TCC ArqUrb Praça Getúlio Vargas e entorno: proposta de intervenção urbana em Baixo Guandu

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UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LÍLIAN DOS SANTOS NEPOMUCENO

PRAÇA GETÚLIO VARGAS E ENTORNO: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO URBANA EM BAIXO GUANDU

VILA VELHA 2013


LÍLIAN DOS SANTOS NEPOMUCENO

PRAÇA GETÚLIO VARGAS E ENTORNO: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO URBANA EM BAIXO GUANDU

Trabalho de apresentado Velha, como obtenção do Urbanismo.

VILA VELHA 2013

Conclusão de Curso à Universidade Vila requisito parcial para grau em Arquitetura e


LÍLIAN DOS SANTOS NEPOMUCENO

PRAÇA GETÚLIO VARGAS E ENTORNO: proposta de intervenção urbana em Baixo Guandu Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau em Arquitetura e Urbanismo.

COMISSÃO EXAMINADORA

___________________________________ Profª. Ma. Colette Dulce Dantas Gomes Universidade Vila Velha Orientador

___________________________________ Profª. Dra. Simone Neiva Loures Gonçalves Universidade Vila Velha Avaliador Interno

___________________________________ Bethânia Quemelli Freitas Arquiteta Avaliador externo convidado

Parecer da Comissão Examinadora em ___ de ________________ de 2013: __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________


Dedico este trabalho aos meus pais e irmãos que, mesmo distante, me deram muito amor, carinho, apoio e incentivo para continuar minhas pesquisas. Dedico também ao meu amado, Flávio Henrique, pelo amor, carinho, paciência e dedicação a mim e auxílio em meu trabalho quando precisei.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela força que me deu nos momentos mais difíceis, nos quais pensei em desistir. Agradeço a Ele por me iluminar, e me permitir vencer mais um desafio, mostrando-me que nem sempre o melhor caminho é o mais fácil. Aos meus pais, Ivanildes e Rogério, que sem eles eu jamais teria chegado onde eu cheguei. Eles sempre foram minha fortaleza e porto seguro, e sempre me encorajaram com muito carinho e um amor incondicional. Aos meus irmãos, Marcos e Letícia, que, dentro de suas possibilidades, ajudaram-me nas pesquisas, apoiaram-me e compreenderam a minha falta. Aos meus avós, que buscaram em todo o momento me assistir, orientar-me e entenderam minha ausência. Aos meus familiares e amigos, principalmente a professora Chênia e meus primos, Paula e o Ramon, que contribuíram diretamente para o desenvolvimento deste trabalho. Ao Flávio Henrique, meu namorado e amigo, que acompanhou todo o meu trabalho, suportando minha aflição, meus dramas, viu-me chorar, apoiou-me e me fez sorrir. À minha amada orientadora Colette, por me auxiliar durante este ano.Ela que, por muitas vezes, foi procurada, abordada e incomodada pelo meu desespero de aluna. À BethâniaQuemelli Freitas, por ter sido tão prestativa e atenciosa. Aos meus professores que me transmitiram seus conhecimentos e fizeram com que eu me apaixonasse ainda mais pelo fascinante mundo da arquitetura e do urbanismo. Aos meus amigos e colegas de turma, pelas alegrias vividas nesses cinco anos, pelas correrias de entrega, apresentações e provas, pelos risos, desabafos e comemorações.

DE CORAÇÃO, MUITO OBRIGADA!


RESUMO

Durante toda sua história a cidade de Baixo Guandu foi palco de inúmeras transformações que acompanharam o progresso do Espírito Santo. Dentre diversos cenários no decorrer de seu desenvolvimento, um em especial se destacou por proporcionar, durante décadas, entretenimento, cultura e lazer. Com o passar do tempo, tanto a praça existente no local quanto seu entorno foram sendo marginalizados, senão degradados pelos próprios gestores

municipais

como

também

por

uma

parcela

da

comunidade.Objetivando revitalizar esse espaço urbano, foram realizadas pesquisas bibliográficas e iconográficas, entrevistas, levantamentos de dados, análises do local e estudos de caso. Através do método de Lynch (2006), foi possível compreender esse espaço urbano ao apontar os elementos que estruturam a imagem desse lugar. Em seguida foi desenvolvida uma análise visual onde se obteve uma melhor percepção do local e de seu contexto urbano. A partir desses estudos, foi elaborado um projeto urbanístico para a Praça Getúlio Vargas e seu entorno, que conta com pequenas intervenções que, adaptadas às necessidades atuais dos usuários, seguirá com o objetivo de revitalizar, buscar promover os valores históricos municipal, manifestações culturais e o convívio social.

Palavras-chave: Arquitetura, Urbanismo, Intervenção Urbana, Praça Getúlio Vargas, Baixo Guandu.


ABSTRACT

Throughout its history, the city of BaixoGuandu has experienced many changes that accompanied the improvement in Espirito Santo. Among several buildings built during the development of the city, a particular building has provided entertainment, cultural activities, and recreation for decades. Over time, both the local plaza as its surroundings were being marginalized because of the municipal mismanagement as well as the actions of a portion of the community. In order to revitalize this urban space, iconographic research and literary research, as well as interviews, survey data, site analysis and case studies were conducted. Through the method of Lynch (2006), and by pointing out the elements that shape the image of this place, it was possible to understand this urban space. Then, a visual analysis was developed, which allowed a better understanding of the site and its urban context. As a result of these studies, an urban project was planned for the Getulio Vargas Plaza and its surroundings, and it has small interventions that are tailored to the current needs of users. This project will continue with the goal of revitalizing the place and promoting its historical, cultural, and social value.

Key words: Architecture, Urbanism, Urban Intervention, Getulio Vargas Plaza, BaixoGuandu


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Situação do Largo do Arouche, República/SP....................................21 Figura 2. Divisão dos dois setores do Largo do Arouche.....................................22 Figura 3. Identificação das diversas vias que convergem e cortam o Largo do Arouche.....................................................................................................................23 Figura 4. Corte esquemático exibindo a variação dos passeios.......................24 Figura 5. Secção do setor 1, identificação de alguns usos e equipamentos constituintes do local...............................................................................................25 Figura 6. Corte esquemático setor 1......................................................................25 Figura 7. Exemplos de espaços gerados a partir da intervenção no setor 1 do Largo do Arouche, imagens do ano de 2002......................................................26 Figura 8. Secção setor 1, floricultura em meio à praça......................................27 Figura 9. Secção do setor 2 onde é possível visualizar as diversas ruas que o cortam.......................................................................................................................28 Figura 10. Corte esquemático identificando o fechamento do playground além da via extremamente larga..........................................................................28 Figura 11. Corte esquemático mostra diversas inconformidades identificadas no setor 2 do Largo do Arouche............................................................................29 Figura 12. Localização da Praça Júlio Prestes, SP................................................31 Figura 13. Projeto de remodelagem da estação ferroviária e da Praça Júlio Prestes........................................................................................................................32 Figura 14. Implantação dos trilhos na Praça Júlio Prestes...................................34 Figura 15. Inconformidades encontradas na Praça Júlio Prestes......................35 Figura 16. Localização do município de Baixo Guandu.....................................38


Figura 17. Pequeno grupo de índio Botocudos em Baixo Guandu, 1903.........39 Figura 18. Estrada de ferro em Baixo Guandu......................................................40 Figura 19. Maria Fumaça em Baixo Guandu........................................................40 Figura 20. Comemoração à Emancipação da cidade de Baixo Guandu......41 Figura 21. Primeira hidrelétrica de Baixo Guandu................................................42 Figura 22. Limite dos bairros Mauá/MG e Mauá/ES ligados pela ponte Jones dos Santos Neves......................................................................................................43 Figura 23. Antiga ponte do Dr. Jones dos Santos Neves.....................................43 Figura 24. Antiga ponte do Dr. Jones dos Santos Neves.....................................44 Figura 25. Ponte Dr. Jones dos Santos Neves encoberta pelas águas do Rio Doce..........................................................................................................................44 Figura 26. Nova ponte Dr. Jones dos Santos Neves.............................................45 Figura 27. Igreja Matriz de São Pedro em 1976.....................................................47 Figura 28. Matriz de São Pedro atualmente..........................................................48 Figura 29. Canaan Social Clube.............................................................................48 Figura 30. Cine Alba.................................................................................................49 Figura 31. Projeto da nova fachada do Cine Alba.............................................50 Figura 32. Paisagismo na Praça Getúlio Vargas sendo construída...................51 Figura 33. Definição do setor de intervenção......................................................52 Figura 34. Situação da Praça Getúlio Vargas......................................................53 Figura 35. Tapete de Corpus Christi.......................................................................54 Figura 36. Praça Getúlio Vargas em 2011.............................................................55 Figura 37. Mapa de localização das edificações com interesse histórico local...........................................................................................................................56


Figura 38. Edificação número 1 do mapa, o casarão da Madame Albertina Holz foi construída no século XIX............................................................................56 Figura 39. Edificação número 2 do mapa, foi construída na década de 1920............................................................................................................................57 Figura 40. Edificação número 3 do mapa, a Câmara Municipal......................58 Figura 41. Edificação número 4 do mapa, com a fachada de interesse histórico......................................................................................................................58 Figura 42. Edificação número 5 do mapa, uma edificação residencial..........59 Figura 43. Praça Getúlio Vargas em 2011.............................................................60 Figura 44. Praça Getúlio Vargas em 30 de março de 2013................................61 Figura 45. Entulhos deixados na Praça Getúlio Vargas.......................................62 Figura 46. Mapa de uso e ocupação do solo do setor de intervenção..........64 Figura 47. Mapa de gabarito do setor de intervenção......................................65 Figura 48. Mapa das vias de acesso ao setor de intervenção..........................67 Figura 49. Mapa de limites......................................................................................68 Figura 50. Mapa de bairros/setores.......................................................................70 Figura 51. Marcos visuais internos...........................................................................72 Figura

52.

Elementos

que

compõem

o

bicicletário

do

setor

de

intervenção...............................................................................................................75 Figura 53. Insolação na Praça Getúlio Vargas às nove horas da manhã........77 Figura 54. Insolação na Praça Getúlio Vargas ao meio-dia..............................77 Figura 55. Insolação na Praça Getúlio Vargas às quinze horas.........................78 Figura 56. Insolação na Praça Getúlio Vargas às dezessete horas...................78 Figura 57. Banco de carro de passageiros – Museu Vale...................................79 Figura 58. Vista das mesas implantadas................................................................80


Figura 59. Exemplo dos dois bancos que serão implantados............................80 Figura 60. Banco criado na Praça Getúlio Vargas..............................................81 Figura 61. Modelo dos brinquedos que serão utilizados no playground..........81 Figura 62. Parte do Playground inserido na praça..............................................82 Figura 63. Modelo dos postes de iluminação pública.........................................82 Figura 64. Exemplo do poste montado em quatro folhas..................................83 Figura 65. Exemplo de lixeira adotada para o projeto.......................................83 Figura 66. Vista do relógio de um dos eixos da praça........................................84 Figura 67. Exemplo de totem inserido no projeto, design de Oscar Niemeyer...................................................................................................................85 Figura 68. Flor Íris.......................................................................................................86 Figura 69. Novo paisagismo da Praça Getúlio Vargas.......................................87 Figura 70. Grama São Carlos..................................................................................87 Figura 71. Begônia Sempre-florida, cor vermelha................................................88 Figura 72. Begônia Cerosa, cor branca................................................................88 Figura 73. Trepadeira Buganvile.............................................................................89 Figura

74.

Modelo

de

acabamento

do

piso

emborrachado

do

playground................................................................................................................90 Figura

75.

Detalhe

de

aplicação

do

piso

emborrachado

do

playground................................................................................................................90 Figura 76. Via pavimentada com paver...............................................................91 Figura 77. Exemplo de modulação do paver permitindo facilmente a troca de cor........................................................................................................................92


SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 A PRAÇA NO MEIO URBANO................................................................................17 1.1 A IMPORTÂNCIA DA PRAÇA.............................................................................17 1.2DUAS PRAÇAS EM CONTEXTO SEMELHANTES..................................................19 1.2.1 LARGO DO AROUCHE.....................................................................................20 1.2.2 PRAÇA JÚLIO PRESTES.....................................................................................29 1.3 RELAÇÃO ENTRE OS ESTUDOS DE CASO E O SETOR DE INTERVENÇÃO........35 2 BAIXO GUANDU: HISTÓRIA, CULTURA E CONTEXTO URBANO...........................37 2.1 HISTÓRICO...........................................................................................................37 2.2 ESPAÇOS SÓCIOCULTURAIS EM BAIXO GUANDU...........................................45 3 PRAÇA GETÚLIO VARGAS: O PONTO DE ENCONTRO DO SETOR..........................................................................................................................52 3.1 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA.................................................................................52 3.2 ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL...........................................................................58 4 ANÁLISE DO SETOR DE INTERVENÇÃO.................................................................62 4.1 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO...........................................................................62 4.2 ANÁLISE DA VOLUMETRIA..................................................................................63 4.3 ANÁLISE VISUAL...................................................................................................64 4.3.1VIAS...................................................................................................................65 4.3.2 LIMITES...............................................................................................................66 4.3.3 BAIRROS/SETORES............................................................................................68 4.3.4 PONTOS NODAIS..............................................................................................69 4.3.5 MARCOS VISUAIS.............................................................................................70 5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO DO SETOR.............................................................73 5.1 CULTURA E LAZER................................................................................................73 5.2 MOBILIDADE........................................................................................................74 5.3 A PRAÇA..............................................................................................................75


5.3.1 CONFORTO TÉRMICO......................................................................................75 5.3.2 MOBILIÁRIO......................................................................................................78 5.3.3 VEGETAÇÃO.....................................................................................................84 5.3.4 PAVIMENTAÇÃO..............................................................................................88 5.4 O ENTORNO.........................................................................................................90 5.4.1 AS FEIRAS CULTURAIS.......................................................................................91 5.4.2 AS EDIFICAÇÕES..............................................................................................92 CONSIDERAÇÕES......................................................................................................94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................95 ANEXOS.....................................................................................................................97


INTRODUÇÃO

Direito de todo cidadão, a cultura é instrumento fundamental para a formação social de uma pessoa e sociedade. Conviver culturalmente, por conseguinte, vai além de uma simples relação social, ou seja, além de pessoas envolve edificações, espaços públicos, dentre outros. A convivência cultural somado a toda estrutura da paisagem desempenha, portanto, papel essencial da formação sociocultural. Como qualquer espaço público, as praças possuem papéis sociais e culturais, porém diferenciam-se dos demais quando servem como local de fuga do estresse urbano. Em Baixo Guandu - ES, uma importante praça foi palco de grandes transformações socioculturais e históricas, a Praça Getúlio Vargas. Localizada no centro do município, serviu como ponto de encontro dos cidadãos, uma vez que seu espaço era acolhedor e seu entorno servia como atrativo, devido à existência de edificações voltadas ao lazer e entretenimento. Com o transcorrer do tempo, a ação dos gestores municipais acabaram por torná-la um espaço ocioso na cidade. A Praça foi quase totalmente degradada por um projeto inicialmente embargado, e, por consequência, virou berço para criminalidade afastando possíveis frequentadores e, também, refletindo em seu entorno. Estudos serão feitos com a finalidade de propor ideias para reverter essa situação, buscando promover a cultura municipal atraindo a população atualmente afastada desse espaço, atendendo suas necessidades atuais, porém sem perder sua identidade. Para isso, pesquisas foram realizadas através de leituras bibliográficas, levantamento em arquivos públicos e pessoais, pesquisas iconográficas e entrevistas com pessoas envolvidas com o assunto em questão. Desta forma, foi possível ter as informações necessárias para diagnosticar as reais necessidades do local. Identificando a importância desses espaços dentro


da paisagem urbana e como eles contribuem para a vida sociocultural do meio em que estão inseridos. Tendo a Praça Getúlio Vargas como o centro, o ponto de encontro do setor estudado, será abordadoaimportância da praça em meio a paisagem urbana, identificando a necessidade do convívio nos espaços de uso público, destacando atividades, sensações e impactos que ela pode oferecer às pessoas que a utilizam e ao meio urbano em que se insere. Duas praças, inseridas em um contexto histórico semelhante à praça estudada, serão analisadas em seus aspectos que permitem acolher ou inibir as pessoas de seu meio e suas relações com o entorno. Também serão pontuados os pontos fortes e frágeis desses locais, que interferem nas condições em que elas se encontram atualmente, a fim de identificar fragilidades projetuais e de uso que as afastam de seus entornos e dos contextos em que estão implantadas. A partir das análises feitas dessas praças, serão verificados os fatores que mantêm a Praça Getúlio Vargas e seu entorno sem uso, para que possam servir de ponto de partida para se traçar as diretrizes projetuais que irão colaborar para resgatar as atividades e usos que moviam aquele local. A cidade de Baixo Guandu possui uma história e uma cultura muito significativas e, por isso, a proposta de intervenção urbana considerará essas dimensões como de extrema importância na criação projetual, objetivando resgatar o convívio social que ali existia, e que era movido por atividades relacionadas a essas questões. Este trabalho, portanto, tem como objetivo propor soluções de intervenções em um setor identificado com grande potencial cultural, a fim de resgatar a importância que ele teve em Baixo Guandu, trazendo, novamente, para a cidade um espaço que proporcione convívio social, além de lazer e entretenimento, a promoção da cultura municipal. Para isso, será feito um estudo de como esse setor pode ser trabalhado, de modo que ele tenha uma estrutura que abrigue as funções a ele destinadas. O levantamento do


Programa de Necessidades e da área disponível para a intervenção serão ferramentas que irão auxiliar no desenvolvimento das propostas que, fundamentalmente, se voltará para integração tanto no meio urbano quanto no meio sociocultural.


1

A PRAÇA NO MEIO URBANO

1.1

A IMPORTÂNCIA DA PRAÇA

A paisagem urbana é o cenário onde se desenvolve a história da humanidade, “é na paisagem que todas as forças inter-relacionadas de nossa existência entram em ação” (WATERMAN, 2010, p.15). Waterman(2010) relata, que desde os tempos antigos a vida no espaço público já era importante, principalmente na Roma e na Grécia antigas. Nessas cidades haviam inúmeros locais voltados a eventos esportivos, culturais e intelectuais, todos fundamentados de acordo com o planejamento de cada cidade. Para ele, na Grécia, a ágora era semelhante às praças atuais, ali funcionava o mercado público grego, tendo, porém, o centro de cultura e política como sua principal importância. Enquanto o Foro, na antiga Roma, exercia uma função muito parecida com a da ágora, representava o encontro intelectual. Esses espaços públicos permanecem até hoje com sua grande importância para a relação social entre habitantes e visitantes das cidades. Uma cidade é formada por um grupo de comunidades, que por sua vez é formada por um grupo de pessoas. Porém uma cidade é muito mais que uma simples aglomeração de habitantes, “é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem [...] viver em comunidade a viverem isoladas” (CULLEN, 2008, p.9). Exatamente por terem escolhido viver em sociedade, as pessoas sentem a necessidade de espaços para se encontrar e se reunir. Elas querem ter acesso à biblioteca, a teatros, a restaurantes, poder transitar livremente pela cidade. Segundo Gordon Cullen (2008), a paisagem urbana é formada pelo conjunto de elementos como edifícios, tráfego, juntamente com árvores e outros itens da natureza resultam na arte do relacionamento, e despertam nos habitantes e visitantes da cidade atenção e boas sensações.“Praças, 17


ruas, jardins e parques constituem o cerne do sistema de espaços abertos na cidade. Nem sempre verdes, os espaços livres são o reflexo de um ideal da vida urbana em determinado momento histórico” (ALEX, 2008, p. 61). Para ele, a praça não é um local aberto em meio à cidade apenas, mas ainda um núcleo sociável em meio à malha urbana. Esses espaços se desenvolvem junto com as cidades, admitindo diversas funções buscando atender as necessidades de uso. Alex (2008) pontua a acessibilidade como um requisito essencial para que o espaço público seja apropriado e utilizado. Carr (apud ALEX, 2008, p. 25) classifica os acessos a um lugar público urbano em três tipos: físico, visual e social. O tipo físico corresponde ao espaço livre de qualquer tipo de empecilho, sejam barreiras espaciais ou arquitetônicas, que impeça a entrada ou saída de um local. Em lugares públicos, devem ser analisadas as qualidades e características dos caminhos de acessos e cruzamentos de vias. O tipo de acesso visual determina a primeira impressão que o usuário tem do lugar, ele possibilita uma rápida distinção e identificação do local a ser, ou não, penetrado. Um local permeável, de fácil visibilidade será frequentado com mais destreza e prontidão. E, por fim, o acesso social equivalente à presença de elementos que discrimina o usuário do local. Eles podem ser construtivos (guaritas, portarias), serviços (seguranças, porteiros), vegetação (plantas com espinhos), ou qualquer outro que iniba o acesso de determinadas pessoas em um lugar. Esses elementos interferem de forma positiva ou negativa quando o objetivo é atrair ou afastar certo tipo de público, podendo se obter um espaço acolhedor ou inibidor. Segundo Ferreira (1988) a praça é um “largo espaço descoberto para onde convergem várias ruas”. Para Vargas (apud Alex, 2008, p.10) a praça é mais que um vazio na cidade, é um espaço convidativo, onde permite o convívio e integração social, encontros, descanso e a prática de diversas atividades. Além de ser um local de contemplação em meio à vida urbana, a praça é 18


um local que recebe e direciona diversos fluxos oferecendo inúmeras atividades, podendo ser caracterizado como um “espaço para troca” (VARGAS, apud Alex, 2008, p. 10). “A

praça

brasileira

como

figura

urbana

é

praticamente

desconhecida em sua essência tanto por seus usuários como criadores, sejam eles arquitetos, engenheiros, técnicos diversos, curiosos e outros mais. Duas figuras se destacam no imaginário popular: de um lado, a visão do jardim, e, do outro a da praça de esportes, ambas bastante limitadas e pouco abrangentes. A praça, juntamente com a rua, consiste em um dos dois mais importantes espaços públicos urbanos da história da cidade no país, tendo desde os primeiros tempos da Colônia, desempenhando um papel

fundamental

no

contexto

das

relações

sociais

em

desenvolvimento. De simples terreiro a sofisticado jardim, de campo de jogos incultos a centro esportivo complexo, a praça é, por excelência, um centro, um ponto de convergência da população, que a ela acorre para o ócio, para comerciar, para trocar ideias, para encontros românticos ou políticos, enfim, para o desempenho da vida urbana ao ar livre” (ROBBA; MACEDO, 2010, p.11).

Vargas (apud ALEX, 2008, p.10) vincula a praça ao espaço público urbano, onde permite acessibilidade, integração e disponibilidade a todos, livre de qualquer imposição social. A praça é capaz de oferecer diferentes usos como permanência e descanso, atividades comerciais, entretenimento ou apenas passagem pelo local devido à permeabilidade que ela proporciona dentro do traçado urbano.

1.2

DUAS PRAÇAS EM CONTEXTOS SEMELHANTES

Duas praças inseridas na cidade de São Paulo serão analisadas. O contexto urbano em que elas estão implantadas é de regiões históricas onde sofreram intervenções a fim de que esses locais fossem atualizados, na intenção de promover maior utilização desses espaços públicos. Muitas vezes, com um 19


bom projeto paisagístico é possível que as intervenções nos espaços públicos sejam bem aceitas pela população, embora alguns erros projetuais colaborem para que as pessoas se sintam afastadas desses espaços, gerando áreas ociosas no meio urbano.

1.2.1 LARGO DO AROUCHE

Alex (2008) relata que o Largo do Arouche, localizado a oeste do Centro histórico da cidade de São Paulo (Fig.1), é um local de longa permanência. Sua planta original, desenvolvida em 1930, é constituída por duas praças que possuem aparência e usos contrastantes.

Figura 1:Situação do Largo do Arouche, República/SP. Fonte: Arquivo Pessoal(2013).

20


O largo foi divido em dois setores (Fig.2): o setor 1 corresponde a uma praça triangular elevada, denominada “Artilharias”, que contém um jardim público constituído por um paisagismo remetente ao romantismo e ruas curvilíneas; o setor 2 é uma praça retangular na parte mais baixa, denominada “Legião”, uma área aberta recortada por trilhos de bonde. Em 1940 houve sua primeira reforma a qual ocorreu a abertura de grandes vias devido a implantação do Plano de Avenidas de Prestes Maia.

Figura 2: Divisão dos dois setores do Largo do Arouche. Fonte: Arquivo Pessoal(2013).

Ele apresenta ainda uma proximidade entre duas estações de metrô: República e Santa Cecília; no entanto, a ligação entre esta estação e o largo é prejudicada devido ao sistema viário. Inúmeras ruas e avenidas convergem para o largo (Fig.3), entre elas podemos citar a Rua Jaguaribe, 21


Amaral Gurgel, Rego Freitas, Bento Freitas, do Arouche, Vieira de Carvalho, Aurora, Vitória, São João, Duque de Caxias, Frederico Steidel e Sebastião Pereira. Os diferentes formatos e cotas de níveis, larguras das vias, entornos diferenciados e tratamentos desiguais ressaltam a distinção entre os dois setores.

Figura 3: Identificação das diversas vias que convergem e cortam o Largo do Arouche. Fonte: Projeto da Praça (2008).

No setor 1, a Avenida Vieira de Carvalho, que faz a ligação deste setor com a Avenida São João e a praça da República, foi alargada e convertida em um bulevar “parisiense”, constituída por um canteiro central arborizado, amplos passeios e a praça triangular separada por uma rua local.

“Atualmente, o setor 1 – delimitado pela avenida- bulevar Vieira de Carvalho, considerada por muitos uma das mais bonitas do centro, e por ruas locais e definido por edificações altas e contínuas- é

22


formado por três grandes ilhas ajardinadas adaptadas do jardim público do início do século XX” (ALEX, 2008, p. 232)

As praças que constituem este setor são rodeadas por calçadas largas (Fig.4) com algumas alterações, devido ao formato das ruas próximas. Segundo Alex (2008) a proporcional divisão de asfalto e passeio público aproxima a praça do entorno por transmitir uma sensação harmoniosa. A rua que antigamente cortava a praça foi fechada para a circulação de veículos e convertida em um centro de ligação, possibilitando a prática de diversas atividades em sua área aberta.

Figura 4:Corte esquemático exibindo a variação dos passeios. Fonte: Projeto da Praça (2008).

De acordo com Alex (2008), este setor é intensamente frequentado por diversos usuários por oferecer múltiplos usos e assentos. Próximo a ele há um ponto de ônibus na calçada da Avenida Vieira de Carvalho e uma área de zona azul1 em outras ruas laterais (Fig.5). Ainda há três floriculturas, uma banca de jornal e dois engraxates que incorporam à identidade local e funcionam como referências sociais para a vizinhança.

1“O

sistema Zona Azul, ou estacionamento rotativo pago, foi implantado em 1975 na Praça da Bandeira e na Dom José Gaspar e nas proximidades do centro velho de São Paulo, com o objetivo de promover a rotatividade das vagas e assim racionalizar o espaço das áreas adensadas.” Fonte: http://www.atitudesaopaulo.com.br

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Figura 5: Secção do setor 1, identificação de alguns usos e equipamentos constituintes do local. Fonte: Projeto da Praça (2008).

O setor 1 (Fig.6) é muito arborizado, tendo em seu espaço um Chichá (Sterculia chicha) “centenária”, uma espécie de árvore nativa de grande porte dificilmente encontrada na cidade, além de outras inúmeras espécies. Essas árvores possibilitam diferentes cores, texturas, áreas sombreadas e devido aos espaçamentos de seus troncos, é possível obter uma área de maior transparência visual.

Figura 6: Corte esquemático onde é possível observar que a densidade da vegetação não impossibilita a transparência visual. Fonte: Projeto da Praça (2008).

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Em um canteiro em frente à Academia Paulista de Letras é possível encontrar um conjunto de esculturas e bustos de escritores acadêmicos, homenageando a história e a colaboração dos artistas à composição da cultura paulista e brasileira, destacando-se a obra A banhista, de Victor Brecheret. Alex (2008) conclui que o setor 1 apresenta uma variedade de opções de atividades, evidencia uma ordem urbana “clássica”, constituída por vias hierarquizadas, arquitetura delimitadora do espaço, calçadas amplas (Fig.7), arborizadas e contínuas e acessos internos largos e articulados às vias e esquinas.

Figura 7: Exemplos de espaços gerados a partir da intervenção no setor 1 do Largo do Arouche, imagens do ano de 2002. Fonte: Projeto da Praça (2008).

Ele pontua ainda algumas incoerências existentes neste setor dividindo-as em três tipos: por intervenções oficiais, por projeto e por uso. Por intervenções oficiais, podemos identificar vasos usados como barreiras depredados; a obra existente voltada para a renovação do local encontra-se parada;

25


alguns vasos obstruem usos e jogos e conservação priorizada à limpeza dos canteiros, deixando vasos e pisos largados. As incoerências por projeto foram identificadas devido ao fato de as fachadas principais das floriculturas encontrarem-se voltadas para a rua, tendo suas paredes cegas dentro da praça (Fig.8); colocação de um busto no meio do caminho, estreitando a passagem e a falta de espaço de apreciação para a escultura A banhista. E, por fim, as incoerências por uso, tendo a floricultura se apropriando de um espaço público para trabalho e exposições de plantas e a sujeira contida no local.

Figura 8: Identificação da floricultura implantada em um espaço de uso público com suas paredes cegas voltadas para o interior da praça criando áreas de pouco interesse. Fonte: Projeto da Praça (2008).

O setor 2, segundo Alex (2008), sofreu uma descaracterização de sua planta original, nela foram abertas duas avenidas: a Avenida Amaral Gurgel e a Avenida Duque de Caxias. Este setor (Fig.9) é limitado por largas vias, edificações afastadas e vazios residuais providos da obra do Elevado Costa e Silva.

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Figura 9: Secção do setor 2 onde é possível visualizar as diversas ruas que o cortam. Fonte: Projeto da Praça (2008).

Ele é dividido em duas grandes ilhas e outras cinco pequenas, sua atual configuração é de um conjunto incompatível de rotatórias viárias e travessias flutuantes. O setor recebe interferências como as grelhas de ventilação do metrô e acomoda objetos recusados de outras partes da cidade, como a escultura vermelha de Nicolas Vlavianos. Alex (2008) pontua que este setor está afastado de seu entorno devido às ruas largas que suportam um trânsito bastante intenso. Possui uma ponta separada para a passagem de uma rua, ajardinamento e playground voltado para o acesso interno. Atualmente o playground encontra-se em estado de abandono (Fig.10): sem brinquedos, encoberto pela vegetação e os locais que são reservados para bancos encontram-se vazios.

Figura 10: Corte esquemático identificando o fechamento do playground além da viaextremamente larga. Fonte: Projeto da Praça (2008).

27


Novamente utilizando-se dos três tipos que criou, Alex (2008) aponta as incoerências existentes no setor 2 do Largo do Arouche onde nas incoerências devido às intervenções há um corte na maior praça por uma via; ausência de bancos; falta de manutenção; vias muito largas que dificultam a travessia de pedestres e playground fechado para utilização. As inconformidades por projetos são calçadas estreitas; vegetação encobrindo o playground; paisagismo incoerente com o entorno da praça; desvalorização

da

paisagem;

caminhos

estreitos

com

muretas

desconfortáveis para assento; traçado desligado do setor 1; uns dos poucos bancos existentes encontra-se escondido e o memorial ao presidente Kennedy está inacessível (Fig.11).

Figura 11: Corte esquemático mostra diversas inconformidades identificadas no setor 2 do Largo do Arouche. Fonte: Projeto da Praça (2008).

É perceptível o contraste existente entre os dois setores do Largo do Arouche tanto na aparência quanto nas atividades exercidas em cada um. Consoante Alex (2008), eles têm uma diferenciação nas formas e traçados, do mesmo modo que se diferem em relação ao entorno. O setor 1 é bastante utilizado, e traz consigo uma forte influência do urbanismo francês do século XX. Ele oferece inúmeros e confortáveis pontos de permanência e comunicação entre as pessoas e uma grande ligação com o entorno. Enquanto o setor 2 é pouco utilizado, comprimido pelo sistema viário implantado no local e separado se seu entorno devido às largas e movimentadas ruas que o corta. Além disso, este setor apresenta 28


traços do paisagismo moderno, onde a estética vai de encontro à função gerando lugares de isolamento. Nos anos de 2002 e 2003 o Largo do Arouche recebeu pequenas reformas, entretanto não houve grandes alterações no aspecto geral da praça. A pequena ilha separada do setor 2 foi, em 2003, reintegrada à praça, recebendo novo ajardinamento. Até a finalização da análise feita por Alex (2008), o playground ainda estava fechado, os bancos não tinham sido recolocados e a desintegração com o entorno permanecia, juntamente com as dificuldades de acesso. O Largo do Arouche apresenta um grande contraste entre seus setores, o primeiro é totalmente convidativo, e leva o público a permanecer em seu espaço, se apropriando dele através da prática de inúmeras atividades no local. A integração com o entorno mantém presente sua história, permitindo que as edificações que a circunda tenham usos diferenciados e atrativos, fazendo com que este local seja muito frequentado por moradores e visitantes. Em contrapartida, o segundo setor funciona como um local de passagem. Cortado por diversas vias de fluxo intenso, este setor não contém elementos atrativos e nem oferece conforto para a permanência em seu espaço. A ausência de bancos, o playground, de certa forma, inexistente e a falta de integração do setor 2 com seu entorno faz com que as pessoas não se sintam à vontade nesse lugar, que serve mais como um ponto nodal viário que um espaço voltado para o convívio das pessoas.

1.2.2 PRAÇA JÚLIO PRESTES Projetada a partir da construção da estação Júlio Prestes, a Praça Júlio Prestes foi construída entre os anos de 1926 e 1939, em frente à estação. Localiza-se na Avenida Duque de Caxias (Fig.12) – parte mais baixa da cidade - entre os loteamentos Santa Ifigênia e Campos Elíseos, pioneiros da 29


“cidade nova”. Segundo Alex (2008), a praça surgiu através “das necessidades funcionais e simbólicas da estação de ferro Sorocabana, ou Júlio Prestes” (ALEX, 2008, p. 259).

Figura 12: Localização da Praça Júlio Prestes na cidade de São Paulo. Fonte: Arquivo Pessoal(2013).

Alex (2008) relata que Praça Júlio Prestes vivenciou tanto o progresso quanto o declínio do sistema ferroviário, a deterioração de seu entorno com a substituição dos trens pelo transporte rodoviário. A partir da década de 40, iniciou-se a crescente expansão do transporte rodoviário, gerando, por conseguinte a popularização dos automóveis em detrimentos aos bondes. Em consequência disso, na década de 60, a Praça passou a acomodar um intenso movimento de ônibus, carros e pedestres uma vez que foi construída uma rodoviária, na quadra oposta à estação. Em 1982 a estação sofreu intervenções as quais transformaram-na em terminal de trens metropolitano e, com a remoção da rodoviária, ganhou um centro comercial de vestuários partindo daquele edifício já construído. No entanto, a Praça Júlio Prestes não sofreu alterações ou manutenções 30


permanecendo em situação de abandono e, assim, abrindo espaço para moradias irregulares e atividades ilícitas, como cortiços, prostituição e tráfico de drogas. Em 1999, partindo do projeto da arquiteta e paisagista Rosa GrenaKliass, a Praça Júlio Prestes juntamente com a estação foram remodeladas. O projeto consistia numa grande esplanada defronte à estação Júlio Prestes e à Sala São Paulo e de um enorme jardim (Fig.13).

Figura 13: Projeto de remodelagem, da estação ferroviária e da Praça Júlio Prestes, juntamente com a proposta de modificação da Alameda Cleveland. Fonte: Projeto da Praça (2008)

“A Avenida Duque de Caxias integra o sistema de contra-rótula do tráfego da área central da cidade, e a estação Júlio Prestes serve trens suburbanos integrados ao sistema de transporte de massas da região metropolitana. A Rua Santa Ifigênia concentra o comércio de materiais elétricos e eletrônicos, a antiga rodoviária atualmente abriga um centro comercial especializado em vestuários, e a própria estação

Júlio

Prestes

tornou-se

uma

sala

de

concertos

de

reconhecimento internacional” (ALEX, 2008, p. 360).

31


Alex (2008) descreve que a reforma introduziu duas alterações radicais: o aumento em 1m no nível da praça, gerando uma série de degraus e muretas de contenção, e o desvio e modificação da Alameda Cleveland em uma estreita rua de uso restrito, onde acontecem feiras de arte e artesanato aos domingos. Esse estreitamento contribuiu para que a praça fosse

dividida

em

dois

setores

distintos:

a

esplanada,

ampla

predominantemente composta por piso, degraus e patamares e um grande jardim rodeado por ruas e calçadas de diversas larguras. Referente à Estação, a intervenção resultou na transformação de seus principais saguões e pátios em salas de concertos de padrão internacional e sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. A Sala São Paulo teve seu eixo central utilizado para constituir a simetria da esplanada que valoriza a nova função dada à edificação. Consoante Alex (2008), a composição de degraus, patamares e fontes d’água, criados para vencer o desnível produzido artificialmente através do aterro, tem claramente o propósito de conceber uma entrada formal, remetendo a um foyer. Em relação à praça, ela possui uma área gramada em seu centro, acessível ao uso, contudo há limitações devido ao próprio material e aos obstáculos impostos pelo próprio projeto, podendo ser citado os trilhos utilizados como referência simbólica – com a má implantação deste elemento, ele se tornou uma barreia nos caminhos internos da praça (Fig.14).

32


Figura 14: Implantação dos trilhos (referência simbólica) impedindo a livre circulação interna da praça. Fonte: Projeto da Praça (2008)

Seu entorno é composto por edificações onde predomina um gabarito baixo e outros espaços voltados para o uso, como depósitos, hotéis, agências de despacho, além de outras variedades. Embora os fluxos causados pela estação, o Shopping da Luz e o comércio da Rua Santa Ifigênia gerem uma dinâmica nesse espaço urbano, o aspecto geral desse local, segundo Alex (2008), é de abandono. A Praça Júlio Prestes é pouco utilizada apresentando muitos sinais de vandalismo e destruição. A esplanada, parte mais utilizada, impede o fluxo multidirecional ao acesso à estação e sofre com o uso de skatistas que fazem manobras saltando sobre os patamares e degraus, acarretando seu desgaste prematuro. O uso do projeto, identificado por Alex (2008), concentra-se em passagem, permanência de camelôs e moradores de ruas em diversos pontos da praça, alguns trabalhadores junto com motoristas na zona azul – que se encontra ao lado

esquerdo

da

praça,

perpendicular

ao

Shopping

da

Luz

predominantemente homens, fluxo intenso e cruzado para a estação, prática do skate na esplanada, jogos casuais de futebol tanto na rua fechada quanto no gramado da praça e, raramente, a presença de casais utilizando o espaço da praça. 33


Alex (2008) ainda aponta as incoerências encontradas neste projeto de remodelação da Praça Júlio Prestes (Fig.15). Dentre elas encontramos as incoerências devido às intervenções que constam na retirada de bancos de madeira existentes no local, escultura e jardim como referências simbólicas (má implantação), existência de um mural que esconde o banco de pedras, ajardinamento excessivo e terra exposta, entre outros.

Figura 15:Exemplos de inconformidades encontradas na Praça Júlio Prestes, imagens do ano de 2002. Fonte: Projeto da Praça (2008)

Observa-se

também

incoerências

devido

ao

projeto

contendo

um

paisagismo inibidor do usuário ao se elevar do nível das calçadas que circunda a praça, muretas de contenção impedindo as visuais da praça e estação, inacessibilidade ao espaço público por portadores de mobilidade reduzida devido à pavimentação e trilhos implantados pela praça, fluxo para a estação impedido pela presença das escadas em frente à esplanada, não rebaixo das guias nas esquinas e calçadas estreitas com barreiras em diversos pontos da praça. E, por fim, Alex (2008) cita as incoerências devido ao uso, podendo ser encontrado pelo local vandalismo (pichações, mobiliário quebrado), pisoteio (conveniente de atalhos), falta de manutenção e limpeza e desgaste das escadas causado pelos skatistas. 34


Analisando o projeto da Praça Júlio Prestes, Alex (2008) identifica a extrema falta de integração da praça com seu entorno, a presença das escadas e muretas impede a livre movimentação e acessibilidade no local. A esplanada criada em frente às novas salas de concertos deixa claro que o projeto valorizou mais esta área que a estação e a própria praça, levando os usuários a produzirem caminhos e atalhos alternativos para acessarem a estação. O fato de a praça estar inserida em um setor histórico foi lembrado apenas pelo uso dos trilhos como referência simbólica, ainda assim, colocado de tal maneira que gerou uma barreira física no interior da praça. A ausência de caminhos e a obstrução das visuais em seu interior, manifesta nas pessoas a falta de interesse de se apropriar, permanecer e contemplar um espaço voltado, em sua natureza, para o convívio social, levando a Praça Júlio Prestes a ser um local que inibe ao invés de acolher o usuário do espaço público urbano.

1.3

RELAÇÃO ENTRE OS ESTUDOS DE CASO E O SETOR DE

INTERVENÇÃO

As duas praças, Largo do Arouche e Júlio Prestes, contêm informações que auxiliam o desenvolvimento da proposta de intervenção no setor em estudo. O Largo do Arouche permite observar lados opostos em um mesmo espaço, embora o setor 2 apresente muitos pontos frágeis em relação ao uso e ao projeto, assim como a Praça Júlio Prestes, ele chama a atenção ao que deve ser evitado ao se projetar um espaço voltado para a permanência das pessoas, que no caso desses locais, esta função foi colocada em segundo plano. Em contrapartida, no setor 1 do Largo do Arouche, são encontrados muitos pontos fortes que podem inspirar nas decisões projetuais para o setor de intervenção, como a integração da praça com o entorno, local para lazer e as boa implantação das referências históricas daquele local. 35


Ao analisar o Largo do Arouche, percebe-se que o setor 1 se assemelha com a Praça Getúlio Vargas. Além do contexto o qual se encontra inserido, as duas visam trazer integração, permanência e referências históricas a um espaço público na cidade. Mesmo estando localizado em um ponto de ligação entre vias importantes, o setor 1 do Largo do Arouche recebeu, em sua intervenção, a possibilidade de oferecer às pessoas que frequentam aquela região um local onde elas podem desfrutar inteiramente de seu espaço. Sob as sombras das árvores deste setor, é possível encontrar bancos, espaços

para

lazer,

convívio

social,

além

de

referências

históricas

encontradas através dos bustos inseridos no local, características se assemelham as que se busca inserir na Praça Getúlio Vargas. A escolha da Praça Júlio Prestes para análise se deu devido à falta de êxito obtido em sua intervenção quanto à integração com o entorno e ao convívio social, resultado que não pretende ser alcançado através da proposta de intervenção do setor em estudo, em Baixo Guandu. O exemplo da referência histórica inserida de forma a se tornar uma barreira no local, pretende ser evitado ao locar os elementos que referenciam a história na Praça Getúlio Vargas. Seus caminhos internos também eram utilizados como um local de passagem pelas pessoas que frequentam seu entorno, e a elevação da praça, como feita na Júlio Prestes, resultaria no afastamento dessas pessoas de seu interior, o que deve ser evitado neste projeto, já que a proposta de intervenção tem como principal objetivo a reintegração sociocultural. Sendo assim, a partir das análises realizadas, o tema será contextualizado através do estudo histórico da cidade de Baixo Guandu,para que, então,seja possível relacionar as características originais do setor em estudo com a imagem atual que transmite, a fim de auxiliar na elaboração da proposta de intervenção.

36


2

BAIXO GUANDU: HISTÓRIA, CULTURA E CONTEXTO URBANO

2.1

LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA

Baixo Guandu é um município situado a noroeste do estado do Espírito Santo. Ele faz divisa com a cidade de Aimorés, estado de Minas Gerais (Fig.16). A origem do seu nome deve-se à sua localização na parte mais baixa do rio Guandu, que atravessa a cidade. Originalmente, Baixo Guandu era habitado pelos índios Botocudos (Fig.17), que resistiram bravamente às tentativas de invasão e colonização de suas terras a partir de 1875.

Figura 16: Localização do município de Baixo Guandu Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

37


Figura 17: Pequeno grupo de índios Botocudos, em “Porto Final”, antigo “Porto Mascarenhas” (1903). Fonte: História e Flagrantes de Baixo Guandu (1958).

Verneck (1996) relata que findada a colonização, devido à proximidade do Rio Guandu e Rio Doce, desenvolveu-se na região um trânsito comercial de mercadorias que mostrava grande potencial de desenvolvimento. A partir de 1886, Baixo Guandu começou a receber migrantes e imigrantes, dentre eles italianos e alemães, que vinham em função da oportunidade de trabalho e, consequentemente, acabaram por se estabelecer na pequena cidade. Em função disso, a então pequena vila iniciou, lentamente, seu processo de desenvolvimento e onde até hoje apresenta um pouco dos costumes de seus precedentes. No início do século XX, em 1907, dirigem-se diretamente para Aimorés vagões de carga e carros de passageiros. Abaixo (Fig.18) vê-se um trecho da estrada de ferro que passa por Baixo Guandu, que por sua vez, apenas em 8 de abril de 1908 teve um Ponto de Parada do transporte ferroviário sujeito às tarifas da estação que a antecede. Isto se deu devido ao povoado Guandu 38


não ser sequer sede de distrito, tendo somente em 1910 sua estação propriamente dita, concluída e inaugurada.

Figura 18: Estrada de ferro chega a Baixo Guandu em 1907. Fonte: Acervo de Rizomar e Pito2.

Figura 19: Maria Fumaça atravessando a ponte de ferro em Baixo Guandu. Fonte: História e Flagrantes de Baixo Guandu (1958).

De acordo com Ferreira (1958), naquele momento a agricultura e a pecuária caracterizavam-se como as principais atividades econômicas da região destacando-se o cultivo de café, milho e cana de açúcar. Baixo Guandu teve seu distrito instalado em 1891, porém em 1904, a vila de Mascarenhas recebeu a transferência da sede do distrito devido à função do porto implantado ali. Em 1915, a sede do distrito voltou a Baixo Guandu, onde permaneceu até sua emancipação. Com a chegada da estrada de ferro 2

Rizomar França e Pito Jovander, dois fotógrafos renomados na cidade de Baixo Guandu – ES.

39


Vitória a Minas, iniciou-se um processo de desenvolvimento. A partir do ano de 1915, iniciou-se o processo de separação do distrito, que pertencia a Colatina. Finalmente, no dia 10 de abril de 1935, Baixo Guandu desmembrase da cidade de Colatina recebendo o título de município consolidando sua emancipação política (Fig.20).

Figura 20: Foto tirada no dia 10 de abril de 1935. A população saía às ruas para comemorar a emancipação da, agora, cidade de Baixo Guandu. Fonte: Acervo de Rizomar e Pito.

Sua infraestrutura melhorou no decorrer do desenvolvimento da cidade. Segundo Verneck (1996), desde 1953 a cidade recebe água fluoretada, permitindo uma grande redução no número de problemas com a cárie dental. Também o serviço de energia elétrica é bem eficiente, a primeira hidrelétrica do município foi construída em 1926 e durante anos abasteceu a pequena cidade, em função disso, foi ampliada duas vezes. Com o aumento populacional e com ele a demanda, surgiu a necessidade de um máximo aproveitamento da capacidade do Rio Guandu, levando à criação de uma Sociedade Anônima de Capital Aberto a fim de reunir recursos para que este máximo aproveitamento fosse possível. Assim, em 11 de junho de 1953, é constituída a Empresa Hidrelétrica Lutzow S.A. (Fig. 21)

40


Figura 21: Primeira hidrelétrica de Baixo Guandu, antigas instalações da Empresa Lutzow. Foto: História e Flagrantes de Baixo Guandu (1958).

Porém a conclusão da Hidrelétrica Mascarenhas em 1974 deteve as águas do Rio Doce 18Km acima da represa, bem próximo à cidade mineira, Aimorés, inundando parcialmente as instalações da Empresa Lutzow. A partir de então, toda a energia consumida na cidade provém da Usina Hidrelétrica de Mascarenhas. Baixo Guandu contém três acessos até a cidade de Aimorés, em Minas Gerais. Um desses acessos é através de um dos trechos do Rio Doce que cortam o município de Baixo Guandu, separando os bairros Mauá (Baixo Guandu - ES) e Mauá (Aimorés - MG) (Fig.22). O repórter Schulz (1986) narra que desde 1930, havia um grande desejo e necessidade da construção de uma ponte ligando esses dois lados. Através de uma visita do Dr. Jones dos Santos Neves, que viria a ser governador do estado do Espírito Santo anos depois, foi constatada a real necessidade de uma travessia segura naquele local. Assim, em 1945, dois anos após sua posse, o governador permitiu dar início às obras de construção da, popularmente conhecida, Ponte Mauá (Fig.23).

41


Figura 22: Limite dos bairros Mauá/MG e Mauá/ES ligados pela ponte Jones dos Santos Neves. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Figura 23:Ponte construída para ligar os bairros Mauá (Aimorés - MG) e Mauá (Baixo Guandu - ES). Fonte: Baixo Guandu em Revista (1986).

Mesmo tendo suas obras finalizadas após seu mandato, a ponte foi inaugurada e como homenagem recebeu o nome do Dr. Jones dos Santos Neves, em 1947 (Fig.24).

42


Figura 24:Ponte Dr. Jones dos Santos Neves. Fonte: Baixo Guandu em Revista (1986).

Schulz (1986) relata ainda que no ano de 1979, 32 anos após a inauguração da Ponte Mauá, uma tragédia aconteceu na cidade de Baixo Guandu e região: uma das maiores enchentes já registradas no Brasil. Ela inundou inúmeras cidades por onde o Rio Doce passa.Foram vários dias de tristeza e desespero para muitas pessoas que moravam às suas margens. Mas o pior momento para Baixo Guandu sucedeu no dia 03 de fevereiro de 1979, entorno das 10:30 da manhã, a ponte Jones dos Santos Neves caiu sendo levada pela correnteza do Rio Doce (Fig.25). Este fato foi tão marcante que, na época, foi feita uma reportagem com o repórter Carlos Nascimento para o programa Fantástico da Rede Globo noticiando o ocorrido.

Figura 25:A Ponte Dr. Jones dos Santos Neves encoberta pelas águas do Rio Doce momentos antes de cair. Fonte: Baixo Guandu em Revista (1986).

43


O período de devastação pela enchente perdurou de janeiro a fevereiro de 1979, não atingindo tão severamente a cidade de Baixo Guandu quanto aos outros municípios afetados, uma vez que ela está localizada acima do nível do rio. Após a queda da ponte, a cidade se viu novamente sem este importante elemento de mobilidade e o transporte sobre as águas do Rio Doce voltou a ser através de balsas e botes. A cidade se viu obrigada a se renovar após aquele trágico acontecimento, assim, anos depois, foi construída uma nova ponte no local (Fig.26), que recebeu o mesmo nome da ponte anterior, sendo inaugurada no dia 08 de agosto 1981.

Figura 26: Ponte Jones dos Santos Neves atualmente. Deste lado, Mauá (Baixo Guandu - ES), do outro, Mauá (Aimorés - MG). Fonte: Aquivo Pessoal (2013).

De acordo com Schulz (1986), a economia de Baixo Guandu sempre se destacou na comercialização de produtos agrícolas, por ser uma cidade muito voltada para a lavoura. Na década de 1920, os pontos de comércio eram voltados para a venda de cigarro, pingas e tecidos. Cinquenta anos depois, as lojas foram remodeladas, os mercadinhos foram transformados em supermercados, os antigos botecos foram trocados por bares e estes se tornaram atrativos na cidade, principalmente para os jovens. Segundo o Sr. José Silva Guimarães, um antigo comerciante guanduense, “o que mandava naquela cidade era o café e a madeira, principalmente a peroba, naquele tempo o comércio era péssimo” (JORNAL FOLHA GUANDUENSE, p. 04). 44


O

comércio

de

Baixo

Guandu

teve

um

grande

desenvolvimento,

especialmente no Centro da cidade, onde, atualmente, encontramos seu núcleo comercial. Este núcleo se localiza nas avenidas de maior importância da cidade, a Av. Carlos Medeiros e a Av. Dez de Abril, ele é um dos principais geradores econômicos do município e gera grandes transtornos na mobilidade nesses locais.

2.2

ESPAÇOS SOCIOCULTURAISDA CIDADE

Desde seu surgimento, Baixo Guandu passou por diversos fatos fundamentais em seu desenvolvimento. A cidade foi crescendo e recebendo cada vez mais habitantes, além de emprego, infraestrutura e moradia, eram necessários equipamentos e espaços voltados para cultura e lazer da população. Segundo uma matéria na Rede de São Pedro3, no ano de 1887 começava a ser construído, no local onde atualmente temos a Praça Getúlio Vargas, o alicerce da capela que acolheria as atividades da comunidade católica. Dela ecoava o primeiro sino do pequeno povoado do Guandu, tradição que continua até os dias de hoje, e recebeu o nome do santo São Sebastião, primeiro padroeiro da cidade. A pequena capela fez parte da paróquia de Colatina em 1917, e na década de 30 veio a se tornar paróquia. O Pe. Aristides Taciano, seu primeiro vigário, iniciou em 1942 a construção da matriz de São Pedro, no local onde se encontra até hoje. Visando um crescimento no número de fiéis frequentadores da nova igreja, o padre decidiu construir, como ele mesmo disse, uma igreja para daqui a 50 anos.Assim, planejou uma edificação de grande porte que foi concluída A Rede de São Pedro é uma página eletrônica oficial utilizada pela paróquia de São Pedro, de Baixo Guandu, para divulgar notícias e informativos sobre eventos e acontecimentos da igreja católica na cidade. 3

45


anos depois com seu sucessor, o Padre Alonso Leite. A partir de ações da igreja católica sobre a educação municipal, foi inaugurada, em 1950, a Escola Paroquial, voltada para o ensino primário e admissão ao segundo grau, sendo ampliada em 1952, para abrigar o Ginásio Brasil, colégio que oferecia ensino ginasial, Magistério e Contabilidade. Anos depois de sua inauguração, é possível ver a Matriz concluída e a construção, no seu lado direito, de um anexo que abrigaria o presbítero da paróquia São Pedro (Fig.27). Ainda hoje a igreja (Fig.28) age diretamente entre as atividades sociais, educacionais e culturais na cidade, tendo um de seus espaços, o salão paroquial, considerado pela Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo um espaço cultural em Baixo Guandu.

Figura 27: Igreja Matriz de São Pedro, em 1976. Ao final da Avenida Carlos Medeiros. Fonte: Acervo de JVE fotos.

46


Figura 28: Atualmente, a igreja Matriz, 63 anos após sua inauguração, ainda contém suas características originais. Fonte: Acervo pessoal.

Outra edificação que se faz importante na história do município é o Canaan Social Clube (Fig.29). Localizado no entorno imediato da Praça Getúlio Vargas, foi inaugurado em 10 de abril de 1953, ali se realizavam grandes eventos sociais os quais, segundo Ferreira (1958), eram frequentados pela elite da sociedade guanduense e aimoreense. Durante trinta anos, o edifício foi muito utilizado pela população para festejos como réveillon e carnaval.

Figura 29: Canaan Social Clube, em Baixo Guandu. Fonte: Acervo de Rizomar e Pito.

47


Após ter ficado sem uso entre os anos de 80 e 90, o espaço foi cedido ao clube da Melhor Idade, que lutou por sua reforma, que veio a acontecer no ano 2000. Mesmo sendo completamente reformado, suas características originais foram mantidas e o lustre do salão do salão principal é o original da década de 50. Atualmente, o Canaan Social Clube é um local mais popular e recebe eventos como o baile da terceira idade e o “Baixo Guandu Rock Festival”, que em sua terceira edição, atrai muitas bandas juvenis. Assim como o Canaan, temos ao seu lado o Cine Alba (Fig.30) que muito contribuiu culturalmente com a cidade. Construído em 1954, de acordo com Valdir Castiglioni, Gerente de Memória e Patrimônio da SECULT, ele era o segundo maior cine teatro do estado do Espírito Santo com 800 lugares para o público. Ele foi um marco na história do município, além de apresentações cinematográficas e teatrais, ele ainda contava com apresentações musicais que atraía grande parte da população e muitos visitantes dos municípios vizinhos. Ele se localiza próximo à Praça Getúlio Vargas, local que recebia muitas pessoas, principalmente os jovens. Nas décadas de 60 e 70, aos domingos, eram promovidas atrações infantis e festival de calouros, que atraíatalentos da própria cidade e da cidade vizinha, Aimorés.

Figura 30: Cine Alba, grande marco cultural nas décadas de 50, 60 e 70. Fonte: Acervo de Rizomar e Pito.

48


De acordo com a matéria História do Portal Guandu4, durante três décadas o Cine Alba foi um importante edifício cultural que trazia diferentes atrações e divertimento na cidade. Nos anos 80 deu-se início à sua decadência, sendo fechado definitivamente na década de 90. Por muitos anos, o Cine Alba foi encontrado abandonado, degradado devido ao descaso público, mas atualmente existe um projeto (Fig.31), onde, segundo Carneiro (2011), haverá uma redução dos 800 lugares para 412, possibilitando ampliação do palco e do foyer. A reinauguração do cine teatro Alba pretende trazer de volta à cidade a movimentação artística de outrora.

Figura 31: Projeto da nova fachada do Cine Alba, arquiteto Rogério Pombo. Fonte: Imagem de divulgação (2011).

Antes da reinauguração do Cine Alba, um novo projeto tem como objetivo a reintrodução de uma das atividades por ele oferecidas, o “Cinema na Praça”,

este

projeto

visa

levar

aos

moradores

apresentações

cinematográficas em espaços públicos em diversos pontos da cidade. SalatielBebiano, funcionário da Secretaria de Cultura do município, conta que este projeto visa levar à população um pouco do que será novamente oferecido pelo Cine Alba, buscando reinserir o costume que os moradores tinham de sair de suas casas para um local de encontro e apresentações

4

Portal eletrônico oficial de notícias e informativos da cidade de Baixo Guandu.

49


tanto cinematográficas como teatrais, musicais, (atividades atrativas do antigo Alba), além de oficinas de música, teatro, entre outros. O Cine Alba e o Canaan Social Clube estão inseridos em meio a uma área histórica em Baixo Guandu, onde, junto com outras edificações, são de grande importância sociocultural para aquela cidade. Em meio a essa área história, um espaço se destaca, sendo referência para diversas atividades da população e vivenciando o desenvolvimento do município, a Praça Getúlio Vargas De acordo com Ferreira (1958), ela foi construída no ano de 1920 (Fig.32), e era considerada a mais importante da cidade. Por muitos anos ela teve esse título, sendo palco de muitos encontros, passeios e manifestações culturais do município e ainda hoje se encontra em seu local de construção, porém totalmente degradada devido a uma intervenção que não aconteceu.

Figura 32: Paisagismo da Praça Getúlio Vargas sendo constituído em 1920. Fonte: História e Flagrantes de Baixo Guandu (1958).

Desta forma, as tardes de lazer, as feiras e apresentações que antigamente ali aconteciam desapareceram, fazendo com que as pessoas não frequentem mais o local por falta de atrativos, tornando-o assim, um espaço ocioso na cidade. Espaços como essa praça são considerados de grande valor histórico cultural, uma vez que contribuíram para a constituição da história da cidade. 50


Por esse motivo, a Praça Getúlio Vargas e seu entorno foram escolhidos para receber uma proposta de intervenção, a fim de que resgatar as antigas referências relacionadas a esse setor. O setor de intervenção é limitado pelo Rio Guandu a leste, a estrada de ferro Vitória-Minas ao norte, a Avenida Carlos Medeiros a leste e ao sul pela Rua Coronel Álvares Milagres Ferreira (Fig.33).

Figura 33: Definição do setor de intervenção. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A escolha desse setor deu-se através da importância que ele transmite àquela comunidade, sendo que seu contexto urbano permanece o mesmo de outrora, porém as atividades atualmente realizadas ou inexistentes fizeram com que os usuários desse espaço fossem afastados. Para auxiliar nas diretrizes projetuais será realizado um estudo sobre a praça e seu contexto, a fim de se obter um melhor entendimento desse espaço urbano.

51


3

PRAÇA GETÚLIO VARGAS: O PONTO DE ENCONTRO DO SETOR

3.1

LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA

Localizada no bairro Centro do município de Baixo Guandu (Fig.34), a Praça Getúlio Vargas está implantada numa área dividida entre residências, pontos comerciais e outros serviços. Limitada pelas ruas 21 de Abril, Milagres Júnior e a Avenida Carlos Medeiros, um importante eixo viário econômico do município. Esta avenida é também um elemento de ligação entre dois importantes pontos de referência na cidade, a Praça Getúlio Vargas e a Matriz São Pedro.

Figura 34: Situação da Praça Getúlio Vargas. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

52


A ligação da praça com a igreja vai além do eixo viário existente, a igreja Católica tem muita influência sobre a cultura e costumes locais e utiliza seu espaço e entorno para desenvolver algumas de suas atividades. Entre elas, há a confecção dos tapetes de Corpus Christi, uma tradição que acontece há anos na cidade (Fig.35). Além da confecção desses tapetes na avenida, a praça sempre sedia a abertura da Santa Missa celebrada nesse dia, onde há, em certo momento, uma procissão rumo à matriz situada na extremidade oposta à sua.

Figura 35: Mobilização de muitos dos moradores da cidade para a tradicional confecção dos tapetes de Corpus Christi na Avenida Carlos Medeiros. Fonte: Disponível em <http://portalguandu.com.br/images/galerias/32/86.jpg>. Acesso em 30 de maio de 2013.

Próximo à Praça está o Rio Guandu, uma importante via de ligação da cidade com outras localidades, utilizada no início da povoação e a Estrada de Ferro Vitória-Minas. Foi por ela que Baixo Guandu ampliou suas ligações com outros municípios e recebeu uma conexão direta e mais rápida com a capital Vitória, podendo assim, expandir-se economicamente. Construída na década de 1920, segundo Ferreira (1958), a Praça Getúlio Vargas tem grande importância histórico-cultural em meio à área urbana da cidade, há poucos anos, ainda contava com a presença de bancos de concreto que levavam nomes das famílias mais tradicionais do município (Fig.36).

Em

seu

entorno

imediato

encontram-se

duas

importantes 53


construções da década de 1950 que atuaram na movimentação cultural municipal: Cine Teatro Alba – uma vez que foi palco de manifestações culturais, artísticas, teatrais, cinematográficas, dentre outras – e Canaan Social Clube – recebia os inúmeros eventos frequentados pela alta sociedade guanduense, popularizando o local, e que foi se dissipando com os anos.

Figura 36: Praça Getúlio Vargas no ano de 2011, bancos de concreto que continham nomes de famílias tradicionais impressos em seus encostos. Fonte: Disponível em <https://lh5.googleusercontent.com/MM2AIGov5Aw/TvNv5tW_GMI/AAAAAAAAAGs/KymoS35qXi0/w705-h529no/SDC14356.JPG>Acesso em 28 de maio de 2013.

Além dessas construções, outras cinco, implantadas no entorno da praça, destacam-se pelo fato de apresentar uma arquitetura de interesse patrimonial (Fig.37).

54


Figura 37: Mapa de localização das edificações com interesse históricolocal. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Essas edificações históricas contidas no setor de intervenção são: A casa da Madame Albertina Holz (Fig.38), uma residência do século XIX.

Figura 38: Edificação número 1 do mapa, o casarão da Madame Albertina Holz foi construída no século XIX. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

55


Uma residência da década de 1920 (Fig.39)que, escondida pela copa de uma árvore, atualmente abriga uma empresa que presta serviço de internet.

Figura 39: Edificação número 2 do mapa, foi construída na década de 1920. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A Câmara Municipal (Fig.40), que ainda hoje exerce essa função. É uma edificação que conta com um significado mais afetivo, visto que foi fundada pelo Monsenhor Alonso Leite, pároco falecido extremamente querido por inúmeros guanduenses.

56


Figura 40: Edificação número 3 do mapa, a Câmara Municipal. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A fachada de uma edificação que, já abrigou inúmeras funções (dentre elas já foi uma igreja) e atualmente funciona como cerimonial (Fig.41).

Figura 41: Edificação número 4 do mapa, com a fachada de interesse histórico. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

E por último, outra edificação residencial (Fig.42), a oeste do setor de intervenção. Uma casa elevada, mas que quase some ao lado de um edifício de vários pavimentos.

57


Figura 42: Edificação número 5 do mapa, uma edificação residencial. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

3.2

ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL

Até cerca de cinco anos atrás, a praça desenvolvia um grande papel social no meio urbano. Muito frequentada por moradores e visitantes, ela oferecia lazer, divertimento e renda através de suas feirinhas de todas as sextas-feiras. O local sempre contava com diversos usuários em diferentes horários do dia devido ao seu espaço agradável e atrativo, com bancos e sombras (Fig.43) proporcionadas por árvores de grandes copas, que suavizam a sensação de calor proveniente das altas temperaturas do município.

58


Figura 43: Praça Getúlio Vargas no ano de 2011. Fonte: Disponível em <https://lh3.googleusercontent.com/-x5_e1O6d_s/TvNt6WOAe9I/AAAAAAAAAGU/E_xiZpkTYIw/w705-h529-no/SDC14353.JPG>Acesso em 28 de maio de 2013.

O tempo e o desenvolvimento municipal não foram favoráveis à Praça e seu entorno. Uma nova praça foi inaugurada, oferecendo mais opções de lazer, entre eles: campo de bocha, playground e academia popular. Desde então as atividades que por ali aconteciam foram se extinguindo. Em entrevista com a ex-vereadora Cenira da Silva, foi obtido informações sobre uma intervenção que aconteceria na praça em estudo a partir do início de 2012, a qual teve início, porém não teve continuidade. Houve a retirada dos antigos equipamentos, contudo, por motivos políticos e manifestações populares, a obra foi paralisada. Segundo ela, o projeto que seria implantado contava com a substituição das árvores existentes por palmeiras, o que não agradou àqueles que sempre frequentaram o espaço e vivenciaram sua história. Outro fato que causou revolta na população foi a retirada dos antigos bancos (Fig.44), eles eram de grande valor para aquele local e simbolizavam as famílias que contribuíram na constituição do município, logo, vinculados à história municipal.

59


Figura 44: Praça Getúlio Vargas, visita feita em 30 de março de 2013. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Em outra entrevista, agora feita com moradores e frequentadores do entorno da praça, constatou-se a não concordância daqueles com as propostas do projeto que seria implantado e a importância das árvores e dos bancos para eles. Além disso, o vazio que a praça se tornou na cidade tem gerado insegurança a todos que transitam por ali, tanto ao dia quanto à noite. Para complementar essa insegurança, foi dado início à construção do que viria a ser banheiros públicos dentro da praça, o que gerou uma barreira visual e hoje serve como abrigo aos moradores de rua. A praça foi completamente degradada pela ação humana, restando em seu meio apenas suas árvores e resíduos dos equipamentos retirados, deixando-a suja e inutilizável (Fig.45).

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Figura 45: Entulhos deixados pela praça, visita feita em 30 de março de 2013. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A paralisação das obras da Praça Getúlio Vargas só gerou problemas à população, que ficou sem essa opção de local de encontros, lazer, entretenimento, um espaço agradável em meio à cidade. Para as pessoas que vivem no interior, as praças são como um quintal, uma extensão de suas casas. Elas têm o prazer de se deslocarem até esses espaços públicos seja para caminhar em um ambiente arborizado, ver pessoas, ler um livro, entre outras inúmeras funções que a praça pode oferecer aos usuários. Em Baixo Guandu era esse o papel que a Praça Getúlio Vargas desempenhava, e para que ela volte a atender a necessidade sociocultural local, é preciso que uma nova proposta de intervenção seja feita visando trazer de volta seus antigos valores, renová-la sem descaracterizá-la, buscando atender à população que anseia pela recuperação de um espaço que se encontra perdido: um espaço que já foi apropriado por moradores e visitantes e que hoje só gera medo, insegurança e indignação àqueles que um dia desfrutaram daquele local.

61


4

ANÁLISE DO SETOR DE INTERVENÇÃO

Será realizada uma análise do setor para que seja possível uma melhor compreensão do espaço e do contexto urbano. Serão identificados elementos que servirão de subsídios para analisar os volumes do entorno, como eles interferem no uso do espaço, criam áreas de sombreamento na praça, ou exercem papel de referência na paisagem. Para isso, foi efetuado um levantamento in loco onde foram levantadas as informações necessárias para elaborar a análise.

4.1

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

O levantamento de uso e ocupação do solo (Fig.46) da área de estudo foi realizado in loco, a partir dele pode-se constatar que a Praça Getúlio Vargas está inserida em um local onde há predominância de residências, seguido de pontos comerciais e, agora, alguns órgãos públicos, como Delegacia de Polícia Civil, Casa de Atendimento ao Cidadão e Secretaria Municipal de Educação. No entanto, as construções históricas presentes encontram-se parcial ou completamente sem uso.

62


Figura 46: Mapa de uso e ocupação do solo do setor de intervenção. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

4.2

ANÁLISE DA VOLUMETRIA

De acordo com o levantamento volumétrico realizado, o setor em estudo conta com uma escala bem humana, devido ao baixo gabarito das edificações (Fig.47). Mesmo podendo encontrar edificações com até mais de quatro pavimentos, a predominância no local são de construções com um e dois pavimentos.

63


Figura 47: Mapa de gabarito do setor de intervenção. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

4.3

ANÁLISE VISUAL

O objetivo da análise visual é buscar uma melhor percepção do setor de intervenção, a fim de compreender seu espaço. Essa análise será baseada no método de trabalho definido por Kevin Lynch (2006). “Esse método particular parece revelar os pontos de especial interesse de uma cidade – sua essência visual” (LYNCH, 2006, p.167). Para ele, a cidade pode se classificar em cinco elementos: Vias, Limites, Bairros, Pontos Nodais e Marcos. Através do método de Lynch (2006), aplicado em todo o setor de intervenção, será possível identificar os elementos que compõem esse 64


espaço urbano, visando uma melhor percepção do local e de seu contexto urbano.

4.3.1 VIAS

As vias são as ruas, ferrovias, cursos de rios navegáveis, alamedas, enfim os canais de circulação os quais o usuário transita em meio à cidade, “ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial” (LYNCH, 2006, p.52). Para muitos, as vias são os elementos mais importantes do espaço urbano, devido ao fato de que através deles os outros elementos são observados, se dispõem e se relacionam. Na pesquisa realizada, serão destacados os caminhos quem dão acesso ao setor de intervenção (Fig.48), assim como os percursos de grande importância que estão em seu entorno, como a estrada de ferro e o Rio Doce. Podemos considerar a Avenida Carlos Medeiros como a via de principal fluxo de pedestres e veículos, e como principal acesso à Praça Getúlio Vargas e seu entorno. É por meio dessa avenida que as pessoas que transitam de ônibus pela cidade podem chegar ao setor de intervenção, visto que o ônibus passa pela avenida e curva à esquerda, na Rua Cel. Álvares Milagres Ferreira, onde possui um ponto de parada. Como vias de fluxo secundário, temos as ruas Vinte e Um de Abril e Milagres Júnior e a Avenida Rio Doce. São vias que possuem um baixo volume de tráfego viário, onde são mais utilizadas como circulação interna da área e por aqueles que fazem o retorno à Avenida na procura de estacionamento.

65


Figura 48: Mapa das vias de acesso ao setor de intervenção. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

4.3.2 LIMITES

Os limites se caracterizam por serem “fronteiras entre duas fases, quebras de continuidade lineares: praias, margem de rios, lagos, etc., cortes de ferrovias, espaços em construção, muros e paredes” (LYNCH, 2006, p. 52). Eles podem ser ou não penetráveis, contando que tenham como objetivo separar um lugar de outro. 66


“Ainda que possam não ser tão dominantes quanto o sistema viário, para muitos esses elementos limítrofes são importantes características organizacionais, sobretudo devido ao seu papel de conferir unidade a áreas diferentes, como no contorno de uma cidade por água ou parede” (LYNCH, 2006, p.52).

No setor de intervenção foram identificados dois principais elementos que limitam a região (Fig.49), a estrada de ferro Vitória-Minas ao norte, e o Rio Guandu a leste. Um terceiro limite, não tão claro quanto os outros, encontrase em constante desenvolvimento, uma vez que está diretamente ligado ao sentido de crescimento da cidade. A partir desse terceiro limite, identificado na imagem pela linha fracionada, inicia-se um setor comercial, rompendo com o contexto característico do setor de intervenção.

Figura 49: Mapa de limites. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

67


4.3.3 BAIRROS/SETORES

Os bairros ou setores são divisões da cidade, podendo ser regiões médias ou grandes. Eles são identificados por possuírem características em comuns, podem ser “invadidos” pelo observador e em até certo ponto, muitos os classificam como um dos elementos principais que estruturam a cidade, seguido das vias. “As

características

continuidades

físicas

temáticas

que que

determinam podem

os

consistir

bairros numa

são

infinita

variedade de componentes: textura, espaço, forma, detalhe, símbolo, tipo de construção, usos, atividades, habitantes, estados de conservação, topografia (LYNCH, 2006, p.75).

A sede de Baixo Guandu é constituída por quatorze bairros. A área de intervenção é um setor definido dentro do bairro Centro (Fig.50) onde estarão concentradas as atividades sócio-culturais da cidade, de acordo com seu histórico e a importância de sua identidade para os moradores.

68


Figura 50: Mapa de bairros/setores. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

4.3.4 PONTOS NODAIS

Os pontos nodais são locais na cidade, pontos estratégicos, onde o observador pode penetrar. Segundo Lynch (2006), muitos têm origem tanto em conexões quanto em concentrações. Para ele, os pontos nodais têm o conceito ligado ao de vias, visto que essas conexões se formam através da concentração de diferentes caminhos. Assim como pode-se ligar com o

69


conceito de bairros “[...] tendo em vista que os núcleos são os focos intensivos dos bairros, seu centro polarizador” (LYNCH, 2006, p. 53). Pode-se considerar que a Praça Getúlio Vargas é o ponto nodal do setor de intervenção, uma vez que ela é um local de encontro e referência, onde o maior número de vias locais convergem a ela, que por sua vez direciona o usuário para as atividades do entorno.

4.3.5MARCOS VISUAIS

Por fim, os marcos são caracterizados como um tipo de referência na cidade, porém são externos, não permitindo que o indivíduo entre neles. Geralmente são objetos físicos, podendo ser uma edificação, sinais ou elementos da natureza. “Alguns marcos são distantes, tipicamente vistos de muitos ângulos e distâncias, acima do ponto mais alto de elementos menores e usados como referências radiais” (Lynch, 2006, p. 53). Através dos marcos, o observador pode se encontrar ou se guiar em meio à paisagem. “Uma vez que o uso de marcos implica a escolha de um elemento dentre um conjunto de possibilidades, a principal característica física dessa classe é a singularidade, algum aspecto que seja único ou memorável no contexto” (LYNCH, 2006, p.88).

Se analisarmos o conceito de marco visual como uma referência dentro do contexto urbano, logo, podemos citar elementos que compõem a paisagem do setor de intervenção. Como marcos visuais internos (Fig.51), encontramos o Canaan Social Clube, o Cine Alba, a Câmara Municipal e a Casa da Madame Albertina Holz. E como marco visual externo, temos a Praça Getúlio Vargas.

70


Figura 51: Marcos visuais internos. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A partir das pesquisas, levantamentos e análises realizados na área, é possível observar que o uso atual desse espaço não condiz com seu contexto urbano e afasta o convívio social, ao invés de atraí-lo. A ausência dos eventos, das feiras alimentícias e culturais e das apresentações que ali eram realizadas, transformou esse espaço urbano, que possui um potencial tradicional, em um local comum, sem qualquer tipo de esmero.As largas ruas priorizam o veículo, que passa ou acessa o espaço apenas como rota ou para estacionar. As calçadas em certos pontos são estreitas, onde o pedestre divide o passeio com as árvores no meio do caminho e não oferecem

qualquer

tipo

de

acessibilidade,

visto

que

os

maiores

frequentadoresdo local são idosos. As edificações e terrenos vazios, assim como a própria Praça Getúlio Vargas, geram insegurança aos que moram ou transitam pelo setor. Pode-se concluir 71


que a falta de cuidado com esse espaço urbano resultou numa descaracterização do contexto original onde a retirada e o descaso com os elementos que proporcionavam convívio social e entretenimento não agregam valor ao local. Assim, um projeto foi desenvolvido para requalificar essa área, onde pequenas intervenções poderão contribuir na atraçãodas pessoas para esse espaço público urbano.

72


5

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO DO SETOR

Neste capítulo será apresentada a proposta projetual desenvolvida para o setor escolhido na cidade de Baixo Guandu. O projeto se inicia utilizando um conceito fundamentado na dimensão de tempo cronológico encontrado no contexto urbano e da história local apresentada nos capítulos anteriores. A partir deste conceito foi definido o partido utilizado na proposta, que nortearam as resoluções de projeto apresentadas a seguir.

5.1

CULTURA E LAZER

Há décadas, o setor de intervenção era visto como um espaço de grande convívio social, visto que oferecia entretenimento, cultura e lazer. No decorrer dos anos, as atividades que ali eram desenvolvidas foram se dissipando e a área foi perdendo seus atrativos característicos. O projeto de intervenção visa valorizar esse setor, promovendo no local condições físicas espaciais para realização de atividades culturaisque resgatem uma identidade que se perdeu ao longo do tempo. Para isso, serão realizadas pequenas intervenções no meio urbano que incentive o tráfego de pedestres, o ato de passear por um espaço urbano, proporcionando melhor conforto ao caminhar pela área, ao sentar para descansar, encontrar os amigos, entre tantas outras possibilidades. Propor a instalação de atividades e serviços que atraiam o olhar e instigue no usuário a vontade de conhecer melhor aquele local, sua história, origem e cultura, incentivando seu retorno nesse espaço.

73


5.2 MOBILIDADE

A prioridade do projeto é o pedestre e sua circulação em meio à área de intervenção. Para isso, as calçadas foram alargadas, estreitando as ruas, permitindo apenas a passagem de um carro com estacionamento na Avenida Carlos Medeiros e Rua Milagres Júnior, e mão dupla com estacionamento nas ruas perpendiculares. No que diz respeito à melhor circulação, o projeto conta com a implantação de ciclovias que permitiráa todos os usuários do setor mais uma opção sustentável de acesso. Para melhor atender esse público ciclístico, haverá bicicletários ao redor da praça compostos por peças de aço vazadas (Fig.52) com 60cmX20cmX2cm (AxLxP), com design inovador, que na ausência de uso funcionará como objeto decorativo na praça.

Figura 52: Elementos que compõem o bicicletário do setor de intervenção. Fonte: Disponível em <http://www.aloterra.com.br/wpcontent/uploads/2012/01/biciclet%C3%A1rio-espanhol-tactil-1.jpg> Acesso em 11 de setembro de 2013.

74


5.3 A PRAÇA

Os caminhos internos da praça serão organizados de tal maneira que remetam a forma de um relógio, tendo um caminho em especial que a cortará em diagonal. Nele estarão gravados os nomes das famílias tradicionais da cidade, os mesmos que estavam escritos nos antigos bancos destruídos, são eles: Dr. Carli Passos, Reginaldo Paiva, João Fafá, Família Milagres, Família Ferreira, Ricardo Holz, Henrique Holz, Osvaldo Paiva, Loja Pernambucana, Família Rossman, EriKunkel (um dos donos do Cine Alba), Família Nunes e Germano Fik.

5.3.1 CONFORTO TÉRMICO

Foi realizado um estudo de incidência solar na área que consiste a Praça Getúlio Vargas, a fim de compreender como acontece o sombreamento do local proveniente das árvores existentes e dos edifícios do entorno. Para isso, foi feito uma simulação da posição do sol em três horários diferentes, considerando que o período é fora do horário de verão, um outono do mês de abril. O primeiro horário escolhido foi o de nove horas da manhã (Fig.53). Percebeu-se que nesse horário a praça recebe apenas sombreamento das árvores existente em seu interior, nenhum edifício do entorno projeta sombra sobre ela.

75


Figura 53:Insolação na Praça Getúlio Vargas às nove horas da manhã. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Em seguida temos o sol àpino (Fig.54), novamente a sombra proveniente das edificações do entorno não invadem o perímetro da Praça Getúlio Vargas. O sombreamento do meio-dia consiste na concentração da sombra das árvores sob si, fazendo com que a área sombreada seja o raio da árvore que a projeta.

Figura 54: Insolação na Praça Getúlio Vargas ao meio-dia. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Por fim, a insolação das quinze horas (Fig.55), nos permite perceber, mais uma vez, que o sombreamento da praça dá-se essencialmente pelas árvores existentes. Entende-se que, a partir desse horário, conforme o sol for se pondo (Fig. 56), as edificações a oeste projetarão, então, suas sombras no interior da praça. 76


Figura 55: Insolação na Praça Getúlio Vargas às quinze horas. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Figura 56: Insolação na Praça Getúlio Vargas às dezessete horas. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A partir desse estudo realizado, foi possível identificar os pontos que oferecem maior área sombreada, podendo, assim, direcionar para esses pontos atividades e mobiliários que permitam uma maior permanência. Considerando que a cidade apresenta altas sensações térmicas, essa decisão projetual possibilitará que o usuário se acomode nesse espaço e aprecie a paisagem por longo período de tempo.

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5.3.2 MOBILIÁRIO

No interior da praça, serão instalados muitos bancos de madeira com estrutura de ferro, remetendo ao modelo utilizado anteriormente nos assentos dos trens (Fig.57). Estarão dispostos por toda extensão da praça permitindo, assim, descanso e contemplação aos usuários desse espaço.

Figura 57: Banco de carro de passageiros – Museu Vale. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Igualmente aos bancos, as mesas (Fig.58) que serão implantadas na área em questão, objetiva propiciar lazer, encontros, dentre outras atividades. Estarão arranjadas sob as árvores de maiores copas que proporcionam uma área de sombra mais generosa, permitindo dessa maneira, permanência mais prolongada dos frequentadores.

78


Figura 58: Vista das mesas implantadas. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

Dois grandes bancos de madeira serão colocados em dois extremos da praça, com estrutura e divisórias em ferro, possibilitando, assim, que o usuário tenha um espaço mentalmente definido para si (Fig.59).

Figura 59: Exemplo dos dois bancos que serão implantados. Fonte: Disponível em< http://www.google.com.br/imgres?sa=X&biw=1525&bih=691&tbm=isch&tbnid=fCfsxGSwCBL 9QM:&imgrefurl=http://disegnoamilanesa.blogspot.com/2013_01_01_archive.html&docid=m KfPnRLCgR3F5M&imgurl=http://1.bp.blogspot.com/-_8wUwrW6jdw/UOl8cn6jKI/AAAAAAAAIg4/0Jv1qXb_JK4/s400/dj4.jpg&w=900&h=452&ei=oopIUreTM4mS9QS7h4G QCQ&zoom=1&ved=1t:3588,r:19,s:0,i:137&iact=rc&page=1&tbnh=159&tbnw=289&start=0&nd sp=20&tx=81&ty=63> Acesso em 11 de setembro de 2013.

79


Figura 60: Banco criado na Praça Getúlio Vargas. Fonte: Arquivo Pessoal (2013)

Para as crianças será montado em um dos quatro cantos da praça um playground

fugindo

dos

padrões

tradicionais

com

brinquedos

que

referenciam passarelas para pedestres, pontes e viadutos (Fig.61), além de um ponto de espera em que pais ou acompanhantes possam sentar-se e observar as crianças enquanto brincam. Somado ao playground (Fig.62), sobre trilhos de ferro com pedra britada, será posto um trem estático que, com 2,5m de altura, permitirá que crianças e adultos visitem seu interior.

Figura 61: Modelo dos brinquedos que serão utilizados no playground. Fonte: Arquivo pessoal (2013).

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Figura 62: Parte do Playground inserido na praça. Fonte: Arquivo pessoal (2013).

Para iluminar, postes de luz em aço, com referência ao estilo Art Nouveau e design Neri Castori (Fig.63) com quatro folhas (Fig.64) serão distribuídos em toda a praça, com um pequeno espaçamento entre eles no intuito de possibilitar uma grande permanência também durante a noite. Os postes estarão postos em quantidade suficiente para iluminar todos os ambientes e será dotado de lixeiras duplas de ferro (Fig.65) suficientes para recolher o lixo produzido pelos os usuários.

Figura 63: Modelo dos postes de iluminação pública. Fonte: Disponível em<http://www.archiproducts.com/pt/produtos/74676/poste-de-luzem-aco-castore-neri.html> Acesso em 14 de setembro de 2013.

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Figura 64: Exemplo do poste montado em quatro folhas. Fonte: Disponível em<http://www.edilportale.com/immagini/prodottithumb/b_prodotti-74676-rela8622b361792440990b9b9efcb625d8b.jpg> Acesso em 14 de setembro de 2013.

Figura 65:Exemplo de lixeira adotada para o projeto. Fonte: Disponível em<http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_20032/mobiliario_urbano/fotos_mobiliario/lixei ra.jpg> Acesso em 14 de setembro de 2013.

Ao centro, terá um marco visual, um monumento em ferro com 7 metros de altura,onde o conceito do projeto se materializará em um relógiodupla face, a 5 metros do chão, podendo ser visto de diferentes eixos (Fig.66). Em sua 82


base, assim como nos trilhos do playground, um pequeno canteiro de pedra britada.

Figura 66: Vista do relógio de um dos eixos da praça. Fonte: Arquivo Pessoal (2013)

Nos pontos de maior interesse histórico e cultural encontrados no setor, já existentes ou inseridos através do projeto, serão colocados totens (Fig.67) informativos sobre o local. Sendo a praça o principal ponto de encontro do setor de intervenção e o tempo como o conceito, os totens conterão relógios sincronizados com o inserido na praça. Para marcar a unificação desse setor e criar algo meio lúdico, em cada totem terá a informação de quantos minutos o pedestre gastará do ponto em que se encontra até o centro da Praça Getúlio Vargas. Assim, na medida em que o usuário for caminhando por esse espaço ele saberá o tempo médio que chegará ao ponto marcado.

83


Figura 67: Exemplo de totem inserido no projeto, design de Oscar Niemeyer. Fonte: Disponível em <http://colunistas.ig.com.br/consumoepropaganda/files/2012/12/Relogio-Vista01.jpg.jpg.jpg > Acesso em 14 de setembro de 2013.

5.3.3 VEGETAÇÃO

As árvores mantidas na praça são muito antigas, sendo elas das espécies oiti e duas palmeiras de pequeno porte. Elas serão preservadas, com o objetivo de manter presente parte da história dessa praça. Devido ao fato das duas únicas palmeiras estarem próximas uma da outra, seus canteiros serão desenhados de forma simétrica compostos ainda com grama e flores da espécie Íris (Fig.68).

84


Figura 68: Flor Íris. Fonte: Disponível em<http://www.jardineiro.net/plantas/iris-iris-germanica.html> Acesso em 14 de setembro de 2013.

A escolha da vegetação se deu através da decisão de que nenhuma espécie se destacaria em altura senão as já existentes (Fig.69), sendo assim foram escolhidas de acordo com a altura, luminosidade e ciclo de vida. O objetivo disso é compor canteiros com espécies de baixa estatura que suportem a insolação e que tivessem ciclo de vida perene, afim de que o jardim estivesse sempre florido. Em função disso as espécies escolhidas foram rasteira, arbustos e trepadeira.

85


Figura 69: Novo paisagismo da Praça Getúlio Vargas. Fonte: Arquivo Pessoal (2013).

A espécie rasteira é a grama São Carlos (Fig.70) tem como característica folhas largas, lisas e coloração verde. Será implantada em grande parte dos canteiros da praça. Os arbustos escolhidos são três espécies de floreiras, em três cores distintas, estando duas nos canteiros centrais e uma em outros pontos da praça.

Figura 70: Grama São Carlos. Fonte: Disponível em<http://www.jardineiro.net/plantas/grama-sao-carlos-axonopuscompressus.html> Acesso em 14 de setembro de 2013.

86


Os canteiros centrais terão vegetação que possam remeter às cores da bandeira guanduense, verde, branco e vermelho. Eles serão compostos pela grama são Carlos e flores das espécies Begônia Sempre-florida, na cor vermelha (Fig.71) e Begônia Cerosa, na cor branca (Fig.72).

Figura 71: Begônia Sempre-florida, cor vermelha. Fonte: Disponível em<http://www.fazfacil.com.br/jardim/begonia-begoniasemperflorens/> Acesso em 14 de setembro de 2013.

Figura 72: Begônia Cerosa, cor branca. Fonte: Disponível em<http://www.jardineiro.net/plantas/begonia-cerosa-begoniasemperflorens.html> Acesso em 14 de setembro de 2013.

Para criar mais uma opção de sombreamento e permanência, um pergolado de madeira peroba será inserido em um dos canteiros da praça, 87


com a trepadeira Buganvile (Fig.73) embelezando e sombreando ainda mais o local.

Figura 73: Trepadeira Buganvile. Fonte: Disponível em<http://www.jardineiro.net/plantas/primavera-bougainvilleaglabra.html> Acesso em 14 de setembro de 2013.

5.3.4 PAVIMENTAÇÃO

A pavimentação de grande parte da praça será em granito cinza castelo apicoado, contendo uma área de deck sob as árvores que proporcionam maiores sombras no local, onde parte deles serão ocupados por mesas, parte por um extenso banco e parte ficará livre permitindo ao usuários assentar-se no chão. No caminho que atravessa a praça em diagonal, onde terão os nomes das famílias mais tradicionais da cidade, o revestimento será de placa de concreto pré-moldado 80cmx80cm, pois quando na sua forma mais liquida, o concreto permite o trabalho em baixo relevo na impressão dos nomes. No playground, piso Emborrachado Drenante Elevado 50mm, na cor verde claro (Fig.74), que ao mesmo tempo dispõe de embelezamento e funcionalidade em um local propício a grandes impactos devido às atividades que podem causar queda de crianças. Segundo a descrição do material pelo catálogo do fornecedor CVT Pisos industriais, esse piso também 88


é indicado para locais com ausência de contrapiso, podendo ser aplicado sobre pedriscos (Fig.75).

Figura 74: Modelo de acabamento do piso emborrachado do playground. Fonte: Disponível em <http://www.piso.srv.br/Piso_borracha_Drenante_50mm.asp> Acesso em 16 de outubro de 2013.

Figura 75: Detalhe de aplicação do piso emborrachado do playground. Fonte: Disponível em<http://www.piso.srv.br/Piso_borracha_Drenante_50mm.asp> Acesso em 16 de outubro de 2013.

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Saindo do interior da Praça Getúlio Vargas, será assentado granilite na cor cinza em todas as calçadas do setor de intervenção, assim como será aplicado o revestimento Paver (Fig.76) em todas as vias, pois auxilia no controle de velocidade do veículo (se comparado ao asfalto), além de permitir a drenagem das águas pluviais. Desta forma, serão utilizados paver cinza nas vias para veículos e paver vermelho nas vias elevadas para pedestres.

Figura 76: Via pavimentada com paver. Fonte: Disponível em<http://www.odiario.com/construir-edecorar/noticia/496413/pisos-ecologicos-ganham-espaco/> Acesso em 16 de outubro de 2013.

5.4 O ENTORNO

Com o principal objetivo de promover a cultura do município de Baixo Guandu, o entorno histórico da Praça Getúlio Vargas receberá uma proposta que melhor estruture o local para o desenvolvimento de atividades culturais e para atender os usuários que essas atividades estarão propícias a atrair.

90


5.4.1 AS FEIRAS CULTURAIS

Como já mencionado, as vias serão estreitadas com o intuito de atribuir maior conforto aos pedestres. Analisando a estrutura viária do local, será possível interromper um trecho da Rua 21 de Abril para que sua circulação seja exclusivamente de pedestres, tendo elementos de barreira removíveis para eventualidades. Esse trecho será mais elevado, revestido em paver vermelho, tendo em uma de suas laterais marcações no piso com paver na cor cinza (Fig.77) que delimitam uma área de 1,50mx2,5m para a montagem de barracas para eventos, como as feiras culturais extintas há pouco mais de 3 ou 4 anos.

Figura 77: Exemplo de modulação do paver permitindo facilmente a troca de cor. Fonte: Disponível em<http://cdn.hotfrog.com.br/companies/TARRAGONA-BlocosPaver-e-Pisos-Ecol%C3%B3gicos/images/TARRAGONA-Ind%C3%BAstria-de-Paver-eBloquetes_75197_image.jpg> Acesso em 16 de outubro de 2013.

Fazendo esquina com a Rua 21 de Abril, um trecho da Rua Milagres Júnior também será elevado, pavimentado e contará com as mesmas marcações para as barracas de feira. Receberá também, uma marcação de 10mx15m, para montagem de um palco, tendo como apoio para luz e som um poste com transformador, a fim de auxiliar o suporte técnico. A diferença desse trecho para o da Rua 21 de Abril, é que ele não será exclusivo para pedestre, sendo, porém, totalmente interrompido nos momentos em que seu espaço for solicitado para uso. 91


5.4.2 AS EDIFICAÇÕES

As edificações do entorno receberão sugestões de uso através de uma proposta junto ao setor público municipal. Edificações sem uso e terrenos vazios poderão desenvolver atividades voltadas para a cultura em parceria a órgãos públicos, sendo-lhes atribuídos vantagens como desconto em taxas e impostos, por exemplo. A iniciativa privada também poderá atuar em parceria com o setor público, sendo que o próprio projeto a ser desenvolvido pode contar com uma Operação Urbana Consorciada (OUC). “Art. 32. Lei municipal específica, baseada no plano diretor, poderá delimitar área para aplicação de operações consorciadas. § 1o Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com

a

participação

dos

proprietários,

moradores,

usuários

permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental” (ESTATUTO DA CIDADE, 2001, Capítulo II – Seção X).

A melhoria das edificações do setor de intervenção será realizada visando a estética e funcionalidade, transformando esse setor em um lugar atrativo aos usuários e visitantes da cidade. Para as residências mais precárias, o projeto propõe uma melhoria nas fachadas, incentivando a permanência das famílias residentes do local. O comércio também será requalificado, de maneira que possa melhorar o atendimento no local, afastando atividades que não são adequadas ao setor. Os terrenos vazios e as edificações mais antigas – consideradas históricas no município - ganharão atividades que poderão atrair visitações constantes gerando fonte de renda, podendo ser sugerido: serviço hospitaleiro, livrarias, biblioteca

municipal,

um

Memorial

da

Cidade,

Museu

do

Trem

(considerando uma parceira com a Vale), a instalação da Secretaria da 92


Cultura (SECULT), ateliês artesanais (cerâmica, bordados, entre outros) e uma instituição de ensino que possa oferecer oficinas culturais (como a confecção de artesanato).

93


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fim de alcançar o objetivo do trabalho, levantamentos bibliográficos e iconográficos, análises do setorin loco e estudos de caso, foram realizados para

possibilitar

maneiras

e

instrumentos

de

intervir

no

setor

trabalhado.Decorrente disso, ficou evidenciado as necessidades a serem adaptadas ao contexto local atual. Com isso um projeto de intervenção foi elaborado

baseado

num

contexto

cronológico

da

história

local,

obedecendo alguns critérios, tais como acessibilidade, mobilidade, estética, entre outros. A proposta de intervenção no setor contou com inúmeras modificações, colocando como alvos principais a cultura e o lazer, mobilidade, forma e organização da praça, mobiliário, o emprego e preservação de vegetação, pavimentação e o entorno da praça com parcerias entre o setor público e privado para o uso de espaços ociosos.É notório que sendo um ponto de referência da cidade, a Praça Getúlio Vargas e seu entorno devem ser também referência no que tange a cultura, beleza, história e um espaço que viabilize o convívio social. Ao analisar a proposta de intervenção, pode-se concluir que a Praça Getúlio Vargas é um ponto nodal criado em meio ao setor de intervenção para receber e direcionar as pessoas que irão desfrutar de um nova imagem dada a uma das áreas mais antigas da cidade. Nela será possível obter novamente o lazer e entretenimento, há décadas vividas naquele lugar. As atividades que foram segregadas, marginalizadas ou extintas, tem uma oportunidade de serem agrupadas em um espaço destinado a recebê-las, no intuito de que sejam apreciadas, valorizadas e fixadas. Espaço esse, onde nasceram e onde poderão manter viva a história e tradições da cidade de Baixo Guandu.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A GAZETA. Teatro e Cinema de Volta no Noroeste. 2011. Disponível em: <http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/03/noticias/a_gaze ta/dia_a_dia/807219-teatro-e-cinema-de-volta-no-noroeste.html>. Acesso em: 25 março 2013. ALEX, Sun. Projetos da praça: convívio e exclusão no espaço público. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Lisboa: Edições 70, 2008. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. FERREIRA, Manoel Milagres. História e Flagrantes de Baixo Guandu. 1958. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2006. PORTAL GUANDU. História. Disponível em <http://portalguandu.com.br/conteudo/225/historia>. Acesso em 25 de março de 2013. REDE DE SÃO PEDRO. História da Paróquia. 2011. Disponível em: <http://www.rededesaopedro.com.br/a-paroquia/histaroia-daparoquia.html>. Acesso em: 18 abril 2013. ROBBA, Fabio; MACEDO, Silvio Soares. Praças Publicsquares in Brazil. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2010.

brasileiras=

SCHULZ, Wanderlei. Baixo Guandu em Revista. Editora da Cidade Ltda, 1986.

95


VERNECK, Walmir Campagnaro. Dicionário Escolar com Histórico e Lei Orgânica do Município.Editora Acervo Cultural, 1996. WATERMAN, Tim. Bookman, 2010.M

Fundamentos

de

Paisagismo.

Porto

Alegre,

96








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