Inovação

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entrevista

sustentabilidade

sumário

6

40

Qualificar,

ministro da ciência e tecnologia

Marco Antonio Raupp presidente da finep

Glauco Arbix

FINEP prioriza

expandir e formar

investimento

pessoal são as

em tecnologias

metas do MCTI

sustentáveis

diretoria de inovação

João Alberto De Negri diretoria de administração e finanças

Fernando de Nielander Ribeiro diretoria de desenvolvimento científico e tecnológico

Roberto Vermulm

prêmio finep

saúde

revista inovação em pauta

14

edição

Márcia Telles conselho editorial

Implante flexível da coluna

André Calazans Celso Fonseca Márcia Telles Rodrigo Fonseca

vertebral já está em testes

18

edição de imagens

Rogério Rangel Redação

Bisturi à base de ultrassom

47

revoluciona cirurgia

37

Vencedores recebem

Colaboradores

Brasil desenvolve droga

de R$ 100 mil a R$ 600

Rodrigo Pelot

contra câncer de ovário

mil em dinheiro

indústria

33

Certificação dá novo

Ilha das Cinzas inova na

status à cachaça

captura de camarões

inovação

em pauta – Número 13

22 25

4

52

tecnologia refrigeração

Minicompressor muda padrão de geladeiras

30

tecnologia tecnologia da informação

Acesso seguro a serviços bancários pela tela da TV

projeto gráfico

engenharia: País sofre com

a falta de engenheiros

Fernando Leite diagramação

Maraca Design tratamento de imagens

santclair.com.br revisão

Jorge Ramos DCOM – Departamento de Comunicação – FINEP telefone e - mail

imprensa@finep.gov.br

fax

artigo: Os desafios da

engenharia de projeto

(21) 2555-0758

(21) 2555-0719 Foto da capa:

Green Foootprint Concept/ iStockphoto / crossbrain66

agricultura

tecnologia investimento

FINEP participa de fundo com R$ 80 milhões

fotografia

João Luiz Ribeiro

tecnologia social

56

20

Fábio Torres Juliana Batista (estagiária) Márcia Telles Paula Ferreira Rogério Rangel Vera Marina da Cruz e Silva

63

Leite orgânico ganha novos mercados

Praia do Flamengo, 200 – 1o, 2o, 3o, 4o, 5o, 7o, 9o, 13o e 24o andares Rio de Janeiro – RJ – CEP 22210-030

www.finep.gov.br twitter.com/finep


Ao leitor

V

inte anos após a ECO 92, que debateu a questão ambiental, a Rio+ 20 traz uma nova oportunidade de reflexão sobre o mundo que queremos. O horizonte aponta agora para um futuro sustentável, com redução da pobreza, proteção

do meio ambiente e justiça social. Isto significa dizer mais postos de trabalho, fontes de energia limpa, segurança e um padrão de vida melhor para todos. Na área de ciência, tecnologia e inovação o Brasil avança. Nos últimos oito anos, por exemplo, a FINEP destinou cerca de R$ 4,5 bilhões a projetos com característica “verde”, como mostra matéria de capa desta edição da Revista Inovação em Pauta. São iniciativas voltadas para cidades, construções e transportes sustentáveis; tecnologias limpas; energias; gerenciamento de resíduos e reciclagem; agricultura, florestas; água e pesca. Para incentivar ainda mais as empresas a investirem na preservação dos recursos naturais, a FINEP também acaba de criar o Programa Brasil Sustentável , com orçamento de R$ 2 bilhões. Outro destaque desta edição são as duas novas categorias criadas para o Prêmio FINEP de Inovação 2012: Tecnologia Assistiva e Inovação Sustentável. A primeira contempla produtos e processos que promovam a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida. Já a Inovação Sustentável reconhece iniciativas em que a sustentabilidade tenha sido integrada ao sistema de pesquisa, desenvolvimento e comercialização, pelo viés financeiro, social e ambiental. Em outro exemplo, você vai entender como um modelo simples de tecnologia social e de sustentabilidade, empregado na captura de camarões, conseguiu transformar a vida de uma comunidade na Amazônia. E como bem definiu o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, em entrevista à Inovação em Pauta, tudo isto ainda é pouco. – É preciso compatibilizar o lado ambiental, econômico e social. A economia verde é

inovação

Boa leitura!

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

um dos desafios e não dá para pensar o Brasil hoje fora deste contexto – disse o ministro.

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e n t r e v i s ta

“Qualificação e ifraestrutura são os nossos desafios Do alto de uma sólida formação marcada pelo doutorado em Matemática na Universidade de Chicago, e consolidada pelos cargos que ocupou no setor público,

Marco Antonio Raupp chega ao Ministério

da Ciência, Tecnologia e Inovação como defensor da integração entre instituições de pesquisa e setor produtivo. Essa posição, vinda de um cientista, dá ainda mais credibilidade à proposta e insere a inovação como elemento chave do desenvolvimento do Brasil. Para viabilizar a ideia, o ministro estabeleceu a qualificação, a expansão da infraestrutura de ciência e tecnologia e a formação de recursos humanos como prioridades básicas do ministério. E pôs-se a trabalhar para atingir esta meta. Traz na bagagem a direção do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), a implantação do Laboratório de Integração de Testes e a criação do Laboratório de Bioinformática. Foi, ainda, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Agência Espacial Brasileira (AEB). Descontraído, explica sua

inovação

em pauta – Número 13

indicação para ministro como consequência das sugestões que deu pela vida afora: “Sugeri tanto

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que um belo dia me disseram, então vai lá e faz”. Tem feito, apesar dos desafios que destaca na primeira entrevista concedida à Revista Inovação em Pauta.


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inovação

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Fotos: João Luiz Ribeiro / FINEP


Vera Marina da Cruz e Silva com Marcia Telles Inovação em Pauta – O senhor assumiu há poucos meses o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Quais seriam as prioridades e metas do ministério?

Ministro Raupp – O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação tem três prioridades básicas: qualificação, expansão da infraestrutura de C&T e formação de recursos humanos. Esses são os grandes desafios. Os requisitos para atender estas prioridades são o Marco Legal favorável para desenvolver a inovação, educação disponível em todos os níveis, e investimento em infraestrutura para manter a base de C&T tanto na área privada como pública. Falo em duas linhas: uma de apoio à infraestrutura laboratorial, com os recursos necessários para fazer e criar condições de pesquisa, e outra de qualificação dos recursos humanos que desenvolvem essas atividades. Temos hoje o desafio da inovação, que é fazer este conhecimento ser utilizado pelo sistema econômico, pelas empresas. O grande setor, importantíssimo na sociedade, é o empresarial, que está se organizando e tomando iniciativas a favor da inovação. IP – Temos percebido o interesse da comunidade científica, empresarial e do governo em criar um pacto para garantir os investimentos em setores estratégicos. Houve até um manifesto recente. Como o senhor vê este movimento?

Raupp – Os empresários estão conscientes de que precisam se posicionar. Traçar uma nova abordagem cultural, tanto do ponto de vista de pessoal como de equipamento. E contam com a solidariedade, com o compromisso de ação conjunta da comunidade de P&D. Isso é uma novidade e o governo está há muito tempo estimulando este encontro. Mas o encontro só acontece quando as pessoas querem se encontrar. Isso está acontecendo agora e traz um importante desafio para a comunidade científica. O sistema de C,T&I tem de preparar-se e capacitar-se para interagir com o setor produtivo. IP – Por meio de que mecanismos isto pode se dar efeti-

inovação

em pauta – Número 13

vamente?

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Raupp - Há vários desafios. Precisamos entrar em áreas fundamentais para o desenvolvimento econômico como, por exemplo, a ciência da engenharia, em que, ao longo dos anos, perdemos posições. Hoje, temos um déficit na produção de engenheiros em todos os níveis. Nas ciências naturais, a mesma coisa. Formamos 11 mil doutores por ano, mas essas áreas, assim como a ciência da engenharia, precisam de um reforço. Se vamos entrar numa nova fase do desenvolvimento, onde a questão da inovação é um requisito fundamental, temos de ter engenheiros mais qualificados. Em qualquer atividade

“Os empresários estão conscientes de que precisam se posicionar” “O sistema de C,T&I tem de preparar-se para interagir com o setor produtivo” humana, especialmente na ciência, você vê se está no caminho certo quando se compara com os outros países. Aí sabemos qual a posição que ocupamos e o que tem de ser feito para corrigir rumos quando necessário. Esta internacionalização e a concentração nestes dois focos são a grande contribuição que o “Ciência sem Fronteiras” vai dar. Um bom exemplo do sucesso desta iniciativa, proposta pela presidenta Dilma Rousseff, é que empresários e empresas estão participando das bolsas de estudo concedidas pelo programa. Vinte e cinco por cento do total são de responsabilidade do setor produtivo, o que significa dizer que os empresários estão convencidos de que têm que investir na linha de inovação e das ciências sociais. Também vão mandar especialistas vinculados a eles para usufruir destas oportunidades. É preciso investir na aproximação do setor produtivo com quem faz C,T&I. IP– O senhor acredita que o Ciência sem Fronteiras é suficiente para sanar a lacuna que existe na formação e qualificação de recursos humanos?


IP – É antiga a queixa de que o setor privado investe pouco em ciência e tecnologia em comparação com o setor público. Isso procede?

Raupp - Isso continua, mas, com esta nova configuração,

IP- A Petrobras é um bom exemplo de empresa que investe em P&D.

Raupp – Este 0,5% é com a participação da Petrobras. Se tirar a Petrobras, o percentual cai. Ela investe porque tem interesse na indústria de petróleo. A nossa política tem que contemplar isso, que só pode ser feito por meio de programas de estímulo às empresas para se capacitarem diretamente com financiamentos até subsidiados. A FINEP, no ano passado, operou recursos do PSI, oriundos do BNDES, na ordem de

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

a economia privada vai investir mais. Hoje em dia, o investimento de Governo, em termos de percentual do PIB, fica em torno de 0,6% e o investimento do setor empresarial em 0,5%. Se olharmos o paradigma dos países desenvolvidos, inclusive os novos, como Coreia e China, lá acontece o inverso. Os países comunistas têm empresas estatais que investem mais do que o setor público. É preciso buscar também uma política de ciência e tecnologia que estimule as empresas a investirem mais.

inovação

Raupp - Um programa de internacionalização neste momento é muito importante por causa da questão da inovação. Temos de procurar parceiros, principalmente nos Estados Unidos, onde existe uma excelente tradição em universidades abertas em cooperação com empresas. O Massachusetts Institute of Technology – MIT - é uma instituição de ponta. Estimula os estudantes a serem treinados dentro de ações estabelecidas nas empresas e nos setores do governo. A área de Defesa é um bom exemplo. O MIT tem uma estrutura para trabalhar projetos de defesa importantíssimos na formação da ciência da engenharia. O estudante participa e sai de lá qualificado para ser um empreendedor, para trabalhar em projetos de grande interesse empresarial. Está muito mais preparado para atuar no setor produtivo.

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R$ 3,7 bi. As empresas tiveram a capacidade de tomar estes empréstimos com juros favoráveis. Outro mecanismo é a subvenção econômica voltada para empresas menores. A empresa vai pagar por este crédito. O governo empresta dinheiro, mas recebe de volta. Isso vai significar um aumento das empresas no processo. O sucesso da operação da FINEP em 2011 é um indicativo de que este índice pode melhorar. IP – Como o senhor vê o contingenciamento do FNDCT e a possibilidade de esta fonte se esgotar com a saída dos royalties do petróleo e consequente enxugamento do CT-Petro?

Raupp - Ainda não aconteceu. Espero que haja uma revisão das leis do petróleo que contemple também investimentos no futuro e não apenas hoje. Não falo em custeio, mas em investimento efetivo para o futuro do País, da educação, da ciência e das áreas estratégicas indispensáveis ao desenvolvimento e consolidação da modernização do Brasil. A marcha dos acontecimentos no Congresso é razoável. Acredito que o relator, senador Vital do Rêgo Filho, será sensível à situação, mas sabemos que há uma votação no caminho. Por outro lado, mesmo com o CT-Petro na configuração atual, precisamos de fontes de financiamento abertas, que atuem em todos os setores. Se o contingenciamento vai ou não acontecer, isso é circunstancial. Vivemos em um panorama global de crise. É possível que haja restrições para alcançar o equilíbrio financeiro e econômico do País. Pior se não houver desenvolvimento. No ano passado, sofremos com essas restrições, mas houve facilidade de crédito na FINEP como nunca antes. O governo tem de estar atento, porque esse é o futuro. Não há condições de se modernizar e competir num mundo globalizado sem ter uma boa estrutura científica e tecnológica com capacidade de influenciar a inovação nas empresas. IP – Sobre a ideia de um PAC para C,T&I, que permita viabilizar projetos estratégicos de grande porte, como por exemplo, o reator multipropósito, como o senhor vê

inovação

em pauta – Número 13

esta iniciativa?

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Raupp – Os valores desses projetos somados são maiores que a capacidade de financiamento do sistema de C,T&I. Há várias alternativas possíveis. Uma é categorizar esses investimentos com o PAC, aí não entram na contabilidade do superávit primário, o que é um facilitador. Não é necessário que todos os investimentos recaiam no MCTI. Aliás, há desenvolvimento de setores no Brasil cujos investimentos não saíram do MCTI. Petróleo, por exemplo, Defesa, a própria pesquisa Agropecuária, que está no Ministério da Agricultura. O financiamento do Satélite Geoestacionário de Comunicações consta do orçamento do Ministério das Comunicações, no

entanto, toda a estruturação da administração tecnológica do processo vai ficar com o MCTI. O importante é o investimento global dentro do governo. E as empresas têm de tomar a iniciativa de colocar recursos novos, correr seus próprios riscos sem depender do governo. IP - Qual a sua opinião sobre o atual Marco Legal para a área de inovação?


foi pensada para estimular parcerias” “É preciso compatibilizar o

IP – Como o senhor vê a transformação da FINEP em uma instituição financeira de direito? Este pleito está bem encaminhado?

Raupp - Estamos discutindo. O tema precisa ser tratado com racionalidade e tranquilidade. Temos de fazer essas transformações sem perder a funcionalidade que a FINEP sempre teve e que, por tê-la, foi responsável em grande parte pelo desenvolvimento do sistema nacional de C&T. Isso está muito ligado aos novos mecanismos de financiamento. Não dá para fazer só pela FINEP, mas pelo sistema como um todo. É importante associar esta nova configuração da FINEP ao que é essencial para os novos modelos de financiamento. IP – A Rio + 20, a exemplo da Rio 92, volta a debater

lado ambiental,

questões de meio ambiente e de sustentabilidade – agora

econômico

mudou nestes 20 anos?

e social” Raupp – O Marco Legal é uma questão importante. Queremos aproximar setores com capacidade de transformar conhecimento em bens com valor econômico. Mais de 95% da produção de P&D estão em órgãos estatais, enquanto a produção industrial fica nas empresas privadas. É preciso aproximar esses agentes. O Brasil não tem tradição de promover de forma eficiente esse encontro, até por razões legais. O sistema público é totalmente separado do

com uma promessa de avançar mais na área de economia verde. Como o Brasil se encontra neste contexto? O que

Raupp – Em relação à Rio-92, há um novo parâmetro, chamado desenvolvimento sustentável. Naquele momento, o ambiental é o que importava; agora, é apenas um componente. Hoje, é preciso compatibilizar o lado ambiental, econômico e social. Não dá para pensar o Brasil hoje fora desse contexto. O esforço para criar condições de ascensão e mobilidade social de uma parcela significativa da população, que mudou até a capacidade do País de responder uma crise, não pode ser frustrado. A maneira de harmonizar isso se dá pela ciência. Se não houver um conhecimento da realidade do que se vive atualmente não há como fazer esta harmonização. A economia verde é um dos desafios e os objetivos da política de C&T têm de estar focados nesse novo cenário. n

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

de C,T&I não

inovação

“A legislação

sistema privado. Temos tomado iniciativas que viabilizem isso, criando as leis de Patentes, do Bem e da Inovação, mas a estrutura legal não têm tido capacidade de atender plenamente nossos objetivos. A ciência no Brasil como atividade permanente, sistemática, tem de 50 a 60 anos. Vai de encontro a toda a legislação anterior, estruturada para compra de produtos acabados. Essa legislação não foi pensada para estimular parcerias, que é o nosso foco atual. Uma tentativa de f lexibilizar essas relações foi a Lei das Organizações Sociais, criada para fazer a gestão do público-privado, mas há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIN - no Supremo ainda sem decisão questionando isso. A iniciativa do Congresso Nacional de estabelecer um Marco Legal para as atividades de ciência e tecnologia é um desafio grande porque mostra que existem setores da sociedade interessados em resolver esta questão e criar condições para que essa cooperação se dê plenamente.

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i n ovaç ão em foco

Fábio Torres e Paula Ferreira

Na vitrine

inovação

em pauta – Número 13

A Harvard Business School, da Universidade de Harvard, publicou um estudo sobre a importância do INOVAR – iniciativa da FINEP, criada em 2000, que desenvolveu a indústria de Venture Capital, Seed Capital e Private Equity no Brasil. Intitulado “Creating a Venture Ecosystem in Brazil: FINEP’s INOVAR Project” (Criando um Ecossistema Empreendendor no Brasil: Projeto INOVAR da FINEP), a análise foi publicada pelos professores Ann Leamon e Josh Lerner. Por intermédio do INOVAR, A FINEP já selecionou 24 fundos de investimento em que aplicou um total de R$ 416 milhões. Esses 24 fundos angariaram um total de US$ 2 bilhões, incluindo aí recursos da Financiadora, investidores INOVAR e outros agentes financeiros. Já nos fóruns de investimento (Seed e Venture Forum), cerca de 18% das mais de 300 companhias orientadas por analistas da FINEP foram investidas por fundos de capital semente e Venture Capital, investidores corporativos e anjos.

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Atenção, clientes!

Lupa e atenção!

O mês de maio trouxe muitas novidades na FINEP: além de uma nova política operacional para o período de 2012 a 2014, quem quiser se candidatar a financiamentos reembolsáveis agora tem um formulário diferente a preencher no seu pedido de crédito. Além disso, quem já é cliente deve ficar alerta às novas tarifas que serão cobradas para alterações contratuais. E tem mais: as universidades e ICTs ganharam o Portal do Cliente, para acompanhamento de convênios e termos de cooperação. Para detalhes, visite a seção de notícias do site da FINEP. O sistema permite um ganho na velocidade de até 50% no atendimento e na transparência do processo de acompanhamento dos projetos, principalmente depois de contratados. Não há mais necessidade de encaminhar informações em papel, pelo correio. As requisições agora são feitas pelo Portal.

O resultado da primeira etapa do edital de Tecnologia Assistiva da FINEP mostrou que é grande o número de empresas com deficiência em qualificação. De um total de 182 companhias candidatas,126 foram consideradas inaptas a desenvolver o projeto, um percentual de 69,2%. O principal problema observado foi a falta de experiência na área da chamada pública, responsável pela eliminação de 57,4% das empresas. Os maiores percentuais de recusas estão ligados à falta de cuidado no preenchimento do que pede a chamada. Para Patrícia Retz, chefe do Departamento de Tecnologias Sociais da FINEP, os candidatos não leem editais com atenção.


Cientistas do mundo: uni-vos!

Biblioteca do futuro É este o nome do projeto de uma novíssima biblioteca da PUC-MG, que vai permitir e facilitar a interação da universidade com os melhores centros de ensino do mundo. Na carona da alta tecnologia, com computadores de grande desempenho, vai gerar apoio às pesquisas e aos estudos acadêmicos relacionados com a pós-graduação. Com cerca de R$ 4,2 milhões em financiamentos não reembolsáveis da FINEP, um de seus grandes diferenciais é também a acessibilidade, com suporte tecnológico e científico para pessoas com necessidades especiais (Libras e Braille).

Expansão multimídia A FINEP acaba de lançar mais um meio de se comunicar com seus clientes: a série Canal FINEP, composta por vídeos que falam dos programas e serviços da Financiadora, apresentados por quem está envolvido diretamente com o trabalho. O material está disponível no canal da Agência no Youtube (http://www.youtube.com/user/FINEPcomunica), no qual também podem ser vistos outros conteúdos, como palestras na íntegra da série Debate FINEP e apresentações musicais do Espaço Cultural. Confira!

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Todas as nuances desta nova modalidade de injeção financeira em novos negócios – o investimento anjo – estão reunidas no livro “Investidor-Anjo – Guia prático para empreendedores e investidores” (nVersos Editora), lançado na FINEP, de autoria do engenheiro e investidor Cassio Spina. Anjos são profissionais com ampla experiência de mercado ou empreendedores que já venderam suas empresas e estão em busca de novas oportunidades de investimento. De acordo com Spina, o cenário brasileiro atual aponta para aproximadamente R$ 450 milhões investidos e 5.300 anjos. Que tal ser mais um?

inovação

Por falar em anjos...

Mais de 1,3 milhão de pesquisadores de diversos países já atenderam ao chamado, e só do Brasil foram 35 mil. O ponto de encontro é virtual – a plataforma ResearchGate, uma espécie de Facebook exclusivo para facilitar a comunicação e a troca de experiências entre pessoas que atuam na mesma área de investigação. Os perfis são estruturados como se fossem um currículo científico, para facilitar a busca por área de atuação. Há grupos de discussão, índices de publicações, blogs pessoais, calendário de eventos científicos e até bolsa de empregos, já com mais de 13 mil vagas cadastradas. Para fazer parte, acesse www.researchgate.net.

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saúde

Implante flexível

inovação

em pauta – Número 13

revoluciona tratamento cirúrgico da coluna

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Um antigo desafio prestes a ser superado, o implante flexível para coluna está sendo concebido no berço da inovação brasileira – São José dos Campos (SP). A nova tecnologia alia a resistência do titânio à flexibilidade de partes totalmente articuladas, o que vai proporcionar mais conforto e mobilidade ao paciente. Com patentes depositadas no Brasil e no exterior, a inovação é fruto do sonho de dois irmãos – um médico especialista e um engenheiro mecânico aeronáutico – e está sendo desenvolvida nos laboratórios do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), instituição que já recebeu investimentos da FINEP de pouco mais de R$ 530 milhões nos últimos 10 anos.


Fotos: Sebastião Cavali

Os protótipos estão em testes nos laboratórios do DCTA, em São José dos Campos

Rogério Rangel

D

esde a Antiguidade, o homem busca substituir partes do corpo perdidas em acidentes ou por doenças, e também criar objetos que proporcio-

nem auxílio às limitações provocadas por deficiências. A primeira referência escrita de uma prótese humana pode ser encontrada no texto sagrado indiano Rigveda, datado do século XX A.C – faz referência a uma “perna de ferro” da rainha guerreira Vishpala. E uma das mais antigas evidências físicas encontradas foi em uma múmia egípcia: um dedo do pé, talhado em madeira. Ao longo da história, surgiram desde coroas dentárias (na Roma Antiga) até os modernos pés de metal ultrarresistente, utilizados com sucesso, inclusive por atletas, e braços e mãos robóticas. Uma parte delicadíssima do corpo - a coluna vertebral – é uma das últimas fronteiras que ainda carece de próteses

breve, resultará numa prótese totalmente articulada, feita de titânio, que poderá ser usada como substituto total de uma coluna defeituosa. O projeto intitulado “Sistema de Implantes Dinâmicos

Foto: Dreamstime.com

para Estabilização da Coluna Vertebral Humana” foi concebido por Paulo Tadeu Cavali, cirurgião de coluna do grupo de Escoliose do Hospital da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo, e responsável pela Especialização em Cirurgia de Coluna da UNICAMP. O que motivou o doutor Paulo foram os “resultados inaceitá-

inovação

revolucionário está em desenvolvimento no Brasil e, em

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

que incorporem resistência e comodidade. Um projeto

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veis das soluções atuais quanto à mobilidade e o crescimento de colunas jovens”, afirma. Isso porque, à medida que um jovem cresce, as próteses atuais (pouco móveis) têm de ser substituídas constantemente, compromentendo as estruturas anatômicas e prejudicando a evolução de outras funções, como a pulmonar e a abdominal. Além disso, o novo sitema não só permitirá a correção como a estabilização da coluna de indivíuos de qualquer idade, mantendo o máximo de movimento possível, por meio de lâminas deslizantes independentes. O salto da ideia original para o seu desenvolvimento pleno veio com apoio bem próximo: irmão do doutor Paulo, o engenheiro mecânico aeronáutico Sebastião Cavali desenhou o protótipo e coordena os testes, em realização nos laboratórios do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos (SP). Sebastião explica em que fase se encontra o projeto: “estamos testando dois protótipos, temos um modelo matemático de simulação e de ensaios no computador e logo iniciaremos testes em cadáveres”, afirma Cavali, que é especialista em Gestão de Projetos e Gestão de Tecnologia e Inovação pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA). O novo implante é indicado a pacientes em tratamento cirúrgico da coluna, em casos de fraturas, deformidades vertebrais, doenças degenerativas, tumores, entre outros problemas. A grande vantagem com relação a outros tratamentos existentes é que o paciente poderá manter a mobilidade da coluna com maior conforto, tanto em sua reabilitação quanto no tratamento definitivo, além

Por meio de lâminas deslizantes independentes, o sistema permitirá a correção e a estabilização da coluna, mantendo o máximo de movimento

do acompanhamento mais natural do crescimento, no

inovação

em pauta – Número 13

caso de jovens.

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mente conectada à haste. Assim, após a correção da deformidade, a coluna se mantém alinhada de acordo

Busca de conforto e mobilidade

com a pré-modelagem e posicionamento das hastes rígidas. Este procedimento padrão transforma a coluna

A tecnologia utilizada atualmente na correção das

vertebral “torta” (com escoliose, por exemplo, mas que

deformidades vertebrais utiliza implantes que se fixam

ainda apresenta alguma mobilidade) em uma coluna

nas vértebras por meio de parafusos ou ganchos, que

“reta” (alinhada), porém rígida, ou seja, sem a natural

são unidos por meio de um par de hastes metálicas

mobilidade e flexibilidade. “Como consequência desta

cilíndricas e rígidas. Cada porção do implante é fixada

perda de mobilidade, a médio e longo prazo, as vér-

a cada vértebra (ou conjunto de vértebras) e rigida-

tebras junto à fixação sofrem degeneração dos discos


abdominal. Segundo o doutor Paulo, essas condições acabam causando compressão das vísceras e desnutrição. “O sistema de implantes dinâmicos vem exatamente corrigir essas inconveniências”, diz o engenheiro Sebastião. A nova tecnologia possui depósito de patente no Brasil e em mais 12 países (EUA, Europa, Índia, Japão, China, África do Sul, Austrália, Canadá, Coréia, México, Rússia e Costa Rica). O conceito foi apresentado à empresa suíça Synthes, segunda maior do mundo no segmento de implantes de coluna, que manifestou o interesse de enviar especialistas a São Paulo para a implantação de uma infraestrutura de fabricação dos implantes. Contudo, já que as exigências da empresa incluíam a A inovação alia a resistência do titânio à flexibilidade de partes totalmente articuladas

transferência dos direitos da inovação, os idealizadores decidiram desenvolver o sistema no Brasil. Desta forma, criaram um empresa especialmente para este fim – Cavali Spine Technology –, incubada no CECOMPI (Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista), localizada no Parque Tecnológico de São José dos Campos, e que também conta com o apoio do SEBRAE e da Prefeitura de São José dos Campos.

DCTA – lugar de inovações O desenvolvimento e os testes dos protótipos do projeto têm os laboratórios do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) como base. Situado em São José dos Campos (SP), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA),

volvimento e inovação. São fruintervertebrais e das articulações, o que provoca artrose

tos de seu campus o programa Pró-Álcool e a Embraer,

precoce, dor vertebral, além do enorme desconforto”,

entre outras. E é na Divisão de Propulsão Aeronáutica,

explica o doutor Paulo Tadeu.

do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), divisão do

Na implantação do sistema tradicional, é necessária a

DCTA, onde está sendo desenvolvida a primeira turbina

destruição” de algumas estruturas anatômicas, o que pro-

de pequena potência (TAPP) fabricada no Brasil. Esse

voca uma mutilação parcial da coluna do paciente opera-

tipo de turbina pode ser integrada a Veículos Aéreos

do. Outro fator negativo se refere à perda de crescimento

Não Tripulados (VANTs), ou gerar energia para pequenas

e desenvolvimento vertebral nas colunas dos pacientes

localidades. A FINEP já investiu mais de R$ 530 milhões

jovens, que ficam com o tronco pequeno, provocando a

no DCTA, nos últimos 10 anos, tanto em infraestrutura

diminuição do volume pulmonar e diminuição do volume

quanto em projetos. n

inovação

sinônimo de pesquisa, desen-

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

unidade da Força Aérea, é

17


Foto: Sxc.hu inovação

em pauta – Número 13

Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram, com o apoio da FINEP, um tipo de bisturi à base de tecnologia ultrassônica, capaz de romper as ligações naturais dos tecidos sem agredir o organismo.

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Da redação

dólares. “A tecnologia só é disponibilizada em hospitais

M

de ponta no País e a cirurgia custa caro para o paciente.

édicos que realizam cirurgias minimamente

Com a produção em território nacional, o preço deste tipo

invasivas – como a laparoscopia, indicada para

de cirurgia pode cair cerca de 30%”, afirma o pesquisador.

intervenções em alguns órgãos no abdômen –

O estudo coordenado pelo professor recebeu finan-

têm o desafio de manusear o bisturi e outros instrumentos

ciamento da FINEP por meio de convênio de parceria com

em pequenas incisões, chamadas de portais, feitas em

instituições de pesquisa e o equipamento passará a ser

pontos estratégicos para melhor visualização do cirurgião.

produzido pela WEM. A empresa de Ribeirão Preto (SP)

Os cortes menores diminuem os riscos durante a operação

atua no ramo hospitalar há 27 anos e tem experiência

e proporcionam a recuperação mais rápida do paciente.

na fabricação de bisturis eletrônicos, bastante usados

Mas será que uma cirurgia laparoscópica pode ser feita

nas cirurgias laparoscópicas comuns. Segundo Vanderlei

com instrumentos não cortantes? Pesquisadores brasileiros

Bagnato, a empresa era uma das mais interessadas em dar

mostraram que sim. Cientistas do Instituto de Física de São

continuidade à pesquisa.

Carlos (USP) desenvolveram um tipo de bisturi a base de

Em vez de dilacerar o tecido, como uma faca, o bisturi

ultrassom, capaz de vibrar em alta frequência e desfazer

ultrassônico tem lâminas de titânio que podem vibrar

as proteínas que compõem o tecido humano, o que pode

a uma freqüência de até 100.000 Hz, muito superior à

tornar este tipo de cirurgia cada vez menos invasiva.

captada pelo ouvido humano. Segundo o pesquisador, o

“Nossa rota de pesquisa é fazer da medicina algo

equipamento tem um sistema transdutor capaz de trans-

mais acessível à população”, afirma o professor Vanderlei

formar energia elétrica em movimento. “Essa vibração

Bagnato, do Departamento de Ótica do IFSC. Segundo ele,

transmitida às lâminas de titânio é muito sutil e quase não

o Brasil é um grande importador de tecnologias médicas,

pode ser vista a olho nu. O atrito produzido gera calor, que

mas nem sempre figura entre os fabricantes. Atualmen-

rompe as ligações de proteínas que compõem os tecidos,

te, importamos o bisturi ultrassônico de três fabricantes

com a mesma precisão da cirurgia convencional”, explica.

estrangeiras e o custo do aparelho fica entre 20 e 40 mil

Um dos maiores atrativos oferecidos pela tecnologia ultrassônica é a diminuição Foto: Instituto de Física da USP São Carlos

das complicações que podem surgir no período pós-operatório. “Como as células não são dilaceradas por um objeto cortante, e apenas têm suas ligações naturais rompidas, a agressão ao organismo do paciente é menor e a recuperação muito mais rápida”, afirma Vanderlei Bagnato. O professor ainda do Departamento de Ótica do Instituto de Física de São Carlos é desenvolver outros tipos de tecnologia na área médica a partir do aperfeiçoamento do bisturi ultrassônico. “No futuro, pretendemos combinar o ultrassom com terapia fotodinâmica para tratamento de alguns casos de câncer no abdômen, como no esôfago, por exemplo”. n

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

anuncia que o próximo passo

inovação

O bisturi nas mãos do aluno de mestrado Thiago Balan Moretti, da USP-São Carlos, apenas rompe as ligações naturais dos tecidos sem fazer cortes

19


investimento

FINEP aprova

participação em fundo de

R$ 80 milhões Objetivo do CVentures Primus, gerido em parceria pela CVentures e pela CRP-Companhia de Participações, é investir em empresas nascentes inovadoras, localizadas no sul do País, e com atuação em áreas consideradas prioritárias pelo Governo. Fábio Torres

considerados prioritários pelo Governo Federal – energia,

A

ciências da vida, mídias digitais e TIC –, e localizadas na d i r e to ria d a FI N E P a p ro -

Região Sul. A FINEP entrará com R$ 35 milhões. “O investi-

vou participação no Fundo

mento em empresas nascentes inovadoras é fundamental

CVentures Primus. Com

para alavancar o ambiente tecnológico no País. Neste contexto, a Financiadora tem liderado as ações de apoio

milhões, o fundo vai investir

do Estado Brasileiro no desenvolvimento da indústria de

em empresas nascentes ino-

capital semente”, afirma o diretor de inovação da FINEP,

vadoras ligadas a setores

João De Negri. Pelo menos 80% do fundo serão inves-

Fo

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te

r is

co

patrimônio previsto de R$ 80

tidos em empresas com faturamento máximo de R$ 2,4 milhões, e até 20% podem ser investidos em empresas com faturamento inferior a R$ 16 milhões. O número de empresas que receberá aportes pode variar de 10 a 16, sendo que a participação do fundo em cada

em pauta – Número 13

A gestão do fundo é uma

inovação

uma delas será minoritária.

de Participações, firma

20

parceria da CVentures, instituição do sistema CERTI focada em participações, com a CRP- Companhia gestora com 30 anos de experiência na indústria de venture capital.


De acordo com José Eduardo Fiates, da CVentures, o

“Importante ressaltar que não apoiamos financei-

fundo apresenta configuração arrojada e inédita. “Temos

ramente as empresas por intermédio dos fóruns. Nossa

investidores com histórico de empreendedores, o chamado

missão é outra: além de proporcionarmos um ambiente

smart money. É o dinheiro atrelado à experiência”, afirma.

propício para a captação de investimento privado, ajuda-

O fundo foi aprovado por intermédio do Inovar Semente,

mos a desenvolver uma cultura empreendedora em cada

programa da FINEP que, desde 2006, já realizou cinco

região”, explica Rochester Gomes, chefe do Departamento

chamadas públicas e aprovou a criação de

de Capital Semente da FINEP. Trocando em

sete fundos voltados para investimento em

miúdos, a Financiadora mobiliza e capacita

startups inovadoras. O patrimônio dos fun-

empreendedores, atrai investidores e arti-

dos soma aproximadamente R$ 210 milhões e mais de 12 empresas já foram investidas. No total, a FINEP já comprometeu recursos em 24 fundos de investimentos, e mais de 100 empresas inovadoras foram apoiadas. Além da FINEP, são investidores do fundo o FUMIN - Fundo Multilateral de Investimentos do BID e investidores anjos

Cenário brasileiro aponta para 5.300 anjos e cerca de R$ 450 milhões investidos

regionais. “As empresas nascentes terão

cula o sistema local de apoio às empresas inovadoras. O executivo destacou ainda o crescimento na participação de investidores locais nos últimos três eventos. Este resultado se deve à implantação dos Workshops de Anjos, iniciativa associada aos fóruns em que os investidores anjos recebem um treinamento composto por palestras e cases organizados pela FINEP.

muito mais que o capital investido do

O objetivo desta capacitação é fornecer

Fundo, terão toda a experiência e sinergia do trabalho

aos potenciais investidores um conjunto mínimo de conhe-

da CVentures com a CRP, no total mais de 57 anos de

cimentos e ferramentas necessário à prospecção, valoração,

inovação e empreendedorismo. Empresas e investidores

negociação e legalização de um investimento. Até pouco

agradecem”, comemora Patrícia Freitas, superintendente

tempo desconhecido no Brasil, o conceito de investimento

da Área de Investimento da FINEP.

anjo vem conquistando espaço. Geralmente, está relacionado a profissionais com ampla experiência de mercado ou

Seed Forum

empreendedores que já venderam suas empresas e estão acordo com Cássio Spina, autor do livro “Investidor-Anjo – Guia prático para empreendedores e investidores” (nVersos

Semente também contempla o chamado Seed Forum. Este

Editora), o cenário brasileiro atual aponta para 5.300 anjos

é um programa de capacitação empresarial consolidado

e aproximadamente R$ 450 milhões investidos. Os números

em eventos nos quais os participantes têm a oportunidade

ainda são considerados baixos – sobretudo se comparados

de se apresentar para potenciais investidores. Os fóruns

aos quase 320 mil investidores pessoas físicas que já aplicam

tiveram início em 2007 e, diferentemente do Venture

em torno de R$ 20 bilhões em startups norte-americanas

Forum e do Fórum Abertura de Capital, apresentam ca-

anualmente – mas ele afirma que é nítida a ascensão da

ráter regional. O foco está em companhias com fatura-

prática por aqui. “Temos potencial para alavancar 50 mil

mento de R$ 16 milhões. As empresas devem possuir a

anjos, que poderiam aplicar cerca de R$ 5 bilhões em 11 mil

inovação como diferencial competitivo, de tal forma que

empresas por ano”, afirma Spina, que é diretor da Anjos do

as caracterizem com uma oportunidade nos mercados

Brasil, entidade criada para fomentar o aporte proveniente

em que atuam. Já ocorreram 12 eventos. Desde o início,

de pessoas físicas.

o programa recebeu mais de 950 inscrições, sendo 350

Atuando sozinhos ou unidos a outros anjos nas chama-

empresas selecionadas para participarem de uma banca

das associações ou redes de anjos, os novos investidores

de avaliação composta por profissionais da FINEP e por

buscam participação em projetos com alto potencial de

agentes relacionados ao ambiente local de C,T&I. Destas,

valorização e retorno, mas que devido ao estágio de de-

167 foram capacitadas ao longo de seis semanas e 130

senvolvimento das empresas também apresentam riscos

chegaram à fase final, onde tiveram a oportunidade de

consideráveis. “Nosso objetivo é incentivar esta formação

apresentarem suas oportunidades de negócios para uma

de grupos/redes regionais de anjos também por aqui”, diz

plateia de investidores. Já foram mapeadas 15 empresas

Spina. O próximo Seed Forum, o 13º, acontece dia 04 de

investidas como resultado do programa.

outubro em Foz do Iguaçu (PR). n

inovação

Além da experiência bem-sucedida com fundos de investimento voltados a empresas nascentes, o Inovar

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

em busca de novas oportunidades de investimento. De

21


engenharia

Engenharia nacional

em alerta

Faltam engenheiros ou falta engenharia? A FINEP resolveu se mobilizar para tentar responder essa questão e colaborar na criação de novas políticas para o setor. Conclusão de workshop promovido pela Financiadora é que há uma crise ligada à capacitação, mas sem demanda contínua e estruturada não há como manter mão de obra ativa na quantidade e qualidade necessárias. Paula Ferreira

destinou-se a universidades em consórcio com empresas,

F

para a criação de Laboratórios da Inovação. altam engenheiros no Brasil. Segundo o IPEA (Insti-

Em 2008, um novo edital no valor de R$ 8 milhões

tuto de Pesquisa Econômica Aplicada), se a economia

foi lançado, voltado especificamente para promover a

brasileira crescer mais de 4,5% ao ano, a oferta de

interação de escolas do ensino médio com as ciências da

engenheiros no mercado de trabalho não será suficiente

engenharia relacionadas ao setor de petróleo e gás.

para atender à demanda da indústria e comércio em 2020.

Este ano, a FINEP teve uma nova iniciativa, em outra

Ainda conforme o Instituto, o Brasil forma menos enge-

frente: um workshop de trabalho com o objetivo de for-

nheiros por ano do que Rússia, Índia e China, integrantes

necer subsídios para a elaboração de um programa de

do BRICs, grupo que congrega esses quatro países emer-

governo para o Setor de Engenharia de Projeto no País.

gentes. Aqui, este número é inferior a 40 mil profissionais por ano, na Rússia chega a 120 mil, na Índia é de cerca de

Workshop

inovação

em pauta – Número 13

300 mil e, na China, ultrapassa 400 mil. Além disso, no

22

Brasil apenas 38% da força de trabalho com diploma de

O evento, promovido em fevereiro, em parceria com o

nível superior em engenharia, construção e produção está

BNDES e a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento

efetivamente empregada em ocupações próprias da área.

Industrial, contou com 52 representantes de segmentos

Desde 2006 a FINEP tem se mobilizado para tentar

demandantes, dos setores privado e público, executores

preencher esta lacuna. Na ocasião, a Financiadora lançou

de serviços de engenharia de projeto e instituições finan-

dois editais, com um total de R$ 40 milhões, por meio

ciadoras (BNDES, FINEP, CAPES e CNPq). Durante o dia de

do Programa de Promoção e Valorização das Engenha-

trabalho foram discutidos desafios e propostas ligadas

rias – Promove. A ideia era promover a interação entre

às atividades de pré-investimento, ou seja: estudos de

faculdades de engenharia, setor empresarial e escolas de

viabilidade; projetos conceituais, básicos e executivos; le-

nível médio e técnico. Uma das chamadas apoiou proje-

vantamentos e inventários; e gerenciamento de projetos,

tos que combinam atividades de divulgação das áreas de

por exemplo.

engenharia e aprimoramento contínuo de professores

A principal constatação foi que há uma crise ligada

de ciências exatas e naturais do ensino médio. Já a outra,

à capacitação, mas, por outro lado, sem demanda con-


da folha de pagamento e estabelecer margem de prefe-

planejamento estratégico para manter a demanda e de

rência para aquisição de projetos nas licitações realizadas

instrumentos de apoio específicos, a alta carga tributária

no âmbito da administração pública federal, conforme a

que afeta a competitividade das empresas e os modelos

Lei nº 12.349/2010, que seria observada não só para forta-

atuais de licitações, com compras em pacotes fechados e

lecer o desenvolvimento ou o uso de tecnologia nacional,

focados em preço, foram algumas das dificuldades apon-

mas também para estipular margem de preferência para

tadas, assim como a pouca exigência de conteúdo local.

serviços nacionais de engenharia consultiva.

Durante o evento, o presidente da FINEP, Glauco Arbix,

Além disso, o documento propõe incluir o setor de

destacou que a Financiadora está se esforçando para man-

engenharia como beneficiário do Programa de Financia-

ter o foco de prioridade naquilo que é essencial para o País.

mento Estudantil – FIES/ Empresa e do Programa Ciência

“A FINEP tem grandes desafios em 2012 e, para superá-los,

sem Fronteiras.

temos que aprofundar o debate sobre a qualidade dos

De forma mais geral, foi recomendada a promoção de

investimentos”, disse, acrescentando que “a engenharia

reuniões setoriais para propor soluções focadas nos prin-

consultiva é fundamental neste processo” e a real discus-

cipais setores demandantes de serviços de engenharia

são do workshop seria como superar o atraso desta área

nos próximos anos ou que representem uma prioridade

no Brasil. Ainda com o olhar no desenvolvimento do País,

estratégica para o País, como infraestrutura, petróleo e

o diretor do BNDES Roberto Zurli Machado afirmou que

gás, construção naval e tecnologia da informação, entre

“sem uma boa engenharia não conseguimos desenvolver

outros.

projetos de conteúdo nacional”.

Também foi apontada a necessidade de uma melhor articulação das agências de financiamento e de outros

Propostas O documento que resultou das discussões lista uma série de proposições para melhorar o panorama atual.

agentes do desenvolvimento que, de algum modo, respondam por grandes investimentos para a elaboração de ações integradas para o apoio às empresas

Como medidas de curto prazo, no âmbito do Plano

ofertantes e demandantes de serviços de engenharia.

Brasil Maior, as principais seriam incluir a engenharia de

Com isso, seriam reforçados os mecanismos públicos de

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

projeto entre os setores beneficiados com a desoneração

ativa na quantidade e qualidade necessárias. A falta de

inovação

tínua e estruturada não há como manter mão de obra

23


Incentivo desde cedo Um bom exemplo de iniciativa apoiada pela FINEP por

edital, que é despertar o interesse dos alunos das

meio do Promove, a fim de incentivar o interesse pela

escolas mostrando aplicações práticas de engenharia”.

área de engenharia desde o ensino médio, é o projeto

A equipe da Escola Estadual Ada Teixeira venceu o

Promove-Engenhar, da Universidade Católica Dom

torneio. “Interessei-me pelo projeto porque gosto

Bosco (UCDB), em Campo Grande (MS). Em parceria

de matemática e computação e sempre achei robôs

com a Secretaria de Estado de Educação, uma de suas

interessantes. Acredito que, com a premiação, mais

ações foi um Campeonato de Robótica, promovido no

alunos da escola vão procurar saber mais sobre esta

final de 2010, com seis equipes formadas por alunos

área. Eu mesmo penso em cursar Mecatrônica”,

de cinco escolas da rede estadual de ensino.

comentou Gabriel Teodoro, de 15 anos, líder da equipe

Pioneiro, o projeto foi selecionado no edital de

campeã, composta também por Williamar César,

2006. Para o campeonato, cada escola participante

de 14 anos, e Hudson, de 15 anos, todos do 1º ano

recebeu orientação de professores e monitores da

do ensino médio, além do professor de Matemática

universidade e kits Lego Mindstorm, comandados por

Antônio Jorge da Silva. “O projeto contribuiu

meio de sensores programados pelos próprios alunos

para o aprendizado, trazendo responsabilidade

para executar as atividades propostas na competição,

e comprometimento com os estudos já que, para

que durou seis horas.

montar os robôs, era necessária atenção especial.

O coordenador dos cursos de Engenharia Mecatrônica

Mesmo os alunos que apresentavam dificuldade com a

e Mecânica da Católica, professor Mauro Conti

matemática procuraram estudar mais para aperfeiçoar

Pereira, avalia positivamente a iniciativa: “É

a montagem e os movimentos do robô, refletindo

gratificante ver que está se cumprindo a meta do

também no desempenho escolar”, disse Antônio.

Foto: UCDB

apoio e aperfeiçoadas as linhas de financiamento existentes. Como medidas de médio e longo prazos, o esforço sugerido pelo grupo reunido na FINEP seria voltado para a cadeia da formação dos engenheiros e para joint ventures ou fusão de empresas de engenharia consultiva, para que tenham porte para concorrer em mercados altamente competitivos. Foi sugerido, ainda, um planejamento estratégico nacional para em pauta – Número 13

investimentos em políticas de longo

inovação

apontar escolhas temáticas para

pacial, construção naval, tecnologia

24

prazo que permitam o desenvolvimento de cadeias produtivas e de suprimento, tais como: infraestrutura, petróleo e gás (pré-sal), aeroesda informação e comunicação, eletrônica, mecânica, transporte e Os alunos usaram o que aprenderam em matemática na montagem dos robôs

construção civil, entre outros. n


A

opinião pública v iu recentemente estampad a s na i mprens a denúncias de obras superfaturadas ou de empreendimentos que, em decorrência de sucessivos “aditivos” acabam por ter seus preços aumentados mais do que seria razoável. O dano à sociedade é agravado pelo fato de que os investimentos acabam sendo mal feitos quando não simplesmente interrompidos no meio, deixando, como legado, mais esqueletos de obras inacabadas. O bom senso leva a indagar se e como seria possível coibir tais aberrações com o dinheiro público. Neste momento em que o Brasil se torna alvo de atenções ao receber a Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e se defronta com a necessidade de empreender investimentos ainda maiores para preparar o País para grandes eventos internacionais, esses questionamentos se tornam ainda mais prementes. Este cenário suscita ainda a questão sobre o setor de engenharia consultiva que, após um período de pujança, na fase de crescimento da economia, até os anos 1980, se desmobilizou, perdendo-se a capacitação e parte da memória técnica que já tinham sido acumuladas.

inovação

Joel Weisz*

Os Desafios Atuais e Futuros da Engenharia de Projeto

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

artigo

25


Importância Parece evidente que preceder as licitações públicas para investimentos de planejamento e estudos, bem como de trabalhos de engenharia que permitam reduzir imprevistos e prever melhor como transcorrerá a implantação atenuaria o problema, além de inibir os desvios cometidos deliberadamente. Prover o País com uma capacitação sólida em engenharia de projeto poderá também resultar na incorporação de componentes de maior conteúdo tecnológico às atividades produtivas no País, aproveitar o poder de arraste da engenharia de projeto na especificação e definição de bens e serviços que serão usados nos investimentos, além de, evidentemente, assegurar maior racionalidade, maior observância dos preceitos de desenvolvimento sustentável e menores gastos nos investimentos públicos. Os grandes investimentos previstos devem ser implantados com base em estudos e planejamento, além de engenharia básica e executiva formuladas com o empenho que o montante dos recursos envolvidos exige. No entanto, o que se observa é que a tomada de decisões relativas aos investimentos é procrastinada, até que seja demasiado tarde, para então, em função da urgência na execução, se adotarem medidas excepcionais como dispensa de licitação ou o chamado “Regime Diferenciado de Contratação” que permite o desrespeito à sequência engenharia básica, engenharia executiva e implantação, conforme estipula a Lei de Licitações. A importância da engenharia de projeto transcende os limites do setor de engenharia consultiva e é maior do que sua participação relativa no PIB do País. Ainda que se trate de um setor importante para a economia, por seu papel como repositório do conhecimento e da competência técnica, sua importância reside nos impactos da engenharia de projeto no próprio desenvolvimento do País. Entre os impactos positivos do setor de engenharia cabe mencionar, por um lado, o fato de que quem faz engenharia básica influi na definição de fornecedores de equipamento e de construção civil e, por outro lado, trará maior controle sobre os grandes investimentos públicos.

inovação

em pauta – Número 13

“É fazendo engenharia que as equipes aprendem e ganham experiência”

26

Antecedentes O setor de engenharia de projeto vinha experimentando um grande desenvolvimento nos anos de crescimento acelerado da economia, que se estendeu até o começo dos anos oitenta.

Nessa fase, embora o modelo de substituição de importação nem sempre tenha sido muito favorável à absorção e fixação do conhecimento tecnológico relativo aos fatores de produção então implantados, o setor de engenharia, especialmente o setor de engenharia consultiva, passou, naquele período, por um forte crescimento e absorção de competência. Empresas que, nas primeiras fases de expansão do setor siderúrgico, hidroelétrico ou petroquímico, se limitavam ao trabalho de engenharia de detalhe, já na década de setenta ofereciam trabalhos de engenharia básica, engenharia conceitual, gerenciamento de projetos e estudos de viabilidade. Empresas de engenharia contavam seus profissionais aos milhares. Se é verdade que uma parte destes profissionais seria hoje desnecessária devido aos avanços da tecnologia (ex.: Autocad), o fato é que o setor absorvia os melhores quadros com altos salários. Nos anos oitenta, a redução na demanda por parte do Estado com a desaceleração da economia, além da grave inadimplência de algumas entidades estatais, forçaram várias


Recomendações O que assegura ao País um setor de engenharia forte e dinâmico é a demanda. É fazendo engenharia de projeto que as

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

**Joel Weisz é engenheiro eletricista pela UFMG e mestre em Engenharia de Produção pela New York University. Atuou em diferentes indústrias e empresas de engenharia, implantou e chefiou o Departamento de Engenharia Industrial na Eletromar – Westinghouse, foi coordenador de Planejamento e Estudos Econômicos na Esso Química e superintendente Financeiro da Rio Doce Engenharia e Planejamento. Também professor na FGV em análise de investimentos e em gestão da tecnologia, chefiou várias áreas na FINEP. Autor dos livros “Mecanismos de Apoio à Inovação Tecnológica” e “Projetos de Inovação Tecnológica”, é hoje dirigente da Cognética, Consultoria de Empreendimentos Ltda.

inovação

das empresas de engenharia consultiva a demitirem e reduzirem o seu tamanho. Várias dessas empresas simplesmente não existem mais ou sobreviveram com outras atividades. Com a dispersão das equipes, perdeu-se uma competência que já tinha sido acumulada. O conhecimento destas empresas não se consubstancia apenas em manuais, softwares, blueprints ou outras formas de conhecimento codificado. Tampouco esse conhecimento pode ser localizado em indivíduos. As equipes de engenharia representam o repositório do conhecimento técnico amealhado e sua dispersão significa a perda de valioso acervo. Mais do que isso, este conhecimento deve ser constantemente usado em novos projetos para ser preservado e atualizado. A falta de trabalho, mais do que ensejar a dispersão das equipes, leva à obsolescência do conhecimento.

equipes aprendem e ganham experiência. Esse conhecimento não está nos livros ou em desenhos, nem em indivíduos, mas nas equipes. Só o contínuo exercício da prestação de serviços de engenharia de projetos é que mantém as equipes de engenharia coesas, mobilizadas e atualizadas. O poder de compra dos governos foi, e ainda é, para economias emergentes, muito importante para fortalecer e/ou proteger empreendimentos nacionais, especialmente aqueles que implicam em preservação da memória técnica. Não por outra razão, o subsídio ao investimento em tecnologia está excluído do rol de governos passíveis de ações, no âmbito da OMC, por práticas desleais de comércio internacional. A Lei 12.349/2010 permite que, nos processos de licitação, seja estabelecida margem de preferência para produtos manufaturados e para serviços nacionais, quando houver desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no País. É importante que esta Lei seja posta em prática, para que não se torne letra morta. O pré-investimento para uma obra de porte médio representa um gasto de 7,5% do investimento total enquanto numa obra de grande porte este percentual cai para cerca de 3,5%, segundo a Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE). Isso significa que um gasto relativamente reduzido em estudos, planejamento, planos mestres, inventários, engenharia básica e engenharia executiva deve resultar em economias sensivelmente maiores ao tornar mais racional o investimento físico e os dispêndios nele envolvidos. É com base nesta constatação que entidades, como o Clube de Engenharia, em diversas ocasiões, propuseram uma iniciativa que ainda não se concretizou: a criação de um banco de projetos. Um banco de projetos cumpriria uma dupla função. Por um lado, representaria um fluxo de demanda para o setor de engenharia consultiva, o que evitaria a continuação na dispersão e a desatualização técnica de equipes. Por outro lado, ainda mais importante, representaria um acervo que propiciaria uma tomada mais racional de decisões de investimento, segundo prioridades nacionais, além de maior eficiência nos gastos públicos.

27


Sustentabilidade é possível, e com pequenas atitudes você pode tornar sua empresa mais competitiva. Comece agora. Talvez você não saiba, mas levar soluções sustentáveis para sua empresa pode ser mais simples do que você pensa. Com o apoio do Sebrae você adota pequenos gestos e muda alguns hábitos que podem fazer diferença nos resultados da sua empresa. Quer um exemplo? O simples gesto de desligar aparelhos da tomada quando não estão sendo usados pode reduzir e muito a conta de energia elétrica. Então pense bem, seja sustentável e procure o Sebrae. É bom para o planeta. É bom para o seu negócio.


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tecnologia da informação

Consulta bancária agora

inovação

em pauta – Número 13

Foto: Sxc.hu

pela TV

30

Uma empresa de TI do Rio de Janeiro desenvolveu uma tecnologia representativa dos avanços da TV digital no Brasil: uma plataforma segura capaz de realizar transações bancárias pela televisão. O software, compatível com o Ginga brasileiro, dá acesso a serviços, como consulta a saldos, extratos e transferências, semelhante ao que é oferecido pelos bancos na internet, ao alcance da tela. Da redação

mitem dados por meio de uma conexão com a internet. Ele

Q

funciona em uma camada de software que permite executar

uando o Sistema Brasileiro de TV Digital entrou em

aplicações transmitidas pelos radiodifusores ou embarcadas

operação com o padrão Ginga, no final de 2007,

nas TVs e receptores. Hoje é possível encontrar aplicações

muito se especulava sobre os avanços que este tipo

Ginga disponíveis na TV aberta com sinopses de novelas, no-

de tecnologia poderia ter no Brasil. Cinco anos depois, os

tícias, enquetes, curiosidades e algumas ofertas de comércio

esforços do governo estão voltados para a popularização

eletrônico. O projeto recebeu R$ 2,13 milhões de subvenção

do software livre nacional. Os fabricantes de televisores

econômica da FINEP. Os recursos são do Fundo Nacional de

ganharam incentivos fiscais e, a partir de 2013, serão obri-

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

gados a produzir aparelhos com o Ginga embarcado. Esta

A aplicação bancária desenvolvida pela empresa

corrida digital deu impulso à criação de inúmeras soluções

TQTVD simula o ambiente do banco na tela da TV. Através

interativas para o ambiente de TV, como o t-banking, desen-

desta aplicação, é possível acessar os dados do correntista

volvido pela empresa carioca TQTVD. A aplicação permite

de forma segura e fazer transações bancárias como na

o acesso seguro a serviços bancários, como saldos, extratos

internet. As principais funcionalidades disponíveis atu-

e transferências, através do controle remoto.

almente são: consulta de saldo da conta corrente e pou-

O Ginga é uma tecnologia que associa interatividade ao

pança, consulta de extratos do mês corrente e o anterior,

sinal de radiodifusão, ao contrário das Smart TVs, que trans-

transferências, DOC, TED, entre contas correntes, entre


Fotos: TQTVD

A partir de 2013, aparelhos já virão com o Ginga embarcado de fábrica

contas poupança e de poupança para conta corrente.

ça”, diz David. Segundo ele, os modelos publicitários para

Após negociações, a empresa fechou contrato com o

televisão precisam evoluir com a TV digital. “Em um curto

Banco do Brasil, que adota estrutura semelhante para aces-

prazo, as novas possibilidades podem ser entendidas como

so de seu ambiente através do telefone celular. Segundo

desvio da atenção do espectador, mas em longo prazo,

David Britto, diretor técnico da TQTVD, o principal entrave

isso deixa de ser uma preocupação e surgirão novas formas

para este tipo de tecnologia é o nível de segurança da

de relacionamento com o consumidor e novos canais de

informação exigido pelos bancos, que deve ser máximo e

difusão para os conteúdos das emissoras”, afirma.

também recíproco. “Além da segurança para quem acessa, é preciso haver segurança para quem provê a informação. Assim como há cartão de senhas e sequências de letras quando

Meta é que 90% das TVs fabricadas no País tenham o Ginga até a Copa de 2014

acessamos caixas eletrônicos, é preciso haver certificação O Brasil, assim como outros países da América Latina e de todo o mundo, vive um momento de transição para

A empresa desenvolve outros produtos de interativi-

o modelo digital, que pode durar de 10 a 15 anos. No dia

dade para TV digital e já estuda a integração deste tipo

23 de fevereiro de 2012, a Portaria Interministerial 140,

de tecnologia com tablets e smartphones. “Acreditamos

publicada no Diário Oficial da União, oficializou o que

que o público possa pesquisar informações no tablet ou

já era esperado: os televisores com tela de cristal líquido

no smartphone sobre o que está vendo enquanto assiste à

passam a ter a obrigação de incorporar a capacidade de

televisão”, afirma David Britto. Ele prevê que a tendência

executar aplicações interativas radiodifundidas e a de

deste mercado é a ampliação cada vez maior do conteú-

obedecer ao cronograma estabelecido pelo governo. A

do que é oferecido e a exploração de outros modelos de

meta é de que 90% dos televisores comercializados no país

negócios. “O mercado precisa se adaptar às gerações que

tenham o Ginga embarcado em 2014. O recurso deverá vir

estão chegando e se relacionam com tecnologia de forma

instalado, pré-configurado e habilitado de fábrica.

diferente. Interatividade sempre foi um assunto polêmico

A transmissão analógica continuará ocorrendo simul-

e uns veem nela uma oportunidade e outros, uma amea-

taneamente à digital até o seu encerramento, previsto

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

e o banco sabe quem está do outro lado”, explica David.

inovação

digital, que mostra que você sabe o que está acessando

31


Aplicativo foi exibido em janeiro, nos EUA, na feira Consumer Eletronic Show

para 2016, mas já observa o início da sua extinção. A partir

foi o escolhido pela Argentina, Peru, Chile, Venezuela,

do ano que vem, somente serão outorgados canais para

Equador, Costa Rica, República Dominicana, Paraguai e Bo-

a transmissão em tecnologia digital. Até o ano dos Jogos

lívia. A maioria deles já estabeleceu prazos de encerramen-

Olímpicos no Brasil, o usuário terá três opções. Ou resiste

to de transmissão analógica até 2018. Segundo a Anatel, a

ao movimento e continua a assistir à TV de tubo até o

tendência começou nos Estados Unidos e na comunidade

final da transmissão analógica, ou compra um conversor

europeia, que hoje têm registro pouco significativo de

(set top box), que adapta o sinal digital para a TV analó-

aparelhos de TV que ainda recebem transmissão analógica.

gica, ou adquire um aparelho mais novo que já tenha o

inovação

em pauta – Número 13

conversor incorporado.

32

Uma outra pesquisa, realizada pela Agência Nacional de Telecomunicações, avaliou o mercado consumidor

De acordo com dados divulgados pela Agência Na-

da TV digital no Brasil e revelou que, dependendo da

cional de Telecomunicações (Anatel) em maio de 2012,

região do País, as funcionalidades mais valorizadas pela

o processo de migração tem superado as expectativas.

população foram ajuda para deficientes – como legendas

Segundo o levantamento, o sinal digital já cobre 46,8% da

e sinais para surdos-mudos – seguida da possibilidade de

população brasileira, o equivalente a quase 90 milhões de

gravar programas diretamente da TV para assistir depois.

pessoas. Ao todo, são 31,3 milhões de domicílios, em 508

Segundo Eduardo Machado, do Departamento de Tecno-

municípios. Na análise por Unidade da Federação, além

logia da Informação e Serviços da FINEP, a Financiadora

do eixo Rio-São Paulo, que tem mais de 70% da população

teve dois momentos em relação à TV digital. Na época

com acesso ao sinal digital e do Distrito Federal, totalmen-

da implantação do padrão ISDB-T, em 2007, a demanda

te coberto pela nova tecnologia, se destacam os estados

era por financiamento de projetos para a infraestrutura

das regiões Norte e Nordeste. Amapá, Roraima e Sergipe

de transmissão. Nos próximos anos, os projetos devem

apresentaram os maiores índices de população coberta

estar voltados para as funcionalidades. “Já começam a

por sinal digital, de 80%, 68% e 58%, respectivamente.

surgir ideias sobre como é possível explorar esse potencial interativo oferecido pelo Ginga, apesar do tema ser con-

Padrão brasileiro

troverso por afetar o modelo de negócios entre o mercado publicitário e as emissoras de TV. A expectativa é de que

O padrão adotado pelo Brasil, o ISDB-T, originalmente japonês, é o predominante na América Latina e também

sejam desenvolvidas novas aplicações para o middleware que aproveitem melhor este novo espaço”, afirma. n


tecnologia social Fotos: ATAIC

inovação

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Entender os mistérios das águas amazônicas é o segredo da Ilha das Cinzas, que chegou a um modelo de tecnologia social e de sustentabilidade de uma maneira bem simples: observando e respeitando os ciclos da natureza. Uma pequena mudança na captura dos camarões de água doce mudou a realidade da ilha, que está socializando o conhecimento adquirido com outras comunidades ribeirinhas da região.

33


Da redação

M

atapi é o nome de um rio que banha o estado do Amapá e deságua no Rio Amazonas. Em tupi-guarani, significa o mesmo que pari, uma

cerca usada pelos índios ancestrais para a pesca nas margens dos rios. O nome serviu para batizar a armadilha feita com fibras de árvores usada para a captura de camarões de água doce, instrumento que virou símbolo da cultura marajoara. Na Ilha das Cinzas, comunidade do arquipélago da Ilha do Marajó, no Pará, o matapi significa muito mais do que uma simples ferramenta: é o meio de vida das 40 famílias que moram no local e vivem basicamente da pesca do camarão. Através da observação de líderes comunitários, uma mudança singela na utilização do matapi conseguiu transformar a realidade da população ribeirinha da Ilha das Cinzas e tem servido de exemplo para as comunidades da região do Baixo Amazonas e do Baixo Tocantins sobre como é possível, com boas ideias, implantar um modelo de sustentabilidade que preserve o meio ambiente e também promova o desenvolvimento econômico e social. A Ilha das Cinzas e as outras 2.500 ilhotas do arquipélago de Marajó estão em uma região chamada de estuário do Rio Amazonas, onde a água doce do maior rio do planeta se encontra com o Oceano Atlântico. Esse tipo de ecossistema abriga grande quantidade de moluscos e crustáceos e, consequentemente, é bastante propício para a atividade pesqueira. No entanto, as maiores ameaças às espécies de camarão doce da Amazônia são a pesca predatória e a destruição dos manguezais, que têm diminuído a quantidade e o tamanho dos camarões, comprometendo

e perderam a qualidade para o consumo. “Em algumas

a renda dos pescadores e o equilíbrio ambiental.

comunidades ribeirinhas do Rio Tocantins, os camarões

Diante desse problema, o engenheiro agrônomo Roger Pinto, responsável por uma organização não go-

chegaram a desaparecer, deixando muitas famílias de pescadores sem fonte de renda”, conta Josineide.

vernamental da região, iniciou um estudo de biometria do ciclo reprodutivo do camarão na Ilha das Cinzas em

Mudanças na captura

capturavam tanto os camarões adultos quanto os camarões

Para solucionar a questão, os membros da ONG e os

menores, que estavam no início do seu ciclo reprodutivo.

líderes comunitários da Ilha das Cinzas resolveram fazer

em pauta – Número 13

Depois de mortos, os crustáceos mais graúdos eram sele-

uma adaptação no sistema tradicional de captura e ar-

cionados manualmente para a venda e os mais miúdos,

mazenamento dos camarões. Os matapis passaram a ser

que não tinham valor comercial, eram despejados de volta

confeccionados artesanalmente pelas próprias mulheres

no rio. Durante uma safra de pesca, que dura cerca de

da comunidade ribeirinha, com a tala de jupati, cipós

seis meses, uma família de pescadores chegava a usar 150

retirados da mata e fibras sintéticas. O objetivo é fazer

inovação

1997 e observou que os matapis usados pelos pescadores

matapis para capturar os animais em grande quantidade.

com que a ferramenta tenha mais durabilidade ou que a

Segundo a coordenadora da Associação dos Trabalhadores

reforma dela seja mais fácil – o matapi é amarrado com

Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (Ataic), Josineide Ma-

náilon, o que facilita a reposição da tala quando esta que-

lheiros, com o tempo, os camarões ficaram mais escassos

bra devido ao uso contínuo. Com um aumento do espaço

34


Mais estreitas, as frestas do matapi capturam apenas os camarões adultos, prontos para o consumo

econômico na Ilha das Cinzas. Com o tempo, os pescadores notaram o equilíbrio ambiental alcançado pelo manejo, o que fez com que os camarões voltassem ao seu tamanho normal. Com mais qualidade, o produto passou a ser vendido por um preço maior. De acordo com a coordenadora da Ataic, Josineide Malheiros, o tempo que era gasto na pesca extensiva e na seleção dos camarões passou a ser utilizado para a extração de outros recursos naturais presentes na ilha, como por exemplo, o açaí. “A população passou a diversificar suas atividades e não viver apenas da pesca. Os habitantes da Ilha das Cinzas e os matapis: cooperação gerou frutos para toda a comunidade

A própria confecção dos matapis se tornou rentável para as mulheres da ilha e os frutos típicos da região também passaram a ser uma alternativa de renda”, explica.

A história da população ribeirinha da Ilha das Cinzas

possibilita a saída dos camarões pequenos, respeitando

chamou a atenção da prefeitura de Gurupá e do governo

seu ciclo de vida, e retém apenas os camarões adultos.

do estado do Pará. Foi aprovado um acordo de pesca para

Também foi proposto às famílias pescadoras reduzir pela

todo o município, que define a quantidade de camarões

metade o número de armadilhas utilizadas durante a safra,

que devem ser capturados por safra, além do material que

passando de 150 para 70 matapis. As iscas, que eram de

os pescadores devem usar. Os recursos do poder público

material plástico, também foram substituídas pelas folhas

e da venda dos camarões foram investidos na própria

de certas árvores, coletadas de forma seletiva.

infraestrutura da Ilha das Cinzas, que não tinha postos

Os locais de armazenamento dos camarões também

de saúde ou escolas. A distância do local à sede do muni-

sofreram mudanças. Os pescadores passaram a usar vivei-

cípio é de 100 quilômetros. Um prédio escolar com ensino

ros flutuantes para estocar o camarão vivo e, com isso, ter a

fundamental completo foi construído e já funciona com

oportunidade de fazer uma nova filtragem. Os viveiros são

professores que foram alunos da escola e agora voltaram à

caixas de madeira com um espaçamento entre as tábuas

comunidade para dar aulas. Recentemente, a ilha ganhou

que ficam em contato com a água. Os camarões menores

um sistema de tratamento de água, o que diminuiu o

que conseguem passar voltam para o meio ambiente,

número de casos de doenças de veiculação hídrica, como

ficando na caixa apenas aqueles que estão no tamanho

cólera, hepatite e diarreias, que ocorriam com frequência.

ideal para a comercialização.

Hoje, o principal obstáculo a ser vencido pela comunidade

As medidas adotadas tiveram um grande impacto

é a falta de energia elétrica. Muitos matapis ainda são

inovação

entre as talas em cerca de um centímetro, o novo matapi

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Acordo de pesca

35


Foto: João Luiz Ribeiro / FINEP

Dilma Rousseff entrega o Prêmio FINEP 2011 para Josineide Malheiros, coordenadora da Associação da Ilha das Cinzas, vencedora na categoria Tecnologia Social feitos à luz de gerador a óleo diesel. De acordo com a associação dos trabalhadores

coordenadora da Ataic, Josineide Malheiros, pelas mãos da presidenta Dilma Rousseff.

agroextrativistas da Ilha das Cinzas, desde o início do

Para os representantes da Ataic, o grande desafio

projeto surgiu a preocupação de como esse conhecimen-

daqui para frente é atrair a comunidade científica para

to seria passado adiante. Segundo a coordenadora da

a realização de pesquisas acadêmicas. Nenhuma par-

Ataic, era preciso criar uma forma de capacitação das

ceria ainda foi feita neste sentido. Em 2005, depois do

famílias para a gestão dos recursos naturais da várzea.

reconhecimento do projeto pela Fundação Banco do

“Queríamos nos fortalecer como organização social, na

Brasil, a prefeitura de Gurupá passou a incluir o camarão

formação de lideranças e no incentivo aos acordos de

resultante de manejo na merenda escolar do município.

pesca comunitários. Tivemos que começar um trabalho

A Secretaria Estadual de Pesca e Aquicultura do Estado

de conscientização”, explica Josineide. As boas práti-

do Pará também adicionou ao seu programa de governo

cas de manejo foram incorporadas nas salas de aula

a aplicação do manejo de camarão em outras regiões do

das escolas locais, mesmo não fazendo parte da grade

estado. Atualmente, o projeto está sendo estudado pela

curricular, como palestras e oficinas. Cartilhas foram

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

produzidas e distribuídas para os alunos.

e o governo do Amapá para a implantação da tecnologia social no estado. Em 2011, através de uma parceria com

Prêmio FINEP 2011

o Instituto de Educação do Brasil (IEB), três escritores

inovação

em pauta – Número 13

organizaram um livro sobre o tema, intitulado: “Manejo

36

O processo de conscientização dos moradores da ilha

comunitário de camarão e sua relação com a conservação

deu certo e hoje o trabalho desenvolvido na comunidade

da floresta no estuário do Rio Amazonas”. Para a coorde-

é um exemplo consistente de tecnologia social. “O que nós

nadora Josineide Malheiros, a divulgação da experiência

fizemos nada mais foi do que uma adaptação do sistema

da Ilha das Cinzas é importante para ressaltar o valor do

tradicional de pesca”, justifica Josineide Malheiros. A

saber local quando o assunto é a proposta de soluções

partir do conhecimento popular e da exploração racional

para os problemas da Amazônia. “Nada disso seria possível

dos recursos florestais e aquáticos de forma integrada,

se não tivesse ocorrido a mobilização dos próprios mora-

houve a recuperação dos estoques naturais e também um

dores e a aplicação do conhecimento popular adquirido

incremento na renda familiar. Com o título “Manejo Co-

ao longo dos anos sobre os hábitos do camarão, locais de

munitário de Recursos Ambientais”, o projeto foi o grande

reprodução, período de defeso da pesca, marés, pontos

vencedor do Prêmio FINEP em dezembro do ano passado,

de coleta dos materiais para a confecção dos matapis e

na categoria Tecnologia Social. O prêmio foi entregue à

outros saberes da floresta”, conclui. n


saúde da mulher

Droga brasileira combate

câncer de ovário

Empresa que recebeu cerca de R$ 20 milhões em financiamentos da FINEP tem sua tecnologia reconhecida nos Estados Unidos

nico do produto desenvolvido – o anticorpo monoclonal RebmAb 100. Por ser relativamente raro, com seis mil novos casos por ano no Brasil, o tumor de ovário ainda é pouco estudado pelos laboratórios. No mundo, são 200 mil casos por ano, matando cerca de 115 mil em média. A diferença do novo tratamento é que, enquanto a quimioterapia ataca todas as células que se multiplicam rapidamente – até mesmo as saudáveis –, os anticorpos monoclonais atuam apenas em alvos específicos, ou seja, as células doentes. câncer são registrados anualmente no mundo. Aproxi-

U

madamente 22 milhões de pessoas vivem com câncer,

ma empresa apoiada pela FINEP – a Recepta Bio-

responsável pela morte de cerca de 6 milhões de indi-

pharma –, que desenvolveu uma droga contra o

víduos por ano. Ao contrário da doença cardíaca, as

câncer de ovário, obteve reconhecimento inter-

taxas de sobrevivência ao câncer não melhoraram sig-

nacional para o seu potencial clínico no tratamento da do-

nificativamente nos últimos 50 anos. O câncer continua,

ença. Esta é a primeira vez que uma companhia brasileira

assim, representando um desafio para a ciência médica.

recebe a designação Orphan Drug, do FDA (Food and Drug

Detecção e tratamentos precoces continuam sendo as

Administration), agência norte-americana responsável

melhores opções de sobrevivência.

pela validação de drogas e alimentos, pela importância

O atual estado de conhecimento requer novos avan-

de sua tecnologia no combate ao tumor. Ao todo, a FINEP

ços para complementar as terapias tradicionais - cirurgia,

aprovou cerca de R$ 20 milhões em financiamentos reem-

quimioterapia e radioterapia. Entre as novas opções

bolsáveis e não reembolsáveis diretamente relacionados

terapêuticas, anticorpos monoclonais se destacam entre

às pesquisas da nova droga.

as direcionadas. Devido à sua alta especificidade para as

A atribuição foi baseada na análise dos resultados

células alvo, estes anticorpos são, em princípio, menos

obtidos no primeiro teste, referendando o potencial clí-

tóxicos do que a quimioterapia tradicional, contribuindo

inovação

Fábio Torres

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Atualmente, mais de 10 milhões de casos novos de

37


Um invasor silencioso O número de tumores que pode atingir os ovários é

de tratamento e cura. Por isso, é importante que as

bastante amplo. Por isso é tão complicado diferenciar

mulheres estejam sempre atentas.

quais são benignos e malignos. Os sintomas que

No ano passado, um grupo de pesquisadores

apontam para a investigação deste tipo de câncer

norte-americanos conseguiu recriar em laboratório

são a dor pélvica, incômodo durante a prática sexual,

o processo de formação do câncer de ovário,

crescimento do volume da barriga, perda de apetite

produzindo indícios de que os tumores têm sua

ou rápido empachamento logo após as refeições, e

gênese nas trompas de falópio. A descoberta pode

aumento da frequência urinária.

ajudar a descobrir novas maneiras de combater o

Embora a ampla maioria das incidências abarque

invasor - que, na maior parte dos casos, não apresenta

mulheres na menopausa, esses sintomas também

sintomas que permitam seu diagnóstico precoce,

podem acometer pacientes jovens. Na sua evolução,

espalhando-se pelo organismo discretamente.

o câncer de ovário costuma ser uma doença

As trompas de falópio - ou tubas uterinas - são os

silenciosa – com os sintomas maiores aparecendo já

canais por onde o óvulo desce dos ovários para o

em estágio mais avançado e dificultando as chances

útero durante o ciclo reprodutivo feminino.

Foto: Portal do FDO (Food and Drug Administration)

para o controle da progressão da doença, prevenção e controle de metástases, e aumentando o tempo de sobrevida. Existem atualmente 10 anticorpos monoclonais aprovados comercialmente para tratamento de diferentes neoplasias e mais de 100 em desenvolvimento. De acordo com o físico José Fernando Perez, diretor-presidente da Recepta, o anticorpo é uma proteína desenvolvida por intermédio de um longo processo biotecnológico. Os pesquisadores introduzem o gene responsável

inovação

em pauta – Número 13

pela produção da proteína em

38

Designação Orphan Drug, do FDA (Food and Drug Administration) recebida pela Recepta Biopharma

uma célula animal. Esta célula, então, passa a produzir a proteína em escala para que possa

desenvolvimento do produto, como pedido de aprovação

ser aplicada em pacientes. “Associada ao reconhecimento da

com tratamento acelerado (fast track) e qualificação da

Recepta, foi validada também nossa estratégia de eleger o

Recepta para receber auxílios não reembolsáveis do FDA.

tumor de ovário como prioritário entre as diversas opções que

Além disso, após sua aprovação, a droga terá sete

podem ser consideradas para este anticorpo”, explica Perez.

anos de garantia de exclusividade nos Estados Unidos,

Perez ressalta que não se trata ainda da aprovação

mesmo que a patente já tenha expirado. “Acreditamos

da droga. Porém, do ponto de vista prático, o reconheci-

que dentro de cinco anos a gente possa ter o produto no

mento cria uma série de benefícios significativos para o

mercado”, finaliza Perez. n


Inovação só sai do papel com investimento. Conheça o Inova Brasil, o programa de crédito para empresas inovadoras com taxas e prazos competitivos. A FINEP ajuda a viabilizar o seu projeto de inovação tecnológica, estimulando o crescimento de sua empresa e do País.

Projetos inovadores merecem crédito. www.finep.gov.br/programas/inovabrasil.asp


c a pa / s u s t e n ta b i l i d a d e

A hora verde do planeta azul Fábio Torres

O

desenvolvimento sustentável, muito além de mera questão perfumaria neste começo da segunda década do século, virou protagonista

dos debates sobre o futuro do planeta. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), dois milhões de pessoas morrem anualmente vítimas de poluição do ar. O estudo analisou dados de 1.100 cidades, de 91 países, com mais de 100 mil habitantes. Estima-se ainda que mais de dois milhões de toneladas de lixo são jogadas diariamente em rios e lagos do planeta, e que 12 mil km3 de água estejam poluídos em todo o mundo. Se as taxas de poluição mantiverem o atual ritmo de crescimento, este número saltará para 18 mil km3 de águas poluídas até 2050. Preocupada com a crescente degradação do meio ambiente, a FINEP lança o Programa Brasil

inovação

em pauta – Número 13

Sustentável, que vai aplicar R$ 2 bilhões em

40

projetos de empresas em cujos escopos esteja incluído o tema sustentabilidade em suas mais diferentes acepções. Estarão contemplados temas como: biomassa e energias renováveis; smart grid e veículos elétricos; mudanças climáticas; materiais, construções e mobilidade urbana; resíduos sólidos, biodiversidade e Amazônia; e tecnologias sociais. O anúncio pega carona nas discussões da Conferência

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Atenta a iniciativas que não descolem crescimento econômico da preservação do meio ambiente – preocupação-chave em todo o globo atualmente –, a FINEP lança o Programa Brasil Sustentável. Ele vai aplicar cerca de R$ 2 bilhões por meio da combinação de diferentes linhas (crédito, subvenção econômica e outras fontes) em projetos de empresas que concentrem seus holofotes na preservação dos recursos naturais. Nos últimos oito anos, a Financiadora já destinou pelo menos R$ 4,5 bilhões a projetos com alguma característica “verde”. Para 2012, também foi incluída uma nova categoria no tradicional Prêmio FINEP: “Inovação Sustentável”. Ele concederá até R$ 200 mil para empresas de qualquer porte e segmento que insiram a sustentabilidade em seus produtos, processos e serviços inovadores.

das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, alusiva aos 20 anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). A ideia do evento é contribuir para definir a agenda do desenvolvimento consciente para os próximos anos. Segundo o presidente Glauco Arbix, a nova política operacional recém-aprovada pela FINEP – cujo objetivo é alavancar a inovação da indústria, buscando eleger projetos que contribuam de forma efetiva para os objetivos traçados nos programas do Governo Federal – vai premiar os projetos sustentáveis. “As empresas que apresentarem a sustentabilidade atrelada às suas propostas ganharão algum tipo de bônus, como redução da taxa de juros, aumento de prazo

categoria, “Inovação Sustentável”. Serão premiadas com até R$ 200 mil (R$ 100 mil nas premiações regionais e mais R$ 100 mil na premiação nacional) as empresas que desenvolvam e comercializem, há pelo menos três anos, produtos, processos e serviços nos quais os pilares de sustentabilidade (ambiental, social e financeiro) encontram-se integrados ao sistema de pesquisa, desenvolvimento e comercialização. De acordo com estudo realizado pela Área de Planejamento da FINEP, entre 2004 e 2011, cerca de 480 projetos, cujo valor total chega a R$ 4,5 bi, e que representam 9% da carteira avaliada, tiveram objetivos ou atividades re-

inovação

este ano, o Prêmio FINEP de Inovação conta com novíssima

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

para pagamento, entre outros”, conta. E tem mais: para

41


lacionados ao conceito de desenvolvimento sustentável. O mapeamento não indica que este percentual seja integralmente “verde”, mas aponta um nítido “esverdear” no conjunto das propostas que receberam carimbo de aprovação da Financiadora ao longo dos últimos oito anos. Da carteira de crédito da empresa (projetos reembolsáveis), 32% apresentam alguma característica que toca direta ou indiretamente o tema. O estudo sinaliza que mais de 160 projetos receberam financiamentos reembolsáveis a partir de 2004, com valor que ultrapassa R$ 3,4 bilhões. É importante salientar que até o momento não houve uma direta política indutora deste processo, o que, entre outras coisas, significa que a própria lógica do mercado tem refletido as discussões de um planeta hoje preocupado com os sinais de alerta entregues pela natureza. Os projetos contratados e em contratação foram classificados em setores considerados verdes: cidades e construções sustentáveis; transportes sustentáveis; tecnologias limpas; energias sustentáveis; gerenciamento de resíduos e reciclagem; agricultura sustentável; florestas; água e pesca. Essas áreas estavam identificadas em uma publicação da UNEP (United Nations Environment Programme) como aquelas que possuem “o potencial de impulsionar a recuperação econômica enquanto lidam com muitos outros desafios sociais e ambientais globais.” No que se refere ao tipo de projeto, os projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) são predominantes, representando 85% do montante e da quantidade. Em seguida, vêm os projetos de pré-investimento, vinculados a estudos de viabilidade para

-açúcar (álcool e bagaço), que já representa 16 % da matriz

energia renovável e infraestrutura, com R$ 487,8 milhões da

e é a segunda maior fonte de geração de energia no Brasil

carteira (13%). Quanto ao setor econômico, os projetos de

depois do petróleo. Em 2030, este número deve subir para

crédito concentram-se principalmente no setor de Indústria

18%. Para o diretor da Biocapital Consultoria Empresarial e

(54%), seguido pelo setor de energia (25%), e pelo de agri-

Participações S.A Ricardo Magalhães, “as matérias-primas,

cultura (10%). Com relação à subvenção econômica (recursos

os processos industriais e a cadeia de distribuição vão de-

não reembolsáveis), 17,3% dos projetos aprovados nos cinco

terminar quais os biocombustíveis que irão consolidar-se

editais apresentam algum viés ligado a sustentabilidade, totalizando R$ 470 milhões ou 25% do total de recursos.

inovação

em pauta – Número 13

Palha da cana

42

A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo e, atualmente, mais de 45% de toda a energia consumida no País provém de fontes renováveis. Nos países desenvolvidos, este percentual beira os tímidos 13%. Estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) revelam que o Brasil deve manter a proporção de quase 50% de renováveis até 2030. A projeção para o uso do petróleo e derivados é de queda, de 36,7%, em 2008, para 29%, em 2030. O espaço dos combustíveis fósseis será ocupado, em parte, pela cana-de-

Carteira “Verde” – Crédito Setor Econômico – No de projetos


Foto: João Luiz Ribeiro / FINEP

das boas estimativas para a safra 2012/2013 – a produção de etanol deve atingir 24 bilhões de litros, algo ligeiramente superior aos 22,7 bilhões de litros anteriores – especialistas afirmam que é imperativo o aumento da eficiência energética. Os recursos da FINEP possibilitaram a elaboração de um laboratório móvel construído sobre a carroceria de um caminhão baú. O objetivo da pesquisa é tornar a palha da cana tão importante quanto o bagaço da cana-de-açúcar. Foto: Sxc.hu/ Josi

Empresas que apresentarem projetos sustentáveis ganharão bônus da FINEP, como aumento de prazo para pagamento, diz Glauco Arbix

Plástico verde Lançado em julho de 2007, o polietileno verde da Braskem – empresa que faturou o Prêmio FINEP de Inovação 2011 na categoria grande empresa e que já recebeu

o menor custo serão os vencedores nesta corrida”, afirma.

projeto se tornou realidade e a Braskem, ao colocar em

A Biocapital foi uma das empresas financiadas pela

operação sua primeira planta industrial de eteno verde,

FINEP para desenvolver o projeto Geração de Querosene

se tornou líder mundial na produção de biopolímeros.

para Aviação a partir de Biocombustíveis, Biomassa de

Com quase 30 pedidos de patente depositados no País nos

Etanol. Produzir bioquerosene (QAV) com etanol da cana-

últimos três anos, produz cerca de 7,5 milhões de tone-

-de-açúcar para que possa ser utilizado em aeronaves é

ladas anuais de resinas termoplásticas, como Polietileno,

o objetivo da empresa, que recebeu R$ 7,9 milhões da Fi-

Polipropileno e PVC, utilizados na fabricação de sacos e

nanciadora. No Brasil, ainda não há uma planta em escala

embalagens plásticas, brinquedos, copos descartáveis,

industrial que produza o QAV a partir de óleos vegetais

material hospitalar esterilizável, autopeças, material aquá-

ou etanol. Mas as pesquisas avançam. “Irão desenvolver-se

tico (como pranchas) e outros. Hoje, já atingiu o patamar

aquelas tecnologias que conseguirem produzir o QAV da

de 200 mil toneladas de polietileno a partir do etanol de

forma mais econômica”, afirma o diretor da Biocapital,

cana-de-açúcar. Em 2011, o PE verde da Braskem recebeu a

empresa pioneira no segmento de energia renovável. A

certificação máxima da empresa belga Vinçotte, principal

Biocapital tem uma planta no município de Charqueada,

instituição de avaliação de produtos com conteúdo de

em São Paulo, que produz biodiesel a partir de várias

origem renovável. Até abril de 2014, o polietileno verde

matérias-primas que não competem com alimentos.

da Braskem usará o selo “ok biobased”. Com investimento

Também em São Paulo, o Centro de Tecnologia Cana-

de cerca de US$ 290 milhões na planta de eteno verde em

vieira (CTC) recebeu R$ 6 milhões da FINEP para desenvol-

Triunfo – RS, a Braskem se destaca no desenvolvimento

vimento de tecnologia para aproveitamento da palha da

deste mercado baseado em produtos de origem renovável.

cana como combustível nas usinas de álcool e açúcar. Apesar

O plástico verde da Braskem é feito com etanol de cana-

inovação

a ser produzido de fonte 100% renovável. Em 2010, o

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

mais de R$ 150 milhões em financiamentos – foi o primeiro no futuro. Aqueles que chegarem ao consumidor final com

43


Habitações sustentáveis e ambientalmente seguras Como se podem aproveitar os conhecimentos das Tecnologias Sociais (TS) para a construção e manutenção de moradias, especialmente as Habitações de Interesse Social (HIS)? E como isso pode ser realizado numa perspectiva sustentável e com redução de riscos ambientais? São essas as discussões que estão no centro de um projeto multidisciplinar, coordenado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Rogério Rangel

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O termo Habitação de Interesse Social (HIS) define uma série de soluções de moradia voltada à população de baixa renda. A expressão tem prevalecido nos estudos sobre gestão habitacional e vem sendo utilizada por várias instituições e agências, no lugar de outros, mais restritos, como Habitação de Baixo Custo ou Habitação Popular. Já o conceito de Tecnologia Social (TS) compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. A ideia do projeto, coordenado pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, é discutir a aplicação dos conceitos de TS nas HIS, com o intuito de consolidar ações e estudos que possam subsidiar mudanças nas políticas públicas de habitação.

do”, explica Cristiane Pauletti, assessora do coordenador protótipos virtuais”, diz Cristiane. Além da UFRGS, outras

atividades do projeto, além da proposição de pequenos

sete instituições de ensino e pesquisa participam da rede:

ajustes nas atividades inicialmente previstas. Atualmente,

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de

já há atividades em andamento em todos os subprojetos, e

Alagoas (UFAL), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Uni-

mapas, oficinas e alimentação do site criado para o projeto

versidade Federal de Pelotas (UFPEL), Universidade Federal

Rede FINEP de Moradia e Tecnologia Social (www.mom.

do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de São Paulo (USP).

em pauta – Número 13

do projeto, professor Luiz Carlos. “Por enquanto, teremos

os resultados se traduzirão em produtos, como relatórios,

inovação

Após a fase de formação da rede, em agosto de 2011, as equipes se reuniram e definiram o andamento das

cações específicas, como produção de blocos com resíduos

Durante a execução dos subprojetos, estarão em deba-

de construção e demolição (RCD), concreto permeável,

te desde alternativas para a construção de moradias até a

entre outros. “Devemos construir um protótipo, após o

identificação de opções para a redução da vulnerabilidade

estudo de tecnologias aplicáveis, ainda sem local defini-

de habitações em situação de risco ambiental, sempre

44

arq.ufmg.br/mom/27_finep/index.php). Não está prevista a construção de casas, mas sim apli-

Alternativas


tendo em foco o uso da Tecnologia Social.

-de-açúcar, o que leva a uma produção mais eficiente. Além

Com os resíduos de construção e demolição (RCD),

disso, a crescente profissionalização do setor de produção

já está sendo feito um trabalho com a ONG Solidarie-

de etanol e a eficiência dos processos da Braskem conferem

dade, de Porto Alegre, com a finalidade de capacitar

vantagens ambientais excepcionais ao ciclo de vida do polie-

catadores e carroceiros para fabricar blocos de con-

tileno verde: cada tonelada de polietileno verde produzido

creto com RCD. “Esta é uma alternativa de renda, uma

captura e fixa até 2,5 toneladas de CO2 que estavam na at-

vez que eles não poderão mais circular no município

mosfera, ajudando a reduzir as emissões de gases do efeito

a partir de 2013, de acordo com uma lei municipal”,

estufa e evitar o aquecimento global. Quando se compara

explica Cristiane. O concreto permeável, que permite

o sequestro de carbono do polietileno verde da Braskem

maior escoamento das chuvas, é uma possibilidade de

com o do polietileno petroquímico, a vantagem ambiental

aplicação em comunidades vulneráveis. No momento,

é ainda maior: cada tonelada de polietileno petroquímico

existe uma pista experimental feita com o material

emite 2,1 toneladas de CO2 para a atmosfera.

em análise. Outro exemplo é o escadômetro (relação entre

Reaproveitamento de água

altura e largura de degraus de escadas), desenvolvido pela UFMG, que auxilia na qualificação da autoprodução de moradias.

Outro tema que vem preocupando a comunidade científica é a água. Cantado por Jorge Ben Jor como “bonito por

O projeto terá duração de 24 meses, a contar de

natureza”, o Brasil é um país privilegiado. Sozinho, detém

julho de 2011. No entanto, há a percepção de que

12% da água doce de superfície do mundo, o rio de maior

este tempo seja pouco para analisar e pôr em prática

volume e um dos principais aquíferos subterrâneos, além

mudanças que têm por objetivo melhorar a questão

de invejáveis índices de chuva. Mesmo assim, falta água

da moradia no País. “Por isso, as equipes que consti-

no semiárido e nas grandes capitais, porque a distribuição

tuem a rede têm a expectativa de continuidade das

deste recurso é bastante desigual. Cerca de 70% da reserva

atividades através de novos projetos nesta linha de

brasileira de água está no Norte, onde vivem menos de 10%

ação”, diz Cristiane.

da população. A situação pode ser pior nas regiões populosas, nas quais o consumo é muito maior e a poluição das

O projeto Minha Casa, Minha Vida tem recursos

para o uso. Estima-se que 500 milhões de pessoas ao redor

da FINEP de cerca de R$ 4,2 milhões, e se originou

do globo poderão ter dificuldades de acesso à água em

no edital de 2010, por encomenda do Ministério

2015. Aqui, já há 19 regiões que enfrentam o problema de

das Cidades, nas áreas de saneamento e habitação.

“stress” hídrico, dizem os especialistas.

A chamada pública destinou R$ 40 milhões para

Há uma década, o engenheiro e professor da Uni-

apoio a projetos de pesquisa inovadores em sanea-

versidade Federal do Espírito Santo (UFES) Ricardo Franci

mento ambiental e habitação. São R$ 20 milhões em

percebeu que poderia conferir outra coloração aos seus

duas áreas, divididas em temas: na chamada “Área 1”

estudos sobre aproveitamento de água em edifícios. Ten-

(saneamento ambiental), os temas são esgotamento

do trabalhado numa companhia de saneamento quando

sanitário, gestão de resíduos sólidos, biogás produ-

morava na França, sempre foi um “tratador de esgoto e

zido em sistemas de tratamento de esgotos e aterros

água”, como se define. Mas a perspectiva de racionali-

sanitários. Já na “Área 2” (habitação), estão sendo

zação do consumo de água e consequente conservação

apoiados segmentos ligados a canteiros de obras,

de energia, o fez antever uma tendência que já marca os

materiais e componentes ecoeficientes, tecnologias

estudos sobre consumo hídrico doméstico nas próximas

sociais e reabilitação de edifícios, entre outros. Os

décadas: o gerenciamento de águas amarelas, negras e

projetos foram selecionados de modo a contribuir

cinza em edificações urbanas, não por acaso também o

para o uso de novas tecnologias construtivas no âm-

título do projeto que recebeu em torno de R$ 220 mil da

bito do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV).

FINEP. Mas o que seriam estes matizes que distinguem

Esse edital dá continuidade às ações do Programa

os tipos de água que entram e saem de nossas casas? As

de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB) e do

águas amarelas são águas de urina, as negras, a mistura de

Programa de Tecnologia de Habitação (HABITARE),

amarelas com marrons (fezes), que caracteriza o esgoto, e

operados pelo MCT/FINEP.

as cinza são as que escorrem de pias, chuveiros, máquinas

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

indústrias e do esgoto residencial reduz o volume disponível

inovação

Minha Casa, Minha Vida

45


de lavar roupas e lavatórios em geral. Há também as águas

metrópoles brasileiras, o professor decidiu partir para o

definidas pela cor azul, que são as de chuva.

ataque e pôr em prática os estudos que desenvolveu com

O objetivo geral do projeto capixaba, portanto, foi o

a sua equipe de pesquisadores na universidade. Sócio-

de pesquisar e desenvolver fontes alternativas de água,

-fundador da Fluir Engenharia, uma microempresa que

ou seja, fazer com que parte do líquido produzido nas

se especializou no desenvolvimento de técnicas de reúso

residências pudesse tomar o caminho de volta e ser reuti-

de água, o também empreendedor Franci tem visto o seu

lizado. “Entre 2016 e 2020, a Grande Vitória, por exemplo,

negócio crescer 80% ao ano. “Tudo o que pesquisamos

pode sentir um verdadeiro colapso. A tendência é a falta

na UFES é publicado, cai em domínio público. Aí, em cima

de água mesmo”, alerta Franci. Mas em vez de apenas

deste modelo de utilidade, criamos um caminho específico

apontar as falhas históricas na política de saneamento das

para a empresa. É um mercado explosivo”, explica. n

Rio+20: apoio de R$ 3 milhões da FINEP Durante a Rio+20, a FINEP terá uma estrutura no

Cooperação, que integra a estrutura do Ministério

Armazém 3 do Píer Mauá de 3,5 mil m2 totalmente

das Relações Exteriores (MRE). Essa agência negocia e

planejada a partir de um design “verde”. No estande

estrutura projetos brasileiros de cooperação técnica,

ocorrerá a exposição Inovação para o Desenvolvimento

executados com base nos acordos firmados pelo Brasil

Sustentável. Diversas empresas e instituições públicas

com outros países e organismos estrangeiros.

e privadas – entre as quais Itaipu Binacional, Embraer

Venture Forum Brasil Sustentável

e Embraco – estarão presentes. A CNI (Confederação

No dia 15 de junho, acontece o Venture Forum Brasil

Nacional da Indústria) e instituições associadas também

Sustentável, que vai apresentar empresas inovadoras

confirmaram presença e ocuparão um estande com

com atuação centrada em tecnologias verdes ou

cerca de 300 m2. Todos os expositores apresentarão

destaque nos componentes ligados à sustentabilidade

produtos, serviços e processos inovadores ligados

(social, ambiental e econômico) a potenciais investidores

ao tema que norteia o evento. Já o Armazém 4, foi

de seed capital, venture capital e private equity. As

cedido pela FINEP para ser ocupado pelo Ministério

empresas selecionadas também terão espaço para

da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Os projetos

a exposição de seus produtos e serviços no pavilhão

expostos terão por foco a inovação consorciada com

da FINEP na Conferência. Desde 2001, a Financiadora

sustentabilidade. A Financiadora, que está apoiando

realiza fóruns de aproximação de companhias

a Rio+20 com R$ 3 milhões, quer liderar o apoio às

inovadoras e investidores com o apoio do Fundo

iniciativas voltadas ao crescimento responsável do

Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano

ponto de vista ambiental”, afirma Alice Abreu, chefe da

de Desenvolvimento – FUMIN/BID. Neste período,

Coordenação de Cooperação Internacional da FINEP.

ofereceu orientação estratégica a mais de 340 empresas,

Alice destaca ainda que já foi assinado um outro acordo

das quais cerca de 20% receberam investimento.

com o PNUD que permitirá

Foto: piermaua.com.br

à FINEP organizar eventos internacionais de grande

inovação

em pauta – Número 13

envergadura ligados à inovação

46

para a sustentabilidade. “A ideia é que a Financiadora esteja à frente de feiras e exposições internacionais nos mesmos moldes a cada dois anos”, explica. O acordo tem por instituição interveniente a Agência Brasileira de

Armazém 3 do Píer Mauá, onde ocorrerá a exposição Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, organizada pela FINEP


prêmio finep

Na rota da inovação

reduzida. Já a Inovação Sus-

D

tentável reconhece iniciativas

esde 1998, a Financiadora reconhece o esforço

em que a sustentabilidade te-

de quem se mobiliza para desenvolver tecnologia

nha sido integrada ao sistema

capaz de modificar comportamentos, mobilizar a

de pesquisa, desenvolvimento

sociedade, impactar a economia não importa se por meio

e comercialização, pelo viés

de produtos ou processos. Para isso, criou, há 15 anos, o

financeiro, social e ambiental.

Prêmio FINEP de Inovação, voltado a empresas, instituições

As novas categorias so-

e pessoas físicas, sendo responsável pela projeção dos

mam-se às sete já existentes:

contemplados não apenas no Brasil como no exterior. As

Micro e Pequena Empresa,

inscrições em 2012 estão abertas até 16 de agosto, para

Média Empresa, Grande Empresa (apenas na etapa na-

quem a inovação corre nas veias.

cional), Instituição de Ciência e Tecnologia, Tecnologia

O prêmio aperfeiçoa-se a cada edição. Este ano, traz

Social, Inventor Inovador e Inovar Fundos – esta também

uma série de mudanças. A principal delas é a premiação em

restrita à etapa nacional e dividida em três subcategorias:

dinheiro: serão disponibilizados de R$ 100 mil a R$ 600 mil

Governança, Equipe e Operação.

para os primeiros colocados regionais e nacionais de cada

Podem concorrer ao Prêmio empresas ou Instituições

categoria, totalizando cerca de R$ 9 milhões. Até 2011, a

de Ciência e Tecnologia (ICTs), públicas ou privadas, Orga-

FINEP concedia aos vencedores recursos não reembolsá-

nizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs)

veis. A liberação ficava condicionada à apresentação de

e Organizações Não Governamentais (ONGs) com sede

um projeto de ciência, tecnologia e inovação que tivesse

no País e que tenham a inovação como elemento chave

aderência às linhas e condições de financiamento.

em suas estratégias de atuação. Na categoria Inventor

Outra novidade desta edição é que o Prêmio passa a

Inovador, podem concorrer pessoas físicas que tenham pa-

contar com mais duas categorias direcionadas a empresas:

tentes concedidas pelo Instituto Nacional de Propriedade

Tecnologia Assistiva e Inovação Sustentável. A primeira

Industrial (INPI), desde que o objeto esteja comercializado.

contempla produtos e processos que promovam a auto-

Na categoria Inovar Fundos, concorrem empresas gestoras

nomia, independência, qualidade de vida e inclusão social

de fundos de capital semente, venture capital e private

de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade

equity constituídos há, no mínimo, dois anos.

inovação

Vera Marina da Cruz e Silva

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

A flor no agreste, o avião no céu, o stent no coração, o etanol nos carros, o plástico biodegradável, a bananeira clonada. O que tantas novidades em áreas tão distintas têm em comum? Simples: um fio condutor que tece o processo da inovação. Uma ideia que saiu do papel e chegou ao mercado. E é nesse novo que a FINEP aposta.

47


A vez dos jovens

escolhido pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos.

A FINEP não se contentou apenas em reconhecer

- Queríamos criar um prêmio voltado para o público

esforços inovadores de empresas, instituições científicas

pré-universitário, com uma temática diferente a cada

e tecnológicas. Foi mais longe: criou um prêmio para es-

ano. Por isso, escolhemos como suporte para a primeira

tudantes de 14 a 18 anos, chamado Prêmio FINEP Jovem

edição a fotografia, que é de fácil acesso e gera bastante

Inovador, que vai selecionar as melhores fotografias sobre

interesse entre os jovens. A intenção é fazer com que eles

energia sustentável. Podem se inscrever alunos de todo o

tenham ideias inovadoras e, quem sabe, possam concorrer

Brasil. O objetivo é levar o conceito de inovação às escolas

ao Prêmio FINEP no futuro -, afirma André Calazans, chefe

e despertar o interesse dos mais jovens por tecnologia.

do Departamento de Marketing da FINEP.

O tema é uma homenagem à Rio+20 e ao ano de 2012,

Dentro do tema proposto, as fotos podem ser de paisaFoto: Natura

Estrelas da premiação Rodrigo Pelot Nos últimos anos, empresas agraciadas com o Prêmio FINEP de Inovação e também apoiadas pela Financiadora têm se destacado em rankings de inovação feitos por instituições especializadas. Um bom exemplo é a última lista da Revista Época Negócios, divulgada em outubro de 2011. Das 20 empresas eleitas as mais inovadoras do Brasil, sete são clientes da Agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e carregam o troféu do Prêmio FINEP. Entre elas está a Embraco, sexta colocada no ranking Época. A empresa é líder mundial no mercado de com-

Adriano Jorge, gerente de Fomento e Parcerias

pressores herméticos para sistemas de refrigeração, equi-

para Inovação da Natura

pamento que é uma espécie de motor para geladeiras e

inovação

em pauta – Número 13

freezers. “Temos uma relação extremamente produtiva

48

com a FINEP”, afirma Fábio Klein, Diretor Corporativo de

processos. Entre os principais objetivos estão a redução do

Desenvolvimento Tecnológico da Empresa. Um caso de

consumo de energia, do impacto ambiental e do custo de

sucesso desta parceria foi a construção do Laboratório de

produção dos compressores”, explica Fábio. A UFSC libe-

Pesquisa em Refrigeração e Termofísica da Universidade

rou os R$ 600 mil restantes para a construção do prédio,

Federal de Santa Catarina (UFSC), batizado de POLO.

fundado em março de 2006.

O prédio, de 2,5 mil metros quadrados, abriga 15 la-

A Embraco foi vencedora em quatro edições do Prêmio

boratórios, que compõem um dos mais avançados centros

FINEP, das quais três em nível nacional. A última foi em

de pesquisa do mundo na área de refrigeração. No total,

2010, na categoria Grande Empresa.

foram gastos R$ 3,5 milhões no projeto, dos quais R$ 1,3

No ranking anual da revista americana Forbes, que

milhão aportados pela FINEP. A Embraco, que investiu

elegeu as 100 empresas mais inovadoras do mundo em

R$ 1,6 milhão, é a principal parceira do laboratório. “Em

2011, quem brilhou foi a Natura Cosméticos, na oitava

conjunto com o POLO, realizamos pesquisas que permi-

colocação. Única representante brasileira na listagem, a

tem o aperfeiçoamento constante de nossos produtos e

companhia ficou apenas uma posição atrás da gigante


gens, máquinas, pessoas, objetos, construções e instalações.

jurados da FINEP avaliará as fotos em até 120 dias após o

“Como exemplos de energia sustentável, estão a energia

término das inscrições. Os critérios serão a originalidade,

solar, a eólica e a gerada pela biomassa. Queremos que os

a qualidade técnica e estética da foto, e a adequação ao

jovens pesquisem e que as escolas e as famílias se envolvam

tema proposto. Serão escolhidas as três melhores fotos

no processo”, explica André Calazans. A divulgação do Prê-

de cada região do Brasil, e os fotógrafos homenageados

mio FINEP Jovem será realizada em parceria com secretarias

com troféus em cerimônias de premiação. As fotografias

de educação e instituições de ensino públicas e privadas.

classificadas em primeiro lugar na etapa regional concor-

Cada participante pode concorrer com até três foto-

rerão ao Prêmio Nacional. Os primeiros lugares de cada

grafias, inéditas e digitais. O arquivo deve estar no for-

região receberão ainda um prêmio no valor de R$ 2,5 mil

mato JPEG ou TIFF, com no mínimo 500 KB e, no máximo,

e o vencedor nacional, escolhido entre eles, recebe mais

5 MB. As inscrições vão até 16 de agosto. Um comitê de

R$ 2,5 mil pela vitória geral na competição. n

Google. De acordo com a publicação econômica, o prêmio

Adriano Jorge, Gerente de Fomento e Parcerias para Ino-

mede quanto os investidores apostam na alta das ações de

vação da Natura. O executivo afirma que um dos principais

uma empresa mesmo acima do preço de negócio, devido a

diferenciais é a liberdade em discutir com os profissionais

expectativa de futuros resultados, como novos produtos,

da FINEP as ações inovadoras que serão adotadas pela em-

serviços e mercados.

presa. “Temos pelo menos 10 anos de futuro já projetados

A Natura é uma tradicional cliente da FINEP. Somados os aportes realizados desde 2006, são cerca de R$ 127

em conjunto com a Financiadora”, diz Adriano. Antes da Forbes, a FINEP já havia reconhecido o esfor-

milhões destinados a projetos inovadores da empresa. O

ço inovador da Natura, concedendo-lhe o Prêmio FINEP

foco é no desenvolvimento de tecnologias para produção

2009 na Categoria Grande Empresa.

de cosméticos a partir da biodiversidade brasileira.

Não é de agora que as companhias brasileiras apoia-

“Nosso envolvimento com a Agência vai muito além

das pela FINEP aparecem com destaque em rankings

da simples relação entre cliente e financiadora”, revela

internacionais. Em 2008, quatro destas empresas apareceram na lista das que mais investem em pesquisa e desenvolvimento feita pelo Departamento de Inovação, Universidades e Habilidades do Reino Unido. São elas: a Petrobras, a Embraer, a Braskem e a WEG. Um dos destaques da lista britânica foi a Braskem. Com atuação no setor químico e petroquímico, a empresa é a maior produtora de resinas termoplásticas das Américas. De 2005 para cá, recebeu financiamentos da FINEP

F ot o : Br aske m

que totalizam aproximadamente R$ 230 milhões. “Esse histórico de apoio tem sido fundamental. Investir em ino-

ainda mais relevante”, diz Rosana Avolio, Coordenadora de Financiamento de Projetos e Investimentos. Os recursos foram em sua maioria destinados a projetos de novos produtos e aplicações de Polipropileno, Copo feito de polipropileno, uma das resinas produzidas pela Braskem

Polietileno de Alta e Baixa Densidade, PVC, Fibras de Alta Performance, Biomassas Renováveis e Nanotecnologia. Há 12 anos, a estratégia agressiva de inovação garantiu à Braskem o seu primeiro Prêmio FINEP, na categoria processo. Desde então, foram oito homenagens, com destaque para o primeiro lugar na categoria grande empresa conquistado na edição 2011 da competição.

inovação

do País, o que torna a parceria entre Braskem e FINEP

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

vação é contribuir para o crescimento social e econômico

49




refrigeração

Geladeiras do futuro

ganham novas aplicações

Com o desenvolvimento de compressores cada vez menores, Embraco pode transformar merendeiras em refrigeradores, ou até mesmo inovar com uma confecção de roupas “geladas” para atletas. Projeto foi apoiado pela FINEP. Rodrigo Pelot

I

magine se a merendeira pudesse funcionar como uma mini geladeira, que conservasse o lanche em temperatura ideal. Ou, quem sabe, ter um criado-mudo

refrigerado, no qual fosse possível manter remédios em condições adequadas. Um processo inovador desenvol-

vido pela Embraco pode mudar nossa forma de pensar em equipamentos de refrigeração, que devem passar de grandes sistemas estáticos a pequenos objetos portáteis. em pauta – Número 13 inovação

O segredo está na redução das dimensões dos compressores, principal componente dos sistemas de

maiores do que uma lata de refrigerante e pesam apenas

52

refrigeração. Modelos tradicionais, que costumam ser do tamanho de uma bola de futebol, pesam em média sete quilos. Já os novos microcompressores da Embraco, que chegam ao mercado em junho deste ano, são um pouco 1,3 quilo. Para que o resultado fosse alcançado, foram necessários aproximadamente quatro anos de pesquisas. O valor total do projeto foi de R$ 2,65 milhões, dos quais


53

inovação

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Foto: Sxc.hu


Foto: sxc.hu - arinas74

R$ 796 mil aportados pela FINEP. “Nosso objetivo daqui para frente é desenvolver equipamentos cada vez menores”, afirma Fábio Klein, diretor Corporativo de Desenvolvimento Tecnológico da Embraco. Segundo Klein, a empresa agora estuda as oportunidades de negócio que surgem com a miniaturização. A primeira aplicação prática será na área de refrigeração de componentes eletrônicos de máquinas industriais. O microcompressor se mostrou uma solução competitiva para dissipar o calor gerado neste tipo de sistema, utilizado, por exemplo, em torres de telefonia celular. Por isso, a linha-piloto para esta aplicação já foi instalada na fábrica de compressores de Joinville (SC), cidade onde fica a sede da Embraco. A empresa estuda também a utilização da nova tecnologia em diversas soluções de geladeiras portáteis, como é o caso das lancheiras, além de trabalhar no desenvolvimento de compartimentos refrigerados que aumentem a eficiência do transporte de órgãos destinados a transplantes.

Roupa refrigerada Outra possibilidade, ainda em fase de protótipo e que tem alcançado resultados positivos, é a roupa refrigerada. Em um país tropical como o Brasil, onde não raramente

Roupa

a temperatura ultrapassa os 40 graus, poderíamos subs-

refrigerada é

tituir os ventiladores por camisas refrigeradas. Seria uma

solução

espécie de ar condicionado pessoal. Na Copa do Mundo

revolucionária

ou nas Olimpíadas, atletas usariam uniformes esportivos

para aliviar o calor

que aliviassem o forte calor. A roupa só seria desligada ao ser iniciada a fase de aquecimento para a competição. Vale ainda ressaltar mais uma vantagem do microcompressor, que é dispensar o uso de óleo lubrificante. Esqueça aquela velha recomendação que ouvíamos ao transportar uma geladeira, para que antes de ser ligada, ela fosse colocada de pé durante algumas horas a fim de que o óleo do compressor assentasse. Com a inovação, o equipamento pode ficar em qualquer posição no sistema, mesmo que seja de cabeça para baixo. Então, não há qualquer restrição de movimentos em aplicações portáem pauta – Número 13

ausência de óleo ajuda a preservar o meio ambiente, pois

inovação

teis, sejam roupas, merendeiras ou bolsas. Além disso, a

sores herméticos para refrigeração. Com atuação global e

54

elimina a chance de contaminação do solo ou do lençol freático no caso de um eventual descarte incorreto ao término da vida útil do equipamento. A Embraco é líder mundial no mercado de comprescapacidade produtiva superior a 35 milhões de unidades ao ano, possui 11 mil funcionários, que trabalham em fábricas e escritórios localizados no Brasil, China, Itália,


Foto: Embraco

eletrônico do compressor, que aumenta ou diminui automaticamente a potência do aparelho de acordo com a quantidade de alimentos armazenados. Além disso, o consumo de energia é reduzido em períodos em que o produto é menos utilizado, como durante a noite. O compressor inteligente também gera, aproximadamente, 30% menos ruído e refrigera 25% mais rapidamente do que um convencional. A tecnologia permite ainda a melhor conservação e frescor dos alimentos, em função da mínima Acima, o primeiro

variação da temperatura no gabinete do refri-

compressor bivolt do mundo,

gerador e do freezer.

desenvolvido pela Embraco. Abaixo, microcompressores podem transformar

Tecnologia bivolt

pequenos compartimentos em geladeiras portáteis No fim do ano passado, foi a vez de a empresa lançar o primeiro compressor bivolt do mundo, o que tornou

Estados Unidos. A po-

possível o funcionamento de equipamentos de refrigera-

sição de liderança é

ção em duas voltagens. A capacidade produtiva é de 2,5

fruto de uma políti-

milhões de compressores ao ano, voltada especialmente

ca consistente de

para o Brasil, único país no mundo a utilizar oficialmente

inovação tecno-

duas tensões diferentes na rede elétrica.

lógica. Historica-

A inovação beneficia especialmente o varejo e vai sim-

mente, investe cer-

plificar a vida do consumidor final. Na maioria dos estados,

ca de 3% da receita

a tensão padrão é de 220 V e, em cinco Estados (São Paulo,

líquida no custeio

Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Bahia), a tensão

de pesquisa e de -

padrão é de 127 V, popularmente conhecida como 110 V.

senvolvimento. Uma

Para gerar ainda mais confusão, em alguns casos, as duas

das razões pelas quais

voltagens existem dentro do mesmo estado, o que causa

hoje apresenta estru-

transtornos e dúvidas. Com o novo produto da Embraco,

tura de ponta, com mais de

o consumidor não dependerá mais de um transformador

40 laboratórios e 450 profissionais

para levar o refrigerador em uma eventual mudança para

com a Universidade Federal de Santa Catarina, parceria que hoje emprega mais de 150 funcionários.

uma região com voltagem diferente. A rede de lojas varejista também ganha, pois poderá dimensionar melhor seus estoques ao não ter que fazer

Como resultado, a Embraco detém mais de 1.000

pedidos de geladeiras do mesmo modelo, mas com vol-

patentes em âmbito mundial e apresenta cerca de 70%

tagens diferentes. E o fabricante de geladeiras também

do faturamento gerado por produtos lançados nos úl-

ganha, pois não precisará comprar peças de fabricação

timos quatro anos. Um bom exemplo desta capacidade

diferentes para aparelhos de cada voltagem. A inovação,

inovadora é o compressor inteligente VCC - Compressor

que gerou cinco patentes, já é comercializada no merca-

de Capacidade Variável. O modelo mede períodos de

do nacional e pode ser adaptada a qualquer família de

maior ou menor consumo do refrigerador, o que pro-

refrigeradores e freezers, sem a necessidade de alterações

porciona uma redução de 25% do consumo de energia

significativas no sistema.

em comparação aos modelos que possuem o selo Procel

São várias inovações reunidas em um bem que todos

Classe A. O certificado é fornecido pelo governo apenas

conhecemos e temos em casa. E, apesar de ser uma em-

para os produtos que estão entre os de maior eficiência

presa global, a Embraco decidiu que o local onde se estuda

energética. Ou seja, o VCC leva vantagem até entre os

inovação em compressores é o Brasil. “Fazemos questão de

já considerados econômicos.

realizar todas as atividades de pesquisa e desenvolvimento

O sucesso é devido, principalmente, ao controle

no País”, conclui Fábio. n

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

atuando no setor. Há 30 anos, mantém estreita relação

inovação

Foto: d

reamst

ime.co

m

Eslováquia, México e

55


inovação

em pauta – Número 13

Fotos: Clube Mineira da Cachaça

indústria

56


Cachaça

ganha novo

inovação

Bebida antes vista com preconceito, a cachaça tem conquistado um público mais sofisticado, a produção vem aprimorando a qualidade e obtendo mais certificações. Embora a exportação ainda seja tímida, vários esforços têm sido feitos para levar o produto mais legitimamente nacional para outros países. A FINEP já investiu cerca de R$ 3,3 milhões nos últimos oito anos, especialmente na instalação de laboratórios de análise específicos para garantir a qualidade da bebida.

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

status

57


Rogério Rangel

ainda incipiente – menos de 1% da produção. Em abril

P

deste ano, o governo americano anunciou que passará

inga, caninha, água-que-passarinho-não-bebe,

a reconhecer, pela primeira vez, o nome ‘cachaça’ como

engasga-gato, danada, esquenta-corpo. A pala-

produto estritamente brasileiro. Até então, a bebida era

vra ‘cachaça’ é uma das que mais tem sinônimos

comercializada nos EUA com o nome equivocado de “rum

na edição eletrônica do Grande Dicionário Houaiss da

brasileiro”. Em contrapartida, o Brasil passa a reconhecer

Língua Portuguesa: 431. Essa variedade reflete o quanto

o “bourbon” e o “uísque do Tennessee”, produtos tradi-

a bebida está entranhada na história do Brasil e a sua

cionais americanos, que eram comercializados no Brasil

onipresença no território nacional. Não é para menos, já

como a designação genérica de “uísque”.

que a cachaça está presente no País praticamente desde a introdução da cana-de-açúcar por aqui, com as mudas

Diferenças

trazidas pelo navegante português Martim Affonso de Souza, em 1532. Não demorou muito para a produção

A recorrente comparação com o rum vem do fato

de açúcar se transformar na principal riqueza brasileira,

de as duas bebidas terem como base a cana-de açúcar,

e o subproduto do caldo de cana fermentado e destilado

mas enquanto o rum é produzido a partir do melaço, a

se tornar a bebida dos escravos, e logo depois, a bebida

cachaça vem diretamente do caldo da cana, além dos

nacional por excelência, e o terceiro destilado mais con-

óbvios aromas e sabores finais diferentes. Como ten-

sumido no mundo (ver box).

tativa de disciplinar a produção, em 2005 o Governo

Apesar da longa e rica história, até há pouco tempo

Brasileiro baixou uma Instrução Normativa que define

a cachaça ainda sofria com o preconceito, especialmente

o destilado brasileiro. Basicamente, toda cachaça é uma

nos grandes centros urbanos. Algumas marcas conse-

aguardente de cana, mas nem toda aguardente pode

guiram, contudo, ultrapassar esta barreira social, com

ser chamada de cachaça. Ainda assim, a legislação não cobre sutilezas e tem

qualidade em geral. Esforços regionais para registro de

seus críticos. Paulo Eustáquio Ferreira, ex-pesquisador da

produtores e certificação também vêm estimulando um

Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec),

novo consumo. E programas do governo têm buscado

afirma que o ideal seria haver duas normas diferentes: uma

fortalecer estas iniciativas e impulsionar a exportação,

que definisse a “cachaça de coluna” (produzida em grande

inovação

em pauta – Número 13

investimento em degustação, distribuição e melhoria da

58

Roda d’água para movimentação de engenho na moagem da cana-de-açúcar


escala industrial, por grandes empresas) e a “cachaça de alambique” (produzida de forma mais tradicional, geralmente por produtores menores). “A produção, o sabor, todas as caraterísticas são suficientemente diferentes para que sejam reconhecidos como produtos diversos. Não se trata de definir qual o melhor ou o pior – são diferentes”, diz Paulo. Segundo Alexandre Wagner da Silva, presidente da Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade (AMPAQ) e também produtor da bebida, “o reconhecimento também favoreceria uma maior proteção dos pequenos produtores, que sofrem com impostos altos, nos mesmos moldes das grandes, o que é injusto”, explica. É fácil associar cachaça tradicional ao estado de Minas Gerais. Números do IBGE e do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça (CBRC) mostram cerca de 40 mil produtores no País, sendo aproximadamente nove mil apenas em Minas. O estado é pioneiro no fomento da cachaça como uma bebida de qualidade, com diversas iniciativas do governo local. Federações e associações mineiras têm investido na cachaça com muito afinco desde a década de 1980. Paulo Eustáquio participou ativamente deste processo:

“Aqui na França, a caipirinha está bem popular, mas nem sempre é feita com cachaça – às vezes confundem muito com rum cubano. Até se encontra cachaça em alguns supermercados, mas são pouquíssimas opções. Mas quando morei na Alemanha, todo mundo sabia o que é cachaça, de onde vem e que se faz caipirinha com ela”.

– No Cetec, promovemos várias parcerias com universidades, produtores e governo. Na época, foi a primeira vez que se passou a estudar a cachaça na academia e

ALESSANDRA CUNHA-DUPONT Paris, França

isso se refletiu numa mudança de mentalidade, que ajudou aos poucos a remover as bebidas de segunda linha - lembra Paulo.

“Em Portugal, encontra-se caipirinha em todos os lugares e não é difícil achar uma marca de cachaça nos mercados”

LEE WEINGAST NY, EUA Tanques de fermentação da cachaça em ácido inox

inovação

“A caipirinha já está muito bem estabelecida em Nova York. Tem uma marca de cachaça muito fácil de achar também”.

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

SIMONE FORTES VALENCIA Braga, Portugal

59


Foto: Rogério Rangel / FINEP

Murilo Albernaz,

São realizados

do Clube Mineiro

vários

da Cachaça

testes para

(à esquerda)

acompanhar o

e Alexandre

envelhecimento

Wagner da Silva,

da cachaça

presidente da AMPAQ

Novos hábitos

novas legislações de impostos, para a proteção dos pequenos produtores”, afirmam. Apenas quatro marcas no

Localizado no bairro boêmio belo-horizontino de Santa Tereza, o Clube Mineiro da Cachaça atua tanto

Brasil – de grandes empresas - produzem mais de 70% do total de 1,5 bilhão de litros anuais de cachaça.

como um bar, onde se degustam mais de dois mil tipos de cachaça, quanto um polo de promoção da bebida. Murilo

Certificação e exportação

inovação

em pauta – Número 13

Albernaz, presidente do Clube e presidente da Federação

60

Nacional das Associações dos Produtores de Cachaça de

Boa parte do caminho para uma produção mais pro-

Alambique (Fenaca), explica que a ideia do lugar é agir

fissionalizada e um maior ganho de valor agregado vem

como um difusor da cachaça mineira tradicional de boa

por meio de certificações. Nesse ponto, Minas também foi

qualidade, buscar novas relações comercias para os pe-

pioneira, e a AMPAQ tem seu próprio selo de qualidade.

quenos produtores e promover a bebida para um público

Iniciativas semelhantes se espalharam por outras regiões,

cada vez mais receptivo. “Hoje, já vemos novos hábitos,

especialmente no restante do Sudeste, Nordeste e Sul.

como a degustação da bebida pura, em vez de somente

No Rio de Janeiro, estado com pequena produção, os

na forma de caipirinha. Há também uma tendência de a

alambiques têm se sofisticado e investido na busca da cer-

bebida ser produzida com teores um pouco mais baixos

tificação, com olhos no mercado externo. O primeiro selo

de álcool. Novos consumidores também têm descoberto

de indicação geográfica (IG) para cachaça, emitido pelo

o sabor da cachaça, como mulheres e jovens”, diz Murilo.

Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), foi dado

O Clube, junto com a AMPAQ e a Fenaca, busca res-

a alguns alambiques da cidade de Paraty, palavra que é um

gatar a tradição mineira do uso da cachaça na culinária,

dos sinônimos de cachaça no dicionário. Cachaças da região

promovendo o evento “Cachaça Gourmet”, concurso gas-

de Salinas (MG) devem ser as próximas a receber o selo IG.

tronômico do qual participam dezenas de chefes locais,

Recentemente, a primeira cachaça fluminense obteve

com grande repercussão. A regra principal é que um dos

uma certificação de qualidade, pelo Instituto Nacional de

ingredientes do prato seja, é claro, cachaça.

Tecnologia (INT). Em 2007, o INT passou a ser a primeira –

O desafio agora, segundo Murilo e Paulo, é “lutar por

e ainda a única - instituição no estado do Rio a certificar

novas políticas públicas que inovem a imagem da cachaça

cachaça. O projeto nasceu no Programa de Apoio Tecnoló-

dentro e fora do País, desde um plano de marketing a

gico à Exportação (Progex), gerido pela FINEP, coordenado


“Temos uma grande comunidade brasileira em Londres, e muitos restaurantes e bares brasileiros têm caipirinha e cachaça nos cardápios. Também é fácil achar cachaça em locais de venda de bebidas”.

Rede de Extensão Tecnológica do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec/RJ). Hoje, a iniciativa de melhoria da cachaça fluminense continua ganhando impulso, com apoio do Sebrae, via Sibratec Exportação. Nessa empreitada, foi realizado um levantamento dos melhores alambiques do RJ e, como resultado, foram selecionados 30. Desses, definiu-se que 15 tinham potencial para exportação, que receberão financiamento com vistas a 15 certificações. Os técnicos fazem avalição de conformidade, estabelecida por vários quesitos do processo produtivo, como controle ambiental, segurança alimentar, higiene e qualidade fisicoquímica do produto, entre outros. “No momento, os alambiques estão adequando os processos. Nós também organizamos palestras para desmistificar a certificação como um bicho de sete cabeças”, explica Lilian Grace Aliprandini, extensionista tecnológica do INT. “Estamos atrás do restante do Brasil em termos de certificação, principalmente dos grandes polos produtores de Minas, Pernambuco e São Paulo”, diz Lilian. Apesar desse relativo atraso, a cachaça produzida no Rio tem se mostrado de excelente qualidade. “São as melhores em termos de higiene, segurança e outras conformidades”, afirma Lilian. Cerca de 8% da cachaça exportada pelo Brasil é produzida no estado, segundo dados do CBRC. O projeto conta com uma unidade móvel que já atendeu 13 alambiques, onde são realizados testes de verificação de qualidade, avaliações de níveis de contaminantes

CASSIA FREIRE Berlim, Alemanha

inovação

por Luiz Carlos Correia Pinto, coordenador executivo da

“A caipirinha é bem popular aqui na Alemanha e a cachaça também. Podemos beber caipirinha em praticamente qualquer bar ou restaurante. Cachaça não se encontra em qualquer mercado, mas não é tão difícil de se achar. O Carnaval das Culturas, festival que acontece em maio, é um sucesso por causa da caipirinha, o drinque mais popular servido nas barracas dos brasileiros”.

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

ELEANOR WHARF Londres, Inglaterra.

61


Os tonéis para envelhecimento podem ser de diversos tipo de madeira, como o carvalho, bálsamo, castanheira e umburana

e qualidade da água, entre outros. Além das análises, há treinamento de boas práticas junto aos produtores. “Es-

Números da cachaça

tamos partindo de um segmento que era um negócio de fundo de quintal, um hobby de família, para hoje ser con-

A cachaça é o terceiro destilado mais consumido

solidado com uma indústria de bebidas”, diz Luiz Carlos.

no mundo, atrás apenas da vodca e do soju (bebida

“O potencial para exportação é grande. São Paulo levou a

coreana bastante popular na Ásia), e tem 86%

cachaça a granel para o mundo, e em vários países a caipi-

do mercado dos destilados no Brasil. A grande

rinha é um drink familiar. Minas tem um apelo imenso no

maioria dos cerca de 1,5 bilhão de litros produzidos

mercado interno. Já o Rio pode aliar a qualidade especial

anualmente se origina nos estados de São Paulo,

de sua cachaça ao seu potencial turístico”, observa Lilian.

Pernambuco, Ceará, Minas Gerais e Paraíba. Quatro marcas correspondem a aproximadamente 70% de

Laboratórios especializados

toda a produção. Essas são “cachaças de coluna”, ou industriais. Existem perto de 40 mil produtores

No Nordeste, a FINEP financiou a estruturação de dois

de cachaça, a grande maioria pequenos produtores

laboratórios especializados em análise de cachaça, com acre-

de “cachaça de alambique”. Em 2008, o Brasil

ditação pelo Inmetro. Na Bahia, o laboratório do SENAI-CE-

exportou apenas cerca de 1% de sua produção

TIND, em funcionamento desde 1996, está acreditado para

de cachaça; os cinco maiores compradores são

cachaça desde 2005. Em Pernambuco, o LabTox, no Instituto

Alemanha, EUA, Paraguai, Uruguai e Portugal.

de Tecnologia de Pernambuco (Itep), foi o primeiro no Brasil

(Fontes: CBRC e IBGE)

a atender todas as exigências para análise de conformidade

inovação

em pauta – Número 13

para a cachaça. O mesmo status terá, em breve, o laboratório

62

do Cetec, de Minas, também com apoio da Financiadora.

outros, as normas existentes especificam teores máximos

“Só estamos aguardando a homologação do Inmetro, que

permitidos para a bebida”, explica Olguita. Quanto às pe-

deve sair até o final do ano”, afirma Olguita Ferreira Rocha,

culiaridades da cachaça de alambique e de coluna, Giselle

química doutorada em toxicologia, coordenadora do projeto

Carolina da Fonseca Andrade, química do Cetec, afirma que

do laboratório do Cetec, o primeiro em MG.

“já há estudos que pretendem identificar quimicamente

Os laboratórios especializados analisam, entre outros

os componentes que caracterizam cada tipo.” Além dessa

itens, os níveis de contaminantes na bebida. “Considerando

diferenciação básica, a cachaça tem várias classificações

que esses níveis podem variar de acordo com o método de

notoriamente conhecidas e definidas em normas, como o

produção da bebida e a matéria prima empregada, entre

envelhecimento em barris de madeira, que confere sabores, cores e texturas extras à bebida, após um ano, no mínimo. n


a g r i c u lt u r a

inovação

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

Foto: drea mstim

Segundo recente pesquisa da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o brasileiro consome ou inala 6,7 litros de agrotóxico por ano. Não à toa, portanto, já é possível comprar alimentos, dentre os quais o leite, cuja origem são animais criados em sistemas livres de insumos químicos e em sintonia com um planeta que tem repensado suas atividades ligadas à exploração indiscriminada das riquezas naturais. O público-alvo ainda é pequeno, mas cresce a cada dia e não se incomoda em pagar um pouco mais para consumir a produção certificada. Da FINEP, já saíram cerca de R$ 610 mil na modalidade reembolsável para o laticínio Taigor’s desenvolver um projeto de beneficiamento do leite orgânico e produção de derivados. O bigodinho branco do copo matinal – tão famoso nas propagandas de televisão – agora tem selo de procedência.

e.com

Leite orgânico para uma longa vida

63


Fábio Torres

A

onda orgânica colocou novos matizes no prato do brasileiro, forçou radicais mudanças de hábito desde a fazenda até as gôndolas dos supermercados,

floresceu até mesmo na cabeça da turma fashion, que agora abraça a “Eco moda” como estilo e até atitude – hoje considerada cult – de vida. Não é de se espantar, portanto, que o leite obtido de forma natural também venha conquistando consumidores dispostos a pagar um pouco mais caro por ele. É importante destacar que os benefícios nutricionais são os mesmos. A diferença está toda na produção, sem quaisquer resíduos tóxicos e, por conseguinte, considerada mais saudável. Na cadeia orgânica, propriedades e animais são tratados de acordo com requisitos que vão da preocupação ambiental com o pasto – que precisa estar totalmente blindado contra fertilizantes e agrotóxicos – até a ração animal orgânica e um receituário exclusivo de homeopatia e fitoterapia no trato da saúde da vaca. Para se especializar, uma propriedade tem de passar por um período de mudança que, no caso da produção leiteira, leva de seis meses a dois anos. Criada em 1993, a mineira Taigor’s, com sede em Uberaba, foi a primeira empresa a ganhar a certificação e um selo de qualidade de sua produção. Em 2006, recebeu financiamento de mais de R$ 600 mil da FINEP. O laticínio pratica as diretrizes orgânicas do Instituto Biodinâmico para o processamento e industrializa o leite orgânico IBD dos produtores selecionados, apresentando toda rastreabilidade desta produção até o consumidor. Isso significa qualidade e confiabilidade no processo de industrialização do leite orgânico. Para Joselito Batista, diretor da Taigor’s, é impossível missa básica do produto natural. O consumidor tem que

Soares, zootecnista da unidade Cerrados da Embrapa. O

saber de onde veio e em que condições foi desenvolvido o

preço pago aos produtores pelo leite convencional é de

alimento que consome”, diz. O mercado de leite orgânico

R$ 0,80 por litro, enquanto que com o leite orgânico eles

ainda é muito pequeno no País – 0,02% do que é produzido

podem ser remunerados em até R$ 3,50 por litro. Já no

nacionalmente, girando em torno de 6,8 milhões de litros

supermercado, o litro do leite produzido naturalmente

anuais –, mas já apresenta um crescimento de 250% nos úl-

custa até R$ 4,50 e o convencional não ultrapassa R$ 2,00.

timos 10 anos. O público interessado também vem subindo,

Apesar do alto valor, os custos são menores, já que os

em pauta – Número 13

Pesquisa Agropecuária (Embrapa), João Paulo Guimarães

sobretudo, na esteira do sucesso da agricultura biológica.

insumos químicos ficam da cerca para fora. Joselito Batista

A região Sul é a maior produtora do leite especial, ao todo

afirma que a economia para o produtor acontece em todas

são 10 mil litros por dia, ou três milhões de litros por ano.

as etapas. “Nos meus cálculos, entregamos um ganho de

O Distrito Federal, considerado uma aposta do setor, chega

100%: economia de cerca de 65% na hora da produção e

a produzir por dia aproximadamente três mil litros de leite

faturamento médio de 35% em cima do preço que é pago

inovação

pensar em leite orgânico sem certificação. “Essa é a pre-

orgânico e, ao final de um ano, quase um milhão de litros.

pelo convencional”, explica. Para quem desejar entrar de

“A mudança do sistema produtivo pode ser bastante posi-

cabeça nos domínios orgânicos, o pulo do gato está no

tiva, já que sabemos que o leite orgânico é valorizado no

manejo especial da lavoura. “Tem que mudar a forma de

mercado”, explica o pesquisador da Empresa Brasileira de

pensar a produção na fazenda”, sintetiza Joselito. Uma

64


Foto: sxc.hu/Ale Paiva

produzir mil litros diários, volume considerado baixo. Este A diferença do leite orgânico está na produção: propriedades e animais precisam estar totalmente blindados contra fertilizantes e agrotóxicos

fato ainda emperra as transações da empresa, que acabou tendo de segurar a produção do leite longa vida (em caixinha), negociando o produto pasteurizado em saquinho, o chamado barriga mole. O estímulo ao consumidor pode ser fomentado com a entrada definitiva no mercado de derivados orgânicos do leite, o grande chamariz da empresa: mussarela, ricota, requeijão, manteiga, coalhada, doce de leite, dentre outros produtos. Hoje, o laticínio já vende, por intermédio do Grupo Pão de Açúcar, em São Paulo, e do Sítio do Moinho (Rio de Janeiro), o requeijão (tradicional e light) e a manteiga extra orgânica com sal sob a marca Naturallis. Para dar o boom definitivo, Joselito conta que comprou uma estância em Lagoa Grande, também em Minas Gerais, com capacidade de produção de cinco mil litros por dia. Além disso, se juntou a outros três produtores cujas propriedades também têm capacidade de produção de 5 mil litros por dia cada uma. Somente aí já haveria leite suficiente para cruzar a América e firmar a parceria nos EUA, mas os novos passos estão programados: já está em curso um projeto em parceria com a Tetra Pak – líder mundial em soluções e envase de alimentos – para processar 30 mil litros por dia do produto orgânico longa vida. E se Uberaba está se preparando para este mercado cheirando a leite, o resto do Brasil não fica para trás. No ano passado, a Embrapa Cerrados, em consórcio com a Universidade Federal de Santa Catarina, decidiu impulsionar a produção e o consumo do leite orgânico no País. Para isso, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou R$ 1 milhão de financiamento a um projeto de desenvolvimento de pesquisas no segmento. Além disso, por intermédio do pro-

das principais medidas é utilizar vacas mais adaptadas

grama “Mais alimento”, o Ministério do Desenvolvimento

ao clima brasileiro, porque um fator muito importante

Agrário aprovou mais R$ 241 mil. Já foram liberados cerca

para o desenvolvimento de carrapatos é a temperatura e

de 30% deste valor. Entre as pesquisas desenvolvidas, o

umidade. Com animais mais adequados, eles se tornam

correto manejo de pastagens é um fator fundamental.

mais resistentes e facilitam o controle.

“Vamos produzir pastagem em sistema orgânico”, afirma

va que poderia ser replicada em todo o País. Os principais Na carona dos selos de procedência que obteve, a

nutrientes para a produção de pastagens são o nitrogênio,

Taigor’s já estuda negociar parte de sua produção (a ideia

o fósforo e o potássio. Soares conta que, como fonte de

gira em tono de 20 mil litros) com a Rede Wal-Mart nos

nitrogênio, usa-se na maioria das vezes a ureia, mas ela

Estados Unidos. A prioridade, porém, ainda está localiza-

é totalmente proibida no sistema orgânico. O jeito então

da do lado debaixo do Equador. “Nosso foco principal é o

foi utilizar a adubação verde, com leguminosas fixadoras

abastecimento interno para provocar o hábito de consu-

de nitrogênio. “Como fonte de fósforo, são usados fosfa-

mo”, explica Joselito. A razão é muito simples: a produção

tos de rochas naturais e, no lugar do cloreto de potássio,

em escala industrial ainda está começando a decolar. Na

usamos o pó de rocha. Tudo é natural e não tem nada de

fazenda Congonhas, localizada em Uberaba, é possível

adubo químico”, finaliza. n

inovação

desenvolvimento de uma unidade de pesquisa participati-

em pauta – Maio/Junho/Julho 2012

João Paulo Soares, ressaltando que a Embrapa trabalha no

Leite, requeijão, manteiga...

65



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