Inovação Brasileiros

Page 1

revista bimestral de divulgação

científica | tendências | produtos | casos de sucesso | comportamento número 2 - abril/maio 2012 - www.brasileiros.com.br

tecnologia

supercomputador silvio meira Astrônomo Alex Carciofi, da USP, explica como a máquina calcula estrelas o inovador

O cientista brasileiro que entende o presente e espia o futuro produto

9 772238 241005

ISSN 2238-2410

0 0 0 0 2

R$ 9,90

lancha com ´ motor eletrico

Solução inteligente para navegar por aí sem poluir àgua e ar

50 anos da fapesp | o sapo da boa notícia | uma sacola para ser lida | a cubocc








Diretor Hélio Campos Mello Responsável heliocm@brasileiros.com.br Diretora de Patricia Rousseaux Planejamento patricia@brasileiros.com.br Gerente Eliane Massae Yamaguishi Administrativa eliane@brasileiros.com.br Gerente Marcio Lima Financeiro marcio@brasileiros.com.br Gerência de Jéssica Panazzolo Circulação jessica.panazzolo@brasileiros.com.br Gislaine de Oliveira gislaine@brasileiros.com.br Gerente do Banco Rosângela Paranhos de Dados rosangela@brasileiros.com.br Secretária Jéssica Nader jessica @brasileiros.com.br Copeira Irani Estrela Dantas

Gerência Simone Puglisi Comercial simone.puglisi@brasileiros.com.br Marcus Gurgel marcus.gurgel@brasileiros.com.br Assistente Cynthia General Comercial cynthia@brasileiros.com.br

inovação!Brasileiros

A Revista Bimestral de Inovação

Diretor Hélio Campos Mello Editorial heliocm@brasileiros.com.br Diretora Patricia Rousseaux de Planejamento patricia@brasileiros.com.br Redatora-chefe Fernanda Cirenza Coordenadora Cândida Del Tedesco Editorial Revisora Lilian Brazão Produtora Camila Picolo Fotográfica Diretora de Arte Dorien Barretto Ilustrador Marcelo Cipis Chefe de Arte Edson Cruz Assistente de Arte Marcelo Miliozzi e Produção Gráfica

Assinaturas assinatura@brasileiros.com.br A revista INOVAÇÃO!Brasileiros é uma publicação bimestral da Brasileiros Editora Ltda.

Rua Mourato Coelho, 798 – 8º andar - Pinheiros 05417-001 – São Paulo – SP Tel.: (55 11) 3817-4802 redacao@brasileiros.com.br comercial@brasileiros.com.br Consultoria Empresarial CEA, Consultoria Empresarial & Associados Luiz Antonio Castro Consultoria Contábil, Fiscal e Trabalista Oliveira & Nogueira Auditoria e Consultoria, Soluções Contábeis S/C Ltda. Impressão Plural Editora e Gráfica Ltda. Av. Marcos Penteado Ulhôa Rodrigues, S/N – Tamboré 06543-001 - Santana de Parnaíba - São Paulo Distribuição FC COMERCIAL E DISTRIBUIDORA S.A. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, sala A 06045-390 – Jardim Belmonte – Osasco – SP Código ISSN 2238-2410 Tiragem: 25.000 exemplares

SELO FSC

inovação | colaboradores | número 2|abril maio 2012|www.brasileiros.com.br Rodrigo Lara Mesquita, jornalista No Jornal da Tarde, fez um pouco de tudo: da separação de telegramas à editoria-chefe. Como repórter, gosta de se lembrar dos anos de cobertura do processo de ocupação do litoral de São Paulo nos anos 1970, que, entre outros, gerou a Fundação SOS Mata Atlântica, da qual foi o 1o presidente. Em 1988, dirigiu a Agência Estado, com a missão de inseri-la no mundo das redes digitais. Considera-se um repórter dos confins que estão nos limites da estruturação da sociedade em rede.

Mariana Baccarin, jornalista e produtora cultural Ela acredita na arte como um poderoso catalisador de mudanças na sociedade. Por isso, está envolvida com a Virada Sustentável. Depois do portal Terra, passou a colaboradora de várias publicações (revistas Alfa, Status, Marie Claire, RG, Criativa). Sente-se livre por não ter um carro e anda por aí de bicicleta e transporte público. Nesta edição, assina a coluna Tendências, que traz ideias e produtos inspiradores.

Dafne Sampaio, jornalista Formado em Ciências Sociais, o cearense-paulistano de 37 anos também colabora com as revistas Piauí, Carta Capital, Audi Magazine, entre outras. Foi editor da revista Monet, da Editora Globo, e um dos fundadores do site gafieiras. Mantém o blog esforçado. Nesta edição, Dafne conheceu como funciona a CUBOCC, uma empresa diferente das convencionais, em que o trabalho diário vira momentos de prazer. Marcos Pinto, fotógrafo Carioca e vascaíno, foi editor-adjunto e fotógrafo do jornal O Globo e subeditor do Jornal Q!. Cobriu a Olimpíada de Sydney, na Austrália, o Pan-Americano de Winnipeg, no Canadá, e a Football Expo 2000, em Cannes, na França. Gosta de fazer retratos, gastronomia e esportes. É coautor dos livros Praias do Rio, Veredas no Sertão Rosiano e Guia Carioca de Gastronomia de Rua. Atualmente, faz as imagens para O Guia Carioca de Gastronomia de Favelas.

Isabela Flórido, jornalista Ela se autodefine uma carioca “torta” por dois motivos: sempre dispensa a praia e o chope gelado. Na verdade, Isabela gosta mesmo do verde da Floresta da Tijuca ou do Jardim Botânico. Jornalista há 21 anos, ela já passou pelas redações do jornal O Globo, da revista Caras, e do portal globo.com. Mais recentemente, foi editora da sucursal do Rio de Janeiro da revista Hola. Também colaborou para diversas publicações importantes. No segundo número de Inovação!Brasileiros, ela traça o perfil inspirador da médica carioca Vera Cordeiro. Fabíola Musarra, jornalista Trabalhou em várias redações importantes do País, como revista Veja e jornais O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Folha da Tarde e Jornal da USP. Foi também chefe de redação dos jornais Shopping News/DCI e TodaModa Profissional. Nos últimos nove anos, Fabíola foi subeditora da revista Planeta. Atualmente, colabora em diversos veículos e escreve para o seu blog – fabiolamusarra.wordpress.com. Nesta edição, ela conta os detalhes de uma das empresas mais inovadoras do País, a Bombril.

fotoS: Arquivo pessoal

BRASILEIROS EDITORA LTDA.


inovação | cartas inovação | ciência

o empReendedoR BRasileiRo da ciência

O NEUROCIENTISTA E PESQUISADOR Miguel Nicolelis está revolucionando a medicina e a educação científica no Brasil. Para ele, transformar o avanço do conhecimento científico em algo rotineiro nas clínicas é o grande desafio da inovação no País

ASSINATURAS

www.assinebrasileiros.com.br

texto RicaRdo Bonalume neto * foto manoel maRques

Miguel Nicolelis é palmeirense roxo. Eu sou corinthiano relapso. Temos idades parecidas – fiz 51 em 2011, ele faz 51 em 7 de março deste ano. Ele é fã de carteirinha do ex-presidente Lula e votou na presidente Dilma Rousseff. Nunca votei neles. Apesar das diferenças, fizemos os 50 experimentos dos kits de educação científica Os Cientistas, lançados em banca de jornal pela Editora Abril nos anos 1970, que vinham em caixinhas de isopor. Além disso, entramos na Universidade de São Paulo (USP) no mesmo ano – ele em Medicina, eu em Jornalismo. Nossos caminhos profissionais foram paralelos. Um faz ciência, outro divulga ciência. Seja como for, é sempre interessante para um jornalista que cobre ciência há 25 anos conversar com o cientista brasileiro Miguel Nicolelis. Não só por ser um pesquisador de renome em neurologia. Ele é usina de ideias e projetos, alguns polêmicos, o que fez com que entrasse em colisão com alguns pesquisadores brasileiros que eram seus parceiros. Seu bom acesso aos políticos do PT no poder e aos meios de comunicação no Brasil e nos Estados Unidos

55 11 3512-9441

também desperta inveja. “Miguelomaníaco” é uma crítica que alguns fazem as ambições dele. Em um momento, Nicolelis pode falar de um experimento publicado em revistas científicas de prestígio, como a americana Science e a britânica Nature. Em outro, da educação científica de crianças e adolescentes em cidades do Nordeste brasileiro. Ou discorrer sobre dificuldades institucionais e culturais em induzir a inovação em ciência e tecnologia no País. Certamente, ele tem extensa milhagem de passagens aéreas. Professor da Duke University, de Durham, Carolina do Norte, Nicolelis estima que passa 70% do tempo nos EUA. O restante fica principalmente em Natal – a capital do Rio Grande do Norte é a sede do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS). Eu o conheci anos atrás em Natal, quando o instituto ainda era um sonho. Mas, desta vez, nossa conversa foi em uma casa no bairro do Sumaré, em São Paulo, que sedia a Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa

Inovação

Horário de atendimento: segunda a sexta-feira das 9h às 18h

PARA ANUNCIAR

comercial@brasileiros.com.br

55 11 3817-4802 31

FALE COM A REDAÇÃO

redacao@brasileiros.com.br LER A PRIMEIRA  edição da Inovação!Brasileiros

www.brasileiros.com.br

nos encheu de orgulho. Ficamos especialmente felizes em ver o tema inovação abordado de forma descomplicada, mas, ao mesmo tempo, criativa, consistente e profunda. Precisamos realmente dessas notícias. Parabéns pela iniciativa. Desejamos vida longa!

rev_brasileiros Revista Brasileiros

Rodolfo Guttilla, diretor de Assuntos Corporativos da Natura, São Paulo, SP

inovação | comportamento

só de bike

e a pé. até biblioteca sobre rodas circula por São Paulo, na tentativa de levar leitura e informação a quem se interessar. Mas a bike também é capaz de transformar para melhor a vida de quem optou por deixar o carro em casa e pedalar (ou caminhar) todos os dias por Sergio CruSCo

42

foto: fabiano aCCorSi

Robson Mendonça, ex-pecuarista e ex-morador de rua, criou a bicicloteca

Um dos veículos mais inovadores de São Paulo não requer tecnologia de ponta nem mecanismos automatizados. A Bicicloteca, um simples triciclo vermelho conduzido por Robson Mendonça, está na vanguarda por levar leitura e informação a quem vive à margem das bibliotecas formais, os moradores de rua. O próprio

Robson foi um deles – e, durante os seis anos em que viveu nas calçadas, lia tudo o que pudesse agarrar: jornais, revistas e livros que encontrava em suas peregrinações pela cidade, também em busca de latas, que vendia para garantir seu sustento. A sede de informação de Robson tinha um objetivo definido: aprimorar a

linguagem e a escrita para atuar frente ao Movimento Estadual da Situação em População de Rua de São Paulo. Em suas visitas a bibliotecas municipais, era vítima de duplo perrengue: não podia retirar livros porque não tinha como comprovar residência. Ex-pecuarista que perdeu todo o seu dinheiro em um assalto, Robson não

Inovação

Inovação

Excelente a edição  de estreia da Inovação!Brasileiros. A reportagem com o neurocientista Miguel Nicolelis é um exemplo de bom jornalismo. Até leigos no assunto entendem a dimensão do formidável projeto do cientista. Isso sem falar nos textos sobre alimentação saudável, que traz inúmeras informações. Gostaria de salientar a reportagem de comportamento que trata de tema tão atual: andar de bike ou a pé. Patricia Pacini, historiadora, São Paulo, SP

43


inovação | editorial

Ciência e poesia

por Fernanda Cirenza, redatora-chefe

10

Inovação

foto: camila picolo

Quando abrimos os trabalhos desta segunda edição da Inovação!Brasileiros, não imaginávamos um inesperado encontro. Poesia e ciência, essa foi a nossa surpresa. Encontrar em assuntos tão complexos, como a matemática, a física, a tecnologia, as matérias que nos fazem sonhar. Em nossa reportagem de capa, apresentamos o supercomputador instalado no Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, capaz de realizar 20 trilhões de cálculos por segundo, que trabalha duro com o propósito de ajudar os cientistas a desvendar os mistérios do universo. A entrevista com Silvio Meira, cientista-chefe do C.E.S.A.R, uma das instituições mais inovadoras do País, em Recife, também nos faz parar e pensar: esse mundo novo sacudido por transformações também está cheio de possibilidades. Uma delas pode ser vista na CUBOCC, que emprega jovens e investe pesado em ideias, mas nem por isso é uma empresa pouco lucrativa, ao contrário. Ou ainda quando navegamos com o barco Sterling Legend 28 Hybrid só na eletricidade, embora a embarcação comporte gasolina e diesel. A imaginação também corre solta na história da médica Vera Cordeiro, mentora da premiadíssima ONG Saúde Criança, que presta assistência a famílias carentes, que transcende ampolas, remédios e injeções. O projeto existe, dá certo no Rio de Janeiro e é referência em vários pontos do mundo. A aspiração (e por que não dizer esperança?) vem do artigo assinado pelo médico urologista Daher Chade, que participou de uma importante pesquisa internacional, que pode mudar o destino de muitos homens em tratamento contra o câncer de próstata. Essas e outras notícias fizeram a equipe da Inovação!Brasileiros sonhar acordada, porém, esperta e atenta para oferecer um amplo panorama sobre temas tão fascinantes. Aproveite e inspire-se. Até a próxima.


inovação | índice

12 16 18 20

16

22 26 33

TENDÊNCIAS

Caixa de som de bambu, móveis espertos e guarda-chuva ecológico. Conheça as novidades bacanas do mercado

PRODUTO

Lancha híbrida funciona a gasolina ou diesel. Mas é no modo elétrico que um mundo novo se revela ao navegante

EMPREENDEDORismo

Casal de brasileiros residente em Londres cria sacolas ecólogicas que carregam coisas e devem ser lidas

personagem

O paulistano Maurício Curi é o embaixador do TEDx no Brasil, braço nacional da rede global TED

tecnologia

USP, com apoio da FAPESP, compra supercomputador para ajudar os astrônomos a explicar o universo

entrevista

Silvio Meira, o cientista à frente do C.E.S.A.R, em Recife, fala sobre a vida no novo mundo: global e em rede

na rede

Ferramenta inovadora instalada no portal da Brasileiros incrementa a relação com os leitores. Experimente

caderno de divulgação científica Urologista Daher Chade escreve sobre câncer de próstata

36 38

36

42 44 46 50

42

56

ensino

Nova escola de computação gráfica é criada em São Paulo, em parceria com a norte-americana Gnomon

comportamento

Conheça os bastidores da agência CUBOCC, empresa que aposta em informalidade para fechar bons negócios

pesquisa

Entenda por que achar a espécie de anfíbio Brachycephalus didactylus no Espírito Santo é tão importante para o Brasil

desenvolvimento sustentável

Economia criativa: sucesso não depende só de dinheiro e máquinas. Depende, sobretudo, de boas ideias

saúde

A ONG Saúde Criança, criada pela clínica geral Vera Cordeiro, atende não só crianças carentes do Rio, mas toda a família

caso de sucesso

Aos 64 anos, a Bombril investe em comunicação, marketing e desenvolvimento de novos produtos

desenvolvimento científico

Referência internacional em gerenciamento e financiamento de estudos científicos, a FAPESP completa 50 anos capa Imagem sintética de uma estrela do tipo Be, produzida por equipe da USP

Inovação

11


inovação | tendências

olha que legal Caixa de som de bambu, scooter elétrica, bichos de pelúcia reciclados. Aqui, uma seleção de ideias sustentáveis, originais e cheias de design por Mariana baccarin

Inspiração russa Minimalista e inteligente, o mobiliário criado pelo designer Karim Rashid foi inspirado nas matrioshkas, aquelas bonecas tradicionais russas, que costumam ser guardadas uma dentro da outra. Ideia muito bem-vinda para quem tem pouco espaço na casa. Batizado de Matryoshkarim Nesting, o mobiliário feito de madeira certificada pode ser montado e desmontado, transformando-se em cadeira, mesa comprida, mesa lateral e apoio para os pés. As linhas curvas e as cores vibrantes marcam a inconfundível assinatura do star do design.

12

Inovação


Ohcib ed aicÙlep od osseva Não está entendendo nada do que está escrito acima? Esclarecimento: bicho de pelúcia do avesso, escrito ao contrário – ou do avesso. Explica-se: uma dupla de designers alemães frequentou os lugares mais mórbidos para os brinquedos, de acordo com a série de filmes Toy Story – creches e brechós –, atrás de bichos de pelúcia mal-amados. Samuel Coendet e Lea Gerber, do Atelier Volvox, de Zurique, resgataram vários desses brinquedos e deram a eles uma vida nova. Ou seja, virando os bichinhos do avesso e recosturando cada peça. Os novos/velhos brinquedos têm uma aparência meio bizarra, mas continuam simpáticos. A linha, batizada The Outsiders Toys, recebeu o prêmio alemão Recycling Design Preis deste ano. Mereceu. A ideia é muito original.

Inovação

13


inovação | tendências

Scooterescultura

Som na caixa A ideia é sensacional e foi criada pelo engenheiro Anatoliy Omelchenko, da empresa Triangle Tree, de Nova York. Trata-se de um gadget natural e, portanto, não usa pilhas e bateria para tocar o playlist de um iPhone. Quer saber como? É uma caixa de som que usa apenas (veja bem, apenas) a ressonância do bambu (sim, aquela planta) para amplificar o som. Por ser totalmente natural, nenhum iBamboo, como já foi batizada a peça, é idêntica à outra. Só que está em fase de estudo uma linha feita em plástico reciclado. As caixas industrializadas, que imitam o formato do bambu, serão todas igualzinhas, mas traz diferença no som, que sai um pouco mais seco do que o original. Por enquanto, para fazer uma festinha verde, só com iPhone 4.

A recém-lançada scooter elétrica Boox tem conquistado corações apaixonados por design. Leve e com apenas 1 m, foi desenvolvida para ambientes urbanos, onde espaço é item de luxo. Por ser pequena e cheia de estilo, pode (e deve) ser guardada fora da garagem – na sala ou mesmo no escritório. Sobre os aspectos técnicos: tem autonomia de 64 km entre as recargas, que podem durar de 1 a 4 horas, aguenta inclinações até 40 graus e suporta 136 kg.

Para escrever É só uma caneta, aparentemente igual às outras, mas, além de diminuir o impacto ambiental na hora do descarte, o exemplar é biodegradável, não deixa resíduos poluentes e reduz em até 60% a emissão de gás carbônico e em 30% o consumo de energia elétrica na fabricação. Feita de bioresina certificada, extraída do amido de milho, leva em média seis meses para desaparecer na natureza. O produto é da EkoBio.

14

Inovação


Faça chuva ou sol O guarda-chuva é ecológico. Feito de bambu e plástico biodegradável, ele protege da chuva e dos raios nocivos do sol – tem uma camada protetora dos temidos ultravioletas. Até a capa é feita de algodão orgânico. A peça, produzida sem nenhum produto químico, tem clara inspiração nas tradicionais sombrinhas japonesas, repare. Fabricado pela Brelli, aparece em três tamanhos (pequeno, médio e grande) e várias cores.

Inovação

15


inovação | produto

Navegar sem poluir

é preciso Sem barulho e sem fumaça. É assim que atraca e desatraca a lancha Sterling Legend 28 Hybrid. Apesar do nome, o barco é brasileiro – produzido na Sterling Yachts, empresa de Oliver Ilg e Plínio Romeiro

1

texto marcelo pinheiro fotos Hélio campos mello

A

presentada em outubro do ano passado, no São Paulo Boat Show, a lancha Sterling Legend 28 Hybrid tem dois motores – um de combustão a diesel ou gasolina, de 280 hp, e outro elétrico, com 9 kw – e foi um dos destaques do evento náutico. Desenvolvida pela Sterling Yachts, empresa brasileira instalada em Jaguariúna, no interior paulista, a lancha traz também a marca de pioneirismo da austríaca Steyr Motors, o primeiro fabricante em série de propulsores híbridos para fins náuticos. No modo de navegação de combustão, o desempenho confirma a robustez dos motores Steyr, utilizados onde há exigência de extrema confiabilidade, como em veículos das Forças Armadas de países como a Alemanha, Itália e França. Mas é no modo elétrico que um mundo novo se revela ao navegante. Impulsionado por quatro baterias de 200 Ah, o motor garante uma autonomia de duas horas e meia, em velocidade de 4,2 nós, e permite um deslocamento até dez milhas. Manobras silenciosas são feitas com emissão zero de poluentes. O motor híbrido garante maior segurança, caso haja uma eventual pane no motor de combustão. I 16

Inovação

2

4

3

5

Diagrama esquemático do motor híbrido

painel de controle do motor

unidade de potência eletromecânica carcaça híbrida embreagem volante do motor

estator rotor

6

motor diesel marítimo bateria de partida

unidade de controle híbrida

módulo de baterias 48 VDC

centro de controle

entrada de água do mar www.steyr-motors.com


1 A Sterling Legend 28 Hybrid é a primeira lancha brasileira híbrida brasileira, que navega a combustão e eletricidade. É uma lancha de passeio e a equipe da Inovação!Brasileiros experimentou o modelo na Represa de Guarapiranga, em São Paulo.

2 A lancha tem 28 pés (cerca de 9 m). Nada de ruído ou vibração típica de motores a explosão. No modo elétrico, a sensação é de tranquilidade, já que a tripulação não ouve qualquer barulho, a não ser o dos pássaros.

3 O painel de navegação da lancha, que comporta até dez pessoas e tem acabamento de luxo em teca, um tipo de madeira nobre.

4 Segurança: caso ocorra algum problema durante a navegação com o motor a combustão, é possível acionar o motor elétrico, que tem autonomia de duas horas e meia.

5 A lancha carrega a bandeira da Sterling Yachts, representante da austríaca Steyr Motors, fabricante de propulsores marítimos.

6 Desenho mostra, de forma didática, os detalhes de funcionamento do motor híbrido da lancha brasileira.

Inovação

17


inovação | empreendedorismo

Uma

sacola

lojas, restaurantes e hortas Os brasileiros Vanessa Al­­ meida e Luis Fernando orgânicas. Apesar da ótima aceitação Al­meida, o Neni, criaram e do público e do parceirodisponibilizaram em Lon-anunciante, Neni diz que dres, onde vivem há cinco a crise europeia não está anos, uma sacola pouco confacilitando o negócio. “Está vencional e muito criativa. difícil conseguir novos anunA MagBag – redução de ciantes. Por isso, parte dos Magazine Bag, que, em tragastos ainda sai do nosso dução livre, significa sacolabolso.” A boa receptividade -revista. De fato, é uma sacola da mídia e dos leitores, no que traz notícias. Pode ser entanto, deixa o casal ania imagem de uma criança mado. “Os negócios podiam desaparecida ou informações ser melhores, mas isso não sobre as green issues (questões sustentáveis). Mas tem quer dizer que a ideia não espaço ainda para receitas seja boa”, acredita Neni. “A sacola não custa nada vegetarianas, textos sobre ani, feita com para os clientes. A ideia é mais em extinção e dicas de material 100% reciclável, é uma como comprar móveis usados que tudo seja bancado pela e em bom estado. Na verdade, alternativa criativa à controversa publicidade e, futuramente, MagBag, colocada no merparte da renda seja repassada sacolinha plástica. cado londrino no final do ano para entidades envolvidas A ideia é de um casal de brasileiros passado, é o apelido, mas já com questões verdes.” Por pegou. Seja como for, o nome enquanto, os espaços não completo da publicação é preenchidos por propaganda por André de Oliveira Elpis Magazine Bag, fazendo abrigam anúncios gratuitos alusão à entidade grega de organizações não goverElpis, que representa a esperança. um programa de rádio da BBC. “As namentais, algumas delas com proFeita em papel 100% reciclável, é uma pessoas acabam se envolvendo com jetos, inclusive, no Brasil. alternativa às sacolas plásticas, que a MagBag”, explica. Além dos textos Além de fazer a sacola, Neni é editor da também causam polêmica em Loninformativos, a sacola traz, apenas nas B, revista que circula em Ribeirão Preto, dres. “Inicialmente, queríamos criar laterais, os anúncios de publicidade – interior de São Paulo, cidade natal do frente e verso estão reservados para as casal. Vanessa trabalha em uma escola uma revista que falasse de coisas em que acreditamos, como uma convinotícias. Os custos de produção da pri- preparatória para o CFA, exame de vência mais harmônica e ética com a meira tiragem foram bancados inteira- qualificação para profissionais da área mente pelo casal – o lançamento ocorreu financeira. Ao longo desses cinco anos natureza”, conta Neni. A ideia da sacola, impressa pela Welton em junho do ano passado com oito mil na Europa, eles descobriram que “ser exemplares e 18 pontos de distribuição. verde” na capital inglesa é muito mais – que trabalha com grandes lojas como Agora, na quarta edição, prevista para que moda. Um grande número de sera Primark e a Marks & Spencer –, ser lançada neste mês de abril, o casal viços e lojas, voltadas para os adeptos surgiu depois. “Existem milhares de conta com o apoio da Ecover – multi- da natureza, é a promessa de que não publicações gratuitas em Londres e nacional especializada em produtos de faltarão leitores para a MagBag, por nós começamos a pensar que mais uma limpeza ecológicos. Também cresceram enquanto apenas em Londres. I não faria diferença”, diz ele. a tiragem e os locais de distribuição: Foi aí que surgiu a ideia de trabalhar são 14 mil sacolas e 25 pontos, a Para saber mais sobre a MagBag, acesse com uma mídia alternativa. A sacola maioria no norte de Londres, como www.elpismag.org já virou até tema de reportagem em

para

ser lida

18

Inovação

foto: Arquivo pessoal

MagBag


Os brasileiros Luis Fernando e Vanessa Almeida, criadores da sacola

Inovação

19


inovação | personagem

Movido a

ideias Maurício Curi é o novo

embaixador do TEDx no Brasil, braço nacional da rede global TED. Nos próximos dois anos, tem pela frente o desafio de instigar os brasileiros a espalhar ideias capazes de mudar o planeta por Fabíola Musarra

20

Inovação

sem fins lucrativos fundada em 1984 pelos norte-americanos Richard Saul Wurman e Harry Marks. Com quatro iniciativas – TEDConferences, TEDTalks, TEDPrize e TEDx –, a organização internacional pretende transformar sua filosofia Ideas Worth Spreading (ideias que merecem ser espalhadas) cada vez mais em realidade. Sua ferramenta: divulgação em vídeo via web de todo o conteúdo gerado nas conferências que rolam no mundo. No Brasil, esses encontros, que acontecem desde 2009, chegaram aqui pelas mãos do mineiro Helder Araújo, um dos homens por trás da Webcitizen, plataforma digital na qual usa comunicação, design, antropologia e pesquisa para estimular o civismo. Além de promover o diálogo e incentivar pessoas, comunidades e empresas a organizar eventos presenciais e virtuais no estilo TED, Curi terá ainda de promover a integração da comunidade brasileira de organizadores de TEDx, instigando seu envolvimento com questões que superam as fronteiras e são discutidas nos eventos

globais. “Estou indo para Doha, capital do Catar, onde teremos um encontro com 700 outros organizadores TEDx e discutiremos ações integradas.” Antes de partir, ele antecipa os primeiros passos que dará para a ampliação do número de TEDx no Brasil: mobilizar comunidades paulistanas, como Capão Redondo e Heliópolis, para que também realizem TEDx locais. “Assim como o TEDxVilaMadá, acredito que cada região tem seu DNA, cujos ideais podem servir como fonte de inspiração.” Prestígio mundial

No fim de 2011, o trabalho desenvolvido no TEDxVilaMadá foi reconhecido pelo TED e pelos organizadores dos TEDx globais, como um dos sete eventos mais inovadores do mundo. “O Brasil é um dos países que lideram esse movimento. Temos mais de uma centena de organizadores de TEDx e estão previstos mais de 50 eventos para 2012”, diz Curi. Ele, aliás, orgulha-se de ser da Vila Madá (apelido do bairro Vila Madalena, zona oeste de

foto: montagem sobre foto geraldine petrovic

À primeira vista, Maurício Curi parece ser um homem tranquilo. Mas por trás da aparente calma habita um turbilhão de ideias. Dinâmico e empreendedor, Curi pode ser traduzido como um multitarefa: é CEO da Educartis, empresa de serviços no segmento de inteligência coletiva, e organizador do TEDxVilaMadá, considerado um dos sete núcleos mundiais mais ativos na área de inovação. Ao assumir a representação do TEDx no Brasil, o paulistano mostra a que veio: “Com a minha nomeação, fiquei mais alucinado em espalhar ideias que podem transformar o mundo positivamente.” Aos 47 anos, ele terá de se empenhar na divulgação e ampliação de um movimento que atua em mais de 800 cidades de 126 países. Nada mal, considerando que o TEDx é movido pela força de voluntários que têm um objetivo quase utópico: mudar o mundo a partir do valor das ideias. Seus embaixadores são escolhidos pela equipe do TED (o nome é formado pelas iniciais de Tecnologia, Entretenimento e Design), uma organização


São Paulo). É ali que ele não apenas mora, mas também trabalha – desde o início e não por acaso, a Educartis e o TEDxVilaMadá sempre ocuparam as ruas da região. Este último existe desde 2009, quando Curi decidiu fazer algo impactante na área. Conversou, então, com a equipe do TED e propôs aos colegas da Educartis liderarem um movimento local. “Em dezembro de 2009, fizemos o primeiro evento e não paramos.” O evento pioneiro tinha como tema Capital Humano em Redes Sociais – O Poder do Coletivo e foi realizado em um espaço que até então estava abarrotado de arquivos mortos da Escola Estadual Carlos Maximiliano, à época prestes a ser fechada. Para impedir que isso ocorresse, comunidade e empresas do bairro, professores, alunos, pais de alunos e ex-alunos se uniram, conseguindo dar os primeiros passos rumos à revitalização da escola. O antigo “salão” abandonado, agora reformado, transformou-se no atual Teatro da Vila, palco dos eventos do TEDxVilaMadá.

Orquestrado pela Educartis, o TEDxVilaMadá é independente, sem fins lucrativos e de caráter social. Seus eventos presenciais também são transmitidos ao vivo no site www.tedxvilamada.com.br, atualmente com mais de seis mil membros. Com duração de três horas, são temáticos e acontecem sempre na última quinta-feira do mês, quando

Outra ação inovadora do TEDxVilaMadá é a realização de webcasts semanais com transmissão on line, sempre às terças-feiras, das 17 horas às 18 horas. O último, realizado em março, abordou o tema Questões Globais de Acesso à Saúde. No bate-papo virtual, Roberto Kikawa, médico gastroenterologista, e Berenice Goelzer, engenheira civil e higienista ocupacional, falaram sobre a saúde no Brasil, o desenvolvimento da poliomielite, a malária e o HIV. Ser uma usina ideias não é fácil. A jornada de trabalho de Curi começa logo cedo. Levanta às 6 horas e dorme por volta das 23 horas. Tem ainda de dividir seu tempo com as filhas Dani e Bia. Para dar conta de tudo, ele dedica dois dias da semana ao TEDx, trabalho voluntário e não remunerado, cujos resultados acumulados são sociais e, talvez por isso, mais valiosos em um planeta múltiplo em transformações aceleradas. “Acredito que esse seja o papel de cada cidadão. Não basta estudar, se formar, trabalhar e enriquecer. Tudo isso só faz sentido se você compartilhar essas riquezas.” Para Curi, sociedade, empresas, governo e entidades de educação já começam a perceber o potencial de mudança desse movimento e o quanto ele tem mobilizado pessoas em cen-

Não basta estudar, se formar, trabalhar e enriquecer. isso só faz sentido se você compartilhar” cinco pensadores de diversas áreas compartilham suas ideias. A participação é gratuita e os presentes são convidados a contribuir por meio de doações. Toda a arrecadação é revertida para a reestruturação do Teatro da Vila. Para participar, é preciso se inscrever no site. Depois, essas apresentações são publicadas no acervo de palestrantes internacionais do TED (TED.com), no canal do YouTube.

tenas de países. Nosso zeitgeist (espírito do tempo) exige um desenvolvimento mais humanitário, inclusivo e capaz de unir diferentes frentes de ação, inteligência e tecnologia, para construir sociedades mais justas. “Por isso, pretendo intensificar o que faço. Gerar mais e para mais pessoas. Na Vila e até onde pudermos estender nossas ações”, conclui. Boa sorte, Curi. Nosso planeta agradece. I

Inovação

21


A imagem sintética, baseada em modelos computacionais desenvolvidos na USP, mostra uma simulação matemática da estrela zeta Tauri. Ela ilustra como uma pessoa que estivesse próxima à estrela a veria

22

Inovação

imagem: divulgação usp

inovação | tecnologia chapéu ?


O grande

cérebro supercomputador

da USP tem três torres que abrigam um cluster de 2.304 processadores. Ligados ao mesmo tempo, realizam 20 trilhões de cálculos por segundo para modelar galáxias, estrelas e colisões celestes. A máquina inaugura o Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas. Entenda, a seguir, o que ela é capaz de fazer por Fernanda Cirenza

Inovação

23


inovação | tecnologia

foto: christian tragni

É provável que haja planetas com vida e até vida diferente da nossa. só não temos ainda como provar”

Alex Carciofi, coordenador do Laboratório de Astroinformática, e o novo equipamento

O

supercomputador es­­­­­­­­tá instalado no terceiro andar do Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas, o IAG, da Universidade de São Paulo. Fica em uma sala trancada, uma espécie de vitrine. Ao passar por ali, o visitante dá de cara com o grande cérebro: três caixas de mais ou menos 2 m de altura por uns 80 cm de largura cada uma, que guardam 2.304 computadores. Dentro, o barulho dos equipamentos de ar condicionado é quase ensurdecedor, e luzes verdes piscando indicam que os processadores estão trabalhando duro. Eles funcionam simultaneamente para realizar 20 trilhões de complexos cálculos matemáticos por segundo. Esse conjunto de computadores – ou cluster – é um dos mais rápidos do mundo e opera exclusivamente para pesquisas em astronomia. Está na USP para agilizar as tarefas de cientistas que buscam respostas do universo. A máquina também inaugura o Laboratório de Astroinformática, um projeto coordenado por Alex Cavaliéri Carciofi, graduado em Física pela USP,

24

Inovação

doutor em Astronomia e professor do IAG desde 2009. É ele quem explica: “Mesmo com os maiores telescópios do planeta, o que se vê quando se observa uma estrela é pouco mais do que um ponto. Além disso, as visualizações são só uma referência primária, pois a luz que vem dos astros também traz dados importantes em seu espectro. Para que possamos entender o que os telescópios enxergam e traduzir esses dados em informações sobre o objeto estudado, precisamos de modelos matemáticos avançados. É aí, nesse momento, que entra em operação o supercomputador”. Em outras palavras, os novos processadores da universidade não observam nada, não captam imagens reais e surpreendentes do universo, mas realizam modelos matemáticos de sistemas astronômicos, que permitem aos pesquisadores criar exemplares sintéticos de galáxias, colisões entre galáxias, discos em torno de estrelas, entre outras imagens do universo. Pode ainda criar de forma sintética a morte ou nascimento de uma estrela distante. Melhor que isso, pode comparar esses modelos com o que se consegue ver a partir de observações telescópicas.


Ou seja, o aglomerado de computadores possibilita aumentar o grau de realismo físico ao rodar mais (e melhores) modelos matemáticos (simulações numéricas), usados para estudar os sistemas astronômicos – estrelas, galáxias e meio interestelares. “A natureza é extremamente complexa e tem sistemas difíceis de serem compreendidos na vida real. O nosso computador permite pesquisar essa complexidade”, afirma Carciofi. O grande cérebro foi adquirido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (veja reportagem sobre a fundação à página 56), em projeto conjunto entre a USP e o Núcleo de Astrofísica Teórica da Universidade Cruzeiro do Sul. Até o momento, o Laboratório de Astroinformática custou R$ 1,7 milhão e obrigou o IAG a fazer adaptações de construção, como reforço estrutural na sala em que o cluster foi instalado. Os custos também precisaram ser reavaliados. Só de cabos, foram gastos cerca de R$ 80 mil e, para ter ideia da potência, o cluster da USP consome energia elétrica que seria suficiente para alimentar quase 400 casas. Além disso, a máquina superpoderosa necessita de um suporte extraordinário de ar condicionado, sem isso, caso a refrigeração pare, a temperatura na sala do computador chegaria à marca de 60 oC em poucos minutos. Com esse equipamento, construído pela empresa Silicon Graphics International (SGI), um procedimento que levaria uma hora e meia para ser realizado, passa a ser em menos de dois minutos. Além disso, o computador coloca o IAG entre os institutos líderes do mundo em computação de alta performance. “Mesmo questões fundamentais, como a origem da vida, estão fundamentalmente ligadas à astrofísica. Estamos apenas desvendando os primeiros mistérios do universo”, afirma Carciofi. Assim, entender como nascem as estrelas mais massivas ainda é um dos mistérios

persistentes da astronomia moderna. Casado, pai de dois meninos – João, 9 anos, e Francisco, 5 – Carciofi, 39 anos, estuda e pesquisa estrelas massivas, algumas muito maiores que o Sol. Para essas estrelas, é a massa, junto à própria composição química, que determina a luminosidade, o tamanho e, em última instância, o destino delas. “O número de estrelas é enorme”, diz ele. Também são bilhões e bilhões de galáxias, o que leva Carciofi a pensar que existe vida fora da Terra. “Muito provavelmente há planetas com vida e talvez até vida diferente da nossa, com uma química baseada, por exemplo, no metano. Estatisticamente falando, é provável que haja vida fora daqui. Só não temos como provar.” Pelo menos, não por enquanto. I

Outras supermáquinas O computador mais rápido do mundo

do microprocessador Core i7-920,

é japonês. Chamado K, já chegou

da Intel, com um chip acelerador

a uma velocidade de dez petaflops,

criado pelos próprios pesquisadores.

o que significa que pode realizar dez

Sem esse chip, consumiria cinco vezes

quatrilhões de cálculos por segundo.

mais energia. O Grape-DR é usado,

Fabricado pela Fujitsu e pela Riken,

principalmente, para pesquisas sobre

possui 88,128 CPUs interconectadas.

astronomia. O segundo lugar entre

O teste levou 29 horas e 28 minutos

os ecologicamente corretos ficou com

e foi realizado com uma eficiência

um computador da IBM, na Alemanha.

de 93,2%. Mas os fabricantes querem mais. Segundo eles, o sistema operacional do K passa por um aprimoramento e a expectativa é conseguir um melhor desempenho. Existe ainda o computador mais “verde” do mundo. Desenvolvido por uma equipe da Universidade de Tóquio, no Japão, o supercomputador

O K é japonês e o mais rápido do mundo

Grape-DR foi escolhido para o primeiro lugar da lista Green 500, que mostra as 500 máquinas que causam menos danos ao meio ambiente. A conta é feita a partir de uma média entre o desempenho da máquina e o gasto energético dela. A equipe que a desenvolveu combinou 64 pares

O Grape-DR é o cluster mais ecológico

Inovação

25


Aturdido mundo novo

inovação | entrevista

silvio meira nasceu na Paraíba, mas é em Pernambuco que produz

sua ciência. Ele é chefe do C.E.S.A.R, uma das instituições mais inovadoras do País. Para entender mais sobre o agora e dar uma espiada no amanhã, o jornalista Rodrigo Lara Mesquita, especializado em articulação de processos nas redes e mídias sociais, conversou horas com o cientista, que conclui: “A internet é hoje quase como o ar que respiramos”

texto Rodrigo Lara Mesquita foto Paula Giolito

Formado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o temido ITA, Silvio Meira especializou-se em Ciência da Computação. Fez mestrado em Informática, pela Universidade Federal de Pernambuco, e doutorado em Computação, pela University of Kent at Canterbury, na Inglaterra. É, portanto, proprietário de dezenas de credenciais importantes – foi pesquisador do CNPq por mais de 15 anos, criou e coordenou o programa de doutorado em Ciência da Computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi assessor da Secretaria de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia, membro do primeiro comitê gestor da Internet/br, presidente da Sociedade Brasileira de Computação. Casado, pai de três filhos, Meira é ainda professor da UFPE e o cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), centro privado de 26

Inovação

inovação que cria produtos, serviços e empresas com tecnologia da informação e comunicação. Desde 1996, ele desenvolve projetos e serviços que cobrem todo o processo de geração de inovação – da criação à execução de projetos. Motorola, Samsung, Vivo, Bradesco, Unibanco, entre outras empresas, trabalham ou já trabalharam em parceria com o instituto de Meira – bom lembrar que Recife concentra ainda outros núcleos de informática, como o Porto Digital, o maior polo empreendedor de informática do Brasil, o Instituto Tec­nológico de Pernambuco e a Universidade Federal. Aqui, Meira fala sobre inovação, criação, tecnologia, vida em rede. Para ele, as novas ferramentas chegam para nos libertar, e não nos aprisionar. Ao que tudo indica, segundo o cientista, o mundo até poderá ser mais simples e com muitas oportunidades. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.


Inovação

27


inovação | entrevista

Vivemos em um mundo fora do ambiente Universitário, um mundo voltado para a inovação, que começou basicamente há 15 anos”

28

Inovação

Inovação – Você costuma dizer que inovação não é tecnologia e, tampouco, pesquisa e desenvolvimento. Inovação é a mudança do comportamento de atores no mercado, como produtores ou consumidores. Já para McLuhan, referência fundamental nesse mundo em formação, inovação “significa um ambiente de serviços criado por uma inovação, sendo que esse ambiente muda as pessoas”. A internet, em última instância, está compondo um novo ecossistema. No fundo, você e McLuhan advertem que, no mundo em rede, a inovação é um sistema contínuo com impactos ainda impossíveis de serem mensurados em todos os processos – econômicos, políticos e sociais. Afinal, que mundo é este? Silvio Meira – Poucas gerações têm percepção aguda de estar presenciando uma mudança nas plataformas que fazem uso. Então, quando olhamos para a mudança que presenciamos, que é quase uma transposição do que costumavam ser meios de comunicação para passarem a ser meios, ambientes, plataformas ou infraestruturas de conectividade para interação, a amplitude dessa mudança vai levar tempo para ser aprendida. Isso no sentido de ser compreendida para ser usada na mudança de negócios em todas as cadeias de valores – mesmo assim, vai levar mais tempo ainda para ser entendida como uma mudança em si. Tecnologia é um dos insumos para a mudança. Não existe inovação só tecnológica, ela tem de ser proposta ao mercado, que precisa aceitá-la, absorvê-la. As pessoas têm de querer pagar por aquilo e deixar de pagar por outras coisas, precisam desviar a atenção para essa nova forma de usar meios para realizar desejos, atitudes, propósitos. Quando a tecnologia possibilita novas oportunidades, as pessoas capturam. As instituições e os negócios começam a capturar essas oportunidades e, muito mais no longo prazo, as ciências humanas começam a entender quais são as consequências

dessa captura. Onde estamos vivendo? Em um ambiente que, na prática, é um mundo fora do ambiente universitário, um mundo voltado para a inovação que começou basicamente há 15 anos e passou os primeiros cinco anos tentando se mostrar como era verdadeiramente. Depois, passou os cinco anos seguintes se redesenhando em função da bolha do “ponto com”, que aconteceu ali pelo começo da última década. A partir de 2005, começou a assumir talvez a sua face verdadeira e a apresentar as suas credenciais. Inovação – Como esse processo começa a se mostrar ao mundo em que vivemos? S.M. – A partir de 2005, começa a se estabelecer o Skype, grande rede social de conexões de voz. Surgem também as redes sociais: MySpace, Orkut, Twitter e Facebook. A partir de 2007, a mobilidade computacional, a possibilidade de sistemas de informatização pessoal baseada em capacidades computacionais de superfície, coisas que a gente toca, e não mais coisas que a gente clica. Assim, as pessoas começaram a se informatizar. Isso tem consequência, por exemplo, para dentro das empresas. Se no passado eram elas que tinham os meios computacionais mais sofisticados, em certa hora elas perderam essa soberania e a tecnologia ficou disponível para todo mundo. Inovação – Quais sãos as consequências disso no nosso dia a dia? S.M. – Impõe-se uma dinâmica de destruição criativa, que é a dinâmica própria da inovação. Isso deixa muita gente o tempo todo olhando para trás, perguntando-se o que aconteceu com as infraestruturas que usava. Para ter ideia do impacto da profundidade de tudo isso, um exemplo: a patente original da lâmpada elétrica, de Edson, é de 1880, mas até os anos 2000 não tínhamos conseguido universalizar a iluminação elétrica nas casas brasileiras. Estamos falando de algo que,


fotos: Leo Caldas/Titular Fotografia

120 anos depois de ter aparecido no mercado, ainda não está na casa dos brasileiros de forma universalizada. Mas com a internet é diferente. Ela começou a aparecer no Brasil há dez anos e hoje 40% da população brasileira tem acesso. Além disso, a internet tem uma implicação filosófica impressionante: o único meio de inserção do Enem do ano passado foi pela rede e ninguém reclamou. Isso significa assumir claramente que tanto as pessoas como as instituições organizadas da sociedade civil têm acesso à internet – pelo menos, os jovens. Para mim, isso é uma mudança da água para o vinho. Essa é a grande diferença dos tempos em que vivemos. A rede deixou de ser uma coisa que a gente usa, é uma forma que a gente vive, uma infraestrutura essencial. É quase como o ar que respiramos. Inovação – Skype, Twitter, Orkut, Facebook, como você diz, são infraestruturas. Afinal, como definir de forma didática as redes sociais? S.M. – Assumindo que nós somos os concretos e as nossas relações uma forma de virtual, que chamamos de redes, grupos ou comunidades. O fato de eu ter instrumentação informacional e infraestruturas para encampar essas redes no espaço virtual cria uma espécie de ritual de segunda ordem. Então, um grupo, seja uma torcida de time de futebol ou ex-alunos de uma escola, teriam as mesmas conexões, que possibilitariam interações com significados. Nas redes sociais, há conexões que criam significados para as pessoas. Famílias, casamentos ou um grupo de ex-alunos são redes sociais. Mas nos ambientes informatizados existe a possibilidade de incrementar de maneira sensitiva a virtualização desse ritual. Ou seja, nem todo mundo precisa estar no mesmo lugar para participar. As conversações se perenizam porque estão guardadas e articuladas em um ambiente informacional que pode se comunicar.

A sede do C.E.S.A.R, Centro de Estudos Avançados do Recife, núcleo privado de inovação, que cria produtos, serviços e empresas com tecnologia da informação e comunicação. Ao lado, parte da equipe do centro, onde Silvio Meira é o cientista-chefe

Alguém chama para uma discussão, articula e espera uma resposta. Só que a comunicação vai estar sempre lá. Veja, de todas as conexões entre as pessoas do Facebook, por exemplo, 84% estão no mesmo país e 16% são entre pessoas de países diferentes. Isso dá uma ideia clara de que essa rede amplia conexões que já existiam ou tinham potencial para existir porque estão na mesma geografia, língua, cultura. Esses mecanismos, portanto, são as infraestruturas que criam ambientes sociais. Inovação – De certa forma, o mercado financeiro foi precursor no processo de

conexão, enredamento e socialização. No final dos anos 1970, esse mercado já estava globalmente conectado. S.M. – Dinheiro é virtual, talvez um dos mais antigos da Terra. Ter dinheiro é um virtual de poder de compra. Na hora em que ele fica sem peso e passa a ser digitalizado, podendo ser transferido de um mercado para outro numa velocidade infinita, o dinheiro está em rede social de valores de mercado financeiro, o que gera um processo com sua própria lógica e dinâmica. Inovação – Como classificar esse processo de correlação com a realidade e a farsa no mundo das redes sociais?

Inovação

29


inovação | entrevista

As redes sociais no Brasil No Brasil, 80% dos internautas

passado o Orkut já em agosto de 2011.

mais interessantes do mercado de

estão conectados às redes sociais

Segundo a comScore, o total de acessos

internet – a indústria de entretenimento,

e, até outro dia, quem dominava

únicos do Facebook quase triplicou

por exemplo, é a que tem mais investido

a cena era o Orkut. Só que o cenário

entre dezembro de 2010 e de 2011,

em redes sociais.

mudou. O Facebook chegou devagar,

chegando a 36,1 milhões de usuários.

Na tentativa de reverter esses números,

mas conquistou os brasileiros –

Enquanto isso, o Orkut cresceu apenas

o Orkut anunciou recentemente um tardio

o site cresce 102% ao ano, segundo

5% nesse período, chegando a 34,4

aplicativo para iPhone e iPod Touch. No

pesquisa da consultoria comScore do

milhões de acessos únicos. Os dados

contrataque, o Facebook fez a inserção

final do ano passado e relativa

levam em conta usuários de mais de seis

do Ticker – que mostra rapidamente as

aos anos 2010-2011.

anos de idade que acessam a rede de

atividades dos amigos naquele momento

Esse é o segundo estudo que

casa ou do trabalho. O Twitter também

na rede social – e o Timeline – pequeno

mostra a liderança do Facebook –

alcança posição e tem alta de 40%. Para

vídeo, que coleta fotos do usuário

o IBOPE Nielsen Online apontou

especialistas, o crescimento rápido do

e alguns eventos marcados em seu perfil.

que o site de Mark Zuckerberg havia

Facebook no Brasil é um dos temas

A perspectiva para o futuro, segundo

S.M. – Essa história de ter uma correlação com a realidade, o que a gente chamava de realidade objetiva dos fatos, é muito importante. As redes sociais têm uma realidade objetiva dos fatos. É muito difícil manter uma farsa em redes sociais, pois elas prejudicam o arrependimento em longo prazo. Observe o impacto das redes sociais na vida dos adolescentes, aquele espaço ou tempo em que todo mundo faz besteira. Hoje, a besteira está on line, não se apaga. Tem uma tese de Viktor Mayer-Schöenberger, pesquisador de Harvard, que defende o seguinte: “Uma das regulamentações que precisamos usar para sistemas informacionais, incluindo as redes sociais, é que eles precisam ser esquecidos com o tempo, porque as sociedades humanas são baseadas no princípio do esquecimento”. À medida que o tempo passa, os fatos vão sendo relevados a certo cenário de fundo – eles continuam existindo, mas não são tão importantes. De muitas performances nas nossas vidas, o que fizemos quando tínhamos 15 anos é irrelevante hoje. No mundo das redes sociais, não é assim. A besteira on line não se apaga mais. Usamos essa rastreabilidade de

permanência, e não de impermanência da informação, sem querer, em um mecanismo de restrição, de excessiva limitação das liberdades e, talvez, em última análise, da criatividade. As pessoas começam a se comportar como se estivessem sendo observadas o tempo todo, como ratos de Pavlov na gaiola. Existe uma reflexão que precisa ser feita sobre esses ambientes, levando em conta a tese de Schöenberger. Até hoje, todas as relações humanas foram baseadas em dois aspectos: no esquecimento paulatino e na assimetria da informação. Nem todo mundo sabe tudo sobre todo mundo. Se todo mundo soubesse, nenhum relacionamento humano seria sustentável.

É muito difícil manter uma farsa em redes sociais. Mas hoje, a besteira está on line, não se apaga mais. assim, as pessoas se comportam como se fossem ratos na gaiola”

30

Inovação

Inovação – E o que mais sobre o futuro das redes sociais? S.M. – Estamos olhando para a rede social das pessoas, mas tem outra que está para acontecer, que é a dos objetos. É a câmera de segurança, o carro dando informação sobre onde ele está, a porta da sua casa, o pneu, a máquina de lavar roupa. E vamos fazer isso de livre e espontânea vontade porque os benefícios são grandes para relevar os eventuais prejuízos.


Número de visitas Mensais Orkut Foi fundado em janeiro de 2004, por Orkut Büyükkökten. É utilizado principalmente para a socialização entre pessoas. A interatividade entre desconhecidos acontece mais nas comunidades criadas.

especialistas, é que cada vez mais os consumidores vão utilizar as redes sociais para reclamar, elogiar, se comunicar com as empresas. Os sites corporativos devem ter um considerável declínio, tornando-se até irrelevantes. Mais: as empresas terão de prestar mais atenção no comportamento dos

Twitter Idealizado em julho de 2006, por Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone. É uma forma fácil de expressar ideias e experiências do cotidiano.

consumidores nas redes sociais e precisarão estar mais flexíveis para atender todos os consumidores em tempo real. Mais ainda: os aplicativos, espera-se, serão aperfeiçoados e terão até sensores de movimento.

Esse é o problema. Acho que, se tem uma coisa também na qual a humanidade foi baseada até a hoje, é o princípio da individualidade. Aliás, a proteção ao indivíduo, a proteção à fonte, sempre foi um dos pilares do jornalismo, como foi concebido nos últimos 250 anos, pelo menos. Agora, isso praticamente deixou de existir. Além do fato de termos criado uma sociedade informacional ampla, não tem mais conversa que não tenha sido gravada, que não será vazada. Isso significa uma nova forma de humanidade ou uma nova forma de sociedade e nós não sabemos quais serão os impactos disso tudo sobre nossas vidas. Inovação – Esse quadro não o deixa angustiado, quando olha para o nosso sistema educacional? S.M. – Não, sabe por quê? Porque isso é uma coisa geracional. Acho que a gente está no momento em que os aprendizes passaram os professores. Se tivessem rapidez de entendimento suficiente, eles se transformariam em aprendizes com grande número de coisas. Os professores continuariam fazendo muito bem o que fazem: articular, acompanhar, aconselhar, talvez

3 6,1 milhões

Facebook Criação de Mark Zuckerberg, Chris Hughes, Dustin Moskovitz e Eduardo Saverin, em fevereiro de 2004. A rede oferece socialização com pessoas do Brasil e outros países, jogos on line e divulgação de eventos e produtos.

3 4,4 milhões

15

milhões

quem é quem nas redes Facebook Usuários até 17 anos são

35%

dos internautas brasileiros

orkut

63%

dos que acessam são jovens até 17 anos. Usuários mais velhos somam

13%

Twitter A maior parte do público brasileiro é composto por jovens até 17 anos

37%

dados expressivos da internet no Brasil

Tempo de permanência

26,7

horas on line (dez. 2011)

Buscas on line

Vídeos on line

6,9

4,7

(dez. 2011)

(dez. 2011)

bilhões

bilhões

Fonte: comScore

Inovação

31


inovação | entrevista

Para mim, essa década vai ver o fim do ciclo de Gutemberg. Pouquíssimas gerações puderam ver o fim de um ciclo de 500 anos”

32

Inovação

Inovação – Manuel Castells diz que o século 21 não proporcionará às pessoas a abundância prometida pela revolução tecnológica mais extraordinária da História. Ele fala em uma época de aturdimento informado. Pessimismo? S.M. – Na realidade, minha expressão pessoal para isso é o imprevisível mundo novo. É um mundo que, a cada volta da manivela, não fica mais imprevisível, mas a imprevisibilidade na mudança fica sempre mais intensa. Ela é compactada no tempo. Considerando esse contexto, um dado é que, nos próximos 12 meses, 81% das pessoas que têm celular vão trocar de celular e 75% das pessoas que têm smartphone vão trocar de smartphone. Qual o impacto disso para a indústria? Se ela for líder de mercado e errar um ano, pode passar para o fundo do poço. A dinâmica que estamos vendo de competição é grande, o que significa não só ameaças, mas oportunidades. Acho que aí tem oportunidade para o Brasil, para as periferias brasileiras. Antes, o cara que tinha um negócio estabelecido na esquina havia 20 anos iria passar mais 50 anos estabelecido. Essa é a velha indústria, a velha

economia. Agora, nessa economia da imprevisibilidade, a dinâmica é completamente diferente. Uma economia celularizada, mais conectada, democrática e com mais oportunidades. Mais oportunidades é sempre igual a risco. Uma economia menos patrimonialista, não há tempo para fazer uma montanha protetora, uma economia mais de fluxo. De repente, importa muito mais o caminho do que o destino. Importa muito mais o que você aprendeu do que o que você acumulou, porque você acumula, acumula e se acaba. O tempo médio que se prevê de vida hoje para uma empresa que entra na Bolsa de Valores dos Estados Unidos é de 15 anos, era 75 anos em 1930. Ou seja, criava-se a empresa em 1930 e havia a certeza de que ela sobreviveria três quartos de século. Agora, você vai fazer por uma década e meia. Inovação – Que tal terminar com mais um exemplo da dimensão da revolução que estamos vivendo? S.M. – Estou apostando na combinação de digitalização, internet, tablet e literatura como serviço, como a provida pela Amazon, mas em um modelo que rapidamente será imitado por outros. Isso vai acabar com a indústria da literatura nesta década, porque ela resolveu se proteger da internet. Não vai sobrar pedra sobre pedra, pois o livro ou a literatura serão como serviço aumentado, comentados pelas pessoas, compartilhados em rede social, providos como serviço, de tal maneira que não precisarão ser armazenados em lugar nenhum. Esse livro é mais leve, mais conectado e com alcance muito maior. Ele cria mercado. Alguém escreve um livro e eu posso comentá-lo, fazer minha resenha em cima da plataforma em que a publicação foi lançada. E dá para ganhar uma porcentagem do meu royalty, porque escrevi sobre o livro. É uma dinâmica nova. Para mim, essa década vai ver o fim do ciclo de Gutemberg. Pouquíssimas gerações puderam ver o fim de um ciclo de 500 anos. I

foto: reprodução

medir, tentar descobrir. Ao mesmo tempo, eles se tornariam aprendizes dos aprendizes. As pessoas que vão entrar na carreira de professor neste ano devem ter, em média, 25 anos. Nasceram, então, na metade dos anos 1980. Dez anos depois, estavam jogando em lan houses. Então, os novos professores são gamers, nasceram na era da internet. Para mim, isso vai revolucionar a escola. Em 2025, provavelmente vamos ter um presidente da República com 40 anos, que também terá sido gamer e todo o Congresso terá jogado games, com poucas exceções. Isso é uma coisa geracional. Douglas Adams costumava dizer que tudo que já existia quando a gente nasce é absolutamente normal. Tudo o que passa a existir entre o nascimento e termos 25 anos é uma grande oportunidade de desenvolvimento pessoal.


com você, “o agregador”

inovação | na rede

O novo portal da Brasileiros, mais ágil e com mais informação, agora tem nova ferramenta

por andré de oliveira

Ele é a nossa aposta em um novo tipo de jornalismo. “É uma forma de aproximar o leitor, transformando-o em coeditor. É também um espaço em que o jornalista deixa de ser o único produtor de informação para virar um curador de conteúdo”, diz Cacau Guarnieri, um dos idealizadores da ferramenta desenvolvida pela Radyum System, empresa que está por trás de projetos inovadores na internet, como a República Popular do Corinthians.

Na prática, o “agregador” coleta e trás para o portal tudo o que é publicado e está sendo discutido nas redes sociais Facebook, Twitter, YouTube e RSS sobre determinados assuntos, predefinidos pela equipe da Brasileiros. Temas candentes e notícias de último momento são transformados pela equipe em palavras-chave, ou tags, que vão determinar as buscas do “agregador”. Em seguida, essas palavras serão “rastreadas” e “colhidas” em questão de minutos.

Exemplo: ao escolhermos a tag Raul Seixas, o agregador buscará tudo o que está sendo dito sobre o músico. Vídeos, textos, conversas. Em lugar de predeterminar a pauta, com o agregador conseguimos nos aproximar do assunto discutido em rede e, assim, teremos ideias para desenvolver novos conteúdos. A interatividade com o leitor é garantida a partir do conceito de gameficação, muito usado em redes sociais.

a nova ferramenta é uma forma de aproximar o leitor do conteúdo do portal” Cacau Guarnieri, um dos idealizadores do Brasileiros+1

Inovação

33


inovação | na rede

Entenda o passo a passo da nova ferramenta Cadastro Para fazê-lo, basta colocar nome, e-mail e criar uma senha. Se você usa Facebook ou Twitter, é ainda mais fácil. Basta dar um clique e integrar suas contas ao agregador.

Área para destaque de conteúdos produzidos pela equipe Brasileiros ou escolhidos após a sugestão dos leitores.

Palavras-chave escolhidas diariamente pela Brasileiros determinarão as buscas nas redes, trazendo para o nosso agregador todas as discussões relacionadas, em tempo real. Maiores colaboradores Um ranking de nossos principais leitores/colaboradores.

Nesta área de edição colaborativa, serão publicadas as notícias escolhidas pelos usuários que se tornaram assíduos e críticos leitores. Esta área é a razão de ser do agregador. É o espaço onde é depositado todo o conteúdo buscado nas redes sociais, a partir das nossas palavras-chave. É a nossa timeline exclusiva.

Facebook, Twitter, Youtube e RSS Nosso agregador vai trazer o conteúdo das redes sociais, e dos RSS dos sites definidos pela Brasileiros, sites confiáveis e afinados com nossas necessidades editoriais.

Meus “badges”

Conforme o leitor vai ganhando pontos no agregador, ele também ganha badges, uma espécie de selinho, que lhe mostra o quanto ele está participando e que lhe dá direito a interagir de diferentes maneiras. O selo Brasileiros+1 é o último a ser conquistado.

34

Inovação

Uma vez cadastrado, o leitor tem condições de participar da edição do agregador, destacando textos do seu interesse. Quanto mais interagir, mais pontos ganha e mais privilégios de edição têm destravados.

Apenas com o cadastro o leitor terá condições de, depois de ler as notícias, clicar em setas de aprovação ou desaprovação. Dependendo do movimento da interação dos leitores, algumas notícias “vão para o topo” e outras perdem importância. Desse modo, os leitores passam a nos ajudar a identificar o que de todo o conteúdo que chega das redes sociais pode ser mais relevante ou merece nossa atenção. À medida que o leitor interage com a informação, ele ganha pontos. Quanto

mais interage, mais pontos acumula, recebendo prêmios em forma de badges e, assim, tendo privilégios de edição. O “jogo” consiste em participar para se transformar em um coeditor da Brasileiros. Seja você também um Brasileiros+1. A internet mudou o jornalismo e as redes sociais aprofundaram essas mudanças. As facilidades propiciadas pela rede fizeram com que todos passassem a ser produtores de informação. Nosso agregador é uma aposta de um jornalismo mais condizente com nossos tempos. I


Sucesso em 2011 ˜ o perca o nA

´ 2012 CalendÁrio

Coisa Nossa

www.seminariosbrasileiros.com.br Para mais informações Tel/Fax: 11 5095 1312 info@seminariosbrasileiros.com.br


inovação | ensino

Lições de efeitos especiais

Axis. Assim vai se chamar a escola de computação

gráfica criada em parceria com a americana Gnomon. Neville Page, autor dos cenários e das criaturas de Avatar e Star Trek, será um dos professores da nova casa por Carol Almeida

A notícia foi anunciada no mês passado e, antes mesmo da primeira aula, o projeto de uma nova escola de computação gráfica, já se ensaia grandiosa. Trata-se da Axis, uma parceria entre a brasileira Saga e a norte-americana Gnomon, famosa por criar artistas que alimentam as indústrias do cinema, da TV e dos games. Vai funcionar a partir de maio no número 6.331 da Avenida Santo Amaro, na Chácara Santo Antônio, Zona Sul da cidade. Pela primeira vez em 15 anos, a Gnomon vai deslocar professores para aplicar seu modelo de ensino fora dos Estados Unidos. Para quem não sabe, é lá que os artistas produzem explosões, perseguições, tiroteios, criaturas estranhas e fenômenos assustadores para encantar ou assustar no cinema. E a escolha pelo Brasil não foi aleatória. “Vocês são um País grande, com uma economia que cresce. E há muitos artistas jovens. Vimos trabalhos de brasileiros com 14, 15 anos que já poderiam ser aceitos como portfólio para estudar na Gnomon”, afirma Alex Alvarez, fundador e um dos sócios da escola americana. Há três anos, Alvarez conheceu Alessandro Bomfim, CEO e cofundador da Saga, escola que treina jovens em programas de computação gráfica, com mais 36

Inovação

de quatro mil alunos em cinco capitais do Brasil. Foi ele quem conseguiu convencer Alvarez a prestar atenção no Brasil. “Em 2011, a Gnomon conseguiu empregar 98% de seus alunos. Com a Axis, esperamos o mesmo percentual”, diz Alvarez. Para tanto, a Axis terá como um dos professores ninguém menos que Neville Page, que tem no currículo a criação de cenários e criaturas de grandes filmes: Avatar, Tron – o Legado e a saga Star Trek, só para citar alguns. Ele esteve em São Paulo em março, participando da segunda edição do The Union, maior evento


FOTOS: DIVULGAǘAO

Em sentido horário, bons momentos da computação gráfica: criatura cheia de textura a partir do computador. A coruja no pedestal do professor Dumbledore, em Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Cena do filme Thor. As cobras da Medusa de Uma Thurman no filme Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Alex Alvarez, fundador e sócio da Gnomon, em apresentação no The Union

de computação gráfica da América Latina, que aconteceu no Complexo Anhembi. “Há uma expressão americana, que diz que é preciso estar faminto para as coisas acontecerem. Mas, se você mora nos Estados Unidos, em especial na Costa Oeste, está em lugar privilegiado para trabalhar com computação gráfica. Mas, com fácil acesso, as pessoas deixaram de estar tão famintas por lá. Já aqui no Brasil, há muita fome a paixão pela computação gráfica”, diz Page. O americano Scott Spencer, um dos mais importantes designers dos dois filmes Hobbit, que em breve chegam

ao cinema, acredita que a Axis ajudará a criar um polo na América Latina. O britânico Neil Huxley, que já ensinou na Gnomon, também está otimista com a nova escola. Para ele, o Brasil tem uma larga vantagem sobre outros países emergentes porque “os brasileiros compartilham muito da memória americana. Como acontece na Gnomon, a Axis vai comportar três tipos de cursos: fast tracks (duração de uma a quatro semanas), os master classes (especializações de três meses) e full time (dois anos). No pacote completo, o aluno vai aprender processos de criação em computação gráfica em 3D, desde o desenho e a modelagem de criaturas até a textura, animação e iluminação da imagem. “Queremos um profissional generalista porque a indústria que ele vai atuar é de entretenimento digital, que engloba TV, games, filmes, um leque aberto de opções”, afirma Bomfim. A seleção dos alunos para o curso de dois anos está sendo feita por meio de portfólios – já foram enviados quase 300. Ao que tudo indica, a concorrência é enorme. I Para saber mais sobre a Axis, acesse www.axis.art.br

Inovação

37


inovação | comportamento

Trabalho = 38

Inovação


Funcionários da CUBOCC jogam pebolim dentro da empresa, em momento de total descontração

CUBOCC, agência de publicidade fora dos padrões, investe em autoria compartilhada e pensamento livre em busca de novas maneiras de decifrar um mundo que não vai parar de mudar

prazer texto Dafne Sampaio fotos aline lata

O

elevador chega ao 16 o andar e uma gran­de porta pra­ tea­da, no melhor es­tilo cai­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­xa-forte de banco, separa as realidades de um prédio de negócios, moderno e comum, de uma agência de publicidade pouco convencional. Quer dizer, o pessoal da CUBOCC (assim mesmo, em caixa alta) não gosta nem de se considerar uma “agência”. Eles acreditam que, apesar de trabalharem com publicidade, em todo o resto são diferentes de seus pares. Principalmente em como pensam e fazem o negócio girar. “Trabalhar aqui é uma experiência diferente e isso acaba gerando novas propostas de negócios”, diz Gustavo Bonfiglioli, que recebe a reportagem de Inovação!Brasileiros, em um ambiente logo após a recepção, que tem um painel eletrônico em permanente frenesi de pixels. Ele, que é brodcaster da empresa (ou uma das pessoas que cuidam da comunicação), será nosso guia dessa experiência e o dia, fim de tarde, aliás, promete. É uma sexta-feira, o esperado momento de confraternização dentro da empresa. Mas ainda não é hora. Fundada em 2004, a CUBOCC surgiu da mente agitada do gaúcho Roberto Martini. Nascido em Pelotas – “A terceira cidade a ter internet no País, sabia?” –, Martini foi atendente de suporte, estudou Análise de Sistemas e Publicidade, mas se formou mesmo em Administração. Sempre correu atrás de criar seus negócios, tanto em Pelotas quanto em Porto Alegre e, finalmente, em São Paulo, onde pôs em pé a empresa que mudaria sua vida e a de muitos que passaram e estão lá. O objetivo era ser uma produtora especializada em mídias digitais, mas o futuro (digital) lhes reservaria algumas surpresas. “A idade média aqui é de 24 anos... e as pessoas podem vir trabalhar de chinelo, se quiserem. Não concordamos

Inovação

39


inovação | comportamento

O sucesso será daqueles que anteciparem ou mais rápido se adaptarem às mudanças” Roberto Martini, fundador e CEO da CUBOCC

40

Inovação

com essas questões corporativas. Ou seja, não é preciso vestir um terno para ser sério”, diz Bonfiglioli, enquanto percorremos os 1.400 m2 do endereço que a agência ocupa, desde outubro do ano passado, na Avenida das Nações Unidas. Projetada pelo escritório Athié em parceria com o estúdio 1-18 Project, a decoração branca e minimalista que rodeia os 140 funcionários da empresa é aberta nas áreas de trabalho e tudo é visível para todos, em longas mesas conjuntas. Já os corredores internos, que levam a uma copa e aos banheiros, e as salas de reunião possuem um estilo mais rebuscado e pop: enquanto nos corredores luzes nas paredes acendem conforme as pessoas passam, as salas se diferenciam umas das outras em alternância de cadeiras de acrílico, candelabros, sofás e cortinas pretas. Mas o xodó da agência é a sala de reunião toda espelhada, do teto ao chão, que ainda traz uma mesa de vidro e cadeiras de acrílico. É nesse cômodo que processos são desenvolvidos e campanhas são finalizadas, tudo devidamente escrito nas paredes-espelho. “Geralmente, as agências e os clientes pensam em termos quantitativos. A gente pensa de outra forma, usando outras variáveis, como transformação social, engajamento e inovação. São os valores agregados de uma campanha que mais nos interessam”, diz Bonfiglioli, ao fim do tour. E cá estamos de volta onde tudo começou: na recepção. Faltam pouco mais de 20 minutos para o começo do happy hour e informações não param de surgir. O faturamento da empresa ultrapassou os R$ 100 milhões em 2011, o que gerou um crescimento de 15% no ano. A atual cartela de clientes conta com a Unilever (11 marcas), Google (quatro), Kraft Foods (três) e, recentemente, a Liberty Seguros, uma baita responsabilidade, pois a seguradora é uma das patrocinadoras da Copa do Mundo de 2014.

A pergunta é: o que, afinal, a CUBOCC tem que as outras não têm? Eles canalizaram a energia de profissionais de diferentes áreas (mídia, criação e planejamento) para o digital, pois pretendem ajudar, segundo suas próprias palavras, “a dar forma ao futuro da propaganda por meio da combinação de diferentes disciplinas”. Produzem assim jogos on line, comunidades virtuais, virais na internet, ações no mundo real, enfim, novos jeitos interconectados de fazer publicidade para um consumidor mais jovem, que deseja participar e ser ouvido. Essas criações são sempre coletivas, mesmo quando lideradas por um “conceptor”, nome que dão a quem coordena essa criação-brincadeira, essa “busca pela grande ideia”. Enquanto isso, atrás da recepção, em uma espécie de grande sala de espera dividida em três partes, uma delas com mesa de pebolim e fliperama, algumas pessoas começam a chegar para o happy hour. “Esse chope de sexta é muito bom por que conseguimos conversar com gente de outras áreas”, diz Juliano Shimizu (criação), sobre uma das mais arraigadas tradições da agência. “Agora, mais que o ambiente físico legal, o que motiva a trabalhar aqui é um sentimento de fazer junto. Aqui, somos incentivados a dividir tudo com todo mundo”, diz Cristina Aguiar (atendimento). A máquina de chope já está pronta e não muito distante um baú é aberto e se revela, mais uma vez, lotado de salgadinhos (industrializados) de todos os tipos. “Somos estimulados a ser o que somos, expressar nossa opinião, a discordar das coisas, questionar, independentemente de crença, do jeito de se vestir”, afirma Juliana Fernandes (mídia). E assim voltamos ao assunto informalidade. “Eu trabalhava de terno em consultoria e aqui fui me transformando ao longo de um ano. O ambiente fica mais leve, faz uma diferença. Até a pressão é mais light que em outros lugares. E acho que comunicação tem que ser


assim, leve”, explica Rodrigo Abdalla (atendimento). O fundador e CEO da CUBOCC, Roberto Martini, também virá para o happy hour, quase sempre comparece ao sagrado chopinho, mas antes, por e-mail, disse: “Misturar a vida profissional com a pessoal é um privilégio para poucos e creio que estamos conseguindo fazer isso de forma bastante inspiradora. A ideia de trabalhar com o novo e com pessoas que podem constantemente te surpreender com novos conhecimentos me fascina e é isso que entregamos para os nossos colaboradores”. Tudo pronto. Já estamos, oficialmente, fora do horário comercial. As luzes do ambiente são diminuídas, um telão desce e é hora do follow friday, o começo do happy hour, no qual dois funcionários sorteados aleatoriamente se apresentam para os colegas. Dizem também o que curtiram e o não curtiram fazer na CUBOCC, falam sobre a família, viagens, o que lhes der na telha, desde que, em sete minutos e com o auxílio de um power point. Denise e Sarah foram as escolhidas da vez. A primeira revela que foi patinadora profissional, gosta de sapateado e mostra uma foto de quando foi pedida em casamento aos pés da Torre Eiffel. Já Sarah, nascida em Volta Redonda (Rio de Janeiro) e há dois anos em São Paulo, diverte a todos com suas tiradas nerds do tipo: “Adoro Miojo. Por mim, comeria sempre. Mas, como sei que mata, alterno com McDonald’s”. Palmas e gargalhadas. Bonfiglioli, nosso guia, coloca um som e canecas de chope são novamente enchidas. Então, discreto e timidamente, chega Roberto Martini. “Podemos negociar só uma opção de foto? Sou muito ruim nisso, não consigo olhar pra câmera”, diz. Careca, tatuado e de camiseta preta, em nada lembra um pomposo CEO e muito menos um sujeito que, no final de 2010, vendeu 70% das ações da CUBOCC ao Grupo Interpublic, uma das principais holdings

Duas salas de reunião: acima, a mais informal, usada pelos funcionários a qualquer hora. Ao lado, a sala-xodó da empresa, toda espelhada, com mesa de vidro e cadeiras transparentes de acrílico. Tudo clean para as ideias fluírem sem ruídos

de agência de publicidade do mundo. Os termos e valores da negociação nunca foram divulgados, mas Martini fez questão que sua agência se mantivesse com a mesma essência de sempre, mesmo com a chegada do experiente e igualmente jovem Rodrigo Toledo como diretor-geral. “Já desenvolvíamos projetos para mercados globais, mas com a chegada da Interpublic essa oportunidade se intensificou. Temos agora um plano mais agressivo de expansão e tudo isso dentro de uma cultura que estimula a inovação, o risco, bastante

criativa e focada em empreender novas ideias.” Martini não sabe direito qual o futuro da publicidade nesses tempos de virais e compartilhamentos, mas tem certeza de duas coisas: que tudo vai continuar mudando e que a CUBOCC pensa nisso o tempo todo. “O sucesso será daqueles que anteciparem ou mais rápido se adaptarem a essas mudanças. Portanto, estruturas flexíveis e modelos de negócio em alteração constante agora fazem parte do dia a dia do negócio”, profetiza. O happy hour está apenas começando. I

Inovação

41


inovação | pesquisa

o microssapo da boa notícia

Brachycephalus didactylus

foto: renata pagotto

é o nome de uma espécie de anfíbio, que acaba de ser encontrada no Espírito Santo. O inofensivo animal, que já havia sido identificado no Rio de Janeiro e em São Paulo, é forte indicador de qualidade ambiental. Ele mora no chão de florestas e, talvez, seja o menor animal vertebrado do Brasil e um dos menores do mundo. A descoberta em território capixaba é da pesquisadora Jane de Oliveira por Fernanda Cirenza

O nome é grande: Brachycephalus didactylus. No entanto, designa a menor espécie de sapo do Brasil e a segunda menor do Hemisfério Sul. Ela já existe no Rio de Janeiro e em parte de São Paulo. Agora, acaba de ser encontrada, pela primeira vez, na região de Serra das Torres, em Atílio Vivacqua, no sul do Espírito Santo, por conta de uma intensa observação da pesquisadora Jane de Oliveira, do Programa de Doutorado em Ecologia e Evolução da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Seria irônico se não fosse verdade, mas esse animal inofensivo e delicado, suscetível a qualquer pequena mudança climática ou cortes de árvores, é forte indicador de qualidade ambiental. Jane de Oliveira explica: “Essa espécie prova que, na região em que vive, as condições climáticas são extremamente 42

Inovação

favoráveis. Esses sapinhos, que se alimentam de ácaros e pequenas coisas da mata, não precisam de água, só de umidade. Então, é necessário que a região tenha um bom sombreamento e uma boa camada de folhas para que ele possa se esconder e depositar seus ovos. Se eles estão naquela mata, é sinal de que as condições da região estão em perfeito estado”. A pesquisadora encontrou cerca de 200 sapinhos em Serra das Torres. Eles medem entre 7 mm e 10 mm de comprimento (o adulto mais forte). “Quando eclodem do ovo, são quase invisíveis a olho nu”, diz Jane. “Saber que a espécie existe fora do Rio e de São Paulo mostra também que existe uma abrangência maior do que imaginávamos até agora, o que é muito bom para o meio ambiente e também para a própria espécie, assim ela


Além de pequeno, entre 7 mm e 10 mm, o sapinho tem coloração semelhante à de folhagens e só se movimenta à noite. A localização (à direita) de Atílio Vivacqua, a região do Espírito Santo, onde o animal foi encontrado

BA

foto: Leandro Novaes

MG ESPÍRITO SANTO

Atílio Vivacqua RJ

foto: marcos pinto

sofre menos risco de desaparecer.” O primeiro encontro de Jane com esses anfíbios no Espírito Santo aconteceu há três anos. De lá para cá, ela se dedicou a observá-los para seu projeto de mestrado recém-concluído – previsto para ser publicado ainda neste mês na revista científica Checklist, que, entre outras, faz esse tipo de registro. “É possível que a espécie exista em outros pontos do Espírito Santo também.” Por serem pequenos e de coloração idêntica às folhas, é muito difícil localizar e visualizar esses sapos. Além disso, eles se movimentam lentamente e, pior, só entram em atividade durante a noite. Por isso são chamados também de sapo pulga. Os anfíbios, como se sabe, surgiram há cerca de 350 milhões de anos e foram os primeiros animais vertebrados terrestres. I

Quando eclodem do ovo, eles são quase invisíveis a olho nu. é muito difícil encontrá-los” Jane de Oliveira, 28 anos, pesquisadora

Inovação

43


inovação | desenvolvimento sustentável

Economia criativa O conceito prevê recursos que

se renovam e se multiplicam, tendo como foco a imaginação e a inovação. Resultado: inteligência em novos modelos de negócio

texto Marília Balbi foto Luiza Sigulem

por que não usamos nossa criatividade a serviço das cidades e das Pessoas? Ana Carla Fonseca, economista

44

Inovação

O sucesso não depende apenas de capital e equipamentos sofisticados. Depende, sobretudo, de boas ideias. Essa é a definição básica de economia criativa, a economia do século 21, que abre espaço para novas formas de fazer e pensar, sustentada por habilidades e talento das pessoas. Ana Carla Fonseca, dona de um currículo invejável – economista, administradora de empresas, urbanista, consultora especial da ONU, autora de livros e doutora em economia e cidades criativas pela FAU-USP –, explica: “A economia criativa tem em seu centro as indústrias criativas, aquelas que se diferenciam pela criatividade e só existem em função disso”. Simples assim. Mas nem tanto. O termo economia criativa foi usado pela primeira vez pelo consultor inglês John Hawkins, em seu livro Economia Criativa: Como as Pessoas Fazem Dinheiro com Ideias, best-seller de 2001, que trata de atividades que resultam em indivíduos que exercitam a imaginação e exploram seu valor econômico. Nas palavras de Ana Carla, trata-se de as empresas e também os países olharem “para si e buscarem as suas potencialidades”.

O País da Copa

Dados do Banco Mundial indicam que a economia criativa já responde por 7% do PIB global. Por essa razão, um passo público foi dado para estimular essa nova economia. Trata-se da Secretaria Nacional de Economia Criativa do Ministério da Cultura, sob o comando da socióloga Cláudia Leitão. No entanto, Ana Carla acredita que o Brasil, embora tenha entrado na discussão tardiamente, está em momento decisivo para debater a questão. “Estamos nos preparando para receber a Copa do Mundo e precisamos parar de ‘vender’ as cidades onde os jogos vão acontecer e nos questionar o que esse grande evento pode fazer para as cidades, a favor da cidadania das pessoas e o desenvolvimento desses lugares.” O assunto, aliás, é tema do livro Cidades Criativas, Soluções Inventivas – O Papel da Copa, das olimpíadas e dos Museus Internacionais, que Ana Carla acaba de lançar. Nele, ela seleciona experiências emblemáticas de cidades e países que souberam tirar proveito, no bom sentido da palavra, de grandes eventos: Barcelona, na Espanha, que sediou os Jogos Olímpicos em 1992, e Londres, na Inglaterra, que vai sediar o


fotos: divulgação

Projetado para revitalizar a cidade basca de Bilbau, o Museu Guggenheim Bilbao cumpriu seu objetivo: gente do mundo todo visitam o local

evento deste ano, e África do Sul, que também realizou uma Copa do Mundo. Ela também cita como bom exemplo o Museu Guggenheim Bilbao, situado na cidade basca de Bilbau, cujo projeto, parte de um esforço para revitalizar a cidade, deu certo – o museu recebe visitantes de todo o mundo. Ela também faz questão de mencionar os parques e bibliotecas de Bogotá e Medellín, na Colômbia, que conseguiram reverter o quadro de extrema violência desses locais. “Todos esses projetos tiveram o mérito de acontecer a favor das cidades.” Além do livro, Ana Clara acaba de lançar o projeto Criaticidades – Cidades Criativas do Brasil. “Se já somos conhecidos como o País das pessoas mais criativas do mundo, por que não usarmos essa criatividade a serviço da cidadania e do desenvolvimento sustentável?” A iniciativa visa estimular o potencial de desenvolvimento de municípios, com base no conceito da economia criativa. Serão 32 oficinas em 16 cidades do interior paulista – São João da Boa Vista, Santos, São José do Rio Preto e Campinas são algumas das cidades contempladas. Ao que tudo indica, a economia criativa

chega como uma boa solução, já que se trata de uma economia que depende do cérebro humano, da informação e do conhecimento. Ideias que geram lucro em uma indústria, por exemplo, são capazes de estimular o crescimento de outras áreas da economia, promovendo o desenvolvimento sustentável e humano. Portanto, fatores competitivos, como o baixo custo de mão de obra ou avanços específicos na tecnologia da informação, podem ser superados pela inteligência de novos modelos de negócio, novos processos, novas tecnologias e outros decorrentes da criatividade, imaginação e inovação. I

Vista de parte de Barcelona, também na Espanha, que foi incrementada com a construção de estádios para realização dos Jogos Olímpicos, em 1992

Inovação

45


inovação | saúde

A médica e a

história por trás das doenças

vera cordeiro

é clínica geral e mentora do Saúde Criança, uma das ONGs mais premiadas e respeitadas mundo afora. Está entre as 100 melhores do planeta. Por quê? Ela não trata apenas das doenças de crianças carentes. Atende também às famílias de seus pacientes com apoios que transcendem medicações

texto Isabela Flórido foto marcos pinto

Quando tinha 40 anos, a médica Vera Cordeiro, clínica geral, trabalhava no Hospital da Lagoa, instituição pública da zona sul do Rio de Janeiro, e queria mudar o mundo. E mudou o próprio e o de outras pessoas. Era 1991 e, depois de anos atestando a existência do ciclo miséria-internação-alta-reinternação-morte, ela e 15 voluntários criaram o Saúde Criança. Uma organização social que começou em um canto das antigas cavalariças do Parque Lage com o objetivo de reestruturar e promover a autossustentação das famílias em risco social. A partir de triagem feita por médicos, enfermeiros e assistentes sociais do hospital, o projeto recebia as mães das crianças doentes que viviam abaixo da linha da pobreza. 46

Inovação


A clínica geral Vera Cordeiro, que coordena a ONG Saúde Criança, uma das mais premiadas no mundo

Inovação

47


inovação | saúde

hoje, faço curso de Enfermagem e meus filhos estudam em uma escola particular, graças a uma patrocinadora do projeto” Elisangela Vieira dos Santos, mãe de Benedita, 9 anos, e Willian, 7, crianças que têm anemia falciforme. Em fevereiro de 2010, ela foi encaminhada para o Saúde Criança. A família tinha perdido a casa numa enchente, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Neste ano, a ONG construiu uma casa para ela e os filhos. Antes, Elisangela vendia revistas de porta em porta. Ganhava R$ 300 mensais

milha filha teve um derrame. fiquei sem rumo. Aqui, encontrei luz para lidar com a situação. refaço a minha vida e a dos meus filhos” Moradora de Belfort Roxo, na Baixada Fluminense, Ijalcira de Oliveira Silva é mãe de Júlia, 4 anos. A menina teve um acidente vascular cerebral quando tinha menos de 2 anos. Meses depois, passou a ser atendida no Hospital da Lagoa e Ijalcira foi encaminhada para o Saúde Criança. Antes, ela trabalhava como secretária e, além de Júlia, tem Juan, hoje com 12 anos. Mas como tinha de acompanhar a menina às consultas, precisou largar o emprego. Hoje, faz cursos oferecidos pela ONG

48

Inovação

Ali, eles montavam planos para atender às famílias com necessidades básicas. Vera e seu grupo, então, reformavam as casas, conseguiam remédios e comida, providenciavam documentos e ofereciam treinamento profissional para os pais. “O ato médico, muitas vezes, não se completa. Doenças, às vezes, são só a ponta do iceberg. Por trás, tem um pai alcoólatra, uma mãe desempregada, uma média de três a quatro filhos, e casas inabitáveis. Desde o início, percebemos que tínhamos de trabalhar de forma multidisciplinar. Só que nós éramos criticados. Muitos diziam que não tínhamos foco. De 2001 a 2004, com ajuda da McKinsey & Company (empresa de consultoria estratégica), formatamos nossa metodologia, o Plano de Ação Familiar (PAF). Passamos a cobrir as cinco áreas: saúde, educação, moradia, renda e cidadania. O PAF é o DNA da nossa instituição”, diz Vera. Ela mantém a paixão dos primeiros tempos, quando rifava objetos, brinquedos das filhas e o que mais encontrasse para obter recursos para prosseguir com seu projeto. Hoje, o cenário é outro. Boa parte da verba do Saúde Criança vem do exterior. Mas valeu a pena. No ano em que o Saúde Criança completa 21 anos, Vera comprova que seu projeto nada teve de quixotesco, ao transformar a ONG numa das mais premiadas e respeitadas do mundo. Foram mais de 20 prêmios internacionais, todos como a ONG mais inovadora do globo. Em fevereiro, foi eleita, pela revista suíça Global Journal, a primeira entre as organizações sociais da América Latina e ficou em 38o entre as cem melhores do mundo. Os critérios foram: inovação, transparência, impacto, gerenciamento de finanças e eficiência. Tamanho prestígio também fez com que, em novembro de 2005, Vera fosse eleita a mulher mais influente do Brasil na área de Saúde, segundo a revista Forbes. “Mais do que uma

instituição, eu queria fazer um movimento na sociedade. E ainda quero. Muitas guerras têm a ver com essa discrepância social em que o mundo vive. Pobreza não é um problema brasileiro, é um problema global. A OMS (Organização Mundial da Saúde) garante que um terço das mortes no mundo acontece devido a doenças que são relacionadas à miséria”, diz ela, que à frente de sua ONG já ajudou dez mil pessoas só no Rio de Janeiro, enquanto que a rede Saúde Criança (12 franqueadas no Brasil, além do escritório em Nova York, o Brazil Child Health) já transformou a vida de mais de 40 mil pessoas. O índice de reinternação das crianças assistidas cai em média 60%, enquanto a renda das famílias cresce em torno de 35%. Referência em empreendedorismo social, termo cunhado por Bill Drayton, fundador da Ashoka – uma das principais fundações mundiais de apoio ao ativismo social e da qual o Saúde Criança é parceiro – Vera é sempre chamada para participar de fóruns internacionais, apresentar o aplaudido Saúde Criança e disseminar suas ideias. Mas o caminho nem sempre foi fácil. Certa vez, moradores do Jardim Botânico, incomodados com o entra e sai de crianças no Parque Lage, impediram o funcionamento da ONG no local. Vera, então, conseguiu que Vivi Nabuco, uma das maiores fortunas cariocas (leia-se Banco Icatu), bancasse a reforma do antigo galinheiro, para onde se mudariam. Mas os vizinhos não aceitaram e a obra foi embargada. “Eu já estava no limite físico das minhas forças e queria uma prova divina para saber se eu deveria continuar com aquilo. Um tempo antes, tínhamos distribuído cem adesivos da instituição. Minutos depois de eu colocar Deus em xeque, vi um carro com o nosso adesivo colado no vidro. Comecei a chorar, não esperava uma prova tão rápida de Deus.” Vera ainda conquistou mais uma aliada para seu projeto, a então primeira-dama


fotos: divulgação

Ruth Cardoso. Graças à intercessão dela e ao fato de o Parque Lage ser federal, o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou decreto garantindo a permanência do Saúde Criança naquela área. Dona Ruth inaugurou a sede definitiva, instalada no antigo galinheiro. A pergunta que fica é de onde vem tanto desprendimento e generosidade. Vera, que mora na Barra da Tijuca, acredita em herança familiar. “Meus pais sempre foram empreendedores e preocupados com o próximo. Meu pai era engenheiro e foi diretor da Fábrica de Tecidos Bangu. Nós morávamos em Bangu, um bairro proletário do Rio, e eu já tinha uma vida diferenciada. Quando criança, eu me sentia constrangida por ter mais do que meus amigos. Minha mãe sempre contava que eu dava todos os brinquedos para as crianças da vizinhança. Eram filhos dos operários da fábrica.” Vera estudou em excelentes colégios do Rio de Janeiro e, mais tarde, casou-se com Paulo Ayala (antigo diretor da IBM e é um dos conselheiros da instituição), com quem está há 30 anos. Vera conta mais. “Eu me sinto realizada ao acompanhar histórias como a de uma pré-adolescente que teve diagnóstico de linfoma. No primeiro contato, a mãe disse: ‘Não sei como vocês podem me ajudar, estou desempregada’. Ao que um voluntário respondeu: ‘Você não está só’. Até hoje ela diz se lembrar dessa frase: ‘Você não está só’. Essa mãe fez curso de maquiagem dentro da nossa instituição, foi tendo atendimento psicológico, se reerguendo. A menina começou a ter uma condição estável do linfoma e ganhou um laptop não sei de quem. Então, criou o blog O Dia da Beleza e começou a divulgar o novo ofício da mãe dentro da comunidade onde moram. Nos eventos festivos dos moradores, a mãe é chamada para maquiar e a própria filha a ajudou a gerar recursos. Acho que é por isso que choro há 20 anos.” I

Algumas das crianças atendidas pelo Saúde Criança, muitas delas acompanhadas de suas mães

Inovação

49


inovação | caso de sucesso

50

Inovação


Muito além das

1001 utilidades bombril, 64 anos. Tudo começou

com uma esponja de aço. Mas o negócio cresceu e hoje são mais de 500 itens de higiene e limpeza, além de cosméticos. Estamos falando de uma empresa que, além de investir na inovação de novos produtos, aposta alto no humor inteligente e na internet para divulgar a marca – e se manter na liderança de mercado por Fabíola Musarra

Uma coisa é certa, a Bombril, em­­ presa brasileira do setor de higiene e limpeza doméstica, sabe bem como anunciar seus produtos que, convenhamos, não são nada charmosos: esponja de aço, detergente, sabão em pedra, amanciantes, são mais de 500 itens do gênero. Primeiro, apostou no talento do ator Carlos Moreno, que fez muita gente dar risada com os seus anúncios – e, certamente, se fidelizar

com a marca. Depois, no ano passado, a Bombril lançou a campanha Mulheres Evoluídas, com Dani Calabresa, Marisa Orth e Monica Iozzi, também baseada no humor. Além das mídias tradicionais (filmes e anúncios em impressos), a Bombril criou ações na internet que ultrapassaram a barreira da mera divulgação. Dirigida às mulheres entre 20 e 30 anos, a campanha virtual

Inovação

51


em 2011, foram destinados R$ 70 milhões para o departamento de marketing. Parte dos recursos foi aplicada na modernização da marca

52

Inovação

previa que a internauta criasse seu próprio vídeo para compartilhá-lo em suas redes sociais. Virou mania e teve muito homem que também navegou na rede por causa da Bombril. Resultado: em 15 dias de veiculação, a empresa chegou ao topo do ranking do Datafolha sobre as marcas preferidas e mais lembradas. Quer mais números? A campanha impactou 30 milhões de pessoas na web, alavancando, claro, as vendas. “Foi um sucesso, proporcionou um crescimento de 10% na receita bruta da Bombril, em comparação com o mesmo período compreendido entre os meses de março e maio de 2009 e 2010”, afirma Marcos Scaldelai, diretor de Marketing. A Bombril ainda está cautelosa na revelação dos planos e investimentos para este ano. Entre as iniciativas, destaque para a veiculação de uma segunda campanha publicitária no segundo semestre – a primeira foi veiculada em fevereiro nos principais jornais, revistas e rádios de São Paulo, e tinha como tema o carnaval, festa que a Bombril participou homenageando as mulheres no desfile da paulistana Vai-Vai. A empresa também espera promover novas ações de marketing, específicas para os consumidores do Norte e Nordeste do País. Juntas, essas regiões representam cerca de 20% do faturamento da empresa. Em 2011, foram destinados R$ 70 milhões para o Departamento de Marketing, valor 40% superior ao do ano anterior. Grande parte desses recursos foi aplicada no rejuvenescimento e na modernização da marca. “Queremos reforçar a diversidade do portfólio da Bombril”, afirma Scaldelai. Os planos para 2012 incluem o lançamento de produtos, diversificando ainda mais o seu portfólio. Hoje, ele é integrado por cerca de 500 itens, contra 295 em 2009 e 405 em 2010, um incremento de 83% no número de produtos no prazo de dois anos.

foto: Diego Rousseaux;

inovação | caso de sucesso


fotos: divulgação

Moreno e a comunicação

Em três complexos industriais – São Bernardo do Campo (SP), Abreu e Lima (PE) e Sete Lagoas (MG) –, a empresa emprega em torno de 3.500 funcionários (diretos e indiretos), que produzem 350 mil toneladas de produtos por ano. A esponja de aço é responsável por 40% do faturamento, seguida por produtos das marcas Limpol, Mon Bijou, Pinho Bril e Sapólio Radium. A empresa continua focada no segmento feminino e aposta alto em duas vertentes: desenvolvimento e lançamento de produtos que facilitem as tarefas diárias e comunicação feita por meio de ações de marketing em pontos de vendas, promoções e campanhas publicitárias – a maioria delas protagonizada pelo ator Carlos Moreno. Descoberto em 1978 por Andrés Bukowinski, diretor de cinema e comerciais de TV, que procurava uma pessoa para estrelar o tímido personagem criado pelo grande publicitário Washington Olivetto, então diretor de criação da agência DPZ, Moreno está há mais de 30 anos em cartaz nos comerciais da Bombril. Por ser o garoto-propaganda que por mais tempo permaneceu na televisão e mais vezes gravou comerciais no mundo – ao todo foram 344 filmes publicitários pela Bombril –, seu personagem está, desde 1994, no Guinness Book. Em uma propaganda veiculada em 2004 na televisão, Moreno se despediu das donas de casa, dando adeus à companhia. Comenta-se que a sua saída fez as vendas da esponja de aço despencarem e a Bombril perder mercado para a Assolan, principal concorrente. Por isso, em 2007, o ator foi reconvocado para o papel e assinou contrato por tempo indeterminado para estrelar novas campanhas. A expectativa da empresa é continuar em crescimento na categoria de higiene e limpeza e intensificar os investimentos em cosmético, após aquisição da marca Ecologie pela Bril

Os atores Marisa Orth e Carlos Moreno, este há mais de 30 anos em cartaz nos comerciais da Bombril, em ensaio de campanha que teve como tema o carnaval – a marca fez uma homenagem às mulheres no desfile da Vai-Vai, escola de samba que patrocinou neste ano

Inovação

53


inovação | caso de sucesso Cosméticos. “Inovação é a palavra da vez da companhia. Em 2012, traremos inúmeras inovações para facilitar a vida dos nossos consumidores”, diz Scaldelai. Parceiro forte

o mundo mudou e a empresa também. só A linha de produtos ecológicos tem 24 itens feitos de matérias-primas naturais e fontes renováveis

54

Inovação

Não basta investir em marketing e publicidade. A imagem institucional da Bombril é um braço forte da empresa, que apoia projetos culturais, sociais e também esportivos. Mulheres que Brilham, por exemplo, tem a missão de revelar novos talentos da música popular brasileira com o apoio de um artista consagrado. O projeto inspirou o título do samba-enredo da Vai-Vai deste ano: Mulheres que Brilham – a Força Feminina no Progresso Social e Cultural do País, uma homenagem às mulheres que se destacaram em diversas áreas, desde a Idade da Pedra até os dias atuais. Quanto aos esportes, os investimentos da empresa são bem diversificados. Há dois anos, em 2010, investiu na equipe Virgin Racing, do piloto Lucas Di Grassi, no GP Brasil de Fórmula 1, em Interlagos, em São Paulo. O São Paulo Futebol Clube, por sua vez, foi beneficiado em duas ocasiões: em 2010, na disputa da Taça Libertadores da América, e anos antes, em 2007, quando o time tricolor conquistou o campeonato paulista. No ano passado, a Bombril também apostou no futebol feminino, patrocinando três campeonatos: o Torneio Internacional Cidade de São Paulo de Futebol Feminino, o Torneio Internacional de Interclubes e a Copa do Mundo, realizada na Alemanha, nos meses de junho e julho, além do 12o Torneio Internacional de Tênis Aberto de São Paulo, disputado de 31 de dezembro a 8 de janeiro, abrindo a temporada profissional deste ano.

O evento foi promovido pela Maricic Eventos, mesma empresa que criou o Bola Dentro – projeto social que também tem o patrocínio da Bombril e cuja proposta é capacitar menores carentes entre 7 e 14 anos a se tornarem tenistas profissionais, professores de tênis, juízes de linha e de cadeira, rebatedores e gandulas. A empresa – leia-se o Instituto Roberto Sampaio Ferreira (IRSF), braço de sustentabilidade e responsabilidade social da Bombril – também desenvolve programas sociais e educativos. A Casa Bombril é um exemplo. Inaugurada em 2011, abriga o Espaço Memória, um museu onde a história da Bombril é contada – essa área conta ainda com uma loja, onde são vendidos produtos da marca e cujo lucro é revertido diretamente para o IRSF. Mais do que isso, o instituto organiza e oferece cursos gratuitos para empregadas domésticas. Seus módulos, estruturados em parceria com o Senac, ensinam na teoria e na prática as tarefas do trabalho da casa, incluindo, é claro, os produtos da marca. Isso sem falar que, comprometida com o desenvolvimento sustentável, a Bombril agrega o conceito de preservação do ambiente. Prova disso é a linha Ecobril, composta por 24 itens para a limpeza da casa e das roupas 100% ecológicos. Produzidos a partir de matérias primas naturais e de fontes renováveis com ativos biodegradáveis, todos são concentrados, têm refis econômicos e embalagens recicladas e recicláveis. A conclusão, portanto, é: o mundo mudou bastante e os hábitos de consumo também. A concorrência hoje é muito maior e o espaço no mercado cada vez mais competitivo. É, sim, preciso inovar sempre para garantir espaço e qualidade. I



inovação | desenvolvimento científico

50

anos

Ata da primeira reunião do Conselho Superior da FAPESP, de 15 de maio de 1961

Boa parte da vida profisfuturo. “Cientistas trazem sional de Carlos Henrique ideias, novidades e desafios, de Brito Cruz, 56 anos, está e nós vamos com eles.” No vinculada à Fundação de momento, são três os projetos Apoio à Pesquisa do Estado que desenvolve de grande de São Paulo (FAPESP). impacto na área ambiental: referência Começou em 1981, como em bioenergia (BIOEN), na internacional em gerenciamento bolsista de doutorado sobre caracterização, conservação raio laser. Depois, já diretor e uso sustentável da biodie financiamento de estudos da UNICAMP, participou versidade (BIOTA) e sobre científicos, a fundação completa do movimento que a funmudanças climáticas globais. dação organizou para que meio século com metas ambiciosas O primeiro reúne pesquisas se dobrasse de 0,50% para para aprimorar a fabricação 1% o repasse da receita de biocombustíveis e anápor Gonçalo junior tributária do Estado, destilises do impacto socioeconada à pesquisa. Em 1995, nômico das lavouras para o então governador Mário produção de energia. CoorAssim como ele, a fundação é dirigida denado por Carlos Joly, da UNICAMP, Covas o nomeou para o conselho da por pessoas comprometidas com o o BIOTA é o mais antigo de todos, de entidade. De 1996 a 2000, ocupou desenvolvimento científico brasileiro. 1998, e tem mapeado a biodiversio posto de diretor-presidente e saiu São especialistas que fazem um tra- dade do Estado e ajudado a formular para ser reitor da UNICAMP. Conta balho apaixonante, amparado em um políticas públicas para a sua conserque, em sua gestão, organizou proestatuto conquistado à unha, depois vação. Funciona como um instituto gramas de parcerias com pequenas de 15 anos de lutas – de 1947 a 1962, virtual com 200 pesquisadores e 500 empresas e deu início ao ambicioso Programa Genoma, desenvolvido pela até sair do papel pelo governador Car- alunos de pós-graduação distribuídos diretoria científica e com repercussão valho Pinto – que garantiu 50 anos em 16 instituições de ensino supeinternacional, por ser o primeiro de autonomia política e financeira, a rior e pesquisa. Participam ainda mapeamento genético elaborado fora serem comemorados em maio. Cruz 50 colaboradores de outros estados dos Estados Unidos, da Europa e do demonstra orgulho quando fala sobre o e 80 de diversos países. Os investiJapão. Voltou em 2005, onde está até status que ele e quase duas centenas de mentos até o momento passam de R$ hoje como diretor científico. Cruz funcionários buscam manter e, claro, 80 milhões, que permitiram identisimboliza o espírito apaixonado de ampliar na instituição. Diz, convicto, ficar 1.766 espécies. quem faz parte da FAPESP. que a FAPESP existe para pensar o O terceiro projeto pretende auxiliar

FAPESP,

56

Inovação


SEIS PROJETOS HISTÓRICOS

1

Programa Genoma

fotos: 1 elliot watanabe kitajima/usp; 2, 4, 6 divulgação fapesp

Desenvolvido na segunda metade de 1990, com apoio da FAPESP, permitiu concluir o genoma da bactéria Xylella fastidiosa e mereceu capa da revista Nature.

na tomada de decisões relacionadas às avaliações de risco e estratégias de mitigação e adaptação ao efeito estufa – dos R$ 50 milhões investidos, R$ 15 milhões vieram da FAPESP e R$ 35 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Devido ao pioneirismo, o modelo de estatuto da FAPESP foi usado por outros estados para inserirem em suas constituições recursos para pesquisa. Em 1988, a entidade prestou consultoria para a maioria das constituintes, por intermédio de Francisco Romeu Landi e Alberto Carvalho da Silva. “Infelizmente, porém, hoje somente Minas Gerais e Rio de Janeiro repassam o percentual completo”, afirma Cruz. A entidade paulistana, no entanto, mantém parcerias com instituições em todo o País. Cruz destaca que, historicamente, o fato dos seguidos governos terem valorizado o ensino superior abriu caminho para a qualidade das pesquisas bancadas pela FAPESP e fez com que hoje tenha metade da pesquisa do Brasil, embora possua apenas 25% dos cientistas. Nos anos de 1960, além da ampliação e consolidação da USP, foram fundadas a UNESP (1966) e a UNICAMP (1967), e criado por lei o sistema de pós-graduação no País.

2 3

Cancro cítrico Feita nos anos de 1960. A engenheira agrônoma Victória Rosseti foi reconhecida no mundo pelas pesquisas sobre o cancro cítrico e a CVC (Clorose Variegada de Citros), a praga do amarelinho.

5 6

Aeronaves Dentro da sua política de formar parceria com empresas, a FAPESP se uniu à Embraer, ao ITA e ao INPE no desenvolvimento de projetos para melhoria de aeronaves fabricadas no Brasil.

4

Paulo Vanzolini A FAPESP apoiou o trabalho de Paulo Vanzolini, primeiro biólogo do Museu de Zoologia da USP, sobre a evolução e distribuição geográfica de répteis e anfíbios. Vanzolini é um consagrado compositor, autor dos sambas Ronda e Volta por Cima.

Violência O Centro de Estudos da Violência é um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP (CEPID) e abastece autoridades, pesquisadores e segmentos da sociedade com dados sobre a violência.

Radar metereológico O Programa Radar Meteorológico do Estado de São Paulo (RADASP) foi o ponto de partida para a atual rede paulista de radares.

Inovação

57


inovação | desenvolvimento científico

Revista quer ir para a TV Até 1994, a FAPESP não tinha

“É fundamental destacar que,

departamento ou mesmo política

fazendo jornalismo científico em

de comunicação, algo voltado para

uma instituição como a FAPESP,

a divulgação de suas atividades

recebemos de forma bastante natural

e dos resultados das pesquisas

da própria diretoria, dos assessores

que financiava. No começo de

adjuntos da diretoria científica, dos

1995, o então diretor-presidente

coordenadores de área e, eu diria

Nelson de Jesus Parada convidou a

que, de forma mais ampla, das

jornalista Mariluce Moura para algo

lideranças da comunidade científica

que parecia tímido: assessorar a

em São Paulo, grande número

FAPESP na comunicação externa.

de informações relevantes com

Ela trabalhou sozinha

potencial para virar

dez horas por semana.

pautas e reportagens”,

“Não havia a ideia de uma

observa a editora.

equipe ainda, ponderei

Todos os números

que isso certamente

da publicação estão

seria

insuficiente,

disponíveis no site e

tratando-se de uma

podem ser acessados

instituição que tinha

gratuitamente. Em

um imenso manancial

breve, entrará no ar

a ser explorado para a

sistema de busca mais inteligente

Mariluce. A parceria foi em frente e,

e amigável, com vídeos feitos

em agosto de 1995, nasceu o primeiro

das principais reportagens de

número do Notícias FAPESP, um

cada edição impressa. Estão nos

house-organ de quatro páginas e

planos da revista ainda aumentar

tiragem de apenas mil exemplares. O

a edição em inglês de uma para

boletim cresceu tanto que, na edição

quatro por ano, e dobrar para duas

47, virou a revista Pesquisa FAPESP.

a de espanhol, e lançar uma em

Não demorou e passou a ser ven­

francês. Todas com distribuição

dida mensalmente nas bancas

internacional. Uma nova parceria a

do País, onde permanece como

ser definida levará ao ar o programa

uma referência no segmento de

radiofônico Pesquisa Brasil e, vem aí,

divulgação científica. A tiragem atual

um programa de televisão vinculado

é de 39 mil exemplares.

à revista, sem canal ainda definido.

Nos primeiros anos, explica Cruz, houve uma concentração maior de pesquisas nas áreas de saúde, agricultura, bioquímica e física. Como a busca da cura para o cancro cítrico, que devastou as plantações de laranja de São Paulo. A partir de 1964 a instituição passou por uma série de turbulências, devido ao regime militar que promoveu uma perseguição a 58

um novo portal, com

divulgação de ciência”, recorda-se

Inovação

professores e pesquisadores, obrigados a se exilar e fazer carreira no exterior. “Eram profissionais competentes que poderiam ter dado contribuição importante aos estudos de parasitologia, por exemplo”, diz o diretor. Depois de 1989, com o País redemocratizado e o orçamento dobrado para 1% dos impostos arrecadados, a fundação voltou a enfatizar mais

oportunidades de aplicação de pesquisa em desenvolvimento econômico e social, focadas em políticas públicas de impacto social e econômico. Nos anos 1990, a FAPESP voltou a desenvolver pesquisa aplicada. Em 2012, o repasse será de R$ 870 milhões, gerido por um colegiado de diretores. No ano passado, foram R$ 780 milhões, mais 12% em recursos vindos das aplicações que a fundação tem em imóveis e investimentos no mercado financeiro, como determina o regimento. Sem problemas de fluxo de caixa, os planos são muitos: aumentar os acordos e convênios com outros países, ampliando a qualidade e o impacto da pesquisa paulista, e elevar sua visibilidade mundial. Isso será feito também com a criação de meios para que pesquisadores estrangeiros venham para o País e brasileiros façam o mesmo lá fora. No momento, a FAPESP mantém parcerias com 23 agências de financiamento, 22 instituições de ensino superior e de pesquisa e 17 empresas estrangeiras (Reino Unido, França, Dinamarca, EUA, Argentina, Canadá, Alemanha, Espanha, Holanda, Israel, México e Suíça). Nem tudo é perfeito, e Cruz fala dos pontos criticados com tranquilidade, amparado na certeza de que esforços estão sendo feitos para amenizá-los. Uma das queixas é a demora para receber resposta para pedidos de bolsa. Ele explica que são 20 mil solicitações por ano – 60% a 70% são atendidas. “O processo requer semanas ou meses, mas reduzimos, em 2005, de 100 para 69 dias.” Ele menciona que algumas instituições chegam a demorar 180 ou 360 dias. Outra reclamação é a de que a FAPESP deveria aumentar a carteira de colaboração com empresas. “Trabalhamos o tempo todo com esse propósito, mas dependemos da empresa, de sua decisão, que conta com o ambiente e do momento econômico do País.” E, assim, a FAPESP segue ambiciosa e sem barreiras. Melhor: sem estar à mercê de interesses políticos nocivos. I




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.