Dissertação e Tese em Ciência e Tecnologia Segundo Bolonha 3ª Ed.

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Cap. 1 INTRODUÇÃO ◦ ◦ ◦ ◦

Conceitos importantes Objetivos de investigação O preço a pagar O processo de investigação

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Mestrado e doutoramento segundo Bolonha Dissertação e tese Observações prévias Estrutura do livro

Sem alguma reflexão prévia, o simples conceito de investigação pode assumir uma dimensão algo enganadora e, por essa via, possivelmente 1: intimidante. Perguntará o leitor em que consiste investigar? O que se poderá esperar, ou mesmo exigir, de um investigador para que o seja, de facto, de pleno direito? A imagem do investigador, enquanto personagem de intelecto genial, distraída e desfasada da realidade quotidiana, terá alguma correspondência com a realidade atual? Recuando um pouco no tempo, verificamos que a evolução histórica do conhecimento científico se pode caracterizar por um início de natureza essencialmente empírica, correspondendo aos tempos mais remotos e estendendo-se até épocas relativamente recentes. Seguiu-se um período rico em brilhantes descobertas de natureza fundamental, localizado predominantemente nos séculos XVII, XVIII e XIX. Na fase atual, a evolução do conhecimento é fruto de contribuições, em geral, parcelares, frequentemente divulgadas através de publicações em periódicos especializados ou em congressos temáticos, registando-se uma crescente coordenação entre os diversos autores e um relativo equilíbrio quanto ao peso atribuído às vias de estudo teórica e experimental. Por outras palavras, o perfil característico do investigador evoluiu significativamente no tempo, correspondendo hoje a uma pessoa “normal”. As condições em que atualmente se realiza investigação permitem a elaboração de excelentes trabalhos, que muito fazem avançar o conhecimento, sem que,

1 Obviamente, “leitor” é aqui entendido no sentido lato, ou seja, leitor(a).

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Cap. 2 PASSOS PRELIMINARES E INÍCIO DA INVESTIGAÇÃO ◦ ◦

Escolha do tema e da instituição Escolha do supervisor

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A seguir à escolha do tema A proposta de investigação

Antes de iniciar o trabalho de investigação propriamente dito, há que criar as condições necessárias para que o mesmo possa chegar a bom termo. Tais condições passam, entre outros fatores, pela escolha do seu tema de trabalho, da instituição de acolhimento, do supervisor.

2.1 – Escolha do tema de investigação e da instituição de acolhimento

A seleção do seu tema de investigação é condicionada pela recetividade que a instituição de acolhimento tenha em relação a esse tema. Por seu turno, a seleção da instituição de acolhimento será em função da recetividade que demonstre face ao tema que o leitor, enquanto futuro investigador, possa já ter elegido como sua preferência. Trata-se, portanto, de duas escolhas cuja estreita interdependência conduz, por vezes, à necessidade de optar por uma solução de compromisso, a ponderar com reflexão. Alguns aspetos que será útil ter em mente:

◦ Visite as possíveis instituições de acolhimento. Esta visita pode ser feita, num primeiro tempo, de forma virtual, através das páginas na Internet de um leque inicial de instituições passíveis de serem escolhidas por si. Independentemente de se tratar de universidades, empresas ou outras, é importante ponderar fatores como a localização, a logística disponível, a reputação (em particular, no tocante à cultura de investigação), as propinas, a possibilidade de financiamento da investigação (com a concessão de uma bolsa, nomeadamente). Uma vez reduzido o leque inicial através de uma

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Cap. 3 O DECURSO DA INVESTIGAÇÃO ◦ ◦ ◦

Revisão bibliográfica Modelo físico Modelo teórico

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Modelo experimental Resultados e discussão Elaboração de conclusões

A sua proposta de investigação encontra-se agora estruturada e até materializada sob a forma de um documento. Estão, pois, reunidas as condições para passar à prática. O presente capítulo debruça-se sobre cada uma das fases principais (a que equivalem as “tarefas” do projeto, cf. secção 2.4) que caracterizam o processo de investigação. O modelo de investigação subjacente a este capítulo dirige-se preferencialmente ao âmbito temático da “ciência e tecnologia”, de que fazem parte as áreas de: engenharia, matemática, física, química, entre outras. No entanto, grande parte dos tópicos abordados é comum a qualquer tema de investigação, nomeadamente sobre ciências humanas ou sociais.

3.1 – Revisão bibliográfica

Trata-se, conforme referido na secção 2.3, de conhecer o estado da arte sobre o seu tema de trabalho. Para tal, é necessário pesquisar a informação existente, ou seja, o conhecimento produzido, até ao momento, por outros autores. A sua primeira revisão bibliográfica foi já efetuada quando se deparou com a necessidade de escolher o tema de trabalho (cf. secção 2.3). Porém, é necessário atualizá-la regularmente. Com efeito, pode suceder que a solução que procura para a sua questão tenha sido encontrada por algum outro investigador, entre o início e o final da sua própria investigação. Se tal acontecer, o seu contributo, inicialmente original, terá então deixado de o ser, antes mesmo de o poder publicar. Em consequência, toda a estrutura do trabalho terá de ser repensada, à luz deste novo dado. Por outro lado, a todo o momento, a bibliografia pode revelar novas ideias, elas próprias inspiradoras para o avanço do seu

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Cap. 4 O EQUILÍBRIO PESSOAL ◦ ◦

Investir em método Investir na qualidade de vida

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Quando nada parece avançar O papel da família e dos amigos

O investigador é, antes de tudo, um ser humano. Nessa condição, o leitor é certamente confrontado, durante todo o seu trabalho, com momentos de grande motivação, ou mesmo de relativa euforia, mas também outros menos conseguidos, que desafiarão a sua capacidade de resiliência. Preservar o equilíbrio físico e emocional é a chave para que tudo corra pelo melhor e termine como deseja: com êxito.

4.1 – Investir em método

Poderá parecer algo vago à partida, mas o conceito de investir em método é interessante e muitíssimo útil. No essencial, trata-se de constatar o seguinte: fazer as coisas com método implica mais tempo e esforço na sua preparação (investimento), mas exige menos tempo e esforço na sua execução (retorno do investimento). Algumas sugestões concretas poderão ilustrar o referido conceito, neste caso aplicado à realização do seu trabalho em condições de equilíbrio pessoal:

◦ Valorize a gestão do seu tempo. Investigar é uma atividade de longo

prazo, que exige, não apenas muito tempo, mas, também, que o tempo gasto seja tempo de qualidade. Sucede, entretanto, que o seu quotidiano envolve inúmeras outras vertentes, para além da investigação: casa e família, amigos, cultura, desporto, ou até mesmo um emprego. Gerir o seu tempo nesta complexa rede de interesses é uma necessidade imperiosa. Não o fazer pode mesmo conduzir, em casos extremos, a um esgotamento físico e mental,

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Cap. 5 A DISSERTAÇÃO / TESE ◦ ◦

Investir em método Investir na qualidade de vida

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Quando nada parece avançar O papel da família e dos amigos

O relatório de investigação constitui o testemunho escrito do trabalho de investigação desenvolvido ao longo de todo o processo. Pode assumir diversas formas, nomeadamente: relatório de projeto final de curso; relatório de estágio; relatório de investigação aplicada; relatório interno; relatório de progresso (caso seja apresentado no decurso da investigação); relatório de um projeto de investigação contratual; dissertação de mestrado ou tese de doutoramento. Partirei aqui do princípio de que o relatório é, efetivamente, uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutoramento (que frequentemente designarei, de forma indiscriminada, simplesmente por tese). A tese é um documento destinado a provas académicas, devendo, pois, ser submetida à instituição de acolhimento e defendida perante um júri (cf. capítulo 6). Nesse sentido, o leitor passará a desempenhar, por seu turno, o papel de candidato, e sê-lo-á até ao preciso momento em que conheça o resultado das suas provas.

5.1 – Requisitos da tese

A tese é, pois, um documento escrito que relata todo o seu trabalho de investigação e que será avaliado por um júri. A sua grande importância reside também no facto de ser o primeiro contacto que os seus avaliadores (à exceção do supervisor) têm consigo e com o trabalho que desenvolveu. Acresce que, durante a correspondente leitura por cada elemento do júri, o candidato não poderá defender-se, porque está ausente (apenas estará presente nas provas). Espera-se, pois, da dissertação, que seja um documento autossuficiente. No essencial, deve conter:

◦ A prova de que o leitor (autor da tese) sabe fazer investigação e de que merece obter o grau ao qual se candidatou. Num relatório de Guia de

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Cap. 6 APRESENTAÇÃO E DEFESA DA TESE ◦ ◦ ◦

Preparação das provas Apresentação e discussão da tese

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Depois da tese Reagir ao insucesso

O dia das provas

Este capítulo visa essencialmente o período de preparação das provas de apresentação e defesa do seu trabalho, e também as provas em si.

6.1 – Preparação das provas

O período que decorre entre a aceitação da sua tese pelo conselho científico da instituição e o dia de provas destina-se a dar aos elementos do júri o tempo suficiente para ler o documento e preparar a arguição24. Tempo de sobra também para a sua preparação, uma vez que já se encontra (bem!) familiarizado com o trabalho. Algumas sugestões para esse período:

◦ Se tiver elaborado uma errata, procure divulgá-la. Tipicamente, a errata, a existir, terá a forma de uma folha em formato A4, que pode ser facilmente intercalada no volume da tese. Reproduza-a, então, em número suficiente e procure fazê-la chegar a cada um dos exemplares previamente depositados. Se não tiver logrado aceder aos elementos do júri, a correspondente entrega será então remetida para o dia das provas (desde que, para tal e no início do ato, obtenha a anuência do presidente de júri).

◦ Assegure-se de que tem toda a tese bem presente. É fundamental,

para o diálogo com o júri, que possa manusear, rapidamente e sem

24 Também designada por “argumentação”, a arguição de um elemento do júri consiste em discutir, consigo, o seu trabalho de tese.

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Cap. 7 DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DO TRABALHO ◦ ◦ ◦

Os meios de divulgação Estratégias de exposição escrita Estratégias de exposição oral

Dissertações de mestrado e teses de doutoramento encontram-se, normalmente, disponíveis em bibliotecas (e em relatórios de atividade, sob a forma de resumo) de instituições de ensino superior. Em suporte virtual (nomeadamente usando formato pdf26), podem ser facilmente consultadas, mediante solicitação. Contudo, a tese é um documento demasiado extenso e pormenorizado para quem pretenda uma visão simultaneamente global e célere, e o correspondente resumo é insuficiente para proporcionar uma leitura minimamente aprofundada do trabalho desenvolvido. Existem, entretanto, alternativas eficazes e bem estabelecidas, de que a comunidade científica atualmente se serve para trocar informação entre si. Este capítulo visa essencialmente as principais estratégias, para além do documento da tese, a que o leitor poderá recorrer para partilhar com terceiros os resultados da sua investigação.

7.1 – Os meios de divulgação mais comuns

São inúmeros os meios a que poderá recorrer para comunicar com a comunidade científica, fornecendo e recebendo informação, que poderá ser preciosa, sobre o seu tema de investigação. Os que brevemente lhe refiro a seguir são, de entre eles, os mais correntes.

26 pdf é o acrónimo de “portable document format”.

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Cap. 8 PROJETO DE INVESTIGAÇÃO CONTRATUAL ◦ ◦

O que é? Candidatura: tópicos

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O ponto de vista dos avaliadores A importância do Curriculum Vitae

Terminada a tese, é bem provável que o seu futuro profissional passe pela integração numa empresa industrial, de gestão ou de consultoria, numa instituição de ensino superior, ou mesmo no setor governamental. É também plausível que venha a querer constituir a sua própria equipa de investigação. Nalgum desses âmbitos ou em enquadramentos afins, o exercício da sua profissão será, quase inevitavelmente, confrontado com a necessidade de atrair ou conceder financiamento. Se continuar efetivamente ligado à investigação, uma forma interessante e eficaz de obter financiamento para promover a sua atividade profissional passa pela candidatura a um projeto de investigação contratual, algo que em muito se assemelha, na lógica de fundo, à tese que concluiu.

8.1 – O que é um projeto de investigação contratual?

Tal como a sua proposta de investigação (cf. secção 2.4), um projeto de investigação contratual consiste na estruturação de um programa de trabalho, assente em ações de investigação científica sobre uma área temática bem definida. Tem, entretanto, algumas características próprias, a começar pela sua própria dimensão (em termos de âmbito geográfico, de número de participantes, de verbas envolvidas, etc.), que pode ser muito considerável. Este tipo de projeto envolve, tipicamente, uma ou mais instituições de ensino superior, uma ou mais empresas industriais e um ou mais governos. O enquadramento geográfico de uma tal iniciativa pode ser de nível nacional ou internacional. Um projeto de investigação contratual pode

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Cap. 9 INVESTIGAÇÃO E ÉTICA ◦ ◦ ◦

Conduta científica ética Conduta científica censurável Responsabilidade social da investigação científica

Termino este pequeno livro com um breve apontamento sobre a questão ética, que não poderia deixar de aflorar. Por vezes imprudentemente subestimada, a vertente ética de um trabalho de investigação deve ser profundamente analisada, ponderada e respeitada. Ao proceder deste modo, o leitor evitará, a terceiros e a si próprio, incómodos e mesmo problemas de dimensão e gravidade à primeira vista imprevisíveis. Os aspetos de índole ética variam consoante a natureza e o âmbito do trabalho, e surgem, ainda que de forma involuntária, quando envolvem a interação com terceiros (pessoas, comunidades, sociedades, instituições). A questão ética colocar-se-á sempre que o seu trabalho puder interferir com interesses e/ou direitos dessas entidades. Sobre este assunto, o livro CSEPP et al. (1995) constitui, entre outros, um referencial conciso, rigoroso e abrangente, que inclui diversas ilustrações através de exemplos concretos, e que pode ser acedido livremente através do endereço de Internet indicado no apêndice C.

9.1 – Conduta científica ética

Independentemente do domínio temático em apreço – físico, biológico ou social – a investigação tem por objetivo essencial expandir as fronteiras do conhecimento existente. O sucesso de tão ambiciosa missão pressupõe que se encontre assegurado um elevado nível de confiança, no interior da própria comunidade científica, por um lado, e entre a comunidade científica e a sociedade, por outro. Por seu turno, a confiança é o corolário natural de todo um processo de regulamentação, acompanhado da correspondente Guia de

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Anexo A

EXEMPLO DE PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO

Nota prévia – O exemplo de proposta que a seguir se apresenta tem em vista a realização de uma dissertação de mestrado. Porém, no essencial, a mesma estrutura é também aplicável a uma proposta de tese de doutoramento. O conteúdo da proposta varia, naturalmente, consoante se trate de um trabalho de investigação – como no caso vertente – ou de um estágio de natureza profissional, ou, ainda, de um trabalho de projeto (cf. secção 1.5). À semelhança do documento original, este anexo (como, aliás, os anexos que se lhe seguem) é escrito de acordo com a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico (AO) de 1990 (Academia das Ciências de Lisboa, outubro de 1990), em vigor desde 2010. Programa de trabalho a desenvolver pelo licenciado João Paulo Marques Dias Pinto, na preparação das suas provas de mestrado em engenharia mecânica pela Universidade de Coimbra. Ano lectivo: 20052006. Título do trabalho: “Modelação Numérica do Transporte de Partículas na Função Respiratória” Palavras-chave: CFD33; Escoamentos Difásicos; Função Respiratória; MEF/VC. A investigação em apreço tem, como motivação, a necessidade de disponibilizar modelos teóricos eficazes, que permitam aprofundar o conhecimento físico dos fenómenos de transporte (de massa, de quanti33 CFD: “Computational Fluid Dynamics” (Dinâmica dos Fluidos Computacional).

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