTE, MARCELO RUBENS PAIVA OBJETIVA

SUPERNOVA, RENAN CARVALHO - NOVO CONCEITO

16 - Agosto 2015


E SE O QUE VOCÊ VIVE HOJE, NÃO PASSAR DE UM SISTEMA PROGRAMADO QUE LHE FAZ VIVER UMA FALSA LIBERDADE?

Fonte: google.com.br

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ENTREVISTA

PAIXÃO POR DISTOPIAS Barbara Morais fala sobre seu trabalho e esse fantástico e assustador universo das distopias POR MARI SCOTTI

N

esta edição da Brasil Literando conversamos com a escritora da Trilogia Anômalos, Bárbara Morais. Essa brasiliense apaixonada por Doctor Who e que só escreve ao som de uma boa música. Fale sobre você, seu dia-a-dia, sua convivência familiar... O que desejar nos contar. Tenho essa suspeita de que sou hiperativa, embora nunca tenha sido diagnosticada. Mas é aquele tipo de hiperatividade mental: estou fazendo conexões o tempo inteiro e tenho várias ideias para histórias por dia. Todas vão para o meu caderninho de ideias quase imediatamente para serem trabalhadas quando for a hora. O mais engraçado é que isso só acontece quando estou com uma rotina louca como a que tenho hoje, emendando estágio e faculdade, escrever e mil e um projetos paralelos. Em resumo: sou workaholic.

mundo conta história. A diferença é se você decide fazer isso profissionalmente ou não. E o gosto por distopias, como surgiu? Sempre tive uma predileção por literatura fantástica e gosto muito dessa brincadeira das possibilidades. Quando eu li “Admirável Mundo Novo” no Ensino Médio, descobri que gostava muito desse tipo de literatura que brincava com as estruturas do nosso mundo ao mesmo tempo em que levantava questionamentos e fazia duras críticas à nossa vivência. Alguns anos depois, li “1984” e o livro se tornou um dos meus favoritos, me levando a ler cada vez mais livros distópicos. Na parte juvenil, Jogos Vorazes certamente foi um marco porque a trilogia é maravilhosa e amo a Katniss e o Peeta, e a Suzanne Collins foi muito inteligente nas críticas dela.

Quando decidiu ser escritora? Sua família te apoiou e apoia? Como descobriu que tinha talento para Eu sempre escrevi, mas nunca pensei em levar isso contar histórias? a sério até a minha Eu adorava inventar hisagente literária me tórias com as minhas encontrar nos confins “CONTAR HISTÓRIAS É QUE Barbies que eram quase da internet e dizer epopéias mexicanas com que eu tinha potenNEM RESPIRAR: ACONTECE figurinos impecáveis (eu cial. Mesmo assim, NATURALMENTE” gastava horrores em rousó contei para a mipas de boneca numa feira nha família quando o que tinha aqui perto, era contrato estava assimaravilhoso) e sempre tive explicações estranhas, nado e todo mundo ficou super orgulhoso. Eles me mas bastante convincentes para os acontecimentos apoiam bastante, tanto meus pais e minha irmã, do mundo. Sabe, eu sempre gostei disso de preencomo o resto da minha família. Com frequência eles cher lacunas e inventar minha própria história, mas ligam para saber como estou e como estão meus acho que nunca teve um momento de parar e pensar livros, então sou muito sortuda quanto ao suporte “nossa, eu tenho talento para isso”. Contar histórias que recebo. Nos períodos em que estou perto de é como respirar: acontece naturalmente. E não acho deadline, trabalhando loucamente, meus pais tem que tenha muito talento envolvido, porque todo um cuidado redobrado em me lembrar de comer, 18 - Julho 2015


Bárbara Morais

parar para descansar e beber água, porque eu costumo esquecer disso, (risos). Nos conte um pouco como foi seu processo de encontrar uma editora para publicar seus livros. Começou quando a minha agente literária me contactou, pediu para ler algo meu e achou interessante e com potencial para ser publicado. A partir daí, trabalhamos no texto por mais ou menos oito meses para ele ficar pronto para ser enviado às editoras e ela cuidou de todo esse trâmite. Felizmente, logo a Gutenberg gostou da história e aceitou publicá-la! Você tem algum sonho ainda não realizado? Nos fale sobre ele, se puder. Eu não sou uma pessoa de ter sonhos, eu tenho metas. Eu sou pragmática demais e acho que falar em

sonho implica que ele não é realizável e, atualmente, há um imenso espectro de coisas impossíveis e nenhuma delas está na minha lista de metas, ahaha. Eu considero o esquema de metas muito bom, porque é como um degrau. Minha meta agora é terminar minha faculdade e tentar começar a escrever dois livros por ano. Depois que conseguir isso, minha meta é tentar fazer uma história em quadrinho. Acredita que agenciamento literário funciona no Brasil? Sim e tenho a melhor experiência possível com a minha agente literária. Inclusive estou respondendo essa entrevista depois de uma reunião com ela, em que conversamos sobre a visita dela à editora nessa semana e repassamos todos os últimos acontecimentos. Além de ser mais um passo à frente na profissionalização do mercado de literário, os agentes, Brasil Literando - 19


ENTREVISTA tro fator que impulsiona a literatura nacional hoje é a facilidade em se lançar um livro independente, via Amazon. Temos vários casos de sucesso de autores que se lançaram por lá, como a FML Pepper ou a Nana Pauvolih, e depois conseguiram um contrato de publicação tradicional.

“EU NÃO SOU UMA PESSOA DE TER SONHOS, EU TENHO METAS. “ quando trabalham direito, tiram uma carga de preocupações das costas do autor por serem os intermediários entre ele e a editora. Além da leitura do contrato, apontando correções e adições para proteger o autor, ele também é responsável por garantir que os livros estejam nas livrarias, por batalhar por mais eventos para o autor, dentre outras coisas. Como você vê a literatura nacional hoje? Acredita que, apesar da crise no Brasil, continuaremos a crescer e ser valorizados como escritores? Eu acredito que estamos no início de um período muito bom para os autores nacionais, por dois motivos intrinsecamente correlacionados. O primeiro é o público, que cada vez mais demanda autores nacionais de “entretenimento” e que, aos poucos, está desconstruindo o preconceito e a ideia de que autor brasileiro = livro ruim. Com isso, as editoras estão procurando novos autores e apostando ferrenhamente neles, porque há uma demanda do público e uma falta de oferta diversa. Eu acredito que essa valorização tende a ser consolidada nos próximos anos e espero que passemos a ter uma fatia considerável do mercado para jovens adultos (que é o meu) composta por autores nacionais. Ou20 - Agosto 2015

Aqui preciso fazer um parênteses porque embora haja essa procura das editoras, ainda há muito amadorismo por parte dos autores. É fundamental para um autor iniciante conhecer mais sobre o mercado e existem vários meios de fazer isso, seja com um curso, seja com as milhões de postagens explicando o seu funcionamento. É necessário saber os tipos de publicação possível, entender seu público, compreender onde seu livro está inserido num contexto mais abrangente. Se você opta por publicação tradicional, pode ter certeza de que é um processo demorado e emocionalmente exaustivo. Além disso, por mais que o mercado esteja favorável, os leitores raramente vem até você só porque você lançou um livro. É importante entender que o autor tem participação fundamental na divulgação dos livros -- e até a Talita Rebouças ficava todos os dias na Bienal vendendo livro no início. Agora falando um pouco sobre sua obra publicada: Como surgiu a ideia para A ilha dos dissidentes? Contenos um pouquinho. Isso é bem engraçado, porque recentemente tive uma ideia exatamente da mesma forma que a ideia de AIDD surgiu: no meio de uma aula. No caso dessa ideia atual, surgiu em uma aula de economia brasileira em que eu parei e pensei “Nossa, quero escrever um livro com hiperinflação”. No caso de A Ilha dos Dissidentes, foi durante uma aula de Introdução a Ciências Políticas em que estávamos vendo definições do Estado e eu comecei a refletir sobre as segregações institucionalizadas, como o apartheid, e guerras civis e como, em vários desses casos, não foi uma força externa que questionou a soberania deles, e sim um movimento interno por mudanças. Eu queria escrever algo para explorar esse assunto e aí a ideia foi surgindo, com isso como fio condutor: um mundo em que pessoas extraordinárias são consideradas aberrações, uma protagonista que se descobre como uma delas bem no meio de um momento de ruptura e precisa lidar com as implicações da sua nova identidade e do seu lugar no mundo, que está sempre em mudança.


Nós vimos o crescimento de Sybil da garota “assustada” do primeiro livro, para a moça determinada em A Ameaça Invisível. Sou apaixonada por desenvolvimento de personagens e você faz isso com muita maestria, é notável na sua escrita. Gostaríamos de saber o que o terceiro livro reserva para a Sybil, PRINCIPALMENTE POR CAUSA DAQUELE FINAL! E prepare-se para mais “surtos” nas demais perguntas! Eu também amo muito desenvolvimento de personagens e penso muito nessas questões na hora de criar minhas histórias. Não faz sentido você levar seu personagem de uma situação A para uma B sem que haja crescimento no meio do caminho. Anômalos é, fundamentalmente, uma história de crescimento em um ambiente adverso, em que todo mundo é traíra e você não sabe em quem confiar e a Sybil aprende isso da pior maneira possível nos dois primeiros livros. No terceiro, é o fim dessa jornada de garota-que-confia-no-governo e, bem… digamos que ela ficou bem mais esperta, principalmente no que concerne Fenrir. Me fale sobre o meu ship, quando zarpa? Brincadeira. Queremos mesmo saber sobre a relação Sybil x Andrei. Pelo andar da carruagem deles, o terceiro volume vai reservar muitas emoções? Shippers gonna ship harder? Bem… são spoilers. Mas eu posso adiantar que, em retrospecto, foi bem divertido escrever os dois porque antes de qualquer coisa, eles se tratam como iguais e se complementam em suas forças e fraquezas. Um dos incômodos que geralmente tenho em casais de livros é que o mocinho sempre tem, de alguma forma, mais poder que a mocinha e em alguns casos, ela não se equipara ao seu patamar. Eu quis fazer diferente: quis fazê-los iguais. Me apaixonei pelo Hassam, e agora? A participação dele no livro 3 será maior? MY SUN AND STARS. Sim, o Hassam terá mais participação no terceiro livro. *poker face* O final do segundo livro deixou uma brecha para uma treta maligna. Queremos saber o que esperar do volume

final dessa trilogia! Quantos calmantes teremos que comprar? Até agora, a gente nunca viu realmente do que o Fenrir é capaz. Nós descobrimos da pior (melhor) forma (inclusive dentre meus comentários para o Fenrir tem “BICHA, MAS A SENHORA É DESTRUIDORA MESMO) (talvez eu goste muito do Fenrir). Alguma alusão à nossa realidade política caótica ou escreveu uma distopia sem pensar diretamente em política? Quando comecei a escrever a história, eu queria falar sobre segregação e preconceito de forma divertida e um tanto fantasiosa, ao mesmo tempo em que buscava a resposta para o que você pode fazer quando o governo em que você vive é abusivo. Não foi intencional, mas eu sempre gostei de intriga política e de gente fazendo trairagem, então acabou que o cenário do livro pendeu para esse lado. Algumas observações são alfinetadas políticas claras para a nossa realidade, mas outras acontecem por acidente, provavelmente porque eu internalizo os acontecimentos e os processo na ficção. Possui algum projeto em andamento? Conte-nos tudo! Sim! O nome de trabalho dele é Starships e é a única coisa que posso falar no momento, ahahah.

Deixe um recado para seus leitores. EU AMO VOCÊS, XUXUZINHOS.

Para saber mais da autora clique aqui.

Brasil Literando - 21


R ES E N H A D O L E ITO R o

g Faça amor, não faça jo Autor: Ique Carvalho Editora: Gutenberg 24 Número de Páginas: 2 Nota: 5/5

menos da maioria das pesao s, da to de o nã se jo se de ras do amor é o oio de alguém para as ho ap Sinopse: Viver a plenitude o m co ar nt co , te en uém incondicionalm soas. Amar e ser amado emente do que fazemos, alg nt de en ep ind e qu r be sa e alegres, esse difíceis e para os momentos al de vida de muitos. Viver ide o é s mo so e qu lo pe smente a e amor estará ao nosso lado simple mente sobre felicidade, vid ata ex é E il. fác é re mp se o, nem já tocou o amor na prática, no entant escrevendo em seu blog e u ço me co e qu r, to au O . livro lavras, desque Ique Carvalho fala neste emocionaram com suas pa se e m ra lve vo en se e qu ssoas te encontram. E ele fala en alm coração de milhares de pe re os uc po e am ur or que muitos proc pessoas até o mais puro as du creve com perfeição o am tre en co nti mâ ro o e expressões: desd or. Como as relações huma nt do amor em todas as suas me e i pa u se m co m te ar a iliares, que ele difíceis, o que nos faz busc e verdadeiro dos laços fam -se am rn to s to en am ion rma as, os relac s faz enxergar a vida de fo nas são frágeis e complicad no r to au o as M s. da ra er rio nas pessoas jogo do amor, não é necessá felicidade nos lugares ou no e, qu de e et br lem um é que faça jogo diferente. Faça amor, não s paradigmas e acreditar no vo no ar eit ac e ar olh sta Ba edores. haver ganhadores ou perd r isso de verdade. diz seu coração. E vivencia

de ler acompanha os Como a maioria que gosta acabamos observando que s, ra ito ed s da s to en m ça lan ando rumos antes não alm to o tã es s iro ue og bl s to mui livro. Começou com um de o çã ica bl pu da o : os cançad ardi. a Bruna Vieira, Danilo Leon e vlogueiros vão Aos poucos, os blogueiros erário, fazendo com que te tomando conta do meio lit lação de seus melhores pi m co a m co ro liv um os nham textos.

Você é de um. Ele, qualquer um. go, encontramos Em Faça amor, não faça jo de Ique Carvalho. O hoa versão original e simples l e amoroso, que sofreu mem maduro, responsáve

22 - Agosto 2015


ao longo de seus 34 diversas desilusões amorosas nha sido a descoberta anos. O mais forte, talvez, te i. Ver alguém que da doença degenerativa do pa a definhando lentasempre foi seu exemplo de vid çar o blog The Love mente foi o ápice para come Code. muitas muJulgado como mentiroso por g, Ique não se lheres que frequentavam o blo estionamento com importou e respondeu cada qu mais simples e rápido passagens de sua vida. Nada é um romântico nato, de demonstrar que ele ainda s atuais, em que ser difícil de se encontrar nos dia frívolo é estar na moda.

a estar vivo é você.” “A única razão de eu aind vindo uma múCada capítulo pode ser lido ou tor. Procurei nem me sica escolhida pelo próprio au nca acabaria o livro, rs. E ater a este detalhe, senão nu mais fácil ainda! pra quem tem o QR Code fica da capa. Fiquei simplesmena to an qu ita rfe pe tão é ro a, como A diagramação interna do liv i o livro quase todo, porque olh ue arq M . do to um mo co ro te apaixonada pelo liv ente esse cara escreve bem! ndo. Inclusive, ele será o pres mu do to a pr ico ind ra, tu lei Desde que terminei a falar dele hahaha. Leia você to tan de is po de ler ra pa ca lou de Natal pra Mari. Deixei ela rvalho, onde cada uma faz Ca e Iqu de ria tó his da ca rir confe la vida! também! Dê uma chance para singelas de um apaixonado pe ras lav pa s da és av atr or am correr cachoeiras de

o. não quero nem um segund ou do un m o dá e m cê vo Ou

tiago an S . M a el am P r: po a h Resen tor do Blog O Diário do Lei

Quer indicar uma resenha também? Envie para o e-mail liloflor@gmail.com Brasil Literando - 23


CONTOS DO LEITOR

PLANOS MACABROS POR ZORAYA CESAR

24 - Agosto Julho 2015 2015


Q

uando o novo vizinho chegou, todos ficaram animados e curiosos com a novidade. Há muitos anos não acontecia nada de relevante ou emocionante, a não ser a doença de D. Adalgisa. Mas a provecta senhora, que piorava a olhos vistos, não morria nunca, e seu drama acabou caindo na vala comum da normalidade. O tal vizinho, um cinquentão bem apessoado, no entanto, era avesso a intimidades. Educado, sim, mas reservado e pouco afeito ao convívio social, desestimulava qualquer aproximação. Sem ter como saber quem era ou o que fazia, os moradores perderam o interesse, decepcionados. No entanto, sendo a opinião pública mais móbile que piuma al vento, muta d’accento e di pensiero, do desapontamento surgiu uma espécie de temor respeitoso pelo recém-chegado, por sua seriedade, seu hábito de falar baixo, olhando nos olhos do interlocutor. Nas reuniões de condomínio, sua palavra era sempre acatada, encerrando qualquer discussão. A vida seguiu, portanto, tendo sido o novo vizinho absorvido pelo cotidiano do prédio. Em pouco tempo, ninguém mais pensava nele em especial. Ninguém, eu disse? Não exatamente. Havia quem pensasse incessantemente nele. Alguém tão despercebido, que, fosse invisível, talvez chamasse maior atenção. Uma sombra, uma zé-ninguém, conforme lhe dizia sua mãe, a intratável, intragável, insuportável D. Adalgisa. A velha viúva nunca poupou esforços para esmagar a filha sob sua personalidade forte e mesquinha. Jocélia era seu nome, e passara a vida ouvindo que não prestava para nada, que era uma inútil, sem futuro. Nunca teve namorado ou amigas e trabalhava como contadora numa loja de roupas. A doença de D. Adalgisa consumia praticamente todo seu salário e Jocélia não tinha para onde fugir, nem forças para ir a algum lugar. Ela estava desesperada para mudar de vida e só via uma saída. Mas D. Adalgisa nunca morria, por mais que os médicos afirmassem categoricamente que ela ainda respirar era um milagre. Jocélia não se conformava, a velha podia estar morrendo, mas tinha ânimo suficiente para infernizá-la, com aquela voz aguda e gasguita, reclamando da comida, do emprego medíocre da filha, de tudo, de qualquer coisa, dia e noite, dia e noite, noite e dia, sem parar, sem parar, sem parar. Uma noite, ao ouvir o vizinho caladão abrir a porta – moravam lado a lado –, Jocélia tomou coragem e foi até ele, implorando-lhe que a acompanhasse, pois sua mãe estava agindo estranhamente, causando-lhe medo. Ele, prestativo, foi. E, realmente, D. Adalgisa zanzava pela casa, batendo nas paredes, mastigando a dentadura, balbuciando coisas incompreensíveis. Ameaçou jogar um copo neles, mas, de repente, acalmou-se, deitou no sofá e dormiu. Jocélia agradeceu ao vizinho, e aproveitando o raro contato humano, desabafou todo seu drama e seu grande temor: que D.Adalgisa se descontrolasse, machucando seriamente uma das duas. Não tinha dinheiro para interná-la ou contratar uma enfermeira, e nem mesmo havia condições, no momento, de comprar um ar refrigerado – elas tinham de dormir com as janelas abertas, o que obrigava Jocélia a acordar diversas vezes durante a noite, para ver se a mãe dormia, se estava tudo bem. O homem tudo escutou, compadecido, comentando que, realmente, as olheiras de Jocélia estavam bem pronunciadas. E, pondo-se à disposição para qualquer problema, despediu-se. No quarto e sala conjugado das duas mulheres, Jocélia, pela primeira vez em muito, Brasil Literando - 25


muito tempo mesmo, sorriu. Suspender o remédio da mãe fora uma boa ideia, todos percebiam que D. Adalgisa estava ficando cada vez mais matusquela e comentavam o quanto a coitada da filha era tão boa, dedicada, amorosa. Já repararam em suas olheiras e na pele amarelada? A pobrezinha nem sai de casa, para tomar conta da mãe. Boa moça, diziam (embora só lembrassem de seu nome por causa dos berros constantes que D. Adalgisa atirava contra a filha). E agora, o homem mais confiável do prédio testemunhara in loco, ao vivo e em cores, o comportamento errático e agressivo de D. Adalgisa. Dali a mais alguns dias, planejava Jocélia, desmaiarei na portaria, todos verão o quanto estou exausta. Se eu dormir a noite inteira, com a janela aberta, nesse calor infernal, e minha mãe, durante um ataque, se jogar, todos entenderão. Durante a madrugada, ninguém a veria dando uma ajudinha para D. Adalgisa descer ao térreo via expressa, sem paradas. E o vizinho seria sua mais forte testemunha. E ela estaria livre, desacorrentada, solta na vida, vadia, como sempre sonhara. Talvez até o vizinho se apaixonasse por ela, quem sabe? E Jocélia só não dormiu, acalentada pela perspectiva de independência, porque precisava que suas olheiras fossem reais. Em seu apartamento, Felipe Espada ensimesmava, a cerveja esquecida na lata, o livro aberto nos joelhos. Tem algo estranho naquela casa, naquela gente, na velha, na filha. Vinte anos na força de polícia como investigador e dez como delegado haviam-no ensinado a confiar nos seus instintos. Felipe Espada não era homem de se deixar enganar por aparências ou palavras doces. E não descansaria até descobrir o que havia de errado no apartamento ao lado.

Esse conto foi originalmente publicado no blog cronicadodia.com.br, onde escrevo quinzenalmente, e foi incluído no meu e-book, A Viúva e outros contos. Fiz pequenos ajustes. Espero que gostem; o personagem Felipe Espada ganhou vida própria e aparece em outras histórias. Um dos contos desse e-book, A Amante, foi radiofonizado, em formato de novela, pelo Núcleo de Dramaturgia das Rádios EBC. Meu nome é Zoraya Cesar, sou contista. Muito prazer.

26 - Agosto Julho 2015 2015


Quer enviar o seu conto tambĂŠm? Envie para o e-mail liloflor@gmail.com Brasil Literando - 27


Dias DISTÓPICOS POR THALLES MARQUES

O

despertador toca em cima do criado mudo, os olhos se abrem como primeiro reflexo, o corpo começa a se levantar da cama, que em seguida passa por todo o processo de rearrumação, lençol branco esticado ao ponto de nem mesmo um mísero amassado ter sido deixado para trás, cobertas xadrez dobradas e deixadas ao pé da cama, travesseiro branco posicionado com precisão à distâncias proporcionais da cabeceira e ambos lados do colchão. Próximo passo, preparação do café da manhã, que também é precisamente calculado, apenas a quantidade necessária de leite, o número preciso de torradas e a geléia sem excesso ou falta, até mesmo o tempo é cronometrado; são 10 minutos, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Higiene pessoal realizada, roupas de trabalho vestidas, a porta de saída é aberta, são 30 passos até se chegar à calçada, mais 20 passos até o ponto de ônibus, em 5 minutos o veículo para, portas se abrem, 3 degraus oferecem acesso ao seu interior, cartão inserido e aprovado, passagem liberada. Outros 10 minutos se passam, chega-se ao destino, um prédio cinza, com fachada totalmente em concreto aparente, nem um pouco chamativo, assim como todos os outros prédios da cidade, todos com a mesma altura, especificada e regulamentada, as portas de entrada abrem-se automaticamente, todo o movimento é automatizado, mãos buscam os crachás no

28 - Julho 2015

quadro, o apito das catracas é ouvido repetidamente, enquanto um a um, os trabalhadores são admitidos e seguem cada qual para sua posição previamente definida. As telas LCD dos computadores lançam um brilho doentio sobre as faces pálidas e quase indistiguínveis de seus operadores, enquanto dedos ágeis deslizam sobre os teclados, preenchendo formulários, escrevendo relatórios, salvando documentos e arquivos em grandes servidores. As horas do dia passam ininterruptamente, o sol se move em uma linha reta pelo céu, em uma rota que se repetirá no dia seguinte e no dia depois deste, e continuará se repetindo, em um looping infinito. Seis horas e trinta minutos, o sinal que indica o fim do período de trabalho toca, concomitantemente as telas são desligadas, os trabalhadores se levantam em sincronia, e se dirigem para fazer o processo inverso àquele realizado pela manhã, os bipes das catracas são novamente ouvidos repetidamente, crachás em seus devidos espaços. Uma fila se forma à saída do edifício cinza, a medida que são ocupados, os ônibus tomam seu caminho, refazendo a rota diária, deixando pelo caminho cada integrante. Os movimentos são idênticos, os pés se dirigem para as casas. Novamente, as ações são cronometradas; a noite é dividida por duas horas de TV, com programação educativa e totalmente controlada, uma hora de leitura obrigatória, e por fim os preparativos para se deitar. Cada movimento, cada respiração e passo dado é observado de longe, em uma sala que apenas um seleto grupo sabe como alcançar, as telas alternam entre as diferentes zonas da cidade, basta que um dos integrantes da metrópole pise um mílimetro fora da rota programada e o alerta é soado. Até hoje, isto aconteceu duas vezes, mas a ausência de dois piões nunca é notada no grande jogo.


ARTE DO LEITOR

A. C. LYOKO Era pra ser a capa provisória do livro da Jessica de Paula, mas quando estava terminando ela decidiu contratar um profissional (não acho que ela fez errado, eu me senti até um pouco aliviada do peso de responsabilidade de ter a capa do livro de uma amiga, justamente porque não sou profissional embora ame o que faço - Além disso a capa dele ficou muito mais bonita!). Mas eu decidi terminar de qualquer modo. É a primeira vez que tentei fazer uma pintura semi -realística, então acho que saiu bem feita (com exceção do nariz, ainda to irritada por ele não ter saido como quis). Eu mudei as cores base (cor do cabelo e pele) para conseguir terminar melhor, mas acabei por deixar assim mesmo lol Eu quis fazer uma ilustração leve, dramática e ao mesmo tempo profunda. Não acho que consegui nenhum dos objetivos (Alerta: desenhista perfeccionista falando), mas cheguei perto. O modo como o cabelo dela balança dá a sensação de leveze (junto as cores no fundo e o rosto sereno), os olhos fechados dão um certo toque dramático (acho), e acho que a profundidade viria uma vez que a história fosse lida, e assim, assimilada com a imagem... Oh well, what’s done is done.

Brasil Literando - 29


30 - Julho 2015

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