TCC 1 - Arquitetura Sensorial para Deficientes Visuais: Adequações em Supermercados

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Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Curso de Arquitetura e Urbanismo

Kelly Cristina Tavares

Arquitetura Sensorial para Deficientes Visuais: Adequações em Supermercados.

Coronel Fabriciano, 24 de Maio de 2013


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Kelly Cristina Tavares

Arquitetura Sensorial para Deficientes Visuais: Adequações em Supermercados.

Monografia apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista, orientada pelo Prof. Tiago Carvalho. Prof. Responsável Carla Paoliello

Coronel Fabriciano, 24 de Maio de 2013


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Dedico este trabalho especialmente ao meu amado esposo Paulo e a meu filho Pedro que me apoiaram nesses anos e que puderam compreender os momentos em que estive ausente. Aos deficientes visuais que buscam a inclus達o na sociedade tentando realizar tarefas no seu cotidiano.


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AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pela força e oportunidade de aprendizado. A Escola Altina pela recepção em várias entrevista com os alunos deficientes visuais que me ajudaram muito durante minha pesquisa. Ao deficiente visual Fábio que me atendeu sempre que precisei. Aos professores da Escola Altina Lauriene e Ivanir que me incentivaram e me apoiaram quando achava que estava tudo perdido. Á minha mãe Aparecida mesmo que distante me amparou com suas bênçãos, ao meu pai mesmo que ausente, aos meus irmãos e familiares. Aqueles que me proporcionaram palavras de apoio e auxílio que ao decorrer do curso foram de muita importância para o meu aprendizado e apoio psicológico; Luana Vargas, Ana Carolina de Oliveira, Tálisson Sinésio, Elvis Henrique, Marcela Iwanaga, Luís Azevedo, Nilton Assis, Beatriz Sena, Camila Saraiva, Mauro Lúcio, Magno Carvalho, Noliana Souza, Esdras Aurélio, Pâmela Coimbra, Leiliane Franco. Em especial a minha amiga Alexandra Damatto e Thaismar Gomes, que preencheram minha vida de palavras carinhosa e incentiva. A Thais Rocha pela atenção ao início do meu TCC. A associação ADEVIPA, (Presidente Luis e sua secretária Iolanda). Ao meu professor e orientador Thiago pela paciência e atendimento em todas as horas que careci. A professora Amanda pelas orientações extras, que foram de muito acréscimo para a minha pesquisa. A todos os mestres com carinho que fizeram parte dessa trajetória. Ao Duílio Calais e a Thielle Lula pela compreensão nos momentos ausentes; obrigada Thielle pelas palavras de carinho e incentivo. Ao Divaldo do supermercado Cônsul que me disponibilizou o estabelecimento e informações para o término do trabalho, sem este não seria possível. Edivaldo que trabalha no supermercado Cônsul do Ideal, pela compreensão em todas as visitas no estabelecimento. A todos que não foram mencionados previamente e que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho! Obrigada a todos!


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Deficiente é quem não consegue modificar a sua vida, aceitando as imposições dos outros e da sociedade, ignorando que é dono do seu destino, louco é quem não procura ser feliz com o que possui, cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria e só tem olhos para seus míseros problemas. Mário Quintana


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RESUMO

Este estudo visa averiguar a serventia da arquitetura como meio facilitador à acessibilidade dos deficientes visuais ao mundo. O objetivo é demonstrar que a ausência de visão não causa impedimento aos deficientes visuais realizarem as mais diversas atividades, desde que haja cuidados e ações positivas que lhes garantam a oportunidade de fazê-las. Inicialmente fez-se uma análise histórica (do cego na sociedade) quanto aos programas de inclusão dos cegos ao redor do mundo. Como e onde surgiram as primeiras instituições de ensino que se preocuparam em adotar uma didática educativa que aproximasse os deficientes visuais dos demais alunos, com reais condições de aprendizagem de um cronograma escolar. O sucesso obtido pelas primeiras instituições estimulou a criação de novas escolas e o aumento da procura dos cegos por educação de qualidade que atendessem suas especialidades. Em seguida, é posto em foco os equipamentos e linguagens criadas para cegos, tais como a linguagem em Braille, a bengala, os equipamentos de orientação entre outros. Outro ponto importante é o acréscimo da percepção sensorial dos cegos em relação aos outros sentidos, cientificamente atestada. Assim, como lhes falta a visão, os outros sentidos são estimulados ao máximo na tentativa de realizar uma compensação. Todos estes estudos serviram de base para se chegar ao foco principal, que consistiu na observação sistemática de como os supermercados se organizam para receber um deficiente visual. Dessa forma, fez-se um dedicado mapeamento e diagnóstico do estabelecimento Cônsul, unidade do bairro Ideal na cidade de Ipatinga, apresentando os espaços, as finalidades e sua atmosfera. O escopo desse trabalho é questionar os padrões vigentes que não incluem os deficientes visuais de forma coerente à sociedade, apresentando uma solução arquitetônica para o problema.

Palavras-Chave: Supermercado. Arquitetura Sensorial. Deficientes visuais. Inclusão. Acessibilidade. Sociedade.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 28 2. OBJETIVOS ................................................................................................. 33 2.1. Objetivos Gerais ...................................................................................... 33 3. JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 34 4. CONTEXTO HISTÓRICO............................................................................. 35 4.1 UM BREVE PERCURSO DO CEGO AO LONGO DA HISTÓRIA. ............ 35 4.2 As primeiras instituições para cegos no Brasil e suas finalidades. .... 37 4.2.1. Instituto Benjamim Constan - IBC - R.J .............................................. 37 4.2.2. Fundação Dorina Nowill – S.P ............................................................. 40 4.2.3. Institutos de Cegos Padre Chico – S.P............................................... 42 4.2.4. Instituto de Cegos da Bahia (ICB) ....................................................... 44 4.2.5. Institutos Santa Luzia – Porto Alegre ................................................. 47 4.2.6. Institutos São Rafael – B.H .................................................................. 49 4.2.7. Associação ADEVIPA – Ipatinga - MG ................................................ 51 4.2.8. Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves – Ipatinga –MG ............... 54 5. O BRAILLE E ALGUNS INSTRUMENTOS PARA OS DEFICIENTES VISUAIS ........................................................................................................... 59 6. A BENGALA COMO EXTENSÃO DO CORPO. ......................................... 67 7. A PERCEPÇÃO DOS OUTROS SENTIDOS DO CEGO. ........................... 69 7.1. Audição ................................................................................................... 70 7.2. Olfato ........................................................................................................ 71 7.3. Paladar ..................................................................................................... 71 7.4. Tato ........................................................................................................... 71 7.5. Cinestesia ................................................................................................ 72 7.6. Vestibular ................................................................................................. 72 8. CONTEXTO ATUAL DO DEFICIENTE VISUAL. ....................................... 73 9. OS DESAFIOS DOS CEGOS NOS ESPAÇOS SOCIAIS. ......................... 74 10. OS ESPAÇOS PARA OS CEGOS ATUALMENTE ................................... 77 11. LEGISLAÇÃO E REGRAS DE ACESSIBILIDADE. NBR 9050 ............... 81 12. SEMIÓTICA NOS SUPERMERCADOS..................................................... 90 13. OBRAS ANÁLOGAS ................................................................................. 97 13.1. Associação Catarinense para Integração do Cego (ACIC) em Florianópolis (SC). ......................................................................................... 97


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13.2. Lighthouse Headquarters. ................................................................... 98 13.3. Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. ............................................... 99 13.4. Metrô de Roma (Itália). ........................................................................ 101 13.5. Metro de São Paulo. ............................................................................ 102 13.6. Color add / Um código para daltônicos. ............................................ 106 13.7. Museu do Perfume – SP...................................................................... 109 13.8. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) - RJ ................................... 112 13.9. Recursos tecnológicos voltados para os Deficientes Visuais ........ 113 13.9.1 Bengala Digital .................................................................................. 113 13.9.2 Acessórios para Deficientes Visuais ............................................... 115 13.9.3 Identificador de Cores e dinheiro .................................................... 116 13.9.4 Aplicativo para leitura dos códigos dos produtos nos supermercados............................................................................................. 117 13.9.5 Caneta falante pentop. ...................................................................... 119 14. DIAGNÓSTICO ........................................................................................ 121 14.1 Escolha da área e justificativa. ........................................................... 121 14.2. Localização .......................................................................................... 122 14.3. História ................................................................................................. 126 14.4. Acessos de entrada e Setores ........................................................... 127 14.5. Zoneamento do Supermercado .......................................................... 135 14.5.1. Drogaria............................................................................................. 138 14.5.2. Produtos Cosméticos ...................................................................... 139 14.5.3. Hortifruti ........................................................................................... 141 14.5.4. Padaria ............................................................................................. 143 14.5.5. Frios e congelados ........................................................................... 144 14.5.6. Bebidas - sucos / cerveja................................................................. 149 14.5.7. Adega ................................................................................................ 150 14.5.8. Sorvetes e Bebidas geladas. ........................................................... 152 14.5.9. Caixas ................................................................................................ 153 14.5.10 Produtos Secos ............................................................................... 154 14.5.10.1 Corredor 01 ................................................................................... 155 14.5.10.2 Corredor 2 ..................................................................................... 156 14.5.10.3 Corredor 3 ..................................................................................... 157 14.5.10.4 Corredor 4 ..................................................................................... 158 14.5.10.5 Corredor 5 ..................................................................................... 159 14.5.10.6 Corredor 6 ..................................................................................... 160 14.5.10.7 Corredor 7 ..................................................................................... 161 14.5.10.8 Corredor 8 ..................................................................................... 162 14.5.10.9 Corredor 9 ..................................................................................... 163 14.5.10.10 Corredor 10 ................................................................................. 164 14.5.10.11 Corredor 11 ................................................................................. 165


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14.5.10.12 Corredor 12 ................................................................................. 166 14.5.11. Sanitários ........................................................................................ 167 14.5.12. Escada / Elevador ........................................................................... 167 14.5.13 Estacionamento 2 ............................................................................ 169 14.6. Considerações finais .......................................................................... 171 15. DIRETRIZES DO PROJETO.................................................................... 172 15.1. Programas e Justificativas ................................................................. 172 15.2. Estratégia e Intenção do projeto ........................................................ 174 16. CONCLUSÃO .......................................................................................... 175 17. CRONOGRAMA ...................................................................................... 177 18. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 178 19. ANEXOS .................................................................................................. 184 19.1 Entrevistas ............................................................................................ 184 19.2. Planta original do Supermercado. S/ Escala..................................... 195 19.3. CD – Vídeos pesquisas ....................................................................... 196 19.3.1. Semana Integrada (seminário). ....................................................... 196 19.3.2. Deficientes visuais em supermercados. ........................................ 196 19.3.3. Sobre algumas tecnologias. ............................................................ 196


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LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Bibliotecário Junio Cesar ................................................................. 30 Figura 2 - Instituto Benjamim Constant. ........................................................... 38 Figura 3 - Curso Datilografia. ........................................................................... 39 Figura 4 - Aula de orientação e mobilidade. ..................................................... 39 Figura 5 - Oficina de Cerâmica do Instituto Benjamim Constant ...................... 40 Figura 6 - Livros acessíveis em Braille. ............................................................ 41 Figura 7- Reabilitação com o D.V..................................................................... 41 Figura 8 – Imagem aérea do Instituto Padre Chico. ......................................... 43 Figura 9 - Professor Ruberval com aluno, iniciando o treinamento com a bengala longa. .................................................................................................. 43 Figura 10 - Alunos do Período Preparatório em atividade com o Alfabeto Braille móvel e atividade de coordenação motora. ...................................................... 44 Figura 11 – Imagem da sede............................................................................ 45 Figura 12 - Armário com a Máquina de Braille, para iniciação das crianças na vida moderna e aparelhos para começar o aprendizado. ................................ 45 Figura 13 - Sala de informática ........................................................................ 46 Figura 14 - Oficina ............................................................................................ 46 Figura 15 - Aula de natação ............................................................................. 47 Figura 16 - Instituto Santa Luzia – 1941........................................................... 48 Figura 17 - Instituto Santa Luzia - Sede atual .................................................. 48 Figura 18 - Sala de Informática ........................................................................ 49 Figura 19 - Imagem antiga do prédio ............................................................... 50 Figura 20 - Salão do Livro Infantil e Juvenil ..................................................... 50 Figura 21 - Dia das Crianças ............................................................................ 51 Figura 22 - Associação ADEVIPA – Alunos e Funcionários ............................. 52 Figura 23 – Aula de Braille ............................................................................... 53 Figura 24- Momento de interação dos deficientes visuais durante as refeições na ADEVIPA ..................................................................................................... 53 Figura 25 – Deficiente visual realizando trabalho de artesanato na instituição de ensino ADEVIPA .............................................................................................. 54


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Figura 26 - Projeto em contato com o ambiente – atividade extraclasse realizada em um supermercado do bairro. ....................................................... 55 Figura 27 - Peça teatral Com os pés no mundo 12-08 – Teatro Zélia Olguim . 56 Figura 28 - Atividade de literatura na biblioteca. .............................................. 57 Figura 29 - Amostra cultural. ............................................................................ 57 Figura 30 – Cela Braille .................................................................................... 61 Figura 31 – Cela Braille .................................................................................... 61 Figura 32- Alfabeto em Braille .......................................................................... 62 Figura 33 - Reglete........................................................................................... 63 Figura 34 - Máquina de escrever em Braille ..................................................... 64 Figura 35 - Alfabetização da matemática com a utilização do Sorobã. ............ 66 Figura 36 - O aprendizado a partir do tato. ...................................................... 66 Figura 37 – Piso tátil de alerta .......................................................................... 82 Figura 38 – Piso tátil direcional. ....................................................................... 83 Figura 39 - Exemplo de piso tátil de alerta, com piso tátil direcional. ............... 84 Figura 40 – Sinalização tátil conforme a norma. .............................................. 85 Figura 41 - Sinalização mapa tátil conforme a norma. ..................................... 86 Figura 42 - – Sinalização tátil em calçadas e ruas conforme a norma. ............ 87 Figura 43 – Sinalização tátil em escadas conforme a norma. .......................... 88 Figura 44 - Sinalização tátil em corrimão e medidas conforme a norma. ......... 89 Figura 45 – Rótulo Sadia .................................................................................. 94 Figura 46 - tátil em cor contrastante para baixa visão. ..................................... 98 Figura 47 - Hall de entrada da Sede ................................................................ 99 Figura 48 - Aeroporto Charles de Gaulle em Paris (França) .......................... 100 Figura 49 - Metrô de Roma (Itália) ................................................................. 101 Figura 50 - Mapa Tátil do Metrô de Roma (Itália) ........................................... 102 Figura 51 - Piso tátil Metro de São Paulo. ...................................................... 103 Figura 52 - Metro de São Paulo. .................................................................... 104 Figura 53 - Proposta elaborada pela pesquisadora Milena de Mesquita Brandão de piso Tátil para complementação da NBR 9050. ........................................ 105 Figura 54 - Formas geométricas, base do código. ......................................... 106 Figura 55 - Processo de codificação através da junção das formas geométricas básica. ............................................................................................................ 107


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Figura 56 - Codificação de algumas cores incluindo variações de claro e escuro. ........................................................................................................... 108 Figura 57 – Museu do Perfume ...................................................................... 109 Figura 58 - Interior do Museu, com piso tátil para orientação do Deficiente Visual. ............................................................................................................ 110 Figura 59 - Sinalização visual e tátil com uso de braile. Foto Elisa Prado ..... 111 Figura 60 - Identificação de Sanitário com dupla leitura. Foto Elisa Prado .... 111 Figura 61 - Obra de Tarsila do Amaral - Tábua com representação de imagem em relevo para cegos. Foto: Divulgação ........................................................ 112 Figura 62 - Bengala com GPS........................................................................ 114 Figura 63 - Bengala com GPS........................................................................ 114 Figura 64 - Relógios para deficientes visuais ................................................. 115 Figura 65 - Relógios para deficientes visuais ................................................. 116 Figura 66 - Aparelho Identificador de cores e dinheiro ................................... 117 Figura 67 - Caneta falante Pentop ................................................................. 120 Figura 68 - Mapa de Ipatinga - Localização do Bairro ideal e bairros próximos. ....................................................................................................................... 122 Figura 69 - Mapa 1 Bairro Ideal - Vias de Acesso ......................................... 123 Figura 70 - Rotatória de acesso ao bairro – sentido Cônsul. ......................... 123 Figura 71 - Rua Pedro Nolasco. ..................................................................... 124 Figura 72 - Mapa 2 - Bairro Ideal.................................................................... 125 Figura 73 - Mapa 3 Bairro Ideal ...................................................................... 125 Figura 74 - Fachada Supermercado Cônsul................................................... 126 Figura 75 - Acessos e setorização. ................................................................ 127 Figura 76 - Passeio do Supermercado ........................................................... 128 Figura 77 - Acesso de entrada. ...................................................................... 129 Figura 78 - Entrada de pedestres ................................................................... 130 Figura 79 - Entrada de pedestres

Figura 80 - Entrada de pedestres

....................................................................................................................... 130 Figura 81 - Estacionamento fachada / Área externa ...................................... 131 Figura 82 - Estacionamento Rua Manoel Izídio. – Faixa de pedestre ............ 132 Figura 83 - Placa no muro indicando estacionamento. .................................. 132 Figura 84 - Lateral da rampa de acesso para interior do supermercado. ....... 133 Figura 85 - Rampa de acesso para interior do supermercado. ...................... 134


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Figura 86 - Zoneamento do supermercado .................................................... 135 Figura 87 - Acesso 2 - Tapete antiderrapante. ............................................... 136 Figura 88 - Carrinhos. .................................................................................... 137 Figura 89 - Recepção - Atendimento ao cliente. ............................................ 137 Figura 90 - Drogaria – seção de suplementos................................................ 138 Figura 91 - Seção de cosméticos – Extintor de incêndio ao fundo e máquina de senha para atendimento a Drogaria. .............................................................. 139 Figura 92 - Sinalização da seção e terminal de consulta para leitura de preço do produto. ..................................................................................................... 140 Figura 93 - Vista Hortifruti............................................................................... 141 Figura 94 - Seção Hortifruti – Identificação no piso ........................................ 142 Figura 95 - Vista da Padaria ........................................................................... 143 Figura 96 - Padaria – Balcão de atendimento à esquerda e largura do corredor. ....................................................................................................................... 144 Figura 97 - Placas visíveis de sinalização do local......................................... 145 Figura 98 - Espaço amplo com letreiros e etiquetas inacessíveis. ................. 145 Figura 99 - Placa terminal de consulta identificando o leitor de preço. .......... 146 Figura 100 - Embalagem Pif Paf – Escrita em Braille. .................................... 147 Figura 101 - Imagem dos produtos. ............................................................... 147 Figura 102 - Obstáculo na passagem. ........................................................... 148 Figura 103 - Vista seção de bebidas. ............................................................. 149 Figura 104 - Passagem. ................................................................................. 150 Figura 105 - Letreiro, imagem e produto. ....................................................... 151 Figura 106 - Vista do produto e passagem com proteção nas prateleiras. .... 151 Figura 107 - Vista das bebidas geladas e sorvetes ao fundo. ........................ 152 Figura 108 - Caixas de pagamento e produtos de consumo. ......................... 153 Figura 109 - Seções dos Produtos Secos. ..................................................... 154 Figura 110 - Corredor 1. ................................................................................. 155 Figura 111 - Corredor 2. ................................................................................. 156 Figura 112 – Corredor 3. ................................................................................ 157 Figura 113 – Corredor 4. ................................................................................ 158 Figura 114 – Corredor 5. ................................................................................ 159 Figura 115 – Corredor 6 ................................................................................. 160 Figura 116 - Corredor 7. ................................................................................. 161


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Figura 117 – Corredor 8 ................................................................................. 162 Figura 118 – Corredor 9. ................................................................................ 163 Figura 119 – Corredor 10. .............................................................................. 164 Figura 120 – Corredor 11 ............................................................................... 165 Figura 121 - Corredor 12 ................................................................................ 166 Figura 122 – Sanitários - corredor .................................................................. 167 Figura 123 – Escada / Elevador ..................................................................... 168 Figura 124 – Primeiro Pavimento – Estacionamento 2. ................................. 169 Figura 125 - Estacionamento 2 ...................................................................... 170 Figura 126 – Pavimento Térreo ...................................................................... 172 Figura 127 – Primeiro Pavimento ................................................................... 173


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SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABNT - Associação Brasileira de normas técnicas. ADEVIPA - Associação dos deficientes visuais de Ipatinga. CCBB- Centro Cultural Banco do Brasil D.V - Deficiente Visual. FASM- Faculdade Santa Marcelina I.B.C - Instituto Benjamin Constant. I.B.G.E.- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística I.C.B. - Instituto de Cegos da Bahia NBR - Norma Brasileira. O.M.S. - Organização Mundial da Saúde ONU - Organização das Nações Unidas USIMINAS - Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A.


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1. INTRODUÇÃO

É só um segundo. Penso que é “das tais coisas” em que nos sentimos úteis. [...] Recebi este email sobre cegos e a alertar para a dificuldade que têm em simplesmente ir ao supermercado... Como seria mais fácil para eles se ao lado dos preços fossem colocadas placas que indicassem ao menos os tipos dos produtos em Braille...! Isto sem falar, obviamente dos “designers” de todos os instrumentos que “deambulam” pelos corredores e são um perigo real para quem não vê, como um simples porta-senhas preso, a uma parede e que não é detectado pela bengala de um cego... “Apenas uma simples “placa” em Braille”...[...]

A citação acima foi retirada do site http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-39-182-20090520 e tem como título Pedido de ajuda para invisuais, (termo utilizado para se dirigir ao cego). A partir dela, percebe-se que ir ao supermercado fazer compras, escolher um produto é um ato simples e indispensável para a maioria das pessoas que precisam suprir as necessidades, inclusive os portadores de deficiências. Nesses ambientes de consumo, identificam-se diferentes perfis de usuários, de variadas faixas etárias, etnias e sexo, podendo ser notado, a presença de pessoas com algum tipo de deficiência como: de fala, de locomoção, de audição, mas raramente são encontrados deficientes visuais. A partir daí começou-se uma especulação a respeito do tema, um início de pesquisas sobre supermercados acessíveis. Através de análises, entende-se o desejo e o almejo de freqüentarem um supermercado, os quais não estão aptos para receber esse público. Em uma conversa com o segurança Felipe da Mata de 21 anos, que trabalha no Hipermercado Cônsul do shopping do Vale do Aço há um ano e cinco meses em Ipatinga, diz que nunca viu um deficiente visual freqüentar o estabelecimento. O local possui cadeiras motorizadas, caixas exclusivos, mas é acessível somente para cadeirantes, no acaso de ser um Deficiente Visual, deverá estar com um acompanhante, para efetuar as compras. Já no setor da drogaria, existem alguns medicamentos com as informações em braile, e as


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atendentes revelam que os deficientes visuais aparecem para comprar, porém, nunca estão sozinhos. À vontade e a necessidade dos Deficientes Visuais freqüentarem esses locais também se dão através de uma dependência do acompanhante, conforme conversa

em

um

bate

papo

no

dia

16/02/13

pelo

site:

http://intervox.nce.ufrj.br:1965/naveg.html A entrevistada Viviane Keller de Amorim de 21 anos e portadora de Deficiência Visual, residente em Fortaleza/Ceará, diz que raramente freqüenta um supermercado, que geralmente costuma ir com um vidente (acompanhante), para ajudá-la a encontrar os produtos. Ela gostaria que as máquinas de preço além de mostrar, pudessem falar o preço do produto identificado por elas. Diz que acessa algumas caixas de produtos em Braille, mas somente por curiosidade, pois

não

sabe onde elas

estão

localizadas

dentro do

estabelecimento e que são poucas. Reclama que a pior parte da deficiência é a dependência para chegar aos lugares. “A dificuldade de chegar a esses locais (supermercado) é grande, já que a infra-estrutura da cidade não colabora muito; depois vem a parte de escolher os produtos que não são acessíveis; em seguida efetuar a compra.” (Keller, Viviane, 2013)

Para Viviane, a utilização da bengala em espaços externos é de extrema importância para se localizar, mesmo assim, utiliza bastante o sentido da audição, que um complementa o outro e que sem o instrumento ficaria complicado. Já em sua residência é diferente, torna-se desnecessário o uso da bengala, pois conhece todos os percursos. O jornalista da equipe folha, Eli Araujo em 20-05-2009, faz referência a um bibliotecário, deficiente visual (ver figura 1): O bibliotecário Junio César Santiago Alonso nasceu com atrofia no nervo ótico e deslocamento de retina. A cegueira, porém, não o impediu de avançar nos estudos. [...] ,é funcionário público, professor e responsável pela biblioteca no Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos. Alonso só não sente a mesma segurança para ir a um supermercado, o que faz com pouca frequência e sempre


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acompanhado da esposa, que o ajuda na escolha produtos. [...] “A gente sabe que não dá para colocar tudo porque o braile ocupa muito espaço, mas se a embalagem tivesse ao menos o nome e a marca do produto já ajudaria bastante”, afirma.

Figura 1 - Bibliotecário Junio Cesar Fonte: http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-39--182-200905 Acesso em janeiro 2013

A deficiência não é um obstáculo para essas pessoas que estão sempre buscando aprender, estudar, conviver e trabalhar, tentando se incluir na sociedade. A falta de segurança conforme citado acima, se dá pela desconfiança dos lugares e dos espaços, que são praticamente inacessíveis. De certa forma o cego sofre preconceito, não tem devida atenção necessária, e o braile é praticamente inexistente na maioria dos setores. Estas são algumas das questões que podem ser refletidas em como trabalhar a inclusão desses deficientes, pois a visão é o sentido primordial e na sua ausência as dificuldades são maiores se comparadas a falta da audição ou até mesmo de estar em uma cadeira de rodas. Mas conforme relatado na entrevista com Viviane, o sentido auditivo ajuda a suprir a falta de visão, sendo imprescindível para a locomoção. Trabalha a questão do ouvir, oferecendo equilíbrio ao cego, passando este a se orientar no espaço não só pela bengala, mas também pelo ato de escutar. Dessa forma, pode-se dizer que os deficientes visuais são especiais, pois, reconhecem pela


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voz, pelo toque, sons e se locomovem pela rua, percebendo espaços através de uma bengala, a extensão do seu corpo. Com ela os usuários podem perceber variáveis sensações táteis, ter independência e equilíbrio. Considerando que o público alvo é desprovido do sentido da visão, devem-se explorar os sentidos disponíveis: háptico, (sentido que vai além do tato, como será explicado na seqüência), olfativo, gustativo, auditivo, tátil, e vestibular (sentido que trabalha o movimento dos músculos, que mantém o corpo em uma posição de equilíbrio deixando-o ereto), pois é através deles que irão construir e identificar seu mundo físico. Pesquisas relatam que os sentidos ficam mais aguçados na falta de outro, podendo os indivíduos cegos passar a reconhecer pelo toque, cheiro, sons, apresentando capacidades espaciais superiores a de indivíduos normovisuais, segundo citação abaixo. [...] indivíduos cegos têm melhores performances em tarefas complexas de discriminação sensitiva do que indivíduos com visão normal. Há mais de um século que a hipótese de que os indivíduos cegos

possuem

capacidades

sensitivas

superiores.

(Grouios,

Alevriadou & Koidou, 2001)

Segundo Mauerberg-Decastro [2004, apud Lilian (2010)], o sistema háptico vai além do tato e é um dos mais complexos meios de comunicação entre o mundo interno e externo do homem. Está relacionado com a percepção de textura, movimento e forças através da coordenação de esforços dos receptores do tato, visão, audição e propriocepção. A função háptica depende da exploração ativa do ambiente, seja estável ou em movimento. Através

desse

sentido,

os

deficientes

visuais,

conseguem

ter

uma

representação espacial do ambiente, assim se orientando por sinais externos, ou do próprio som que fazem com a boca, para que este se propague e volte, indicando a posição, obstáculos e proporções do ambiente e objetos. Percepções que são desenvolvidas com o tempo, costumes de freqüentarem os espaços continuamente, transformando isso em uma rotina, que com o tempo, o cego passa a ter segurança por onde caminha e naquilo que pratica.


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É possível notar em vários locais, mas neste caso específico em supermercados, a falta de acessibilidade, dificultando o acesso desses indivíduos, gerando a exclusão social. É comum falar em acessibilidade e logo se pensar em rampas, vagas exclusivas, caixas especiais, piso tátil, Braille, mas não é só isso. É preciso pensar em um todo, de forma, trabalhar com a inclusão, possibilitando a exploração dos sentidos, aguçando-os não somente para deficientes, mas para os consumidores em geral. Nota-se que as dificuldades acontecem por esses espaços não estarem adequados. É possível que esta falta, seja devido ao não interesse de investimentos para atender o público minoritário. Devido a toda essa discussão percebe-se que é necessário um estudo que possibilite uma forma, para tornar mais fácil a convivência desses deficientes nestes espaços.


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2. OBJETIVOS O presente trabalho consiste em estudar as dificuldades dos deficientes visuais em estar em supermercados e trazer possibilidades para que eles possam vir a utilizar esses ambientes, através da acessibilidade e adequação dos espaços para que sejam seguros, de forma a atender essas necessidades criando e desenvolvendo processos inclusivos sociais. Este estudo irá definir a melhor forma a ser trabalhada, seja essa através de adaptações, um novo projeto, novas tecnologias, priorizando a exploração dos sentidos sensoriais em prol da resolução dos problemas levantados.

2.1. Objetivos Gerais • Averiguar a opinião dos membros da ADEVIPA (Associação dos Deficientes Visuais de Ipatinga), em relação ao assunto abordado, o porquê da exclusão social e quais as facilidades e dificuldades encontradas por esses deficientes em situações diversas; • Pesquisar e identificar alguns supermercados em Ipatinga e seus usuários, com intuito de futuramente tornar estes espaços comerciais inclusivos; • Elaborar um mapeamento e diagnóstico do supermercado escolhido apresentando as possibilidades de uso do espaço; • Pesquisar obras análogas referentes a supermercados acessíveis a deficientes visuais, na intenção de levantar propostas para estes estabelecimentos; • Pesquisar sobre a legislação, que envolve a acessibilidade para criar espaços inclusivos, funcionais e seguros, propondo adequações destes estabelecimentos conforme a ABNT (Associação Brasileira de Norma Técnica), NBR (norma brasileira) 9050, para que futuramente estes usuários possam vir a utilizá-los.


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3. JUSTIFICATIVA A escolha do tema foi pensando nas condições de vida dos Deficientes Visuais. A proposta de fazer compras em um supermercado faz com que sejam incluídos na vida social, tornando-os mais independentes. A idéia é fazer com que Deficientes Visuais tenham devido acesso em supermercados, seja por adaptação, ou um novo projeto, que venham a ser inclusos conforme suas necessidades. Para a realização do projeto será extremamente necessário a opinião de pessoas sem visão e ter conhecimento sobre a legislação que envolve este público alvo. A proposta visa oferecer um espaço ideal, acessível, seguro e confortável aos deficientes visuais, proporcionando mais autonomia em sua vida. A importância da inclusão nestes estabelecimentos é trazê-los para uma vida social, facilitando a apropriação nos espaços, criando uma nova forma de fazer compras que estimule os sentidos, espaços de experimentações não só pela visão, mas por todos os receptores sensórios. O processo de conscientização visa mostrar ás pessoas que a utilização desses espaços inacessíveis podem um dia ser usufruídos por elas próprias, familiares ou amigos próximos. Há que se entender que os deficientes são consumidores e acima de tudo são seres humanos que querem ter autonomia na realização de simples tarefas do dia-a-dia, buscando sua auto-estima e possibilitando que este venha a ter uma vida própria.


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4. CONTEXTO HISTÓRICO

4.1 UM BREVE PERCURSO DO CEGO AO LONGO DA HISTÓRIA. Durante um extenso período histórico da humanidade, que se iniciou na sociedade primitiva, todas as pessoas com necessidades especiais eram tratadas com desprezo, passando a ser desvalorizadas e excluídas do meio público, muitas vezes abandonadas e até mesmo executadas. Ser cego já foi considerado até como um castigo divino, em que o indivíduo estaria pagando por pecados que foram cometidos por familiares. Mesmo que a perda da visão acontecesse na fase adulta, devido às más condições de vida ou falta de conhecimentos médicos, ainda aconteciam abandonos e sacrifícios. Em algumas tribos indígenas, por exemplo, acreditavam que essas pessoas possuíam espíritos malignos e que o contato com elas, seria o mesmo que manter relações com entidades do mal. (Lowenfeld, 1974; Mecloy, 1974; Vash 1988; Amaral, 1994 apud João Franco, Tárcia Dias, p.02). De acordo com Mecloy (1974) e Amaral (1995) apud João Franco e Tárcia Dias, no século XI a cegueira foi usada como punição. Quando alcançada uma vitória em batalhas, atos brutais eram feitos, como arrancar os olhos dos prisioneiros, poupando apenas a visão de um em cada cem, para que pudesse guiar os outros e retornarem para suas casas. Em épocas posteriores aqueles que cometiam crimes contra a divindade e as leis de matrimônio, também eram lhes roubado o direito de enxergar. Apesar da incapacidade de compreensão, deu-se um maior passo sobre a percepção da cegueira, a partir do século XVI. Segundo Mecloy (1974) apud João Franco e Tárcia Dias, as pessoas foram adquirindo conceitos de valorização em relação às deficiências, com o fortalecimento Cristão, em que todos os homens passaram a ser considerados filhos divinos, no período de transição do Feudalismo para o Capitalismo. Com o passar dos anos, outros rumos foram tomados, como a chegada de espaços acolhedores voltados para


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pessoas cegas, onde Sanchez (1992) afirma aparecer os primeiros pensamentos anátomo-fisiológicos, possibilitando um início de estudos sobre a importância de melhor compreensão sobre a cegueira, influenciando as pessoas começarem a buscar soluções para estes indivíduos. Novas filosofias foram sendo criadas, ganhando força, entre meados dos séculos XVIII e XIX, período em que surgem novas instituições em países da Europa (Alemanha e Grã Bretanha). A partir daí também surge a primeira escola para cegos, criada em 1784 por Valentim Hauy, na França, chamada Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, tendo como método, ensinar a leitura através de sinais, que eram aplicados em papéis de modo muito forte permitindo formar relevo das letras. Em 1819, Louis Braille é ingressado a esta escola com propósito de mais tarde desenvolver um sistema com caracteres para a escrita e leitura dos cegos, (sistema Braille), o qual será mais bem explicado no capítulo 2.0. O primeiro institudo das Américas surgiu em 1829, chamado “New England Asylum for the Blind”, hoje nomeado “Perkins Institute for the Blind”. Em Massachusetts, Estados Unidos fundado o “New York Institute Education for the Blind (1832), mas somente com a criação do “Ohio School for the Blind” (1837) que o governo passou a ter participação, levando a sociedade americana perceber o dever do Estado para com a educação de pessoas com deficiência (Mazzota, 1996). Essas instituições tinham o papel de dar oportunidades aos cegos com intuito de combater o preconceito e a desigualdade da época para com os deficientes visuais. Com o progresso de novas instituições, no ano de 1878, um congresso internacional reuniu onze países da Europa e os Estados Unidos, determinando o sistema Braille a ser seguido de maneira uniforme como processo universal da educação para deficientes visuais, no entanto no início do século XX a escola para cegos se expandiu e foi consolidada. De acordo com Santos (1995), o processo de integração na Europa se deu através de três acontecimentos na história; o fortalecimento pelos direitos humanos, o avanço científico e as duas guerras mundiais. Com estes foi


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possível também se pensar em incluir o indivíduo cego na escola pública. Após a intervenção na Europa, entre meados da década de 60 e 70, formalizaram-se as leis para programas de atendimento educacional, podendo a pessoa deficiente obter benefícios no mercado de trabalho e nas escolas tradicionais. Durante a década de 80 a integração do deficiente visual se fortalecia nos conceitos sociais, podendo assim em 1981 abrir espaço nos meios de comunicação para maior conscientização da sociedade. Devido às conquistas, esse período passou a ser instituído o ano e a década da pessoa portadora de deficiência, pelas Organizações das Nações Unidas (ONU). (Santos, 1995; 2000).

4.2 As primeiras instituições para cegos no Brasil e suas finalidades. 4.2.1. Instituto Benjamim Constan - IBC - R.J No Brasil, o ensino para pessoas com dificuldades visuais iniciou-se com a fundação do Imperial Instituto de Meninos Cegos, em 1854, na cidade do Rio de Janeiro, pelo Imperador D. Pedro II. Inicialmente, preocupou-se em instalar oficinas de aprendizagem modestas, nas quais meninos eram direcionados a praticar tipografia e encadernação, enquanto as meninas ficavam encarregadas de aprender a fazer o tricô. O prédio serviu de abrigo para várias instituições como orfanato para crianças com idade entre seis e quatorze anos, após a idade era introduzido a educação com base na cultura religiosa até os vinte e um anos. Em setembro de 1945 a instituição evoluiu em infra-estrutura de forma a promover um curso de ginásio para cegos. Assim, com as pequenas diretrizes e modificações a unidade educacional conseguiu efetivamente programar o ingresso de seus alunos nas escolas secundárias e acadêmicas. Hoje chamada de Instituto Benjamim Constant (I.B.C), em homenagem ao professor e administrador da Instituição por 20 anos, possuiu como precursor


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José Álvares de Azevedo, que estudou no Instituto Real dos Jovens Cegos, em Paris, e foi responsável por introduzir no país este conhecimento. (Bueno, 1999 apud Miriam Lira, Luciene Schlindwein 2008, p.175). O I.B.C é um centro referencial a nível nacional para questões da deficiência visual, oferece cursos para capacitar profissionais da educação e instituições para exercer trabalhos com os cegos, realiza consultas oftalmológicas, reabilitação e atendimento médico, produz material especializado impressos em Braille, publicações científicas, ensino fundamental, educação infantil, cultura, lazer, etc. A escola (figura 02) também possui alojamento que proporciona comodidade, e competência no ensino, além de capacitar, desenvolver e promover atividades que ajudam no avanço dos deficientes visuais (D.V.) e para aqueles que realizam estudos e pesquisas nesta área, atua arduamente na formação do indivíduo invisual.

Figura 2 - Instituto Benjamim Constant. Fonte: http://jmartinsrocha.blogspot.com.br/2010/12/instituto-benjamin-constant.html Acesso 09-04-2013

Como pode ser observado na figura 3, o instituto oferece cursos de datilografia e aulas de orientação e mobilidade (Figura 4), que permitem uma maior interação do deficiente visual com o meio social. Com objetivo de integrar o


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cidadão na sociedade, o I.B.C, tem experiências necessária para formar D.V aptos a trabalharem em quaisquer estabelecimentos comerciais.

Figura 3 - Curso Datilografia. Fonte: http://www.ibc.gov.br/index.php?itemid=455 Acesso em 09-04-2013

Figura 4 - Aula de orientação e mobilidade. Fonte: http://www.ibc.gov.br/index.php?itemid=459 Acesso em 09-04-2013

Além dessas capacitações para o cego, o deficiente visual também participa do projeto I.B.C Cerâmica, como pode ser visto na figura 5, que surgiu a partir de uma

constatação

da

cerâmica

como

instrumento

de

recuperação,


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reestruturação e renovação da vida de pessoas que perderam

ou estão

perdendo a visão. Além de atribuir a auto-estima e afirmar a capacidade do deficiente visual de produzir, oferecem estímulos ao tato, o desenvolvimento motor, a percepção do espaço, dentre muitos outros benefícios. Os primeiros alunos formados trabalham hoje como monitores dentro da oficina. Com esta ideia criou-se um importante aliado na reabilitação dos deficientes atendidos pelo Instituto Benjamin Constant, que é conhecido referencialmente na área da deficiência visual no Brasil.

Figura 5 - Oficina de Cerâmica do Instituto Benjamim Constant Fonte: http://www.ibc.gov.br/?catid=159&blogid=1&itemid=10216 Acesso em 09-04-2013

4.2.2. Fundação Dorina Nowill – S.P A Fundação Dorina Nowill para cegos foi instituída em 11 de março de 1946 pela professora Dorina Gouvêa Nowill. Cega desde os 17 anos, percebendo a dificuldade com os estudos e em encontrar livros em Braille, verificou a necessidade de criar a fundação. A escola iniciou suas atividades em produção de livros, por grupos voluntários e, posteriormente recebeu o apoio dos governos Municipal e Estadual, garantindo equipamentos doados para realização das atividades, onde foi possível a instalação da imprensa Braille para produção industrializada de livros desta categoria.


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O objetivo da organização era oferecer livros em Braille (figura 6) para outras escolas, e desenvolver o projeto de inclusão em prol dos deficientes visuais. Para alcançar tal demanda a escola conta com profissionais capacitados e, além disso, oferecem vários outros benéficos como: educação, reabilitação, profissionalização, cultura, pesquisas etc. O processo de reabilitação do deficiente visual dentro da escola, busca estimular os sentidos do indivíduo, adequando-os para as necessidades do dia-a-dia (figura 7).

Figura 6 - Livros acessíveis em Braille. Fonte: http://www.fundacaodorina.org.br/ Acesso: 10-04-2013

Figura 7- Reabilitação com o D.V. Fonte: http://www.fundacaodorina.org.br/


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Acesso: 10-04-2013

Os produtos e serviços especializados da Fundação Dorina Nowill para cegos tem como finalidade de facilitar a inclusão de pessoas com deficiência visual respeitando suas necessidades individuais e sociais.

4.2.3. Institutos de Cegos Padre Chico – S.P O Instituto de Cegos Padre Chico (figura 8), surgiu através de um apelo feito pelo médico Dr. José Pereira Gomes em 7 de setembro de 1927, em uma reunião em comemoração a semana Oftalmo-Neurológica da sociedade de medicina e cirurgia de São Paulo.

O médico percebeu que os deficientes

visuais viviam sem assistência e que o número desses pacientes, era cada vez maior. Com este chamado foi possível as autoridade estaduais, municipais acolherem com maior rigor o interesse em criar um instituto para cegos proporcionando todo o apoio possível. A escola atualmente oferece cursos de mobilidade, como treinamento no uso de bengalas (figura 9), além de atendimento clínico, orientação, educação física, curso de informática, musicalidade, arte, biblioteca etc. Contando ainda com Ensino Fundamental I e II (figura 10) e cursos extras como: musicografia, Braille, violão, teclado, piano, coral infantil, ballet, datilografia comum, etc. O instituto tem por finalidade primordial preparar, encaminhar e integrar a criança cega ou de baixa visão à sociedade, para que isso aconteça, faz-se necessário manter o ensino fundamental na escola regular.


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Figura 8 – Imagem aÊrea do Instituto Padre Chico. Fonte: http://www.padrechico.org.br/nossa_historia.html Acesso em 09-04-2013

Figura 9 - Professor Ruberval com aluno, iniciando o treinamento com a bengala longa. Fonte: http://www.padrechico.org.br/nossa_historia.html Acesso em 09-04-2013


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Figura 10 - Alunos do Período Preparatório em atividade com o Alfabeto Braille móvel e atividade de coordenação motora. Fonte: http://www.padrechico.org.br/nossa_historia.html Acesso em 09-04-2013

4.2.4. Instituto de Cegos da Bahia (ICB) A primeira sede do Instituto de Cegos da Bahia (ICB) foi um casarão doado pelo prefeito Americano da Costa, inaugurada no dia 30 de abril de 1933. O Instituto surgiu a partir da vontade em ajudar os cegos que viviam perambulando pelas ruas, sem nenhum auxílio. No início a renda era adquirida através de confecções de vassouras, mas não foi o bastante. Com a interferência da diretoria, iniciou-se a construção de um novo prédio com amplas adaptações para melhor comodidade. Atualmente o Instituto, como pode ser visto na figura 11, acolhe 160 D.V de 0 a 21 anos, que se encontram distribuídos em internatos, ambulatório, semi internato e oficina pré profissionalizante. A escola também disponibiliza gratuitamente, alimentação, vestuário, medicamento, material escolar, artigos de higiene etc.


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Figura 11 – Imagem da sede Fonte: http://institutodecegosdabahia.blogspot.com.br/ Acesso: 10-04-2013

Figura 12 - Armário com a Máquina de Braille, para iniciação das crianças na vida moderna e aparelhos para começar o aprendizado. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=451900891522457&set=br.AbrvoHUngerxd Weyd_Sm2CQOJNQVmcIB3bfKxcAPudmqs4BND974v82cd4tbtBjVwBfnR0nolwmwMxgugfq93FN4GOv2bL3S2HNDIgsN08Pcfb97GWj KxSI5fbPaLLij7g&type=1&theater


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Acesso: 10-04-2013

Figura 13 - Sala de informรกtica Fonte: http://institutodecegosdabahia.blogspot.com.br/ Acesso: 10-04-2013

Figura 14 - Oficina


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Fonte: http://institutodecegosdabahia.blogspot.com.br/ Acesso: 10-04-2013

Figura 15 - Aula de natação Fonte: http://institutodecegosdabahia.blogspot.com.br/ Acesso: 10-04-2013

4.2.5. Institutos Santa Luzia – Porto Alegre O Instituto Santa Luzia (figura 16 e 17), ergueu-se em 1941 com a finalidade de acolher os D.V, com propósito a formação intelectual, profissional e religiosa, tornando-se exemplo na região. A escola vem trabalhando atualmente com propostas de inclusão desde alunos D.V e sem deficiência, oferecendo cursos de educação infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os alunos “invisuais” são atendidos em turmas regulares a partir do terceiro ano do Ensino Fundamental. São acolhidos por profissionais capacitados que utilizam materiais de apoio apropriados para o desenvolvimento das crianças especiais. A escola também oferece cursos complementares como: artes, teclado, informática (figura 18), vôlei, handebol e escolinha de futsal. Tem como principal objetivo a busca de valores que formam e humanizam o deficiente, acolhendo as diferenças e acatando a igualdade como forma de aprendizado.


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Figura 16 - Instituto Santa Luzia – 1941 Fonte: http://www.isl-rs.com.br/Pagina.aspx?ID=17&menu=1 Acesso: 10-04-2013

Figura 17 - Instituto Santa Luzia - Sede atual Fonte: http://www.isl-rs.com.br/Pagina.aspx?ID=17&menu=1 Acesso: 10-04-2013


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Figura 18 - Sala de Informática Fonte: http://dos sieinclusaodamara.pbworks.com/w/page/18122217/servi%C3%A7os_especializados Acesso: 10-04-2013

4.2.6. Institutos São Rafael – B.H A Escola Estadual São Rafael (figura 19), foi fundada em 2 de setembro de 1926, com o objetivo de educar, reabilitar e integrar o D.V. Os alunos são capacitados em oficinas de orientação e mobilidade, datilografia, Braille, tapeçaria, tricô, crochê, modelagem, encadernação, marcenaria e curso de música. Também são oferecido atividades de esporte como: ginástica, futebol de salão, atletismo, jogos de mesa, expressão corporal e teatro. Possui Ensino Fundamental, Ensino Médio, disponibilizando o serviço de ensino itinerante que atende em média 76 escolas regulares, para educá-los e socializá-los. Conforme figura 20, os mesmos usufruem de um salão do livro infantil e juvenil e fazem o uso dos recursos pedagógicos oferecidos como: o sistema Braille para a leitura tátil e escrita, mapas em relevo, obras literárias gravadas em fita cassete e outros matérias adaptados.


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Figura 19 - Imagem antiga do prédio Fonte: http://www.institutodecegos.org.br/conheca.htm Acesso: 10-04-2013

Figura 20 - Salão do Livro Infantil e Juvenil Fonte: http://conectabh.pbh.gov.br/videos.php?cod=MTc5Ng== Acesso: 10-04-2013


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Figura 21 - Dia das Crianças Fonte: http://www2.cpqrr.fiocruz.br/ptbr/category/se%C3%A7%C3%A3o/destaques?page=2 Acesso: 10-04-2013

Observando os incentivos para a integração dos deficientes visuais no âmbito regional encontrou-se em Ipatinga, conforme investigação para o trabalho dessa pesquisadora, uma associação e uma escola inclusiva, que facilitam o acesso aos D.V para aprender e conviver em sociedade. Em seguida serão relatadas a história, os programas e a importância dessas duas instituições.

4.2.7. Associação ADEVIPA – Ipatinga - MG A Associação dos Deficientes Visuais de Ipatinga (ADEVIPA) (Figura 22), situada no bairro Ideal é uma entidade sem fins lucrativos, essencialmente filantrópicos, a qual abrange todo Vale do Aço foi fundada em 11 de Maio de 2005. Devido às dificuldades encontradas na cidade e não havendo uma estrutura apropriada para atender as necessidades básicas do deficiente visual, o presidente da associação, Luiz Alves Ribeiro juntamente com familiares de outros deficientes tiveram a necessidade de criar uma entidade que zelasse e lutasse pela classe. De acordo com o jornalista Wesley Rodrigues do Diário do Aço, em 06-012002, Luis aprendeu o sistema Braille no Instituto São Rafael em Belo Horizonte, em 1973. Para o presidente da instituição, a pessoa desprovida de visão precisa sair às ruas e deixar suas limitações, para que a sociedade possa


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reconhecer as dificuldades e restrições do cego. A associação atende 80 deficientes visuais, com dependência, seus cuidadores e familiares em vulnerabilidade social. São oferecidas aulas de violão, artesanato, informática, estudo do sistema Braille (como mostra a figura 23), atendimento psicológico, assistência social, jurídica e encaminhamento profissional. A ADEVIPA e a Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves, relatada no capítulo 4.2.8, por meio do “Projeto Contato”, são as únicas instituições no município voltado às pessoas com deficiência visual. Para que não houvesse dúvidas quanto à seriedade dos trabalhos, foi alugada uma casa para servir de sede da entidade, que é mantido por doações da comunidade e um convênio com a prefeitura. O objetivo da associação é a inclusão social, a integração do deficiente na sociedade derrubando as barreiras do preconceito e da falta de sensibilidade que muitas vezes se inicia dentro da própria família. Mesmo progressos para os deficientes visuais, existem alguns obstáculos para serem derrubados.

Figura 22 - Associação ADEVIPA – Alunos e Funcionários Fonte: http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=60369 Acesso em 18-04-2013


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Figura 23 – Aula de Braille Fonte: Foto cedida pela instituição ADEVIPA em 18-04-2013

Figura 24- Momento de interação dos deficientes visuais durante as refeições na ADEVIPA Fonte: Foto cedida pela instituição ADEVIPA em 18-04-2013


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Figura 25 – Deficiente visual realizando trabalho de artesanato na instituição de ensino ADEVIPA Fonte: Foto cedida pela instituição ADEVIPA em 18-04-2013

4.2.8. Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves – Ipatinga –MG Inaugurada em 27 de abril no ano de 1988 a Escola Estadual Altina, localizada em Ipatinga proporcionou a mais de 1.100 jovens a oportunidade de cursarem o ensino fundamental regular em seu primeiro ano de funcionamento. Após uma série de incentivos legislativos e de uma necessidade social alarmante deu-se início uma política interna de inclusão dos deficientes que culminou, em 15 de maio de 2001, com o atendimento especializado aos educando com deficiência visual: o projeto COM-TATO. O COM-TATO é um atendimento educacional integrante, reservado aos alunos com dificuldades de enxergar. Tem por finalidade atender e integrar em horário extra-turno a demanda de deficientes visuais de Ipatinga e região, matriculados ou não no ensino regular. O projeto começou com apenas dezesseis matriculados. Com o passar do tempo e eficiência comprovada da instituição e dos métodos de ensino, mais vagas foram disponibilizadas e no momento aproximadamente cinqüenta e seis alunos com idade de seis anos a fase adulta estão matriculados neste plano.


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Os alunos estão devidamente matriculados e assistidos nas oficinas de Alfabetização

em

Braille,

Educação

Física,

Artes,

Acompanhamento

Pedagógico e Matemática. Motivados com as conquistas pessoais e sociais de seus matriculados com deficiência visual a escola nos últimos anos tem se empenhado para abranger os deficientes auditivos. Conforme o site de 2009, http://altinaolivia.wordpress.com/modalidades-deensino/com-tato/, as atividades em conjunto são realizadas visando permitir a absoluta produção das potencialidades sensoriais, emotivas e intelectuais do aluno, utilizando-se de formas metodológicas de ensino que deverão esclarecer o raciocínio, práticas e procedimentos toleráveis com suas exigências. Portanto é importante para os deficientes visuais atividades, seja elas dentro da escola ou fora, (Figura 26), pois com estas se adquire a percepção dos espaços, facilitando a convivência com outras pessoas.

Projeto COM TATO (Deficientes Visuais)

Figura 26 - Projeto em contato com o ambiente – atividade extraclasse realizada em um supermercado do bairro. Fonte: http://altinaolivia.wordpress.com/modalidades-de-ensino/com-tato/ Foto publicada em 09 de novembro de 2010


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Acesso: 17-04-2013

Buscando integração e aprendizado aos seus alunos, a escola propicia oficina de teatro (Figura 27), artesanato, espaço bibliotecário (Figura 28), oficinas culturais (Figura 29), espaço para refeição, laboratório de informática, quadra de esporte etc.

Figura 27 - Peça teatral Com os pés no mundo 12-08 – Teatro Zélia Olguim Site: http://altinaolivia.wordpress.com/curriculo-expandido/nucleo-teatral/ Acesso em 17-04-2013


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Figura 28 - Atividade de literatura na biblioteca. Site: http://altinaolivia.wordpress.com/modalidades-de-ensino/ensino-fundamental/ Acesso em 17-04-2013

Figura 29 - Amostra cultural. Site: http://altinaolivia.wordpress.com/curriculo-expandido/ Acesso em 17-04-2013


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O estabelecimento tem sua história marcada pelo intenso respeito às diferenças, demonstração de entusiasmo e dedicação ao ampliar os horizontes de uma escola regular para promover efetiva integração social. Por isso, detêm admiração não só de seus alunos e funcionários, como de toda a sociedade, que reconhece os esforços empreendidos e observa os resultados. A iniciativa das pessoas que contribuíram para o surgimento das primeiras instituições foi muito significativa na vida dos deficientes visuais. Através desses espaços especialmente para o desenvolvimento e recuperação das doenças visuais que os afligiam. Assim, as escolas com didáticas especializadas na integração dos deficientes visuais de forma inquestionável potencializam as capacidades dos cegos, tornando-os mais independentes e capazes de conviver e cooperar com a sociedade. Atividades completamente cotidianas para a coletividade, para um deficiente visual poderia ser um grande problema, como ir ao supermercado, por exemplo. A partir da inclusão dos deficientes visuais nessas instituições de ensino, a realização dessas pequenas ações, ficou mais fácil. Os deficientes, inclusive, são estimulados pelos seus professores a se prestarem ao exercício dos afazeres domésticos e sociais inerentes a todos os cidadãos por serem plenamente capazes para tal. As escolas colocaram de forma clara para os cegos e portadores de baixa visão a simples compreensão de que as dificuldades que por ventura se estabeleçam ao fazer uma compra no supermercado não vêm da deficiência em si, mas da falta de preparo do estabelecimento para recebê-lo adequadamente. Uma vez feita às mudanças estruturais necessárias (para a correta recepção do deficiente visual), este poderá fazer suas compras como todos os demais consumidores.


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5.

O

BRAILLE

E

ALGUNS

INSTRUMENTOS

PARA

OS

DEFICIENTES VISUAIS O alfabeto Braille foi inventado em 1837 pelo educador francês Louis Braille, que nasceu em 1809 na cidade de Coupvray. Aos três anos de idade costumava passar as horas se divertindo na loja de artefato de couro que seus pais possuíam. Em uma dessas ocasiões ao brincar com alguns retalhos que sobrara das confecções, um dos instrumentos de cortar o material, atingiu-lhe um dos olhos e conseqüentemente ocasionou infecção. Não possuindo muitos recursos, o segundo olho também foi contagiado deixando-o totalmente cego aos cinco anos de idade. Logo em seguida, com seis anos, ele toma conhecimento de um pároco que acabara de chegar a sua cidade. Com o passar do tempo e a convivência, acabou gerando um grande afeto por parte do sacerdote que passou a ensinálo sobre os cheiros, os sons e o toque, produzindo vários ensinamentos no decorrer do dia para que Louis pudesse perceber o significado e sensações utilizando os outros sentidos e assim despertar uma grande fé religiosa. Com idade de freqüentar a escola regular que existia em seu povoado, Louis apenas passava somente a escutar as aulas, e mesmo assim conseguiu ser um dos primeiros alunos da classe, pois era muito interessado e inteligente. Seu pai um homem muito atencioso, queria que o filho aprendesse mesmo com as dificuldades, recortava as letras com pedaços de couro, ou até martelava pregos na madeira formando letras, para que pudesse estudar sozinho o alfabeto. Após dez anos de idade para complemento dos estudos, Louis é premiado com uma bolsa, onde ingressou na Instituição Real para Crianças Cegas em Paris, na qual veio a conhecer a escrita noturna, inventada por Charles Barbier (Capitão da artilharia do exército de Luis XVIII). A escrita utilizava-se de pontos e traços em relevo que era empregada por militares com intuito de passar informações sigilosas. Apesar da consideração e contribuição dele em relação aos cegos, Louis não


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achou suficiente, pois o método não possuía combinações de pontos, não podendo-se soletrar, era inventado somente para representar palavras como uma coleção de sons, sem que pudesse colocar pontos finais, vírgulas etc. Com embasamento ao método, decidiu então experimentar uma nova forma que fosse adaptada e manuseada, que fizesse as mesmas coisas que a linguagem declarada e escrita poderia fazer, alcançando a mesma identidade do alfabeto normal. Com a idéia fixa em sua mente, se empenhou todas as noites, nas férias e finais de semana, na tentativa de criar a tão desejada e perfeita escrita. Então descobriu usando apenas seis pontos e alguns pequenos traços horizontais, como formar todas as letras do alfabeto, os acentos, sinais de pontuação e signos matemáticos. Pela primeira vez os deficientes visuais puderam fazer leituras, copiar passagens de livros inteiros como eram feito por pessoas de visão normal. Em 1826 com 17 anos ainda estudante, ofereceu lições de álgebra, gramática e geografia aos alunos, tornando-se em 1828 com 19 anos professor oficial da instituição. Aos 20 anos de idade descobriu que estava com tuberculose, resolvendo dar um tempo e retornou a sua casa para se recuperar. Em 1843 sentindo-se melhor, regressou ao trabalho mais revigorado, lecionou por mais sete anos, até perceber que já não possuía mais resistência para continuar com seus objetivos. Louis Braille morreu no dia seis de janeiro de 1852 após completar 43 anos, deixando a escrita Braille para a evolução e aprimoramento dos D.V. Basicamente constituída por 64 sinais em relevo combinados de forma a representar às letras do alfabeto, os números, as vogais, os acentos, a pontuação, as notas musicais, os símbolos matemáticos e outros sinais gráficos, cujo sistema de comunicação em Braille é hoje empregado mundialmente, composto em ordem de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos.


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Os seis pontos são chamados de cela Braille e são identificados por números da seguinte forma: de cima para baixo, coluna esquerda, pontos 1,2,3 de cima para baixo, coluna direita pontos 4,5,6, conforme figura 30.

Figura 30 – Cela Braille Fonte: http://www.senai.br/braille/historia.htm Acesso em 07-04-2013

É a partir da combinação entre os pontos que se dá a formação das letras. Por exemplo o ponto 1 sozinho representa a letra a, os pontos 1 e 2 a letra b, 1 e 4 letra c, (figura 31) e assim sucessivamente.

Figura 31 – Cela Braille Fonte: http://www.senai.br/braille/historia.htm

Acesso em 07-04-2013

As disposições dos pontos não são alteradas, tornando-se fácil saber qual ponto esta sendo determinado, conforme imagem 32 do alfabeto Braille.


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Figura 32- Alfabeto em Braille Fonte: http://www.mundocegal.com.br/node/6/ Acesso em 14-04-2013


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A escrita em Braille pode ser realizada pelo deficiente visual, por meio de uma reglete (Figura 33) a qual se utiliza uma punção (que perfura) ou de uma máquina de escrever Braille (Figura 34). A reglete é uma régua de madeira, plástica ou metal com conjunto de celas Braille adequado em linhas horizontais sobre uma base plana. O punção é um instrumento em plástico ou madeira no formato de uma pêra ou anatômico com ponta metálica, utilizado para perfurar os pontos na cela Braille. A perfuração acontece da direita para a esquerda produzindo a escrita em alto relevo de forma não espalhada. Já a forma de interpretação é feita de modo comum, da esquerda para a direita, a partir do tato. Embora, diante das tecnologias atuais e da rapidez da escrita dos não deficientes, a escrita Braille seja considerada um processo lento, devido a cada ponto ser perfurado para a criação de cada letra, isso traz ao cego também a oportunidade de exercitar sua coordenação motora, acabando por constituir-se em um novo benefício.

Figura 33 - Reglete Fonte: http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm Acesso em 14-04-2013


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Outro equipamento utilizado na alfabetização do cego é a máquina de escrever, conforme pode ser visto na figura 34, que contém seis teclas básicas que correspondem aos pontos da cela Braille. O toque em conjunto de uma combinação de teclas produz os pontos que estabelecem sinais e símbolos pretendidos. É um mecanismo de escrita rápida, prático e funcional. A caligrafia em relevo, assim como a leitura tátil encontram-se possíveis pelo treino da habilidade manual, com mudança de linha, adequação da postura e manuseio do papel. Dessa forma, pode-se afirmar que não é um procedimento simples, e requer daqueles pontos a aprendê-lo o esforço em desenvolver as habilidades do tato em constante associação com conceitos espaciais e numéricos. A sensibilidade, agilidade motora, coordenação bi manual, dentre outros também são bastante valorizadas ao tocar e compreender a linguagem Braille. Por isso o aprendizado desse sistema deve ser realizado em condições adequadas de forma simultânea complementar ao processo de alfabetização dos alunos cegos.

Figura 34 - Máquina de escrever em Braille Fonte: http://www.bengalabranca.com.br/2011/index3.php?pagina=subcategoria&id_sub=101 4&limenu=menutopo&incont=sim Acesso em 14-04-2013


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Com a criação do alfabeto para os invisuais, a leitura em Braille foi introduzida em vários contextos e situações como: em cardápios de restaurantes, rótulos de

medicamentos,

congelados

nos

agências

bancárias,

supermercados,

e

elevadores,

outras

ocasiões

alguns

produtos

indispensáveis

à

independência do cego. Em algumas agências bancária, por exemplo, é possível o D.V conseguir operar um caixa eletrônico. Com essa facilidade de produzir

o

Braille

manualmente,

lugares

como

comércio,

shopping,

supermercados, poderiam introduzir essa escrita, para isso existem cegos que são capacitados para exercerem esse tipo de tarefa a partir do conhecimento e manuseio destes equipamentos que os concebem. Seria uma oportunidade de trabalho para o D.V, seria mais uma forma de realizar a inclusão do deficiente visual no contexto social. Conforme BELARMINO (2004) apud Liziane Sandes, com o sistema Braille foi permitido aos indivíduos cegos saírem de seu próprio mundo e experimentar de forma mais ampla, saberes comuns da realidade com outros indivíduos de cultura. “Encontraram no Braille a ferramenta que lhes permitiu construir uma nova individualidade histórica, todo um mundo amplo a se descortinar na ponta dos seus dedos, numa resolução semiótica levada a cabo por apenas seis pontos em relevo”. (BELARMINO, 2004, p. 5).

Com certeza o Braille é muito importante na vida do cego, pois foi a primeira prática de leitura, e através dela a convivência no mundo social. Foi grandiosamente facilitada, tornando uma resposta aos anseios de milhares de cegos por uma oportunidade de conseguirem conhecer e aprender com o mundo ao seu redor. Após aprender o manuseio correto da máquina de escrever em Braille, há um inegável, acréscimo em sua qualidade de vida. Outro instrumento importante na concretização da inclusão do deficiente visual é o sorobã, também conhecido como ábaco. O mesmo chegou ao Brasil em 1908 pelos imigrantes japoneses, mas sua criação remete aos tempos antigos na Grécia. Tornou-se um instrumento empregado pelos deficientes visuais no auxílio em cálculos e operações matemáticas. Além de desenvolver a imaginação, contribui com a prática a concentração, a memorização, a percepção, o cálculo mental e a coordenação motora. Conforme as figuras 35 e


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36 o instrumento contém cinco contas em cada eixo e borracha compressora que permite manter as contas fixas.

Figura 35 - Alfabetização da matemática com a utilização do Sorobã. Fonte: http://proavirtualg28.pbworks.com/w/page/18670749/matematica Acesso em 14-04-2013

Figura 36 - O aprendizado a partir do tato. Fonte: http://www.bengalalegal.com/soroban Acesso em 14-04-2013


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6. A BENGALA COMO EXTENSÃO DO CORPO. Não há vestígios de quem inventou a bengala, mas em alguns informativos sugerem que surgiu a partir da utilização de cajados, vara, bastão, por reis, papas e imperadores. Em alguns momentos históricos as pessoas utilizavam os bastões ou varas como o prolongamento do braço para desse modo destapar os obstáculos de espaços a sua frente. Em 1945 alguns soldados que permaneciam cegos devido a segunda guerra mundial, ficavam atrofiados perante as dificuldades de locomoção ou de exercer qualquer função. Foi então que o tenente oftalmologista Richard Hoover propôs estudar um modo para que estes pudessem se orientar e obter mobilidade. Diante da situação o capitão juntamente com sua equipe criou um método de locomoção semelhante a um bastão, de forma esse ser um sistema que explorasse os espaços, estabelecidos a partir do toque da ponta da bengala, difundindo todas as sensações táteis reconhecida por ela. Em benefício ao cego, foi instituído o dia internacional da Bengala Branca em 1970, sob iniciativa da Federação Internacional dos Cegos em Paris. O seu uso prioriza o direito do D.V em transitar nos lugares públicos, nos locais de lazer, e na locomoção para os ambientes de trabalho de forma independente. Para Hoffmann (1998) através da bengala, que é o símbolo universal da deficiência visual, o usuário é identificado como pessoa privada de enxergar ou visão subnormal (que possui baixa visão). Representa para ela entre outros benefícios a extensão do seu sentido tátil e sinestésico, proteção e segurança sendo um meio que transmite informações por onde caminha e de alguns obstáculos a sua volta. O autor ainda afirma que o intelecto de uma pessoa D.V é estimulado pelo uso da bengala, pois forçam pensamentos na tentativa de resolver problemas encontrados durante sua locomoção. Do mesmo modo tem a função de orientar, proteger e detectar informações dos ambientes, por análises táteis e serem compreendidas pelos receptores localizados na mão do D.V, sendo enviadas ao seu cérebro. A orientação ou desorientação inadequada prejudica a mobilidade do indivíduo


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cego, passando as outras pessoas considerá-las confusas. Para Goffman (1988), "a cegueira pode levar à impressão de falta de cuidado, por isso o cego deve fazer um esforço especial para aprender ou reaprender a propriedade motora", desse modo é possível perceber que o deslocamento para o cego é um infinito aprendizado sobre o seu corpo e suas relações com os outros corpos envolvidos no espaço. Sem dúvida a bengala é um dos meios essenciais de acessibilidade. É considerado um auxiliar barato e simples na locomoção dos deficientes visuais. Depois de concluído o processo de orientação e mobilidade, a bengala praticamente se iguala a outro membro para o D.V, uma extensão do seu corpo, ou seja, os olhos que o cego não possui. Assim, a bengala passa a ser a medida desse olhar do cego, dessa forma, não é mais um simples objeto para quem a utiliza; e sim um apoio imprescindível para andar com segurança.


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7. A PERCEPÇÃO DOS OUTROS SENTIDOS DO CEGO. Segundo

publicado

em

04-08-2004

por

Renata

Moehlecke

no

site

http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/neurociencia/cegos-de-nascenca-temaudicao-mais-apurada acessado em 27-04-2013, uma pesquisa realizada no exterior

comprovou

a

máxima

popular

quanto

à

superioridade

no

desenvolvimento da audição pelos cegos. Essa confirmação sucedeu de análise científica produzida pelo Centro de Pesquisas em Neuropsicologia e Cognição da Universidade de Montreal e divulgada em 15 de julho na revista científica Nature. As pesquisas feitas previamente abordando o mesmo tema já indicavam a facilidade que os cegos possuem em usar o sentido de audição para se orientarem no espaço, em relação às pessoas de visão normal. Porém, somente com os dados adquiridos nessa nova pesquisa é que se tornou quantificável essa relação. “Neste estudo apresentou-se que as pessoas cegas julgam melhor a direção da mudança de altura no som, mesmo quando a velocidade de variação é dez vezes maior do que a captada pelos indivíduos que enxergam”, esclarece o psicólogo Pascal Belin, autor principal do estudo. Porém, ocorrendo somente em pessoas que nasceram ou se tornaram cegas com menos de dois anos de idade. O pesquisador Belin esclarece que as pessoas que adquiriram a cegueira mais cedo, possuem melhor alcance em identificar as alterações dos sons, pois o cérebro está mais propenso a se adaptar melhor às adversidades nesse período de desenvolvimento. Ainda segundo ele, a região do cérebro responsável pela visão, o córtex visual pode ser usado para processar informações de outros sentidos. Ressalta que durante o nascimento os centros de visão, audição e outros sentidos no cérebro estariam todos conectados. Em indivíduos que possuem a visão, é comum, essas conexões serem aos poucos eliminadas. Já em indivíduos que ficaram cegos ainda cedo à ligação tenderia a ser preservada e usada.


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Segundo outro autor do estudo, Robert Zatorre, "Quando todos os sentidos estão intactos, o cérebro não necessita de conexões entre os centros sensoriais, pois a quantidade de informações poderia confundi-lo”. Em entrevista com o aluno Fábio, estudante na Escola Estadual Altina Olívia Gonçalves, admite ser um absurdo falar, “Eu sei onde é uma perfumaria, onde é um banco, o banco tem cheiro de dinheiro, farmácia que tem cheiro de remédio, todo lugar tem um cheiro, se você entrou na seção de limpeza (supermercado) chegou perto do sabão, vai ter o cheiro do sabão.“ Portanto, os cinco sentidos do corpo humano, olfato, tato, visão, audição e paladar, assim como o sentido sinestésico e vestibular, são os responsáveis pela aprimoração da percepção e compreensão quanto ao mundo em nosso redor. Assim, todos os homens exercem o conhecimento sensível através de seus sentidos, com a mesma potencialidade e intensidade. Contudo, as pessoas que sofrem de deficiência visual estão privadas do recebimento de informações pelo canal visual, por isso tem o referencial perceptivo deslocado pelo desenvolvimento dos sentidos remanescentes, logo, elas recorrem às informações advindas dos outros sentidos com maior habitualidade. É a forma com que os deficientes conseguem obter as informações necessárias para construir suas relações com o mundo.

7.1. Audição A audição funciona como um receptor sempre atento a qualquer estímulo oriundo do ambiente, captando informações em todas as direções. Em determinadas circunstâncias a audição detecta informações sobre objetos antes do canal visual, por exemplo, em uma curva de uma estrada onde se escuta o barulho do carro antes de visualizá-lo. (VEIGA, 1983 apud Silvia Ventorini, 2077 p. 37).

É certo que a audição é um dos sentidos mais relevantes no que compete à percepção no mundo da pessoa cega. Por meio desse sentido, os deficientes visuais conseguem obter dados que auxiliam sua movimentação espacial e também direcionamento, pois conseguem distinguir e identificar os sons no ambiente, codificando memórias auditivas para identificar pistas e pontos de


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referência (relatado por deficientes visuais que utilizam da audição para andar de ônibus, ou descer no local desejado.)

7.2. Olfato A estimulação do uso do olfato em deficientes visuais é recomendável, pois auxilia na relação que este desenvolve com o ambiente ao seu redor. Alimentos, flores, produtos de limpeza, medicamentos, por exemplo, costumam ter cheiros característicos, que podem ser traduzidos para a memória do cego, auxiliando consideravelmente no processo de conhecimento e identificação, não só dos objetos em si, mas também dos locais em que estes se encontram como

farmácias,

restaurantes,

etc.

Outra

importante

função

do

desenvolvimento olfativo dos deficientes visuais é a forma com que esse conhecimento pode ser aplicado à prevenção de acidentes ou demais situações de risco.

O cheiro de gasolina, vazamento de gás, fumaça,

queimado, entre outros podem ser identificados pelos cegos, de modo que esses não estejam em situação de desvantagem em relação aos demais quando na iminência de um acidente ou tragédia.

7.3. Paladar O sentido gustativo é uma modalidade de sentido químico, porque seus receptores são acionados por estimulantes químicos. A percepção que o cego obtém através do paladar lhe dá habilidade para reconhecer os mais variados alimentos, assim como distinguir e inteirar-se da existência dos sabores doce, salgado, amargo, e outros, até mesmo em condições de danificados.

7.4. Tato De fato, o sentido que prepondera na função de auxiliar o deficiente visual a ter um conhecimento real e sensível quanto ao mundo ao seu redor é o tato, provém desse sentido as melhores informações, mais precisas, completas e de maior confiabilidade. O tato, quando filiado à cinestesia, cria um sistema de aprendizagem e reúne conhecimento extremamente favorável e produtivo para os deficientes visuais.


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7.5. Cinestesia De forma básica e sucinta, cinestesia é a completa consciência dos movimentos que são realizados pelos membros do próprio corpo. Os receptores de todos os sentidos mandam informações coletadas por cada um individualmente, que quando unidas, criam a percepção geral abrangente do que acontece quando o corpo se movimenta. É proporcionar ao homem a consciência do movimento que o próprio está realizando.

7.6. Vestibular O sentido vestibular fornece informações sobre o movimento e a orientação, de forma a proporcionar equilíbrio. É o principal componente auxiliador quando se trata de manter a postura ereta, e de compreender os movimentos das coisas e pessoas ao redor. O sistema vestibular está diretamente ligado ao sentido da visão, pois se movermos a cabeça, os olhos acompanham automática e imediatamente esse movimento, o que é uma conseqüência básica do sistema vestibular. Os olhos movem-se automaticamente para compensar os movimentos da cabeça, um reflexo iniciado pelo sentido vestibular.


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8. CONTEXTO ATUAL DO DEFICIENTE VISUAL. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) encontrada no Site: http://www.vejam.com.br/node/39 acesso em 02-04-2013, no ano de 2002, cerca de 161 milhões de seres humanos eram portadores de alguma deficiência visual, dentre eles 37 milhões eram de fato cegas, enquanto 124 milhões sofriam com baixa visão. A pesquisa prossegue com a previsão de que até o ano de 2020 o número de cegos possa dobrar em decorrência direta ao crescimento populacional, a extensão da expectativa de vida, a ausência de diagnósticos para doenças que podem causar cegueira como o glaucoma (uma lesão do nervo óptico). Além desses, há, por fim, o aumento do índice de sobrevivência de bebês prematuros, que em decorrência da má formação pelo curto tempo de gestação podem vir a obter a retinopatia pediátrica, segunda maior causadora de deficiência visual no planeta. Ainda de acordo com os dados coletados pela mesma pesquisa da OMS 40 % de todos os casos de cegueira dentro do território brasileiro se dá por catarata, tornando essa doença a principal causadora de deficiência visual na atualidade. Logo após está o glaucoma com 15%, a retinopatia diabética com 7% e a cegueira na infância com 6,4%. A degeneração macular relacionada à idade, com 5% dos casos de cegueira, é somente a quinta maior causa de cegueira, diferentemente da proporção mundial onde ela aparece em terceiro lugar. Os números da pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo 2000 alcançaram o seguinte resultado: existe hoje no Brasil o número de 148 mil cegos, dos quais 57 mil estão localizados no estado do Nordeste. Porém, a cidade que possui o maior número de cegos está no Sudeste, e é São Paulo, onde vivem 23,9 mil cegos.

Outro dado

alarmante coletado dessa pesquisa é que mais de 16 milhões de brasileiros declararam abertamente sofrerem algum tipo de empecilho, dificuldade ou diminuição na capacidade de enxergar. A estimativa dos pesquisadores conclui que cerca de 2 milhões de pessoas possam sofrer com visão baixa.


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9. OS DESAFIOS DOS CEGOS NOS ESPAÇOS SOCIAIS. Como demonstrado, a quantidade de cegos no mundo e no Brasil é alta, e tende a crescer com o decorrer dos anos. Contudo, os esforços para garantir a acessibilidade dessas pessoas ao mundo, de forma positiva e eficiente ainda são muito tímidas. É um direito constituído a possibilidade dos indivíduos portadores de deficiência visual (independentemente do que tenha gerado tal deficiência) terem plenas condições de inclusão social, usufruindo de todos os bens e serviços postos à sociedade de forma geral. É inaceitável que nos panoramas da sociedade atual uma parcela tão significativa de pessoas seja segregada, tratada e distanciada dos quesitos mais básicos que garantem a dignidade apenas por sofrerem de uma deficiência visual. O primeiro movimento a ser tomado para promover a integração dos deficientes visuais é sua devida identificação. Isso ocorre quando a visão de um cidadão é submetida a uma precisa avaliação médica e funcional, capaz de determinar se há ou não deficiência visual, assim como seu grau de intensidade. Após, tal determinação, é possível realizar as específicas diligências destinadas a cada dano visual, tratando singularmente cada doença da visão, ou no caso de cegueira total irremediável, recomendar adaptações e medidas práticas corretas a serem tomadas. É uma forma de cuidar especificamente das necessidades de cada pessoa, com sua respectiva deficiência, sem massificar o atendimento aos deficientes visuais. Conforme MONTEIRO (2012) apud SANTOS; GALVÃO; ARAÚJO (2009, p.256-257) explica, No ano de 1992, em Bangkok – Tailândia houve um congresso histórico [...]. No encontro, foi rediscutida a importância da avaliação clínica, juntamente com uma avaliação funcional da visão, pois se entendia que o desempenho visual é mais um processo funcional dinâmico do que uma simples medida de acuidade visual que ocorre com a pessoa em posição estática (normalmente sentada na cadeira do oftalmologista); já na avaliação funcional, deveria ser observado o que a pessoa faz com o uso da visão que possui, ou seja, ela deve ser avaliada através de atividades funcionais: andando, subindo


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escada, alimentando-se, brincando, escrevendo etc.

Portanto, é cientificamente considerada cega toda e qualquer pessoa com completa perda de visão até a incapacidade de percepção da luz. Já, as pessoas com baixa visão apresentam, ainda que de forma bastante mitigada, aptidão para reconhecer a projeção de luz até certo grau. A compreensão dessa divisão é importante, pois para pessoas com perda total de visão são recomendados processos de cognição com a linguagem em Braile e fortes estímulos aos demais sentidos, enquanto portadores de baixa visão podem aproveitar de estímulos visuais direcionados ao aprendizado. Ainda segundo MONTEIRO (2012 p.3), Tendo em vista estes aspectos, compreender a diferença entre cegueira e baixa visão e as necessidades específicas de cada grupo, é

imprescindível

para

que

os

recursos

adaptados

sejam

disponibilizados e barreiras físicas e / ou atitudinais sejam removidas de modo que esses sujeitos possam ter acesso aos bens culturais, a educação, a plena participação social, a autonomia e aos demais serviços que já estão disponíveis para sociedade vidente.

Estreitando a observação do papel do cego para a região do vale do Aço, o IBGE, 2010, apresenta em seu banco de dados as seguintes informações: são 515 o número de pessoas que declararam portarem cegueira completa, 6.792 apresentam grandes problemas de visão, mas ainda a conservam de forma moderada ou pequena, e por fim, 33.017 afirmaram que possuem alguma dificuldade em enxergar. Conclui-se, de tal forma que 40.324 pessoas residentes em Ipatinga positivamente portam alguma deficiência visual, ainda que pequena.

A deficiência visual poderia ser considerada como empecilho praticamente insuperável para a interação social. Porém, já é demonstrado que com a correta dedicação em compreender as doenças da visão, suas manifestações, como superar seus efeitos, e principalmente a partir de políticas de inclusão, é possível oferecer aos cegos o benefício de uma vida social digna e respeitável. O primeiro passo é a capacitação do deficiente visual, para que esse não se encontre em absurda desigualdade quando colocado ao lado dos demais. É


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dar aos cegos uma forma de adquirir conhecimento de forma rápida, prática e eficaz, pois eles podem ser alfabetizados e até graduados, capazes de exercerem profissões em cargos importantes. Há urgência no atendimento à demanda por instituições de ensino sérias, com pessoal capacitado e dedicado a compreender as capacidades e limitações dos deficientes visuais. Além disso, são encontrados diversos outros percalços que permeiam o relacionamento dos deficientes visuais com a sociedade. São pequenas coisas do cotidiano, que passam despercebidas pela maioria, mas que se transformam em grandes dificuldades ou grandes constrangimentos para aqueles que possuem uma deficiência visual, como: uso de transporte público, sinalizações, espaços inadequados, admissão em empresas, escolas sem estrutura para recebê-los adequadamente, até a simples identificação de produtos em uma prateleira de supermercado pode ser um martírio para alguém suprimido da capacidade de enxergar.


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10. OS ESPAÇOS PARA OS CEGOS ATUALMENTE Recentemente, a compreensão popular acerca das capacidades e do valor social dos deficientes (visuais ou não) vem melhorando. Gradualmente, está se desfazendo o estereótipo de incapazes, de pessoas dignas de pena, ou inferiores, e criando-se a imagem mais realista de alguém que é acometido por uma deficiência, mas que pode superá-la. Essa mudança de entendimento reflete em ações sociais de extremo benefício para os portadores de deficiência visual, pois começam as manifestações para que se criem meios, estruturas, ambientes e políticas urbanas eficientes, que levem os cegos ou homens de baixa visão para o mesmo patamar dos não deficientes.

No entanto segundo Sassaki (1997), para a inclusão de todas as pessoas é preciso que essa sociedade seja modificada, tornando-se capaz de atender as necessidades de todos os membros, seja através da educação, da qualificação profissional, na reabilitação, etc. É necessário que a sociedade se transforme, alterando o ambiente físico e o pensamento de todos os seres humanos. Hoje, há um número ainda pequeno de escolas e associações dispostas a acolher deficientes visuais de baixa renda, mas se comparada com o cenário de dez anos atrás isso já é um grande avanço. Esses locais oferecem uma gama de ações educativas especificamente direcionadas ao público deficiente visual, que consegue aprender a se comunicar, ler, desempenhar atividades físicas, identificar objetos e aplicar todo esse conhecimento no cotidiano. Como é o caso de algumas instituições citadas em capítulos anteriores, voltadas em alfabetizar desde crianças a adultos, cegos e surdos envolvendo-as com outros indivíduos, facilitando o processo de inclusão social em diferentes grupos. O maior problema é conseguir investimentos financeiros para disseminar a ideia destes institutos. O sistema capitalista visa sempre um lucro que essas instituições são incapazes de obter, o que afasta a iniciativa privada desse movimento. Cabe então ao poder público, de alguma forma programar e investir firme na criação e manutenção de institutos voltados para a integração social. Pois, é sabido ser dever do Estado garantir a igualdade e a dignidade a


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todos os seus cidadãos. A acessibilidade não pode ser entendida como simples soluções práticas e físicas às dificuldades de locomoção de pessoas com deficiência visual, pois este é um conceito extremamente limitado que não consegue traduzir as suas necessidades reais. Portanto, a correta forma de compreender a acessibilidade é entendê-la como um grande conjunto de ações, normas, e principalmente, de pensamento em que o deficiente não seja deslocado para a margem da sociedade, não seja visto como um ser inferior, mas sim como um ativo integrante do corpo social, que precisa e merece ser agregado nas mais diversas funções. O que se espera é uma mudança cultural que influencie potencialmente todas as áreas da sociedade brasileira. Conforme

Luciane

Molina,

2011,

do

site

http://www.braillu.com/2011/03/acessibilidade-na-pratica deficiencia.html “A prática do desenvolvimento de sistemas, produtos e serviços para serem utilizados com segurança e autonomia por pessoas com deficiência visual ou mobilidade reduzida constitui o conceito atual de acessibilidade. Essa condição deve, não apenas permitir que essas pessoas participem de atividades que incluam o uso de produtos, serviços e comunicação, mas também a inclusão e o uso destes por todas as parcelas presentes em uma determinada população, ou seja, é a possibilidade de qualquer pessoa usufruir de todos os benefícios da vida em sociedade”.

No dia 11 de abril de 2013 às 16h00min, foi desenvolvido pela pesquisadora, um seminário que abordou o tema Acessibilidade no Contexto Arquitetônico. A palestrante convidada Andrea Grativol, abordou o tema em relação às calçadas de acesso a pessoas com mobilidade reduzidas, praticamente inexistentes no Brasil. Atraiu atenção para a enorme quantidade de pisos inadequados que são instalados nas calçadas, assim como a disposição de árvores sem dimensionamentos, praticamente postas ao meio do passeio, o que resulta em carros e motos estacionados no próprio passeio, obstruindo a passagem. A NBR 9050 traz dimensionamentos adequados para as calçadas, que devem conter de faixas de serviço, livre e de acesso. Esses parâmetros são essenciais


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para que a pessoa consiga transitar sem qualquer obstáculo a sua frente, deixando cada equipamento que a compõe em seu devido lugar. Contudo, não há uma fiscalização precisa e adequada, o que gera uma desobediência geral. É muito raro encontrar uma calçada que atenda as previsões mencionadas, principalmente na região. Ao final do seminário foi passado um vídeo filmado em diversos pontos da cidade de Ipatinga (anexo CD/Vídeos). Tratando-se de uma dinâmica em que transeuntes de olhos vendados que tiveram a oportunidade de caminhar pelo local portando apenas uma bengala para efetuar a sua orientação. Essa experiência teve como intuito fazer com que os indivíduos vivenciassem as mesmas dificuldades locomotivas de um deficiente visual. As pessoas que se propuseram a realizar tal experiência mostraram dificuldade em desempenhar o proposto e se conscientizavam da importância de mais políticas de inclusão, porém muitas outras se mostraram receosas, recusando a experiência. Foi uma tentativa de sensibilizar a sociedade quanto às circunstâncias precárias de locomoção oferecidas aos deficientes visuais no meio urbano. Dispor as pessoas de visão normal em uma situação controlada em que não se pode utilizar tal sentido, elas automaticamente percebem como um cego se sente todos os dias. Os arquitetos e urbanistas tem como dever ao projetar, pensar nas possibilidades de acessibilidade empregada no projeto arquitetônico. Se cada um fizer um pouco que seja, esse pouco se tornará muito. Apesar da existência da legislação que estabelece normas e critérios para acessibilidade, observase que a cidade não está preparada para atender as necessidades da diversidade de seus habitantes. Ante ao exposto, a acessibilidade pode-se basear no simples ato de modificar a estrutura de vida ou comportamento do deficiente visual para que este consiga se adaptar a sociedade. Ao contrário, durante as discussões sobre a falta de oportunidades para os deficientes visuais, o que foi de fato percebido é que os verdadeiros empecilhos à integração do cego não é a deficiência em si, mas sim a forma com que a sociedade está organizada para recebê-lo. De tal forma,


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é preciso reestruturar todo o meio social, para que essas barreiras à integração sejam reduzidas, assim qualquer tipo de deficiência, não terá um impacto efetivo no desenvolvimento das atividades cotidianas. Observa-se que, ao longo dos anos, houve um enriquecimento em relação ao conhecimento sobre o assunto “acessibilidade”, sobretudo porque grande parte das soluções depende de tecnologia. Ou seja, com a evolução desta, a legislação referente à matéria tornou-se mais ampla, abrangendo mais instrumentos que possibilitam e facilitam o acesso e utilização.


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11. LEGISLAÇÃO E REGRAS DE ACESSIBILIDADE. NBR 9050 É possível afirmar que atualmente existe em pleno vigor uma quantidade significativa de leis e normas direcionadas a integrar o deficiente visual à sociedade. A Lei Federal 7.853, estabelece os direitos básicos das pessoas portadoras de deficiência, assim como a Lei 10.098/00 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade do deficiente quanto à sua locomoção em meio urbano. Não obstante, já existem constituições orgânicas municipais que tratam especificamente da construção urbanística direcionada para a acessibilidade. Na cidade de Santos, por exemplo, instituída pela Lei Municipal 799 de 1991, circula uma cartilha explicativa de acessibilidade vasta e completa referente à NBR 9050, abordando diferentes tipos de equipamentos para conferir autonomia e igualdade aos mais variados deficientes. Em relação aos deficientes visuais essa cartilha possui explicações funcionais quanto ao piso tátil, recurso este que consiste em pequenas elevações, em cor viva diferente da cor do solo ordinário que servem de direção e aviso aos cegos e homens de baixa visão. Esse piso possui várias categorias segundo o seu significado específico. São recomendáveis para ambientes em que um deficiente visual poderia estar sobre risco de acidentes, como o piso tátil de alerta. Este se trata de pequenas elevações, porém, circulares, que simbolizam perigo, assim ao identificá-los consegue-se redobrar sua atenção e cuidado, evitando um acidente.


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Figura 37 – Piso tátil de alerta Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Como pode-se observar na figura 37, o piso tátil de alerta deve ter no mínimo 25 cm de largura e deve estar posicionado pelo menos há 50 cm de distância do local de risco. Geralmente são dispostos perto de escadas, rampas e elevadores, ou demais desníveis de solo abaulado, e ainda perto de objetos suspensos. O Piso tátil direcional para linha guia (ver figura 38), possui a função oposta do piso de alerta, pois eles indicam um caminho seguro, direcionam o deficiente visual a locomover-se de forma fácil e sem riscos pelo estabelecimento. Normalmente, o que se preza é pela adoção e ambos os pisos simultaneamente para indicar o melhor caminho a ser seguido, da forma mais segura.


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Figura 38 – Piso tátil direcional. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Deve-se observar a situação em particular, pois é ela que determina a forma com que o piso tátil será instalado, e deve ser extremamente cauteloso em fazê-lo, pois se posto de forma errônea, pode acabar se transformando de agente auxiliador para um terrível empecilho à locomoção do deficiente visual. Ou seja, os interessados em adotar o piso tátil dentro de um estabelecimento devem ter a sensibilidade de lidar com profissionais gabaritados e capazes de fazê-lo de forma a garantir o quesito da acessibilidade, se não, o que se construirá será um verdadeiro labirinto que impossibilita ao cego uma movimentação segura.


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Figura 39 - Exemplo de piso tátil de alerta, com piso tátil direcional. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Outro importante detalhe para resguardar a acessibilidade do deficiente visual, que muitas vezes é desconsiderado, são as portas. Essas devem ter no mínimo 80 cm de largura e abrirem em um ângulo reto (90°). É recomendável que as maçanetas sejam do tipo alavanca, pois são mais simples de serem usadas por deficientes visuais, e é indispensável que no batente ou na parede lateral seja posta uma inscrição em Braille e relevo usualmente na altura de 1,50, indicando a presença de uma porta e para onde esta direciona.


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Figura 40 – Sinalização tátil conforme a norma. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Por mais diferente que seja o desenho e o mecanismo de funcionamento de uma porta, sempre há que se procurar uma forma segura de possibilitar a passagem por esta. Não só isso, sempre deve haver disponíveis informações para que o cego identifique a porta e o que esta abriga, seja um escritório, banheiro, saída de emergência, entre outros. É importantíssimo informá-lo quanto a disposição e organização dos ambientes,

por

isso

implementa-se

superfícies

inclinadas

contendo

informações táteis. Normalmente, elas são horizontais ou levemente inclinadas, as informações contidas nessas são escritas em Braile e instaladas a altura entre 0,90 m e 1,10 m, conforme figura 41.


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Figura 41 - Sinalização mapa tátil conforme a norma. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

É necessária muita atenção ao realizar a adaptação de rampas, escadas e corrimãos pelos mais diversos ambientes. As rampas em travessias precisam estar devidamente sinalizadas com piso tátil para delimitar o caminho até a rampa e o de alerta, para sinalizar o início da rua.


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Figura 42 - – Sinalização tátil em calçadas e ruas conforme a norma. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Já as escadas, teoricamente devem ter a largura mínima de 1,20m, porém se localizadas em local de grande circulação essas dimensões se tornam maiores. Se essas dimensões chegarem a superar a medida de 2,40m será necessário implantar um corrimão central (ver figura 43). O início e o final da escada devem estar revestidos de piso tátil para informar aos deficientes visuais desses limites, evitando pequenos acidentes. Outra importante observação é que todos os degraus devem ter suas bordas revestidas por uma faixa de cor e textura em destaque com o piso, para facilitar a identificação de cada degrau pelos deficientes de baixa visão. (Como por exemplo, as pessoas que possuem a catarata).


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Figura 43 – Sinalização tátil em escadas conforme a norma. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Junto com as escadas devem ser instalados corrimãos. Cerca de um metro de distância do corrimão é usual que se instale um anel de modo que seja percebido facilmente. Os corrimãos circulares devem ter diâmetro de 3,5 a 4,5 cm, instalados nas alturas de 92 cm e 70 cm do piso.


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Figura 44 - Sinalização tátil em corrimão e medidas conforme a norma. Fonte: Cartilha Santos Para Todos (2006)

Todos os equipamentos e ajustes arquitetônicos espaciais apresentados garantem eficaz acessibilidade, mas é imprescindível que os esforços da sociedade e das forças políticas estejam voltados para tal questão. Numa sociedade sem discriminações, os estabelecimentos públicos devem ser dotados de instrumentos que tornem a circulação de pessoas e identificações de objetos acessíveis.


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12. SEMIÓTICA NOS SUPERMERCADOS “Semiótica é a ciência dos signos, ciência geral de todas as linguagens, uma coisa que representa uma outra coisa”.(Santaella, 1944, p.12). É sabido que os homens se comunicam culturalmente por uma gama de meios e modos, com imagens, gestos, palavras e até mesmo olhares ligados a símbolos, dessa forma a semiótica se constitui no estudo sistemático dos meios de comunicação humana, sejam esses verbais ou não. Segundo Pignatari (1927), “a semiótica é uma ciência que ajuda a ler o mundo”. Torna possível a compreensão da realidade, através de todas as formas de comunicação. Dentro da semiótica também está relacionado o signo, que pode ser definido como tudo que faz lembrar algo que é perceptível aos sentidos, tendo função e poder de representar e substituir alguma coisa. Exemplo disso seria a palavra supermercado, quando dita, é possível associá-la em várias coisas, como: espaço gigante, produtos, prateleiras, etc. Nos espaços interiores dos supermercados isso não acontece diferente, toda a sua comunicação atrai para o consumismo. Propagandas e embalagens convidativas que levam o consumidor a comprar até mesmo o que não deseja, na tentativa de suprir necessidades futuras. Podem-se compreender também nestes estabelecimentos, táticas de vendas, como: prateleiras expostas estrategicamente, induzindo consumidores a direcionarem por elas, para que passem próximos aos produtos, vejam e sintam vontade de comprar. Como demonstrado abaixo, há um planejamento estrutural estratégico dentro dos ambientes comerciais que visa atingir um objetivo. A função do planejamento é um mecanismo que garante, dentro da lei e da ordem, um mínimo de segurança e estabilidade, a serviço da proteção da segurança física das pessoas e da propriedade, além da promoção do investimento privado. (SANTOS, 2006)

O supermercado se baseia praticamente em vender seus produtos, preocupando-se primeiramente em uma fachada estrategicamente semiótica,


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para que consumidores sejam atraídos. De acordo com Socorro e Borges, (2005), para se planejar um espaço correto de uma loja, é necessário saber que tipos de produtos serão exibidos, quantidade de pessoas que freqüentarão o espaço no dia-a-dia, qual estoque necessário e público alvo a atingir. Com estas

respostas

será

possível

entender

qual

a

imagem

que

seu

estabelecimento comercial deverá ter para torna-se uma referência na paisagem da rua. O que se percebe é exatamente isso, um recinto convidativo para induzir pessoas que são atraídas pelo marketing da fachada, resultando em uma arquitetura visual comunicativa no espaço, no entanto, soma-se com a disposição do layout provocando manter esses consumidores no interior dos supermercados.

Assim, a layoutização compreende como uma análise de posicionamentos

das

áreas

de

higiene,

perfumaria,

limpeza,

alimentos, bebidas, bazar, laticínios, padaria, hortifrut e açougue; dentro da loja e sua mudança para o ponto considerado ideal. [...] Percebe-se que o layout deverá observar desde a entrada de sua loja, com portas amplas, facilitando o máximo acesso, além de um espaço interno adequado, circulação de pessoas, sinalização interna, exposição de produtos, áreas de vendas, estoque, prateleiras, caixas. O layout nunca deverá ser estático, o acompanhamento do mercado e as exigências do consumidor auxiliam nas mudanças, permitindo assim um espaço agradável ao consumidor final. (SOCORRO E BORGES, 2005)

Ao organizar os produtos dentro de um espaço é preciso que exista um layout simbolizando a presença desses produtos ao consumidor fazendo uma conexão com aquele que o vislumbra imediatamente criando o entendimento de que o objeto que se procura está ali. Exatamente por isso que se preza sempre pela manutenção do layout, pois este se torna um sinal familiar, sua inoportuna modificação quebra a cadeia de reconhecimento e pode afastar o consumidor. “Um bom layout deve ajudar e principalmente estimular o consumidor a comprar afetando diretamente o volume de vendas e


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conseqüentemente o desempenho da empresa”. (Araujo apud Camargo, 2008) A própria disposição dos equipamentos e prateleiras dentro de um supermercado é pensada de forma a propiciar a apreciação completa do consumidor sob os produtos à sua disposição. Por isso as prateleiras são dispostas em linhas retas e paralelas, possibilitando a visualização de todo o estabelecimento, até sua parede final mais distante. “Um dos principais objetivos do layout é fazer com que o cliente fique mais tempo dentro da loja e também compre produtos com maior valor agregado.” (Camargo, 2008) Um fator interessante para o consumidor é o aspecto físico do supermercado, que deve permitir que o cliente se sinta em um espaço organizado e limpo. Segundo Kotler apud Camargo (2008), a aparência do ambiente é importante em uma loja e o layout físico pode tanto auxiliar como dificultar a proceder com as compras. Os preços dos produtos também devem estar anunciados nas prateleiras, dessa forma, o cliente não precisa se deslocar para obter tal informação do produto.

Percebe-se

que

clientes

usualmente

perambulam

pelo

estabelecimento buscando uma máquina com leitor de código de barras para prestar-lhe informações referentes ao preço do produto, esforço que poderia ser evitado se o estabelecimento tivesse maior cuidado em vincular essa informação ao produto em si. Porém, acredita-se que essa seja uma estratégia usada pelo estabelecimento visando colocar a vista do consumidor uma maior quantidade de produtos enquanto esse caminha pela loja. Há uma logística perfeita na construção do modelo de disposição de produtos do supermercado, aquilo que os donos querem que seja apresentado em maior evidência será sempre disposto na entrada ou ao meio, e o que deve ser recluso será colocado aos cantos. É uma estratégia de venda, colocar a vista dos consumidores aquilo que ao comerciante apetece vender. “Devem ser expostos a fim de chamar a atenção dos consumidores, colocados sempre na altura dos olhos quando em gôndolas ou destacados em pontos extras ou pontas de gôndolas.” (Camargo, 2008) Para Camargo (2008), a exposição de poucos produtos fará com que estes


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possuam boa aparência, não acarretando poeira e não amassando, emitindo a sensação ao cliente de que os produtos estão sempre novos, dentro do tempo determinado ao prazo de validade, todos estes regulamentos auxiliam a compreender um layout padrão. Os layouts são grandes auxiliadores na função de promover a maior quantidade de venda possível, eles precisam estar em harmonia com a disposição dos produtos, criando um ambiente visualmente confortável e informativo. (Levy e Weitz apud Camargo, 2008) O atendimento ao consumidor, também faz parte de um bom planejamento. Destaca-se o caso de funcionários que são treinados apenas para dizerem: boa tarde coloque o cartão, crédito ou débito, podendo até mesmo o consumidor ter que dizer obrigado, sendo que, o agradecimento, deveria vir primeiramente do funcionário do estabelecimento, que na maioria das vezes, deixa a desejar um sorriso no rosto, pretendendo o mínimo de comunicação, podendo ser transmitido e sentido pelo consumidor a sensação de desânimo, tédio ou até mesmo tristeza em seu comportamento. O fato de criar associações significativas poderia ser um formato adequado de planejar, uma própria estratégia, de maneira que esse consumidor pudesse retornar ao local, pelo bom atendimento e não apenas pela necessidade de comprar. Certamente, um deficiente visual que encontrasse um local realmente adaptado às suas necessidades seria um cliente cativo do estabelecimento, dando preferência a este em relação aos demais não adaptados. Existe também a tática em relação as logomarcas, que são produzidas por designers que conseguem criá-las tornando-as uma excelente identidade visual, conforme definido abaixo. A identidade visual é o conjunto de elementos gráficos que irão formalizar a personalidade visual de um nome, idéia, produto ou serviço. Esses elementos agem mais ou menos como as roupas e as formas

de

as

pessoas

se

comportarem.

Devem

informar,

substancialmente, à primeira vista. Estabelecer com quem os vê um nível ideal de comunicação. (STRUNCK, 2003, p. 57)

Dessa forma, pode-se dizer que a função semiótica está também presente no processo de criação das logomarcas que acabam por se tornarem signos,


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imprescindíveis para o reconhecimento populacional do lugar ou objeto em questão. Toma-se como exemplo o “S” da Sadia (ver figura abaixo), onde mesmo quando é visto separado do restante da palavra, é associado à marca.

Figura 45 – Rótulo Sadia Fonte: http://www.sadia.com.br/s-para-voce/papel-de-parede.jsp Acesso: 14-03-2013

Todas essas configurações de linguagens do supermercado atendem bem o portador de todos os sentidos plenos. Em contrapartida, existem aqueles, especialmente os deficientes visuais, que não conseguem receber estas informações contidas nesses signos, uma vez que isto é feito de forma visual. Uma das formas para que pudessem reconhecer os espaços, ou até mesmo identificar um produto, seria através da comunicação e linguagem do sistema Braille. A implantação desse sistema funcionaria até mesmo como interação no espaço, permitindo ao deficiente visual, reconhecer e se situar em corredores, pelo o qual não é conduzido, como é o caso dos normovisuais, que são instigados a consumirem. Em relação à aplicação da linguagem para deficientes visuais, o Braille no campo da semiótica, Bordenave explica: “Em geral, os signos formam conjuntos organizados chamados códigos. A língua portuguesa, os sinais de trânsito, o sistema Braile para cegos, são conjuntos organizados de signos”. (BORDENAVE 2003, apud Omena, 2009 p.28). Ou seja, o entendimento que se estabelece para o cego quando este aprende o Braille é relacionar um símbolo com um objeto, podendo este ser um conteúdo dinâmico (o que as


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palavras conseguem transmitir quando organizadas em frases) e objeto imediato (veículo que permite essa leitura do cego, ou seja, o texto em si). (Omena, Fabrícia B. 2009 p.28). O Braille, como já anunciado no item 5, consiste em símbolos destacados em auto-relevo unidos em ordem específica para formar sinais correspondentes à palavras, aos leigos parecem pequenas figuras geométricas, Sousa (2004) apud Omena, (2009) apresenta uma situação ilustrativa para a relação icônica no Braille. A autora escreve: Você tem diante de si um texto Braille e deixa que sua mão aberta passeie ao acaso pelo papel. Uma sensação de aspereza estimula sua pele e nada mais. Aí você experimenta olhar para o texto e a princípio não vê senão um emaranhado de pontos, que ora podem assemelhar-se a um labirinto, ora lembram um bordado abstrato, ora uma pauta musical, ora parecem sugerir flores ou pequenos peixes (SOUSA 2004, apud OMENA, 2009).

Os ícones que compõe a linguagem em Braile vão formando relações com a disposição física do mesmo no papel. Assim, o mero observador não deficiente pode se satisfazer tanto do tato como da visão para retirar informações dessa linguagem. Outra forma de interagir pelos espaços dos supermercados seria através do piso tátil, onde o deficiente é conduzido a caminhar, parar, imaginar, tocar e sentir, através do andar em um percurso de signos, percebidos por meio de uma bengala, que ao tocar o piso, transmite aos cegos percepções do espaço vivido. Neste percurso o cego também é conduzido pelo cheiro dos produtos como os da padaria, produtos de limpeza, cada espaço registrado pelo seu aroma. Os espaços de supermercados não oferecem acessibilidade ao deficiente visual, mas a partir dos sentidos que possui, consegue uma boa percepção de alguns espaços, no entanto para melhor identificação destes produtos, além de sinalização tátil, sonora, cheiros etc., este precisaria de uma tecnologia para a escolha do produto.


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É preciso pensar nestes casos, em que os consumidores finais possuem alguma deficiência sensorial, e propor formas de fazer com que estas mensagens cheguem até eles. Uma forma seria trabalhar os supermercados, adaptando-os para o uso desses deficientes, elaborando uma maneira de projetá-los, fazendo uso, por exemplo, de estimulação social podendo assim atender estes deficientes sensoriais.


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13. OBRAS ANÁLOGAS As obras análogas retratadas neste capítulo foram escolhidas, para apontar alguns recursos já existentes para os deficientes visuais localizados em diversos ambientes e que apresentaram resultados positivos. Primeiramente buscaram-se nesta pesquisa, alguns supermercados que pudessem apresentar informações que atenderiam os invisuais, porém os resultados foram decepcionantes. Não há notícias relevantes quanto a um supermercado que tivesse dedicado esforços em garantir a acessibilidade dos deficientes visuais. Por isso, serão apresentadas situações que apesar de diferentes podem se relacionar com a ideia de acessibilidade nos supermercados. Em cada um dos casos abaixo apresentados é possível verificar a implementação ou modificação feita no ambiente adequado, e como os cegos podem se orientar e desfrutar dos espaços oferecidos. É a tecnologia e a arquitetura de fato interferindo no cotidiano dos invisuais, de forma a permitilhes conduzir a própria vida de forma autônoma, segura e eficaz.

13.1. Associação Catarinense para Integração do Cego (ACIC) em Florianópolis (SC). Alguns exemplos que buscam reunir diversas soluções espaciais para o apoio do cego em relação a orientação. A figura 46 mostra a circulação de pessoas em ambiente com largura adequada para o trânsito acumulado de pessoas. As faixas sem cores contrastantes a de seu entorno delimitam a circulação (faixa azul), já a faixa do meio (preta e amarela) que contrasta com os demais pisos, servem de guia para pessoas cego total ou com baixa visão. O guarda corpo lateral serve como referencial vertical. A caixa de som instalada acima da porta permite que os deficientes visuais tenham um referencial sonoro e estático, e ainda facilita a comunicação interna entre funcionários, professores e alunos. O piso emborrachado nas portas forma uma espécie de tapete que possui uma textura diferenciada, responsável por assinalar aos deficientes visuais a presença da


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porta.

Figura 46 - tátil em cor contrastante para baixa visão. Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013

13.2. Lighthouse Headquarters. Nos ambientes internos de uso público também se faz necessário pensar nas formas de facilitar a orientação espacial da pessoa com deficiência visual. Nesta edificação todo seu sistema de informação foi pensado para que seus elementos funcionassem de maneira integrada. Esses elementos são: sinalização tátil em relevo, em Braille, mapa tátil posicionado com ângulo adequado para a leitura e sinalização sonora (sinais falantes) que identificam as principais funções do edifício (como sala de conferência, sanitários, circulações verticais etc.), elevadores com sistema que anuncia cada andar indicando as atividades que ocorre em cada parada. Em frente ao elevador também foram colocados mapas táteis, onde é possível localizar a atividade do pavimento, como mostra a figura 47. É exatamente como descrito acima que todos os estabelecimentos deveriam


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ser projetados. Não há apenas alguns setores ou determinados locais em que o cego se sinta incluído ou respeitado, mas sim todo o estabelecimento está organizado de forma que um deficiente visual consiga entrar, andar, reconhecer o local e dele evadir sem constrangimentos ou requisição de auxílio de outros. Muitas vezes é possível reconhecer em alguns ambientes locais específicos com escrituras em braile, ou um pequeno trecho do pavimento com piso tátil de forma que as adaptações aos deficientes visuais ficam isoladas e restritas, ou seja, muito pouco úteis. Por isso, o Lighthouse Headquarters é exemplo no que consiste a demonstrar a importância de ter a totalidade do ambiente sensível as necessidades de seus freqüentadores.

Figura 47 - Hall de entrada da Sede Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013

13.3. Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. A orientação mostra que pisos táteis conduzem o usuário ao corrimão que contém informação em Braille e mapa táteis com informações sobre o espaço físico do aeroporto. Conforme ETHRIGDE (2005) apud BRANDÃO (2011), quando os cegos caminham, deve haver elementos situados ao alcance das


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mãos, ao toque dos pés ou que a bengala faça contato. O mapa tátil na figura 48 pode ser definido como “desenhos cartográficos táteis provocados para auxiliar a locomoção e localizar ambientes e fenômenos geográficos. Basicamente existem dois tipos de mapa táteis os utilizados para mobilidade e os utilizados para a educação (LABTATE - UFSC, s/p apud BRANDÃO 2011) De fato os mapas táteis são extremamente úteis aos cegos, pois conseguem informá-los quanto a sua localização, fazendo-os compreender em qual direção se encontra aquilo que buscam. Se implementado em supermercados ou demais ambientes de comércio pode informar em quais locais estão determinados tipos de produtos, o que facilitaria ao cego se orientar nesses espaços.

Figura 48 - Aeroporto Charles de Gaulle em Paris (França) Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013


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13.4. Metrô de Roma (Itália). Em Roma, foram implementados por todo o metrô pisos táteis para guiar os cegos que utilizem esse meio de transporte subterrâneo. Com ele, há disposto no chão o caminho correto que leva o cego de um departamento ao outro do ambiente de forma clara, precisa e principalmente segura. Assim, todos os passageiros deficientes ou não, conseguem chegar ao local desejado de forma ágil, sem necessitar de ajuda, como está explícito na figura 49, em que o piso dois indica o caminho a ser seguido, o piso três a curva indicando mudança de direção.

Figura 49 - Metrô de Roma (Itália) Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013

A marcação de atividade positiva (mapa tátil 2 e 3) e detalhe do mapa tátil no Metrô de Roma (Itália)


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Figura 50 - Mapa Tátil do Metrô de Roma (Itália) Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-201

Pisos táteis costumam ser a primeira providência a ser tomada quando se trata de adequar um local aos deficientes visuais. Porém, ainda assim, não é usual encontrar um estabelecimento que esteja preocupado em instalá-los de forma ampla, muitas vezes só é posto em áreas de risco como perto de escadas ou desníveis de solo. O que é uma lástima, já que piso tátil é uma forma prática e confortável para os cegos que providos de bengalas conseguem se orientar no estabelecimento.

13.5. Metro de São Paulo. A norma NBR 9050 apenas indica dois tipos de pisos táteis, e despendendo da ocasião eles não irão solucionar a situação. Como por exemplo, em caso de parada, ela não indica um piso para este caso, apenas direcionável e alerta como no exemplo abaixo.


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Figura 51 - Piso tรกtil Metro de Sรฃo Paulo. Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013


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Piso 1 de alerta, piso 2 direcional, piso 3 alerta, piso 4 direcional.

Figura 52 - Metro de São Paulo. Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013

Conforme citado acima, se acaso o deficiente visual precisar fazer uma parada para se direcionar, a norma não especifica o tipo de piso. Mas, através de uma investigação foi possível encontrar no trabalho da pesquisadora Milena de Mesquita Brandão, que discute sobre as contribuições para NBR 9050/2004 disponível no site http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 em acesso no dia 04-05-2013, sugere algumas propostas de mudanças para a norma em relação ao piso tátil apresentando mais dois tipos de piso conforme figuras abaixo.


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Figura 53 - Proposta elaborada pela pesquisadora Milena de Mesquita Brandão de piso Tátil para complementação da NBR 9050. Fonte: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/95787 Acesso em 04-05-2013

A função 3 apresentada na figura 53 foi solucionada para identificar a mudança de rota, a qual é diferente do piso de alerta atribuído pela norma, que serve para todos os tipos de mudanças e direções em relação a orientação. Esses dois casos resolvidos na pesquisa são importantes para que os cegos, ao chegarem a um determinado local sejam avisados diretamente do que se trata por meio da sinalização tátil. Tanto a função 4 como a 3 seriam de muita utilidade se empregadas nos supermercados pois é um local onde precisa fazer paradas e mudanças de rotas.


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13.6. Color add / Um código para daltônicos. Daltonismo é uma anomalia que afeta cerca de 10% da população masculina mundial, baseia-se na incapacidade de distinguir cores primárias. Apesar de ser uma condição que não evolui para a cegueira total ou baixa visão, aqueles que sofrem com o daltonismo encontram dificuldades em realizar atividades cotidianas, e podem se colocar em situação de perigo quando a prática de atividade segura está relacionada com a identificação de cores. Miguel Neiva, preocupado com as dificuldades impostas aos daltônicos criou em sua dissertação de mestrado, pela Universidade do Minho, um estimado código de símbolos com pretensão de que este seja adotado em escala mundial, para comunicar a cor aos daltônicos. O código é todo em preto e branco e indica as cores como conceitos atrelados a uma simbologia, tais símbolos devem ser memorizados facilmente e por isso foram desenhados em formas geométricas básicas. Como demonstra a figura 54, criaram-se então símbolos para as cores azul, amarelo e vermelho, além de dois outros para as cores primárias preto e brancas.

Figura 54 - Formas geométricas, base do código. Fonte: http://design-ergonomia.blogspot.com.br/2009/10/color-add-um-codigo-paradaltonicos.html Acesso em 14-04-2013


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A idéia foi fazer uma ligação com estas formas, misturando as cores em uma paleta para se obter a cor desejada. (Ver figura 55)

Figura 55 - Processo de codificação através da junção das formas geométricas básica. Fonte:

http://design-ergonomia.blogspot.com.br/2009/10/color-add-um-codigo-para-

daltonicos.html Acesso em 14-04-2013


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Figura 56 - Codificação de algumas cores incluindo variações de claro e escuro. Fonte:http://design-ergonomia.blogspot.com.br/2009/10/color-add-um-codigo-paradaltonicos.html Acesso em 14-04-2013

Depois de estudada a lógica ou memorização do código o indivíduo daltônico poderá identificar as cores dos produtos desde que estejam devidamente codificados, como mostra a figura 56. Ainda se apresenta diversas situações como o código poderia ser aplicado, desde etiquetas de roupas, material informativo, material escolar e didático, material informativo, transportes etc. Obviamente, os cegos são privados da identificação das cores de forma total, por isso essa representação de cores para daltônicos não seria a eles aproveitável. Contudo, os deficientes visuais possuem uma excelente habilidade de memorização de símbolos, dessa forma se as figuras geométricas da linguagem do color add fossem postas em auto-relevo poderia surgir um código novo de comunicação de cores aos deficientes visuais.


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13.7. Museu do Perfume – SP O museu relata a história dos cinco mil anos da perfumaria nacional e internacional, sua afinidade com a moda e curiosidades. O Espaço Perfume Arte

+

História

(Figura

57),

permite

conhecimentos

memoráveis

de

acessibilidade. Este projeto surgiu da parceria do Grupo Boticário com a Faculdade Santa Marcelina (FASM), em 2010. O museu recebe cerca de quatrocentos visitantes por mês, possui mais de quinhentas peças de equipamentos interativos e materiais multimídia, que oferece aos visitantes o contato interativo.

Figura 57 – Museu do Perfume Fonte: historia/

http://colaemmim.com/2011/03/06/museu-do-perfume-espaco-perfume-arte-

Acesso em 14-04-2013

O desenho desenvolvido pela Base Sete Projetos Culturais, foi pensado principalmente em atender pessoas com deficiências de forma adequada e segura. Instalações de grandes aberturas, elevador para atender pessoas com mobilidade reduzida e recursos especiais que permitem os deficientes visuais desfrutarem do passeio pelo museu. Foram empregados legendas em Braille, como mostra as figuras 58, 59 e 60, que viabilizam a interação nos aplicativos multimídia; piso e mapa tátil para orientação e conhecimento nos ambientes. Para pessoas estrangeiras foram instalados áudio guia disponíveis na versão, inglês, espanhol e também em português para os invisuais.


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Pensando em atender a todos, a acessibilidade não parou por aí, em atendimento as pessoas surdas foram instalados vídeos legendados para o acesso as informações do museu. O participante ao entrar neste universo é levado a um mundo cheio de histórias e imaginações que estimulam alguns sentidos, como o olfato, a visão e a audição. Um espaço cheio de cores, sons e cheiros jogados ao ar deslumbrando visitantes acompanhando fatos que aconteceram a partir de 3000 a.C, quando o egípcio fazia suas cerimônias e acreditavam que a fumaça perfumada subiria ao céu para agradar aos deuses.

Figura 58 - Interior do Museu, com piso tátil para orientação do Deficiente Visual.

Fonte: http://elisaprado.com.br/blog/2012/01/braile-presente-na-sinalizacao-do-futuro/ Acesso em 14-04-2013


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Figura 59 - Sinalização visual e tátil com uso de braile. Foto Elisa Prado Fonte: http://elisaprado.com.br/blog/2012/01/braile-presente-na-sinalizacao-do-futuro/ Acesso em 14-04-2013

Figura 60 - Identificação de Sanitário com dupla leitura. Foto Elisa Prado Fonte: http://elisaprado.com.br/blog/2012/01/braile-presente-na-sinalizacao-do-futuro/ Acesso em 14-04-2013


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Esse é mais um exemplo evidente de ambiente completamente dedicado a realizar a integração dos deficientes visuais, pois cada mínimo detalhe que normalmente passa despercebido foi realmente pensado para garantir a total acessibilidade do deficiente visual. O museu do perfume mostrou que é possível realizar mudanças estruturais com o propósito de acolher em seu interior da forma mais agradável e digna os deficientes visuais, principalmente nas referências aos outros sentidos como tato, olfato e audição. Esses dispositivos poderiam ser instalados em vários locais, como os supermercados para que os cegos pudessem receber as mais diversas informações.

13.8. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) - RJ No CCBB-Rio um grupo de estudos concentrou esforços em fazer acessível aos portadores de várias deficiências (locomoção, visual ou auditiva), a experiência de visitação ao edifício para conhecer as obras de arte em exposição.

Figura 61 - Obra de Tarsila do Amaral - Tábua com representação de imagem em relevo para cegos. Foto: Divulgação Fonte:http://redeglobo.globo.com/acao/noticia/2012/07/conheca-lugares-em-diferentescidades-do-pais-com-acessibilidade.html Acesso em 14-04-2013

Aos normovisuais que se aventuram pela experiência, é oferecida uma venda para que possam desfrutar da visita como se fossem pessoas cegas. Uma das obras expostas no local é da Artista Tarsila do Amaral (Figura 61), que produziu tábuas com representações de imagens em relevo para cegos e não


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cegos interagirem, e ao passarem em cada sala, o visitante é estimulado a perceber seus outros sentidos, como por exemplo, em cada um dos espaços há liberação de aromas diferentes, resultando toda a visita em uma grande oportunidade de explorar e conhecer as potencialidades sensoriais de cada indivíduo. Configura-se assim, em mais uma modalidade de estabelecimento voltada ao atendimento dos deficientes visuais.

13.9. Recursos tecnológicos voltados para os Deficientes Visuais 13.9.1 Bengala Digital Atualmente a tecnologia exerce papel de fundamental importância para a sociedade, influenciando os mais diversos campos da vida das pessoas. A partir da criação e da implementação de aparelhos tecnológicos dos mais diversos, é possível reconhecer as formas com que o cotidiano se alterou, trazendo maior conforto e rapidez às práticas de variadas funções. Os deficientes visuais também podem tirar proveito de uma série de apetrechos tecnológicos criados para tornar mais simples e prática suas tarefas usuais. A bengala digital foi desenvolvida pelo designer Cenk Aytekin, interage com o usuário através de áudio e métodos táteis enviados pela própria bengala. A vareta possui um sistema de posicionamento (Figura 62), ou GPS (acrónimo do original

inglês Global

Positioning

System,

ou

do

português

"geo-

posicionamento por satélite") que autoriza o armazenamento das posições específicas fornecendo ao beneficiário informações críticas de localização geográfica.


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Figura 62 - Bengala com GPS Fonte: http://www.esteio.com.br/novoblog/blogs/index.php/2009/08/02/bengala_gps Acesso em 04-05-2013

A bengala inteligente chamada de Blindspot (Figura 63) é capaz de guiar deficientes visuais, através de apps de localização geográfica e GPS. Tem capacidade de localizar e levar o indivíduo até o seu devido destino, sendo um grande auxiliador à movimentação dos deficientes visuais que explora também as demais capacidades sensoriais do cego.

Figura 63 - Bengala com GPS Fonte: http://exame.abril.com.br/tecnologia/album-de-fotos/7-engenhocas-que-podemtransformar-o-planeta Acesso em 04-05-2013


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13.9.2 Acess贸rios para Deficientes Visuais

Figura 64 - Rel贸gios para deficientes visuais Fonte: http://www.assistech.com/pt/produtos-para-cegos-deficientes-visuais.htm Acesso em 04-05-2013


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Figura 65 - Relógios para deficientes visuais Fonte: http://www.assistech.com/pt/produtos-para-cegos-deficientes-visuais.htm Acesso em 04-05-2013

13.9.3 Identificador de Cores e dinheiro O dispositivo para identificação de cores e notas de dinheiro Auire Prisma aplicado para deficientes visuais (como mostra figura 66), é de tecnologia nacional desenvolvido pelos engenheiros de computação Nathalia Sautchuk Patricio e Fernando de oliveira Gil, da escola Politécnica da USP. Este projeto da Poli Cidadã desenvolveu-se com propósito de atender setores de baixa renda, possui um sistema de funcionamento simples capaz de expressar a cor de um objeto por mediação de um alto falante.


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O Auire Prisma foi lançado para ajudar na autonomia e auto-estima de pessoas com baixa visão ou totalmente cegas. Sua última versão levou cinco anos para ser concluída. O aparelho possui tamanho aproximado de um celular tem apenas dois botões, um para definição de cores de várias intensidades e o outro para identificação das notas. O instrumento pode ser adquirido no site Benfeitoria, a primeira plataforma colaborativa do Brasil. Para os interessados o aparelho sai em média por R$430,00 incluindo frete.

Figura 66 - Aparelho Identificador de cores e dinheiro Fonte: http://www.ururau.com.br/saude602_Aparelho_identifica_cores_e_dinheiro_para_defici entes_visuais__ Acesso em 04-05-2013

13.9.4 Aplicativo para leitura dos códigos dos produtos nos supermercados. Um grupo de estudantes de Ciência da Computação da Universidade Federal de Pernambuco, desenvolveram o Software Ampli.Vision. Através deste aplicativo para celular o usuário poderá identificar nome, preço, e outras informações sobre o produto que permite facilitar a vida dos deficientes visuais na hora de fazer compras.


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Conforme

publicação

no

dia

20-07-2012,

ao

site

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/tecnologia/noticia/2012/07/20/aplicativoauxilia-cegos-nas-compras-49789.php por DO JC Online, acesso em 06-052013, o produto será disponibilizado no Android Market (loja de aplicativos) e os supermercados que o adquirirem terão de fazer uma assinatura periódica para manutenção e atualização do sistema. Conforme Luana Martins autora do produto, ainda não fecharam acordo com nenhum supermercado, mas já falaram a respeito do aplicativo com dois representantes na possibilidade de estudarem a viabilidade do projeto. Ainda esclarece que “Ao mesmo tempo em que existe um mercado promissor nessa área, trabalhar com acessibilidade foi a maneira que encontramos de ajudar a sociedade”. Reportagem do produto em vídeo - anexo CD. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=0Inw9xyZzxI Acesso em 04-05-2013

Excelente medida seria colocar dentro dos estabelecimentos comerciais, principalmente próximos aos caixas, aparelhos como: leitores para os códigos dos produtos e identificador de cores e dinheiro nos supermercados. Ambos são muito úteis para facilitar a realização de compras e identificação de produtos pelos deficientes visuais, com esses aparelhos à disposição nos supermercados, junto às modificações estruturais como pisos e mapas táteis, o cego resguardaria seu direito de realizar uma atividade simples como fazer compras, de forma independente.


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13.9.5 Caneta falante pentop. Trata-se de um mecanismo tecnológico aplicado a suprir as lacunas de aprendizagem que a deficiência pode efetuar aos seus portadores. A Caneta Falante Pentop (Figura 67), aparenta ser uma caneta ordinária, contudo apresenta em seu interior um dispositivo que funciona com um sensor e um sistema inteligente capaz de compreender e decodificar aquilo que está impresso no papel, para que seja exatamente reproduzido em áudio. Para isso, o sistema abriga um vasto conjunto de palavras em sons pré-gravados que é acionada toda vez que alguém encosta a ponta da caneta a uma palavra, desenho, ou mesmo ícone impresso em papel. A criação tem o efeito de tornar possível ou facilitar uma gama de atividades da vida dos deficientes visuais, pois lhes garantem uma independência para estudar, comprar, trabalhar, entre outras atividades cotidianas. Essas canetas ainda possuem a prerrogativa de permitir a pessoa com deficiência gravar sua própria voz para a identificação de objetos, potencializando a sensação de autonomia. A utilização desse objeto como instrumento de ensino aos deficientes em escolas facilitaria muito o processo de aprendizagem, ajudando a eliminar a sensação atraso em relação aos demais alunos. Esse aparo também abre possibilidades para sua utilização em uma diversidade de situações como: identificação de objetos, latas, produtos na geladeira; identificação de CDs, DVDs, marcas de roupas; medicamentos e documentos. É sem dúvida um agente promotor da boa qualidade de vida aos deficientes.


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Figura 67 - Caneta falante Pentop Fonte: http://www.ururau.com.br/saude602_Aparelho_identifica_cores_e_dinheiro_para_defici entes_visuais_ Acesso em 04-05-2013

Desenvolvida pelo Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE), em Manaus/Amazonas, já está disponível para a venda em lojas especializadas assim como na loja virtual da própria marca. As estimativas para o futuro é que mais produtos como este possam surgir, e que este mesmo encontre forma de se aperfeiçoar, a própria criação de tal objeto demonstra uma sinal de mudança, e conforme mais investimentos financeiros forem feitos em pesquisa e discussões sobre o tema, mais resultados positivos poderão ser obtidos. A caneta em questão é certamente uma deslumbrante ferramenta para integrar os cegos a sociedade, cabendo em instituições de ensino, estabelecimentos financeiros, médicos entre outros. Se esta for colocada em estabelecimentos comerciais a disposição dos deficientes visuais é capaz de superar os maiores obstáculos hoje presentes, que são a apropriada identificação do produto, assim como conhecer de seu preço. Apesar de este produto já se encontrar a venda para os cegos, seria ideal que os estabelecimentos adquirissem e colocassem a disposição dos seus clientes para atender aos deficientes visuais de baixo poder aquisitivo que não poderiam arcar com a despesa de possuir uma Pentop própria.


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14. DIAGNÓSTICO 14.1 Escolha da área e justificativa. Através de análises foi concluído que deficientes visuais freqüentam os espaços de supermercados, porém estes estabelecimentos não oferecem acesso com o mínimo de autonomia. Analisando suas condições de vida que é praticamente ausente na sociedade, este trabalho busca incluí-los na vida social, melhorar a auto-estima e mostrar a sociedade que os direitos são os mesmos de uma pessoa de visão normal. Visando nestas discussões a pesquisadora buscou alguns supermercados de Ipatinga como, Bretas, o Rex, Cônsul, para a realização deste diagnóstico para melhor entendimento dos estabelecimentos. No entanto houve certa dificuldade em falar do tema para prosseguir com a pesquisa, devido à maioria considerar que acessibilidade é apenas rampa, cadeira motorizada, elevador, banheiro para cadeirante e mesmo assim estes estabelecimentos não seguem totalmente a norma relacionada à essas questões. Foi preciso visitar alguns supermercados e dialogar com alguns funcionários com cargos mais importantes nos estabelecimentos em busca da permissão do estudo. Estas visitas não foram bem sucedidas não se obtendo respostas positivas. Após algumas tentativas e preces, por meio de uma indicação, foi concedida uma autorização para realizar o estudo no Supermercado da Cônsul, localizado na rua Pedro Nolasco no Bairro Ideal. O local foi escolhido por ser um supermercado novo e que possui condições para as adaptações. Oferece transporte público e ponto de táxi em frente ao local, passagens de pedestres separadas da circulação dos estacionamentos que não interferem nas entradas de acesso.


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14.2. Localização O Ideal é bairro integrante do município de Ipatinga, cidade situada ao leste de Minas Gerais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, em pesquisa publicada no ano de 2010 constatou habitarem neste bairro cerca de 9.695 pessoas, sendo o nono mais populoso de Ipatinga. O mapa a seguir apresentado na figura 68, demonstra sua localização e alguns bairros próximos como: Limoeiro, Bom Jardim, Iguaçu, Cidade Nobre e Canaã.

Figura 68 - Mapa de Ipatinga - Localização do Bairro ideal e bairros próximos. Fonte: extraída do site maps. Google e editada pela autora.

Como mostra a figura 69, o acesso se dá através de três vias fundamentais, Avenida José Júlio da Costa, Rua Pedro Nolasco e Avenida das Flores, sentido aos bairros citados acima.


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Figura 69 - Mapa 1 Bairro Ideal - Vias de Acesso Fonte: extraída do site maps. Google e editada pela autora. As Figuras 70 e 71 representam fotos das proximidades do supermercado.

Figura 70 - Rotatória de acesso ao bairro – sentido Cônsul. Fonte: Autora


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Figura 71 - Rua Pedro Nolasco. Fonte: Autora

O supermercado C么nsul se localiza na rua principal do Bairro, onde possui escola, ponto de 么nibus, ponto de taxi, pra莽a e determinados com茅rcios, como mostra a figura 72.


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Figura 72 - Mapa 2 - Bairro Ideal Fonte: Extraída do site maps. Google e editada pela autora.

Legenda: 1 – Local da Intervenção 2 – Parada de ônibus 3 – Ponto de Táxi 4 – Praça 5 – Escola Estadual Engenheiro Amaro Lanari Jr 6 – Escolinha Infantil Tico e Teco Neste Bairro esta localizada a Associação ADEVIPA, mostrado na figura 73, que atende Deficientes Visuais deste e de outros arredores. Nas proximidades ainda se localiza a Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves, que também trabalha com deficientes visuais estabelecida no Bairro Iguaçu.

Figura 73 - Mapa 3 Bairro Ideal Fonte: Extraída do site maps.Google e editada pela autora.


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Figura 74 - Fachada Supermercado Cônsul Fonte: Autora

14.3. História A Cônsul foi inaugurada em 1963, era uma pequena cooperativa que possuía o objetivo de suprir as necessidades alimentícias de seus cooperados, que se tratavam basicamente de empregados da indústria siderúrgica USIMINAS, localizada no município de Ipatinga. Com o conseguinte crescimento da cidade e sua população, o estabelecimento também expandiu de tamanho e proporção se tornando a maior cooperativa de Minas Gerais quando se trata de consumo. Atualmente, seus cooperados não mais se limitam aos funcionários da USIMINAS, mas a qualquer interessado que se habilite a tal. Essa abertura modificou a gestão da empresa Cônsul e consolidou sua auto-suficiência. No ano de 1998, foi aberta uma filial no Shopping do Vale do Aço e prosseguiu com a implantação de uma série de lojas espalhadas por todo o Vale do Aço. São atualmente seis unidades de cooperativa distribuídas nas cidades de Ipatinga e Timóteo.


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14.4. Acessos de entrada e Setores

Figura 75 - Acessos e setorização. Fonte: supermercado - Editado pela autora. (Ver Planta original em anexo)

Legenda: 1 - Passeio 2 - Entradas de Pedestre para acesso interior do supermercado 3 - Entrada de veículos para o estacionamento 1 4 - Saída de Veículos 5 - Estacionamento 1 6 - Acesso para setor de compras do Supermercado 7 - Rampas de acesso para interior do Supermercado 8 - Faixa atravessia de Pedestre 9 - Rampa para pedestre acesso pavimento superior estacionamento 2 10 - Entrada de veículos acesso pavimento superior estacionamento 2 12 - Escada de acesso a Rua Ari Barroso (Beco)


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13 - Trailler (Beco) 14 - Setor de Compras 15 - Área restrita a funcionários A calçada do local possui 285 cm de largura, um bom espaço para passagem de pedestre, contendo faixa de serviço com 150 cm para equipamentos e arborização. O piso não é totalmente regular possuindo alguns ressaltos, é totalmente desprovido de orientação para os deficientes visuais, possuindo apenas uma mureta na lateral em frente ao supermercado. A faixa de pedestre é somente para normovisuais, sem qualquer diferenciação que possa indicar o ambiente interior do exterior ou entrada do supermercado. (Figura 76)

Figura 76 - Passeio do Supermercado Fonte: Autora.

Ao descer do ônibus onde sua parada é praticamente na porta do supermercado é possível o deficiente visual reconhecer a área a partir de sons pelo fato de ser uma rua movimentada. (relatado pelo D. V Fábio, em anexo).


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Figura 77 - Acesso de entrada. Fonte: Autora.

O local possui duas entradas de acesso aos pedestres, sendo que a primeira apresentada na figura 78 possui largura satisfatória de 200 cm, no entanto a segunda não acontece com a mesma proporção, pois possui uma largura de 108 cm e sua localização dificulta o acesso às pessoas que não enxergam. Nenhuma das entradas existe qualquer identificação sonora ou tátil. (Figuras 79 e 90)


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Figura 78 - Entrada de pedestres Fonte: Autora.

Figura 79 - Entrada de pedestres

Figura 80 - Entrada de pedestres

Fonte: Autora.

Fonte: Autora.


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O estacionamento que se encontra imediatamente na fachada esta bem localizado sem obstruir a passagem de pedestres. O local possui entradas separadas de veículos e pessoas, ou seja, o deficiente visual não correria perigo ao entrar neste estabelecimento, caso houvesse as indicações necessárias. (Figura 81)

Figura 81 - Estacionamento fachada / Área externa Fonte: Autora.

O acesso para o estacionamento dois, que permanece no piso superior da edificação, ocorre pela Rua Manoel Ezídio, pela lateral do supermercado onde possui trânsito moderado, com faixa para pedestres e sinalizações. (Figuras 82 e 83).


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Figura 82 - Estacionamento Rua Manoel Izídio. – Faixa de pedestre Fonte: Autora.

Figura 83 - Placa no muro indicando estacionamento. Fonte: Autora.


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As entradas para o interior do supermercado acontecem através de rampas sendo esta apontada nas figuras 84 e 85, possuindo largura satisfatória de 200 cm, porém dependendo de quem sobe é preciso que se faça um esforço devido à inclinação de 11% não condizendo com a norma que estipula 8% de inclinação. Possui apenas o corrimão como direcionamento não existindo indicação para início e final da mesma (sinal tátil) e ao chegar a porta de acesso é preciso que o deficiente visual perceba apenas através da mudança de ambiência interior e exterior.

Figura 84 - Lateral da rampa de acesso para interior do supermercado. Fonte: Autora.


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Figura 85 - Rampa de acesso para interior do supermercado. Fonte: Autora.


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14.5. Zoneamento do Supermercado

Figura 86 - Zoneamento do supermercado Fonte: supermercado - Editado pela autora. (ver planta original em anexo)

Legenda: 1 - Atendimento ao cliente (recepção) 2 - Carrinhos para compras 3 - Guarda-volumes 4 - I.S Masc. / I.S Fem. / I.S Acessível 5 - Elevador acesso estacionamento 2 6 - Escada acesso estacionamento 2 7 - Área restrita a funcionários 8 - Drogaria 9 - Produtos secos 10 - Hortifruti


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11 - Padaria 12 - Frios e congelados 13 - Bebidas - sucos / cerveja 14 - Bebidas geladas e sorvetes 15 - Milk Shake 16 - Caixas 17 – Produtos cosméticos 18 – Adega A mudança de ambiente, de interior para exterior, ocorre através de um tapete no piso, logo na entrada. Ao pisá-lo é possível identificar o volume e sua textura em relação ao piso interno. No entanto, a única identificação sonora é o barulho das pessoas trabalhando e consumindo dentro do supermercado. (Figura 87).

Figura 87 - Acesso 2 - Tapete antiderrapante. Fonte: Autora.

É facilmente possível, para os que enxergam identificar várias sinalizações dentro do local, e ter uma visão geral do espaço, pois é tudo muito bem apresentado.


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As três formas de entrada induzem o consumidor passar pelo atendimento e o carrinho de compras, porém não há qualquer identificação no piso, que leve o indivíduo cego até o local. (Figuras 88 e 89).

Figura 88 - Carrinhos. Fonte: Autora.

Figura 89 - Recepção - Atendimento ao cliente. Fonte: Autora.


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14.5.1. Drogaria O acesso a drogaria se apresenta logo no início do supermercado, com sinalização indicativa e produtos a vista. A passagem com 297 cm de largura é suficiente, atendendo a norma NBR 9050, porém o espaço possui um pequeno estreitamento devido o obstáculo no percurso conforme a figura 90. O piso em granito flameado é regular firme e estável e não possui sinalização tátil.

Como foi relatado nas entrevistas, que “farmácia tem cheiro de farmácia”, neste caso ao passar pela drogaria há uma diferenciação através do cheiro dos produtos expostos no local, isso faz com que deficientes visuais consigam identificá-la.

Figura 90 - Drogaria – seção de suplementos Fonte: Autora.


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14.5.2. Produtos Cosméticos Em frente à drogaria estão dispostos xampus, condicionadores e mercadorias afins, os quais são identificados por etiquetas e embalagens tentadoras. Os produtos são expostos na horizontal com cores chamativas para quem passa e são posicionados conforme seu valor de custo, sendo os mais caros em cima e os mais baratos na parte de baixo. Ao passar pelas prateleiras e principalmente ao abrir a mercadoria à seção é nitidamente reconhecida e distinguida das outras através da fragrância. Mas as divisórias não possuem nenhuma sinalização tátil ou sonora que faça com que o deficiente visual identifique o objeto. (Figura 91)

Figura 91 - Seção de cosméticos – Extintor de incêndio ao fundo e máquina de senha para atendimento a Drogaria. Fonte: Autora.


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O corredor com largura de 146 cm é suficiente para passagem, segundo a normativa. O extintor foi instalado corretamente com altura máxima de 160 cm de acordo com a norma do corpo de bombeiros, porém a maneira em que foi posicionado oferece perigo para aqueles que não enxergam. O local é bem sinalizado, possuindo um leitor de preço como mostrado na figura 92, no entanto as mercadorias são inacessíveis por não haver nenhuma sinalização tátil ou sonora ou qualquer outra identificação que não seja o cheiro.

Figura 92 - Sinalização da seção e terminal de consulta para leitura de preço do produto. Fonte: Autora.


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14.5.3. Hortifruti Ao passar pela seção de frutas e legumes é admirável a quantidade de cores e letreiros chamando a atenção visual de quem passa. As gôndolas com altura acessível de 85 cm são distribuídas no local de forma a dar passagem para quem consome, porém não é qualquer indivíduo que tem alcance a todos os produtos do local, devido algumas possuírem a altura maior que 90 cm do piso. O local possui um grande letreiro que se destaca a partir do contraste com as cores do fundo. No entanto, as etiquetas de preço são pequenas e não são visíveis, embora haja uma boa iluminação, além disso, não existe nenhuma sinalização tátil ou sonora que indique ao deficiente visual a localização das gôndolas. A assimilação dos produtos seria através do cheiro ou degustação. (Figura 93)

Figura 93 - Vista Hortifruti Fonte: Autora.


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Foi possível notar um carpete no piso abaixo da prateleira de produtos embalados, conforme figura 94. Para quem enxerga pode ser um elemento sem muita importância, mas para aqueles que não têm visão, saltar de um piso para o outro pode servir de identificação para o local. Esta mesma análise pode ser aplicada ao passar pelo refrigerador onde acontece uma diferenciação de temperatura no ambiente.

Figura 94 - Seção Hortifruti – Identificação no piso Fonte: Autora.


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14.5.4. Padaria Na padaria não há nenhum tipo de sinalização que oriente o cego a chegar neste local, mas através do sentido olfativo qualquer pessoa identifica facilmente o setor. Os cheiros dos alimentos que se encontram nesse espaço é o que fazem a alteração do local, podendo ser diferenciado dos demais setores que possuem odores desiguais. As gôndolas estão bem dispostas com espaçamento de 200 cm a 180 cm de distância entre elas, correspondente as exigências da norma, no entanto a altura se torna inadequada possuindo 120 cm. O setor possui uma boa iluminação, letreiros legíveis e atendente capacitado à recepção e fornecimento dos produtos. (Figura 95)

Figura 95 - Vista da Padaria Fonte: Autora.

Ao final do corredor conforme figura 96, existe um pequeno obstáculo. Embora esteja situado ao canto não causando a obstrução da passagem, pode ser que este objeto confunda uma pessoa que não consegue enxergá-lo, ou até mesmo


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cause um acidente.

Figura 96 - Padaria – Balcão de atendimento à esquerda e largura do corredor. Fonte: Autora.

14.5.5. Frios e congelados Por ser um espaço amplo os consumidores conseguem ter uma visualização apropriada do local, o qual possui sinalizações com grandes escritas em contraste com outras cores. (Figura 97).


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Figura 97 - Placas visíveis de sinalização do local. Fonte: Autora.

Para quem chega neste ambiente é perceptível a temperatura fria, consistindo em uma forma de identificar este espaço. (Figura 98)

Figura 98 - Espaço amplo com letreiros e etiquetas inacessíveis. Fonte: Autora.


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A Figura 99 exibe o local com placa sinalizando o acesso para identificação do leitor de preço, apesar de estar fixado ao pilar, não atrapalha quem atravessa, pois a largura de um freezer ao outro é de 217 cm e conforme a norma é suficiente para quem transita. Em contrapartida, uma pessoa sem visão não conseguiria identificar o leitor, pois não há nenhuma orientação que o leve até o equipamento, para o deficiente visual não há utilidade, pois o mesmo não emite nenhum som.

Figura 99 - Placa terminal de consulta identificando o leitor de preço. Fonte: Autora.

Neste estabelecimento existem produtos de caixas da marca Sadia, Perdigão e Pif Paf, que indicam a escrita em Braille, apresentado na figura 100, entretanto não há sinalização tátil, identificação sonora ou qualquer outro que o leve até esses produtos.


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Figura 100 - Embalagem Pif Paf – Escrita em Braille. Fonte: Autora.

Para as pessoas sem visão, as identificações de alguns produtos na seção acontecem a partir do cheiro, como por exemplo, o peixe. No entanto não há como saber qual seria especificamente. Do mesmo modo ocorre com os produtos de laticínios, a informação só sucede através de ajuda de terceiros. (Figura 101)

Figura 101 - Imagem dos produtos. Fonte: Autora.


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Figura 102 - Obstáculo na passagem. Fonte: Autora.

Conforme a figura 102, a largura do corredor é de 285 cm correspondente a norma NBR 9050, segundo fluxo de pessoas. No entanto, existem obstáculos ao centro do corredor que diminuem a passagem e atrapalham as pessoas transitarem. Para um indivíduo sem visão o obstáculo representa um perigo, pois não há sinalização no piso advertindo-o para que este tenha conhecimento da barreira. A seção possui etiquetas em todos os produtos e apenas para pessoas de visão normal, mesmo assim as dimensões não são acessíveis e dificultam a sua leitura.


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14.5.6. Bebidas - sucos / cerveja Observando a figura 103, verifica-se que os produtos são dispostos na horizontal sendo que os mesmos se repetem nas demais prateleiras. A passagem é estreita possuindo largura de 90 cm, sendo de acesso apenas para uma pessoa com carrinho de compras, seja ele maior ou o menor. Para a entrada de mais indivíduos é preciso que o carrinho seja colocado em um local sem que ofereça risco, até que a escolha do produto seja concluída, no entanto ainda seria um espaço desconfortável devido à largura pequena. Para um deficiente visual não é possível obter característica dos preços e produtos pela falta de sinalização tátil ou sonora. A única identificação que se tem é em relação ao formato através do toque, porém sem distinguir o artigo. O setor não possui diferença de ambiência como citado nas seções anteriores, porém algumas mercadorias são perceptíveis a partir dos cheiros.

Figura 103 - Vista seção de bebidas. Fonte: Autora.


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Em outras passagens do local, conforme figura a seguir a abertura possui largura de 240 cm, sendo suficiente para passagem das pessoas, porém este também não possui sinalização tátil ou sonora.

Figura 104 - Passagem. Fonte: Autora.

14.5.7. Adega A adega é muito chamativa pelo letreiro, imagem e organização. A seção possui etiquetas promocionais sendo estas com um tamanho acessível correspondente a norma de acessibilidade para programações visuais, entretanto, como mostrados na figura 105, sua localização está exposta próxima ao piso, fora de alcance das pessoas com dificuldades em enxergar. Ainda nessa imagem, ao lado direito, as etiquetas de preço dos produtos são pequenas e não atendem as pessoas totalmente cegas e de baixa. Os produtos, o piso e as prateleiras, são ausentes de sinalização tátil ou sonora, podendo o deficiente visual apenas notar através do tato o formato da garrafa, o qual a informação não serviria para nada.


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Figura 105 - Letreiro, imagem e produto. Fonte: Autora

O espaço possui uma largura de 100 cm não sendo suficiente para duas pessoas transitarem com carrinhos ao mesmo tempo. O piso não oferece orientação para pessoas sem visão, porém a proteção de ferro das prateleiras pode servir de direcionamento através da bengala para o deficiente visual. (Figura 106)

Figura 106 - Vista do produto e passagem com proteção nas prateleiras. Fonte: Autora


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14.5.8. Sorvetes e Bebidas geladas. Nesta seção a percepção para quem é cego não é tão evidente quanto à seção de frios e congelados, pois, o refrigerador permanece fechado, sendo possível compreender a mudança de ambiência apenas a partir do toque ou ao abrí-lo. Os produtos são identificáveis apenas para quem enxerga, porém como foram comentadas nos tópicos anteriores, as etiquetas colocadas são de tamanho pequeno sendo inacessível para pessoas de visão baixa. Embora possua uma passagem adequada no local existem barreiras que servem de empecilho para pessoas que não enxergam. O piso em granito flameado indicado para grande circulação, possui certa aderência, porém este sozinho não serve de orientação para uma pessoa desprovida de visão ter acesso a algum local do supermercado. (Figura 107)

Figura 107 - Vista das bebidas geladas e sorvetes ao fundo. Fonte: Autora


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14.5.9. Caixas O espaço do supermercado não possui um percurso tátil que o leve até os caixas, nem ao menos sonoro que informe o produto que se deseja comprar. A única identificação que se tem para pessoas sem visão é através de sons que são emitidos das máquinas de preços, efetuados pelos atendentes ao passarem os produtos. (Figura 108)

Figura 108 - Caixas de pagamento e produtos de consumo. Fonte: Autora


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14.5.10 Produtos Secos A figura 109 mostra a disposição dos corredores dos produtos secos dentro do supermercado.

Figura 109 - Seções dos Produtos Secos. Fonte: supermercado - Editado pela autora. (ver planta original em anexo)

Legenda: Corredor 1 – Papel higiênico, guardanapo, papel toalha, absorventes. Corredor 2 – Sabão em pó, amaciante, desinfetante e água sanitária. Corredor 3 – Alimento canino, vassouras, lâmpadas e encartelados. Corredor 4 – Leite em pó, achocolatados, leite condensado e creme de leite. Corredor 5 – Chinelos, eletros e biscoitos. Corredor 6 – Brinquedos infantis. Corredor 7 – Vasilhas em geral - plástico / alumínio. Corredor 8 – Copos, garrafas, biscoitos, doces. Corredor 9 – Balas, café diet / light e chá. Corredor 10 – Maionese, molho de tomate, temperos, milho verde. Corredor 11 – Arroz, feijão, massa. Corredor 12 – Açúcar, óleo, azeite e cereais.


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14.5.10.1 Corredor 01 No corredor 01 estão dispostos produtos como papel-higiênico, guardanapos, papel-toalha, dentre outros. A identificação destes, para o deficiente visual, pode ser considerada como um desafio. Os produtos são identificados apenas por etiquetas, impossibilitando, que a mesma seja feita por invisuais. As embalagens são muito parecidas, o que poderia causar uma compra errônea, ao confundir as embalagens e levar um produto que não queira. Em alguns casos é possível identificar os produtos, como cabides, por exemplo, através do toque. (Figura 110)

Figura 110 - Corredor 1. Fonte: Autora

Embora sua largura seja extensa, com 215 cm, verifica-se no corredor a presença de obstáculos como, cabideiros, que acabam por estreitar uma parte da passagem.


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14.5.10.2 Corredor 2 No segundo corredor encontram-se os produtos de limpeza como, sabão em pó, desinfetantes, água-sanitária, etc. Nesse espaço são perceptíveis os odores dos produtos que facilitam a sua identificação. Na figura 111 observa-se como a disposição dos produtos facilita sua localização às pessoas providas de visão. Contudo, a variedade de produtos e de marcas, dificulta sua identificação pelo deficiente visual, mesmo que ele encontre o que procura, identificar a marca seria impossível.

Figura 111 - Corredor 2. Fonte: Autora

Novamente são deixados objetos que estreitam a passagem, produtos diversos sem identificação tátil ou sonora.


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14.5.10.3 Corredor 3 Ao terceiro corredor está uma variedade de produtos: alimentos caninos, lâmpadas, vassouras, copos e encartelados. Sua identificação pode ser feita ora pelo cheiro, ora pela textura e formato de algumas embalagens como os copos. No entanto, se as embalagens forem muito parecidas, como os encartelados, não é possível que tal identificação seja realizada. Verifica-se, conforme figura 112 que há etiquetas em todos os produtos. Contudo, elas são pequenas, dificultando a leitura. Já a placa instalada para a identificação dos produtos no corredor, é bastante nítida, as cores da frente estão em contraste com as do fundo, deixando-as bastante visíveis. Este corredor também possui um terminal de consulta, porém, por não emitir som, o acesso é somente aos normovisuais.

Figura 112 – Corredor 3. Fonte: Autora


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14.5.10.4 Corredor 4 Ao passar pelo corredor 04 com produtos expostos como: leite em pó, achocolatado, leite condensado e creme de leite, nota-se que alguns destes podem ser identificados através dos cheiros, especialmente os chocolates. A partir do contato com os enlatados, apenas saberiam o formato, tamanho, peso, etc., sendo impossível identificar a mercadoria por este meio. Todos os objetos possuem etiquetas, porém são pequenas e não possuem identificações para pessoas cegas. (Figura113)

Figura 113 – Corredor 4. Fonte: Autora


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14.5.10.5 Corredor 5 No corredor de número cinco o deficiente visual pode identificar alguns produtos a partir do contato tátil. Nele estão dispostos chinelos, chuveiros (eletros em geral) e algumas variedades de biscoitos. Está disponível um terminal de consulta neste corredor, contudo, como os demais este não emite sons. Ainda no mesmo corredor, observam-se pilares localizados em frente ás prateleiras, nesse caso, o deficiente visual necessitará do auxílio da bengala ou outro indicador, para que possa desviar dos pilares que se tornaram obstáculos. (Figura 114)

Figura 114 – Corredor 5. Fonte: Autora


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14.5.10.6 Corredor 6 No corredor 06, estão localizados os brinquedos infantis e estes não podem ser identificados por pessoas sem visão, pela inexistência de sinalização, tátil, sonora, cheiros etc. Os produtos possuem identificação apenas para indivíduos que possuem visão normal, no entanto neste corredor com largura de 90 cm que é pequena, ainda existe um pilar que estreita e obstrui a passagem, trazendo desconforto e prejudicando nas escolhas dos brinquedos. (Figura 115)

Figura 115 – Corredor 6 Fonte: Autora


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14.5.10.7 Corredor 7 No corredor 07 estão dispostos panelas, baldes, vasilhas de plástico, etc. que podem ser compreendidos a partir do contato, porém a identificação do preço não ocorreria, pelo fato de serem de acesso somente pelas pessoas de visão normal. (Figura 116)

Figura 116 - Corredor 7. Fonte: Autora


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14.5.10.8 Corredor 8 Neste corredor, como os de números 06 e 07, a ordem das prateleiras acontece em posição horizontal (figura 117), o que dificulta a comunicação com as demais gôndolas do supermercado, impossibilitando visualizar os demais espaços e produtos. Não existe qualquer sinalização tátil no piso direcionando os clientes. Além disso, possuem mercadorias soltas pelo caminho, como as fruteiras, tornandose obstáculos. Produtos como biscoitos possuem odores que podem identificá-los como alimentos, porém não existe nenhum tipo de sinalização, para o deficiente visual, que possa identificar o preço ou demais informações.

Figura 117 – Corredor 8 Fonte: Autora


163

14.5.10.9 Corredor 9 O corredor 09 onde se encontram produtos como balas, café diet / light e chás, possui largura de 130 cm, com passagem impertinente para duas pessoas com carrinhos de compra. Os usuários usufruem de placa de sinalização e terminal de consulta (leitor de preço), porém estes não são acessíveis aos deficientes visuais. Conforme mostrado na figura 118 os objetos estão dispostos na horizontal e organizados com identificações de preços, no entanto, não existe sinalização tátil, ou sonora que identifique o local ou as mercadorias. Alguns produtos como o café podem ser identificados a partir do cheiro, ainda assim, precisaria do auxílio de outros para informação da marca. O local possui extintor de incêndio, sua altura está adequada conforme a norma do corpo de bombeiros, porém deveria ter alguma sinalização que indicasse sua localização.

Figura 118 – Corredor 9. Fonte: Autora


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14.5.10.10 Corredor 10 O corredor 10 onde estão localizados os produtos como temperos e enlatados possui uma largura de 245 cm, sendo suficiente a passagem dos carrinhos de compras. Entretanto, estes não devem ser abandonados em qualquer recinto para não haver bloqueio. (Figura 119)

Figura 119 – Corredor 10. Fonte: Autora

Apesar de ser um espaço organizado e limpo com sinalização visual o corredor 10 não oferece indicações e orientações para deficientes visuais. Alguns produtos como temperos apesar de estarem embalados é possível sua identificação a partir do cheiro. Em outros artigos como os enlatados seria impossível o reconhecimento, pois não possuem odores, sendo impossível distinguir apenas pelo formato e sua textura.


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14.5.10.11 Corredor 11 Estão dispostos neste corredor os produtos não-perecíveis (arroz, feijão, massas, etc.). A identificação nesse caso pode ser feita através do tato (diferenciação por formato e textura). Ainda que seja feita a localização da mercadoria desejada, não é possível a identificação da marca, pois há uma intensa variedade. Além disso, certas embalagens são muito parecidas, dificultando sua compreensão. Um terminal de consulta está disponível neste corredor, mas este é viável somente aqueles que enxergam, por não ser capaz de emitir sons. (Figura 120)

Figura 120 – Corredor 11 Fonte: Autora


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14.5.10.12 Corredor 12 O corredor 12 apresenta outros produtos não-perecíveis (açúcar, óleo, cereal e outros). Nesta seção é possível identificar certos artigos através do cheiro, como os cereais, outros pelo contato direto com a embalagem, como é o caso do óleo e azeite, a diferenciação do volume da garrafa é bem clara. Não existe nenhum outro tipo de artifício para que as informações das mercadorias cheguem aos deficientes, como etiquetas em Braille, por exemplo, conhecer marcas e preços, ainda é um desafio para esse tipo de cliente. (Figura 121).

Figura 121 - Corredor 12 Fonte: Autora


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14.5.11. Sanitários Encontram-se três sanitários a disposição dos clientes: masculino, feminino e um reservado às pessoas com deficiência física. O corredor de acesso possui 85 cm de largura atrapalhando na passagem de maior quantidade de pessoas. Neste local não existe nenhum meio de informação que indique ao deficiente visual a localização desses ambientes. Os banheiros não possuem sinalização tátil, ou sonora, que devem ser colocadas nas portas ou paredes, ao lado da maçaneta a uma altura entre 90 cm e 110 cm, conforme estabelecido pela NBR 9050. (Figura 122).

Figura 122 – Sanitários - corredor Fonte: Autora

14.5.12. Escada / Elevador O acesso a parte interna do primeiro pavimento pode ser feito através de uma escada antiderrapante, ou de um elevador evidentes no supermercado. Há a presença de corrimão em todo o corpo da escada, contudo, este não é provido


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de sinalização tátil conforme exigido pela normativa, bem como os degraus da escada, o que dificullta o acesso de pessoas desprovidas de visão. O elevador, usado como recurso para locomover-se até o primeiro pavimento (Figura 123), falta sinalização tátil de alerta junto as portas.

Figura 123 – Escada / Elevador Fonte: Autora


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14.5.13 Estacionamento 2 A figura a seguir representa o posicionamento do Estacionamento 2 no supermercado.

Figura 124 – Primeiro Pavimento – Estacionamento 2. Fonte: supermercado - Editado pela autora. (Ver planta original em anexo)

Legenda: 1 – Estacionamento 2 – 1° Pavimento. 2 – Hall – acesso elevador e escada. 3 – Escada. 4 – Elevador. 5 – Área restrita a funcionários. 6 – Cobertura. 7 – Estacionamento 1 pavimento térreo. 8 – Calçada. 9 – Rampa de acesso ao estacionamneto 2 - 1° Pavimento. 10 – Jardim (calçada).


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O estacionamento dois está localizado no primeiro pavimento. Possui piso antiderrapante, regular e firme, contudo, não existe sinalização tátil direcional e as limitações das vagas e passagens não são tão claras para quem o utiliza. Suponha-se que o deficiente visual vá ao supermercado de táxi e queira utilizar o acesso pelo estacionamento dois, nesse caso, não é possível que sozinho identifique a entrada deste local, nem a disposição do elevador ou escada, para chegar até o térreo. Além disso, destaca-se a falta de segurança causada pela disposição dos carros (Figura 125). Onde se passa entre carros estacionados e em movimento para chegar ao seu destino, podendo vir a causar até mesmo um acidente.

Figura 125 - Estacionamento 2 Fonte: Autora


171

14.6. Considerações finais Com base no diagnóstico percebe-se que o espaço não é pensado na inclusão dos deficientes visuais, e que as pessoas cegas estão sempre envolvidas em uma relação de dependência para poderem se localizar dentro de um estabelecimento como o supermercado, para obterem informações de avisos, obstáculos, produtos, preços etc.

O simples caminhar por entre os corredores de um estabelecimento como supermercado em geral, expõe-se uma série de eventos perigosos, que poderiam ser evitados. Não há preocupação em realizar a sinalização com piso tátil, ou sequer painéis com informações em Braile, ou uma organização destes produtos. Outro drama é a inquestionável dificuldade para o reconhecimento e identificação do produto quanto a sua marca, espécie e quantidade. A maioria das embalagens não contêm inscrições em Braile, e ainda assim, sob um enfoque generalizado, é difícil reconhecer em que setor do supermercado esse se encontra especificamente, pois normalmente essa informação está em letreiros suspensos que não são perceptíveis aqueles privados de visão. Apesar de ser reconhecido alguns poucos esforços manifestados quanto à inclusão dos deficiente visuais, ainda são insuficientes para garantir o mínimo de autonomia neste ambiente. Portanto, é importante a adequação desses espaços através de estímulos sensoriais, para que eles possam se orientar e usufruir desses estabelecimentos


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15. DIRETRIZES DO PROJETO O projeto a ser realizado para o TCC 2 baseia-se em estudos de casos e pesquisas realizados para adequação do espaço do supermercado Cônsul do bairro Ideal – Ipatinga, MG.

15.1. Programas e Justificativas O programa se define em esquematizar e compreender o funcionamento de um supermercado quanto a sua estrutura arquitetônica para acolher clientes com alguma alteração da visão, somado com os esforços empreendidos na compreensão das reais necessidades desses deficientes visuais quando buscam esses estabelecimentos. Assim, conseguir apontar as áreas internas que merecem atenção e modificações para de fato permitir a acessibilidade do cego em todos os setores, com a possibilidade de desfrutar das mesmas prerrogativas que o estabelecimento dispõe aos demais clientes. Todas as áreas mencionadas no programa deverão ser adequadas conforme exigências da normativa. (Figura 126 e 127)

Figura 126 – Pavimento Térreo Fonte: supermercado - Editado pela autora. (Ver planta original em anexo)


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Figura 127 – Primeiro Pavimento

Fonte: supermercado - Editado pela autora. . (Ver planta original em anexo)

Área externa – Existente – Adequar; Atendimento ao cliente (Recepção) – Existente – Adequar; Sanitários – Existente – Adequar; Elevador – Existente – Adequar; Escada – Existente – Adequar; Setor de Drogaria – Existente – Adequar Setor Hortifrut – Existente – Adequar; Setor da Padaria – Existente – Adequar; Setor de Frios e Congelados – Existente – Adequar; Setor de Bebidas – Existente – Adequar; Setor de Pagamentos (caixas) – Existente – Adequar; Setor de cosméticos – Existente – Adequar; Setor Adega – Existente – Adequar; Adaptação nos fluxos dos usuários Estacionamentos – Existente - Adequar


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Obs.: O programa descrito poderá ocorrer alterações durante o desenvolvimento do TCC 2.

15.2. Estratégia e Intenção do projeto Em síntese, a estratégia do projeto busca socializar os 16% dos deficientes visuais da cidade de Ipatinga, melhorando e facilitando as atividades do cotidiano, com foco primordial de estabelecer nos supermercados um atendimento especializado, capaz de oferecer uma experiência de consumo segura e cômoda aos deficientes visuais. A proposta é promover um estudo inédito sobre a questão discutida e gerar diretrizes que possam ser aplicadas em outros supermercados. Uma vez comprovada a eficiência dessas mudanças estruturais, é possível que outros estabelecimentos com grande fluxo de pessoas utilizem de projetos com alto nível de adaptações referentes à acessibilidade do cego, de forma abranger os itens descritos abaixo: • Comunicação entre todos os espaços internos e externos; • Facilidade no fluxo; • Identificação dos espaços e produtos; • Comunicação entre a Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves e a Associação ADEVIPA, que poderão utilizar desse espaço como fonte de conhecimentos para aguçar os estímulos sensoriais dos deficientes visuais; • Possibilidade de uso de equipamentos tecnológicos para auxiliar na escolha dos produtos e leitura de preços; • Promoção de treinamentos e capacitação dos funcionários que possam auxiliar os cegos; • Formas de incentivo para que os supermercados se tornem aptos a receber deficientes visuais; • Conscientização e Normatização das embalagens de produtos e etiquetas, para que tenham sinais em Braille; • Organização e setorização do supermercado e seus produtos.


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16. CONCLUSÃO A partir da realização desse trabalho tornou-se visível a forma depreciativa que a sociedade tratou por muito tempo os deficientes visuais. Foi a eles negligenciada uma série de direitos e possibilidades, o que acarretou em uma inferiorização desses indivíduos. No entanto, essa completa exclusão foi gradualmente sendo superados com o surgimento de técnicas de linguagem, aparelhos especiais e com instituições de ensino voltadas para a educação e socialização dos cegos. A questão da acessibilidade para deficientes em geral se tornou bastante popular nos últimos tempos, com a conseqüente emissão de leis e normas regulamentares dispondo de ações que remediassem as barreiras enfrentadas pelos deficientes diariamente. Contudo, no que instiga aos deficientes visuais é sua localização e orientação espacial, assim como independência para realizar tarefas simples acreditando que ainda persistem sérias dificuldades. O supermercado é exemplo de ambiente freqüentado por toda a população e que na grande maioria das vezes não se encontra preparado para fornecer aos seus consumidores cegos ou com visão baixa, uma experiência de fato confortável e eficiente. Tanto é que a maioria deles busca companhia para freqüentar tal recinto, já que sozinhos encontrariam uma série de problemas. Visando esclarecer as possibilidades de um ambiente para se adaptar da melhor forma para seus clientes, foi feita a pesquisa e visita na unidade Cônsul localizada no Ideal em Ipatinga. O local foi mapeado e fotografado para permitir um estudo sistemático que permitisse apontar em quais locais e por quais motivos uma pessoa portadora de deficiência teria seu acesso dificultado. Neste estudo foi possível comprovar uma série de problemas e dificuldades encontradas ao entrar neste tipo de estabelecimento. Sugere-se então que sejam adotados pisos táteis, informações em Braile, equipamentos com dispositivos de áudio para informar marcas e preços de produtos e etc. É uma forma de garantir dignidade, respeito, igualdade e a verdadeira sensação de poder ir e vir, realizando os atos mais básicos e


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rotineiros, sem precisão da companhia de outras pessoas, ou seja, permitir uma melhor qualidade de vida. Qualquer indivíduo, independente de suas restrições, tem a capacidade de se desenvolver e aprender desde que haja incentivos adequados que respeitam suas limitações físicas e mentais. É importante a participação desses sujeitos que contribuem para que essas relações no meio social façam com que esses deficientes se desenvolvam experimentando espaços para dialogar, expressar e adquirir a sua própria autonomia. Sendo assim, elas podem participar do meio, desde que sejam oferecidos estímulos e orientações necessárias, passando a usufruir os mesmos direitos e deveres das demais pessoas.


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17. CRONOGRAMA 02 de AGOSTO

Apresentação do regulamento de TCC2

02 a 29 de SETEMBRO

Orientação e desenvolvimento da proposta

30 a 04 de OUTUBRO

Banca Intermediária (semana Integrada)

04 a 24 de Outubro

Orientação e desenvolvimento da proposta

25 de Outubro

Pré entrega do TCC2 e Banner

26 a 08 de Novembro

Correção do Banner

09 a 21 de Novembro

Orientação

22 de Novembro

Banca Final Tabela 1 – Cronograma do TCC2, 2013


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18. REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos Urbanos. Segunda edição 31-05-2004 Válida a partir de 30-06-2004. Rio de Janeiro, 2004. BAPTISTA, José António Lages Salgado. A Invenção do Braille e a sua Importância na Vida dos Cegos. GESTA-MP Grupo de Estudos Sociais, Tiflológicos e Associativos. Comissão de Braille 2000. BATTISTI, Cleusa Molinari. Inclusão: História e Legislação. Revista Eletrônica ISSN 1809-4589 - Junho de 2007. BRANDÃO, Milena de Mesquia. Acessibilidade Espacial para Pessoas com Deficiência Visual. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Florianópolis, 2011. CAMARGO, Shirlei Miranda. Processo de formulação de layouts em supermercados convencionais no Brasil – Um Estudo Comparativo. Curitiba: UFPR, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração do Setor de Ciências Sociais). Universidade Federal do Paraná, 2008 COSTA, Ana Carolina Gusmão da; CORRÊA, Rosa Maria; Cartilha da Inclusão dos Direitos das Pessoas com deficiência. PUC MINAS. Belo Horizonte, 2009. COSTA, Gabriela R. V.; MAIOR, Izabel M. M. de L.; LIMA, Niusarete M. de. Acessibilidade no Brasil: Uma Visão Histórica. USP/Faculdade de Saúde Pública, São Paulo-SP, 05-06 set. 2005. DIEHL, Ms. Profª. Rosilene Moraes. Imagem corporal: Corporeidade da pessoa com Deficiência Visual. Acad. Educ. Física Paulo E. F. Peixoto UNILASALLE, Canoas, RS. FRÓIS, Katja Plotz; Mais ética, Menos Estética. Curso de mestrado da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG. Belo Horizonte, 2002.


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19. ANEXOS 19.1 Entrevistas Ivanir Dias O primeiro contato físico obtido pela pesquisadora sobre invisuais foi dia 09-032013 com o deficiente visual Ivanir Dias Francisco, que tem 41 anos residente na rua Serrado Miradouro no bairro Jardim Panorama. Ivanir possui visão subnormal, causada por retinose pigmentar (RP) (refere-se a um grupo de doenças hereditárias, que causam a degeneração da retina). Iniciou-se aos onze anos e aos doze já não enxergava mais. Possui a visão lateral, devido à baixa visão, consegue ter a noção de espaço, porém às vezes, confunde a sombra com um buraco, ou até mesmo um quebra mola, quando isso acontece por via das dúvidas, ele salta o obstáculo. Ivanir é formado em pedagogia, atualmente trabalha na Escola Estadual Altina em Ipatinga na parte da manhã e a tarde trabalha na COPASA. Freqüenta locais como: academia, igreja, Supermercado Odelot onde é conhecido, Bretas, Cônsul, porém essa freqüência aos supermercados faz com que perca a vontade, pelo fato de depender muito de terceiros para informações. Ivanir comenta que não é fácil procurar o produto nas prateleiras. Além de não encontrar, ainda tem a dificuldade com a marca e preço, sendo preciso as vezes pedir informação sobre o produto, deixando de comprar ou até mesmo, adquirindo produtos errados para não incomodar as pessoas. Por exemplo, uma vez levou um produto de caixinha (vitamina), achando que era todinho. Ao frequentar supermercados grandes como o Bretas não consegue localizar os produtos, devido à falta de convivência no lugar, porém se for pequeno, diz que sempre encontra aqueles repositores nos corredores, que facilitam as informações dos produtos. Ivanir utiliza uma técnica de memorização para comprar, associando palavras na maioria das vezes com coisas absurdas, por exemplo: um rum, dois bois etc. Diz que poucos utilizam isso, e pode acontecer de se confundir. Para ele seria interessante se o leitor de preço indicasse através de um áudio o preço e o produto. Questiona que nestes estabelecimentos deveriam ter uma indicação para chegar até as prateleiras, na possibilidade de encontrar o produto. Ressalta que poderia ser através de piso tátil, criação de símbolos, pois diz que os deficientes utilizam muito a memória e que conseguem arquivar vinte itens,


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através de códigos, pois não compram mais que trinta produtos. Ivanir comenta que ao estar na casa de alguém ele não se adapta, mas em casa conhece tudo. “Isso se dá através da freqüência e uso do espaço, para o cego quanto mais convívio no local mais reconhecimento espacial ele trará”. Os deficientes visuais costumam dizer que vêem televisão, sou acostumado a ouvir programas, outras pessoas preferem o Braille. Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves Em entrevista gravada com os alunos da Escola Municipal Altina Olívia Gonçalves no, bairro Iguaçu em Ipatinga – MG no dia 15-03-2013 reuniram-se 10 deficientes visuais em uma mesa redonda para entrevista e discussão sobre acessibilidade em supermercados. Os alunos entrevistados foram Jackson, Cássia, Fábio, Wilson, Sheiliane, Saulo, Rogério, Lucimar, José e Marina Batista. Rogério inicia a discussão dizendo que é muito dependente de sua mãe e nunca vai ao supermercado sozinho. O colega Fábio também deficiente visual se apresenta como pessoa bastante autônoma e discorda com o colega, alertando-o da possibilidade de não ter mais a sua companheira (mãe), e de eventualmente estar com fome e não ter nada em casa para comer e “ter que se virar”. Como seria? “Aí que entra o supermercado acessível”. Ainda comenta que eles até freqüentam o supermercado, mas não existem pessoas disponíveis a ajudar o cego e com a espera ficam sem paciência e vão embora. Em seguida a pesquisadora inicia algumas perguntas para que todos falassem um pouco do que fazem diariamente e como adquiriram sua deficiência visual. O aluno Jackson nasceu com visão subnormal (baixa visão), hereditário da mãe, irmão e a avó, diz que quando anda pela a casa a noite colide muito com as paredes. A aluna Cássia também com visão subnormal, adquiriu através da mãe que deu toxoplasmose (doença infecciosa que se dá através de animais silvestres, domésticos etc.), quando estava grávida, e na época não havia tratamento. Depois da cegueira não gostou do problema com conseqüência veio a depressão se tornando uma pessoa muito fechada, baixa estima. Depois que começou a freqüentar a escola percebeu que não era a única, que não estava sozinha, com os estudos e companhia de amigos hoje é uma pessoa com mais alto estima. Fábio nasceu com má formação congênita (baixa visão que não lê, enxerga


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muito pouco vultos), através da mãe que teve rubéola na gestação. Sua esposa Silvana é cega total, eles possuem dois filhos um com seis anos de idade e o outro com sete. Ele comenta que utiliza a bengala não para ele e sim para que os outros percebam que ele é cego. Conhece em média 53 deficientes visuais com cegueira total e parcial. Está acostumado a freqüentar os locais que precisa, consegue andar de ônibus normalmente, não tem dificuldade nenhuma. A identificação se dá através da audição e o seu movimento indica o ponto onde quer descer. Trabalha vendendo picolé, não sente problema algum em ser cego, diz que às vezes até tira aproveito da situação. Afirma que não só ele mais outros deficiente que freqüentam supermercado, conseguem identificar pelo sentido do olfato vários produtos na seção de limpeza. “Pode ser um absurdo eu falar isso, mas eu ando na rua e sei onde é uma perfumaria, onde é um banco; farmácia tem cheiro de remédio, todo lugar tem um cheiro. Você entrou na seção de limpeza (supermercado) chegou perto do sabão, vai ter o cheiro do sabão”. (Fábio). Ainda comenta que às vezes o cego fica esperando alguém que os ajude porque não sabem exigir, “se você não tiver disposição para pedir, ela irá demorar mesmo”. Acrescenta que inicialmente sua presença em estabelecimentos comerciais era desprezada, não sendo tratado como um cliente regular. “Eu tive que perguntar se meu dinheiro era diferente dos outros porque ninguém me atendia, eu entro no supermercado e já me perguntam: o que você vai querer?” Ainda comenta que quanto mais você anda mais se toma conhecimento do local, diz que os deficientes visuais que já viram as cores sabem o que é, mas aqueles que nasceram cegos e nunca viram, nem imaginam o que é. Fábio explica que os deficientes visuais também são meio acomodados, que correm atrás e logo já desistem por causa das dificuldades. O surdo não, diz que eles vão atrás e conseguem, como por exemplo, a professora de libras é lei já a professora para deficientes visuais não é considerada profissão, porque o cego não correu atrás. Wilson deu catarata congênita, perdeu a visão na adolescência e hoje está com 34 anos. Com a perda da visão, ficou muito triste, porque antes conseguia ir para a escola sozinho, tinha autonomia e agora precisa estudar e se adaptar. Wilson é aposentado ainda está em fase de recuperação, chegou à escola praticamente caminhando abaixado, muito inseguro, hoje com treinamentos na escola está conseguindo se orientar melhor através da bengala. A professora Lauriene muito querida e dedicada por seus alunos, assim percebido pela autora da entrevista, trabalha com ensinamentos do Braille, orientação com a bengala, tarefas pedagógicas e sempre o deixando com alto estima para o seu melhor desenvolvimento. A estudante Sheiliane nasceu totalmente cega, não sente problema algum, está sempre alegre, diz que a mãe e os irmãos são muito protetores. É uma


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pessoa bem resolvida e de bem com a vida. Antes morava na roça, chegou a escola com 14 anos e aprendeu o Braille com apenas 4 meses. Sheiliane diz que tem muita facilidade e vontade de aprender, em casa passa, lava, cozinha, faz de tudo, é uma pessoa com muita autonomia. Saulo de Sousa nasceu cego, antes de estudar na Escola Altina freqüentou APAE, trabalha na área da USIMINAS com serviços gerais. Não sente problema em ser cego, porque consegue fazer as coisas como levar a bicicleta no conserto, ir à padaria, atravessa a rua sozinho na hora certa e com isso possui muita responsabilidade. Saulo ainda gosta de multidão, freqüenta shows musicais quando tem oportunidade de ir, porém em companhia de alguém. Rogério é um garoto tímido e durante a entrevista se mostrou uma pessoa muito dependente da mãe. Com visão subnormal, Rogério freqüenta a escola para desenvolver as percepções do sentido, e maior contato no meio dos amigos. Suas atividades cotidianas se resumem na freqüência regular a escola e em ajudar a mãe nas tarefas caseiras. Tem pretensão em constituir uma família. Lucimar nasceu cega e após algumas cirurgias adquiriu a visão subnormal. José com dez anos de idade começou a perder a visão por causa da catarata. Em sua casa seus irmãos também são deficientes visuais. Marina Batista com dez anos teve derrame no canal da visão (glaucoma, um grupo de doenças que atingem o nervo óptico). Diz que não gosta de ir ao supermercado porque as pessoas não atendem. A entrevista foi muito produtiva e se percebeu como os deficientes visuais necessitam dessa interação e integração em meio à sociedade. Para eles é de extrema importância quando alguém se preocupa com essa classe. Demonstram interesse em participar e tentam ajudar a solucionar os problemas. A insatisfação de como são tratados em público é muito nítida em suas palavras, como foi citado que as pessoas os ignoram, isso faz produzir pensamentos de que não são capazes e acabam deixando-os com baixa estima, diminuídos, passando a interferir em seu comportamento, confundindo seu aprendizado, deixando de lado a vontade de sair de casa. Foi possível perceber nas entrevistas, em alguns casos para aqueles que adquirem a cegueira após a adolescência, esses possuem mais dificuldades em apanhar à sensibilidade do tato. Assim como o aprendizado do Braille, pode ser que se aprenda ou não, dependendo da vontade, postura e desenvolvimento de cada um. (relatado pela professora Lauriene). Para aqueles que já nascem cegos e passam a conviver com os espaços e as


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dificuldades do dia-a-dia, estes terão mais facilidades, como é o caso da entrevistada Sheiliane, uma pessoa que leva uma vida normal e sem dependência, porém foi preciso um incentivo por parte dos familiares para um bom desempenho em suas funções. Na maioria das vezes eles vivem as escondidas, com vergonha, sem incentivos e acabam não percebendo que podem contribuir de algum modo na sociedade como: estudar, aprender e trabalhar como outro qualquer. Quer em cada dia mais não ter que depender de alguém, sua autonomia. Durante a pesquisa e entrevistas com alguns invisuais, foram citados aqueles deficientes que ficam em casa em virtude da própria família, que não incentiva a ter uma vida independente, com medo de que possam ser destratados, fora de casa e atropelados etc.

ADEVIPA (Associação de Deficientes Visuais de Ipatinga). Rua: Ataufo Alves, n° 70 Bairro: Ideal Cidade: Ipatinga - MG Entrevista no dia 06-03-2013 com: Nome: Luis Alves Ribeiro (presidente da ADEVIPA) Idade: 55 anos / Casado Endereço: Rua Tupiniquins, n° 495 Bairro Iguaçu 1- Quando iniciou a falta de visão? R. Teve deslocamento de retina, por causa de um acidente automobilístico. Aos 14 anos já não enxergava. 2-Como se deparou com o fato? R. Depois de fazer várias cirurgias, em cada uma delas perdia um pouco da visão, até ficar totalmente cego. Freqüentou o Instituto São Rafael em Belo Horizonte, pois era a única escola que possuía na região, com isso aprendeu o Braile e outras coisas a mais, a partir daí começou a esquecer que era cego.

3-Tem facilidade em andar sozinho? R. “Sim. Principalmente onde conheço. Eu não preciso informar o motorista onde quero descer, eu mesmo o faço, sei reconhecer o local, pois já estou acostumado”.


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4- Quais lugares frequenta? R. “Todos os lugares. Faço serviço de banco sozinho, pelo fato de ser acessível”. 5- Quais as facilidades e dificuldades em estar nesses locais? R. “Consigo chegar onde eu quero e fazer o que quero, mas dependendo da situação é preciso chamar alguém para me ajudar”. 6- Tem necessidade e vontade em fazer compras em supermercados? R. Sim 7- Já Frequentou algum? Quais? R. Sim, vários. Supermercado Bretas, Ramos, Garcia, Cônsul e outros. 8- O que você acha que poderia melhorar nesses espaços de supermercados, para serem acessíveis? R. “Não sei. Porque sempre que vou, peço ajuda a alguém. É muito difícil encontrar o que se quer. Não sei se eu iria comprar algo, se não tivesse alguém para ajudar, mas o piso tátil ajudaria”. 9-Você cozinha, lava, passa, ou faz qualquer outra atividade de casa? R. “Não. Quem faz é a esposa”.


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Elessandra Rodrigues (aluna na ADEVIPA) Nome: Elessandra Maria Rodrigues (Estuda na ADEVIPA) Idade: 38 anos / Solteira Endereço: Rua, 17, n° 90 Bairro Planalto ll OBS: Mora sozinha. (Tem sua própria casa, nos fundos da casa da mãe) 1-Quando iniciou a falta de visão? R. Nasceu com Glaucoma, aos 16 anos não enxergava. 2-Como se deparou com o fato? R. “Fui me adaptando, pois devido o glaucoma, fui perdendo a visão aos poucos, praticamente não enxergava, então fui me acostumando”. 3-Tem facilidade em andar sozinha? R. Sim. 4- Qual lugar frequenta? R. Centro da cidade, lojas, ADEVIPA, supermercado etc. 5- Quais as facilidades e dificuldades em estar nesses locais? R. “Não tenho muitas dificuldades, pois já conheço alguns lugares, tem uma loja no centro que conhece pelo tapete que fica na calçada”. 6-Tem necessidade e vontade em fazer compras em supermercados? R. Sim. Mas tem lugares que as pessoas não ajudam, elas ignoram. 7-Já Frequentou algum? Quais? R. “Supermercado Garcia, Bretas, Cônsul do ideal. Consul do shopping somente acompanhada”.

8- O que você acha que poderia melhorar nesses espaços de supermercados, para serem acessíveis? R. “Piso tátil, apesar de só indicar o caminho. Seria bom se tivesse algo sonoro”. 9-Você cozinha, lava, passa, ou faz qualquer outra atividade de casa?


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R. “sim, pois moro sozinha no fundo da casa da minha mãe”. Fábio (estudante na Escola Altina) Nome: Fábio Estudante na Escola Altina Entrevista em 09-03-2013 1-Quando iniciou a falta de visão? R. Nasceu com má formação congênita (baixa visão que não lê enxerga muito pouco vultos) 2-Como se deparou com o fato? R. Não sentiu diferença, pelo fato de já ter nascido com a deficiência. 3-Tem facilidade em andar sozinho? R. Sim. 4- Quais lugares frequenta? R. Trabalha como vendedor de picolé e freqüenta supermercados, onde for preciso consegue chegar, anda de ônibus normalmente. 5- Quais as facilidades e dificuldades em estar nesses locais? R. Tem facilidade em chegar, mas para encontrar o produto na prateleira às vezes fica difícil. As pessoas que freqüentam os supermercados (cego) conseguem identificar alguns produtos pelo formato a partir do tato, só não se sabe a marca. “Pode ser um absurdo eu falar isso, mas eu ando na rua e sei onde é uma perfumaria, onde é um banco; o banco tem cheiro de dinheiro, eu tô te falando, farmácia tem cheiro de remédio, todo lugar tem um cheiro. Você entrou na seção de limpeza (supermercado) chegou perto do sabão, vai ter o cheiro do sabão”. Fábio comenta que às vezes o cego fica esperando alguém para ajudar porque não sabe exigir, se você não tiver disposição para pedir, ela irá demorar. “Eu tive que perguntar se meu dinheiro era diferente dos outros porque ninguém me atendia, eu entro no supermercado e já me perguntam: o que você vai querer? “Chamar não é dificuldade, descaso da pessoa em não ajudar é uma dificuldade”.


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6-Tem necessidade e vontade em fazer compras em supermercados? R. Tem necessidade. Já freqüenta supermercados, mas encontra algumas dificuldades como identificar os produtos. 7-Já Frequentou algum? Quais? R. Sim. O que tiver mais perto. Supermercado Garcia, Bretas, Pimentel, Cônsul, Superforte, Peixeirão, supermercado Brasil etc. Conhece muito. 8-O que você acha que poderia melhorar nesses espaços de supermercados, para serem acessíveis? R. Pensa que seria viável colocar uma máquina que pudesse indicar o produto. Seria bom que tivesse o piso tátil também. 9-Você cozinha, lava, passa, ou faz qualquer outra atividade de casa? R. Sim. Ivanir Francisco Nome: Ivanir Dias Francisco Endereço: Rua Serrada Miradouro, n° 179 Entrevista em 09-03-2013 OBS: Ivanir Dias possui visão subnormal.

Idade: 41 anos / Casado Bairro: Jardim Panorama

1- Quando iniciou a falta de visão? R. Teve Retinose Pigmentar (RP) (refere-se a um grupo de doenças hereditárias, que causam a degeneração da retina. Pessoas com RP apresentam um declínio gradual em sua visão, porque as células fotorreceptoras (cones e bastonetes) morrem.) Aos 11 anos já não enxergava mais. 2- Como se deparou com o fato?/ R. Na época não sabia, repetiu a 6° série várias vezes, tinha vergonha em falar da dificuldade para alguém. Então depois de repetir várias vezes a mesma série, resolveu escrever uma carta para a professora contando seu problema e solicitando uma conversa em particular, pois tinha vergonha e medo. 3- Tem facilidade em andar sozinho?


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R. Sim. Possui a visão lateral, devido ter a baixa visão, consegue ter a noção de espaço, porém às vezes, confunde a sombra com um buraco, ou até mesmo um quebra mola, quando isso acontece por via das dúvidas, ele salta o obstáculo. 4- Quais lugares frequenta? R. Trabalho (COPASA), supermercados, academia, igreja. Anda de ônibus com muita facilidade. 5- Quais as facilidades e dificuldades em estar nesses locais? R. Tem facilidade de chegar até o local (supermercado), pois o difícil é ficar procurando o produto. Quando não encontra, ou tem alguma dificuldade com a marca, preço, é preciso ficar perguntando as pessoas e às vezes, deixa de comprar ou até mesmo, compra produtos errados para não incomodar as pessoas. Ex: Uma vez levou um produto de caixinha (vitamina), achando que era todinho. 6- Tem necessidade e vontade em fazer compras em supermercados? R. Tem necessidade, porém às vezes perde a vontade, pelo fato de pedir muita informação. 7- Já Frequentou algum? Quais? R. Sim. Supermercado Odelot (todos já o conhecem), Bretas e Cônsul. 8- O que você acha que poderia melhorar nesses espaços de supermercados, para serem acessíveis? R. Alguma indicação de como chegar até as prateleiras, para achar o produto. Podendo ser através de piso tátil, símbolos, pois, diz que os deficientes utilizam muito a memória e que conseguem arquivar 20 itens, através de códigos, pois não levam mais de 30 itens. 9- Você cozinha, lava, passa, ou faz qualquer outra atividade de casa? R. Sim.


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Dulciléia Nascimento Nome: Dulciléia Nascimento Endereço: Rua Tupis, n° 236 Entrevista no dia 09-03-2013

Idade: 32 anos / Solteira Bairro: Caladinho de Cima

1-Quando iniciou a falta de visão? R. Aos cinco anos de idade já era diabética, aos poucos foi perdendo a visão e aos 21anos já não enxergava mais. 2-Como se deparou com o fato? R. Foi difícil, teve que passar por cirurgias, antes de ficar cega havia se casado, depois com seis meses ficou cega, hoje não é mais casada, seu casamento durou mais ou menos 1 ano, mas com o apoio dos familiares conseguiu superar a perda da visão. 3-Tem facilidade em andar sozinha? R. Não. Sempre que anda pelas ruas, esta acompanhada porque não se sente segura. O pai sempre a leva para pegar o ônibus que a leva para a escola, consegue se locomover e descer do ônibus sozinha e caminhar pelos espaços da escola, em casa também conhece os ambiente, pelo fato de sempre freqüentá-los. 4- Quais lugares freqüenta? R. sozinha só na escola. Os outros lugares sempre que vai é através de um vidente. 5- Quais as facilidades e dificuldades em estar nesses locais? R. Tem dificuldade em andar pelas ruas. Anda sempre em Cia de alguém. 6-Tem necessidade e vontade em fazer compras em supermercados? R. Já freqüenta os espaços de supermercados com a mãe e o pai quando vão fazer compra. Diz que fica com medo de tentar pegar algum produto por não saber qual é, e se fosse indicado com certeza pegaria. 7-Já Frequentou algum? Quais? R. Sim, supermercado Villeforte, Bretas.


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8- O que você acha que poderia melhorar nesses espaços de supermercados, para serem acessíveis? R. A identificação dos produtos, os corredores terem mais espaços. 9- Você cozinha, lava, passa ou faz qualquer outra atividade? R. Sim. Passo pano na casa, limpa, tira o pó, não lava e nem passa roupas porque os pais fazem.

19.2. Planta original do Supermercado. S/ Escala Anexo a seguir


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19.3. CD – Vídeos pesquisas 19.3.1. Semana Integrada (seminário). 19.3.2. Deficientes visuais em supermercados. 19.3.3. Sobre algumas tecnologias.


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