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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 14 DE MAIO DE 2014

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Nos próximos dias estarei encaminhando o que pensam alguns economistas sobre os desafios para 2015 – 3) Lara Resende é simpatizante de Marina Silva/Eduardo Campos 3) “É preciso crescer com qualidade de vida”, diz Lara Resende Para o economista, modelo de desenvolvimento baseado apenas em expansão de PIB e consumo material não se sustenta 08 de março de 2014 | 17h 37 Alexa Salomão e Ricardo Grinbaum, de O Estado de S.Paulo SÃO PAULO - Na seara econômica, André Lara Resende é uma referência, entre outras razões, por ter participado da elaboração do Plano Real. Ainda assim, afastou-se do trabalho cotidiano de um economista. O neto do professor de gramática e memorialista Antônio Lara Resende e filho do jornalista e escritor Otto Lara Resende voltou-se às letras e à reflexão. Em seus artigos, defende um novo modelo de desenvolvimento, orientado ao bem-estar coletivo e sustentado pelo setor de serviços em áreas como educação e saúde.

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'Preocupação como curto prazo não é nossa', diz Ghosn "A partir de certo nível de renda, onde com certeza já nos encontramos, a qualidade de vida não está mais necessariamente associada ao consumo material", diz ele na entrevista que segue. Suas convicções o aproximaram da pré-candidata à Presidência Marina Silva, em sua avaliação a pessoa que na atual cena política tem a visão de mundo para implantar o novo modelo de crescimento. A íntegra da entrevista está disponível na internet, no link indicado ao pé desta página. O governo de FHC ficou conhecido como o da estabilidade, o do Lula, pela distribuição de renda. Qual seria a cara do governo Dilma e qual deveria ser em caso de reeleição? André Lara Resende: Nem todo governo deixa necessariamente a sua marca. O governo Dilma não está à altura dos dois governos anteriores que, por mais diferente que tenham sido, tinham carisma e personalidade definida. O governo Dilma tinha a pretensão da eficiência executiva para dar um novo salto desenvolvimentista. Fracassou porque tem uma visão anacrônica, tanto dos objetivos, como dos métodos para alcançá-los. Acredita que o desenvolvimento 2


ainda dependa da industrialização, voltada para o mercado interno e liderada pela ação do Estado, como na metade do século passado. Acredita também na gestão de comando e controle. Mas no mundo contemporâneo, o desenvolvimento é necessariamente via integração internacional, e a gestão de empreitadas, a cada dia mais complexa, só é possível através da delegação, inserida numa cultura baseada no exemplo e no carisma. Muitos estudiosos dizem que o Brasil vive um processo de desindustrialização. Como o senhor vê a questão e o que deve ser feito em relação à produção industrial? André Lara Resende: O processo de desenvolvimento econômico passa primeiro por uma fase de industrialização e urbanização, com uma correspondente redução do peso do setor primário na economia. Numa segunda fase, já com a industrialização consolidada e uma economia mais sofisticada, cresce o peso do serviços. A indústria pesada, de velha tecnologia, desloca-se para onde ainda há mão de obra barata no mundo. Para seguir crescendo, o país precisa renovar sua indústria, ser capaz de absorver e de produzir tecnologia de ponta. Não há como dar esse salto sem a combinação de um sistema educacional de alto nível e a integração comercial com o resto do mundo. Passa-se do protecionismo à indústria nascente, voltada para o mercado interno, ao estímulo à indústria de ponta, voltada para a exportação. É o que deveríamos fazer: integrar o

país à economia mundial, absorver tecnologia de ponta, aumentar a produtividade e as exportações industrializadas, e simultaneamente, repensar a educação de base com objetivos de longo prazo. Há economistas que dizem que o Brasil está preso numa armadilha de baixo crescimento. O senhor concorda com esse ponto de vista? André Lara Resende: O país tem crescido bem menos do que se espera, é verdade. Alguns analistas chamaram de a Armadilha da Renda Média, o fato de que, depois de atingir um estágio intermediário de renda e desenvolvimento, muitos países parecem ter dificuldades de deslanchar e finalmente encostar nos países do primeiro mundo. Para sair da pobreza absoluta, crescer e atingir um mínimo de desenvolvimento, basta ser capaz de criar um excedente para ser investido. Pode não ser fácil para sociedades onde a renda e o consumo são extremamente baixos, mas a fórmula é conhecida: poupar e investir, aproveitando a tecnologia de domínio público, não necessariamente de ponta, desenvolvida nos países mais avançados, e incorporando a população marginalizada à força de trabalho. A partir de um certo ponto - e o Brasil já atingiu esse estágio - a questão se torna mais complicada. Já não basta poupar e investir em capital fixo. Não há mais um excedente de mão de obra barata para 3


ser incorporado ao setor dinâmico da economia. É preciso, então, aumentar o que os economistas chamam de produtividade - a capacidade de produzir mais com menos, de forma mais eficiente, e ganhar competitividade internacional. A absorção de tecnologia já não é tão automática, pois estamos mais perto da fronteira tecnológica. É preciso que a mão de obra, em todos os níveis, do mais elementar ao mais sofisticado, inclusive a da gestão das empresas e dos investimentos, esteja à altura. A chave é a educação. Falar em educação se tornou um clichê, mas como todo clichê é uma verdade que, de tanto repetida sem convicção, perdeu a força. Há uma revolução em curso nos métodos de educação, com a universalização da informática e da internet, mas estamos na contramão. Em lugar de inovar, de fazer uma educação de base de qualidade, optamos por aumentar o número de pessoas com diploma de curso universitários comercializados, onde nada se aprende. Mais um exemplo da nossa insistência em dar mais importância à forma do que à substancia. O Brasil deve ter um novo modelo de desenvolvimento? O que este modelo deve contemplar? André Lara Resende: Acho que não apenas o Brasil, mas o mundo todo precisa rever seu modelo de crescimento. Já não faz mais sentido associar desenvolvimento exclusivamente ao crescimento e ao aumento do consumo material. A partir de certo nível de renda, onde com certeza já nos encontramos, a qualidade de vida não está mais necessariamente associada ao consumo material. O problema da grande desigualdade persiste, é claro, e é urgente ter uma resposta efetiva, mas se o crescimento material não o resolveu, até hoje, em parte alguma do mundo, é porque por si só não vai resolvelo. Veja o exemplo do automóvel: a notícia de que as vendas de carro caíram sob o prisma do velho crescimento é negativa, mas para quem vive nos grandes centros urbanos, onde usar o automóvel está se tornando impossível, parece-me positiva. Anos atrás, menos produção de automóveis seria inequivocamente negativo. Hoje é, no mínimo, questionável. Temos dificuldade em rever velhos conceitos, mas quando as circunstâncias mudam, é preciso reavaliá-los. Tenho a impressão que o mundo está numa fase de transição. O velho modelo de crescimento consumista já não faz mais sentido, mas a alternativa ainda não está bem delineada. Posso estar sendo vítima da ilusão ufanista, mas tenho a impressão de que o Brasil, tanto pelo estágio de desenvolvimento em que se encontra, quanto pela alegria coletiva criativa, poderia estar muito bem posicionado para sair à frente do novo desenvolvimento. Um desenvolvimento mais baseado na educação, na saúde, no entretenimento, no esporte e na cultura, do que no consumo material. Por isso mesmo, se a melhora de vida vier a se frustrar, ainda que ou sobretudo porque, o consumo material continua a aumentar, podemos passar por ondas de protestos difusos e de revoltas que podem vir a se tornar incontroláveis. 4


O senhor defende um modelo baseado em menos consumo, mas como se compatibiliza isso com o desejo das pessoas de consumir e com a necessidade de reduzir a desigualdade? O senhor mesmo coloca que os protesto revelam uma ansiedade das pessoas em melhorar de vida ... André Lara Resende: Minha interpretação é diferente. Os protestos indicam que há busca por melhor qualidade de vida. À medida que a pobreza absoluta é superada, passa-se a desejar mais qualidade de vida, que não encontrada, leva à uma grande frustração. Apesar de se ter mais renda e poder consumir mais, a vida continua extremamente difícil, um verdadeiro inferno. O hospital público é um desastre, a escola pública não tem qualidade, faltam creches, não há segurança, o transporte público é de péssima qualidade. Apesar de ter renda para comprar um carro, leva-se até quatro horas para chegar ao trabalho, engarrafado no transito. Estas são as questões por trás dos protestos - e não necessariamente a demanda por mais consumo material. Essa frustração não é um problema exclusivamente brasileiro. Há no mundo uma vaga percepção de que a melhora da qualidade de vida não está mais necessariamente vinculada ao aumento do consumo material. Ao contrário, o aumento do consumo material - como no caso do automóvel nos grandes 5


centros urbanos - tornou-se um detrator da qualidade de vida. Durante muitas décadas houve uma alta correlação entre o crescimento do produto e da renda e o bem estar. Se o PIB crescia, embora a melhora fosse mal distribuída, todos melhoravam. Essa correlação já não é verdadeira, mas há uma grande resistência a rever conceitos arraigados. Ao criticar o aumento do consumo material, somos acusados de pretender negar o acesso dos mais pobres ao consumo. O argumento não procede - apesar do crescimento extraordinário do consumo material, a pobreza persiste e a desigualdade até se agravou nas últimas décadas, tanto nas economias emergentes quanto nos países avançados. A solução não é mais consumo. Estudos mostram que menos desigualdade, uma sociedade mais homogênea, é elemento fundamental para a qualidade de vida. Para os mais pobres, é evidente, mas também para os mais ricos a desigualdade é negativa. Viver numa sociedade, homogênea e equânime, onde há empatia com seus concidadãos, é melhor para todos. As manifestações, então, mostram que as pessoas já percebem a diferença entre ter mais e viver melhor? André Lara Resende: Me parece que sim, mas como a alternativa não está bem delineada, fica difícil afirmar. Acredito que nem mesmo os manifestantes saibam claramente o que desejam. Por isso os protestos são desfocados. Deseja-se mais qualidade de vida, mas o que é qualidade de vida? É sobre tudo tempo com os amigos, tempo com a família, tranquilidade, ausência de

estresse, inserção numa comunidade com a qual se tem empatia. Por isso a melhora do transporte público é a primeira medida para a melhora da qualidade de vida. Reduzir o tempo de deslocamento e o estresse do trânsito, aumentar o tempo com a família e os amigos, significa um ganho inequívoco de qualidade de vida. O automóvel ainda está no imaginário coletivo como símbolo de sucesso, mas é ilusório. O uso do automóvel exige gastos públicos expressivos na infraestrutura urbana. É um subsídio ao uso do transporte individual, recursos públicos que poderiam ter melhor uso. Para abrir avenidas, viadutos e elevados as cidades foram desfiguradas. Ficou quase impossível se deslocar por qualquer outro meio que não o automóvel. Não é fácil mudar o modelo. Veja a resistência aos corredores de ônibus implantados pelo Haddad. Acho que ele está certo, mas a iniciativa provocou indignação. Como a alternativa não está claramente delineada, é importante dar exemplos concretos do que seria a cidade do futuro, depois do automóvel. A High Line de NY é um desses exemplos. Todas as cidades bem sucedidas do mundo são as que têm bons transportes públicos e estão criando alternativas para que se ande a pé, estímulos ao convívio. É o caso de Barcelona, Paris e NY. 6


Quais outras políticas públicas devem ser adotadas para mudar o modelo de desenvolvimento? André Lara Resende: Não tenho a pretensão de fazer uma agenda detalhada, mas antes de tudo é preciso rever o conceito de desenvolvimento. O que se busca? Apenas vender mais, não importa o que? Vamos garantir que todos possam ter mais coisas inúteis, sem descriminar ninguém, ou vamos procurar o bem estar? A busca do bem estar exige revisão das políticas públicas. Rever os objetivos não significa que a renda deva parar de crescer, mas que haveria um mudança na composição do produto, um aumento do peso dos serviços - mais entretenimento, mais esporte, mais educação, mais saúde, mais musica. A demanda por serviços de saúde é infinita. São essas industrias que irão liderar o crescimento do futuro e não as indústrias baseadas no consumo material. O senhor acha que o governo precisa ter metas a partir de 2015 para o superávit, para a dívida e para o gasto público? André Lara Resende: Metas são importantes para o balizamento, tanto do governo, como do setor privado, mas mais importante do que ter metas quantitativas anunciadas, é o compromisso com elas. Creio que é pior ter metas, sem acreditar nelas, do que não tê-las. As três metas a que você se refere dizem respeito ao custo do Estado. O Estado no Brasil tem uma longa história de patrimonialismo, de confundir o seu interesse com o da sociedade. Só em alguns períodos excepcionais houve tentativas de adotar reformas modernizadoras. A tendência secular é de um crescimento burocrático patrimonialista. Tendência que foi claramente acentuada na última década. O Estado no Brasil de hoje é um criador de dificuldades de toda ordem, tanto para os indivíduos como para as empresas, um detrator da qualidade de vida e da produtividade. Toda crítica ao Estado tende a ser identificada com um liberalismo econômico radical e equivocado, segundo o qual o mercado tudo resolve, e assim é desqualificada. É um falso dilema. O Estado - assim como o mercado - é fundamental nas sociedades contemporâneas, mas é preciso ter um Estado inteligentemente organizado, eficiente, a serviço da sociedade, e não a serviço de seus próprios interesses, contra a população. Qual deve ser a postura em relação ao câmbio? André Lara Resende: No mundo contemporâneo, no que se pode chamar de período pós Bretton-Woods, consolidado nas últimas décadas, as taxas de câmbio são flutuantes. Não completamente livres, mas uma flutuação administrada, para evitar a alta volatilidade de curto prazo, que é perturbadora da atividade econômica. A taxa de câmbio não é, portanto, uma variável de controle direto das autoridades monetárias, mas consequência da política econômica como um todo. A valorização do câmbio, nos últimos anos, percebida como excessiva, é decorrência da combinação perversa da baixa produtividade da economia, da poupança interna insuficiente - ou 7


seja, alto consumo público e privado - com uma política monetária obrigatoriamente apertada para manter a inflação sob controle. É preciso rever toda a política econômica para que o câmbio encontre um equilíbrio menos punitivo para a produção nacional. Ao contrário do que pode parecer, não é possível corrigir problemas da política econômica com a manipulação do câmbio - é preciso corrigir o câmbio com a revisão da política econômica.

Há um represamento na inflação de preços administrados? Como deve ser feito um eventual ajuste para adequar esses preços à realidade de mercado? André Lara Resende: Há efetivamente um represamento, como fica claro ao comparar a variação do índice de preços livres com a do índice de preços administrados. Em particular, o preço do petróleo e de seus derivados tem sido corrigido muito abaixo do necessário para manter a paridade com os preços externos corrigidos pela taxa de câmbio. Todo o processo, cujo objetivo é tentar manter a inflação dentro das metas, sem sobrecarregar a política monetária e subir demais os juros, apesar do excesso de gastos do governo, tem alto custo. Entre outros, o absurdo de subsidiar o consumo de combustíveis fósseis, derivados do petróleo. Acredito que o ajuste deva ser feito o mais rápido possível, desde que todas as demais incongruências da política econômica, sobretudo o gasto público excessivo, sejam corrigidos e percebidos como uma decisão de longo prazo. Assim, o impacto inflacionário da correção teria fôlego curto, dada percepção da correção de rota da política macro. Mais uma vez, é a distorção da política macro, sobretudo da política fiscal, que pressiona a inflação. Corrija-se a fonte do problema e as distorções periféricas se corrigem naturalmente, ou podem ser revistas sem grandes perturbações. Há um certo mau humor dos investidores internacionais com o Brasil. O que o senhor acredita que está havendo? André Lara Resende: Durante alguns anos, houve uma lua de mel dos analistas e dos investidores internacionais com o Brasil. É compreensível. Nos governos Fernando Henrique Cardoso, a inflação crônica foi vencida e as contas públicas, nas suas várias instâncias, equilibradas. Eleito, Lula manteve inicialmente o curso da política macroeconômica e soube dar a um programa criado por Ruth Cardoso a dimensão merecida, o que incorporou um enorme contingente da população à classe média. O país fez efetivamente progresso, parecia estar pronto para o salto definitivo para o primeiro mundo. Com sua conhecida e tradicional obsessão por simplificar e caricaturar, analistas e investidores desconsideraram a vasta gama de gravíssimos problemas que ainda temos, fecharam os olhos ao 8


primeiros sinais de que a política macroeconômica, sob a desculpa de minorar o impacto da grande crise financeira internacional de 2008, havia tomado outro rumo. Desde 2008, a política econômica brasileira é uma versão anacrônica e incompetente do velho desenvolvimentismo dos anos cinquenta do século passado, que teve seu período áureo durante o regime militar, até meados dos anos 70. De uns dois anos para cá, uma vez percebido o corporativismo estatista da política econômica, a incompetência para modernizar a infraestrutura e aumentar a produtividade da economia, os investidores, mais uma vez bem ao seu estilo volúvel e emotivo, passaram de um extremo ao outro. O Brasil agora lhes parece à beira do colapso econômico. Não acho que seja o caso. Ao menos ainda não. O Senhor apoia algum candidato? André Lara Resende: Acredito que a alternância no poder é elemento fundamental da democracia. Uma década parece-me suficiente para que um governo diga a que veio. Mesmo quando o governo é bom, é preciso alternar. Muito tempo no poder desvirtua, leva à perda de foco, a confundir os interesses dos governantes e do partido com os interesses do país e da população. É importante ter novos ângulos, novos pontos de vista, sobre os problemas e os desafios do país. A alternância entre o PSDB e o PT, nas últimas décadas, foi positiva. O PT mostrou sua cara, suas qualidades e seus vícios, desmistificou-se. Foi importante. Acho que agora é hora de mudar. Tenho certeza de que Aécio Neves faria um excelente governo, como já demonstrou no governo de Minas. Na economia está muitíssimo bem assessorado e saberia como reverter o quadro delicado, decorrente dos erros da política econômica nos últimos anos. Não será fácil, sobretudo por conta do aparelhamento do Estado, promovido pelo governo nos últimos anos. Em nome da alternância e da mudança de ângulo, gostaria de ver um governo de Eduardo Campos e Marina Silva. Não apenas me identifico com uma nova visão do desenvolvimento, que dá mais importância à qualidade de vida do que exclusivamente ao crescimento material, como acho saudável que o pais transcenda um sistema bipolar, PT e PSDB, que tende à radicalização. O senhor pode falar um pouco sobre a sua relação com a Marina Silva? André Lara Resende: Eu tive fiz alguns contatos com a Marina na eleição passada e conheço pessoas que conversam com ela. Converso muito com o Eduardo Giannetti. Recentemente, estive uma vez com a Marina e com o Eduardo Campos em um encontro da Rede. Eu não o conhecia,

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nem conhecia o pessoal dele. Fiquei bem impressionado. Mas não participo de campanha e não tenho nenhum engajamento. Reacionários Há pouco menos de 170 anos, John Stuart Mill, o último dos grandes economistas clássicos, mostrou, antes de Marx, que as leis que regem o sistema produtivo são determinadas por condições físicas e tecnológicas (que ele esqueceu em seu "modelo"), mas que a distribuição do que foi produzido pelo trabalho alugado pelo capital é regulada por instituições humanas geradas pelas leis e pelos costumes da sociedade. Estas, obviamente, podem ser alteradas, porque dependem do direito de propriedade que é, ele mesmo, uma instituição humana muito útil para a garantia da liberdade. Tem sido fundamental e conveniente, mas não é divino. A grande mensagem que podemos ler na obra de Mill "The Principles of Political Economy", de 1848 ("Princípios da Economia Política"), é que cada momento da história é um instante da aventura humana no processo evolutivo selecionado de maneira oportuna, da longa busca civilizatória que o homem vem perseguindo e que não tem fim definido antecipadamente. Mill, aliás, não concordaria com essa interpretação, uma vez que imaginava, ao contrário de seu antecessor, David Ricardo, que ela terminaria em um "Estado Estacionário" que harmonizaria o homem consigo mesmo e com a natureza. Os últimos 170 anos mostraram como é difícil "inventar" uma organização social que respeite a liberdade individual, as leis físicas e o avanço tecnológico e, simultaneamente, gere uma distribuição mais equitativa do que foi produzido. O desenrolar histórico acrescentou outro polo à instituição antiquíssima, o mercado, que é um mecanismo relativamente eficiente para coordenar a atividade dos agentes econômicos. Sobre a qual pesa a acusação nunca realmente provada de ter destruído uma primitiva solidariedade natural que um dia existiu entre os homens. O novo polo é a democracia com sufrágio universal que empoderou a enorme maioria que aluga a sua força de trabalho aos proprietários do capital que foi acumulado sob a proteção das leis e dos costumes. Através da urna, ela expressa os seus desejos na escolha do poder incumbente. É o longo e penoso jogo dinâmico entre as leis físicas e as limitações tecnológicas impostas pelo "mercado" no processo produtivo, contra a exigência de equidade distributiva maior do que a que foi produzida expressa na "urna", que vai sugerindo o caminho do processo civilizatório. Ele claramente não é linear, mas, todas as vezes que se tentou uma "via rápida" para substituí-lo, terminou-se na barbárie. Neste momento de grande confusão mental, em que "intelectuais superdemocratas" se apresentam como portadores da "via rápida", a melhor coisa a fazer é tomá-los pelo que verdadeiramente são: 10


perigosos reacionários! ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna. contatodelfimnetto@terra.com.br Monstro de duas cabeças Mercado dá sinais de que acredita tanto em decolagem como em derrapagem dos EUA A CALMARIA nos mercados financeiros, em especial no centro do mundo, nos Estados Unidos, tem algo de esquisito, além de ser sempre relevante para nós, Brasil, um barquinho que balança bem quando o vento começa a soprar na finança global. Duas das "mercadorias" mais importantes da praça financeira estão com preços que dão sinais em tese contraditórios. Um preço indica, em teoria, que a economia dos Estados Unidos vai crescer mais devagar do que o estimado por agora. Outro indica que o PIB americano vai rodar a 3% ao ano, as empresas crescerão e seus lucros também. Esses dois ativos financeiros são as ações e os títulos da dívida de longo prazo do governo americano.

Depois de uns saltos na segunda metade do ano passado, as taxas de juros dos títulos da dívida americana de mais de dez anos de prazo recuaram. Num resumo muito breve, isso quer dizer que pelo menos os detentores de tais papéis não esperam uma recuperação econômica mais rápida dos EUA, com inflação em alta. Não esperam que o banco central aperte em breve a folgadíssima política monetária, elevando as taxas básicas de juros. O rendimento de tais papéis (os "juros") varia na direção contrária de seus preços. Se as taxas de juros sobem, isso quer dizer que os preços dos títulos caem. Perde-se capital, num resumo grosso da coisa. Quem comprou título norte-americano, pois, não espera nem aceleração norte-americana nem teme riscos como um tumulto na economia chinesa. As Bolsas, por outro lado, estão risonhas e francas. Os preços das ações batem recordes como se a economia americana fosse decolar, assim como suas empresas. Ou, pelo menos, quem compra ações espera que as empresas americanas continuem a fazer dinheiro esfolando o trabalhador (os salários médios vão mal nos EUA). Ou, enfim, espera surfar na alta de preços enquanto durar a farra 11


proporcionada pelo capital quase grátis, cortesia do Fed, o banco central americano. Não se trata de dizer que tais incongruências sejam aberrações, dada a série de extravagâncias radicais dos mercados financeiros, notadamente depois dos anos 1990. No entanto, ainda parece esquisito. Fica-se com a impressão de que, quando a cair a ficha, para um lado ou para outro (os EUA crescem ou não), vai haver solavancos feios nos mercados, um "ajuste", uma "correção" de preços, episódios nos quais a gente sempre sai um tanto chamuscado. CERVEJA O governo deu para trás no aumento do imposto sobre a cerveja, que decidira no início do mês, à cata de qualquer troco a fim de fechar suas contas estropiadas. Obviamente, aumento de cerveja pega mal, ainda mais depois de um ano em que o consumo da bebida caiu, raridade; mais ainda quando vai começar um período de samba, suor de futebol e, claro, cerveja, a Copa. Fábricas e varejo, de resto, disseram que a bebida ficaria mais cara do que o estimado pelo governo e que poderia haver até demissões. Pode ser exagero, mas haveria, claro, algum problema. Resumo da ópera, o governo não consegue planejar nem o imposto da cerveja ou calcular suas repercussões. VINICIUS TORRES FREIRE vinit@uol.com.br Emprego industrial cai, mas salário sobe Com produção fraca, número de trabalhadores recua 2% no trimestre; disputa por mão de obra eleva rendimento. Número de horas pagas cai 2,3% e sinaliza que o nível de emprego no setor continuará patinando, diz IBGE. PEDRO SOARESDO RIO Sem uma retomada firme da produção e com empresários pouco confiantes, o emprego na indústria encolhe neste ano. Os salários, no entanto, mantêm a tendência de alta diante da competição por mão de obra --em especial a mais qualificada.

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No primeiro trimestre, a indústria perdeu 2% do total de seus trabalhadores na comparação com o mesmo período de 2013 --o décimo trimestre consecutivo de queda, segundo o IBGE. Já o rendimento subiu 2,1%, ritmo menos intenso do que o registrado em períodos anteriores. De fevereiro para março, o número de pessoas ocupadas no setor cresceu 0,2%. O resultado, porém, não pode ser visto como uma recuperação. Para Fernando Abritta, técnico do instituto, o emprego segue o fraco ritmo da produção --alta de apenas 0,4% no primeiro trimestre. "Apesar do pequeno aumento de fevereiro para março, é prematuro afirmar que o mercado de trabalho da indústria mostra uma reação", afirma Abritta. A pesquisa do IBGE só investiga a população ocupada, e não quem está desempregado e à procura por trabalho, como a Pesquisa Mensal de Emprego, mais ampla. Sem um crescimento mais forte do nível de atividade do setor, o emprego tende a patinar nos próximos meses, explica o técnico do IBGE. Um indicador dessa tendência é a queda do número de horas pagas. Elas sinalizam contratações no futuro, já que, primeiro, os empresários ampliam o número de horas extras antes de admitirem empregados. O problema é que o indicador segue em queda --2,3% no primeiro trimestre. ENTRAVES Para Abritta, o emprego sofre com juros altos, crédito mais caro, consumo enfraquecido, inflação maior e exportações retraídas em importantes setores. Segundo o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o determinante, porém, é o fraco desempenho da produção. "Sem esboçar uma reação mais consistente de sua produção e com emprego em crise, a indústria brasileira inicia este ano com resultados piores do que os de 2013, que já não foi nada favorável", diz o instituto, em relatório.

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Já o rendimento ainda se beneficia da competição por empregados com setores mais dinâmicos, como comércio e serviços, e da restrição de mão de obra qualificada em alguns ramos industriais. SÃO PAULO O emprego na indústria registrou perdas generalizadas, com retração na maioria dos setores e das regiões pesquisados pelo IBGE no primeiro trimestre deste ano. O principal impacto negativo veio de São Paulo. A queda no maior parque industrial do país foi de 3,1% no primeiro trimestre. Das 14 regiões pesquisadas, 9 registraram queda na comparação com o primeiro trimestre de 2013. Entre os 18 setores analisados, 11 tiveram perdas, com destaque para calçados e couro (7,3%), produtos têxteis (4,6%) e máquinas e equipamentos (5,4%).

Falcão: política econômica deve ser obra de quem foi eleito Por André Guilherme Vieira | Valor BRASÍLIA - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse na noite desta terça-feira, 13, ao Valor PRO — serviço de informação em tempo real do Valor — que o Banco Central "não pode ser um banco que formule a política econômica do País". Segundo Falcão, "o presidente do Banco Central não é eleito pela população". O presidente do PT confirmou defender um controle rigoroso para o capital especulativo: "É uma ideia minha, não estabelecer nenhuma restrição ao investimento produtivo e ter limites e restrições ao capital meramente especulativo", sugeriu. "Você tem que discutir com o empresariado, com o setor industrial. Tem dificuldades de ter investimento produtivo", disse. Falcão, que é coordenador da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, negou ter declarado em entrevista que a política monetária é para quem tem voto. "Foi uma pergunta sobre se eu sou a favor da autonomia formal do Banco Central. Eu falei que não. Que existe uma autonomia operacional e que para você ter um BC como se propõe, a política econômica é formulada por quem tem voto, que é o Executivo e o Legislativo", afirmou. Mercado

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Perguntado sobre o fato de o mercado ter reagido negativamente às suas declarações, Falcão respondeu: "Atribuir isso a uma declaração minha, que não tenho nenhuma autoridade sobre a elaboração de políticas públicas que movimentam o mercado, me desculpe. Menos, né?". O presidente do PT participa da solenidade de posse do ministro Dias Toffolli na presidência do TSE. Indicador de clima econômico do Brasil é o menor desde 1999 SÃO PAULO - O indicador do clima econômico no Brasil caiu ao nível mais baixo desde janeiro de 1999 e só não é pior que o da Venezuela, segundo a pesquisa Sondagem Econômica da América Latina, realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pelo instituto alemão Ifo. Na média da América Latina, o indicador piorou influenciado também por outros países, como Chile, México e Equador. A sondagem é feita com base em informações prestadas trimestralmente por especialistas nas economias de seus respectivos países e, no caso do Brasil, a expectativa deles se deteriorou significativamente. O indicador de clima econômico (ICE) do país caiu 20%, de 89 pontos em janeiro para 71 em abril. Na série histórica, iniciada em 1989, este é o pior índice desde janeiro de 1999. É um patamar mais baixo, inclusive, que o de janeiro de 2009 (78 pontos), após a crise deflagrada em 2008 pela quebra do banco americano Lehman Brothers. O ICE do Brasil é inferior ao da Argentina (75 pontos) e supera apenas o da Venezuela, que se mantém no valor mínimo, de 20 pontos, desde julho de 2013. Os maiores problemas apontados pelos especialistas brasileiros consultados pela FGV e pelo Ifo são, em ordem decrescente, falta de competitividade internacional, falta de confiança nas políticas do governo, inflação, défic it público e falta de mão de obra qualificada. América Latina O indicador de outros países latino-americanos também recuou. Na média, o ICE da região teve queda de 5,3%, de 95 pontos para 90 pontos, e foi influenciada por piores resultados tanto do indicador da situação atual (ISA) quanto no de expectativas (IE). Os três indicadores estão na

zona desfavorável (abaixo de 100 pontos) e continuam, assim como na sondagem de janeiro, abaixo das suas médias históricas dos últimos dez anos. 15


Sete dos 11 países monitorados pela pesquisa registraram queda. A avaliação em relação à situação atual piorou em sete, enquanto as expectativas foram piores em cinco países. Apesar da queda do ICE em relação a janeiro, Colômbia e Paraguai permaneceram na zona favorável (acima de 100). Passaram da zona favorável para desfavorável, Chile, Equador e México. Os outros dois países que experimentaram queda no ICE — Brasil e Argentina — já estavam na zona desfavorável. Bolívia, Peru e Uruguai melhoraram o ICE e já estavam na zona de avaliação favorável. De forma similar ao que ocorreu no resultado mais agregado, o ISA teve papel preponderante na piora do clima econômico desses países. Assim, na Bolívia o indicador aumentou 22% e no Uruguai, 19%, enquanto o IE ficou estável na Bolívia e caiu no Uruguai. No Peru, o comportamento foi o inverso, melhorou o IE (+11%) e caiu o ISA (-7,2%). A FGV explica, em nota, que a pesquisa de abril traz um questionário bianual sobre o que os especia listas destacam como os principais entraves para o crescimento econômico dos países na situação atual a partir de uma lista de dez tópicos. A falta de competitividade internacional continua sendo, como nas outras sondagens, o problema mais citado como muito importante no grupo dos 11 países (a única exceção é a Bolívia). Em segundo lugar, aparece a falta de confiança nas políticas do governo (seis países) e, em seguida, inflação e falta de mão de obra qualificada (ambos em cinco países). Assim como o número de problemas citados como muito importantes para os países explicam a avaliação dos especialistas medida pelo ICE, as projeções para a taxa de crescimento econômico do Produto Interno Bruto (PIB) para 2014 também refletem essa avaliação. As menores taxas de crescimento são estimadas para Venezuela (1,3%), Argentina (+0,1%) e Brasil (+1,7%) e as maiores taxas para Bolívia (6,0%) Peru (5,1%) Paraguai (4,9%) e Colômbia (4,4%). A desaceleração do crescimento da China e, principalmente, o redirecionamento de um modelo pautado no investimento intensivo em infraestrutura para outro baseado no estímulo ao consumo doméstico, tem levado a análises que diagnosticam os exportadores de commodities sul-americanas - Brasil, Chile, Colômbia e Peru como os principais perdedores dessa mudança. No entanto, além do efeito China ser relativamente suave (a projeção para 2014 é de um crescimento de 7,2%), outros fatores influenciam a trajetória do crescimento desses países, como mostram os problemas citados na sondagem onde o Brasil passou a ser o último colocado desse grupo (a projeção para o Chile é de um crescimento de 3,4%). Na comparação com o mundo, o ICE da América Latina é menor que o mundial e mantém-se em zona desfavorável de avaliação. A taxa 16


de crescimento projetada para o mundo em 2014 é de 2,5%, e para a América Latina é de 2,3%. O pior desempenho, porém, refere-se à taxa de inflação esperada de 3,2% para o mundo e de 10,8% para a América Latina em 2014. Na América Latina, Venezuela (55,6%) e Argentina (36,2%) lideram o ranking das maiores taxas de inflação, seguidos do Uruguai (8,4%), Bolívia (6,7%) e Brasil (6,4%). No mundo, os resultados continuam favoráveis nos Estados Unidos e na União Europeia e pioram nos mercados emergentes da Ásia. O ICE do mundo ficou relativamente estável ao cair de 114 pontos para 113 pontos entre as sondagens de janeiro e abril. Jornal Valor Online Comissão aprova MP que corrige a tabela do Imposto de Renda Texto segue agora para o plenário da Câmara; reajuste de 4,5% está abaixo da inflação prevista para o ano. 13 de maio de 2014 | 18h 40 Agência Brasil BRASÍLIA - A comissão mista que analisa a Medida Provisória (MP) 634/2013 (sobre isenção aos importadores de álcool do pagamento de PIS/PASEP -importação e Cofins-importação até 2016) aprovou nesta terça-feira o relatório do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), apresentado na semana passada. Por sugestão do Ministério da Fazenda, o relator incluiu a atualização de 4,5% da tabela de base de cálculo do Imposto de Renda (IR) no texto, que segue agora para exame no plenário da Câmara. • •

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Planalto tenta antecipar aprovação de correção do IR Inicialmente o reajuste do IR estava previsto em outra Medida Provisória (644/14), anunciada pela presidenta Dilma Rousseff no pronunciamento que fez em comemoração ao Dia do Trabalhador (1º de maio). A inclusão da proposta na MP 634/13 foi feita porque o Executivo teme que, com a proximidade das convenções partidárias, a MP 644/14 possa não ser analisada a tempo no Congresso. As convenções partidárias vão definir as candidaturas e coligações para as eleições de outubro e serão realizadas de 10 a 30 de junho. A correção está de acordo com a meta inflacionária estabelecida pelo governo, mas abaixo da projeção de 6,5% para 2014, feita pelo mercado financeiro e divulgada pelo Banco Central. Com a correção, 17


o limite de renda mensal bruta isenta do imposto passou de R$ 1.787,77 para R$ 1.868,22. As outras quatro faixas foram atualizadas da mesma forma. A MP 634 foi editada pelo governo em dezembro do ano passado e é válida até 2 de junho. O líder do PDT na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE) adiantou, na comissão mista que, na Câmara, a matéria dificilmente será aprovada. "No plenário da Câmara, a coisa vai ser um pouquinho mais complicada". A aprovação da matéria também foi alvo de críticas da oposição no Senado. O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) criticou a inclusão da proposta na MP 634/2013 já que, segundo ele, o tema precisaria ser amplamente debatido. O avesso do avesso "Aí vem uma pessoa e diz que a inflação vai ser 3%, que a meta de inflação é 3%. Ah, é? Faz uma meta de inflação de 3%. Sabe o que ela significa? Desemprego. Em que proporção? Lá pelos 8,5%, 9%, 10%, 11%, 12%. Por aí." O português pedestre já tornaria desnecessária a identificação do personagem responsável pelo enunciado acima, mas, tivesse sido expresso pelo próprio Camões, o conteúdo (ou melhor, a falta de) não deixaria dúvida que a autora do descalabro não poderia ser ninguém menos que a presidente da República. Em que pese o diploma de economista (sem mestrado ou doutorado, bem entendido), a fala revela desconhecimento abissal dos fundamentos da profissão, como se os últimos 46 anos de teoria e prática macroeconômica simplesmente não tivessem existido.

Havia, de fato, ali pelos anos 60 a crença de uma troca estável entre inflação e desemprego expressa, entre outros, por economistas do calibre de Paul Samuelson e Robert Solow, ambos mais tarde agraciados com o Nobel de Economia (por contribuições em outras áreas). No caso, inflação mais baixa implicaria, em qualquer circunstância, desemprego mais alto e vice-versa. No entanto, trabalhos posteriores, começando por Milton Friedman e Edmund Phelps ainda em 1968, revelaram as bases frágeis dessa construção, antecipando a possibilidade da convivência de elevadas taxas de desemprego e inflação, que se tornou uma triste realidade poucos anos depois, um raro exemplo da teoria econômica à frente dos fatos.

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A descoberta fundamental desses economistas foi o papel das expectativas de inflação na formação de preços e salários. Em particular, caso um governo tente persistentemente reduzir o desemprego permitindo inflação mais elevada, tanto trabalhadores como empresas passarão a incluir em suas decisões de salários e preços um adicional que reflita a inflação esperada ao longo do horizonte em que os preços estão contratados. Concretamente, se trabalhadores têm que conviver com um salário fixo nos próximos 12 meses, o reajuste hoje deve ser tanto mais alto quanto maior for a inflação esperada neste período, de modo a preservar o poder de compra dos salários. Assim, em prazo mais longo, quando expectativas e realidade se aproximam, não é possível trocar mais inflação por menos desemprego. Obviamente, não se sabe com certeza qual será a inflação futura, mas, se há um compromisso do BC em termos de manter a inflação flutuando próxima a determinada meta, o natural é que as expectativas acabem por convergir para este valor, processo que chamamos de "ancoragem", crucial para o sucesso deste tipo de regime. Não se trata de milagre, mas depende essencialmente do comprometimento do BC com a meta, que, diga-se, não se mede com palavras. Independentemente das juras de fidelidade que se faça à meta, o que ancora as expectativas é a ação da autoridade monetária. Ao elevar a taxa de juros quando a inflação se desvia para cima da meta (e baixá-la em caso contrário), o Banco Central consegue estabilizar expectativas, como mostrado pela experiência internacional e mesmo a brasileira de pouco anos atrás, sob, é claro, administração bem diferente da atual. Assim, caso a política monetária seja bem administrada, as expectativas tendem a convergir para a meta e não há necessidade de grandes flutuações na taxa de desemprego para manter a inflação ao redor daquele valor. Pelo contrário, neste cenário o desemprego também tende a se manter ao redor do nível consistente com a meta, independente de esta ser 3%, 5% ou 8%.

Ao contrário, portanto, da crença presidencial, a redução da meta de inflação não requer aumento de desemprego (a propósito: de onde veio o número de 12% de desemprego para reduzir a inflação a 3%? Puro chute!). Requer, porém um BC autônomo e comprometido com seu objetivo, o oposto do observado no Brasil dos últimos anos, em particular sob o comando da presidente. 19


Alexandre Schwartsman, formado em administração pela FGV-SP e em economia pela USP, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley). Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, é também professor do Insper. Escreve às quartas, semanalmente. Mantega prevê recuperação gradual da economia brasileira Ministro da Fazenda, Guido Mantega afirmou que a crise internacional começou a ceder e apontou que com isso a economia brasileira se recuperará Brasília - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quarta-feira em uma audiência na Câmara dos Deputados que a crise internacional começou a ceder e apontou que com isso a economia brasileira se recuperará de forma "gradual" e crescerá neste ano cerca de 2,3%. Leia Mais •

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14/05/2014 | Produção industrial da zona do euro cai inesperadamente No entanto, previu uma "transição dolorosa" para a economia mundial e, especialmente, para os países mais desenvolvidos, que foram os mais impactados pela crise que explodiu em 2008. Mantega reiterou que esta foi "a maior crise do capitalismo em anos" e ressaltou que "a boa notícia é que se está saindo dela", apesar de ter alertado que "recuperação não será de um momento para o outro". Sobre a economia brasileira, disse que se percebe uma "melhora gradual" que está "em sintonia com a recuperação da economia mundial". O ministro assegurou que o país seguirá a rota do crescimento com a inflação controlada. Apesar de admitir que a economia brasileira se expandiu a taxas baixas nos últimos anos, argumentou que isso ocorre em "todo o mundo". Mantega citou os casos dos Estados Unidos, "que no ano passado tiveram um crescimento modesto de 1,9%", e a desaceleração da 20


economia da China. "Sem falar da Europa", que em seu conjunto teve em 2013 um novo resultado negativo, acrescentou. O ministro afirmou que as economias emergentes, como a brasileira, deram sinais de "força" após o início da redução dos estímulos nos Estados Unidos.

"Diziam que os países emergentes eram frágeis" e "houve quem chegou a decretar seu fim", mas mesmo com a redução dos estímulos da economia americana estas nações deram mostras de que se mantêm "fortes". Mantega citou como exemplo o próprio Brasil e frisou que o real foi uma das moedas que mais se valorizaram nos últimos meses, e opinou que as economias emergentes seguirão entre as mais dinâmicas do mundo. O ministro afirmou que o Brasil se mantém como um dos principais destinos dos investimentos externos, que desde 2011 se situam em torno dos US$ 60 bilhões, e garantiu que "permanecerão" nesse nível nos próximos anos.

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