Poético Diário por Laryssa Andrade

Page 1

Laryssa Andrade

Poético Diário


POÉTICO DIÁRIO


SUMÁRIO

Advertência

Capítulo um: Mar Oceans Canto Mar e Ana

Capítulo dois: Universo A problemática de ser céu Cadência Canto II Lua Dear Infinite Com quantos gritos o infinito surge? Cantos para unir versos Curva perigosa

Capítulo três: Poético Diário Capítulo quatro: Ser Mônica Ana Flor Afonso Pálida Maria Estevão Guiomar

Capítulo cinco: ...


“Entre lágrimas e medo vigiam-lhe a memória cinco séculos atlânticos”. - Neide Archanjo


Advertência

Foi em novembro que tudo começou. É certo que sinto saudade dos primeiros versos que escrevi e também das primeiras sensações que me foram colocadas assim que o primeiro poema eclodiu entre os meus dedos. Talvez por esse motivo resolvi reunir alguns versos e explicar as letras que me são doadas pela vida diariamente. Laryssa Andrade


CapĂ­tulo I

Mar


Oceans Esse mar que navego invade o meu interior e no instante que me toma invade minhas retinas e me põe a explorar o mistério que habita em mim

Canto Ultrapassei o estreito das tuas retinas para afogar-me de vez. então eis a graça observável: rasgar-te-ei para compor um poema

Canção de a(mar) A luz dos meus olhos encontra o oceano no instante que a aurora resolve ser passadodando lugar à chuva

me derreto no teu cais


Ana sabia que as gotas que despencavam do firmamento inundavam frequentemente isso que as pessoas chamam de corpo. Fora, um punhado de carne e dentro um temporal de poesia lĂ­quida.


CapĂ­tulo II

Universo


A problemática de ser céu Em cada íris uma constelação se sustenta e em cada constelação, apenas duas estrelas brilham: os olhos que choram asteroides e expulsam planetas. Saturno separou-se do anel e Marte agora é azul.


* Os olhos pesam e cessam: deram lugar à lua.

Canto dois Entram-me nos olhos todas as estrelas, a fim de tapar-me não as vias respiratórias e sim as lácteas

Lua me vista com a tua luz e faz o meu amor rodopiar nos teus salões traz até meus caminhos as tuas fases estáticas para o amor visite em Terra todos os corações


Dear infinite, demos os braços as mãos o tórax eo céu estrelado de duas bocas

agora somos um

Com quantos gritos o infinito surge? João me disse que eu poderia gritar bem alto e forte se eu quisesse alguma estrela perto de mim, mas eu percebi que o universo sempre esteve por inteiro ao meu lado e eu nunca consegui enxergá-lo. Tudo que me coube sempre transbordou pelas minhas frestas, acho que por esse motivo eu nunca me vi voando para entregar uma estrela de presente ao céu. 2014, memórias.


Cantos para unir versos

Transcendência de alguém que não sente: O infinito torna-se vácuo quando percebo que vomitei minha alma inteira.

Amar é estar em uma curva perigosa: é se perder nas silhuetas e chocar-se com o céu da boca.


Capítulo III Poético Diário


São os dias que passam sobre a cabeça e arrastam os meus dedos no papel fazendo-me sentir o que seria um poético diário, de fato. Não valho um tinteiro que pode preencher uma máquina, tampouco caibo no reconhecimento daquilo que vem a ser poesia; no entanto, eu sinto. Sinto que os meus dias são válidos mesmo que por vezes eu esqueça como se produz uma prosa. É intenso esse poetar. Nem cavo, nem findo, nem sou. Eu sinto. A poesia sempre gritou pelos quatro cantos dos meus dedos só que eu nunca soube dizer. A verdade é que eu tinha medo do que vocês, os verdadeiros poetas, fossem falar. Só que não cabia mais nada aqui dentro e mesmo sendo de forma errada eu percebia que alguns versos transbordavam pelas minhas frestas. Concluí que somos assim: cheios e intensos. Somos diários e poéticos, mesmo que minimamente. Então enchi meus pulmões de ar, digo, poesia; e aventurei-me por entre as sombras do nosso Eu. Por fim, falei “faça-se em nós a poesia”.


CapĂ­tulo IV Ser


Mônica não tem medo de nada, apenas de si mesma. Cria um dragão no peito e emudece as angústias mundanas com a sua liquidez poética. Deixa-lhe cair sobre o peito o estado daquilo o que vem a ser o universo. Desfaz e refaz tudo aquilo que um dia lhe coube. Explode para dentro enquanto gira no salão. Surgem estrelas. Mônica é céu.


O pulso abriu e em segundos o peito rasgou. Nos olhos rasgam margaridas e a boca rubra se esconde sozinha, dentro de alguĂŠm. Ana ĂŠ flor.


os laços de Afonso dão nó na garganta do coração são laços cegos que o vizinho do 530 não vê mas crê voltas imensas e sem voltas os laços se afogam o que fazer? deixar o coração morrer? Oras! desate o nó e deixe o coração bater

Pálida Maria A noite que trazia em mãos, servia para pregar pontos no peito. Dor e amor combinam e, segundo Maria, o sentido da vida assim caminhava.


Estevão esteve sempre só e como rio e como vão assim sempre foi: Esteve em vão

Guiomar sofria De esquecimento “Onde está o amor? Repetia. e se amava por dentro porque achava que havia engolido esse sentimento


Cap铆tulo V A cr么nica


Vi da janela do meu quarto centenas de pessoas acompanharem o cortejo. Eu não sabia. Era o velório do senhor José. Idoso de oitenta e cinco anos, morava sozinho num quartinho do lado da praça central da cidadezinha. Ninguém chorou. O senhor José não tinha amigos, parecia que todos estavam ali por obrigação. Cinco homens seguravam o caixão que não estava coberto por flores. Os homens até resmungavam sobre o peso do tal senhor que estava causando incômodo as “juntas” deles. Resolvi acompanhar tal caminhada. No mesmo instante passamos pelo bar do Paulo, e os bêbados dali não se importaram. Pelo contrário, acrescentaram doses e doses de cachaça com um pingo de limão em seus pequenos copos. O ardor da bebida causava chamas nas suas aparências; eram homens tão impuros quanto à alma vazia de um psicopata que diz ter vida injusta e tira a vida de inocentes que não têm absolutamente nada laçados com os problemas por ele vividos. Bebida. Ninguém ali se importou. Aquele senhorzinho que no caixão se encontrava, ia sentar no quinto banco da praça todos os dias; segurava seu jornal, e lia a mesma notícia desde a última década por ele vivida. Essa rotina era feita e acompanhada repetidas vezes pelos moradores. Ao entardecer pegava seu bloquinho de folhas, e com suas letras tortas escrevia a poesia. Poesia que ninguém via e lia. Poesia guardada no seu interior, mas que ele a levava aonde quer que fosse. Senhor José… O sol ia se por e ele voltava pro seu casebre. Preparava o seu café, e assistia o jornal das sete. Não entendia o que ali acontecia. Desligava a TV pressionando o botão vermelho. As sete e cinco ele ia deitar. Mas quem disse que dormia? Colocava sua mente pra pensar. Ás sete e meia levantava da cama acendia o candeeiro, pegava seu bloquinho e começava prosear. Começava a prosear sobre a prosa, a poesia, a solidão, a magia, as almas, a rotina, os humanos, os porquês, os livros, os jornais, os bêbados, os escritores, as mulheres, as prostitutas, a natureza e por fim o que ele realmente era. Senhor José foi embora. Senhor José, levou consigo a poesia. E no final daquela tarde o coveiro abriu sete palmos do chão, e colocou cuidadosamente o Senhor José para dormir eternamente. Ninguém jogou flores sobre o mesmo; ninguém o aplaudiu. Ninguém o reconheceu. Talvez ele não precisasse. O coveiro jogou terra, muita terra. E tapou os olhos do poeta, calou o poeta. Todos viraram as costas e voltaram sorrindo para as suas casas. Pronto. Rotina reativada. Menos um na população. Mas ninguém sabia que o poeta não morre. Senhor José sempre esteve ali, sempre. Nas ruas, nos bares, no brilho junto com os candeeiros, nas folhas, na caneta, no café, no quinto banco da praça, nos jornais, nas prostitutas, nas mulheres, na cachaça. Ele fora poesia. E quem foi que disse que a poeta morre? Engana-se. Ele está aqui ou acolá. Somos o senhor José.



l’amour c’est la vie! Obrigada, caro leitor. Até logo...


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.