Conceitos da Filosofia lean Aplicados à Logística dos Transplantes de Orgãos

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Conceitos da filosofia lean aplicados à logística dos transplantes de órgãos

Eventos

Fórum Brasil chega à 7ª edição

Autora: Vera Lucia Monteiro Orlando Fontes Lima Jr. LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes Faculdade de Engenharia Civil / Unicamp

Com programação rica em discussões, Comexlog acontecerá na Baixada Santista

Cláudia Rei, superintendente da TVB Band

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Novidades Com o objetivo de concentrar as atividades, facilitando a agenda dos participantes e palestrantes,

nesta edição o encontro se realizará em um único dia ficando mais ágil e otimizando o tempo. “Outra novidade é o local escolhido para o Fórum, o Clube de Regatas Vasco da Gama. Trata-se de um espaço amplo, moderno e bem localizado, com vista panorâmica de frente para a entrada do canal do estuário do Porto de Santos, que será o cenário dos programas gravados no dia do fórum. O novo espaço tornará o evento ainda mais agradável, no sentido de sua localização e fácil acesso”, revela Cláudia Rei. As inscrições podem ser feitas gratuitamente pelo site do Fórum Brasil ou no dia e local do evento. A sétima edição tem o apoio da TV Bandeirantes, ABTRA, ABTTC, e prefeituras do Guarujá, Cubatão e Santos.

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expectativas são grandes. Planejamos um formato diferenciado, mais dinâmico. Tivemos também bastante cuidado para listar pautas que abordem os assuntos mais relevantes para o setor. Contamos com novos parceiros e apoiadores, além de buscar nomes de peso para contribuir nos debates. Assim, esperamos crescer ainda mais, em qualidade e público nessa 7ª edição”, comenta Cláudia Rei, superintendente da TVB Band. O público alvo do Fórum Brasil são os profissionais de todos os setores ligados ao Porto de Santos e às atividades marítima, portuária e de logística, sendo, portanto aberto aos operadores de terminais portuários, agências marítimas e empresas de navegação, terminais portuários e retroportuários, despachos aduaneiros, setor de transportes rodoviário e de outros modais. Para o prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa, “muitas mudanças estão acontecendo na economia da nossa cidade e de todo o país desde 2006, quando foi promovido pela primeira vez o Fórum Brasil de Comércio Exterior e Logística. Na sua sétima edição, o evento reafirma seu papel como palco de debates, onde os participantes terão a oportunidade de acesso a informações fundamentais para a construção de políticas públicas e privadas relacionadas ao setor”, disse.

Foto: Marcelo Martins

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Mais uma vez, o Fórum Brasil Comexlog, evento representativo do setor de comércio exterior e logística no estado de São Paulo, aportará em Santos. A sétima edição acontecerá no dia 27 de junho e abordará temas de relevante importância, como novos projetos e melhorias no desenvolvimento do segmento. O Comexlog é promovido pela TVB Band Santos, com abertura às 9h, no Clube de Regatas Vasco da Gama, em Santos e contará com a presença de diversas personalidades que influenciam diretamente no cotidiano do setor, como o ministro dos Portos, José Leônidas Cristino, além de personalidades públicas que marcam presença devido à importância do encontro. “O Fórum Brasil ComexLog desse ano está repaginado. Por isso as

João Paulo Tavares Papa, prefeito de Santos

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M.a Vera Lucia Monteiro é

Engenheira Eletricista-Eletrônica com especialização em Administração de Empresas pela FGV-EAE/SP e Mestrado em Engenharia Civil pela UNICAMP. Possui 20 anos de experiência em Logística, atuando em empresas nacionais e internacionais. É professora do curso de Tecnologia em Logística da FATEC de São José dos Campos e pesquisadora no LALT/UNICAMP. (email: monteiro_vera@uol.com.br).

As técnicas do pensamento enxuto, ou Lean Thinking, têm sido amplamente aplicadas, com êxito, em várias indústrias. E da mesma maneira, quando aplicadas nos setores de serviços, têm colhido excelentes resultados. Um exemplo disso é a área da saúde, como será visto neste artigo. Afinal, o pensamento enxuto não é uma tática de fabricação, mas uma estratégia de gestão aplicável a todas as organizações, porque seu foco essencial é a melhoria dos processos. De acordo com Womack e Jones, o termo Lean Thinking refere-se ao “antídoto para o desperdício”. Por desperdício entende-se qualquer atividade humana que não acrescente valor. Contudo, o conceito de desperdício é amplo: pode incluir não apenas as atividades humanas como também qualquer outro tipo de atividade e recursos usados indevidamente, e que contribuem para o aumento de custos, de tempo e da não satisfação do cliente. Resumindo, a visão do Lean Thinking é produzir produtos (bens e serviços) com baixo custo, eliminando os desperdícios. No Brasil e no mundo, a literatura mostra vários casos de sucesso de sua aplicação na área da saúde. www.cargonews.com.br

Prof. Orlando Fontes Lima Jr. Professor Associado e Coordenador do LALT Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes da UNICAMP. Engenheiro Naval com mestrado e Doutorado em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP, e Livre Docência e Pós Doutorado pela UNICAMP. Foi Prefeito da UNICAMP , professor de Escola Politécnica da USP e passou 2007 em estudos sabáticos na Bournemouth University - Inglaterra. É presidente da ANPET Associação Nacional de Ensino e Pesquisa de Transportes, pesquisador do CNPq e coordenador de diversos projetos de pesquisa em parceria com universidades brasileiras e do exterior. Tem diversos artigos publicados na área de Logística e Transportes.

Eles incluem, por exemplo, processos de triagem de pacientes na emergência dos hospitais, sistemas de coleta de material para exames clínicos, distribuição de seus resultados, entre outros. Todas as iniciativas apresentaram ganhos comprovados, não somente em termos de simplificação e agilidade de seus processos - e consequente melhoria no atendimento a pacientes -, mas também com importantes reduções de custo para as organizações onde foram aplicadas. No entanto, não há notícias de sua utilização nos processos de transplante de órgãos. Transplantes de órgãos sólidos Transplantes são procedimentos complexos, com custos elevados. Qualquer melhoria em seus processos traz benefícios valiosos ao setor da saúde. Os transplantes são realizados sob rigorosas restrições, em virtude da escassez de órgãos. As economias geradas em seus processos serão sempre muito representativas quando comparadas com outras áreas da saúde. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Brasil é atualmente o terceiro país no mundo em número de transplantes, apenas superado pelos Es-

tados Unidos e pela China. Nos transplantes de órgãos, o tempo é a principal e mais importante restrição. Desde quando o processo de doação é iniciado, todas as atividades - da retirada do órgão do doador até o seu implante no receptor designado -, devem ser conduzidas no mais curto período de tempo possível. A preocupação com a rapidez em seus processos se justifica pelo limitado tempo de isquemia dos órgãos (tempo de duração para que se mantenham viáveis ao transplante, a partir da interrupção da circulação sanguínea), o que tem efeito direto na sobrevida do receptor. No Brasil, a lista de espera por transplantes tem crescido ano a ano. E sabe-se que de 5 a 10% das causas da não efetivação das doações têm por motivo problemas de logística. A mídia tem noticiado com frequência o crescimento do número de doações de órgãos no Brasil e o crescente aporte de recursos do Ministério da Saúde no setor. Apesar do crescimento do número de doações de órgãos a cada ano (conforme mostra a tabela 1), a lista de pacientes à espera de um transplante também tem crescido. Revista Cargo News | 37


Tabela 1: Evolução anual dos transplantes, em números absolutos (Fonte: ABTO, 2009)

A logística nos transplantes Do ponto de vista das atividades da logística, em cada transplante se repetem os processos de acondicionamento e transporte do órgão, e são levados em consideração os tempos de isquemia e as distâncias entre os doadores e os receptores. A logística envolve também atividades de provimento de recursos como: agendamento de salas cirúrgicas, abastecimento de materiais de consumo, equipamentos e pessoal especializados, além de todo o fluxo de informações entre as equipes envolvidas:

Desta forma, vêm à tona questões importantes relacionadas ao que pode e deve ser feito para melhorar esse processo, dando a ele condições de se tornar sustentável. Estas questões despertam o interesse do público em geral e das comunidades acadêmicas na busca de possíveis respostas que auxiliem o processo como um todo. Esse fato motivou uma investigação do potencial de melhoria que poderíamos obter a partir de uma aplicação das ferramentas Lean aos processos da logística dos transplantes de órgãos sólidos (rim, fígado, pâncreas, pulmão e coração).

Para se avaliar a aplicação de ferramentas Lean na área da saúde, foi desenvolvido um estudo em parceria com o Hospital das Clínicas de Campinas (HC/ UNICAMP). A unidade escolhida foi a hepática, o que permitiu acompanhar os processos citados anteriormente em um caso de transplante de fígado. Uma vez acompanhados os processos, foi desenhado o Mapa do Fluxo de Valor Presente, através do

O propósito de se avaliar a aplicação de ferramentas do Lean Thinking aos processos logísticos dos transplantes é auxiliar a identificação e a eliminação dos desperdícios nesses processos, tornando-os mais rápidos. Vale ressaltar que os desperdícios na área da saúde que devem ser identificados e eliminados, pois podem representar a cura ou até mesmo a vida dos pacientes -, enquadram-se nas mesmas oito categorias definidas para o Sistema Toyota de Produção (STP):

1. Serviços desnecessários ou superprodução 2. Erros ou defeitos 3. Atrasos ou esperas 4. Movimentações desnecessárias 5. Excesso de processamento 6. Excesso de estoque 7. Transporte em excesso 8. Criatividade não utilizada

Figura 1: Logística nos processos de transplantes

Aplicação de ferramentas Lean a um transplante de fígado

Na logística dos transplantes há processos-chave que devem ser considerados na aplicação de técnicas Lean: retirada do órgão do doador, acondicionamento, transporte, preparação do órgão e implante no receptor, além da troca de informação entre as equipes, que envolve todos os processos, conforme exposto na figura 2.

qual foram feitas análises críticas para se eliminar os desperdícios de cada etapa. Em seguida, foram feitas proposições de melhoria através da aplicação de ferramentas Lean, apropriadas a cada situação, com vistas a reduzir o Lead Time total do transplante eliminando-se os desperdícios encontrados. A figura 3 apresenta o Mapa do Fluxo de Valor Presente.

Figura 3: Mapa do Fluxo de Valor Presente O Mapa aponta os seguintes dados: Tempo de Valor Agregado = 404 min. = ~7 h Esperas e Desperdícios = 194 min. = ~3 h Tempo de Processamento Total corresponde ao Lead Time = ~10 h CNCDO: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos OPO: Organização de Procura de Órgãos E: Espera CPT: Retirada ACDMT: Embalagem TPT: Transporte PRP: Preparação TRPL: Implante.

O passo seguinte foi desenhar o Mapa do Fluxo de Valor Futuro Projetado representando o potencial de ganho no Lead Time, caso todas as melhorias sugeridas fossem implementadas com sucesso. A figura 4 apresenta esse mapa.

Figura 2: Processos-chave nos transplantes

Figura 4: Mapa do Fluxo de Valor Futuro Projetado

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Tabela 1: Evolução anual dos transplantes, em números absolutos (Fonte: ABTO, 2009)

A logística nos transplantes Do ponto de vista das atividades da logística, em cada transplante se repetem os processos de acondicionamento e transporte do órgão, e são levados em consideração os tempos de isquemia e as distâncias entre os doadores e os receptores. A logística envolve também atividades de provimento de recursos como: agendamento de salas cirúrgicas, abastecimento de materiais de consumo, equipamentos e pessoal especializados, além de todo o fluxo de informações entre as equipes envolvidas:

Desta forma, vêm à tona questões importantes relacionadas ao que pode e deve ser feito para melhorar esse processo, dando a ele condições de se tornar sustentável. Estas questões despertam o interesse do público em geral e das comunidades acadêmicas na busca de possíveis respostas que auxiliem o processo como um todo. Esse fato motivou uma investigação do potencial de melhoria que poderíamos obter a partir de uma aplicação das ferramentas Lean aos processos da logística dos transplantes de órgãos sólidos (rim, fígado, pâncreas, pulmão e coração).

Para se avaliar a aplicação de ferramentas Lean na área da saúde, foi desenvolvido um estudo em parceria com o Hospital das Clínicas de Campinas (HC/ UNICAMP). A unidade escolhida foi a hepática, o que permitiu acompanhar os processos citados anteriormente em um caso de transplante de fígado. Uma vez acompanhados os processos, foi desenhado o Mapa do Fluxo de Valor Presente, através do

O propósito de se avaliar a aplicação de ferramentas do Lean Thinking aos processos logísticos dos transplantes é auxiliar a identificação e a eliminação dos desperdícios nesses processos, tornando-os mais rápidos. Vale ressaltar que os desperdícios na área da saúde que devem ser identificados e eliminados, pois podem representar a cura ou até mesmo a vida dos pacientes -, enquadram-se nas mesmas oito categorias definidas para o Sistema Toyota de Produção (STP):

1. Serviços desnecessários ou superprodução 2. Erros ou defeitos 3. Atrasos ou esperas 4. Movimentações desnecessárias 5. Excesso de processamento 6. Excesso de estoque 7. Transporte em excesso 8. Criatividade não utilizada

Figura 1: Logística nos processos de transplantes

Aplicação de ferramentas Lean a um transplante de fígado

Na logística dos transplantes há processos-chave que devem ser considerados na aplicação de técnicas Lean: retirada do órgão do doador, acondicionamento, transporte, preparação do órgão e implante no receptor, além da troca de informação entre as equipes, que envolve todos os processos, conforme exposto na figura 2.

qual foram feitas análises críticas para se eliminar os desperdícios de cada etapa. Em seguida, foram feitas proposições de melhoria através da aplicação de ferramentas Lean, apropriadas a cada situação, com vistas a reduzir o Lead Time total do transplante eliminando-se os desperdícios encontrados. A figura 3 apresenta o Mapa do Fluxo de Valor Presente.

Figura 3: Mapa do Fluxo de Valor Presente O Mapa aponta os seguintes dados: Tempo de Valor Agregado = 404 min. = ~7 h Esperas e Desperdícios = 194 min. = ~3 h Tempo de Processamento Total corresponde ao Lead Time = ~10 h CNCDO: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos OPO: Organização de Procura de Órgãos E: Espera CPT: Retirada ACDMT: Embalagem TPT: Transporte PRP: Preparação TRPL: Implante.

O passo seguinte foi desenhar o Mapa do Fluxo de Valor Futuro Projetado representando o potencial de ganho no Lead Time, caso todas as melhorias sugeridas fossem implementadas com sucesso. A figura 4 apresenta esse mapa.

Figura 2: Processos-chave nos transplantes

Figura 4: Mapa do Fluxo de Valor Futuro Projetado

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Este mapa aponta os seguintes dados: Tempo de Valor Agregado = 404 min. = ~7h. = Tempo de Processamento (Lead Time) CNCDO: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos OPO: Organização de Procura de Órgãos CPT: Retirada ACDMT: Embalagem TPT: Transporte PRP: Preparação TRPL: Implante EDI: Eletronic Data Interchange FC: Fluxo Contínuo P: Padronização JIT: Just in time 5S: Metodologia dos 5 S (Limpeza e Organização)

Obviamente, nem todas as sugestões foram possíveis de ser implantadas em curto prazo. Contudo, algumas delas foram aplicadas de imediato. Por fim, um novo ciclo foi acompanhado para comparação dos lead times, antes e depois das implementações. A tabela 2 resume os ganhos obtidos entre os dois ciclos:

Tabela 2: Melhorias implementadas e ganhos obtidos

Conclusões Algumas intervenções propostas, como a troca de uma embalagem, a adoção de lacres de fechamento, revisões em protocolos de preparação do centro cirúrgico e de procedimentos de comunicação da equipe, implicaram em ganhos de mais de uma hora (83 minutos). Em um processo com sérias restrições de tempo, cuja rapidez pode determinar a sobrevida do paciente, qualquer minuto economizado é de extrema relevância. A etapa transporte foi identificada como a principal geradora de possíveis desperdícios de tempo. Por isso, é importante destacar que as re-

comendações de melhoria relacionadas à adaptação dos veículos, como a instalação de sirenes, luzes de alerta e um encaixe da caixa térmica, sejam postas em prática futuramente. Desta forma, seria garantida uma melhor performance para o transporte, caso seja impraticável que as etapas de retirada e implantação do órgão sejam realizadas no mesmo hospital. Vale complementar que as possibilidades de redução de desperdícios são muitas. Apenas no caso da embalagem terciária, novas soluções surgem diariamente. Pode-se chegar ao caso da perfusão do órgão (limpe-

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za com líquido conservante) ser feita dentro da própria caixa, durante a etapa de transporte, e desta forma, agregar valor a esse processo. Apesar de se tratar de um sistema não controlado, que envolve mais de um departamento, a filosofia Lean em transplantes foi aplicável com relativa simplicidade, gerando importantes ganhos em Lead Time mediante pequenas intervenções. Por isso, enquanto os cientistas não descobrem formas mais eficientes de produção de órgãos em laboratório, a busca pela redução de desperdícios pode e deve ser continuada.


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