Peixes de Águas Interiores

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retrabalhamento e parcial remoção do pacote sedimentar preexistente e esculpimento de colinas "meia laranja" e tabuleiros". A mudança climática ocorrida no Wisconsin (com início a cerca de 74.000 anos e maior expansão a 20.000 anos A.P., sensu GUERRA, 1993), marcada pelo estabelecimento de clima semi-árido, promoveu alterações na hidrologia do Rio São João que passou a se apresentar como um sistema anastomosado com canais largos, pouco profundos e possuidores de condições torrenciais de drenagem. Nessa fase, a área da bacia estendiase até a isóbata de 100 metros da plataforma continental. Em período próximo ao Pleistoceno Superior, o Rio São João construiu um delta ao sul do Morro de São João o qual foi parcialmente submerso por transgressões marítimas. Durante a Transgressão Flandriana (evento ocorrido entre 16.000 e 7.000 anos A.P.) deuse o afogamento dos vales pleistocênicos. Esse fato está ricamente documentado nas tanatocenoses estudadas por BRITO & CARVALHO (1979), as quais reúnem restos de invertebrados típicos de águas marinhas de baixa profundidade (tais como Anomalocardia brasiliana, Anadara brasiliana, Macoma sp., Neritina virginea e Bulla striata), o que foi interpretado pelos autores como um indício de ter sido essa região um ambiente de baía ou um lago salgado raso. Em setor situado em pontos mais interiores, "entre o morro do Rio São João e a última grande curva do rio de mesmo nome", os autores identificaram espécimes de bivalves característicos de desembocaduras de rios. As alterações geomorfológicas ocorridas nos últimos 6.000 anos A.P. resultaram do movimento regressivo do mar a partir de um nível de cerca de 3 a 4 metros acima do atual, momento no qual foi construído o sistema de "beach ridges" da planície costeira do São João. Um nível do mar mais baixo do que o atual teria ocorrido entre 4.200 e 3.800 anos A.P., tendo produzido um sistema de lagunas. Uma nova elevação do mar de cerca de 2 metros acima do nível atual foi verificada entre 3.800 e 2.000 anos A.P., tendo sido a responsável pela formação de "beach ridges" mais litorâneas (AMADOR, 1980). Essas mudanças determinaram alterações no sentido da desembocadura do Rio São João a qual deveria conduzir a um deságüe mais ao sul, onde constitui dois deltas sub-atuais (SANT'ANNA, 1975). No local, verificam-se registros de antigas ilhas, atualmente inexistentes, uma das quais, ligada ao continente apenas recentemente, em 1942 (LAMEGO, 1946) O terreno marcado por pequenos canais, lagoas e brejos constitui vestígio do antigo curso do rio em estudo. O primeiro estudo mais abrangente sobre a ictiofauna (e outros elementos da fauna aquática) do Rio São João foi apresentado por Alvarenga et al. (1977) que relacionaram as espécies Hoplias malabaricus, Geophagus brasiliensis, Astyanax bimaculatus, Leporinus copelandii, Curimata gilberti (= Cyphocharax gilbert), Acestrorhamphus sp. (= Oligoracus hepsetus), Brycon sp., Loricaria sp., Neopimelodus (?), Eigenmannia sp. e Plecostomus sp. (= Hypostomus) como ocorrentes na Lagoa de Juturnaíba. Na caracterização ambiental do município de Casimiro de Abreu, elaborada pela FEEMA (1989), é reportada a presença de peixes como Brevoortia aurea, Genidens genidens, Mugil sp., M. curema, Rhamdia sp., Xenomelaniris brasiliensis e Centropomus parallelus no estuário do Rio São João. Mais recentemente foram realizados trabalhos de cunho taxonômico por COSTA & CAMPOS-DA-PAZ (1991), BIZERRIL & AURAÚJO (1992) e por COSTA & BOCKMANN (1993,1994), descrevendo um total de 3 espécies e 2 gêneros. BIZERRIL (1995,1996,1997, etc..) apresentou uma série de estudos que permitiram caracterizar a fauna de peixes da bacia, tanto sob o aspecto taxonômico quanto ecológico, traçando ainda teoria biogeográfica acerca dos padrões de formação deste conjunto biótico.

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