Revista Literatas

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Literatas

PROPRIEDADE DO

Director: Nelson Lineu | Maputo, 24 de Fevereiro de 2012 | Ano II | N°19 | E-mail: kuphaluxa@gmail.com

Movimento Literário Kuphaluxa : dizer, fazer e sentir a literatura

Por uma retórica da razão


SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012

Editorial

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Apresentação

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Eduardo Quive

Dois anos depois, quem somos nós?

D

istam-se dois anos do longínquo 2009, ano em que

Paulina Chiziane foi a nossa primeira vítima, ao aceitar com

foi criado o Movimento Literário Kuphaluxa, um

poucos conhecimentos sobre nós, deslocar-se para uma esco-

grupo de leitores e escritores em formação, que visa

la tão distante do centro da cidade, Escola Secundária de

divulgar a literatura moçambicana, brasileira e de outros países

Malhazine, no bairro com mesmo nome. Sem entrar em deta-

de expressão portuguesa, bem como a promoção de novos autores, de modo a tornar possível o sonho de se ter um Moçambique literário. A infinitude da missão encabeçada por jovens, que se designam leitores, no imperfeito tema que se chama Literatura Moçambicana, na situação em que ainda não se sabe definir, revela a outra face duma faixa etária tida como ―problemática‖, não só em Moçambique, mas também em outras terras. Contudo, essa massa que move-se por um fenómeno esquisito, inverso de um verso, ilusório que se chama “vontade”, tomou as forças, ainda que num número ínfimo, para encontrar respos-

Amélia, Eduardo, Japone, Francisco e Izidine, de pé. Agachados, Lineu e Amosse

tas e caminhos de tornar Moçambique um país de leitores e de cidadãos culturalmente activos e proactivos.

lhes, a escritora, tomou conta do recado. Ensinou e encenou

Aliás, esses caminhos, na tentativa de encurtá-los, moldá-los ao

aos estudantes. Ainda ofereceu um exemplar de Niketche à

estilo moçambicano, ―corta-mato”, acabamos nos envolvendo

escola, para nossa surpresa.

em outras alegações, como as questões ligadas à qualidade de

Paulina deixou à escola, um ensinamento que não me esqueço: encontramos a palavra em tudo o quanto nos rodeia. Nos livros, até de Matemática, Química, Física entre outros. Por isso dominar a palavra é a única alternativa que se pode ter para singrar em horizontes perfeitos. Por isso, não se justifica, que uma biblioteca escolar tenha apenas livros de interesse das ciências exactas. Há que considerar a ciência da arte. O imaginário que leva o homem ao mundo da criatividade. Mas continuando nas vítimas. De seguida, vieram os escritores

Marcelo

ensino e principalmente do formando.

Panguana,

Então abandonamos a nobre sala do Centro

Ungulani

Cultural Brasil – Moçambique e imigramos para as escolas secundárias, numa viagem, em que tivemos a ousadia de induzir também escritores.

Ka

Ba

Khosa,

Juvenal Bucuane que também, engrossaram-se da retórica destes

Marcelo Panguana


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Eduardo Quive

Continuação — Dois anos depois, quem somos nós?

―miúdos‖ que não se sabia as suas origens. Aliás, Juvenal Bucuane chegou a oferecer cerca de 15 livros à Escola Secundária Nossa Senhora de Livramento, na Matola. A escritora Lília Momplé entrou na lista dos escritores que partilharam seus saberes com aspirantes. Muitas vezes a escritora, chegou a reclamar de cansaço pela idade, mas nunca cansada de ensinar, por isso a todos nossos chamamentos, dizia incodicionalmente ―Sim‖. Rubervam Du Nascimento dando palestra na Escola Secundária Francisco Manyanga em Maputo

Depois, veio a escritora brasileira Ana Rusche, que conhecia Moçambique pela primeira vez. E pela primeira vez, levamos um escritor a uma escola técnica. Levamos Ana Rusche para Escola Industrial 1° de Maio, em Maputo. De seguida, mais um escritor pelas águas do Atlântico veio a desaguar no Índico e Escritoras Lília Momplé e Ana Rusche em conversa, acompanhadas por Mauro Brito e Amosse Mucavele

levamo-lo à Escola Secundária Francisco Manyanga. Esse homem chama-se Rubervam Du Nascimento. Du Nascimento, ao estilo das suas missões na periferia da cha-

O facto de estarmos sediados no Centro Cultural Brasil – Moçambique e apadrinhados pelo actual detentor do “Prémio Nobel da Literatura Moçambicana”, ou, se quiserem, ―Prémio José Craveirinha‖, o maior Prémio da literatura em Moçambique, contribuiu para a credibilidade do movimento. Refiro-me ao Calane da Silva. Eterno cúmplice deste movimento que nasceu em suas mãos. Acolheu e deu amor de mãe no lugar de barbas de pai.

mada Distanteresina, em Piauí, “pregou evangelhos” literários aos alunos da Manyanga e ensinou que ler é mais do que formarse. É informar-se sobre o mundo e sobre si mesmo. Passando por essas vias rumo a consolidação dos nossos objectivos, ―chegamos a parar na cadeia‖. Em 2010, ―entramos‖ na Cadeia Feminina de Ndlavela, no município da Matola, com a missão de conquistar mais leitores para a literatura moçambicana. Com apoio de editoras, reunimos livros e revistas que oferecemos às mulheres daquela instituição prisional. Ainda oferecemos livros infantis às crianças da Escola Comunitária Imaculada Conceição de Hulene. Avançamos. Andando pelas ruas de Maputo, vimos que há algo que esta cidade tem em quase todo o lado – as acácias. Isso nos incomodava.

Calane da Silva, declamando num sarau cultural do Kuphaluxa

Mas ainda não se cumpriram as menções no assunto ―Literatura nas Escolas‖. Luís Carlos Patraquim, também fora nossa vítima nesse projecto. Destinávamos a sua presença, à Escola Secundária da Zona Verde e infelizmente, o homem escapou. Não tínhamos dinheiro para alugar uma viatura para cumprir com o sequestro. Como diz-se nesta geração [da vi(r)agem?], barracou.

Projecto “Poesia nas Acáacias” na Rua da Rádio Moçambique


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Eduardo Quive

Continuação — Dois anos depois, quem somos nós?

Decidimos invadir esse pomar de árvores sem frutos. Leva-

Participam em revistas, portais e antologias literárias, curiosa-

mos connosco a poesia. Nossa e a dos já conhecidos e reco-

mente, de fora do que dentro de Moçambique.

nhecidos escritores. Eu, Mia Couto, Calane da Silva, disputá-

Facto que nos leva a preocupação sobre os planos de incentivo

vamos o espaço no Jardim Tunduro e na Rua da Rádio

e promoção da leitura em Moçambique, bem como de criação

Moçambique, com mais de cinco defuntos proeminentes da

de espaços onde se incentive a escrita criativa e literária. Durante as visitas com escritores nas escolas, pudemos perceber que nem sempre cabe a razão a justificação ―os jovens não lêem‖, é importante que se criem condições e facilidades para que de facto, ler não seja um problema. Criar condições para se ler, não implica só, tornar o livro mais barato. Implica tornar o livro amigo do cidadão comum e acessível. Dar acesso, volto a repetir, não é baixar os preços exuberantes com que são vendidos os livros, é fazer com que a esco-

poesia moçambicana: José Craveirinha nosso pai e a nossa

la, as casas de cultura, as bibliotecas, sejam os pontos certos

mãe, Noémia de Sousa, o poeta vagabundo e desgraçado, mor-

para se dar a conhecer o valor de uma obra literária e que lá,

to pelas suas próprias harpas e farpas, Amin Nordine, Gulamo

seja possível encontrar os livros para o consumo em tempos de

Khan rugindo aos sons do tombo no Mbuzini, Carlos Cardoso,

lazer. Isso faz-me lembrar os projectos: Núcleos Escolares de

entre outros. Pois é. Eles proeminentes e nós iminentes.

Leitura, Literabrincando e Biblioteca Móvel, o Kuphaluxa

Estavam lá outros vivos: Amosse Mucavele, Nelson Lineu,

saberá melhor implementá-los.

Francisco Júnior, Japone Arijuane, Mukurruza… Que com

Mas continuo apresentando e questionando sobre quem somos

certeza não os conhecem.

nós.

Pois. Esses jovens desconhecidos não pararam. Ainda sur-

Então já nos conhecem? Ainda não? Então explico já de forma

preendem. Foram vencedores de um prémio Mundial de Poe-

resumida, mas com bons e importantes detalhes: somos o

sia na Itália, venceram um concurso literário de crónicas, con-

Movimento Literário Kuphaluxa, dizemos, fazemos e senti-

tos e poesia do Brasil e ainda barrabatissaram novamente os

mos a literatura, e pronto.

brasileiros, uma classificação no Prémio Poetize-2012, entre mais de 2.000 participantes. E são mesmo miúdos, estes? São o Movimento Literário Kuphaluxa. Dizem que Kuphaluxa - e soletro: K, U, P, H, A, L, U, X, A. Significa Disseminar. Mas disseminar, em Ronga, esse do Ka

D

ois membros do Movimento Literário Kuphaluxa, nomeadamente, Eduardo Quive e Amosse Mucavele, vão participar em Março próximo, da Bienal Internacional da Poesia em Luanda,

capital da Angola. Ambos, participam deste evento que acontece pela primeira vez no país, a convite da União dos Escritores Angolanos, quem organiza a bienal. Na referida Bienal, serão reflectidas questões ligadas a poesia, entre

Mpfumo, é Kupaluxa - e soletro: K, U, P, A, L, U, X, A. outros assuntos. Kuphaluxa sem H. Mas esta juventude, tal como outra juven- Ainda de Moçambique, tomarão parte os escritoires Dinis Muhai, Luís

tude, tem os seus problemas e o seu maior problema, chama- Cezerilo e Filimone Meigos. E dos países da CPLP, consta que estarão se criatividade e inovação, por isso chamaram-se Kuphaluxa presentes escritoires como Luís Serguilhas, Melo e Castro (Portugal), com H. Jovens que mais do que ensinar os outros a gostarem de ler,

Corcino Fortes (Cabo Verde), Odete Semedo, Tony Tcheca (G. Bissau), Conceição Lima (S. T. e Príncipe), Cláudio Daniel (Brasil), para além dos angolanos, Abreu Paxe, João Maimona, Lopito Feijó, João Melo e

ensinaram a si mesmos a beber dos livros, os segredos da outros. sabedoria. E hoje o verbo se encarna. Nascem novos autores.


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Crónica Aos leitores da Revista Literatas

FICHA TÉCNICA

Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Direcção e Redacção Centro Cultural Brasil - Mocambique

Av. 25 de Setembro, N°1728, C. Postal: 1167, Maputo Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46 603 Fax: +258 21 02 05 84 E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Blogue: literatas.blogs.sapo.mz

DIRECTOR GERAL Nelson Lineu (nelsonlineu@gmail.com) Cel: +258 82 27 61 184 DIRECTOR COMERCIAL Japone Arijuane (jarijuane@gmail.com) Cel: +258 82 35 63 201 EDITOR Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Cel: +258 82 27 17 645 CHEFE DA REDACÇÃO Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Cel: +258 82 57 03 750 REPRESENTANTES PROVINCIAIS Dany Wambire—Sofala () Lino Sousa Mucuruza—Niassa () Mauro Brito—Zambézia () COLABORADORES FIXOS Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Catarina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa) COLUNISTA Marcelo Soriano (Brasil) FOTOGRAFIA Arquivo — Kuphaluxa PARCEIROS Centro Cultural Brasil—Mocambique Portal Cronopios www.cronopios.com.br Revista Blecaute Revista Culturas & Afectos Lusofonos culturaseafectoslusofonos.blogspot.com

E

ra numa tarde, o sol levando de volta a luminosidade que dera por emprestado à terra, por aproximadamente 14 horas ininterruptas. Era crepúsculo vespertino. Vinha a ordem divina, da descida da escuridão sobre a terra, mas os homens da cidade desafiavam tal ordem acendendo abundantes lâmpadas, alimentadas pela electricidade. E, com auriculares de rádio calcando-me os ouvidos, escutava o evoluir da depressão tropical ―Giovanna‖ que se abatia sobre as terras malgaxes e que em breve ameaçava arrasar a costa sul e centro de Moçambique. De súbito, o meu telefone-celular toca. É uma mensagem que assomou ao ecrã do celular, exigindo-me o serviço dos olhos. Li a mensagem, sei lá de quem era, a pedir o serviço do papel e da esferográfica, desse secular e mais perfeito casamento, do qual devia frutificar algo a respeito do Movimento Literário Kuphaluxa. Concretamente a mensagem dizia: ― a próxima edição da Literatas é o sobre o Movimento Literário Kuphaluxa. Se puder escrever algo a respeito…agradecemos. Atónito fiquei a imaginar a seriedade do teor da mensagem. Escrevo ou não? Antes devo vos segredar que detesto escrever por encomenda, muito menos para o público. Um bêbado não bebe senão para ele mesmo, para excitar o seu cérebro, se evadir momentaneamente dos problemas da vida, ser extraterrestre. A escrita é o meu vício, o meu mau hábito, é a que me desliga da terra. Cogitei, por fim, escrever o pedido. Aliás, na situação de alguém necessitar de múltipla ajuda, enquanto o agricultor oferta cereais, o pescador o pescado, o escritor dá a escrita. Não o fizesse e eu estaria a vender ao desbarato a minha parca ingratidão. Sim, estaria a agir de má fé, desvalorizando o exímio trabalho dos outros. Faz isso quem põe os óculos de madeira: diriam isso talvez os políticos. E eu não me afeio com tais óculos, não faço vista grossa e muito menos ouvidos de mercador. Me informo a par e passo do grande trabalho que este movimento exerce em prol da literatura moçambicana e lusófona. Ainda de modo platónico, relegando as vantagens materiais para o segundo, terceiro, quarto, enfim, talvez para o derradeiro plano. Conheci a revista Literatas, a filha unigénita do Movimento Literário Kuphaluxa, quando corria, célere, para o fim o vizinho ano de 2011. Era no mês de Outubro e acabava de sair a público pela décima segunda vez. Sim, 12 edições já tinham sido consumidas pelo público leitor interessado de toda comunidade dos países de língua portuguesa, incluindo Moçambique é claro. O encontro com a revista não foi programado, ao acaso, assim como surgem as gravidezes indesejadas. Pesquisava sobre literatura moçambicana na internet e de inopinado apareceu-me uma sugestão, um link em que provavelmente teria o que precisava. Nesta hiperligação me veio a revista literatas, repleta de informações de consagrados escritores moçambicanos e não só. Depois pululavam poemas extraordinários de jovens escritores, sobretudo. Me apaixonei pela revista, humildosamente falando, primeiro pela qualidade de informação de que a revista dispunha, e segundo pelo facto de a revista estar a ser coordenada por jovens, grupo que ultimamente é severamente satirizado pela antiga geração por ter pouca ou quase nenhuma afeição pela leitura e escrita. O Movimento Literário Kuphaluxa não vem provar o contrário?! Ah, deixo isso para debates, acesos de preferência. Depois da paixão, de imediato pedi para colaborar com a revista, pelo que o patrono da mesma, o Movimento literário Kuphaluxa acedeu amavelmente. A partir de então passei a escrever para a revista até hoje. Em jeito de fecho, apelo a todos intervenientes da área literária que se atentem aos jovens escritores que da revista brotam, desbastando-os até se tornarem verdadeiros escritores. Ainda, apelo aos mesmos intervenientes que se inteiram das actividades deste exemplar grupo e auscultem os empecilhos que, porventura, estejam a fazer do trabalho do movimento um pandemónio, um autêntico martírio.

Um abraço de Dany Wambire / Beira

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Esse e outros tempos num só Nelson Lineu

E

nquanto o Gabito ia casa do Nhanga porreiro, reflectia sobre o que lhe motivava a tal incursão, a sempre conversa do pai e com colegas de trabalho, copos entre outros afazeres ou desfazeres. Onde figuravam palavras como: a juventude vai vender o país, não saberiam vestir os valores que lhes fizeram lutar pela independência, o orgulho nacional nos putos não tem pátria, duvido que saibam entoar o hino e saibam o significado das cores da nossa bandeira. O pai que se chamava Pedro Vivo, mesmo com brigadas de mobilizações clandestinas, só teve consciência de que tinha que lutar pela independência a partir dos textos do Rui de Noronha, Noémia de Sousa, Craveirinha que via nos jornais, a censura da PIDE era ineficaz porque para ela até podiam cortar os textos mas não os sentimentos. Já com o curandeiro na sua frente. Ouviu-lhe dizer que essas acusações eram defesas de homens como seu pai, se vocês são assim é porque eles não ensinaram como devia ou porque ensinaram assim. Quando a juventude vai lutar pelos seus direitos como eles fizeram chamam de marginais, vândalos. Como exemplo tenho o caso de um jovem do kuphaluxa que recebeu ameaças, covardes como sempre foram, a pessoa não se identificou e ligou de um número privado. - Por falares em kuphaluxa, como é que eles conseguem se manter em pé nesse cenário? - O amor pelo que fazem faz crer que as coisas andam as mil maravilhas, mas estamos a falar de um sistema literário em nascimento ou seja desafiando uma tentativa de abortos, as dificuldades são imensas, a partir dos meios, e o que a mim deixa expatriado é o facto das instituições e intervenientes a fim não se fazerem sentir, sem um fio que lhes enrede. Os literatos dia-a-dia vão acordando a jovialidade neles e nos outros, acima de tudo mostrando aos mais velhos que existem e estão prontos para juntos literarem. Se queres que as coisas melhorem como futuro que a anos nos é prometido. O que tens que fazer é chegar a casa, tirar do baú onde contém os textos que teu pai ti falou, e pedir que leia, as coisas só estão assim porque ele se esqueceu do que lá vem escrito. Veras que o dito será feito.


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Poesia Medo Amélia Matavele*

Quando o silêncio fica mudo Parece que tudo agita-se Prefiro dizer que muitas vezes sinto falta do silêncio. ________________ Amélia Margarida Matavele nasceu a 08 de Dezembro de 1991 em Maputo. Frequenta o curso de Química na Universidade Pedagógica e é membro do Movimento Literário Kuphaluxa. Os seus poemas são publicados com frequência na Revista Literatas.

Quintal do silêncio Izidine Jaime Olho-me por dentro da alma Silêncios em jeito de conversa ondulam pensamentos desassossegados. Agarro um terço de mim no vazio por onde as lágrimas nascem empregando sorrisos. Um estranho vento finge ser calmo na brisa Enquanto o sol cai em sílabas. A noite vencida deixa uma luz apadrinhar o mundo. Que noite vencerá o sol? Penso! No quintal uma folha me lembra a cor da natureza. Nasço de novo. Nascer de novo é vencer o que nos mata por dentro. Deixo em mim viver alguém que diz ser eu. Sentado defronte a uma palhota, Falo comigo para não me esquecer. Meus olhos roçam o céu num gatinhar de nuvens. Mas o quê procuram? Um galo solteiro contempla o vazio da capoeira, Engana a si próprio namorando o chão Preguiçoso durmindo no seu último aconchego, Não canta? Diz ter esquecido a canção da madrugada

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Outras Margens

Relógio

Nas Baixas do Niassa

Mauro Brito* Tempo que veste-se de nada Largas opiniões dos refúgios A nota musical minguando as tribos do sol Hora Palpitando o oxigénio do mofo que Enegrece um quarto sem parto Antropofagia de quem manda na manada Regista-se os quem nunca Apadrinharam cáusticos raptos dos ponteiros A pressa do mar atravessando os pés do Zambeze Beleza do tempo nem tanto, venceu o minuto Fugiu tudo do olhar supremo Miam latejantes olhares pudicos Em abraços nos chapas 100 Que nunca contam _____________________ Mauro Brito Combo, nascido aos 17 de Fevereiro de 1990 em Nampula, actualmente a residir em Quelimane onde cursa Oceanografia na Universidade Eduardo Mondlane. Membro do Movimento Literário Kuphaluxa desde a sua fundação e membro do Movimento Humanista. Embora sem livro, as suas crónicas, poemas e ensaios são publicadas em revistas literárias, a destacar, revista Tarja Preta da Academia Onírica de Piauí, revista Blecaute do Brasil e Revista Literatas.

A espera Helga Languana*

Até quando, África! Minha xiluva perdida no meio da escuridão. Ate quando te subjugaras ao medo? Porque tens medo da tua força? Até quando ficaras jogada no meio da rua mendigando o que já tens? O teu céu só tu podes fazer e o que és ninguém pode roubar te Ali____________________ Izidine Jaime – Poeta, membro menta teu filho, esta nova África recém nascida. Para que se torne a do movimento Literário kuphaluxa, nasceu em Nampula aos 23 mãe o filho e o filho a mãe Conclua esta profecia que a muito já foi de Janeiro de 1993 e residente em Maputo. Possui artigos e tex- esquecida África, surge et ambula! tos literários publicados em revis- ____________ Helga Rita Custódio Languana, tas nacionais e estrangeiras. Foi publicado numa antologia de jov- nasceu no dia 15 de Maio de 1990 em Maputo, cidade onde reside. É ens escritores de Nampula do grupo Os Pensadores (2010), pre- estudante de Medicina na Universidade Eduardo Mondlane. miado no XXVII Prémio Mundial de Poesia Nósside da Itália (2011) na categoria de Mencionado.

Mukurruza *

Bertolde Gomes Francisco Madeira, nasceu aos 29 de Março de 1989 na cidade de Maputo. Concluiu os estudos secundários na Escola Secundária Josina Machel em 2009. É membro fundador do Movimento Literário Kuphaluxa e destaca-se como declamador em noites de poesia. Tem seus textos publicados na Revista Literatas.

Gulas Francisco Junior*

Gulas consumimos aos sorvos palavra a palavra a dialéctica anacrónica da nossa fome de cada dia.

_____________________ Francisco Celestino Júnior, nascido ao 23 de Agosto de 1988, residente no bairro de infulene, subúrbio de Maputo. Estudante de contabilidade e finanças na Universidade Eduardo Mondlane. Colaborador da revista Tarja Preta da Academia Onírica Piauí Brasil e da revista Literatas.

Nas Baixas do Niassa... Há sempre uma beleza Dos pinheiros e montanhas, Flores e matagais Aves e flores E a própria beleza de existir. Nas baixas do Niassa... Os rios se abraçam As riquezas se escondem Os olhares se encontram Reflectidas no mais puro espelho De onde o amor brota e se espalha Nas Baixas do Niassa... Há feitiço, ao som das marimbas, Percolado na saborosa, polpa dos pêssegos, Que já estrumou corações, Outrora áridos de amor. Nas Baixas do Niassa... Há sempre um tempo livre, Há katxolima a rasgar gargantas dos nossos pais E nossas mães de capulana cantam Profecias escondidas No apocalipse das Xiwodas Que previram o poder dos Matakas Lá nas baixas do Niassa... Onde o povo se encontra… ______________________ Mukurruza, pseudónimo de Lino Sousa Mucuruza, nasceu em Quelimane onde moldou a sua vida e a maneira de sentir as coisas que formam o homem (Dor, Amor, Paixão) e reside na cidade de Lichinga, província de Niassa. membro de direcção do (CEPAN) Clube de Escritores poetas & Amigos do Niassa. Costa na colectânea de poesia, (Noite Amanhecida) publicada em 2009. E ainda membro fundador do movimento „‟Gincana de arte Lichinga‟‟. É também membro do Movimento Literário Kuphaluxa


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Intercâmbios

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Brasil — Moçambique Luana Antunes da Costa é

Allan da Rosa é escritor brasileiro. Mestre em história enquanto didica-se a

dramatur-

gia, cinema, jornalismo e tem di n am i z ad o

c ul t ur a

n as

periferias de São Paulo.

na área de Literatura Africana de Língua Portuguesa edoutoranda

em

literatura

comparada na Universidade de São Paulo.

Veio a Maputo em Setembro no

De viagem para Maputo com

âmbito do projecto ― Brasili-

Allan da Rosa, ambos movidos

dades e Africanidades‖ onde

pelo projecto ―Brasilidades e Afri-

orientou com a organização do

canidades‖ orientou palestras e

Kuphaluxa, palestras sobre a

lançou a obra “Pelas Águas Mes-

cultura negra no Brasil.

Ana Rüsche é escritora, advogada e dinamizadora cultural no Centro Cultural Alemão. É doutoranda em Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa na Universidade de São Paulo. Esteve em Maputo entre os dias 1 e 5 de Agosto de 2011 para um intercâmbio literário com o Movimento Literário Kuphaluxa e durante a sua estadia na capital do País realizou uma oficina de escrita criativa, palestras nas escolas, entrevistas com escritores e ofereceu vários livros ao Movimento.

Rubervam Du Nascimento é poeta e professor de direito na Universidade Federal do Piauí. Labora como jurista no Ministério do Trabalho do Brasil. Esteve em Maputo para actividades ligadas a sua área professional de trabalho, mas foi inevitável que ―fugisse‖ para conhecer o Movimento Literáario Kuphaluxa, com realizou uma palestra na Escola Secundária Francisco Manyanga e no dia 19 de Agosto, marcou amantes de literature de Maputo com uma Noite de Poesia e fez o lançamento do seu livro ―Espólio‖, cujo valor das vendas o autor ofereceu gentilmente ao Movimento.

professora e pesquisadora

tiças da História, uma leitura de O Outro Pé da Sereia de Mia Couto.


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Testemunho A Morte de mim e o nascimento do Eu enquanto Nós “Não quero morrer não quero Apodrecer no poema Que o cadáver de minhas tardes

Japone Arijuane

Não venha feder em tua manha feliz” Ferreira Gullar

jarijuane@gmail.com

A

ntes queríamos mudar o mundo, fazer um mundo literário, mais humano e intelectual, mas aprendemos que ninguém e nada pode mudar, hoje mudamos a nós mesmo, para que esse mundo não nos mude. Foi pensando em

fazer o bem e dizer a verdade, que nos vimos na diferença da maioria, por essas acções que fazemos de graças ao rácio, perpetuam-nos uma conotação como extra-terrestres, o facto de pertencermos uma sociedade onde as pessoas promovem a regressão mental, e os órgãos de comunicação que seria educativos divulgam e acreditam na mesma demência, guiados por gerações e estereótipos banais que fazem o crepúsculo mental colectivo. Nós que a N milhas distanciamo-nos deste exorcismo patológico, destes preconceitos, aparecemos não como extra-terrestres, mas como terrestre-extras, extras desta sociedade que a pique caminha para o precipício, sociedade desbotada em regime de cegueira. Nós como enviados de sei lá quem, munidos pelo mesmo ideal (não ideias como muitos: caixas de ressonância) fazendo, dizendo, e sentido a literatura, divulgando-a, como activistas literários, isentos de qualquer coesão, nós enquanto nós, independentemente dos meios e momentos, somos limpos tal e qual nossas línguas, que as não sujamos por mais de quem sejam as botas, aliás a língua é o nosso instrumento de trabalho, por esta é outras razões preservamo-la. Os mais atentos dirão então porque a morte de mim e nascimento do Eu enquanto nós? Bom, sei os contrastes mentais que um labirinto poético-filosófico pode vós submeter, mas faço jus aos apurados mentais, aliás esse é um dos objectivos do Kuphaluxa, o tal Nós, subir a literacia no sentido intelectual a sociedade, obvio enquanto homem individual morri para dar vida a Eu poético que fez nascer o Nós “Kuphaluxa”.

O quê que dirás? Vês… Minha alma separa-se de mim Vai indo por ai densa de eu! O quê que farás? Se esse ser ilusório cansar de ser, Chamarás o destino para destinares-me?

POETAS DO ÍNDICO – 35 ANOS DE ESCRITA Fátima Mendonça

(…) Houve fatores a determinar alguma novidade, nas duas últimas décadas, relativamente ao que foi o conteúdo das propostas anteriores, nomeadamente de Charrua, Xiphefo e Oásis. Em primeiro lugar, observase o desaparecimento progressivo de grupos constituídos em torno de projetos sob a proteção de instituições dependentes do Estado (AEMO, etc), para dar lugar a iniciativas individuais de poetas que, quer através de concursos literários, quer através de edições de autor ou iniciativas editoriais comerciais, patrocinadas em geral por agentes econômicos (operadoras telefônicas, bancos etc), emergem ou reemergem na cena literária, dando lugar a uma recepção mais alargada. Para tal, contribui, sem dúvida, uma maior rede de distribuição, principalmente em Maputo, aliada a um melhor apetrachamento das bibliotecas provinciais; além disso, os interesses das muitas livrarias existentes voltaram-se para a promoção de textos moçambicanos. Também a intervenção dos diversos centros culturais, criados na capital moçambicana, tem colaborado quer para a dinamização da atividade poética, por parte de grupos de jovens constituídos em torno desse objetivo, quer para uma interação cultural mais ampla. Cabe dar destaque a grupos de poesia que promovem recitais: o Graal Moçambique, com a realização das ―Tertúlias de sábado‖, desde 2000; o Teatro Avenida, que acolhe o grupo ―Arrabenta Xithokozelo‖, desde 2006; o Centro Cultural Brasil-Moçambique, onde está sediado o ―grupo Kuphaluxa‖ e o ICMA (Instituto Cultural Moçambique Alemanha). Com intervenções mais alargadas a outras artes, projetam-se o Instituto Camões e o Centro Cultural Franco-Moçambicano. No quadro de ação estatal, a revista PROLER, do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, tem cooperado, numa vertente mais pedagógica,

Fonte: Revista Mulemba (UFRJ)

para a promoção da leitura. Saliente-se que o aparecimento de alguns dos novos autores encontra legitimação na publicação em livro ou nas antologias organizadas pelos poetas Nélson Saúte e Rogério Manjate (também narrador, ator, encenador) 14. A sua divulgação nas redes sociais, nomeadamente noFacebook, em blogs (ver ma-shamba blog) ou sites de poesia, indica uma criativa adaptação a novos tempos e novas formas de fazer circular textos e de lhes dar visibilidade. Entre as mais recentes revelações estão: Amin Nordin (falecido em 2010), com Vagabundo desgraçado (1996), Duas quadras para Rosa Xicuaxula (1998) e Do lado da ala B (2003); Eusébio Sanjane, com Rosas e lágrimas (2006); Sangare Okapi, com Inventário de angústias ou apoteose do nada (2005) e Mesmos barcos ou poemas de revisitação do corpo (2007). O ressurgimento, agora, com outro amadurecimento, de Celso Manguana, com Pátria que me pariu (2006), e de Chagas Levene, com Tatuagem de estrelas (2008), que tinham estado ligados à Geração 70/Oásis, mostram o potencial contido nesta poesia mais recente, opinião que partilho com Carmen Secco: (…) alguns dos poetas egressos da Geração 70, embora não

tenham logrado publicar seus livros, não param de escrever. E por quê? Em nossa opinião, porque, apesar de se terem declarado poetas do real, da denúncia direta da fome, identificando-se como herdeiros de distopias e guerras, não abandonaram a utopia do fazer literário e sabem, no íntimo, que ainda precisam aprimorar seus versos. Notamos que o descontentamento frente ao contexto econômico, social, político e cultural do país é grande, refletindo-se no quadro atual da poesia. Vários poetas – alguns que pertenceram à Charrua e outros que surgiram paralelamente ou depois – revelam, em seus últimos poemas, uma cética lucidez em relação à realidade de Moçambique, mas prosseguem no encalço das "paisagens da memória" e dos "subterrâneos dos sonhos" (SECCO, 2008, p.30) (…)


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Testemunho

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Amosse Mucavele

DIZER, FAZER, E SENTIR A LITERATURA: POR UMA RETÓRICA DA RAZÃO Os remos dispensam Temos as mãos Para a navegação Sangare Okapi- in Mesmos Barcos ou Poemas de Revisitação do Corpo

Eu escrevo para adiar a minha a morte ”, É apartir desta voz do escritor Argentino, Jorge Luís Borges, que estes jovens cumprimentem-se a caminhar de ouvidos abertos para o “lugar” onde a palavra se enamora com a língua. Este ‘lugar’ de encontros constantes entre a realidade e a ficção. Já que “De facto, por mais heterodoxos ou abrangentes que sejamos, não podemos nos articular directamente com a tradição mundial, que aliás não existe em estado pronto. Todos nos articulamos nalgum lugar, retomado ou inventando tradições parciais. sendo” lugar” naturalmente é uma noção variável ,que no momento devido a nova onda de internacionalização , esta passando por uma redefinição decisiva .” Esta voz estimula-nos a escutar o orgasmo da nossa capacidade leitoral, a ler o manual das nossas verdes mãos , isto é Kuphaluxar (divulgar, dinamizar) de braços abertos com os pés assentes no chão do nosso solo pátrio e interpretar sem nenhum vinculo politico as maravilhas do mundo da literatura, como um mecanismo de assimilação e a aprendizagem para com a própria vida. Esta aprendizagem “ não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores.”(Mia Couto-O outro Pé da Sereia ) A tonalidade deste chamamento exprime-se nas “harpas” e “farpas” que esta aventura apresenta ao longo do seu percurso e desperta- nos atenção aos voos que os nossos sonhos podem querer descrever nesta infindável distância. Eduardo white reflecte esta dicotomia nos versos deste poema: Escrever é uma droga antiga Uma bebedeira que queima com a lentidão a cabeça, Traz a luz desde as vísceras O sangue a ferver veias tubulantes Traz a natureza estimulantes das paisagens que temos dentro.

As imagens que compõem “as nossas fronteiras interiores”, o brilho “das paisagens que temos dentro” e os instrumentos de que a escrita se serve(a droga), se alimenta ( a bebedeira), se aconchega (a natureza), se ilumina ( a luz), se move (o sangue),mostrão- nos o quão difícil é, e longa é a viagem neste’’(…) espaço essencial (a literatura -o bold é meu)que é necessário cercar de altos muros como pedia Pessoa . Porque é ai que nós somos o que somos, é ai que somos tais que não podemos vender, nem ninguém nos pode comprar. ou se quisermos rasgar os últimos véus de Ísis e ser humildes, é lá que habita alguma coisa que, em nós mesmo é melhor do que nós(…). Olhando atentamente para as nossas leituras, e sendo nós o tipo “de leitores que não podem ler livros sem se lerem nos livros. Ou antes sem que os livros os leiam.” Assim começamos a por os “remos” a “navegação” (dinamizando a cultura e declamando de forma activa) e a cada dia o nosso “rio chamado tempo” aumenta(va) os seus afluentes ,dai que sentimos a necessidade de “dispensar” ‘’os remos” e começarmos a utilizar “as mãos para a navegação”. As nossas mãos detêm uma escrita em construção que poucas vezes surpreende pela sua fraca qualidade estética e artística, assim sendo concorrendo a nenhum espaço nos jornais (quase com poucas paginas destinadas as artes e letras). As mesmas que logo a priori tem um sonho de resgatar do silencio total em que esta embrulhada a literatura moçambicana que “ comparada as grandes, a nossa literatura é pobre e fraca, mas é ela, não a outra, que nos exprime. Se não for amada, não revelará a sua mensagem, e se não amarmos, ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que a compõem, ninguém as tomará do esquecimento. Descaso ou incompreensão. Ninguém além de nós, poderá dar a vida a essas tentativas muitas vezes débeis, outras vezes fortes.” E nesta perspectiva que o kuphaluxa promete acelerar substancialmente o progresso sociocultural deste País:

Democratizar a literatura, divulgar a literatura

moçambicana, criar o gosto e o habito de leitura, usar a palavra como arma de intervenção social ,tornar a escrita como uma charrua e o papel em branco como os sulcos que esperam a semente (melhorada pelo musculo erudito e adubada pela transpiração. Foi devido aos escassos meios de divulgação da literatura moçambicana seja dentro ou fora, ou mesmo da própria literatura lusófona (onde os editores, críticos, e Professores de literaturas Africanas de expressão portuguesa cingem os seus prestigiosos estudos,

as suas ricas analises, ensaios e publicações a uma dúzia de nomes. Ex: Mia Couto (Moçambique), Pepetela (Angola), que de uma ou de outra forma limita os anseios de um universo de 7 países vistos como periféricos (os Africanos e os Asiáticos), todavia em Moçambique guarda(va)-se uma distancia de séculos sobre a literatura brasileira contemporânea(1990-2011) ,pois as obras que existem nas livrarias continuam as do Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, e.t.c., e sobre a literatura Portuguesa(José Saramago e António Lobo Antunes) e Angolana( Pepetela,e Luandino Viera). Dada a esta paragem no tempo da literatura lusófona, criamos um espaço ( o blog do kuphaluxa, uma espécie de relatório das nossas actividades, achamos pouco e mais tarde nasceu a Revista Literatas) de dialogo intercultural, de divulgação da literatura lusófona, que logo a priori deixou de pertencer ao Kuphaluxa(Moçambique) o Brasileiro Pedro Du Bois foi o primeiro a acreditar no projecto ,a Lurdes Breda( Portugal) e seguiram-se mais outros escritores experimentados nos seus países e além fronteiras ( graças ao facebook conseguimos angariar mais colaboradores) a juntarem-se a estes jovens desconhecidos vindos de “uma nação que ainda não existe” e logo tornou-se num lugar de convívio, e divulgação da cultura lusófona. II “Os discípulos têm sombras no coração e a realidade da carne ameaçada do Mestre é mais forte do que o testemunho da palavra. Mas o Mestre acredita que as aparências morrem e que certas mortes são o começo da vida.” Perante este triste cenário de ser residente de ” uma nação que ainda não existe” com os seus problemas ( vive-se uma realidade exterior a nossa, onde as tempestades ocidentais apoderam-se da nossa cultura ),revestidos de um quotidiano (i)real, (in)característico, dentro deste cenário há uma voz que fala verdades ,ela que é a voz do povo , a força revisitadora , e ressuscitadora da nossa cultura dos contos orais na típica maneira de contar estórias ( karingana ua karingana) Não será esta preocupação reflectida neste hipotético exercício de escrita criativa desenvolvida por estes jovens? Sintetizo: escrita criativa, pois ainda não são escritores, indo na acepção do Alcir Pécora sobre a ideia da criação literária afirma: Não parece haver nada relevante sendo escrito ,essa é a mais provável razão desse poço ,desse mar de coisa escrita Ainda na esteira de Pécora: Exactamente porque não é preciso, escrever pode ser tudo menos uma actividade entre outras quaisquer. Escrever é um acto que, de saída, já deve uma explicação: ele tem de reinventar sua própria relevância , a cada vez , ou então se condenar a ser apenas uma ideia torta de novidade; o retorno do mesmo, piorado.

Este kuphaluxa é um pequeno núcleo dotado de ideias progressistas, visão realista, universalista, solidariedade social, privilegiado por uma retórica da razão. Este núcleo revisita todos os projectos literários que acompanharam a história do País. Aliás Fátima Mendonça na sua proposta de periodização da literatura moçambicana, de 1986, afirma que “nas mais jovens gerações de escritores moçambicanos encontram-se hoje ressonâncias de metáfora e da parataxe do Craveirinha, do verso seco e angustiado do Knopfly (…) há uma herança literária a construir-se. “ ___________________________________________________________________ Bibliografia Robert Scharwz – Sobre a Formação da Literatura Brasileira in Sequencias Brasileiras pag.22-Companhia das Letras 1999 Eduardo Lourenço in Carta melancólica aos Leitores Jovens do nosso País pag17,17-30 de Junho j.letras 2009 ibidem Robert Scharwz in Sequencias Brasileiras pag 22 op.cit. José Craveirinha

Eduardo Lourenço artigo citado 2006 pag pag 93-op cit por Andrea Catropa in Escassos Vasos Comunicantes –A relação entre critica e poesia Brasileira Contemporânea pag 35 in Protocolos Criticos-Itau Cultural 2008 2006 pag. 97 Sangare Okapi –Um Projecto Chamado Oasis-Da Existencia Colectiva á Afirmacao Individual:in Memorial AEMO pag-57


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Publicidade Maputo é capital política e económica de Moçambique

Em Agosto de 2012 Homenageando a mãe dos poetas moçambicanos, Noémia de Sousa

Será a capital da Literatura

Festival Literário de Maputo Saiba como participar em: http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com festivalliterario.maputo@gmail.com

Para ser parceiro ligue: +258 82 57 03 750 +258 82 35 63 201


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Momentos

Ecos duma noite poética com Rubervam Du Não há minudências sobre o Kuphaluxa Nascimento em Maputo Eduardo Quive eduardoquive@gmail.com

E

assim intitulo uma “incursão” que o poeta Rubervam Du Nascimento fez pelas terras que albergam a história dos homens – África. Esta, de mãos abertas, entregou-se na alegria de ver o seu filho, entregue à longi-

tude por onde se localiza, Piauí, e reuniu outros filhos, ao estilo do meu áfrico país, para celebrar a sua vinda. Na noite que só foi recebida no dia 19 de Agosto de 2011, depois de anos de audiência marcada, naquela que foi a sua primeira presença física pelo continente que é ―O berço da Humanidade‖, o poeta Rubervam Du Nascimento, peando pelas areias de Maputo, ofereceu aos moçambicanos uma noite de poesia e universalmente mágica que até hoje Moçambique

C

onheço-os há dois anos antes do cancro literário entrar-me no cérebro. Mas antes deixa-

me dizer que há muitos bons que fazem poucos e há poucos bons que

recorda. Falo de universo, porque as noites não se comparam, seja em Moçambique, no Brasil, em Angola, nos Estados

fazem muito.

Unidos ou na China. Cada noite é uma noite. E cada noite é um universo para quem a vive de forma diferente.

Fazer muito é o mesmo que fazer mui-

Na sagrada sala do Centro Cultural Brasil – Moçambique, o filho da terra cognominada ―Distanteresina‖ hasteou a sua lírica poesia exotérica, que obrigou ao público afluir em massas naquele espaço em tão escura noite. Algo já mais visto: a

to bem, podemos colocar um adjectivo

sala empessoada de gente ao mais de 100; ouvidos deflagrados na sucumbência do seu manifesto poético que durou cerca

ou substantivo, antes ou depois do

de 40 minutos, além do ―Espólio‖que se recusou sobrar nas prateleiras das livrarias moçambicanas. Aliás, esta obra se quer esteve numa prateleira. Esgotou no mesmo dia em que teve a dura tarefa de autografar e tirar fotos com os novos leitores

grau. O Kuphaluxa, nome com signifi-

da sua poesia.

cado que está a ser usado na sua verda-

E eu disse a sua poesia exotérica, volto a afirmar, sem remorsos. A poesia de Du Nascimento, embora difícil de se encon-

deira literatura, é um daqueles movi-

trar, é comum e conhecida e, já me ponho a justificar: Rubervam Du Nascimento escreve na voz de um áfrico personagem.

mentos que só vemos sua aparência

A poesia do Rubervam Du Nascimento é mesmo um ―Espólio‖. E de quê é composta esta África nossa? De restos, lem-

em país do capital, mas não, aqui

branças, postumidades e atalhos. Uma história que se descobre todos dias. Uma história que se nega a si mesma. Por isso, um escrever poético dramático, altas e baixas, faz com que qualquer africano se encontre, se descubra e tenha um ponto de partida. A poesia do Rubervam, leva-nos a isso, em particular na obra que tenho vindo a citar. Rubervam Du Nascimento, embora brasileiro não podia ser, de modo nenhum, um imigrante nas terras negras. A sua linguagem é extraordinariamente mítica tal como o berço que o acolheu nesses dias. A prova disso pode se ter na palestra

estão, no país devedor de bancos cultivando na massa os vários alicerces da cultura literária, do quotidiano, sempre

que orientou numa das mais antigas e maiores instituições de ensino do País, Escola Secundária Francisco Manyanga,

relembrando os clássicos.

dia antes da noite poética.

Quando chegaram os bons duvidaram,

Já não me cabem nomeações. Isto é para ilustrar algumas alegações que estão por detrás do sucesso da noite poética, que o poeta brasileiro proporcionou

os melhores apoiaram em tudo, porque

ao público de Maputo a quando da sua visita em Agosto do ano 2012.

tem na mente culta-literária que o país

Antes da leitura do seu manifesto poético, o evento foi brindado com o recital de um dos escritores que é um símbolo da

não se faz sem culturas ou não se faz

literatura moçambicana. Falo-vos do professor, romancista, poeta, ensaísta e jornalista, Calane da Silva, actual detentor do Prémio José Craveirinha, o maior prémio moçambicano de literatura, agora também designado ―Prémio Carreira‖.

sem um livro na mente. Receberam

Calane da Silva, que no mesmo dia, recebeu Rubervam no seu escritório do Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde é

vários ensinamentos sobre a literatura

director, recitou um poema inédito de José Craveirinha, numa autêntica exaltação do clássico da poesia moçambicana. De seguida, foi a vez do Rubervam Du Nascimento, que para a surpresa de todos, no seu manifesto poético, dialogava com

e nunca chegaram a considerar-se

várias figuras da literatura moçambicana, dentre os quais passo a nomear, José Craveirinha, Ana Mafalda Leite, Calane da

(ironia da metáfora) os que melhor

Silva, Rui de Noronha, Rui Knofli, Eduardo White, Sulemane Cassamo, entre outros. Ainda chegou a recitar alguns versos

fazem, deixaram que os seus acompa-

destes autores, numa interacção entre o clássico, moderno e contemporâneo, nesta última, a considerar, a poesia de Khiria Wakíria, ainda sem livro publicado e Eduardo Quive, participante de diversas antologias como premiado, mas sem livro

nhantes achem.

publicado e jornalista.

Kuphaluxa,

Logo, estávamos numa noite onde, para a surpresa de todos, brasileiro, era apenas o sotaque, do resto, Rubervam Du Nascimento era nosso. Moçambicanizado e Africano. A olhar pelo cenário que aconteceu na noite poética - sala escura, apenas

vocês

brincam

sério

demais e se esquecem que sofrem de

com uma lâmpada vermelha no centro do palco improvisado, o autor sozinho no palco e circundado de espectadores - leva-

um sindroma: literatura. Vocês são

me a comparar às noites do Nkaringana Wa Nkaringana que são estórias contadas numa noite, com pessoas em volta da

sérios demais que me deram cancro e

lareira atentas a um único apresentador, ou, se quisermos, o artista que faz o espectáculo. Ao estilo moçambicano. Com o Rubervam foi a mesma coisa, num cenário cuidadosamente desenhado por si e com a cumplicidade do Movimento Literá-

agora vou espalhar aos meus alunos.

rio Kuphaluxa, agremiação que o acolheu literariamente, durante os dias que passou em Maputo. Assim, foi a noite de poesia, em que o poeta brasileiro, Rubervam Du Nascimento, proporcionou ao público, a magia da palavra e o prazer da língua. Rubervam Du Nascimento deixou um legado em Moçambique e uma dívida eterna de voltar a

Dizer, fazer e sentir a literatura.

brindar aos fãs que ele mesmo conquistou com mais noites, agora não só de poesia e manifestos, mas de aprendizagens e

Izidro Dimande

de convivências. Caro poeta, tenho fé que um dia Maputo voltará a lhe ter em seus braços, tal como o tive.


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Revolução literária moçambicana – o paradigma Movimento Kuphaluxa

Filosofonias

Ricardo Riso — Brasil

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Marcelo Soriano — Brasil

Um ósculo de paz sobre a Face da Terra

uase o tempo de existência do Movimento Kuphaluxa foi o início do meu contacto com alguns dos seus integrantes, dentre os quais destaco Mauro Brito e Amosse

Mucavele, este já um parceiro de projectos literários. Desde o seu início impressionou-me a determinação de seus componentes em tirar da inércia a cena literária moçambicana, ainda que diante das limitações do pequeno ambiente das letras no país, dos impedimentos que a nova geração sofre para adquirir seu espaço e obter o respeito das gerações anteriores, assim como o parco apoio financeiro e tecnológico para o desenvolvimento de seu projecto de maior ambição, a revista electrónica ―Literatas‖. Após dezoito edições, ―Literatas‖ é hoje uma importante publicação de integração das literaturas em língua portuguesa. Um projecto ousado, a mostrar a coragem de um grupo de jovens apaixonados pela literatura e aptos a promover o fim do silenciamento comunicativo das nossas ilhas lusófonas espalhadas pelo globo terrestre. Uma manifestação literária que em sua curta duração já semeou e colheu melhores frutos do que as pífias políticas dos nossos governos e seus ministérios de cultura, o que me leva a confirmar a análise do ensaísta brasileiro Silviano Santiago acerca do ―cosmopolitismo do pobre‖ e sua actuação como agente reprodutor de cultura e reivindicações: No plano dos marginalizados, a crítica radical aos desmandos do estado nacional, tal como este está sendo reconstituído em tempos de globalização, não se dá mais na instância da política oficial do governo nem na instância da agenda económica assumida pelo Banco Central, em acordo com a influência coercitiva dos órgãos financeiros internacionais. Ela se dá no plano do diálogo entre culturas afins que se desconheciam mutuamente até os dias de hoje. Seu modo subversivo é brando, embora seu caldo político seja espesso e pouco afeito às festividades induzidas pela máquina governamental (SANTIAGO, 2004, p. 61).

―Literatas‖ ainda apresenta-se incipiente em seu projecto gráfico e linha editorial, porém, condizente ao processo de formação literária e intelectual de seus idealizadores que procuram aprimorar a revista a cada edição. Minha única ressalva se dá para a ausência de representantes da literatura negro-brasileira, pois com a integração de seus partícipes em suas páginas, visto que esses escritores são invisibilizados por aquilo que se considera como literatura brasileira, a comunidade lusófona teria outra dimensão da pluralidade da produção literária do Brasil. Para finalizar, minhas congratulações para este colectivo moçambicano que concretiza um novo paradigma para o intercâmbio das literaturas em língua portuguesa. Longa vida à revista ―Literatas‖ e ao Movimento Kuphaluxa!

Imagem sob licença Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivados 2.0 Genérica (CC BY-NC-ND 2.0). Autor: Neil Carey, "Mother Earth". Fonte: http://www.flickr.com/photos/mrbultitude/21433726/

E

is o modo como eu sinto, vejo, leio, a arte dos actores sociais, sejam eles moçambicanos ou brasileiros, tenham eles a nacionalidade que seja, eles que escrevem, escrevem, desmedidamente, sem visar lucros pessoais e créditos financeiros a partir de suas letras inspiradas (e inspiradoras): "Um ósculo de paz sobre a Face da Terra". Vejo muito de mim, do que já fui e, também, deste que, ora, sou, em alguns jovens, meninos e meninas, que se expressam livremente através da literatura nas suas comunidades locais, nas suas cidades, regiões, países e continentes, assim como em meio as suas amizades, famílias e redes sociais. E, assim, mirando-os como num espelho, não concebo isso tudo que vejo como imagem utópica, ilusão ou aparência, pura e simplesmente. Vejo a alma que suponho ter e pela qual luto e reluto para não deixar que se extinga. E personifico o que vejo na figura de um barqueiro nocturno, em meio à tormenta, sem medir esforços para sobreviver, manter o rumo e não deixar que a luz de seu lampião se apague como se fosse, aquela, a luz da vida (A vida, neste caso, é a literatura). Vejo no espelho que se apresenta a minha frente, a divisão de esforços e multiplicação de talentos. Vejo a parte boa, a metade sã, a porção redentora de uma realidade difícil, complicada e atribulada que enfrentamos diariamente neste, como bem traduziu Shakespeare, "imenso cenário de dementes". E quando me refiro à literatura, abordo o conceito produtivo, dinâmico, persistente de letramentos, construtivismos, adaptações, releituras, inovações e superações da (e pela) palavra criativa. Amo ao ponto de comparar a um beijo de paz sobre a Face da Terra esta literatura e seus agentes vivificadores, principalmente a literatura juvenil que sempre e com tons de esperança aborda temas altos, como amor, paixão, liberdade, luta, sonhos e vida. De um modo objectivo e efectivo me vem à mente, neste contexto, os jovens do Movimento Literário Kuphaluxa, com os quais venho me correspondendo e produzindo literatura lusófona colectivamente, desde a metade do ano passado (2011). Penso, aqui no conforto da minha cela temporária chamada existência: como cheguei até estes jovens? Como eles chegaram até mim? Que sorte do destino é esta que uniu nossas redacções, idéias e ideais? Nós, com nossas línguas semelhantes, porém, não idênticas. Cada qual com sua identidade... Comunicando e captando mensagens transmitidas de uma mente para outra, de um indivíduo para um colectivo (e vice-versa)... Movimento... Mover-se... Movimentar-se num sentido e direcção a próprio modo... Um caminho com indicadores vectoriais que apontam para a CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa... Kuphaluxa, o Movimento jovem que se propõe ideológica e com cidadania transcontinental "Dizer, Fazer e Sentir a literatura". O que faço eu, aqui, em meio a estes meninos e meninas? Ora, faço o que posso de melhor, isto é, escrevo como um velho e defasado homem que acabou, por uma injecção de ânimo cultural, de se redescobrir e motivar como parte integrante e integrada de um Movimento sem fronteiras que o desafia de modo contínuo a propagar e repercutir a Literatura em sua forma mais nobre; como ferramenta de cidadania, desenvolvimento e intercâmbio cultural de uma sociedade livre de todos os males que a impedem de se tornar imagem e semelhança de amor e perfeição. O que faço eu aqui? Pratico a expressão da alma pela escrita. Pratico o doce e saudável exercício da Eterna (e contagiante) Juventude. Kanimambo, Kuphaluxa!

.................................................................... Frase semanal: Eu torço sempre para que os optimistas sejam admiráveis oráculos e não idiotas inconsequentes.


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Voz Activa

O Impacto do Kuphaluxa para poetas de Lichinga

Na história do Movimento Literário Kuphaluxa, destaca-se a partir de 2011, com a criação da Revista Literatas, pela sua expansão pelo país. Assim, iniciou uma luta para reverter o cenário em que, de Moçambique que é, o Kuphaluxa era mais conhecido fora. Nesse trajecto de sermos conhecidos e atingir com os nossos projectos jovens de outras províncias, o nosso representante na cidade de Lichinga, capital do Niassa a norte do País, trás o relato dos acontecimentos. Lino Sousa Mucuruza — Lichinga linomucuruza2010@yahoo.com.br

O

Movimento

Literário no intuito de enqua-

Kuphaluxa tem vindo a drar as províncias. ocupar um espaço que nun- Niassa se fez repre-

ca tinha sido ocupado no panorama sentar em 2011 no literário do nosso país, assim como mundialmente através da sua revista literária.

projecto

―Poesia

Com expressão nos país falantes da língua portuguesa a revista Literatas tem sido um dina-

nas Acácias‖ com

mizador da repesca dos escritores jovens e ou emergentes, estes que tem vindo a afirmar-se quatro poetas: na ilustração máxima da nossa jovem literatura. Mukurruza, Eduar-

Exemplos concretos apontam a província do Niassa com grande enfoque nos distri- do Tocoloua, Zefetos de Lichinga e Cuamba onde foram chancelados escritos de alguns poetas no rino Massingue, e caso de Arsénio Mpissa novo talento daquele distrito sul do Niassa. Alguns exem- Francelino Wilson através de poesias estampadas em algumas acácias da plos ainda vem a recair na cidade capital, Lichinga, com uma vasta gama de poetas Rádio Moçambique no Maputo e um M’saho realizado no Jardim Tunduro. publicados, refiro-me concretamente à Zeferino Massingue, Humberto João, Eduar- Eduardo Tocoloua, Zeferino Massingue, Octávio Dinala, em entrevista a do Tocoloua, Ernesto Carlos, Octávio Dinala e Mukurruza, motivo suficiente para Literatas, contam ter conhecido o Kuphaluxa, através da sua revista que lhes apostarem neste movimento literário com apenas dois anos a actuar no País e que já chegou das mãos da representação da mesma a nível da província do Niassa. deixa atrás alguns movimentos considerados antigos. Os poetas acrescentam ainda, que além de electronicamente a revista deveria Em Niassa, por exemplo, o Movimento Literário Kuphaluxa tem se feito presente sair em versão impressa, de modo que, todos possam a ter acesso. através dos grandes eventos que em levado acabo a nível do Maputo,

Cartas de Leitores

Caro Leitor, amigos e simpatizantes da Literatas, você pode opinar sobre os conteúdos publicados e ou assuntos em destaque na lusofonia. Para isso, escreva-nos pelo e-mail: kuphaluxa@gmail.com.

Queridos amigos do Kuphaluxa, saudações! Antes de mais, votos de óptimas realizações na vida social, cultural e sobretudo pessoal. Bem hajam neste 2012! Ora, não vou entrar com verbos nem provérbios.

COMENTÁRIOS:

Meu Caro Eduardo:

gráostei do novo aspecto G S. TA RA TE LI do Obrigado pelo envio É prefico. atractivo. Parabéns! s ai m e a" ad lav ra ca mem» e é Está realmente "de e «os olhos também co qu de do ta di o er ec ciso não esqu . verdade! ão é tudo o que desejo aç ic bl pu a ss vo a ra Sucesso pa Com o apreço do

trália

Afonso Brandão / Aus

Craveirinha. Ele está na geado o Poeta José me ho em ter no tu or O nunca gosPS - Foi op s e porque a FRELIM ica lít po es zõ ra r po o» «muito esquecid plicar portou muito dele. "papas na língua", e ex m se te, en am ert ab o o Sopa, É preciso dize-l e Na mpula), o Antóni (d a nit Fe o sc Va o , e podem dar o seu quê. O Calane da Silva s Serra são pessoas qu rlo Ca o o sm me ou o e ter a coragem o Mia Cout bre o assunto. Há qu so er ev cr es m de po e vocês não ter em testemunho, qu z por todas. Foi pena ve a um de " "ii s no de por os pontos hos Zeca e Stélio vel as opiniões dos fil cá sta de ste ne do luí inc eir o. rginalizado pelo prim ma o uc po um o im últ (este

1. Agradeço a revista Literatas (que não recebi por vossa via, mas podem adicionaremme aos contactos e jaz, manda-me logo o PDF); 2. Parabéns pelo RETURN; 3. Sugestão: julgo que desta até a próxima edição tomem em atenção ao envio de correspondência (o endereço de e-mail é fidedigno, sempre). Recomendo a porem os destinatários em BCC (aparece como "Cco" no Gmail). Assim preservam a identidade de todos os vossos contactos. (imaginem se algum deles tiver um vírus ou spam, pishing e por ai, ficamos todos na (****imaginação); 4. Quanto ao PDF. Parabéns pelo esforço. Mas é altura de arregaçar mangas. Peço por isso autorização para usar esta Edição para moldar e enviar-vos uma Proposta de Layout. 5. Visitei recentemente os vossos três blogs. Devo reconhecer o crescimento e dedicação que depositam no trabalho...apesar da falta de ferramentas! Ora, utópica possibilidade de vir formalizar o meu pedido de parceria (queria usar uma expressão como simpatizante), para ajudar a moldar algumas questões estéticas, por favor considerem este email. Devo recordar que tenho um blog mas que por falta de matéria anda às moscas... No entanto vejo que o Kuphaluxa tem muito a dar e gostava de dar o meu singelo contributo. Caso se interessem é simples, mediante confirmação escrita explicarei exactamente o que proponho. Espero ter trazido neste e-mail algo que possa ser também do vosso interesse. Estou igualmente aberto a criticas e sugestões, comentários e algo piri-pire! Mário Eduardo / Maputo


SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012

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Última Hora Correntes d’Escritas 2012 na Póvoa de Varzim de 23 a 25 a Fevereiro com elenco de luxo

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rranca no dia 23 de Fevereiro de 2012 a13.ª edição das Correntes d’Escritas, evento literário na Póvoa de Varzim que vai reunir mais de cinquenta escritores nacionais e estrangeiros, sendo sem dúvida o mais importante do género em Portugal. Vão marcar presença autores como Rubem Fonseca, Manuel António Pina, Luis Sepúlveda, Inês Pedrosa, Rui Zink, Valter Hugo Mão, Rosa Montero, Gonçalo M. Tavares, Miguel Real, Eduardo Lourenço, Júlio M a g a l h ã e s , e t c . Na Sessão Oficial de Abertura das Correntes, que terá lugar no Casino da Póvoa às 11h00 do dia 23, serão anunciados os vencedores dos quatro prémios literários em disputa, entre os quais o ambicionado Prémio Literário Casino da Póvoa, assim como o Prémio Correntes d’Escritas/Papelaria Locus, o Prémio Correntes d’Escritas/ Fundação Dr. Luís Rainha e o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora. Na Sessão de Abertura será ainda lançada a Revista Correntes d’Escritas 11, dedicada a Eduardo Lourenço. Para o prémio principal, no valor de vinte mil euros e que será entregue no encerramento do evento, no dia 25 de Fevereiro, às 18h00, o júri, constituído por Ana Paula Tavares, Fernando Pinto do Amaral, José António Gomes, Patrícia Reis e Pedro Mexia, escolheu, entre 200 obras, estes livros como finalistas: A Cidade de Ulisses, Teolinda Gersão (Sextante); As Luzes de Leonor, Maria Teresa Horta (Dom Quixote); Adoecer, Hélia Correia (Relógio D’Água); Bufo e Spallanzan, Rubem Fonseca (Sextante); Do Longe e do Perto - Quase Diário, Yvette Centeno (Sextante); Dublinesca, Enrique Vila-Matas (Teorema); O Homem que Gostava de Cães, Leonardo Padura (Porto Editora); Os Íntimos, Inês Pedrosa (Dom Quixote); Tiago Veiga – Uma Biograf ia, Mári o Cl áudi o (Dom Q uixot e). Às 15h00 do dia 23 terá lugar no Auditório Municipal a Conferência de Abertura, proferida por D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. PROGRAMA MESA 1 23, quinta-feira, 17h00 (Auditório Municipal) Tema: A Escrita é um risco total – Eduardo Lourenço Participantes: Almeida Faria, Ana Paula Tavares, Eduardo Lourenço, Hélia Correia e Rubem Fonseca Moderador: José Carlos de Vasconcelos MESA 2 24, sexta-feira, 10h30 (Auditório Municipal) Tema: O fim da arte superior é libertar – Fernando Pessoa Participantes: Alberto S. Santos, Fernando Pinto do Amaral, José Jorge Letria, Luís Quintais, Sofia Marrecas Ferreira e Care Santos Moderador: João Gobern MESA 3 24, sexta-feira, 15h00 (Auditório Municipal) Tema: A Poesia é o resultado de uma perfeita economia das palavras Participantes: Jaime Rocha, João Luís Barreto Guimarães, Manuel António Pina, Manuel Rui e Margarida Vale de Gato Moderador: Ivo Machado MESA 4 24, sexta-feira, 17h30 (Auditório Municipal) Tema: Toda a literatura é pura especulação Participantes: Eduardo Sacheri, Inês Pedrosa, João Bouza da Costa, Manuel Jorge Marmelo, Pedro Rosa Mendes e Rosa Montero Moderadora: Bia Corrêa do Lago MESA 5 24, sexta-feira, 22h00 (Auditório Municipal) Tema: A escrita é um investimento inesgotável no prazer Participantes: Afonso Cruz, Ana Luísa Amaral, Júlio Magalhães, Manuel Moya, Rui Zink e Valter Hugo Mãe Moderador: Henrique Cayatte MESA 6 25, sábado, 10h30 (Auditório Municipal) Tema: Da crise da escrita não se pode fugir Participantes: Carmo Neto, João Pedro Marques, Miguel Real, Sandro William Junqueira, Valeria Luiselli e Salgado Maranhão Moderador: Onésimo Teotónio Almeida MESA 7 25, sábado, 16h00 (Auditório Municipal) Tema: As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento – Antoine Rivarol Participantes: Eugénio Lisboa, Gonçalo M. Tavares, Helena Vasconcelos, João de Melo, Luis Sepúlveda e Onésimo Teotónio Almeida Moderadora: Maria Flor Pedroso MESA 8 28, terça-feira, 18h30 (Instituto Cervantes, Lisboa) Tema: Traços de crise enriquecem o texto literário Participantes: Afonso Cruz, Ana Paula Tavares, Care Santos, Manuel Moya e Valeria Luiselli

Lançamentos 22/02 – 22h00 – Hotel Axis Vermar Balada dos Homens que Sonham, vários autores (Clube do Autor) Palavras, versos, textos e contextos: Elos de uma corrente que nos une, vários autores (Literarte)

23/02 – 22h00 – Hotel Axis Vermar Lágrimas na Chuva - Rosa Montero (Porto Editora) Cinzas de Abril - Manuel Moya (Sextante) Travessa D’Abençoada - João Bouza da Costa (Sextante) Uma Fazenda em África - João Pedro Marques (Porto Editora) Às vezes o Mar não Chega - Sofia Marrecas Ferreira (Porto Editora) 24/02 – 12h30 – Casa da Juventude A Cor da Memória - Care Santos (Planeta) O Murmúrio do Mundo - Almeida Faria e Bárbara Assis Pacheco (ilustrações) (Tinta da China) 24/02 – 17h00 – Casa da Juventude Últimas Notícias do Sul - Luis Sepúlveda e Daniel Mordzinski (Porto Editora) 25/02 – 12h00 – Casa da Juventude Rostos na Multidão – Valeria Luiselli (Bertrand) Humilhação e Glória – Helena Vasconcelos (Quetzal) 25/02 – 18h00 – Casa da Juventude Nova Teoria do Mal – Miguel Real (Dom Quixote) Um Piano Para Cavalos Altos - Sandro Willim Junqueira (Caminho) 27/02 - 18h30 - Instituto Cervantes (Lisboa) Rosa Montero e Inês Pedrosa à conversa a propósito do livro Lágrimas na Chuva 28/02 – 18h00 – Instituto Cervantes (Lisboa) Últimas Notícias do Sul – Luis Sepúlveda e Daniel Mordzinski (Porto Editora) Prémios de Edição LER/BOOKTAILORS No sábado, 25 de Fevereiro, às 19h30, no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, vão ser conhecidos os vencedores da 4.ª edição dos Prémios de Edição LER/BOOKTAILORS, uma iniciativa que conta com a parceria da Secretaria de Estado da Cultura (Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas) e das Correntes d’Escritas. Vão ser distribuídos nove prémios nas áreas do design, fotografia e ilustração. Os vencedores poderão participar no concurso mundial de design editorial The Best Book Design from All Over the World. Além dos prémios de edição, serão entregues 11 prémios especiais dirigidos a tradutores, editores, livreiros, livrarias e jornalistas/críticos literários. O final da cerimónia ficará marcado pela entrega do Prémio Especial da Crítica, que distinguirá o melhor livro de 2011. Prémios de Edição Melhor Design de Capa — Literatura Melhor Design de Capa — Não-ficção Melhor Design de Capa — Coleção Melhor Design de Obra — Infantil e Juvenil Melhor Design de Obra — Arte e Fotografia Melhor Design de Obra — Gastronomia Melhor Design de Obra — Livro Escolar Melhor Fotografia Original Melhor Ilustração Original Prémios Especiais Edição Designer/Artes Gráficas Editora Revelação Editora do Ano Tradutor Livreiro Livraria Independente Jornalista ou Crítico Literário Blogosfera e Internet de Edição Campanha de Divulgação de Autor Português Prémio Especial da Crítica


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