Jornal Lince_Dezembro 2010

Page 1

De olho na notícia

LINCE

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Ano V | Nº 42 | Dezembro de 2010

O caos

sobre rodas | pÁginas 10 e 11

CaDeira De roDas não É nenHUM BiCHo papão | pÁgina 07

assessoria poLÍtiCa, o JornaLisMo eM aLta | pÁgina 09

DesapareCiDos, UM MistÉrio À BrasiLeira | pÁgina 13

neM tUDo QUe É DiaBo, Veste praDa | pÁginas 04 e 05


Dezembro/2010

eDitorial

2

Como uma

onda no ar anDrÉ santos

A onda de protestos nos países muçulmanos fez soprar na região uma leve brisa de liberdade. Não falo da liberdade apregoada pelos Estados Unidos, cantada aos quatro cantos pelo presidente Obama em sua recente visita ao Brasil. Falo de uma liberdade simples, do ir e vir, de apenas poder discutir política, rumos e passos a serem dados. Aos poucos, começamos a perceber o fim de um anacronismo histórico, dessa espécie de absolutismo tardio instalado nestes países, para a passagem a um processo lento e gradual de rodízio de poder. Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Síria, Marrocos, Jordânia, Sudão, Arábia Saudita, Bahrein, Mauritânia, entre outros, estão vivendo dias em que antigos pactos sociais deixam de ter fundamento e a sociedade busca novas formas para reger o Estado e suas estruturas. Em todos os casos, a voz da rua fez estremecer os frágeis arranjos de poder desses países, dinamitou, nos casos de Tunísia e Egito, a repressão policial e fez brotar a esperança de que novas formas de governar podem ser implantadas. Ditadores amigos do Ocidente, como Hosni Mubarack do Egito, não conseguiram convencer seus aliados que sua presença fosse fundamental para manter a paz na região. Outros, como Muammar Kadhafi, voltaram a cena como um Nosferatu, assustando pela aparência e pela barbárie. E ainda alguns, como o rei Adbullah, da Arábia Saudita, rezam a Alá para que este 'tsunami' das ruas não abale as estruturas de seus palácios instalados no oásis perdido. Neste momento, assistimos aos olhos e armas do Ocidente se voltarem contra a Líbia, do sanguinário ditador Muammar Kadhafi, que se mantém no poder há 42 anos. Kadhafi nunca foi

visto com simpatia pelos principais atores do cenário político mundial. Desafiou Estados Unidos e toda a Europa quando financiou atos terroristas na década de 1980. Mandou aos ares um avião da então maior companhia aérea do mundo, a PanAn, nos arredores de Glasgow, na Escócia, quando 270 pessoas morreram. Após algumas décadas, recebeu o então primeiro ministro da Inglaterra, Tony Blair, em Trípoli e recebeu elogios do premier. Empresas norte-americans, atraídas pelo petróleo, foram aos borbotões para a Líbia, enquanto Kadhafi continuava comandando com mãos de ferro os destinos do povo líbio. Mesmo sendo visto como o exmaior inimigo do mundo, Kadhafi mostrou seus 'dons', quando num ato de afronta, rasgou a carta das Nações Unidas num discurso proferido na sede da ONU. Hoje, a mesma ONU desprezada por Kadhafi em 2001, diz ao mundo que o ditador líbio não tem mais representatividade para permanecer no poder. A invasão, programada pelos Estados Unidos e França, e agora sob a édige da OTAN, transformou uma guerra civil em um grande imbróglio internacional. Pode parecer impressão, mas a Líbia é o novo Afeganistão, um Iraque sem Saddam e com um Kadhafi muito mais disposto — e armado — a resistir, do que o exditador iraquiano. É importante neste momento analisar o que esta onda de protestos e mudanças vai causar no mundo árabe. Acostumado a governos com mãos de ferro, desde os tempos dos califas, à época da expansão do Islã, os povos árabes têm a oportunidade de reescrever a sua história, estabelecer novos pactos de divisão de poder e, principalmente, virar definitivamente uma página de repressão e nenhuma representatividade de grande parte de sua população.

crÔnica

A grama verde do

FaeL LiMa A imagem de uma rodovia reconstruída no Japão em apenas seis dias, após o terremoto que abalou o país, rodou o mundo através da internet e televisão, causando grande repercussão no Brasil. Diante de tal cena, fiquei a refletir como seria se fosse nosso país diante de tal situação. Provavelmente, na primeira semana, os entulhos ainda estariam acumulados pelo local e um caminho secundário estaria aberto com o dono das terras cobrando pedágios. Qualquer vestígio de reforma teria que enfrentar uma licitação que se arrastaria por um longo período e independente da época em que ocorresse o desastre, a conclusão da obra seria inevitavelmente em período eleitoral. E, caso isso ocorresse, agiríamos com total naturalidade, assim como os japoneses acharam natural a velocidade com que tudo ocorre no país. Anunciada a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, cheguei a pensar que o futebol, esporte considerado como paixão nacional pelos brasileiros, seria a cura e escaparia da famosa lentidão em reformas e construções. Porém, mais da metade dos estádios onde ocorrerão os jogos estão com seus cronogramas atrasados e alguns já detectaram irregularidades nos editais de licitação e notas fiscais. Pena dos japoneses? Tenho pena é da terra do samba que importa máquinas brilhantes do Japão, mas não traz para o Brasil ações como uma simples rodovia reformada em pouquíssimo tempo. Não é o asfalto, não é o prazo, mas a mensagem que a ação carrega que a torna importante, o ato de pensar no coletivo, respeitar regras, deixar a honestidade à frente de tudo. Vimos esse país asiático reerguer-se após uma bomba atômica, enfrentando desastres seguidos por décadas, enquanto nós fabricávamos nossas próprias dificuldades nesse período. Após um terremoto seguido de tsunami e um iminente desastre nuclear, os japoneses olham não só para o Brasil, mas para o mundo e dizem: “Pobre humanidade.” O Japão deve ser aplaudido de pé, pois num dos maiores desastres de sua história, nos trouxe a sensação que a grama do seu jardim ainda é mais verde.

eXpeDiente REITOR Luis Carlos de Souza Vieira PRÓ-REITOR ACADÊMICO Sudário Papa Filho COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO Professora Marialice Emboava

COORDENADOR DA CENTRAL DE PRODUÇÃO JORNALISTICA- CPJ Professor Eustáquio Trindade Netto (DRT/MG 02146) PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE Helô Costa (127/MG) DIAGRAMAÇÃO: Daniela Mendonça Ludmila Rezende

MONITORES: Diego dos Santos Nayara Carmo REPORTAGENS: Alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

CORRESPONDÊNCIA NP4 - Rua Catumbi, 546 Bairro Caiçara Belo Horizonte - Minas Gerais CEP 31230-600 Telefone: (31) 3516.2734 jornallince2008@gmail.com

este é um JornaL-LaBoratório da disciplina Laboratório de Jornalismo ii. Distribuição gratuita. edição mensal. o jornal não se responsabiliza pela emissão de conceitos emitidos em artigos assinados e permite a reprodução total ou parcial das matérias, desde que citadas a fonte e o autor.


Dezembro/2010

3

camisa 10

JoGa bola até Na cHuva”

SERVIÇO

FoTos rau

l carvalHo

A escolinha do Santa Tereza fica na avenida Bernardo Vasconcelos, 780, bairro Cachoeirinha. Suas atividades são de segunda a quinta, de 15h as 18h. Os interessados podem entrar em contato pelo telefone 3082-0196 ou pelo email profmarcelo@uai.com.br.

Mas, entre cada mil meninos que, todo ano buscam escolinhas de futebol, só um chega realmente a viver o sonho do sucesso Diego Dos santos e raUL CarVaLHo (*) A cada dia, a evolução se dá de forma assustadora em todos os ramos de atuação. No esporte, não poderia ser diferente. As exigências são maiores e o porte físico é diferente do que era proposto tempos atrás. Hoje, garotos muito altos, muito fortes, e com um estilo de vida de jogador profissional, abrem mão de sua juventude em prol do sonho de ser um atleta de ponta. Bebeto, um dos craques da conquista do tetra, hoje teria dificuldades pra jogar. No caso da escolinha do Santa Tereza Futebol Clube, a situação é outra. Coman-

dada pelo professor de educação física Marcelo Rosa de Castro e com alunos de 5 a 16 anos, a instituição vem mostrando a importância do esporte e trabalha o lado psicológico das crianças e adolescentes, já que nem todos têm o biótipo necessário para alcançar o sonho de ser jogador profissional. A vida de um atleta de alto nível pode até parecer fácil — mais não é. Principalmente para quem segue desde muito jovem a carreira. Ter que abrir mão de sua adolescência, deixando, literalmente, de ser criança, de brincar, sair e até mesmo fazer bagunça. É a maior dificuldade para quem faz essa escolha. Por isso, o trabalho psicológico é funda-

mental para que todos tenham atenção igual e não se sintam uns melhores que os outros. “Quem joga na defesa agora, vai jogar no ataque depois”, explica Marcelo. Mais de 90% dos jovens não chegam a atuar em time profissional, vide o próprio Marcelo que tentou a carreira e, alertado pelo pai, decidiu estudar, pois não teria futuro sendo jogador. Porém, em cada escolinha da cidade, olheiros dos três grandes clubes da capital ficam espalhados, buscando o que joga diferenciado. A exceção da regra. O que vale é acreditar no sonho. Pedro, de nove anos, mesmo com seu time derrotado por 11 a zero, no campeonato interno, continuava

acreditando. E esperava dar o troco — “A gente evoluiu, talvez agora a gente perca só de três a zero”. A função da escolinha é também a de formar o caráter dos garotos por meio do esporte, sem deixar de lado as oportunidades de dar a alguns deles a chance de se tornar profissional. As peneiradas são frequentes, mas mostrar em dez minutos que tem talento para seguir no futebol, no meio de uns 500 outros jovens, com o mesmo sonho, acaba sendo injusto. Só se o menino tiver estrela, ou alguém que lhe dê suporte para chegar a seu objetivo. (*) Alunos da Central de Produções Jornalísticas


4

Dezembro/2010

jornalismo

Nem todo

Fernando Trancoso

ĂŠ vestido pelo

Diabo


saBrina assUMpÇão (*) “Acho que em geral, as pessoas estão com medo da moda. Por essa insegurança, elas acabam rejeitando-a”. A frase é da célebre Anna Wintour, editora da Vogue americana, em seu documentário The September Issue, lançado em 2009. Existe a ideia de que o jornalismo é somente algo prático, diário e que tem como costume escancarar as tragédias e vitórias conquistadas pela sociedade. Mas, longe de deixar seu papel principal – levar informação a todos –, o jornalismo também carrega consigo o que é extraordinário e inovador. Isso é cumprido à risca quando se trata de moda. Acontece que todo cuidado é pouco. Um assunto assim... Considerado tão “papo de elite”. Mas é assunto que merece atenção, cuidado e paciência, muita paciência por parte das editorias de moda. Por isso, é considerável o boato do tratamento ríspido

e rigoroso que a dona da frase do início desta matéria, Anna Wintour, ou Rainha do Gelo como também é conhecida, por liderar com mãos de ferro a produção de uma das mais famosas revistas de moda do planeta. Afinal, não é um trabalho muito fácil ditar (ou seria editar?) e dizer o que está por vir em um mundo que tem o novo de hoje como o velho de amanhã.

no ritMo Das estaÇÕes No início, os editoriais de moda compreendia fazer de quase tudo! Arquitetavam grandes produções, incluíam e excluíam grifes que iriam aparecer nas páginas de suas edições, o que significava mover uma dinheirama no mercado. Era preciso escolher modelos — que se tornavam celebridades —, locações, maquiadores, iluminadores, assistentes e fotógrafos a dedo. Além de seu principal papel, a produção do texto, a edição e o fecha-

mento da matéria. À medida que crescia o mercado da moda, as exigências das empresas jornalísticas, das grifes e do próprio consumidor também aumentavam e se transformavam. Quem sentiu o maior peso do resultado disso tudo foram as editorias de moda — os custos das produções triplicaram. Modelos famosas queriam cachês cada vez mais altos e os fotógrafos, mais especializados, também. As editorias tiveram, então, que reformar seus métodos de produção para se adequar à realidade das empresas jornalísticas e conseguir acompanhar o ritmo de lançamentos que pareciam brotar freneticamente a cada estação. Foi assim que se deu a segmentação entre as editoras e produtoras de moda. Às editoras, coube a parte nobre do trabalho jornalístico; às produtoras, o trabalho pesado, quase braçal, de arcar com o estressante processo de produção. “Se o jornalismo é o veículo, as editoras e produ-

toras são condutoras; elas levam a moda para quem se interessa, mas não necessariamente está envolvido neste meio”, explica a paulistana Márcia Jorge. Ela é a criadora do Psicostyling, uma associação entre psicoterapia e consultoria de imagem. Márcia também trabalha com figurinos para cinema, além de produzir fotos de moda.

statUs Márcia conhece bem a confluência das duas áreas. “As editoras trabalham dentro das revistas, jornais, etc. Já as produtoras são autônomas”, explica. Por isso, não é preciso também que sejam jornalistas. “Mas”, continua Márcia, “pelo fato da moda ter ganhado muita importância na atualidade, ser produtora ou editora tornaram-se profissões de status”. Mas, como o tempo não para, tanto o processo de produção quanto o de edição se tornaram distintos. Hoje, nenhuma empresa de comu-

saBrina assuMPÇÃo

nicação trabalha com produção de moda. Este trabalho é feito nas assessorias de imprensa, que por sua vez prestam serviço às empresas ligadas ao ramo da moda. Essa divisão, só fez aumentar o poder das editoras de moda, que se tornaram senhoras do destino das produtoras. Ângela Rodrigues, exeditora de moda do extinto Jornal de Casa, lembra que, em alguns casos, “a responsabilidade das editoras de moda também aumentou; o que sai publicado passa a ser de responsabilidade só delas, então, não dá pra publicar qualquer coisa — e há produtoras que não têm o menor senso, que confundem produção de moda com fantasia de carnaval”. O que só faz alimentar o folclore em torno de mitos como a americana Anna Wintour e, escala semelhante, em termos nacionais, de Regina Guerreiro, da Vogue brasileira e da “Caras”, fantasmas que tiram o sono dos estilistas e donos das empresas de moda.

Como as5 editoras de moda atendem às exigências da moda

Dezembro/2010

Fernando Trancoso

Com o sucesso do mercado da moda, começaram aparecer as assessorias de moda. Essas empresas são responsáveis por parte de trabalhos tanto de produtoras quanto dos serviços de consultoria e estilismo. O grande interesse por essas agências tem aumentado a cada dia. As grifes, de olho na redução das quilométricas contas vindas dos gastos com modelos, divulgações e toda a produção que tem de ser elaborada a cada semestre com a chegada de novas coleções, são seus principais clientes. De acordo com Márcia Jorge, isso tudo foi uma evolução para o mundo da moda. De qualquer forma, a segmentação das funções favoreceu tanto editoras quanto produtoras. Se estas têm hoje um vasto campo de trabalho em uma indústria que não para de crescer e ganha cada vez mais importância dentro do panorama econômico, as editoras também dispõem de um mercado de trabalho igualmente em franca evolução. É um campo editorial variado, que demanda cada vez mais revistas, sites ou programas de TV, em que a visão crítica de um profissional de jornalismo — como é o seu caso — é sempre mais exigido. E que por sua vez, segue alimentando o mito sobre quem realmente veste Prada... (*) Aluna da Central de Produções Jornalísticas

Produtora e editora de moda são profissões de status


Dezembro/2010

esporte

6

"Alcançar a seleção com o time profissional é seu sonho, mas Carla mantém os pés no chão".

o próXimo passo? a

seleÇão brasileira, claro! Ponteira e oposta, Carla já campeã mundial infanto-juvenil, mas agora quer uma vaga ao lado das mineiras Sheila e Fabiana na seleção adulta orlando BenTo

isaBeLLa roCHa (*) Destaque das categorias de base do Minas Tênis Clube por dois anos consecutivos,a jogadora de vôlei Carla Ferreira Santos, de 19 anos, é a mais jovem atleta da equipe profissional. Carla já foi campeã mundial atuando pela Seleção Brasileira infantojuvenil em 2009 e adquiriu experiência internacional viajando pelo Japão, Itália, Tailândia e Holanda. Aos 11 anos, a atleta já chamava atenção pela altura e pelo gosto por esportes. Segundo sua mãe, Dona Sônia, a garota passava o dia

todo jogando bola com os amigos. Diante da habilidade demonstrada na rua, Carla foi incentivada por um amigo a participar da “peneira” (seleção) no Minas, onde foi selecionada para uma pré-equipe mantida pelo clube, com o objetivo de ganhar experiência. Lá permaneceu por um ano, mas não alcançou a equipe principal, o que não a fez desistir do seu sonho. Ficou uma semana parada e emendou um teste com êxito no Mackenzie, de onde saiu após três anos, retornando ao Minas. Para quem pensa que a

vida de atleta é cheia de regalias, Carla e a mãe provam que não. “No início da minha carreira, eu pegava ônibus com a minha mãe para ir treinar e contava com a ajuda financeira da minha irmã”, relatou a jogadora. Dona Sônia conta que já comprou cota no Minas Tênis Clube para a filha ter oportunidade de jogar. E não esconde que já passou apertos com os preços dos materiais esportivos utilizados por Carla.

ossos Do oFÍCio Hoje, a garota é focada no esporte e garante que abrir

mão de namorar e sair foi uma escolha sua. Como prova dessa dedicação, ela mora, por opção própria, em uma república mantida pelo clube com cerca de trinta atletas, com tutora, vigilante e nutricionista. Nos fins de semana Carla volta para casa e mata a saudade da família. A g a ro t a a p ro v e i t a o tempo livre para assistir a partidas de todos os esportes na televisão. Ela ainda planeja voltar a estudar e fazer um curso de educação física ou fisioterapia. Apesar de muito jovem, já sofreu uma torção no tornozelo há quatro anos. Atualmente, a jogadora se

recupera de uma cirurgia feita em dezembro do ano passado no ligamento cruzado do joelho esquerdo. “Faço fisioterapia e musculação e pretendo voltar às quadras em cinco meses”, revela. A mãe não poupa elogios e esbanja orgulho pela filha. É a maior incentivadora da carreira da jogadora, comparece aos jogos e é muito empolgada. Alcançar a seleção com o time profissional é seu sonho, mas Carla mantém os pés no chão. Pretende seguir trabalhando no Minas, pois sabe que um título de campeã mundial na bagagem só aumenta a responsabilidade. (*) Aluna da Central de Produções Jornalísticas


Dezembro/2010

Fotos Arquivo Pessoal

eu sei o real sentido dessa frase”

Diego dos Santos Para os que não acreditam em seu potencial, aí vai um grande exemplo de quem não se limita às condições físicas, e está sempre em busca de seus objetivos profissionais e pessoais. Thiago Helton M. Ribeiro foi vítima de atropelamento e ficou tetraplégico, mas nem por isso desistiu da vida. Ele estuda, trabalha, namora e pratica Quad-Rugby (praticado em cadeira de rodas) — e participou do primeiro time de Rugby em MG, uma versão cadeirante do time do BH Rugby. Thiago encontrou, dentro do Rugby, uma das ferramentas de sua recuperação e reabilitação. Na tetraplegia,

muitos ignoram a hipótese de se praticar esporte. Um tetraplégico não necessariamente perde os movimentos do pescoço para baixo. É correto dizer que um tetraplégico tem os quatro membros prejudicados. “O Rugby me ajudou muito na interação com novos amigos, e na recuperação física que foi fantástica desde quando comecei a praticar”, ressalta. O norte-americano Mark Zupan, maior jogador de Quad-Rugby do mundo, é o maior ídolo e inspiração para Thiago. Jovem e estudioso, Thiago cursa direito na PUC-MG, passou no concurso do TJ-MG onde é servidor do poder judiciário. No momento, está tirando sua carteira de motorista para

ficar ainda mais independente. Segundo Thiago, sua vida pessoal mudou e muito. ”Na vida muda tudo, praticamente, mas no meu caso, graças a Deus, eu só tive que me adaptar a novas rotinas”, afirma. Cada ato individual, por mais simples que seja, já é uma vitória. A recuperação de um tetraplégico é uma atividade diária. Na lesão medular não se pode falar em recuperação sem falar de reabilitação. Segundo Thiago, “as duas coisas andam juntas”. O processo físico de recuperação é lento, depende de cada organismo, mas, no processo de reabilitação é o paciente quem dita o ritmo. “É necessário muita força de vontade, e querer sair da situação”, diz.

Cheio de planos para o futuro, o jovem pretende seguir carreira no judiciário Federal. Quer proporcionar para sua família uma qualidade de vida melhor e reconstruir sua vida. Segundo Thiago, o fato de ter uma limitação física visível leva as pessoas o terem como exemplo de vida. “Para mim é natutal, só tenho a agradecer a Deus por tudo e crer que amanhã será melhor do que ontem”, ensina.

História do esporte Rugby sobre rodas, mais conhecido como QuadRugby, é uma modalidade exclusiva para tetraplégicos

e amputados ou limitados nos quatro membros. Foi criado no Canadá, no final da década de 1970, como opção de esporte para pessoas com auto grau de deficiência. Em 1982, começou a ser praticado nos EUA e se espalhou pelo mundo. Pode ser praticado por homens e mulheres ao mesmo tempo. O objetivo do jogo é ultrapassar com a posse de bola entre cones localizados no fundo da quadra do adversário. Para a prática do esporte as quadras são de tamanho oficial de basquete. As bolas semelhantes as de vôlei. (*) Aluno da Central de Produções Jornalísticas

gente

“A vida não para,

7

“...só tenho a agradecer a Deus por tudo e crer que amanhã será melhor do que ontem”.


8

a realidade

Dezembro/2010

dos flaNeliNHas saBrina assuMPÇ

Ão

momento

após a varre

dura e queim

a de seu esc

ritório impro

visado, pau

lo Cézar mo

stra o que so

brou

“Tem gente que não reconhece meu trabalho, mas daqui que tiro meu sustento” saBrina assUMpÇão (*) Ao estacionar seu carro em via pública, seja no centro da cidade ou em qualquer outro lugar mais movimentado, lá estão eles para auxiliá-lo. Os tomadores de conta, ou popularmente flanelinhas, trabalham como autônomos. Oferecem atividades como lavagem e localização de vagas para carros a fim de ganhar um trocado por esse tipo de serviço. Eles ficam na rua cotidianamente, sob sois escaldantes, e correm risco de vida durante noites desérticas, tudo, com o objetivo de receber um trocado. “Tem gente que não reconhece meu trabalho, mas daqui que tiro meu sustento”, diz Paulo Cézar, que há oito anos trabalha como flanelinha no mesmo local. Na pracinha onde fica, mostra o que sobrou do escritório improvisado que havia montado.

Parte foi varrida pela prefeitura, e queimada por outros flanelinhas que tentaram se estabelecer em seu local de t r a b a l h o. L á , a o m e s m o tempo em que escreve poesias, Paulo toma conta dos carros estacionados e faz amizade com todos que passam pela região. “A polícia daqui me dá a maior força”, fala sobre o apoio que recebe. Segundo Paulo, a profissão é bem arriscada. Quando vê pessoas suspeitas se aproximando dos carros, ele dá um jeito de conversar, para saber de suas intenções. Mas, dependendo da situação, às vezes, liga pra polícia. “Em 2004, colocaram um revólver na minha cabeça e l e v a r a m o c a r ro ” , c o n t a Paulo sobre incidente em que quase perdeu a vida. Mas, feliz, conta que gosta do que faz — “o pessoal daqui me trata como uma família”. A respeito do dinheiro

que arrecada, Paulo conta que não pede nada, e que cabe ao dono do carro reconhecer seu serviço e avaliá-lo — “Tem uns flanelinhas que exigem, e não é por ai, a rua é p ú b l i c a e d á d i n h e i ro quem quer. Já cheguei a receber R$ 100 em época de Natal”. A colocação de cones em vias públicas é outro item polêmico no trabalho dos flanelinhas. Paulo diz que só coloca cones na rua quando é para guardar vagas para deficientes. Além disso, ele ajuda as pessoas a carregarem compras como uma espécie de serviço auxiliar ao que já faz na rua.

LegaLiZaÇão Da atiViDaDe Em agosto deste ano, a Prefeitura de Belo Horizonte regulamentou a atividade de lavador e guardador de carro.

O reconhecimento por lei federal e municipal dessas atividades ilegaliza a atividade de flanelinha em logradouro público, sujeitanto-o à fiscalização e à aplicação de sanções. A lei já existia, mas só neste ano o código de postura se tornou expresso. A prefeitura tem acompanhado o cumprimento da lei. O guardador ou lavador de carro deve usar jaleco e crachá registrado no SINTRALAMAC (Sindicato dos Trabalhadores, Lavadores, Guardadores, Manobristas, e Operadores de Automóveis em Estacionamentos Particulares e Lava jatos do Estado de Minas Gerais). Para o melhor cumprimento da lei, a Polícia Militar também tem acompanhado na verificação da atividade. Ao guardadores de carro é proibida delimitação de vagas com cones nas ruas. A população pode recorrer à denuncia

caso isso venha ocorrer, e o trabalhador pode chegar a perder sua licença dependendo do caso.

regULaMentaDo Lúcio Lourenço, 38, é registrado como guardador de carro há oito anos. Com um molho de chaves pendurado na calça, expõe a confiança que seus clientes têm. Quando preciso, aplica rotativos nos carros que ficam sob sua responsabilidade. Há três anos, o irmão de Lúcio, Edson Castor, 30, após sofrer um acidente se cadastrou na atividade. É pai de duas filhas e não viu alternativa como trabalho. “Nem todo mundo dá dinheiro, mas sobrevivo disso aqui”, afirma Edson. (*) Aluna da Central de Produções Jornalísticas

CoLaBoraraM: Diogo Leão, ellen Magalhães e Henrique paolinelli


prós e os contra da assessoria política

Diogo Leão (*) Vivemos um dos anos eleitorais mais marcantes da história do Brasil. Foram eleitos representantes para quase todas as esferas do poder legislativo do país, além de governadores e de presidente. Neste contexto, tem se destacado muito a função do assessor político. O assessor político, para alguns, é o responsável pela construção da imagem; para outros, a de marqueteiro e até de ombudsman, como querem alguns. Os postos de trabalhos na comunicação social são muito variados, e já não são tão simples as divisões das funções entre jornalistas, publicitários e relações públicas. Apesar de tarefas essencialmente específicas, muitos dos que têm se dedicado à assessoria política são formados em jornalismo,

Esta nova oportunidade tem oferecido melhores salários em vários casos. Guilherme Minassa, atual coordenador de planejamento em informação da Câmara Municipal de Belo Horizonte – CMBH, ao falar sobre o respeito à verdade, quando o caso é lidar com a imagem de pessoas, argumenta que “manipular informações é o que, de um modo geral, fazem todos os veículos de comunicação, que como empresas, têm como razão de existir a sobrevivência financeira. Um bom assessor político precisa ter consciência desse contexto, porque na verdade estamos trabalhando a imagem de um político, que precisa da boa acolhida da opinião pública para se eleger a um cargo”. Sobre a formação e experiência profissional de uma pessoa para trabalhar como assessor, Guilherme

recomenda que seja alguém que já tenha feito jornalismo político, que “conheça os dois lados do balcão”. Com uma visão diferente sobre as funções de um assessor político, Luiz Carlos Silva, assessor de imprensa do deputado federal Luis Tibé, formado em jornalismo no Centro Universitário Newton Paiva, afirma que “se um assessor manipula uma notícia, ele estará construindo uma imagem falsa de uma pessoa. É o político sério e responsável que constrói a sua própria imagem, o assessor apenas divulga essa imagem. A política é vista com um grande preconceito no Brasil, assim o maior desafio para um assessor político é demonstrar que nem todos os políticos são iguais”. O vereador, professor na PU C M i n a s e j o r n a l i s t a Adriano Ventura entende a

função do assessor político como “a mistura de um ombudsman com marqueteiro, um campo que está se abrindo cada vez mais para o jornalismo”. A maioria dos políticos não gosta de definir valores, quando o assunto é o salário de um assessor. No entanto, o vereador Ventura admite que “realmente a média do que um assessor político ganha é melhor do que quem está em veículos de comunicação em nível inicial”. Segundo o vereador, na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, o salário de um assessor, em geral, está ao redor de R$ 2 mil. Mas ele afirma que, na Assembleia legislativa pode variar de R$ 1.500 a R$ 8 mil. A variação se explica: os vereadores ou deputados de partidos pequenos costumam ter menos cacife que os caciques dos grandes partidos — “aqueles políticos que estão todo dia na

"Tudo tem seu custo: se na imprensa não há fim de semana, na política não há hora nem paz". Adriano Ventura

"Manipular informações é o que de fato todos os veículos de comunicação fazem". Guilherme Minassa

mídia, que sabem como aparecer e têm a imprensa na mão”, como afirmou a assessora de um deputado emergente, que acabou de saltar da Câmara para a Assembleia Legislativa. Que se trata de um bom mercado de trabalho para os jornalistas, ninguém duvida, “mas tudo tem seu custo: se na imprensa não há fim de semana, na política não há hora nem paz” — o comentário é do vereador Adriano Ventura. Em um tempo em que as redações estão cada vez mais enxutas, não há como não se deixar levar pelas promessas desse novo filão do mercado. No entanto, vale levar mais a sério a consideração do vereador Adriano Ventura. Pior do que não ter paz nem fim de semana é ser escalado para, de repente, ter que explicar um mensalão que não se explica. (*) Aluno da Central de Produções Jornalísticas

9

política

Os

Dezembro/2010

Um debate que envolve o jornalista com a promessa de melhores salários, mas também põe na berlinda os ideais profissionais e a ética


Dezembro/2010

trÂnsito

10

uM grande projeto urbano, mas com

falHas rodoviÁrias Bruno MeneZes

Com o aumento da frota de veículos e do número de CNH’s emitidas, Belo Horizonte tenta melhorar seu trânsito para a copa de 2014. Bruno MeneZes

BrUno MeneZes (3º perÍoDo) Belo Horizonte é uma cidade planejada, que tem como moldura a Serra do Curral. Atualmente, é a sexta mais populosa do país, com cerca de 2,4 milhões de habitantes, segundo o censo 2010, e com uma estatística alarmante em relação ao tráfego de veículos. Uma combinação de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), da Agência Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) mostra o tamanho do problema: cada quilômetro quadrado da cidade é ocupado, em média, por aproximadamente 4,6 mil veículos.

Mais do que isso: a frota municipal cresceu num ritmo tão acelerado que, hoje, há um carro, moto, ônibus ou caminhão para cada 1,7 habitante. O dono da Autoescola Ideal, João Davi dos Santos, 45, conta que os jovens na faixa etária de 18 a 21 anos são os que mais procuram tirar carteira de motorista hoje em dia. Segundo ele, aproximadamente 22 pessoas em sua autoescola são aprovadas por mês no exame de legislação. Desses, 50% passam no exame de direção. Ou seja, somente nesta autoescola perto de 132 motoristas são formados por ano. Um número alto, se levarmos em conta de que em todo o estado de Minas Gerais existem 2090 Centros de Formação de Condutores (CFC’s).


Dezembro/2010

O povo

opiniÕes

fala

no Twitter

soBre o trÂnsito De

BH

“O trânsito Belo-horizontino está um caos”, reconhece a dona de uma oficina mecânica, Carla Assis, 44. Ela conta que há poucos dias tentou ir à Pampulha, atra-

“@hojevouassim:

O trânsito de BH chegou ao seu ponto critico. Já é hora do rodízio.”

vés do anel rodoviário, e demorou três horas. “E olha que saí do bairro Betânia, que em um trajeto normal, demoraria menos de 30 minutos para completar o percurso”, esclarece. Carla acredita que em 2014, mesmo com as obras que estão em andamento, Belo Horizonte não estará

“@jvviana:

tem gente ai falando

preparada para receber tantas pessoas de

em bh pra abertura da

uma só vez. O maior problema, em sua

copa. alguem viu essa

opinião, está nas principais avenidas, como a Antônio Carlos, Pedro I e Carlos

cidade como ficou no

Luz, que dão acesso ao Mineirão — ”essas

carnaval? o transito

avenidas são completamente intransitáveis no horário de pico, e acredito que um projeto melhor que alargá-las deveria ser

ali na andradas foi o fim...”.

feito. Além disto, a BHTRANS deveria ser extinta, pois a única coisa que sabem fazer é complicar o trânsito, mudando as ‘mãos’ das ruas”, ataca. “Quem diz que o trânsito de Belo Horizonte é caótico, é porque nunca foi a outras cidades que se tornaram megalópoles, como São Paulo“, contrapõe o estudante de Engenharia Mecânica, Júlio César, 19. Segundo ele, a estrutura rodoviária de BH tem muito que melhorar para 2014, “mas o trânsito está longe de ser caótico, se comparado a outras grandes cidades; e como o número de jovens com CNH vem aumentando muito”, afirma

“@Marcocvieira :

Essa é a nossa #BHTrans tornando o transito de BH um verdadeiro BHTranstorno para sua vida hehehe”.

Júlio, “os pais devem orientar melhor os filhos antes de deixar que eles saiam de carro pelas ruas”.

“@paulosajunior:

Definição de Inferno: Trânsito de BH.”

Cenas Do

Caos UrBano

Para a auxilia cessionária Tamietti, 24

r de marketi

ng da con-

Garra Volksw agen, , várias fatore

Caroline

s contribuíram

para o aum ento da frot a belo-horiz ontina. “Acred ito que a mel hora na econ omia domésti ca possibilito u que as clas ses C e D adquir issem o sonh ado carro nov o. A lé m d is to, al gu m as co n ce ss io n ár ia s negociam au tomóveis em até 80 presta ções fixas e o fortalecim ento da econ om ia n o B ra si l te m es ti m u la d o m u it a gente a com prar veículo s em razão de o automóvel se r, principalm ente sinônim o de status.” Além das in úmeras obra s em andamento em B elo Horizon te, como o al argamento de avenidas e a construção de viadutos, a ob ra que prom ete “aliviar” o trânsito de B H são os cham ados BRT’s. O Bus Rapid T ransit (BRT ) são corred ores rá p id os d e ôn ib u s, qu e ir ão ag il iz ar o transporte co letivo urban o, criando fa ixas exclusiva s de trânsito e plataformas de embarqu e e desemba rque. A obra custa rá ce rc a de R$ 600 m il h õe s e se rá implantada nas principa is avenidas que dão acesso ao Mineirão.

11


Dezembro/2010

ViDa

12

disleXia

Não poupa Nem os GÊNios LoHanna LiMa (*)

De gÊnios a presiDentes Engana-se, porém, quem pensa que a dislexia é coisa só de criança. A pedagoga Alice Bernadete, de 44 anos, descobriu há apenas dois anos que sofria de dislexia visual. A descoberta foi totalmente por acaso. “Fui levar minha filha para fazer os exames, e na conversa com a psicóloga acabei me identificando com alguns dos sintomas”, conta Alice. Ela se lembra de que, ainda no período da faculdade, já sentia dificuldades, mas atribuía ao histórico de seus problemas de visão. “Sou formada em pedagogia, mas fiz direito por um tempo. Por se tratar de uma área que exige muita leitura, tive bastante dificuldade e acabei abandonando”, justifica. Com o tratamento, ela sentiu logo a diferença. “Hoje consigo enxergar melhor as cores e leio melhor também — quem sente dificuldades deve procurar logo um especialista”, aconselha. Alice faz parte de um contingente de disléxicos que, segundo a Associação Brasileira de Dislexia, pode chegar a até 17% da população mundial. E que não poupa gênios nem presidentes. Entre os disléxicos mais famosos do mundo estão o ator Tom Cruise, os gênios Leonardo Da Vinci e Thomas Edison (o inventor da lâmpada), Napoleão Bonaparte, a escritora Agatha Christie e os presidentes norte-americanos George Washington e Frank D. Roosevelt. Walt Disney — o “pai” de Mickey, Pluto, Pato Donald e Pateta — também era disléxico. (*) Aluna da Central de Produções Jornalísticas

naYara carMo

"De tom Cruise a napoleão e Leonardo da Vinci: gênios também tem dislexia".

Dificuldade na memorização, caligrafia muito feia (disgrafia), erros distintos em palavras simples. Estes são apenas alguns dos sintomas de uma pessoa que sofre de Dislexia, um mal que surge com mais frequência do que se imagina. Coincidentemente, é na fase de aprendizado que as dificuldades ficam mais evidentes. Este distúrbio se dá devido a uma alteração neurológica do processo cerebral que interfere em várias áreas e que dificulta o aprendizado da criança. Sofrer destas disfunções não quer dizer que a pessoa é menos inteligente que as outras, apenas que ela executa as tarefas de forma diferente. Devido à falta de conhecimento, os pais, às vezes, interpretam as dificuldades como falta de interesse, preguiça, e até passam a questionar a inteligência da criança. Mas, para reconhecer o problema é necessário que testes específicos sejam aplicados por uma equipe profissional formada basicamente por neurologistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogas. Dependendo da área mais atingida, um desses profissionais é designado para trabalhar o problema de forma mais intensiva. Segundo a Dra. Márcia Guimarães, médica oftalmologista, além desta dislexia clássica, existe também a dislexia de leitura, campo em que é especializada: “Trata-se de um problema na percepção visual. A visão é responsável por 80% do nosso aprendizado. Para identificar e compreender um objeto, primeiramente olhamos para ele.” O que dificulta ainda mais diagnosticá-la é que nem sempre o portador dessa disfunção sofre de problema de vista. “Às vezes, a criança não precisa usar grau e não é estrábica — o problema está na hora de o cérebro trabalhar a informação”, afirma.


? tempo de reacender esperanças

“Indignação em saber que o país possui um cadastro nacional de veículos roubados, mas não um cadastro nacional de pessoas desaparecidas”. Assim Robson Anísio, ex-garoto de rua, ator e radialista, define o sentimento que o levou a criar o Movimento Mineiro pelas Pessoas Desaparecidas e Crianças Exploradas (MIDESPAR-MG), que surgiu em março de 2006, após o desaparecimento de Douglas Freitas, 13 anos, jogador pré-mirim do Clube Atlético Mineiro. O movimento busca auxiliar as famílias, muitas vezes fragilizadas e sem saber como agir diante do desaparecimento da criança ou adolescente, orientando-as e representando-as junto aos órgãos publicos para cobrar mecanismos eficientes de busca. É trabalho do movimento criar tambem campanhas para a prevenção do desaparecimento e busca, com palestras e cartilhas distribuídas em escolas públicas e privadas de BH. “Volta”, a campanha, está em circulação em todo o Estado e seu trabalho de encontrar os desaparecidos. Nestes cinco anos de existência, o movimento tem buscado parcerias para a criação de mecanismos eficientes de busca e defesa à pessoa desaparecida, por meio de contatos com deputados da esfera estadual e federal, vereadores de BH, governo do estado, prefeituras, ONG’s e alianças com outros movimentos importantes, como as Mães da Sé (São Paulo) e a CRIDESPAR (Crianças Desaparecidas do Paraná), além de parcerias para atendimento psicológico às famílias afetadas.

13

ciDaDania

?

CiCa aLFer (*)

Dezembro/2010

Orientação e representação junto aos órgãos públicos é o foco do movimento por pessoas desaparecidas

divulGaÇÃo

(*) Aluna da Central de Produções Jornalísticas

CoMo partiCipar

Qualquer pessoa pode participar das ações e projetos do MIDESPAR. Para isso, basta entrar em contato pelo e-mail: desaparecidos.mg@ig.com.br, ou pelos telefones (031) 9251-1663/97336307. “Devemos nos unir em prol de uma sociedade melhor, para que possamos juntos construir a verdadeira paz, em nossa sociedade”, ressalta Robson Anísio.

robson, fundador do MiDespar, busca ajudar as famílias com pessoas desaparecidas


12

Dezembro/2010

a t i a m i a r a t d e i v ? Mitos e verdades sobre o espetáculo “O lago dos Cisnes”, tema do premiado longametragem “O cisne negro”

O filme “O cisne negro” ainda nem saiu de cartaz e já é um sucesso de crítica e bilheteria. Também pudera, o longa se baseou em uma das mais tradicionais peças da história do balé clássico: “O lago dos cisnes”. No filme, a trama gira em torno de uma bailarina que enfrenta dificuldades para realizar sua apresentação como a prima ballerina de um espetáculo. Na vida real, as coisas não são muito diferentes. Representar o papel principal em “O lago dos cisnes” é o posto mais alto que uma bailarina pode atingir, justamente pelo perfeccionismo que o espetáculo exige. Se os movimentos devem ser impecáveis, seguindo uma coreografia rígida, à dançarina também cabe interpretar um papel complexo, que exige uma dramaticidade intensa. Ela é, ao mesmo tempo, a jovem princesa — que é transformada em cisne por um feiticeiro —, e ainda, o cisne negro. Por sua atuação como a bailarina “Nina”, em “Cisne Negro”, a atriz Natalie Portman recebeu o Oscar de melhor atriz em 2011.

o espetÁCULo O espetáculo é baseado em um conto alemão que narra em quatro atos, a história de um príncipe que se apaixona por uma jovem princesa. Só que ela carrega uma maldição. “Odette”, a princesa da história, foi transformada em um cisne e só retorna a sua condição humana durante a noite. A transposição da lenda para o balé foi realizada pelo compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovsky, em 1876. Sua estreia ocorreu no Teatro Bolshoi, em Moscou, no dia 20 de fevereiro de 1877, e está em cartaz há 134 anos. O curioso é que na própria estreia, o espetáculo foi um fracasso, não pelo teor da obra, mas pela má interpretação da orquestra e dos bailarinos. Foi dessa forma, logo após a estreia, que o espetáculo e o compositor buscaram se aperfeiçoar ao máximo para que o ballet se tornasse uma das mais grandiosas peças do mundo da dança. Dessa forma, se criou também a expectativa de uma aura de perfeccionismo em torno

de “O lago dos cisnes”. Tanto que poucas foram as solistas, em nível mundial, que chegaram a dançar o papel principal da peça, repertório obrigatório de todas as grandes companhias.

reaLiDaDe oU FiCÇão? Quando a bailarina está no palco representando o espetáculo, o que se vê é a graciosidade dos movimentos e a forma suave como ela interpreta a sua dança. Mas será que é realmente assim? A ex-bailarina e professora Tércia Cançado, que dançou “O lago dos cisnes” há cerca de 30 anos, na inauguração do Palácio das Artes, conta que nos bastidores, a vida de uma bailarina não é bem assim. “A bailarina realmente tem que se cuidar; assim como no filme, existe esta competição e também há a figura do coreógrafo que, às vezes, não gosta de determinada bailarina”, conta a professora. A bailarina Mel Moraes já passou por uma situação parecida com a da protagonista do filme, quando teve pesadelos por causa da sua preocupação em relação a uma peça. “Já teve caso de vir figurino de fora e eu ficar sem dormir, porque eu tinha que perder peso, — por isso, eu tinha pesadelos, achava que o figurino não ia caber em mim”, diz. “A cobrança e a busca pela perfeição realmente existem”. Quem conta é a bailarina Poliana Furtado. “Essa é a nossa rotina: querer sempre estar magra, sempre se regular para não passar do peso ideal, e querer sempre estar mais bonita”. Porém, a situação abordada no filme é um exagero da realidade. “No filme existe uma mistura, que as pessoas não compreenderam muito bem: retrata o drama daquela bailarina, e a situação psicológica dela. As bailarinas têm que se cuidar, mas nada ao ponto de ficarem doentes por causa disso” explica Tércia Cançado. Pelo visto, por mais que o “Cisne Negro” se assemelhe em muito à realidade e à rotina das bailarinas, não deixa de ser uma obra de ficção, dramatizando a vida de uma pessoa de forma extrema, a fim de entreter e emocionar os espectadores. (*) Aluna da Central de Produções Jornalísticas

FoTos divulGaÇÃo

JULiana Baeta (*)


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.