Pic-Pic - Ilustração e Projeto Gráfico de um Livro Infantil Interativo

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Campus Bauru

Pi c- pI C

Ilustração e Projeto Gráfico de um Livro Infantil Interativo

Relatório Descritivo do Projeto de Conclusão de Curso em Design Gráfico

Laura Gonçalves Mattara Orientação Prof. Dr. Milton Koji Nakata

2013



Agradecimentos À Família pelo apoio incondicional, ajuda impagável, paciência estratosférica e especialmente, pelos exemplos e lições tão preciosas. À Tatinha, Zé, Vitinho e Yuji por surgirem nos momentos mais necessários, pelas opiniões valiosas e incentivos aventureiros. À Karis pelo companheirismo fundamental. Ao Milton pelos ensinamentos como grande mestre e amigo. Ao Gomes pelo amor insubstituível. À todos os amigos que contribuíram direta e indiretamente para este trabalho.



Índice 09 Int rodução IlusTração de livro InfAntil 10 Breve Histórico 10 Elementos Visuais de uma Ilustração 13 Função da Ilustração no Livro Infantil 16

livro Int eraTivo Público alvo a IlustrAção e o design 21 25 25 28 30

17 19 20 referênciAs visuaIs simIlares Oliver Jeffers: Achados e Perdidos Steve Augarde: Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau Considerações da Análise


Projeto 31

Técnica Estilo de Representação Texto Concept Art dos Personagens Estudos das Páginas Do Manual para o Digital Grid e diagramação Tipografia Mecanismos de Interação

31 33 34 36 44 46 52 53 54

Impressão 60 61 considerações finAIs referênciAs 62 Bibliografia 62 Infografia 63 Imagens 64

Anexo 66




Int rodução Este trabalho consiste no desenvolvimento das ilustrações e do projeto gráfico de um livro infantil interativo como projeto de conclusão da graduação em Design Gráfico, pela Universidade Estadual Paulista. Para tal, foi realizado um levantamento teórico acerca da evolução, com o passar do tempo, na forma de se fazer ilustrações para livros infantis, sobre os elementos visuais que constroem este tipo de imagem, segundo alguns aspectos dos livros infantis interativos, a respeito de pontos importantes quanto ao público alvo e ainda sobre a relação deste tema com o Design. Também foi feito o estudo de referências visuais e a análise de similares, a fim de identificar os caminhos gráficos aos quais seguir. Neste relatório é possível tomar contato com as etapas do desenvolvimento deste projeto, do início de sua elaboração até a impressão e acabamento do mesmo. Quanto à escolha do tema aqui estudado, esta se deu com base em uma pesquisa de iniciação cientifica realizada durante esta graduação e consistiu na análise teórica da relação imagem e texto na literatura infantil, sendo possível observar a necessidade de uma relação de complementariedade entre tais elementos deste tipo de literatura. Tendo em vista a teoria anteriormente analisada e a variedade de possíveis temas para a elaboração deste projeto para

a conclusão de curso de Design Gráfico, optou-se pelo desenvolvimento de um Livro Infantil Ilustrado. A escolha pela utilização de recursos gráficos alternativos se deu com base em trabalhos anteriores, também realizados na graduação, nos quais se pode visualizar o efeito enriquecedor que estas técnicas surtem naqueles que com elas interagem. A opção por ilustrar o livro partiu da vontade de desenvolver uma habilidade que fora deixada em segundo plano durante o curso. Nestes anos houve um empenho pessoal em conhecer outras áreas do Design Gráfico, e a ilustração, por fim, terminou por permanecer apenas em estudos teóricos. Sendo assim cabe salientar, que este trabalho consiste no exercício, em um estudo prático de ilustração. Não existe a pretensão de um futuro como ilustradora, mas sim como designer gráfica com curiosidade em conhecer técnicas que possam vir a exercitar e capacitar a própria capacidade de olhar e projetar. Este trabalho tem como objetivo gerar um produto que possa despertar o interesse daquele que o vê, toca ou manuseia. Para isto buscou-se aplicar os conhecimentos obtidos durante os anos de estudo na faculdade finalmente elaborar um protótipo de qualidade relevante.

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IlusTração de Livro Infantil Breve Histórico Para compreender melhor os aspectos formadores do livro infantil foram levantados alguns pontos marcantes no decorrer da história que tiveram destaque no processo de evolução para embasar a discussão sobre este tipo de produto na atualidade.

Fig. 01: Parte do Livro dos Mortos de Imenemsauf

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Segundo estudos de Nakata (2006), as imagens têm servido como complemento narrativo aos livros e manuscritos desde aproximadamente 1900 a.C., o que é possível visualizar nos antigos pergaminhos ilustrados, como o “Livro dos Mortos”(Fig. 01) e o “Papyrus Ramesseum”, onde podemos observar a importante função da imagem, que vai muito além de uma mera ornamentação, completando os escritos e seus significados. As ilustrações evoluíram de acordo com o avanço dos meios de produção e os ilustradores sempre se mostraram dispostos a aceitar as oportunidades oferecidas pelos meios mecânicos para melhorar suas habilidades e ampliar o alcance de suas obras. Alarcão (2008) argumenta que, no Ocidente, a época dos manuscritos medievais definiu a maneira de narrar as histórias de forma sequencial em páginas, combinando textos e imagens, dando origem ao formato do livro tal como o conhecemos hoje. Neste período, destaca-se também, as coloridas iluminuras, precursoras das atuais ilustrações, consideradas uma das mais importantes formas de arte desde o século VI. Estas se extinguiram apenas com a chegada dos livros impressos, por volta de 1450,


graças a Gutenberg e seus tipos móveis (matrizes de madeira com letras esculpidas e posteriormente “carimbadas”) que possibilitaram a impressão dos textos de maneira muito mais rápida, uma vez que, antes, estes eram manuscritos. Esta forma de reprodução gráfica possibilitava a impressão exclusivamente dos textos e, apesar de ser um grande avanço tecnológico na época, limitou a criação dos ilustradores. Estes profissionais eram obrigados a restringir seus recursos criativos, fazendo somente artes que pudessem ser adequadas aos meios de reprodução: no caso da imagem, a xilografia (forma impressão feita a partir de matrizes de madeira onde as imagens eram esculpidas e depois “carimbadas” nas páginas desejadas). Esta que era a única maneira de gerar imagens que acompanhassem, mesmo que separadamente, os textos impressos em tipos móveis de forma eficaz e rapidez equivalente de reprodução. Apenas no século XIX, na Inglaterra Vitoriana, com o advento da litografia, o traço do ilustrador pode ser reproduzido mecanicamente pelas matrizes gráficas, dando maior liberdade as suas criações. Além disso, a nova forma de impressão oferecia a aplicação de cores com grande variedade de tons. Tendo como base uma gama inicial de apenas três cores existia a possibilidade de geração de ilustrações com esta grande variedade de tons, uma vez que as cores primárias eram sobrepostas, resultando em outras tonalidades. Foi também neste período que começaram a surgir os primeiros livros infantis ilustrados (Fig. 02), num claro reflexo da mudança de atitude do meio em relação à criança.

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As primeiras publicações especificamente destinadas às crianças e jovens comportam poucas imagens. Na primeira metade do século XIX, predomina o livro com ilustração, constituído por um texto principal e relativamente poucas ilustrações em páginas isoladas. (LINDEN, 2011, p. 10)

Fig. 02: Livro The House that Jack Built, 1891.


Muito tempo separa a época descrita e a atualidade. Neste entremeio é possível visualizar a contínua evolução tecnológica. Alarcão (2008) comenta que hoje, graças ao “arsenal técnico” das gráficas, os ilustradores foram poupados da frustração das distorções em suas obras causadas pelas reproduções. A tecnologia tornou possível a produção precisa de um resultado bastante fiel às ilustrações originais, além disso, propiciaram aos impressos recursos que não contam na arte final, como vernizes, plastificações, relevos e cores especiais como prata e dourado, dando ao produto

gerado características diversificadas e imensamente atrativas. Houveram também grandes mudanças em relação ao livro infantil como produto e a forma como este é visto e julgado. Atualmente a literatura infantil é reconhecida por sua inquestionável importância para a criança no processo de desenvolvimento e estímulo a criatividade e imaginação, além de ser capaz de transmitir e ensinar conceitos de forma lúdica e suave (Fig. 03). Porém, por muito tempo este gênero foi considerado como uma forma inferior comparado aos demais estilos literários, uma vez que como destinada ao público infantil, era vista com algo menor, menos importante e tratada muitas vezes com preconceito.

Fig. 03: Livro Tom, Ilustração de André Neves. Vencedor do Premio Jabuti 2013 de Melhor Ilustração de livro infantil e juvenil.

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Elementos Visuais de uma ilustração Olhar é um ato de escolha, sendo que elementos e estruturas podem conduzir o olhar do leitor para e pela imagem. Com base nisto, buscou-se levantar os principais pontos que contribuem para a formulação das ilustrações, qual o papel que tais aspectos desempenham na composição e como podem contribuir para a elaboração de um livro mais atrativo e relevante. Segue a lista do levantamento realizado:

Linha Apesar de ser considerado um elemento simples, é capaz de prender a atenção do leitor e forçálo a percorrer toda sua extensão, servindo como um indicador de direção para o olhar, podendo gerar ritmo e movimento à imagem.

Superfície e Volume A superfície de uma imagem compreende o espaço bidimensional. As diferentes dimensões da ilustração despertam o interesse do olhar do leitor, que busca sempre estabelecer relações entre a altura e a largura da imagem, percorrendo assim, toda a forma. Já o volume é a ilusão criada pelo uso da perspectiva, cores, luz e sombra dentro do espaço da imagem. Este elemento contribui para a valorização, o enriquecimento e geração de uma imagem mais complexa.

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Fig. 04: Ilustração de Cris Eich


Cor Um dos elementos que desempenha papel de extremo valor na composição de uma ilustração é a cor. Uma vez que “A cor é um dos elementos construtivos da imagem narrativa que possui o maior poder emotivo e evocativo.” (OLIVEIRA, 2008, p.50), nenhum outro elemento atrai o olhar com tanta intensidade quanto à cor, já que é possível alcançar diversos significados e reações com a combinação das cores entre si e com os demais elementos. Biazetto (2008) ressalta a importância de lembrar que quando se trata do estudo da ilustração não estamos lidando com a imagem isolada. Temos que considerar a relação desta com o texto e sua narrativa. “Para selecionar apropriadamente as cores que serão usadas, precisamos levar em conta tanto aspectos objetivos quanto subjetivos da narrativa.” (BIAZETTO, 2008, p.80) Dos aspectos objetivos pode-se apontar o tempo e o clima em que a ação transcorre. Já os subjetivos geralmente são mais implícitos, algo como a velocidade e o ritmo da narrativa, a presença de humor ou tensão. A autora aponta alguns exemplos de funções que a cor pode desempenhar para auxiliar na narrativa visual: Visualização: Pode-se usar uma mesma cor em vários pontos dispostos em diferentes planos da imagem a fim de criar um caminho para os olhos do leitor por toda a ilustração, uma vez que a semelhança atrai o foco do olhar. Este recurso também funciona com as cores complementares, onde a aplicação de uma cor resulta na atenção para aquela que a complementa.

Tensão e Vibração: Ao se aplicar cores complementares quase puras ou com a mesma intensidade, cria-se tensão. Porém ao mesclar a composição com outras cores, menos saturadas, cria-se um efeito de vibração e alegria. Cores luminosas, como o amarelo, ou intensas e quentes, também dão a ideia de vibração. Especialidade: Cores quentes expressam proximidade, vibração e materialidade, enquanto as cores frias expressam distanciamento, profundidade e transparência. Ao combinar os dois tipos de cores é possível conseguir um jogo figura-fundo, onde as frias resultam em um efeito de profundidade e distanciamento do primeiro plano, no qual estarão aplicadas as cores quentes, gerando zonas que avançam e outras que recuam. Ambientação: As cores podem ser usadas para caracterizar o clima do ambiente ou da narrativa. Como por exemplo, cores quentes e vibrantes representam dias ensolarados, enquanto tons frios e azulados para uma noite chuvosa e cores escuras para um clima de mistério. Clareza: Uma ilustração será mais bem visualizada se em sua composição existir uma mescla de áreas detalhadas, capazes de atrair a atenção do leitor, e áreas planas, para dar descanso aos olhos de quem observa. Nos casos onde o texto é inserido na ilustração, é importante que isto se dê em uma área plana e neutra, com cores que facilitem a leitura. Assim como a cor da letra também é de suma relevância para que a visualização do texto ocorra de forma adequada e confortável.

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Cenário

Composição

O cenário é responsável por criar uma atmosfera dramática através do ponto em que a cena está sendo vista. Oliveira (2008) esclarece que, para a sua composição, o ilustrador faz uso de diversos outros elementos visuais, como cor, luz e principalmente a perspectiva.

Uma boa composição em uma ilustração vai além do equilíbrio das massas e dos pesos de uma imagem. É necessária a preocupação com a harmonia entre os espaços vazios e cheios, os tons, as luzes, os contrastes entre as formas, as direções dos desenhos. A composição não equilibra somente os aspectos físicos, abstratos e atmosféricos da ilustração; ela organiza e une todos os elementos que participam de uma narrativa visual, relacionando-os de forma equilibrada com a área útil de ilustração, bem como com a página do livro. (OLIVEIRA, 2008, p. 60)

Ritmo O ritmo é uma variação intencional de formas para despertar o interesse do olhar. Estas variações podem ocorrer entre “o pequeno e o grande, o reto e o curvilíneo, a verticalidade e a horizontalidade, os espaços ocupados e os espaços vazios.” (OLIVEIRA, 2008, p. 57) Com essa alternância de diferentes, o ilustrador é capaz de criar um resultado harmônico atrativo e visualmente rico.

A finalidade da composição vai além de obter um equilíbrio estético, esta é responsável por favorecer a leitura e a apreensão da narrativa.

Fig. 05: Ilustração de Jean-Claude R.Alphen.

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Função da Ilustração no Livro Infantil Ilustrar é diferente de traduzir. Trata-se da construção de uma narrativa visual paralela ao texto. A imagem possibilita uma leitura pela via da interpretação e da valorização da expressão, a ilustração encontrase com o texto, estabelecendo um diálogo dinâmico. A imagem pode desempenhar diversas funções em relação ao seu campo de ação. (CAVALCANTE, 2008, p. 56)

As descrições de personagens e lugares são em geral inexistentes em textos que contam com a colaboração da imagem. Um texto que retrata minuciosamente uma personagem iria parecer redundante, por exemplo, já que estaria lado a lado com a imagem representando essa mesma personagem. O texto do livro ilustrado é, por natureza, elíptico e incompleto. (LINDER, 2011, p. 48)

Muitos autores discorrem sobre as diferentes funções da linguagem visual, sugerindo diversas classificações. Cavalcante (2008) ressalta que o papel da ilustração vai muito além do ornamento e da explicação. Oliveira (2008) complementa estas reflexões dizendo que uma das finalidades da ilustração nos livros não é apenas apresentar uma versão do texto, mas sim contribuir para a formação de outra leitura, “uma espécie de livro e imagem pessoais dentro do livro que estamos lendo”. O autor ainda aponta que a arte de ilustrar está imersa no equilíbrio e na harmonia entre imaginação verbal e imaginação visual. Sendo assim, o texto também deve respeitar características fundamentais para um bom funcionamento neste tipo de literatura. O escritor no momento da composição de um texto destinado a um livro ilustrado não pode ignorar as imagens que irão compor a página, mesmo que estas ainda não tenham sido produzidas. Ele precisará levar em conta a contribuição da imagem no que diz respeito ao sentido.

Neste sentido é necessário que haja sempre a preocupação com os limites que devem ser respeitados. “Para criar uma narrativa visual ou imagens narrativas que compartilhem com o leitor o prazer do texto, o ilustrador trabalha o diálogo texto-imagem com intenções de adequação, complementaridade, conjunção.” (FITTIPALDI, 2008, p.115)

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Livro Int erativo Livros não convencionais têm, em uma proporção cada vez maior, sido explorados como importante recurso de comunicação. Essa não-convencionalidade pode caracterizar-se em diversos aspectos do livro: conteúdo, forma e modos de leitura. Esse teor “alternativo” nos aspectos formais do livro é característico de um trabalho de design. (DOMICIANO, 2008, p. 107)

Fazendo uso de técnicas gráficas o designer tem a oportunidade de expandir as possibilidades existentes em um livro convencional, criando novas formas e experiências de leitura. As interações que podem ser criadas possivelmente são muito benéficas quando são capazes de potencializar o texto e as ilustrações presentes em um livro, gerando novos conteúdos e formas de leitura. Tais recursos podem gerar a tridimensionalidade do objeto e possibilitar que o leitor envolva outros sentidos além da visão na leitura, o que pode ajudar a compreensão da mensagem que se busca transmitir.

Uso de eixos e pinos: eixos e pinos são usados na montagem de páginas para a criação de movimentos rotativos. Os slides estão também presentes aí para possibilitar a movimentação.

Uso de abas deslizantes (slides): o uso de slides é muito variado. Ele serve para criar vários efeitos onde, através da movimentação de uma aba que faz o papel de alavanca, a imagem a ela ligada pode aparecer ou desaparecer, movimentar-se, ou mudar de posição.

Em seu estudo, Domiciano (2008) pontua diversos recursos gráficos que extrapolam o papel planificado. A seguir serão elencadas as técnicas utilizadas neste projeto.

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Dissolução de cena: esta técnica é bastante antiga e possibilita a passagem de uma cena para outra. As duas cenas são reproduzidas em forma de disco ou faixa onde, através de cortes, elas serão encaixadas e, com o deslizar, sobrepostas.

mento de elementos totalmente desconexos, ligados apenas pela força eletromagnética.

Uso de Bolsos: a utilização de estruturas que atuem como bolsos/envelopes possibilitam o armazenamento de outros elementos dentro do livro. Uso de abas (flaps): o uso desta técnica proporciona vários efeitos e pode ser útil para aumentar a profundidade (fazer a figura sobressair-se à página); revelar outras imagens através da movimentação das abas; mudar a cena.

Essas, entre outras, técnicas alternativas são muito utilizadas nos livros infantis, servindo como atrativo para chamar a atenção do público infantil, enriquecendo a experiência e o repertório dos jovens leitores. Uso de Ímã: a aplicação do ímã em pontos estratégicos possibilita o deslocamento e o posiciona-

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Público Alvo Inicialmente este projeto foi destinado a crianças em fase de alfabetização, entendendo por alfabetização o processo pelo qual se adquire o domínio de um sistema linguístico e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever. Porém, uma criança que, mesmo sem dominar o sistema linguístico, tenha habilidades de coordenação motora, identificação e reconhecimento de imagens e códigos pode fazer usufruto deste trabalho, sendo que o livro projetado atua também como um objeto lúdico e pode servir como uma ferramenta que pode despertar o interesse pelo universo literário. A evolução da leitura e da escrita, tendência natural, expressiva e criativa da criança, pode ser facilitada pelo educador por meio de atividades lúdicas, que servirão de apoio ao desenvolvimento da linguagem falada e ao processo de aquisição da linguagem escrita. (Em: <http://www.editoradobrasil.com. br/educacaoinfantil/letramento_e_alfabetizacao/ educacao_infantil.aspx> Acesso em: 15 dez. 2013 )

Diferente do que antigos teóricos defendem, a criança não é uma mera receptora de informações. “Uma nova visão sobre a infância é instaurada, onde a criança encontra-se num processo de apropriação, reinvenção e reprodução, principalmente através das linguagens e das rotinas culturais.” (DOMICIANO,

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2008, p.40) Sendo assim, a criança tem o poder de atribuir, constantemente, novos significados e funções aos objetos com os quais tem contato. Desta forma o produto destinado a este público pode ultrapassar todas as expectativas a ele impostas nas mãos de seus usuários. Outro ponto relevante em relação ao público infantil é a importância que tal público desempenha no âmbito mercadológico. Domiciano (2008) ainda ressalta a grande importância deste mercado, formado por crianças que são facilmente impactadas pelos diversos meios de comunicação que as rodeiam e que se tornam poderosas ferramentas de consumo, uma vez que influenciam o poder de compra de seus pais. Desta forma é imprescindível o desenvolvimento de um produto que seja, não apenas de qualidade, mas que também apresente um diferencial em relação aos seus similares no mercado e que possa se destacar dos demais.


A Ilust ração e o Design O ato de ilustrar um livro inclui vários processos. Muitas vezes no desenvolvimento de seu desenho, o ilustrador acaba criando um estilo próprio. Porém, Farbiarz (2008) orienta que para a ilustração desempenhar bem sua função, o profissional não deve prender-se a esse único estilo, ele deve modificá-lo, adequando-o ao conceito da história a ser ilustrada. Neste sentido, o tema da narrativa influencia na escolha da técnica, do traço e da complexidade da ilustração. “Cada livro pede uma solução específica, da mesma forma que uma história nunca é igual à outra.” (LINS, 2003, p.36). Tal ideia reflete claramente a base do design, a busca constante por projetar a melhor solução para cada problema específico, pois cada caso pede um resultado adequado. Oliveira (2008) comenta que no projeto de um livro temos que considerar as relações entre as manchas de texto, a tipografia empregada, os espaços em branco, as vinhetas, as ilustrações, enfim, todos os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais que estruturam tal peça gráfica. Além destes aspectos, na elaboração de um livro infantil existem outros fatores que influenciam as tomadas de decisão.

Sendo um produto industrial, o livro infantil está sujeito a imposições técnicas e pedagógicas, é resultado de um trabalho artístico cooperativo e, como tal, tem que responder aos anseios estéticos de todas as partes envolvidas, além de atender às expectativas emocionais e psicológicas do público leitor que escapam da teoria e de toda a metodologia de trabalho. (LINS, 2003, p.44)

No desenvolvimento deste projeto buscou-se a elaboração de um produto final coeso, cujo cada componente fosse respeitado e as partes fossem capazes de potencializar o conjunto, para que assim fosse gerado um resultado atrativo e enriquecedor para o público alvo.

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Uma abordagem da compreensão e da análise de todos os sistemas exige que se reconheça que o sistema (ou objeto, acontecimento, etc.) como um todo é formado por partes interatuantes, que podem ser isoladas e vistas como inteiramente independentes, e depois reunidas no todo. É impossível modificar qualquer unidade do sistema sem que, com isso, se modifique também o todo. (DONDIS, 1997, p.51)


Referências Visuais Durante o desenvolvimento deste projeto foram observados inúmeros trabalhos os quais serviram como inspiração e referência para a escolha da técnica empregada ou do estilo de representação utilizado nas ilustrações. A seguir, alguns artistas cujos trabalhos serviram, de forma relevante, como referência para este projeto.

Mip Referência de forma de representação dos personagens

Fig. 06: Ilustração de Mip

Fig. 07: Ilustração de Mip

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Emilia Dziubak Referência de estilização, textura e cores

Fig. 08: Ilustração de Emilia Dziubak

Fig. 09: Ilustração de Emilia Dziubak

Fig. 10: Ilustração de Emilia Dziubak

Fig. 11: Ilustração de Emilia Dziubak

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Cris Eich Referência de técnica, cor e textura.

Fig. 13: Ilustração de Cris Eitch

Fig. 12: Ilustração de Cris Eitch

Fig. 14: Ilustração de Cris Eitch

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Scott. C. Referência de forma de representação dos personagens, de traço e principalmente de técnica.

Fig. 15: Ilustração de Scott C.

Fig. 16: Ilustração de Scott C.

Fig. 17: Ilustração de Scott C.

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Similares A análise de similares teve enfoque em dois pontos indispensáveis para a composição deste projeto: Ilustração/Projeto Gráfico e Interatividade. Foram analisadas várias obras, porém após uma análise superficial, foram selecionadas duas obras que nortearam o desenvolver de todo o projeto.

Oliver Jeffers: Achados e Perdidos

Fig. 18: Oliver Jeffers

Oliver Jeffers é um artista plástico australiano que se tornou um grande ilustrador de livros infantis e atualmente vive em Nova Iorque. Ele já publicou diversos livros de sua total autoria, tanto texto como ilustrações, sendo que, alguns deles, já foram traduzidos em mais de 30 idiomas distintos. Em seu site é possível visualizar a diversidade de seu trabalho e a riqueza de seus estilos. Nele o ilustrador retrata vários aspectos da criação de cada obra, desde sketchs até as artes finais - www.oliverjeffers.com. Sua obra mais famosa, “Achados e Perdidos” (Lost & Found), serviu de inspiração e referência durante o desenvolver deste trabalho. Como citado anteriormente, ela foi a obra responsável pela definição da ideia base deste projeto, uma vez que o primeiro contato com tal livro resultou em uma forte identificação.

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“Achados e Perdidos” possui ilustrações em aquarela que carregam leveza por todas as páginas. Tal leveza é propiciada não só pelas ilustrações, mas também por todo projeto gráfico desenvolvido para a obra. Existe uma alternância entre as páginas, variando entre páginas totalmente preenchidas, com a ilustração tomando toda a área, e páginas com grandes espaços brancos, com ilustrações com pouco ou nenhum cenário. Tal recurso proporciona uma leitura dinâmica e bastante agradável, sendo este um ponto muito almejado no trabalho realizado. Esta obra e este ilustrador contribuíram de forma direta para a composição do projeto de cada personagem, ilustração e até diagramação de cada página no livro aqui descrito.

Figs. 19 e 20: Livro Achados e Perdidos

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Figs. 21- 23: Detalhes do livro Achados e Perdidos

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Fig. 24: Steve Augarde

Steve Augarde: Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau Steve Augarde é um autor e ilustrador de livros infantis que atualmente vive no Reino Unido. Porém sua maior importância para este trabalho não esta ligada diretamente com nenhuma destas duas funções e sim com o seu excelente trabalho com a engenharia de papel. Em seu site é um pouco complicado de obter mais informações a respeito de sua obra, porém é possível visualizar que ele possui vários livros publicados - www.steveaugarde.com. Fig. 25: Livro Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau

O contato com seu exímio e cuidadoso trabalho se deu há muito tempo. O livro “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau” foi ganho durante a passagem para a escola primária e sempre foi foco de muito interesse e curiosidade. A obra conta com texto de Mathew Price, ilustrações de Jan Lewis, mas o que foi responsável por despertar tamanho apreço pelo livro foram as interações, o extremo cuidado com o papel que proporcionava inúmeras formas de aproveitar a história, fruto da arte de Augarde. O livro conta com eixos, abas, slides, pop-ups entre outros recursos menos convencionais. Tais interações tão bem projetadas foram objetos de estudo para a realização das interações do livro produzido.

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Figs. 26 e 27: Detalhes do livro Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau

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Considerações da Análise Tais similares, apesar de serem apenas dois, acompanharam a criação e concepção da maioria dos aspectos desenvolvidos neste projeto. Nas obras apontadas foi possível observar a aplicação com sucesso dos conceitos os quais se pretendia utilizar. As ilustrações de Jeffers complementam e valorizam o texto por ele criado. Tal livro é um grande parâmetro, uma vez que é considerado pela crítica especializada um livro de qualidade e é vendido em diversas partes do mundo, sendo capaz de se adequar a diversos públicos por meio da simplicidade e leveza de sua linguagem. Já Augarde desenvolve um trabalho de eximia precisão, foi capaz de criar um livro coberto de surpresas que dialogam diretamente com a história ali narrada. Seu trabalho com a engenharia de papel é muito interessante de ser observado e estudado. Seus esquemas serviram de base para a maioria das interações que foram aplicadas neste projeto.

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Projet o A metodologia projetual empregada neste trabalho foi bastante inusitada. Diferente do habitual, primeiramente, se estabeleceu o processo para então estipular o projeto a ser desenvolvido.

Técnica Uma vez tomada a decisão de que este trabalho consistiria na ilustração e diagramação de um livro infantil interativo, a primeira escolha realizada foi em relação à técnica que seria empregada nas ilustrações. A técnica eleita foi a pintura com aquarela. Alarcão (2013) ressalta que uma das mais versáteis e apaixonantes técnicas de pintura, a Aquarela é também cercada de mitos: difícil, caprichosa e até imprevisível. Ele comenta que compreender a interação entre diversos aspectos como o comportamento da água, a influência da gravidade, a concentração dos pigmentos e o papel, são os primeiros passos que permitirão ao aquarelista iniciante desvendar os seus mistérios. Porto (2013) relata a estimativa de que a pintura com aquarela tenha surgido há cerca de 2000 anos, na China, simultânea ao surgimento do papel e dos pincéis de pelos de coelhos.

Sabe-se que atualmente a aquarela pode ser encontrada em pastilha, tubo ou mesmo líquida, pronta para uso. A tinta utilizada por ilustradores é de nível profissional, sendo sua composição muito mais pigmentada que a de uso escolar. A aquarela pode ser aplicada por meio de diversas técnicas, gerando efeitos diferentes e a tinta ainda tem como característica principal a sua transparência, sendo sempre necessária a conservação dos brilhos e a sobreposição de camadas para as áreas mais saturadas. A aquarela pode ser aplicada em diversos suportes, porém seu melhor desempenho se dá em papel. Este suporte necessita de gramatura elevada e composição compacta da trama para que não se esfarele com o uso abundante de água, característico da técnica, durante a execução da pintura.

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A escolha da aquarela se deu, principalmente, com base em uma pesquisa anterior, na qual foi possível observar o emprego de diferentes técnicas manuais na ilustração de livros infantis. Sendo que a ilustração em aquarela recebe grande destaque pela suavidade e delicadeza que proporciona, construindo uma relação, bastante interessante, de valorização mútua quando combinada com textos simples e leves, facilmente encontrados na literatura direcionada as crianças. Outro aspecto q contribuiu para a escolha da técnica foi o desejo por conhecer melhor e desenvolver a habilidade com esta forma de pintura, uma vez que ilustrações em aquarela de diversos artistas são focos de grande apreço pessoal, e sempre houve o interesse de desenvolver tal capacidade de representação.

Fig. 28: Estudo feito com aquarela para conhecer melhor a técnica (baseado na cena do filme “La Luna“)

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Estilo de Representação Em seu livro, Camargo (1995) associa os estilos de representação às diversas atitudes que um ilustrador pode ter em relação ao que vai ilustrar. O autor comenta ainda que no momento da composição, o ilustrador pode tomar um objeto como modelo para seu desenho e ao representá-lo, pode aproximar-se ao máximo da realidade ou então afastar-se, obtendo um resultado mais abstrato ou distorcido da figura. Estas diferentes atitudes que o profissional pode ter diante do que se tem para ilustrar caracterizam os diferentes estilos de representação. O autor ainda aponta alguns estilos presentes nas ilustrações para livros infantis, como descrição, geometrização, rabiscação, estilização, humanização e quadrinização, sendo estes, muitas vezes, combinados entre si. Com base na consulta de referências visuais, decidiu-se pelo desenvolvimento de ilustrações que fossem descritivas (caracterizadas pela ênfase na função descritiva da imagem), estilizadas (com formas simplificadas e abstraídas) e com a presença de leve humanização (com a atribuição de características humanas, como atitudes e expressões a seres dos reinos mineral, vegetal, animal e a objetos).

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Texto Com a técnica de ilustração e o estilo de representação escolhidos, buscou-se encontrar uma história, voltada ao púbico infantil, capaz de possibilitar a constituição de um livro interativo e resultar em um produto final relevante e atraente. Desta forma foi realizado um levantamento de textos com as seguintes características:

Narrativas curtas e descontraídas Textos que pudessem colaborar com o processo de alfabetização do público alvo, conversar diretamente com a técnica de ilustração escolhida e favorecer a aplicação das interações de modo a valorizar a experiência do leitor.

Histórias com pouca descrição Textos mais objetivos, que não coibissem o desenvolvimento das ilustrações, tendo em vista o estilo de representação pré-determinado, já que textos muito descritivos resultariam em conflitos de excesso de informação e a repetição da narrativa verbal na visual causaria um efeito negativo de redundância.

Número considerável de personagens Textos que contivessem vários personagens, sendo estes humanos e não humanos, visando o exercício e o estudo da abstração e representação de figuras diversas.

Foram levantados diversos textos, como poesias, fábulas, contos, parlendas e até mesmo canções, mas não era possível encontrar um texto que suprisse todos os critérios pré-estabelecidos. Então em meio a antigos livros foi encontrado um que é detentor de maior apreço entre os livros recordados de minha infância. “PIC-PIC” é uma história leve, curtinha, bastante objetiva, bem humorada, regada a rimas e possui onze personagens, entre animais e crianças. Por suprir todas as características idealizadas, além de representar um grande laço emocional, o livro “PIC-PIC” de Eloisa Ponzio foi selecionado para ser ilustrado e diagramado neste trabalho. A antiga versão é de 1991, foi ilustrada por Heloisa Galves e fazia parte da coleção “Adoleká” da Editora do Brasil. Seu formato é de 17x24 cm e possui dezesseis páginas. A narrativa conta com recursos a fim de auxiliar o processo de alfabetização do leitor, como a identificação de sons finais, a discriminação auditiva e o exercício da atenção. As imagens referentes a versão completa do livro “PIC-PIC” original está contida para consulta ao final deste relatório, como anexo.

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O Aniversário do Totó Foi uma festa legal Todo Convidado Levou um animal Tonico levou seu Mico Ritinha a sua Coelhinha Renata levou sua Gata Caio foi com o Papagaio E não podia faltar Lucinha e sua Galinha Todos tinham lugar Cada um com seu par Na hora do PIC-PIC Formou-se a confusão Porque no meio da música Estourou um balão Corre, corre, pula, pula Todo mundo se escondeu E no meio da bagunça Veja só o que aconteceu Lucinha e a Gata Entraram numa lata Tonico e a Galinha Assopraram a velinha Ritinha e o Macaco Caíram num buraco Renata e a coelha Voaram como abelha Mas Caio e o Papagaio Não estavam mais no galho Todo mundo preocupado Ajudou a procurar Com o susto e a tremedeira Foram parar na geladeira

Fig. 29: Capa do livro original

(Texto Completo de “PIC-PIC”)

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Concept Art dos Personagens O texto selecionado possui onze personagens, sendo cinco deles humanos e seis animais. A história conta a confusão que aconteceu no aniversário do cachorro Totó, onde cada convidado levou seu animal de estimação. Sendo assim, cada personagem humano possui seu correspondente animal, sobrando apenas o cachorro, que como anfitrião da festa não possui dono. Dentro de cada dupla a criança foi projetada com base em alguma associação proveniente do animal que a acompanhava, sendo suas roupas e gestuais baseados em tal associação. Eles foram projetados de forma a tentar representar de forma plural todos os tipos de crianças, assim foram desenhadas crianças mais gordinhas, mais magrinhas, criança japonesa, negra, com óculos, buscando retratar todos, mesmo que em número reduzido, sem discriminação. Já os animais foram todos abstraídos com base no formato de uma gota, sendo que este

formato variava entre virado para cima ou para baixo. Eles ainda apresentaram pequenos traços de humanização, como comentado anteriormente, porém de modo suave a fim de não contrastar de forma brusca com os personagens verdadeiramente humanos. Para a colorização dos personagens foi utilizada um paleta bastante viva e contrastante. Cada dupla de personagens obteve uma cor característica, que seria sua representação em determinados elementos acessórios, como, por exemplo, no balão ou papel de presente. A seguir a descrição mais detalhada do desenvolvimento de cada personagem.

Fig. 30: Sketches da Lucinha e da Galinha

Fig. 31: Sketches do Tonico e do Macaco

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Fig. 32: Sketches do Tot贸

Fig. 33: Sketches do Caio e do Papagaio

Fig. 34: Sketches da Ritinha e da Coelhinha

Fig. 35: Sketches da Renata e da Gata

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Tonico e o Mico Tendo o macaco como animal de estimação, o personagem Tonico foi visualizado como um pequeno cientista.

Fig. 36: Estudos -Tonico e Mico

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Ritinha e a Coelha Ritinha recebeu roupas que buscavam remeter as dos mรกgicos clรกssicos, uma vez q ela tem uma coelha como animalzinho.

Fig. 37: Estudos - Ritinha e Coelhinha

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Renata e a Gata Renata aparece com roupa de bailarina, uma vez que seu animal de estimação é uma gata e tal animal possui charme e delicadeza bastante característicos ao ballet.

Fig. 38: Estudos - Renata e Gata

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Caio e o Papagaio Com o papagaio o visual de Caio foi totalmente inspirado nos clรกssicos piratas.

Fig. 39: Estudos - Caio e Papagaio

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Lucinha e a Galinha Lucinha ganhou roupas que remetem ao campo, já que seu animal de estimação é uma galinha.

Fig. 40: Estudos - Lucinha e Galinha

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Totó e a Formiguinha Como o cachorro não possuía parceiro descrito em texto, se pensou na criação de um décimo segundo pequeno personagem para acompanhá-lo em determinadas situações, tal personagem seria a formiga. Totó como aniversariante possui um chapéu de festa com todas as cores características das demais duplas.

Fig. 41: Estudos - Totó e Formiga

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Com a história e os personagens definidos começaram os estudos sobre as ilustrações, com reflexões quanto à quantidade de imagens, ao trecho da história que cada uma ilustraria, à variação de ambientes com e sem cenário e principalmente às interações. Primeiramente foram determinadas as dimensões das páginas do livro, visando um tamanho que além de chamar a atenção do publico infantil, possibilite um manuseio confortável das interações.

Primeiros Estudos Foram realizados vários estudos a fim de determinar quais recursos interativos seriam utilizados no livro e quais eram possíveis de valorizar mais cada cena descrita.

Fig. 42: Sketches gerais para as Interações

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24cm

Estudos das Páginas

23cm

46cm


Estudos Finais Alguns sketches das páginas internas após um estudo maior:

Figs. 43 e 44: Sketches das ilustrações com base nas interações pensadas

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Do Manual para o Digital Como dito anteriormente, as ilustrações foram coloridas com aquarela. Sendo assim, durante o processo foram utilizadas aquarelas Ecoline da marca Talens, papel 190g próprio para aquarela (Gummed Water Colour Pad) da linha Cotman da Winsor & Newton e pincéis - números 0, 2, 6 e 13mm/1/2”- de cerdas sintéticas também da linha Cotman da Winsor & Newton.

Para esta técnica o esboço não pode ser muito escuro, pois continua presente depois da pintura, uma vez que, como dito, a característica principal da aquarela é a transparência.

Fig. 46: Alguns materiais utilizados

Fig. 45: Início da Pintura

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Fig. 47: Detalhe do processo

Fig. 48: Detalhe do processo

Fig. 49: Ilustraçþes sem contorno

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Para desenvolvimento das ilustrações que iriam compor os elementos interativos foram utilizadas folhas de papel vegetal comum, com o objetivo de manter a proporção entre as formas.

Fig. 50: Detalhe do uso do papel vegetal

Fig. 51: Ilustrações utilizadas nas interações com ímãs

Fig. 52: Detalhe do processo

Em determinadas ilustrações foram realizados pequenos modelos das estruturas para possibilitar o desenho das formas de modo coerente.

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Uma vez finalizadas, as ilustrações foram digitalizadas por meio de um scanner comum. Com auxílio do software de edição de imagem Adobe Photoshop CS6 foram feitas pequenas correções em manchas de tinta no papel, além de estruturar as ilustrações para os mecanismos de interação, recortando os fundos e ajustando perfeitamente as proporções. A seguir as ilustrações utilizadas na base das páginas, já ajustadas para receberem os elementos relativos às interações.

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Figs. 53-70: Ilustrações do Interior do Livro

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Grid e diagramação Como citado anteriormente, o tamanho determinado para as páginas internas foi de 23 cm x 24 cm. O grid estipulado para a disposição dos textos seguiu as margens previamente estabelecidas durante a composição das ilustrações. Sendo assim a porção textual foi disposta respeitando a seguinte malha:

24cm

3cm

5cm

1,5cm

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2cm

4cm

23cm

2cm


Tipografia Para o interior do livro optou-se por utilizar a Pompiere, uma tipográfica mais orgânica a fim de acompanhar a suavidade das linhas das ilustrações, sem causar ruptura na linguagem das páginas, dialogando diretamente com as imagens. Tal tipografia ainda necessitava ser de fácil compreensão e legibilidade a fim de contribuir com a experiência dos jovens leitores. Para facilitar ainda mais tal leitura, a tipografia escolhida foi aplicada vezes como versal (todas as letras em caixa alta) e vezes como versalete (o formato das letras correspondente ao da caixa-alta, mas mantém altura de x e peso da caixa-baixa). Tais recursos foram utilizados tendo em vista o início do processo de alfabetização.

Começar a alfabetização com letra de imprensa maiúscula é uma tentativa de respeitar a sequência do desenvolvimento visual e motor da criança. Esse tipo de letra, por ter um traçado mais simples, possibilita uma ampliação de tempo para pensar sobre a escrita dos diversos tipos de texto, das palavras e das letras que devem ser usadas para representar os sons. (Em: <www.editoradobrasil.com.br/educacaoinfantil/ letramento_e_alfabetizacao/educacao_infantil. aspx> Acesso em: 10 dez. 2013 )

Já para a capa do livro elegeu-se a Euphorigenic, uma tipografia mais impactante e forte, mas ainda delicada, com o objetivo de chamar a atenção do público alvo e transmitir a essência do interior do livro.

Pompiere abcdefghijklmnopqrstuvwxyz abcdefghijklmnopqrstuvwxyz

Euphorigenic abcdefghijklmnopqrstuvwxyz abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 55


Mecanismos de Interação Como mencionado anteriormente, neste trabalho foram utilizados vários recursos gráficos para propiciar maior interação entre o leitor e o livro. Durante o projeto das ilustrações, todas as interações foram esquematizadas para que as imagens possibilitassem tais mecanismos. A seguir serão mais bem exemplificados os tipos de mecanismo utilizado no livro.

Ímãs Foi aplicada uma página imantada atrás da primeira ilustração da história, onde aparece o personagem Totó. Nela está conectado com o uso do ímã o chapéu de festa que o cachorro usa constantemente. Também foram aplicadas folhas de ímã em todos os presentes levados pelas crianças a fim de que possa se manipular e experimentar os objetos no cachorro.

Figs. 71 e 72: Exemplo interação com ímã

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Abas Este recurso foi bastante utilizado. É possível visualizá-lo na apresentação dos personagens, onde aparecem primeiramente as crianças e ao levantar a aba é possível ver os animais correspondentes. Este recurso também pode ser visto no momento da história no qual todos procuram por Caio e o Papagaio, as abas velam os outros animais escondidos em pontos estratégicos, como se estivessem “ajudando” na busca pelos desaparecidos.

Figs. 73 e 74: Exemplo interação com abas

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Bolsos Os bolsos foram utilizados primeiramente como embalagens para os presentes que cada criança trazia para o Totó. Dentro deles foram armazenados os acessórios imantados. Posteriormente este recurso pode ser observado como lata de lixo no momento em que a Lucinha e a gata entram na lata. Dentro deste bolso os personagens e mais alguns objetos foram enfileirados por meio de um fio.

Figs. 75 e 76: Exemplo interação com bolso

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Abas Deslizantes (Slides) Este recurso foi o mais utilizado. Ele está presente nos animais na cena que descreve que cada convidado tinha seu lugar com seu par, possibilitando a aparição dos animais ao lado de seus donos. O recurso também foi aplicado para representar o apagar da vela pelo Tonico e a galinha, a queda no buraco da Ritinha e do macaco, o voo da Renata e da coelha. Por último o slide foi utilizado para possibilitar a abertura da porta da geladeira na última ilustração do livro.

Figs. 77 e 78: Exemplo interação com slide

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Dissolução da cena Este mecanismo foi utilizado na cena do estouro do balão. Tal momento precisava ser representado com impacto e tal interação torna bastante drástica o efeito causado pelo acontecimento.

Figs. 79 e 80: Exemplo interação com dissolução de cena

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Eixo Esta interação foi a mais complexa de projetar. Ela serviu para representar a correria e a confusão causada após o estouro do balão. Como o totó não era citado em nenhuma das sequências que narravam tais acontecimentos, este momento foi aproveitado com o objetivo de também trazer maior destaque a este personagem. Foram utilizadas três aberturas e consequentemente três níveis de ilustração em um eixo circular atrás da página. Ao girar este elemento é possível visualizar o cachorro e sua formiga correndo por todo o cenário da festa.

Figs. 81 e 82: Exemplo interação com eixo

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Impressão Este trabalho termina com a produção de um protótipo do que seria o livro impresso industrialmente. Devido à presença dos mecanismos de interações, o livro não pode ser montado como em uma impressão padrão, uma vez que não seria possível imprimir frente-verso, já que cortes e colagens de elementos adicionais seriam fundamentais. Sendo assim, as páginas duplas foram impressas, receberam as intervenções necessárias e posteriormente foram coladas nas páginas seguintes, que também já haviam recebido as interferências básicas. Em uma produção industrial, facas especiais seriam utilizadas para fazer todos os cortes e vincos, o que possibilitaria uma grande otimização do processo. O aproveitamento do papel pode ocorrer não só com o tamanho que se foi estipulado para as páginas do livro, mas também por meio da disposição e posicionamento estratégico dos demais componentes necessários para as interações nos espaços livres entre as folhas. Para a construção dos protótipos, as páginas foram impressas em papel Supremo 250g/m2. Na montagem do modelo utilizou-se fita dupla face de alta fixação, cola branca e fita adesiva para prender e fixar as conexões necessárias.

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Considerações finais A concepção do livro interativo PIC-PIC consistiu em um grande aprendizado. Todas as etapas, desde a pesquisa, ilustração, diagramação, elaboração das interações e montagem do modelo, consistiram em uma rica experiência de projeto. Foi possível visualizar a importância do design em cada etapa e em cada detalhe. O levantamento e estudos realizados permitiram o contato com a teoria que, posteriormente, se tentou aplicar da melhor maneira possível ao projeto, buscando visualizar na prática um pouco do que é descrito pelos pesquisadores. Como descrito, as ilustrações realizadas foram manuais utilizando a técnica de aquarela. É interessante ressaltar que a pintura manual exige muita precisão e planejamento dos movimentos, uma vez que não existe a possibilidade de retornar ao passo anterior (como estamos acostumados na ilustração digital), sendo que em caso de erro é preciso recomeçar toda a ilustração. Tal fator proporcionou um grande amadurecimento no ato de desenhar e pintar, cada pincelada passou a ser muito bem pensada para que o trabalho não fosse perdido. Porém, para a construção das ilustrações das interações, mesmo fazendo uso de recursos de apoio e construindo esquemas de base, que mesmo que

todos os detalhes tenham sido cuidadosamente planejados, vários pequenos ajustes precisaram ser feitos digitalmente para que as proporções, encaixes e movimentos ocorressem da maneira correta, conforme o desejado. Mas foi apenas no momento de montagem dos protótipos que se pode tomar contato com os detalhes mais complexos. A imprecisão do corte manual e a grande diferença que mínimas distancias causam no posicionamento das peças dificultou consideravelmente a elaboração de protótipos de qualidade, que se aproximassem do real e que possibilitassem uma experiência favorável ao leitor. Contudo, foram utilizados pequenos gabaritos capazes de auxiliar muito o processo de montagem. Por fim o que acabou-se por construir foi além de um livro infantil interativo, este trabalho proporcionou a retomada de conceitos estudados durante toda graduação em Design Gráfico, possibilitando o contato satisfatório com a sensação de desenvolver um projeto desde a concepção da proposta inicial até a documentação de todo o processo de desenvolvimento projetual por meio deste relatório.

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Referências Bibliografia CAMARGO, L. Ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Editora Lê, 1995. DOMICIANO, C. L. C. Livros infantis sem texto: dos pré-livros aos livros ilustrados. Dissertação (Doutorado em Estudos da Criança)- Universidade do Minho. Portugal: UMINHO, 2008. DONDIS, D. A. Sintaxe da Linguagem Visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. JEFFERS, O. Achados e Perdidos. São Paulo: Moderna, 2010. Lewis, J. Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. São Paulo: Editora Ática, 1996. LINDEN, S. V. Para Ler o Livro Ilustrado. São Paulo: Cosac Naify, 2011. LINS, G. Livro infantil? : projeto gráfico, metodologia, subjetividade. 2. ed. São Paulo: Edições Rosari, 2003. NAKATA, M. K. A Ilustração não-digital e a ilustração digital: um estudo das etapas da produção para otimização da comunicação. Dissertação (Doutorado em Desenho Industrial)- Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho”. Bauru: UNESP, 2003. OLIVEIRA, I. (Org). O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008. OLIVEIRA, R. Pelos Jardins Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. PONZIO, E. Pic-Pic. 2. Ed. São Paulo: Editora do Brasil, 1991.

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Infografia Editora do Brasil. Letramento e Alfabetização na Educação Infantil. Editora do Brasil: Portal de Educação Infantil. Disponível em: <http://www.editoradobrasil.com.br/educacaoinfantil/letramento_e_alfabetizacao/ educacao_infantil.aspx> Acesso em: 10 dez. 2013. ALARCAO, R. Palestra e oficina sobre aquarela com Renato Alarcão. Coletivo Fake-fake. Disponível em: <http://www.fakefake.com.br/site/2013/09/20/palestra-e-oficina-sobre-aquarela-com-renato-alarcao/> Acesso em: 05 nov. 2013. PORTO, G. Aquarela. Info Escola: Navegando e Aprendendo. Disponível em: <http://www.infoescola. com/pintura/aquarela/> Acesso em: 05 nov. 2013.

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Imagens Fig. 01: O barco do Sol derrota a serpente Apófis. Parte do Livro dos mortos de Imenemsauf. Disponível em: <http://www.editoradobrasil.com.br/img/apoema/historia/recursos_pedagogicos/interdisciplinares/imagens_de_abertura/6_ano/imagem2_PAH6057-Abertura.jpg> Acesso em: 15 dez. 2013 Fig. 02: The House that Jack Built, McLoughlin Bros. Publishers, 1891. Disponível em: <http://www.bookstallsf.com/19th.html> Acesso em: 15 dez. 2013 Fig. 03: Tom, Ilustração de André Neves. Vencedor do Premio Jabuti 2013 de Melhor Ilustração de livro infantil e juvenil. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/estante-de-letrinhas/a-sensibilidade-de-andre-neves/> Acesso em: 15 dez. 2013 Fig. 04: Ilustração de Cris Eich. Disponível em: <http://gotadaguanopapel.blogspot.com.br/> Acesso em: 26 nov. 2013 Fig. 05: Ilustração de Jean-Claude R.Alphen. Disponível em: <http://www.jeanclalphen.blogspot.com.br/p/ ilustracoes.html> Acesso em: 26 nov. 2013 Figs. 06 e 07: Ilustrações de Mip. Disponível em: <https://www.behance.net/gallery/Slaza-Handbooks-Characters/11271825> Acesso em: 26 nov. 2013 Figs. 08, 09, 10 e 11: Ilustrações de Emilia Dziubak. Disponível em: <http://emiliaszewczyk.blogspot.com. br/> Acesso em: 26 nov. 2013 Figs. 12, 13 e 14: Ilustrações de Cris Eich. Disponível em: <http://gotadaguanopapel.blogspot.com.br/> Acesso em: 26 nov. 2013

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Figs. 15, 16 e 17: Ilustrações de Scott C.. Disponível em: <http://greatshowdowns.com/> Acesso em: 26 nov. 2013 Fig 18: Oliver Jeffers. Disponível em: <http://www.oliverjeffers.com/about.aspx> Acesso em: 20 dez. 2013 Figs. 19-23: Fotografias do Livro “Achados e Perdidos” (2010). Fig 24: Steve Augarde. Disponível em: <http://12books12months.com/2012/03/28/interview-steve-augarde/> Acesso em: 20 dez. 2013 Figs. 24-27: Fotografias do Livro “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau”(1996) Fig. 28: Fotografia de trabalho de própria autoria (2012) Fig. 29: Fotografia do Livro “PIC-PIC”(1991) Figs. 30-82: Imagens de conteúdo desenvolvido para este Projeto

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Anexo Imagens do livro “PIC-PIC” original (1991) para consulta e verificação de maiores detalhes.

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