2 º Caderno de Debates 3º Acampa

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caderno de debates 2


CADERNO DE DEBATES RUMO AO 3ยบ ACAMPAMENTO NACIONAL DO LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE

NOSSA REBELDIA ร O POVO NO PODER! AGOSTO/ 2016


Acúmulo e desafios das pinturas do Levante Popular da Juvventude..4 Genocídio da Juventude Negra.....................................8 Sistematização - Terra para a Juventude..........................10 História, acumulos, desafios e organicidade do AGITPROP no Levante. .................................................................11

Acúmulos e Desafios do Levante Popular da Juventude no Teatro ..............................................................14 Música e Batucada do Levante Popular da Juventude...........17

Trabalho digno para a juventude..................................20 Os Desafios da Construção de uma Saúde Popular................21

Organizar a luta antirracista para popularizar o Levante...25 Brigada Popular Clementina de Jesus........................27 Nós e o internacionalismo..................................29


Acúmulo e Desafios das pinturas do Levante Popular da Juventude Coletivo Nacional de Agitprop

O Levante Popular da Juventude, desde sua origem no Rio Grande do Sul, desenvolveu como uma das formas de agitação e propaganda o muralismo, para explicitar nossas bandeiras. Os murais foram utilizados também como forma de trabalho de base, através das oficinas. Quem nunca viu esses rostinhos e essas letrinhas na hora que procurou um exemplo do nosso muralismo? Essa identidade tem como referência principalmente os murais argentinos. O Levante no Rio Grande do Sul, por estar próximo as/aos hermanas/os, participou desde o começo de atividades na Argentina onde aprendeu, para além da murga na batucada, os traços que nos originaram e até hoje são os que nos identifica nos muros. Esses dois murais abaixo são exemplos da Unidad Muralista Hermano Tello, da Argentina, ou seja essa identidade (dos traços redondos do rosto, das cores vermelha, preta, branca e cinza) representa os murais anarquistas . Esse é um elemento importante que temos como desafio: Como afinamos nossa identidade visual nos muros com nossa identidade política? Sem abrir mão do que construímos até agora e sem ignorar um fato igualmente importante: esses traços para o trabalho de base (oficinas) é muito bom!

Para continuar nossa reflexão vamos ver outros exemplos de murais latinoamericanos. No Chile, a Brigada Ramona Parra faz murais desde a ditadura militar como forma de oposição ao neoliberalismo que reina por lá. Os murais da BRP são bem característicos pelo formato do rosto e pelas cores vivas. Podemos observar também que os murais da BRP sempre misturam pessoas e o símbolo da paz, a pomba e as rosas, além da foice e do martelo comunistas. Os fundos dos murais geralmente são de uma única cor, sem paisagens.

Na Venezuela existem várias brigadas muralistas ligadas ao projeto bolivariano de Chávez e Maduro, como a Mision Cultura Corazon Adentro. Os murais da Corazon Adentro também são bem coloridos. Os rostos 4


são bem diferentes dos que vimos até então, não é? São levemente arredondados, mas expressam bem a característica indígena. Os elementos como o sol e os detalhes nas bordas também remetem à identidade indígena dos grafismos. Os murais são repletos de elementos, com pessoas, animais, flores e cenários, com casas e torres de petróleo (que simboliza uma luta histórica da Venezuela).

Outro exemplo de muralismo na Venezuela é do Coletivo Fuga Muralista. Os murais deles são característicos pelas cores e pelo rosto como figura principal, com o fundo abstrato.

No México os zapatistas fazem murais sobre a revolução, Chiapas está cheio deles! São bem coloridos, com detalhes, como os rostos com bandanas, que é característico do movimento e olhos grandes, bem indígenas.

Graffiti O Graffiti é outra técnica de desenho nas paredes (que ao invés da tinta com o rolo utiliza o spray) e é uma 5


das maiores formas de expressão artística das periferias, parte da cultura hip hop. A galera que faz o graffiti, as tags e os bombs tem muitos estilos, cores e traços diferentes. Artistas como o Inti, do Chile, retratam a identidade indígena.

Os Gêmeos são grafiteiros brasileiros reconhecidos pelas cores fortes e representar situações cotidianas.

O Café é um grafiteiro do Paraná que trabalha a identidade negra em seus desenhos.

Esse é o trabalho do Muleke, do Levante Popular da Juventude do Ceará. Seus trabalhos falam sobre o cotidiano das periferias, da juventude negra e do movimento.

O RudiStyle, do Levante do Paraná, trabalha com elementos da identidade das periferias e dos símbolos da luta brasileira. Os desafios na pintura do Levante? Os murais vêm cumprindo com o objetivo pedagógico de aproximar e desenvolver as capacidades artísticas das pessoas. Os murais pelo mundo sempre buscam trazer uma ideia de resistência, resgate dos povos originários, estudo, contradições, lutas... A prática, o planejamento e a preparação dos materiais são essenciais para uma boa execução da técnica. 6


Nós podemos juntar muralismo e graffiti? Sim, com certeza! Misturar as técnicas é muito bom e gera ótimos resultados. Podemos inclusive juntar estêncil e lambes nas artes do Levante. Para isso temos identificar potencialidades nas técnicas que orientem as pinturas. Outro desafio é debater nosso método de ação. Entre muitas coisas, temos que fazer o esforço de aliar ações legais e ilegais. Buscar permissão para usar os muros que a gente achar importante, aproveitar pra fazer desenhos mais trabalhados, com calma, podendo envolver mais gente, fazendo oficina, etc. E também fazer “ataques em território inimigo” com ações com menos gente, artes mais simples, e de forma mais dinâmica, o que permite a gente dar respostas mais ágeis as demandas da conjuntura. Aqui precisamos sistematizar método de preparação, planejamento, execução, avaliação de todas as ações. Pensando o desafio de que as pinturas tenham a linha política da nossa organização, e assim ter momentos de debate coletivo pra definir a mensagem. Além disso, Essas atividades possuem um custo fixo alto, para os materiais de pintura. Então temos que garantir uma estratégia de sustentação financeira das nossas atividades. Uma terceira questão a formação política e técnica da sobre muralismo e grafite. Garantir momentos de estudo e debate coletivo, observar outras experiências de grafite e muralismo na América Latina. Os coletivos de agitação e propaganda do Levante devem estudar traços de diferentes grupos muralistas e grafiteiros e praticar. Podemos definir que é importante, no desenho, ter o fundo com paisagem (periferias urbanas, matas e florestas, campos, universidades, escolas) feitas no graffiti e ter pessoas feitas no muralismo. Ou o contrário, ou nenhum dos dois. O importante é cada vez mais nos desafiarmos a experimentar e compartilhas os desenhos e as ideias. Outro grande desafio é construir uma identidade coletiva, própria do Levante, para a nossa pintura. Os traços, as letras, as cores, o estilo em geral, construído coletivamente a partir da nossa experiência prática, que vai sendo compartilhada. A ideia é que a gente consiga alcançar uma síntese das nossas experiências ao ponto de qualquer pessoa conseguir identificar quando a arte é do Levante. Estamos em um estágio muito inicial e precisamos ir pra ação, acumular com a prática. Nesse ponto, temos que ter uma identidade nacional e também respeitar a diferença dos traços das/os artistas. Precisamos nos desafiarmos a buscar outras referências além das carinhas redondas e as letras redondas (vermelha e preta). Estes desafios são os que passam pela profissionalização do movimento. Temos um dilema muito importante que é a relação da função pedagógica das pinturas, aliada ao desenvolvimento da técnica. Até agora isso tem aparecido como se uma coisa excluísse a outra. Por exemplo, em muitos lugares desenhamos as carinhas, que tem grande potencial pois são muito simples de fazer, o que facilita o aprendizado, e ajuda a fazermos oficinas, aproveitar a ferramenta pra fazer trabalho de base. Mas em muitos casos são esteticamente ruins. O desafio é conseguir desenvolver uma técnica melhor, mais bonita, sem perder a capacidade pedagógica da ferramenta, e sem tornar uma técnica restrita a artistas, especialistas, etc. O que não impede uma coisa muito importante, que é trazer artistas para contribuir com o movimento. Por fim, inventamos um conceito pra definir outro desafio: O desafio de “gigantizar” as intervenções do Levante. Até agora, nossa arte quase sempre é feita com desenhos pequenos, basicamente resultado das oficinas de stêncil em que fazemos as chapas com a arte pra pintar nas camisas. A partir de agora, temos que pensar em artes gigantes, stêncil gigante, murais e grafites em muros enormes, faixas gigantes pra jogar em viadutos gigantes. A nossa arte tem que ser vista por muitíssima gente, tem que aparecer e se destacar na paisagem. O planejamento da ação: 1- Objetivo da ação, para que? 2- Analisar a política de forma permanente, atenção as mudanças da conjuntura 3- Escolha da forma de ação 4- Preparar a ação: Informação (território inimigo); Tempo; Mensagem; Nível de enfrentamento (forma como as forças de repressão vão lidar com isso, avaliar todos os riscos); Preparar a segurança (tática); Comando; Ensaio da Ação; Formar um grupo de apoio; Plano B 5- Fazer a ação: Comando e Não improvisar 7


6- Depois da ação: Tirar foto na hora da ação; Comunicação/segurança; Avaliação Muralismo Como começar a praticar o Muralismo e o Graffiti? 1 - Fazer um esboço do desenho e identificar as cores que serão usadas. É importante lembrar que as pessoas devem ser representativas, com formas e cores que expressem a pluralidade do movimento. 2 - Materiais: Na hora de escolher os sprays, dê preferência para os que são próprios para graffiti. Eles NÃO são mais caros que sprays automotivos e o desenho fica bem melhor! Para muralismo com a tinta de parede branca (para exterior) e pigmentos (amarelo, azul, vermelho e preto) é possível fazer uma combinação de cores variadas. É importante ter pinceis de tamanhos variados, para preenchimento e contorno, e rolos de pintura para as partes maiores. A tinta é solúvel em tiner, não esquecer de colocar na lista. 3 – No grafite faça o esboço na parede com uma cor clara (como amarelo) e depois pinte. E no muralismo Faça o desenho na parede com giz de quadro antes da pintura. O contorno é sempre o último (principalmente a cor preta)! Links http://www.cubatv.cu/video/814fd82a274011e6b7a5005056010940/corazon-adentro-en-los-cerros-de-venezuela/ (espanhol) http://www.vtv.gob.ve/articulos/2016/04/25/mision-cultura-corazon-adentro-9-anos-mostrador-el-poder-creador-de-la-cultura-popular-7689.html (espanhol) http://colectivofugamurales.blogspot.com.br/ (espanhol) http://discursovisual.net/dvweb18/aportes/apohijar.htm (espanhol) https://activismolucha.wordpress.com/2015/01/23/otro-arte-callejero-el-muralismo-mexicano/ (espanhol) https://elblogdegiap.wordpress.com/dialogo-no1/ (espanhol) https://comandocreativo.wordpress.com/ (espanhol) http://nosabemosdisparar.blogspot.com.br/ (espanhol) http://pt.wikihow.com/Fazer-Grafite

Genocídio da Juventude Negra Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus

Falar de genocídio não é só trazer o genocídio físico. O sistema usa várias formas para exterminar o povo negro. E partindo do conceito do que é o genocídio, é o uso de medidas deliberadas e sistemáticas (como morte, injúria corporal ou mental, impossíveis condições de vida, prevenção de nascimentos) calculadas para extermínio de um grupo racial, político ou cultural, ou para destruir a língua, a religião ou a cultura de um grupo. O termo “genocídio” não é antigo, embora esteja acontecendo a muito tempo. Esse termo vem da II Guer8


ra Mundial e é designado para definir o que os nazistas fizeram com os judeus. E o que estavam fazendo com o povo negro não tinham palavras para definir, até começar a usarem esse termo. Posto o que é genocídio, partimos para as estratégias de genocídio brasileiro: Embranquecimento da raça, com o objetivo de fazer a raça negra deixar de existir na sociedade. Embranquecimento social, com o objetivo de destruir a cultura do povo negro. Dentro do primeiro fator, existe diversos mecanismos como o estupro das mulheres negras e indígenas, dando origem à miscigenação carregada de racismo. Pois destrói a identidade e construção da negritude, criando uma certa confusão sobre as origens do povo. As pessoas negras não se identificam como negras, justamente devido a esse fator. Existem ainda outras formas mais cruéis, como o extermínio físico. Lembrando que, o extermínio físico é parte do genocídio. É um grande problema para nós e temos que entender que isso se dá no racismo brasileiro. E devemos buscar soluções, sempre tendendo abarcar dentro de um contexto político, mas como matriz misturada. Já que, as pessoas negras não se identificam como negros e negras. No segundo fator, existem diversas formas que são usadas para apagar as pessoas negras e negar seu processo de existência, ou seja, busquem ser brancas por dentro e por fora. No Brasil, existe o processo de aculturação, ou seja, perda de suas raízes cultural, histórica e social. A história não nos coloca na história e isso é genocídio na base educacional e cultural (exemplo disso é a criminalização de terreiros e da capoeira). Esse fato da invisibilidade, nos leva a cair no valor do comum e isso pode ser feito de diversas formas através do sistema educacional, indústria cultural, sistema carcerário. Estimulando, assim, a assimilação do embranquecimento. Porém, temos diversas ferramentas de como combater esse problema. 1- Conscientização: A Lei 10.639, por exemplo, coloca o ensinamento da história da cultura negra nas escolas. Sendo, assim, uma forma de combater o9 genocídio dentro das escolas. Mas existe, outras formas de combater esse genocídio, através da capoeira, samba, debates, entre outros. Porém, para esse processo de conscientização, existem vários obstáculos, como a repressão e alienação. E isso exige que nossas ações, nesse processo de conscientização, sejam pacientes e pedagógicas. 2- Organização: Outro fator que temos como instrumento é a nossa organização, de onde vem as formas de resistência, que nos leva a reunir forças para combater o genocídio do povo negro. Porém, dentro de um campo político, pois a auto-organização é onde criaremos forças para irmos à luta. 3- Luta: O terceiro elemento é a luta. Vale lembrar que, o extermínio físico é precedido de diversos avisos, como a inferiorização (bandido, ser insignificante) para quando chegar ao extermínio físico, isso se tornar uma ação naturalizada. E reforçando o que foi dito antes, existem ferramentas poderosas de resistências, como a cultura popular que devemos nos inserir e usar dessa ferramenta. Pois abrange desde os ensinamentos na forma de agir, organização e luta política. E dentro desta ferramenta se encontra o samba, capoeira, hip hop, pacificação da quebrada, conscientização da galera. Mas antes de tudo é importante conhecer a manifestação artística e a cultura popular. A Lei 10.639, também é uma ferramenta poderosa, e foi elaborada como mecanismo de resistência do movimento negro. A semana da consciência negra, também vem como uma forma de resistência do povo negro. Além desses existem outros instrumentos que podem permear de forma prática o combate ao genocídio da juventude negra. “Enquanto houver resistência, não haverá derrota”

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SISTEMATIZAÇÃO – TERRA PARA A JUVENTUDE Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus

A luta pela terra é parte da história das lutas sociais do Brasil. Isso se deve à exploração de commodities agrícolas e implantação de latifúndios que está enraizada no desenvolvimento do país. Na maioria dos países do mundo, foi realizada a Reforma Agrária clássica, caracterizada pela distribuição de terra para os camponeses a fim de promover o desenvolvimento nacional, porém no Brasil, esse tipo de reforma agrária não aconteceu pois havia uma burguesia agrária que preferiu manter as relações de colônia de exportação com grandes produções agrícolas. A única tentativa de realizar uma Reforma Agrária, foi feita por Jango, na década de 60, mas antes mesmo do início da sua implantação, ocorreu um golpe militar no Brasil. Historicamente, o inimigo principal dos camponeses era o latifúndio improdutivo, porém nos últimos anos, esse inimigo vem mudando de atuação e tornando aquele latifúndio que não produzia nada, em grandes extensões de terra produtoras de commodities de exportação. Essa mudança de atuação coloca para os movimentos de luta pela terra a urgente necessidade de se pensar um programa que combata esse novo inimigo que é o agronegócio. Em seu último Congresso Nacional, realizado em 2014, o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) se debruçou na realização de um programa que combatesse esse novo inimigo e se resume em 5 pontos principais: 1- Distribuição de terra; 2- Produção dos alimentos saudáveis; Soberania alimentar e agroecologia; Estimular feiras nacionais/estaduais; 3- Defesa dos recursos naturais; 4- Mudança na matriz de produção; Produção agroecológica; Cooperação agrícola; 5- Acesso à educação e cultura Esse programa vai além da Reforma Agrária, mas coloca pontos que envolvem toda a sociedade brasileira. Por isso, a Reforma Agrária Popular não vai ser realizar somente com a luta dos sem-terra, mas há a necessidade da unidade dos movimentos do campo e da cidade nessa luta. E fazer um recorte da juventude do campo, traz desafios cada vez maiores na luta pela terra. Hoje, há cerca de 8 milhões de jovens no campo, mas que não possuem as condições mínimas para se manter. Uma das principais ações do agronegócio é a tentativa de expulsão do agricultor do campo e essas ações se acentuam para a juventude, pois se esta sai do campo, não há a renovação, conseguindo assim, chegar seu objetivo. Essa expulsão se dá das mais variadas formas, como a falta de acesso à educação básica, pois no campo o número de escolas são inferiores à demanda real e ainda com esse déficit, milhares de escolas do campo são fechadas anualmente. Outra forma dessa expulsão é a falta de cultura e lazer, onde se não houver uma própria organização da juventude para realização de eventos culturais e atividades de lazer, é ine10


xistente ações que as promovam, além do ataque direito do agronegócio com a inserção da ideologia da grande indústria cultural, fazendo com que a juventude não resgate os elementos da cultura local e perca sua identidade enquanto juventude camponesa. O trabalho também se torna um grande empecilho para a permanência da juventude no campo, pois além da ideologia de que o campo é atrasado, mesmo que o jovem queira permanecer e continuar a produzir na terra, não há políticas de assistência e nem programas de fomento que atendam a juventude. Diante disso, se faz necessária a organização da juventude camponesa para lutar pelo direito de permanecer no campo com qualidade de vida e traduzir os pontos da reforma agrária popular para a vida da juventude, a fim de que este também seja um programa da juventude camponesa. Porém, ainda há o desafio de como organizar essa juventude, a partir de uma dinâmica de vida que se diferencia muito da juventude da cidade. É necessário fortalecer os coletivos de juventude dos assentamentos e comunidades rurais para que esses possam contrapor a realidade que está apresentada e promover atividades de cultura e lazer e também fazendo um link como resgate da identidade camponesa. E para o Levante, temos a tarefa de fortalecer a nossa frente camponesa, para que possamos de fato encontrar esses pontos de convergência entre a juventude do campo e da cidade e refletir/ deliberar sobre a realização de atividades que promovam a interação entre essas duas juventudes, que por mais diferenças que venham a ter, possuem muitas semelhanças. Como exemplo dessas atividades temos: as semanas/ feiras agrárias nas cidades/ universidades; Curso popular da juventude; Jornada Universitária em apoio à Reforma Agrária (JURA); Escrachos denunciando agentes que produzem a alimentação envenenada; Brigadas de AgitProp; Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIV’s); Encontro da Juventude do Campo e da Cidade. Além de também refletir de como vamos dialogar com a juventude indígena e quilombola, que também sofrem com as mesmas contradições que toda a juventude brasileira. Quando o campo e a cidade se unir, a burguesia não vai resistir!

Histórico, Acúmulos, Desafios e Organicidade da Agitprop no Levante

Coletivo Nacional de Agitprop

Histórico Este texto foi formulado pelo coletivo nacional de agitprop com base em debates realizados durante 2015 e 2016 e tem o objetivo de colocar no papel o acúmulo que tivemos e nossos debates em torno da prática da agitação e propaganda dentro do Levante Popular da Juventude. Deve ser lido e debatido por toda a militância do Levante. E esperamos contribuições das células e militantes que tem construído esse movimento no dia a dia da vida da juventude. A agitação e propaganda está presente na prática do Levante já em seu surgimento, com o trabalho com música, teatro e grafitti no Rio Grande do Sul. Além disso, nascemos com a herança dos aprendizados da luta dos movimentos da Via Campesina. Nesse sentido, em 2008, participamos do primeiro curso de agitação e 11


propaganda organizado pela Via em São Paulo. O curso tinha o objetivo de resgatar os conceitos históricos de agitação e propaganda e potencializar essa ferramenta dentro dos movimentos que participaram. Com a nacionalização do Levante, a ação de agitprop passou a ser a nossa marca fundamental, principalmente a partir dos escrachos contra os torturadores da ditadura militar, que se tornaram uma importante forma de denúncia das injustiças no Brasil e deram a cara do nosso movimento. Ainda em 2012 realizamos o primeiro Curso Nacional de Agitação e Propaganda do Levante, em Brasília, com o objetivo de afinar a nossa concepção de agitprop e multiplicar o conteúdo, através de cursos locais, o que acabou ocorrendo apenas em dois estados por dificuldades de estrutura e organização. Com a consolidação do nosso movimento, algumas práticas foram se tornando fundamentais para nossa identidade. Entre essas práticas, a construção das batucadas tem sido a mais disseminada, e é hoje outra marca fundamental do nosso movimento. Em todas as manifestações é possível reconhecer o Levante pela batucada, as paródias, a animação, as danças, etc. Além disso, diversas ferramentas de agitprop foram colocadas em prática nos locais onde o Levante se organiza, como o muralismo, grafitte, estêncil, pixações, teatros de rua, teatro do oprimido, campanhas nas escolas, pelas redes sociais, com textos, vídeos, fotografias, e muitas outras formas. Já em 2014 fizemos um esforço de sistematizar a nossa experiência com agitprop. O resultado desse esforço foi o texto publicado na cartilha preparatória para o 2º acampamento nacional. Em 2015 tivemos três momentos importantes para refletir e sistematizar nossos acúmulos: o seminário da Brigada Carlos Marighella, o Seminário Nacional de Agitprop do Levante e o Seminário da Batucada do Levante. Esses momentos nos propiciaram uma série de debates que deram origem aos textos do caderno de debate sistematizados pelo Coletivo Nacional. Algumas ações e lutas foram fundmentais para o amadurecimento de nosso agitprop: primeiramente os escrachos, a campanha projeto popular para a educação, inserção no junho de 2013, atos Fora Globo, trancamento de BR contra a redução da maioridade penal, Nós por Nós, escrachos ao Cunha, Temer, e outros golpistas e os CONUNEs, e Acampas Nacional. Também tivemos duas experiências em Brigada de Agitprop importantes para nosso acúmulo. A primeira organizada em 2015 pela Alba na Venezuela: Bravo Pueblo. Outra em 2016 quando participamos da brigada de agitprop Carlos Marighella em Brasília durante a votação do golpe no Congresso e Senado. Agora esperamos dar mais um salto de qualidade na nossa ação de agitprop, com a construção do 3º Acampamento Nacional. Acúmulo: o que é agitprop para o Levante? O termo agitação e propaganda tem origem na luta dos revolucionários russos. O conceito, descrito por Lênin, tem um significado muito simples: Agitação seria uma forma de passar uma mensagem ou poucas mensagens para muita gente; e Propaganda seria passar muitas informações para um número mais reduzido de pessoas, aprofundando a consciência revolucionária. O termo que une as duas palavras: AGITPROP representa uma conclusão importante, uma parte não pode existir sem a outra, devem ser trabalhadas articuladas! A agitprop tem o objetivo de denúnciar as injustiças que o povo vive, além de anunciar as propostas de mudança, convocando o povo a se organizar para a luta. Ela eleva o nível de consciência, ânimo e a moral do povo. Por isso, o critério da agitprop é a VERDADE. Sempre estará presente em nossas ações de agitprop o interesse em expor a verdade ao povo e nesse sentido: formar e educar. É por isso que a direita não faz agitprop, pois ela busca deseducar e alienar. Outra questão é entender que em nossa história ações de agitprop são realizadas de forma sistemática inicialmente com os partidos comunistas na Alemanha e Rússia, em nosso leito histórico realizamos um resgate deste processo. Porém, existiram diversas revoltas populares na história do Brasil que necessitaram de ações de propaganda e ações de agitação e devemos retomar para pensarmos a história de luta e resistência do nosso povo e os acúmulos vivenciados pela nossa ancestralidade. Observem que esse conceito não limita as ações de agitprop ao uso da arte na política. Em nossa concepção ações diversas podem ter caráter de agitprop. Existem uma infinidade de formas de se fazer agitprop. Vale muito a criatividade e a organização da militância. Mas o que é fundamental é dar conta de responder as demandas da conjuntura em que se vive. Para isso, entendemos que essa ferramenta está sempre subme12


tida à estratégia política do movimento. As formas, as táticas, as palavras de ordem devem estar orientadas por um processo consciente de análise da realidade e de construção de um projeto revolucionário. Temos realizado a agitação e propaganda em três terrenos bastante distintos. Por um lado, para atacar o inimigo, para denunciar e desmoralizar, enfraquecer os dominadores do povo. Os escrachos tem sido o principal exemplo dessa forma. Por outro, temos o território aliado onde queremos nos fortalecer, avançar no trabalho de base e diálogo com a juventude e o povo trabalhador. Para nós, a agitprop tem papel fundamental na massificação do nosso movimento, no enraizamento do Levante e fortalecimento da nossa capacidade de luta. Lá podemos organizar peças teatrais e muralismos. O terceiro espaço é o campo aberto que não possuem objetivo organizativo e não são identificados com algum inimigo. Encontramos uma circulação de pessoas como paradas de ônibus, shoppings, avenidas onde, por exemplo, colamos lambes. Nossas ações devem sempre ser coerentes aos territórios que vamos e com nossos objetivos. Além disso, a prática da agitprop tem o potencial de formar a militância para a luta social. A preparação e execução das ações implica um processo de organização, estudo, planejamento, que educa a juventude em outro modo de se relacionar, de forma coletiva, com disciplina, coragem e desprendimento para lutar pela vida do povo. Consideramos a agitprop uma ferramenta fundamental, pois tem a condição de formar a consciência da juventude e do povo, desde os territórios onde o Levante se organiza até toda a sociedade na necessidade de se lutar por uma mudança radical no nosso país. Ela é a forma com que pretendemos anunciar o Projeto Popular como alternativa para o povo brasileiro. Desafios 1- Temos o desafio de inovar. Existem muitas possibilidades para serem descobertas e não podemos nunca nos acomodar no que já realizamos. 2- “Gigantizar” a agitprop. Construir formas de agitprop com grande alcance, com capacidade de atingir milhões. E realizar ações de agitprop coesas em diversas frentes, pensando ações que funcionem como uma campanha ampla de agitprop. 3- Avançar nas formas e no conteúdo da Propaganda, sistematizando nossas experiências (ex: Brasil de Fato); 4- Avançar no nosso método de agitprop. Refletindo formas de sustentação financeira da militância. E avançando em acumular nas formas estéticas e construções coletivas. 5- Acompanhar e estimular os artistas do Levante. Buscando formas de atrelar a produção artística com as células e tarefas do movimento. 6- Sistematizar e produzir métodos para o cuidado com segurança; 7- Criar um banco de dados de toda a nossa produção para potencializar a socialização e nacionalização para a militância. (Usar ferramentas da internet) 8- Fortalecer por meio do agitprop a articulação do Levante com movimentos culturais e trabalhadores da arte. 9- Além do processo com toda a militância inserida no agitprop necessitamos construir uma experiência de especialização e profissionalização nas técnicas, ações cotidianas e planejamento. 10- Fortalecer a relação com a comunicação para que as ações de agitprop alcancem mais pessoas e também possam ser pensadas exclusivamente para a internet. 11- Construir a relação direta entre os coletivos estaduais e o nacional. Conseguindo realizar acompanhamentos, trocar ideias de ações, acúmulos e formações. Realização de brigadas, cursos e seminários estaduais e nacionais. 12- Conseguir superar a barreira imposta para a juventude que é negada da prossibilidade criativa. Devemos avançar na produção de músicas, textos, poesias... Agitprop e a organização do Levante A agitprop deve ser construída em todos os espaços do Levante. Desde as ações locais, organizadas pelas células, até as ações de massa, em que concentra a militância de todas as células. Compreendemos a mili13


tância do levante deve ser agitadora, propagandista e também organizadora. Todas as células e coordenações devem participar. Obviamente, que existem algumas ações que devem ser construídas por pequenos grupos, mais ágeis, profissionalizados. Assim a agitprop não pode ser exclusividade de uma célula ou coletivo. Com esse cuidado estimulamos a militância a pensar como a agitprop pode ser algo cotidiano nas células. Uma célula pode se especializar em determinada técnica ou sempre variar. Existem experiências de células que desenvolvem trabalho teatral como método de organização, por exemplo. Também podemos pensar em células que realizam musicas e vídeos com coreografias. Existem muitas possibilidades que tem grande potencial organizativo e de acumulo técnico. Porém, essas experiências devem garantir que nenhuma ferramenta de agitprop se torne exclusividade de alguma célula. Também já observamos que é necessária a constituição de coletivos nacionais, estaduais e municipais de agitprop com militantes especializados nas diversas técnicas que usamos no agitprop. Com a tarefa de planejar e coordenar as atividades gerais de agitprop, sistematizar e socializar experiências, formular e acompanhar a formação de toda a militância e propor ações de agitprop para as instancias Acúmulos e Desafios do Levante Popular da Juventude no Teatro

Coletivo Nacional de Agitprop

Fazer arte é uma capacidade humana, da mesma forma que necessitamos trabalhar e nos expressar. Mas, a classe dominante retira do povo essa possibilidade. Assim, nos convencem que apenas alguns iluminados podem produzir arte, estamos destinados a receber e reproduzir. Não podemos aceitar isso! Por mais que sejamos tímidos, por mais que tudo isso possa ser muito novo, por mais que tenhamos dificuldades e que nem tudo saia perfeito. Para o Levante, fazer arte é um ato de rebeldia. A cada vez que ousamos compor uma canção, pintar, escrever, atuar... Estamos derrotando um sistema segregador e alienante. Devemos assumir que não somos esses profissionais e esquecer o ‘padrão de qualidade Globo’. Após o golpe com a criação da Rede Globo e o fechamento dos Centros Populares de Cultura. O povo passou a ver a arte apenas como novelas e filmes, e que somente artistas da TV poderiam produzir arte. Antes do golpe militar, o Centro Popular de Cultura da UNE teve um importante papel na difusão de uma arte com debate político e diálogo das contradições do sistema com o povo. Antes dele o Teatro de Arena buscava refletir sobre a forma e conteúdo teatral, com influencia do teatro épico desenvolvido como forma de resistência na URSS. As experiências de apresentações foram mostrando que era necessária uma maior participação popular na criação e encenação das peças. O teatro do oprimido vem como uma contraposição a esta forma de fazer política e o pensar sobre a agitação e propaganda. Com o fim da ditadura militar, a agitação e propaganda foi sendo retomada aos poucos, principalmente pelo MST, assim como a importância do teatro como arma na luta de classes. Em contraponto a uma lógica individualista onde cada um faz sua arte, ou uma visão assistencialista que ganhou força nos anos 90 pelas ongs. O Levante nasce com esse leito histórico onde o teatro tem sua importância na luta e experimenta de diversas maneiras o teatro. Inicialmente a reprodução de cenas de tortura nos escrachos o que depois se torna 14


uma prática de levar intervenções cênicas para atos. Com muita relação aos momentos de mística dentro do movimento. Porém temos poucas sistematizações sobre o nosso teatro. Já é uma identidade do movimento, mas precisamos nos aprofundar no debate. Acúmulos Para pensar nossas ações de agitprop com o teatro temos que ter em mente 5 questões: 1. Qual mensagem queremos passar? 2. Para quem queremos passar essa mensagem? 3. Quais são os nossos argumentos? 4. Que ações e ferramentas podem ser usadas para transmitir essa mensagem e com quais técnicas? 5. Qual a consequência dessa ação e que medidas de segurança devo tomar? O que não pode faltar? Criatividade e ousadia! As técnicas são importantes, mas elas não podem nos engessar! Temos que ser capazes de produzir nossa arte para expressar nossas ideais, e para isso não há manual nem mestre. Na dúvida simplifique, o importante é passar a mensagem. Mas quando possível, se isso não foi complicar tanto que impeça a ação, é sempre bom atrelar várias ferramentas como uma campanha de agitprop e pensar no começo, meio e fim. O fundamental é produzir encenações que transmitam a mensagem que queremos e tenha os objetivos esperados. E para isso, não podemos esquecer que toda encenação deve ter uma sequencia (temporal ou não) que conduza quem assiste para a ideia que queremos passar. Focar em uma mensagem pode ajudar a garantir isso. Como somos um movimento social cheio de lutas e com muita vontade de dialogar com o povo. É sempre bom fazer cenas facilmente adaptáveis para qualquer local e estrutura, muitas vezes o formato de roda é a melhor opção. Outra dica é produzir cenas curtas, pois dificilmente teremos uma plateia com tempo para nos assistir por mais de 10 minutos. Mas também devemos nos desafiar produzindo peças completas. Outra preocupação é ser ouvido e ser visto. Não adianta meses ensaiando se na hora de apresentar ninguém irá lhe escutar ou ver o que você está fazendo. Por isso, temos que fazer preparações vocais; nos preocupar com os locais das apresentações; garantir que a voz seja forte o suficiente para ser ouvida principalmente a céu aberto (treinar técnicas), ou usar microfone (o que nem sempre é possível) ou fazer cenas sem falas. Já para ser visto é necessário uma noção espacial, do local onde estamos e de quem está ao nosso redor. Nos ensaios, além de exercícios que busquem esses desenvolvimentos, sempre é bom preparar a galera para as improvisações. E sempre que possível combinar com todos que são do Levante e em especial com o coletivo de comunicação, como se posicionar no momento da intervenção e quando gritar ou silenciar. Maquiagem e figurino podem ajudar muito! Usando alguns símbolos podem facilitar a identificação dos personagens e dando uma força para os atores. Atraindo a atenção e sendo elemento de transmissão de mensagem. Mas temos que tomar cuidado para não ser exagerar no óbvio, é necessário criatividade e ironia. Por isso, os municípios devem investir em criar um armário do Levante com nossos figurinos. Muitas vezes alguns textos que já foram produzidos podem nos ajudar a transmitir nossa mensagem. Pesquise! Só não deixe de produzir as próprias encenações, uma boa pedida é usar o humor em nossos textos. Buscar quebras e ironias. A plateia gosta de pensar e se mastigamos demais a cena pode se tornar obvia e monótona. Mas o que garante um bom texto é a verdade, ninguém melhor do que nós mesmos para escrever o que vivenciamos. Muitas vezes jogos e exercícios teatrais vão ajudando o grupo a montar uma produção coletiva. Sendo necessário relatar, para não esquecer. De qualquer forma, no teatro, sempre é melhor fazer/mostrar do que falar. Mas nunca deixe de montar um roteiro com o que será apresentado, colocando todos os detalhes possíveis. Isso ajudará a não esquecer os figurinos, objetos da cena e qual a mensagem do texto. Mas não é necessário se prender em decorar a fala e sim a mensagem. Desafios Com base em nossa prática, observamos que temos muitos pontos para avançar, nesse sentido elencamos seis desafios: 1 - Massificação: Hoje este é o desafio do Levante e o teatro pode ser uma ferramenta organizativa e criadora de referencia: 15


A) Temos exemplos tanto na URSS como na Alemanha (blusa azul e cena livre popular), onde existiam muitos grupos teatrais que dialogavam com milhares de pessoas e em muitos lugares organizados nos locais de trabalho e moradia. B) O CPC teve a experiência da UNE volante e de levar o teatro pelo Brasil, com muita aceitação e iniciava um processo de expansão dos CPC pelo país até o golpe militar. C) O MST também viveu a experiência de multiplicar vários grupos de teatro em seus territórios no período da parceria com Augusto Boal. Observava a capacidade de formação de militantes que o teatro possuí. D) O teatro pode ser ferramenta de mobilização e massificação. Em quase qualquer lugar que vamos: igrejas, escolas, periferias... Existem grupos de teatros espalhados. Pois a juventude / povo quer fazer arte e também teatro, mas o sistema capitalista nos retira esse direito. 2 - Como utilizar as técnicas teatrais em nosso movimento, colaborando na massificação? A) Toda e todo militante do Levante deve ser um agitador e propagandistas, sendo assim todo o movimento deve usar as técnicas necessárias para as ações de agitação e propaganda. B) As técnicas teatrais, em especial do Teatro do Oprimido, deve estar presentes no cotidiano da células. Seja pontualmente para um aquecimento corporal. Ou para debater um assunto e fazer formação. Ou então para sair da célula e apresentar no local de trabalho de base. C) Ao mesmo tempo, temos que desenvolver grupos mais especializados na técnica teatral para ter a capacidade de dar respostas rápidas e com qualidade técnica elevada. Lembrando-se da importância de ser referencia estética ao povo. É um grande desafio, pois a produção teatral carece de encontros periódicos e disciplina para um bom andamento das cenas. Assim, um dos maiores desafios é conseguir inserir na estrutura organizativa do Levante meios para avançar na em nossa capacidade técnica e estética! D) A massificação não é apenas a quantidade de grupos, mas a capacidade de atingir muitas pessoas e criar referência em bairros e cidades. E com isso temos que estar junto ao coletivo de comunicação pensando vídeos para a internet, por exemplo. 3 - Socialização dos meios de produção artísticos: A) Durante as experiências de massificação de grupos teatrais na URSS e Alemanha, existiu questionamento sobre a capacidade técnica dos grupos que surgiam. B) Essa questão ainda se faz presente. Nosso objetivo é conseguir que a ação teatral viva presente nas células do movimento, como método de trabalho de base. Mas também, queremos o aprofundamento técnico e estético para termos capacidade de ser referencia para o povo também pela arte. Esses elementos não são antagônicos e devem ser construídos juntos. C) É importante criar referência estética para o povo, sermos identificados pela nossa arte (com qualidade). 4- Relação artista x militante, três esferas: A) Mesmo que um artista não esteja organizado na estrutura do Levante, é importante manter contato e parcerias que sejam capazes de montar cenas, oficinas, debates, etc. criando uma relação de troca com companheirismo e solidariedade. B) Por outro lado temos artistas que são militantes e devemos incentivar isso, dando espaço dentro do movimento para a produção artística e pensando como isso se relaciona a sua tarefa. E entendendo um processo histórico desvalorização do artista, como se a arte não fosse um trabalho ou uma atividade. Artista tem necessidades financeiras e devemos ter cuidado com essa questão. C) Por fim, temos militantes que se tornaram artistas dentro do movimento (músicos, grafiteiros, fotógrafas, atrizes...) e isso é maravilhoso, pois estamos conseguindo pensar projeto de vida pra juventude. Devemos potencializar isso, pensando em um desenvolvimento financeiro também. 5- A Forma: A) As referências teatrais para a juventude do Levante são: # As cenas de místicas ou intervenções no ato onde a maioria das vezes o inimigo está identificado com um símbolo ou cartaz e o problema é resolvido, milagrosamente, com a chegada de bandeiras e dos militantes no final da cena. 16


# O estilo drama presente nas novelas e filmes onde a maioria das histórias possui um herói e uma antagonista. O encontro desses personagens é o clímax, que precede o encerramento da cena. Começo, meio e fim. B) A forma é importante para dialogarmos com a vida e o cotidiano do povo. O que ensina o estilo “drama” que é uma invenção da burguesia onde encontramos “felizes para sempre no final”? Devemos esperar até o fim, pois algo vai acontecer, milagrosamente, e tudo dará certo. Existe uma pessoa específica que atrapalha as coisas e não um sistema de relações. Tudo ocorre cada vez mais rápido e não temos como pensar muito sobre os fatos. C) O teatro épico é uma forma crítica sobre a forma dramática e tradicional de construção teatral. São utilizados coros com muitas pessoas, não existem somente alguns personagens principais, não tem necessariamente um começo/meio/fim, utilização de ironias e reflexões, uso de coros. O fim da cena não levava necessariamente a um final feliz, o fim poderia ser uma reflexão para os trabalhadores. D) É necessário refletir sobre as formas teatrais existentes e pensar o que e como estamos fazendo teatro para aos poucos ir encontrando a nossa forma. 6- Nossas origens teatrais: A) As experiências na URSS, Alemanha, do Teatro épico e do Teatro do Oprimido são o leito histórico do nosso movimento, pois aprendemos esse acumulo com o MST. B) Contudo queremos avançar no conhecimento sobre muitos processos de resistência e luta no teatro brasileiro, latino e mundial. Foram criadas muitas formas de dialogar e passar a mensagem para o povo. Mas como se deram estas formas em nossa história? C) No Brasil apontamos algumas experiências que queremos sistematizar e refletir para dentro do Levante: O teatro Negro, o Teatro de Rua, experiências circenses, mamulengos, bumba meu boi, teatro popular e armorial. Temos um desafio de sistematizar nossa produção teatral protagonizada pelo povo em luta. Estamos em busca de nossa estética teatral e de levar essa possibilidade para a juventude brasileira. Buscamos a relação com o povo, suas cores e seus jeitos. Assim, além de Agitprop, esse é um exercício de mística e alegria, pois o que produzimos deve ser expressão de nossos valores e identidade. Quando o levante produz arte, esse é um ato de rebeldia, pois o povo no teatro é o povo no poder. Música e Batucada do Levante Popular da Juventude

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OS SONS E A POLÍTICA A música, de forma sintética, é a organização do som e do silêncio. Quem tem capacidade de organizar é quem trabalha, portanto, o ser humano (diferente do som dos pássaros por exemplo). 1- O som é constituído de várias características e não temos como parar a recepção nos ouvidos, frear re17


cepções, sensações – podem tranquilizar ou torturar. O som ocupa os espaços, podem provocar sinestesias e remeter a outros aspectos. O som pode se constituir como ação política, como nos panelaços, garantindo a mensagem política de desacordo. Podemos inviabilizar uma ação inimiga com o som, apitando muito em um pequeno espaço para esvazia-lo, por exemplo. 2 - O som também pode ser usado na construção de códigos, como de segurança, de ação orientada. 3- O som associado à palavra A Burguesia criou processos sonoros que hoje monopolizam a formação do som em palavras: A “canção”, como a única forma disponível hoje. A palavra diz uma coisa e a música pode reforçar ou se opor. Quando o som esta associado à palavra o sentido é atribuído à palavra, e não ao som. Exemplo: música com arranjo ruim não necessariamente tem letra ruim, é a associação que estabelecemos. A Indústria cultural produz músicas padronizadas com base em uma mesma sequência harmônica, onde só a letra muda. Gera um “processo de identificação, como se a música fosse sua”. Processo de criação mecânico, padronizado, reprodução do trabalho pós trabalho (repetição). O sentido pode também ir para a dança, ainda que com uma letra politizada (exemplo do Bom Xibom, d’As Meninas). Hanns Eisler (1898), alemão, conhecido como “Marx da música”, no processo de desconstrução dos padrões da música ocidental, estuda com Schoenberg. Participa dos corais de sindicatos, se opondo à escola de música. Constrói musicas ideológicas, de combate à ordem, de enfrentamento. Em um momento de acirramento da luta de classes, música pode incentivar o povo a ir para a luta. Onde encontrar a qualidade estética? Na técnica! Encontrar uma nova essência da produção musical . Será necessário seguir experimentando e dando um passo para além da pura utilização de melodias de hits de sucesso. Origem da Batucada Em 2006 o Levante no Rio Grande do Sul já possuía relação com movimentos da América Latina nos encontros de juventude da Via Campesina na argentina e observaram que a murga, forma de organizar a bateria que os grupos de argentina faziam, poderia servir de modelo. A partir disto nós trocamos experiências com os argentinos e passamos a organizar nossa bateria. No início começamos a reproduzir da nossa maneira e fomos adaptando com nossos instrumentos. O surdo, por exemplo, é o primeiro instrumento. Esses instrumentos são conhecidos pela nossa juventude a partir do Samba que é referência nacional. Começamos a fazer teatro de rua usando o surdo na chegada para chamar a atenção na rua. Também percebemos que as músicas do teatro de rua são mais complexas, e assim devemos entender bem qual a função para cada forma musical. As músicas de torcidas na argentina são outra referência para pensar os versos, pois tem rapidamente um refrão que contagia quem escuta que passa a cantar junto. As musicas são feitas de modo instantâneas. O Funk surge com James Brown nos EUA e vem para o Brasil. Assim como o RAP, é apropriado pela indústria fonográfica (assim com o samba) e surgem ramos como o funk ostentação. Isto não exclui a força estética do Funk e a possibilidade de produzirmos canções. Esta origem da batucada do levante pode ser sistematizada como: Surdo, Samba, Funk que foi colocado junto com bombas azuis e latas. Assim como temos uma estrutura organizativa nacional básica. Estamos buscando consolidar uma identidade nacional, que dialogue com a cultura local. Nesse sentido coesionamos chamar de Batucada do Levante em todo o Brasil. Adiconando o nome de símbolos de nossa luta. Ex: Batucada do Levante: Che Guevara. O termo batucada é referência a uma forma de resistência popular no samba e busca expressar a forma alegre e aberta de nossa bateria. Formas e métodos A Bateria de escola de samba é uma realidade cultural que usamos como referência para organização de 18


nossa batucada. Nossa estrutura básica: Surdo, Repique, Caixa (3 primeiras são básicas), tamborim, agogô, ganzá. A escola de samba tem cordas e cuíca e nós não temos ainda esse acúmulo. Se houver pandeiro, deve-se tentar microfonar. A estrutura de escola de samba nós adaptamos com quem nos temos e com os instrumentos que temos. Um modelo seria: Bateria/Ritmistas; Diretores de bateria (para cada instrumento); Mestre de bateria (coordena toda a bateria); Puxadores (cantam a música). As vezes nós só temos puxadores e não organizamos e ensaiamos os ritmistas nem os diretores e mestres. Os mestres devem ter apitos, e fazer sinais e gestos para que toda a bateria entenda o que esta sendo feito. Nós devemos adicionar instrumentos de sopro entre outros e támbem podemos pensar estruturas a partir da realidade dos estados e regiões. Podemos organizar a partir do Maracatu, por exemplo, com alfaia e chequerê. É necessário que os estados com essas experiências sistematizem e compatilhem. O método usado é na luta de rua. Por isso temos que ter preocupações como: esparadrapo, água para os ritmistas e puxadores; descanso; não cantar toda hora. Não podemos entender nossa bateria como uma “duracel”. Devemos sempre relacionar nossa batucada com o contexto da luta, com o carro de som e com nossa fala. Com o ambiente da luta e terreno (se acabamos de subir uma ladeira ou vamos passar por baixo do viaduto, por locais simbólicos e etc.). E temos que nos preparar antes e planejar. Por exemplo, podemos organizar um recuo (começar no inicío da ato perto da faixa e depois ir para o final para animar todo o ato). É importante priorizar ferramentas para a projeção da voz: pipoqueira, megafone, cancioneiro, musicas curtas, ficar no carro de som. A PARÓDIA Para a produção de nossas parodias devemos observar a música, a métrica e a melodia e construímos coletivamente. A paródia tem uma potencialidade. As pessoas reconhecem o ritmo de maneira instantânea, se comunicando com quem é de fora dos movimentos organizados. Também serve para facilitar a reprodução pelo país e nas batucadas, pois é mais fácil aprender músicas que são da indústria cultural. Porem, existem problemas ao reproduzir a estética musical dos nossos inimigos e manter a ideologia hegemônica. Nesse sentido temos que avançar na construção de músicas próprias sem deixar de fazer paródias. A paródia é mais simples, mas não podemos nos limitar a elas. E temos que, assim como pensamos no muralismo, pensar em algo mais complexo como a produção de nossas melodias e músicas. Também temos que nos desafiar sobre a relação entre o ritmo e dança com a letra. Pois alguns temas e mensagens não se encaixam com todos os ritmos. Muitas vezes a dança que realizamos é construída pela indústria e em alguns momentos não refletimos sobre ela. Além disso, as coreografias ajudam a transmitir mensagens, alegrad e animar os atos. A cultura popular foi apropriada pela indústria cultural e podemos e devemos nos reapropriar usando a paródia, inclusive que serve como sátira. Essa cultura popular foi apropriada, mas limitando a diversidade e a tradição realizando uma padronização, acabando com a identidade. Temos que ter formação musical sobre como produzir musica. Nós temos pouquíssimas músicas próprias, independente do ritmo que usamos. Temos que conhecer as músicas do povo brasileiro e cantar no nosso movimento como resistência. Nem sempre temos que fazer a paródia de músicas com letras que nos contemplem, e podemos ver isso em todos ritmos. Alguns ritmos nos não conseguimos desenvolver mas temos que usar para aproximar a juventude de diversos estilos musicais. Ensaios regulares ou pontuais. Começamos pelos ensaios pontuais que ocorrem em geral antes do ato. Os ensaios regulares fazem nossa batucada ser mais profissional e devemos buscar esse objetivo. Mas, com a preocupação de não criar uma organização paralela ao movimento. Nossas batucadas devem sempre ter a identidade do Levante. O que não impede de criar simbologia própria. Preocupação com a propaganda e a formação política na bateria, que pode ajudar na nossa produção própria. Nossas músicas também tem o objetivo da mística e de referência para nossa juventude. Entrar em contato com a arte e com a música, diversas vezes, trás reações diversas em cada momento. Nossa produ19


ção musical pode não chegar em todos no primeiro momento, como uma paródia, mas nossa propaganda deve ser colocada repetidamente para apreensão em um processo continuado. Propaganda Geralmente priorizamos a agitação no Levante. Nós temos que nos ver como propagandistas, com condições de complexificar análises e formular proposições mais densas para serem transformadas em processos agitativos. Hoje, o levante têm muita preocupação com agitação e pouca com propaganda. A música de propaganda perdura no tempo, não se resume a uma conjuntura, tem tempo de vida maior que uma música de agitação, que é tática. Falar em música própria é falar também em propaganda, porque precisamos expressar nossos valores e nossos princípios. Demora mais para ser elaborada, é mais sofisticada por articular mais esferas. Nosso funk “A crise” é um exemplo de música propagandística mas é trabalhada hoje como agitação. Precisamos propagar mais ideias dentro da nossa organização para que militantes das células comecem a fazer mais processos de síntese agitativos (para se formarem). Estamos em processo de massificação e precisamos estruturar nosso crescimento, para formar os sujeitos que vão fazer a nova agitação do Levante. Devemos nos preocupar em fazer propaganda interna para dentro do Levante, propaganda externa para o resto da esquerda e para a sociedade como um todo. Objetivos da música no Levante Por fim, algumas funções que a musica do levante tem e pode ter: - elevar a moral (animar a militância); - formativo; - organizativo. AgitProp também é uma ferramenta de trabalho de base. por exemplo, as pessoas podem entrar no Levante pela bateria; - segurança das ações; - Empoderar a juventude através do processo de agitprop; - Propagandear ideias cada vez mais complexas para o todo da organização; - criar relações com outros coletivos de música; - Método de comunicação de massa. Transmissão de mensagens; - nova cultura política; - Temos capacidade de liderar, criar resistência em alguns atos; - A agitprop nos dá a possibilidade de disputar destino das lutas e demonstrar responsabilidade e comprometimento com a luta. Trabalho Digno para a Juventude Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus

Diagnóstico: - Nossa juventude é a classe trabalhadora em formação; - A juventude tem ingressado cada vez mais cedo no mundo do trabalho, seja logo no ensino médio, via 20


programas de aprendizagem, seja logo após, nas profissões; - Pela própria condição do ser jovem, ocupam os piores postos, com salários mais baixos, precarizados, subempregos, muitos postos informais; - No recorte LGBT a informalidade é ainda maior; - Pela condição de imediatismo do capital, o jovem é transitório nos seus postos de trabalho, a falta de perspectiva de profissão também torna a escolha do curso superior ou profissionalizante bem rotativo; - No geral, a juventude não trabalha no que quer. Boa parte dos jovens está ligado a cultura, mas não consegue retirar daí sua subsistência. Propomos: - Regulamentação de certas profissões; - Melhores salários; - Carteira assinada; - Concurso público; - Contra a retirada dos direitos trabalhistas, terceirizações e reforma da previdência; - Emprego digno para a juventude; - Formação profissional ampla, que nos instrumentaliza (?) dos processos produtivos. Fazer: - Estimular a sindicalização da juventude; - Pensar essa transição da juventude para vida de adulto do ponto de vista organizacional; - Lutas das categorias e pautas trabalhistas; - Retomada do debate do profissional que queremos formar para transformação (debate das executivas). Os Desafios da Construção de uma Saúde Popular Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus

Lá no tempo em que nasci, Logo aprendi algo assim: Cuidar do outro é cuidar de mim, Cuidar de mim é cuidar do outro, Cuidar do outro é cuidar de mim, Cuidar de mim é cuidar do mundo. (Johnson Soares, Júnio Santos, Ray Lima) Comprometer-se com a saúde do povo brasileiro não é tarefa fácil! Somos parte de um povo constituído historicamente pela exploração, pela colonização, pela escravização do trabalho, pelo genocídio e extermínio de nossos ancestrais negras/os e indígenas. A mesma violência de 21


outrora, ainda que com novas roupagens, permanece sugando almas e vidas no injusto e desigual sistema capitalista dependente do Brasil. Considerando este contexto maior, o que significa ter acesso à saúde? À despeito da dicotomia estabelecida pela mídia e educação burguesas, que separa a saúde dos processos de vida, trabalho, política e cultura da classe trabalhadora, restringindo-a aos postos de saúde, UPA’s e Hospitais, a nós militantes a realidade demanda uma compreensão mais profunda. Precisamos entender que vivemos em um Sistema que impõe um modelo de vida adoecedor. Não temos direito e nem tempo de (re)conhecer o nosso corpo. Ser saudável, neste contexto, passa por seguir uma lista de regras aprisionadoras e impossíveis, de modo que a culpa do adoecimento recaia sempre sobre o indivíduo. Somos submetidas/os a uma lógica cruel que equipara o corpo saudável ao corpo magro, e que submete a concepção dos processos de enfermidade e cura aos interesses da Indústria Farmacêutica. Tudo isso recai de forma ainda mais abusiva e opressora na vida da nossa juventude, que é ameaçada diariamente. E é por isso que o Levante Popular da Juventude precisa começar a se fazer algumas perguntas, tais como: O que é Saúde? O que é cuidado? Medicar os sintomas basta? O que o nosso modelo de sociedade e vida nos revela e tem para a nossa saúde? É satisfatório? É essa saúde que queremos? É essa saúde que o nosso povo merece? Um pouco de Conjuntura Nos anos 70, no contexto de luta contra a ditadura militar, surge no Brasil o Movimento da Reforma Sanitária (MRS). Esse nome, tão presente no discurso dos lutadores e lutadoras da Saúde desde então, na verdade sintetiza um conjunto de ideias e uma bandeira que unificou os militantes da saúde da época. Isto porque o MRS conseguiu aglutinar e sistematizar o que chamamos de conceito ampliado de saúde, isto é, a concepção de que a verdadeira saúde só é possível se houver renda, terra, moradia, saneamento básico, lazer, energia, alimentação de boa qualidade, comunicação, trabalho digno, uma excelente educação e assistência de saúde para todos e todas. Ou seja, a Reforma Sanitária incluía a Reforma Agrária, Urbana, Energética, Tributária, Política, entre outras, e, se extrapolarmos um pouco a análise para as formulações do nosso campo, perceberemos que a proposta muito se parece com a primeira fase da revolução socialista de qualquer país dependente da América Latina: O Projeto Popular. Mas o Movimento da Reforma Sanitária não se restringiu ao plano das ideias. Ele aglutinou forças populares, estudantes e profissionais de saúde, gestores, sindicatos, entre outros sujeitos, e através de muita luta e mobilização, nos anos 80 o povo conquistou a maior política social de nossa história e um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo: o SUS. Se a proposta do MRS ia muito além de simplesmente ter um Sistema Público e Universal de Saúde, tampouco podemos menosprezar o que significa conquistá-lo de fato e dar o primeiro grande passo em direção a uma saúde ampliada, interdisciplinar e popular para todas e todos. Nos últimos 30 anos, no entanto, o Movimento seguiu a tática do restante da esquerda e passou a priorizar meramente os espaços institucionais. Grandes lutadoras e lutadores daquele momento se retiraram para ocupar espaços acadêmicos ou de gestão. Enquanto isso, o SUS era submetido a uma lógica de eterno subfinanciamento, uma vez que jamais se definiram porcentagens mínimas de investimento da União e ficou a mercê dos mandos e desmandos de nosso arruinado Sistema Político, que sequer representa a população brasileira. Agora, com essa conjuntura de Golpe político no Brasil, todos os direitos conquistados historicamente estão ameaçados, mas para o SUS talvez o cenário seja ainda mais tenebroso. Ricardo Barros, o ministro da saúde do governo golpista, representa a concretização de um projeto de desmonte e privatização do Sistema Único de Saúde (SUS). Engenheiro civil de formação, é investigado por corrupção, peculato e crime contra a Lei de Licitações. Não tem interesse em aumentar as verbas destinadas para o SUS e tem como financiador de campanha um dos principais operadores de planos de saúde do país. O ministro golpista defende uma revisão do tamanho do SUS, dos gastos com a previdência (as aposentado22


rias também estão ameaçadas) e pretende acabar com o Programa Mais Médicos. Barros afirmou que o país não conseguirá mais sustentar o acesso universal à saúde, e está articulando a criação de um “Plano de Saúde Acessível”, que pretende substituir em larga medida a ideia de um Sistema Único de Saúde. Chegou, ainda, a propor um corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família - e declarou ter ficado decepcionado por seu projeto não passar. Isto para citar apenas alguns dos últimos acontecimentos trágicos para o nosso sistema de saúde. Claramente, Barros, assim como o restante do governo golpista, não tem compromisso com os direitos sociais atingidos até aqui. Ou seja, a concepção da saúde como um direito, de forma multiprofissional e descentralizada, a importância da prevenção e promoção para além da assistência, os princípios que o SUS prevê, como a universalidade, a integralidade, a equidade, a territorialização e o controle social, estão se esvaindo dia a dia diante dos nossos olhos. Ao mesmo tempo, os movimentos populares não tem conseguido dar respostas a todo este ataque e a maior parte das trabalhadoras e trabalhadores ainda não enxerga a necessidade de se organizar. A luta pela saúde perdeu todo o seu dinamismo, e a juventude, polo mais dinâmico da luta de classes, tem tido dificuldade de enxergá-la como uma de suas pautas centrais, o que é bastante problemático se considerarmos que saúde é questão de sobrevivência para nosso povo, estando relacionada diretamente com a nossa capacidade de lutar. Qual Saúde o Levante defende? Construir a pauta da saúde é também pensar um Projeto de vida para o povo brasileiro. A bandeira da luta pelo Sistema Único de Saúde, como uma das maiores formulações e conquistas do povo organizado em nosso país, é o caminho que devemos seguir para que estejamos nos colocando conscientemente nas ruas, ao vislumbrar o modelo de saúde que defendemos e a partir de quais diretrizes mínimas podemos nos basear. Construir uma saúde popular é reconhecer nossa história e refletir sobre a sua reparação. É estar em luta contra os seus inimigos, máquinas internacionais de financiamento de morte ao nosso povo, pelos quais diariamente temos nosso direito usurpado e nosso tempo de cuidado esgotado: o agronegócio, a indústria farmacêutica, os planos e clínicas privadas de saúde, o subfinanciamento da saúde, os manicômicos, a guerra às drogas, o genocídio do povo negro, o feminicídio, a lgbtfobia, o monopólio da mídia golpista. A saúde não pode mais ser entendida apenas como ausência de doença, como insuficiência de serviços à população, muito menos centrada na figura do médico e pensada no âmbito do hospital e da emergência. Precisamos compreender que o processo de saúde-adoecimento é quase que totalmente determinado socialmente. Temos, ainda, que ampliar a visão da promoção e prevenção em prol de maior investimento e valorização da Atenção Primária à Saúde, local valioso para quem projeta um futuro em que a saúde se construirá de forma coletiva, como cuidado e não apenas de modo medicalizador. Precisamos trabalhar a saúde no território, dentro da comunidade, resgatar saberes populares, e saber construir a ponte, no trabalho com o povo, entre a luta por uma Constituinte Exclusiva e Soberana e a defesa do SUS. Por fim, é preciso que nos engajemos na Luta Antimanicomial, tão crucial à saúde mental de nosso povo; e que possamos construir um efetivo Controle Social de nosso sistema de saúde através do fortalecimento das articulações com os Movimentos Sociais. A saúde que defendemos faz parte de um Projeto Popular para o Brasil que busca reformas estruturais para a nossa sociedade na contínua luta para a tomada do poder que emana, só e somente só, do povo! Qual é o papel do Levante na luta pela Saúde? Como nos fortalecemos nesse sentido? Desde a sua nacionalização em 2012, o Levante Popular da Juventude muito tem contribuído para a luta dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. Como sempre dizemos, o Levante tem a possibilidade de 23


ser o “fermento na massa” da luta de classes em nosso país. E ainda que dando seus primeiros passos, já serve de exemplo de ousadia e radicalidade para muitos militantes históricos que se encontravam acomodados ou decepcionados com o rumo que seguiu o maior instrumento criado pela classe trabalhadora brasileira. A partir da análise da necessidade de um instrumento de juventude que se desafiasse a organizar a classe trabalhadora no meio urbano, entendemos como central para levar a cabo um Projeto Popular para o Brasil, a massificação do Levante. Trabalhar a Saúde Popular diz de uma maneira de dialogar com os sujeitos da juventude, através de pautas e práticas que já fazem parte de sua vida cotidiana, saindo do concreto do dia-a-dia, que é o que capta a atenção e garante o primeiro contato, para a compreensão do todo de um sistema adoecedor. Através do trabalho na área, se desenvolve a compreensão da necessidade de construir um mundo novo. Lutar em defesa do SUS nesse momento é sinônimo de empunhar a bandeira do Fora Temer, por exemplo. E é somente se formos capazes de estabelecer as pontes entre as pautas políticas gerais e de que maneira isso afeta concretamente a vida das pessoas que conseguiremos trazer o todo da classe trabalhadora para a luta. Portanto, se por um lado, o Levante precisa da saúde para se enraizar, por outro, a saúde precisa do Levante para ganhar dinâmica de luta. Os defensores históricos do SUS, aqueles que se mobilizaram para gestar o seu nascimento, hoje têm dificuldades de retomar o dinamismo que nos exige a luta contra o golpe. Há que se entender, em primeiro lugar, que o desmonte do SUS significa a morte pra boa parte de nosso povo. E se não conseguirmos, a curto prazo, rearticular a luta em defesa da saúde pública, o preço que a classe trabalhadora pagará será muito caro. Portanto, uma das questões centrais sobre as quais precisamos nos debruçar no próximo período diz respeito a como podemos melhor contribuir para a luta em defesa do SUS. É nítido a qualquer sujeito da saúde que a luta avança com a participação da juventude, é este o elemento que falta para dar o dinamismo que ela necessita. Mas como é que auxiliamos na mobilização dos lutadores e lutadoras da saúde? É certo que precisamos fazer articulações com outras forças, organizações, movimentos. Mas quem são os nossos aliados na Saúde? Como construímos luta ao lado deles? Sabemos que existem experiências em nosso campo de constituição, por exemplo, de Frentes em Defesa do SUS. Por outro lado, o Levante vem desenvolvendo a experiência das brigadas de trabalho de base, que podem ser muito interessantes para a construção da Saúde Popular, entre outras pautas. Existe ainda o leito histórico da luta pela saúde, que passa muito pela experiência das Pastorais na periferia no momento em que se cria o conceito de Educação Popular. Qual desses formatos melhor nos contempla? Ou seria uma combinação de todos eles? Qual é o perfil da nossa militância da saúde? Como construímos um Projeto de Saúde Popular para a Juventude? Todas estas questões estão em aberto e sabemos que só começarão a ser respondidas se estruturarmos melhor a Saúde no Levante, se nos desafiarmos, cada vez mais, a estudar, sistematizar nossas experiências, e testar a teoria na vivência da realidade e se usarmos toda a nossa criatividade e ousadia para incendiar novamente a luta por um projeto ampliado de Saúde e pela defesa do SUS. Juventude que Ousa Lutar, Constrói uma Saúde Popular! A nossa rebeldia é o povo no poder!

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Organizar a luta antirracista para popularizar o Levante

Setor de negritude Beagá

Somos o Levante Popular, e é impossível popularizar o nosso movimento sem combater o racismo. Não pautar o racismo é ignorar a realidade da maioria da juventude do gueto, quilombola, sem-terra, sem teto, rural e proletária. Exatamente quem deve estar em nossas fileiras. Hoje somos a maioria da classe trabalhadora e enfrentamos imensos desafios para nos organizar e nos manter na organização, embora esta seja vital para nossa vida. Os movimentos populares tem o objetivo de ser protagonizado pela classe trabalhadora. E no Brasil, assim como em outros países construído pela força de trabalho das negras e dos negros, nenhum projeto é revolucionário se não for antirracista. Florestan já dizia que “classe e raça se fortalecem reciprocamente e combinam forças centrífugas à ordem existente, que só podem se recompor em uma unidade mais complexa, uma sociedade nova”. Além de negros e negras serem a maioria da classe, ocupamos postos de trabalho mais precarizados e recebemos menos que homens e mulheres brancas nos mesmos serviços. Além de enfrentar o genocídio e o feminicídio em uma guerra “velada”. Isso não significa que o racismo é a principal opressão, e nem nos dispomos a fazer esse debate. Significa mesmo é que as desigualdades sociais de raça devem ser levadas em consideração na nossa organização que deve tomar medidas efetivas para superá-las. Combater o racismo deve ser um princípio no Levante para que sejamos populares. Desconstruir o racismo é fortalecer o povo na luta de classes no Brasil. Então fica evidente a importância das negras e dos negros se auto-organizarem, se fortalecerem, e ocuparem a linha de frente nas lutas de massa e do nosso movimento. Quando negras e negros avançam, o racismo, as desigualdades e injustiças retrocedem. A necessidade da auto-organização A auto-organização é o espaço no qual as negras e negros vão praticar o ubuntu (amizade, companheirismo, camaradagem, união), aonde vamos fortalecer a negritude. É o espaço que deve cumprir com a função de ser confortantes a toda negritude, em especial as mulheres negras e as LGBT. Nesse espaço a negritude vai fortalecer a sua compreensão política sobre a questão racial e sobre o projeto popular. A auto-organização também tem a função de colocar para as companheiras e companheiros brancos a crítica construtiva, para que reconheçam seus privilégios e possamos seguir juntas e juntos na construção do projeto popular. O papel do setor Para a auto-organizaçao cumprir seus objetivos escolhermos cerca de três pessoas para compor um setor (número aconselhável, pode ser menos ou mais). O setor tem a função de coordenar os processos da auto-organização junto a nossas coordenações gerais e demais instâncias do Levante, como já afirma outros 25


documentos. Organização do Setor de Negritude Ao longo dos últimos anos temos conversado bastante e lido alguma coisa em torno das estratégias de combate ao racismo. Aprendemos que “negros” e “negras” nunca se souberam “negros” e “negras” até as guerras de colonização. Até então se viam em uma imensa diversidade de povos e etnias, com diferentes e riquíssimas culturas assim como alguns impérios. Hoje normalmente o “negro” ou “negra” é usado para designar aqueles que passaram pela escravidão colonialista e imperialista assim como seus descentes que recebem essa “herança”. Embora seja possível resignificarmos isso através da luta antirracista (e é justamente o que queremos) o termo não contempla a disposição de protagonizar a luta antirracista que caracteriza aqueles e aquelas que se colocam na auto-organização e também na função do setor. Para o nosso projeto que é antirracista, colorido, feminista e popular, vale o resgate da negritude. Em poucas linhas, negritude surgiu em meio a estratégias militantes de enfrentamento do racismo, do colonialismo e do imperialismo. E isso foi feito resgatando experiências de luta como da independência do Haiti assim como observando novas estratégias para a luta internacional, principalmente as lutas de descolonização africana. É um conceito estratégico que condensa uma imensa história viva, com constantes transformações e adaptações, mesmo que mantendo fundamentos de origem ao longo de quase um século de existência. Os objetivos da negritude são o resgate e a valorização das lutas e das referências negras assim como seus legados seja na história, na filosofia, na arte, cultura, filosofia, economia, política, feitos militares, etc. Não é um ideal de libertação individual, negritude é o debate estrutural da condição negra, embora também abarque identidade. E como reconhece negros e negras como descendentes da diáspora africana, é um ideal de ação internacionalista, presente nos países africanos ou com populações afrodescendentes que foram impactadas pelas opressões colonialistas. Para nós, negritude é coletivo de negras e negros em luta. Esta palavra designa em primeiro lugar repulsa ao racismo, ao imperialismo e ao capitalismo, que no caso brasileiro é produto do imperialismo e possui precisamente a base colonial e escravista. Negritude é a repulsa pelo cativeiro num estilo de vida imposto pelo eurocentrismo e o profundo vínculo com os setores populares (amplamente negro) que são a base e o sentido de nosso projeto político. A negritude é movida por sentimentos e ações de combate ao racismo, indispensável à emancipação da classe trabalhadora. Vamos construir a negritude do projeto popular! Viva a resistência negra! Viva o povo brasileiro! #Ubuntu

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Brigada Popular Clementina de Jesus Síntese da experiência até aqui. Lições, dificuldades e desafios

Levante Popular da Juventude – Rio de Janeiro

Etapas da batucada do Levante no RJ 2012 – inicial – amadorismo e instrumentos improvisados 2013 – manifestações de junho – alguns instrumentos novos + caixa de som. Coordenação espontânea, músicas sem ensaio. Fundamental pra nossa participação nas manifestações 2014 – mesmo estágio 2015 – salto de qualidade em dois pontos: 1º – acampamento estadual – instrumentos novos, de uma batucada completa 2º – organização da batucada na capital – ensaios regulares, acompanhamento da Amanda Cunha(O Passo), construção de identidade. Avanços da última etapa da batucada: *enfatizando que a construção de um grupo de coordenação, que envolvia responsáveis do Levante pela batucada mais uma musicista que acompanharia a formação do grupo foi decisivo pra que esse salto de qualidade se tornasse real. 1º – Fazer ensaios regulares – fundamental pro desenvolvimento da música, criar coesão do grupo, e se preparar pras ações do Levante, tornando nossa intervenção menos espontânea. Ter um local fixo para os ensaios, com facilidade de transporte dos instrumentos é muito importante. 2º – Acompanhamento de uma musicista profissional (Amanda Cunha – O’Passo) – aprendizagens dos ritmos, do método para ler e escrever música, e capacitar para construir arranjos musicais mais desenvolvidos. A parceria com O’Passo é completamente fundamental, por serem um grupo que trabalha a educação musical de uma forma mais didática, que possibilita a participação e aprendizagem de todas as pessoas, inclusive as que nunca se envolveram com música, além de utilizar pra isso um método pedagógico que prioriza o desenvolvimento coletivo do grupo. 3º – Construção da identidade da batucada – debate coletivo com o grupo sobre o nome da batucada, que levou em conta 3 questões: A) que representasse o povo brasileiro, o sujeito que a gente quer na nossa organização. B) que fosse referência de luta e de resistência e valorização da nossa cultura e do nosso povo. C) que se identificasse com o Rio de Janeiro, as tradições e cultura locais. Nenhuma dessas questões era um critério que impedisse outros nomes, mas ajudaram a debater concretamente que nome representaria melhor nosso projeto pra batucada. # Definimos o nome “Batucada Popular Clementina de Jesus” 27


O termo Batucada Popular por ser a batucada do nosso movimento, e se inserir em um projeto mais amplo, de construção de batucadas que defendam o nosso projeto. E o nome Clementina de Jesus, mulher negra fundamental na cultura do samba carioca, e que teve papel decisivo no resgate dos cantos do povo negro, os cantos dos escravos e cantos de trabalho. Além de ser grande partideira, com uma capacidade incrível de pensar rápido e dar respostas sempre que desafiada. 4º – debate sobre o sentido da batucada – instrumento de agitprop, de diálogo com a população sobre o nosso projeto, utilizando a linguagem da música. Além de ser um espaço de formação musical e política da militância do Levante, que se forma com a participação e construção cotidiana da batucada. Tem o papel de agitar os atos que o Levante participa e constrói, mas também de se tornar um instrumento de agitação, de intervenções públicas que dialoguem com a população. O objetivo nesse sentido, seria realizar exibições em praças públicas e atividades que formos convidados, além de construir um “bloco de carnaval” do Levante, com repertório próprio, organizado pelo próprio movimento e pela batucada. Este projeto ainda não saiu do papel. - Dificuldades e desafios A) Uma grande dificuldade é a de consolidar um grupo mais coeso e permanente nos ensaios. Problemas de agenda da militância, além de falta de prioridade da batucada tornam os ensaios esvaziados em vários momentos, o que dificulta o desenvolvimento. Necessidade de discutir sobre a construção, mobilização do grupo. O ideal é que fosse feito pelas células, cada célula estimulasse as pessoas a participarem. A batucada precisa ser um espaço frequentado pela militância de base do movimento. B) Temos o desafio de construir um repertório pra batucada, que considere o sentido que construímos pra ela. Por um lado ter músicas populares, que resgatem as histórias de luta e resistência, além de músicas muito conhecidas pelo povo, que anime, estimule, eleve a auto-estima. Não pode ser um repertório muito “erudito”, distante do povo. Por outro lado, tocar as músicas do Levante, nossas paródias, músicas que falem do nosso projeto, com uma qualidade cada vez maior. Por último, o desafio de construir músicas próprias. Além de novas paródias, compor e construir os arranjos de nossas próprias músicas, como fazem as escolas de samba com os sambas-enredos. Não esquecendo de valorizar a criação de músicas de nossa própria militância. C) Precisamos dar visibilidade à identidade que criamos pra batucada. Fazer camisas, estandarte, enfeitar os instrumentos, etc. Além de ter uma estratégia de divulgação das ações – criar página no face, gravar vídeos, registrar os ensaios. Melhorar a convocação geral pros ensaios. Estabelecer a prática de imprimir cancioneiros com as músicas que vamos tocar em todos os atos, com símbolo do levante, contato, página, etc. D) Maior cuidado com nossos instrumentos – precisamos fazer uma manutenção geral dos instrumentos, além de arrumar o quarto onde ficam guardados. Além de fazermos uma oficina de como cuidar corretamente dos instrumentos. E) A médio prazo, devemos pensar na batucada como espaço de formação de “educadores” musicais. Capacitar as pessoas do grupo para que possam levar a técnica aprendida pras comunidades, fortalecer o trabalho de base do Levante através da batucada, expandir a batucada para os territórios. Além de ser um espaço de formação de dirigentes agitadores que deverão integrar no futuro uma brigada estadual de agitprop. “O escuro do negreiro, O açoite pardo do feitor, E um clarão enganador: A liberdade sonhada ainda não chegou. Saúdo os deuses negros, Da serra-mar céu de Quelé, Pro povo brasileiro, Rainha negra da voz, mãe de todos nós...” 28


Nós e o internacionalismo

Lira Alli e Rodrigo Suñe Você treme de indignação quando sabe que, em qualquer lugar do mundo, é cometida uma injustiça? Você se anima quando (em qualquer canto do mundo!) os povos avançam em sua luta por liberdade? Talvez você já tenha escutado essa ideia em algum lugar, ela não é nova. De diferentes formas e maneiras, ela foi repetida por povos, lutadoras e lutadores de muitas partes. Ela é o princípio do internacionalismo, que também deve ser valor, mística e prática cotidiana. Quando defendemos o Projeto Popular para o Brasil, devemos nos esforçar para entender o que é povo brasileiro. Somos jovens do povo, e queremos construir um futuro melhor para todo o nosso povo, a nossa grande família. Família porque temos a mesma história em comum. Que é bela, mas recheada de violência, exploração e dor. Somos fruto da vida, luta e resistência de indígenas americanos, africanos, trabalhadores da europa, oriente, ocidente, norte, sul. Somos filhas e filhos de uma gente que foi (e ainda é) assassinada, escravizada, submetida a condições terríveis de vida, estuprada, violentada, massacrada. E que lutou, resistiu, trabalhou (e ainda luta, resiste e trabalha). Nas plantações, debaixo do sol, no campo, nas fábricas, no trânsito, nas cidades. O povo brasileiro é o encontro de milhões de rios de histórias de todo o mundo (todo o mundo mesmo!) que desaguam num grande leito. É desse leito histórico que somos parte. E por isso para nós é impossível ser brasileiros sem ser internacionalistas. Está no nosso sangue a necessidade de superar as fronteiras e construir solidariedade, amor, companheirismo. Fazer festa, carnaval e arte com a nossa dor. Superar o que nos separa e divide para construir uma possibilidade de futuro mais feliz. E é isso que nosso povo tem feito e por isso chegamos até aqui. Somos filhas da luta, de gente que deu a vida por acreditar num sonho coletivo de mundo melhor. O mundo que vivemos pode ser entendido de muitas formas. Mas é inegável que estamos cada vez mais globalizados, conectados, vivendo vidas parecidas. Existe um sistema que é comum por todo canto do globo. Ele é capitalista, patriarcal e colonialista. 1% de pessoas, em geral homens brancos do norte, é dono de quase tudo no mundo e detém o poder. E quem mais paga a conta da exploração nesse jogo perverso são as mulheres, negros, pobres e todos quanto mais se afastam do padrão do poder. Nossa juventude – que nasceu nos fins dos anos 80, ou nos 90 e os mais jovens já nos 2000 – compartilha e vive experiências muito novas, fruto de inovações tecnológicas e transformações políticas profundas no nosso país e no mundo. Democracia no Brasil, fim da guerra fria e da União Soviética, televisão a cores, computador, celular. Vivemos a vida das megacidades. Da cultura pop e da internet. No começo dos anos 2000 a juventude participou de movimentos anti-globalização, numa tentativa de deter o capitalismo que se alastrava violento. Hoje o mundo foi globalizado. É inevitável, impossível retroceder. Porém, essa globalização hoje está muito mais a serviço do lucro de algumas grandes empresas do que a serviço da felicidade da humanidade.


Assim, quando estamos no nosso bairro, na praça, na rua, na escola, na universidade, no trabalho enfrentamos um monte de questões que são as mesmas que a juventude enfrenta na Palestina, na Colômbia, nos Estados Unidos, no Marrocos, Vietnam ou África do Sul. A violência do capitalismo que nos coloca em piores condições de trabalho, vida, deslocamento. Porque somos jovens. E porque somos mulheres ou temos sexualidades desviantes dos padrões, regras e leis. E porque temos certa cor na pele ou religião ou cultura, ou falamos determinada língua. Somos milhões, diversos em todo o mundo. Mas para além de ter em comum o sistema que nos oprime, temos em comum nossa luta! Nós, jovens, somos uma potência, uma força importante para a transformação da realidade. É só olhar todos os levantes que aconteceram no mundo nas últimas décadas, em sua maior parte protagonizados por jovens. A história ensina: os momentos em que a juventude se calou foram quando os males aumentaram e a vida piorou. É por compromisso com a nossa história, passado e ancestralidade que lutamos, mas também por compromisso com o futuro, com os filhos de nossos filhos, que queremos transformar o presente. O presente não está fácil. Um golpe contra o povo está se desenrolando. Mas não podemos ter dúvidas. É a certeza que podemos transformar a realidade que nos faz caminhar. Porque coletivamente podemos superar barreiras, fronteiras e obstáculos. Podemos construir as condições para que o povo esteja no poder. No Brasil e no mundo. Reconhecemos nossas diferenças e multiplicidades, mas também sabemos que somos mana e mano de cada jovem que luta no mundo todo. Que somos parte de um mesmo processo, estamos de pé por no globo inteiro, e ninguém pode deter a transformação. Nós somos semente e só sabemos espalhar e multiplicar. O que é ser internacionalista pra você?


www.levante.org.br


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