Jovem Socialista 451

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Alberto João Jardim e o abismo moral e eleitoral PAG.6

JOVEM SOCIALISTA NÚMERO 451

Director Hugo Gaspar DirectorAdjunto Bruno Julião Equipa de Redacção Bruno Julião; Diogo Leão; João Gomes; Luísa Fernandes; Ricardo Nascimento; Vítor Reis

ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

IVG: OS DIAS SEGUINTES

AS MULHERES SERÃO AGORA ACOMPANHADAS COM A DIGNIDADE QUE MERECEM “A Regionalização será, definitivamente, uma forma de chegar mais perto dos cidadãos” PAG.3


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Afectos SIM Com mais 1 milhão de votos que na consulta realizada em 1998, o sim à despenalização da IVG, venceu o referendo com uns suficientemente expressivos 59,25%. Não podia deixar de, neste espaço, manifestar o meu orgulho na campanha que a JS realizou, a diferença observada nos resultados deve-se indubitavelmente ao esforço de toda a estrutura que, incansavelmente se empenhou em esclarecer uma população cada vez mais confundida por uma campanha do Não tantas vezes desleal e mentirosa. O desafio deixado pela resposta ao referendo não se esgota na implementação de uma alteração legislativa responsável e solidária, inclui o nosso investimento nas politicas de planeamento familiar e o nosso empenho na questão relacionada com a educação sexual, na verdade, este referendo foi só o começo...

Pacote Anti-Corrupção Foram apresentados 14 projectos sobre corrupção na Assembleia da República. Os projectos, propostos por todos os partidos presentes na AR, tiveram desde logo a garantia do PS, de passarem à fase do debate na especialidade. É curioso verificar que algumas das propostas agora apresentadas, se constituírem como reformulações do que havia sido apresentado pelo agora ex-deputado, João Cravinho...

Alberto João Jardim O Presidente do Governo Regional da Madeira, resolveu apresentar a sua demissão ao representante da República, numa forma dissimulada de desviar a atenção sobre uma gestão duvidosa das finanças regionais e simultaneamente conquistar um resultado em sede de eleições que não só lhe permitirá obter uma percentagem confortável perante a República, bem como o prolongamento do seu “reinado” carregado às costas de uma população que sistematicamente se veta ao anonimato.

Ribeiro e Castro Após se terem tornado públicos os resultados do referendo, o líder do CDS/PP manifestou a vontade de pedir uma nova consulta popular para sufragar a nova lei que então nascia. A profunda falta de oportunidade destas declarações só consegue descredibilizar um dos mais importantes instrumentos eleitorais que medeiam a relação entre população e dirigentes políticos. Mas a mais grave consequência destas declarações personifica-se na desvalorização que elas comportam para todos os portugueses que no dia 11 de Fevereiro exprimiram a sua vontade, alguns acredito, os próprios eleitores de José Ribeiro e Castro.

& Desafectos por Luísa Fernand.

luisa.fernand@juventudocialista.org

Cá Por Dentro Car@ camarada, a pedido do Secretariado Nacional da JS, e porque é função do Jovem Socialista, manter os militantes da Juventude Socialista informados, divulgamos a seguinte carta:

Carta do Secretariado Nacional aos Núcleos Car@ Camarada, No passado dia 13 de Janeiro de 2007, a Comissão Nacional da Juventude Socialista aprovou o Regulamento Geral Eleitoral. O presente Regulamento estipula como período eleitoral obrigatório para todos os Núcleos, o mês de Março de 2007. Neste sentido, o Secretariado Nacional envia a todos os responsáveis pelos processos eleitorais toda a informação necessária, bem como algumas recomendações, para que as eleições decoram sem sobressaltos. Notas Importantes a ter em conta para os Processos Eleitorais nos Núcleos: > Todas as eleições nos Núcleos são convocadas via Portal oficial da Juventude Socialista, pelo (http:// www.juventudesocialista.org/coordenadores.tech) Funcionamento das Convocatórias: > É atribuído um código a cada P.M.A.G.M. - O teu Código: _________ > Introduz o teu código na página, após abrires o link acima. > Aparecerá de acordo com as tuas funções, uma página de convocatória com o texto principal preenchido, para escolheres/escreveres o que for variável. (não esquecer que todos os campos são obrigatórios). > Ao validares, será enviado um e-mail com a convocatória, para todos os militantes do teu Núcleo, bem como uma cópia para o Secretariado Nacional. > A convocatória tem obrigatoriamente de ser divulgada no Site do Núcleo com 10 dias de antecedência, (sob pena de anulação do acto eleitoral). Caso o Núcleo não disponha de site próprio, deverá solicitar atempadamente um site, no Portal da JS no Menu Sede Virtual. > Quando um Núcleo assume funções de Núcleo Concelhio, só terá de realizar eleições no período destinado às Concelhias. (Abril)

> As Listas deverão ser entregues, até 48 horas antes do acto eleitoral ao P.M.A.G.M.. > As listas têm de ser acompanhadas com as declarações de Aceitação de todos os candidatos. > As Eleições deverão decorrer num período mínimo de 4 horas e máximo de 6 horas e terão de decorrer entre as 12 e 24H. Depois de realizadas as eleições, o processo deverá ser enviado, por carta, ao Secretariado Nacional da JS, até 48 horas depois com a seguinte documentação devidamente preenchida: > Actas Eleições para o Secretariado > Composição do Secretariado > Listas apresentadas > Pedido de Impugnação – ( caso alguém queira apresentar este pedido) > Declarações de Aceitação de todos os candidatos > Caderno Eleitoral –( constando nele as pessoas que votaram) Os processos eleitorais só são validados pelo SN, após terem dado entrada nos serviços da Sede Nacional da JS. > Os Pres. Das A.G.M. deverão solicitar os cadernos eleitorais à Sede Nacional da JS, através do e-mail dnd@juventudesocialista.org > Data limite para envio de Convocatórias - 21 de Março A leitura deste documento não dispensa a consulta do Regulamento Geral Eleitoral. Todos os Formulários necessários para o acto eleitoral nos Núcleos estão disponíveis no Portal da JS no Menu Sede Virtual.

Bom Trabalho! O Secretário Nacional para a Organização da JS Francisco V. César

O JOVEM SOCIALISTA como orgão oficial da JS, é o jornal de todos os militantes. Mantem-nos informados das actividades da tua estrutura, para que sejam divulgadas neste espaço”


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Sobretudo REGIONALIZAÇÃO

Que tal mais uma reforma? A Regionalização será, definitivamente, uma forma de chegar mais perto dos cidadãos, de contribuir para o desenvolvimento regional, quando o Estado está longe. Será uma forma de combater as assimetrias e, também, promover a coesão económica do país.

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credito que existe, em Portugal, um crescente número de defensores de um processo de descentralização coerente com a Constituição, como é a Regionalização. É bom que também se esclareça o uso de certos conceitos que podem parecer iguais, mas que não o são, e que significam, efectivamente, políticas profundamente distintas, nomeadamente os de descentralização, desconcentração e deslocalização. Este último decorre de uma simples mudança de local de centros de poder, mais precisamente, aquilo que Santana Lopes tentou implementar, de forma claramente populista/eleitoralista. Por seu turno, a desconcentração traduz uma transferência de funções/ tarefas que, caberiam ao Estado Central, como acontece, em parte, com os Governos Civis. Finalmente, descentralização pressupõe a existência de autonomia do que está descentralizado. Esta última política permite, é o motor, de uma Regionalização que é uma forma de organização de territórios regionais com um certo grau de autonomia, dentro de um Estado unitário. Existe já uma espécie de regionalização técnica para receber fundos europeus. Neste ponto, a Grécia é um país com uma política de regionalização parecida com a de Portugal, por ser tão ténue, tão unicamente vocacionada para receber fundos europeus. Muitos países europeus com regiões altamente desenvolvidas, como a Alemanha ou a Espanha já há muito que adoptaram a Regionalização. É necessário entendermos que os desafios da integração europeia exigem também esta preocupação pelas regiões, no sentido de as modernizar de acordo com o padrão europeu. Este último QREN propõe uma divisão que pode ser a próxima proposta de divisão de regiões para uma efectiva instituição da regionalização. Desde as regiões administrativas, a discussão dos NUTS, que há um debate constante sobre quais as fronteiras que determinam o território correspondente a uma região. Esse é um dos desafios que se afiguram como sendo dos mais complicados, na medida em que encerra questões não só de ordem económica ou geográfica,

mas de identidade, cultura e património histórico. Defendo uma política que me parece que vai sendo bem preparada no decorrer da acção política diária do nosso Governo. O actual Ministro da Administração Interna admite constantemente a atribuição de competências diversas ao poder local e esse é um dos vectores essenciais que importa aplicar. Mas, as Câmaras, não conseguem tomar conta de todas as áreas. Depois de introduzidas na Constituição, algumas notas, na décadas de 90, as Regiões têm, hoje, um estatuto meramente Político-Administrativo. A Lei quadro das Regiões Administrativas de 1991, prevê a intervenção das regiões, nos seguintes domínios: a) Desenvolvimento Económico e Social; b) Ordenamento do Território; c) Ambiente, conservação da natureza e recursos hídricos; d) Equipamento social e vias de comunicação; e) Educação e formação profissional; f) Cultura e património histórico; g) Juventude, desporto e tempos livres; h) Turismo; i) Abastecimento público; j) Apoio às actividades produtivas; k) Apoio à acção dos municípios. A Regionalização será, definitivamente, uma forma de chegar mais perto dos cidadãos, de contribuir para o desenvolvimento regional, quando o Estado está longe. Será uma foram de combater as assimetrias e, também, promover a coesão económica do país. Apela-se, assim, a uma redistribuição territorial, a sério, da iniciativa e da participação e dar às regiões atribuições de natureza legislativa. Parece-me que é importante que se faça um debate no meio político, de modo a que haja um consenso possível. Uma das discussões mais interessantes poderá ser, sem dúvida, sobre a possibilidade da existência de um modelo parlamentar bicamaral. Simultaneamente, ou antes mesmo da alteração do sistema político, penso que será necessária uma reflexão acerca da possibilidade de alteração do sistema eleitoral (para círculos uninominais).

por Bruno Juliao

bruno.juliao@juventudocialista.org

EDITORIAL HUGO GASPAR

Direor Jovem Socialista hugogaspar@juventudocialista.org

Um passo histórico A vitória das portuguesas e dos portugueses que ocorreu no passado dia 11 de Fevereiro, marcou indubitavelmente a história da Juventude Socialista. Durante os últimos tempos, muito se disse e escreveu sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, e também o Jovem Socialista, enquanto órgão oficial da JS, acompanhou essa tendência. Neste número, optámos por dar destaque a uma reflexão sobre este tema, e é também neste número que encerraremos um capítulo, que com altos e baixos, maior ou menor relevo, influenciou o discurso e a prática política dos militantes da JS. O desafio com que nos deparamos agora é saber qual o rumo a seguir e as bandeiras que a Juventude Socialista irá defender nos próximos tempos, mais concretamente no actual mandato. É um facto que o Pedro Nuno, quer se goste ou não, vai ficar na história como o Secretário-Geral que, no seu mandato (eleito com o resultado que sabemos, e que é per si histórico) mobilizou os militantes da JS, mobilização essa que contribui para a dinâmica vencedora do último referendo. E mais importante ainda, porque um homem sozinho não ganha uma batalha, a JS tem na vitória do SIM, e no contexto que a antecedeu um papel excepcionalmente importante. Apesar de não acreditar em dogmas, contrariar estes factos, é recorrer ao mais pérfido revisionismo, mas a acreditar naquilo que tenho lido em alguns órgãos de comunicação, o revisionismo começa a fazer escola em algumas “mentes brilhantes” do nosso país, cujo brilhantismo serve apenas para ofuscar a visão que os portugueses têm dos factos. Veja-se aquilo, que pouco a pouco, se vai passando em relação a Oliveira Salazar, que qualquer dia ainda vai ser, após um cauteloso mas muito bem trabalhado revisionismo, recordado como um homem altruísta e abnegado, que nos protegeu das nefastas influências do mundo exterior. A verdade é que a JS hoje mais que nunca, encontra-se perante um desafio colossal, que é superar a sua própria história. Não é fácil marcar a agenda política pós-referendo. Não é fácil mobilizar os jovens socialistas e influenciar o próprio Partido Socialista em torno de novas bandeiras que tenham na génese a nossa perspectiva sociopolítica dos temas. Mas não é impossível. Pelo contrário. Acredito, que não só a minha geração da JS, que se encontra em transição para o Partido Socialista, como as gerações precedentes, que são de um potencial enorme e que me deixam descansado em relação à passagem de testemunho do capital político da JS, serão capazes de deixar a sua marca na sociedade portuguesa, no sentido desta se tornar no futuro mais democrática e solidária.


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IVG - OS DIAS SEGUINTES O Movimento Jovens Pelo Sim, com a participação da JS, marcou a diferença nesta campanha... para a mobilização dos jovens de todo o país cujos votos fizeram, com certeza, toda a diferença.

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Não se pode criar qualquer estrutura que condicione a vontade da mulher... estaremos a falar de uma consulta, um período de reflexão e uma intervenção que devem acontecer no mais curto espaço de tempo. Não podemos abdicar do referendo, precisamos dele... ...as mulheres serão agora acompanhadas com a dignidade que merecem e o conceito de maternidade desejada, fundamental para o crescimento saudável e feliz de uma criança e para o equilíbrio emocional de uma família, passou a ser, de uma vez por todas, respeitado no nosso país.

resposta a um referendo faz-se com outro referendo. E foi assim que começou mais um capítulo de uma luta de gerações. De facto, ao contrário do que tem vindo a acontecer por todo o mundo ao longo das últimas décadas, em Portugal recorreu-se ao referendo antes de qualquer iniciativa legislativa. O Sim ganhou de forma expressiva e os defensores do Não reconheceram esse resultado. As iniciativas populares que juntaram grupos de cidadãos independentes foram bem vindas ao combate político, animaram a campanha. Apesar de algumas demagogias por parte de algumas personalidades e campanhas foi bom ver a sociedade civil empenhada. O Movimento Jovens Pelo Sim, com a participação da JS, marcou a diferença nesta campanha. Primeiro, porque foi, verdadeiramente, o único grupo de jovens organizado e de âmbito nacional e depois porque demonstrou um dinamismo que terá sido decisivo para a mobilização dos jovens de todo o país cujos votos fizeram, com certeza, toda a diferença. A actuação do Movimento foi desencadeada de formas diversas: debates, sessões de esclarecimento, flashmob, comunicados, apresentação de mandatários e figuras públicas apoiantes do Sim, existência on-line, distribuição de panfletos informativos, diálogos com transeuntes, tempos de antena, etc... A JS desenvolveu também um bom trabalho. Não só esteve integrada na estrutura do Movimento, como desenvolveu um plano de intervenção autónomo ou em parceria com o PS. As iniciativas ocorreram por todo o país e contaram, inclusive, com a participação do Secretário Geral do PS, o camarada José Sócrates, como aconteceu em Guimarães onde se disponibilizou para dialogar com a juventude. Podemos, assim, afirmar que a participação do Movimento Jovens Pelo Sim e a JS foram bem sucedidos por terem sido mobilizadores, não só pela quantidade de iniciativas, como também pela forma serena como defenderam os seus argumentos e não entraram numa lógica de excessos. Tudo isto foi conseguido graças a uma vontade em esclarecer as pessoas acerca do que realmente estava em causa. Agora, podemos dizer que

vencemos à argumentação sobre impostos, sobre as 10 semanas e 1 dia, sobre o conceito de liberalização... Foi preciso combater uma argumentação tão fortemente populista, demagógica e, em certos caso, meramente religiosa, que podemos afirmar que com uma estratégia de verdade, bom senso e confiança nos portugueses alcançámos 60% dos votos. Sabidos os resultados, manifestaram-se todos os partidos. O CDS/PP diz respeitar o resultado do referendo, mas como o aborto é um mal que deve ser contrariado é essa postura que terá no momento da votação no Projecto-Lei do Partido Socialista na Assembleia da República. Mas, no outro dia num programa da AR TV registei uma pérola do sr. Deputado Pedro Mota Soares que defendeu os aconselhamentos obrigatórios para que pudessem explicar às mulheres os seus direitos laborais durante a gravidez, informar sobre quais os centros de acolhimento que existem, onde possam guardar os seus filhos... julgo que esteve quase, quase a sugerir que a aconselhamento durasse...10 semanas. Não se pode criar qualquer estrutura que condicione a vontade da mulher, pois isso seria um grave desrespeito pelo resultado do referendo e pela mulher que seria coagida. Consulta é diferente de aconselhamento obrigatório. Mas isto não é inovação nenhuma, uma vez que qualquer acto médico tem uma consulta prévia. Mas também não nos podemos comparar a muitos países, na medida em que o tempo que as mulheres terão para abortar no nosso país é muito menor – terão apenas 10 semanas, o prazo mais curto vigente na Europa. Deste modo, estaremos a falar de uma consulta, um período de reflexão e uma intervenção que devem acontecer no mais curto espaço de tempo. Obviamente que deve permitir que a escolha da mulher seja ponderada. Importa, agora, apoiar, principalmente as mais desfavorecidas. Por outro lado, parece-me importante que a confidencialidade seja garantida. O Ministro da Saúde já disse também que o Serviço Nacional de Saúde tem, seguramente, condições para assegurar estes actos médicos. Por seu turno, uma espécie de acesso especial ao SNS por parte das mulheres que queiram abortar, é uma falsa questão que tem sido levantada pelos partidos de direita para perderem mais tempo. Já existem regras para quem quer aceder a qualquer acto médico, nomeadamente as taxas moderado-


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ras. Mas em relação aos recursos, não vamos entrar no debate da campanha. Acreditamos que o aborto clandestino vai diminuir, o que evitará a canalização de recursos do SNS para tratar as complicações decorrentes desse flagelo. Para o PSD o resultado dá legitimidade à Assembleia para receber o Projecto-Lei do PS. Para os restantes partidos, a nova lei tem de ser aprovada rapidamente. Qualquer lei deve ter um trabalho de ponderação, mas deve-se chegar rapidamente a um texto. O Parlamento deve agir imediatamente. Entretanto, o presidente da República sugeriu aquilo que já estava na cabeça de todos: a feitura de uma lei equilibrada, recorrendo aos exemplos das melhores práticas europeias e, acrescentou, que permita sanar as divergências manifestadas pela sociedade portuguesa. Em abono da verdade, temos que admitir que não vai ser fácil agradar a Gregos e a Troianos, uma vez que o Projecto-Lei deve respeitar, em pleno, a resposta que os portugueses deram, no passado dia 11 de Fevereiro. Há, também, uma reflexão a fazer sobre o instrumento do referendo. De facto, este foi mais um acto eleitoral cuja participação ficou aquém dos 50% de eleitores que votaram. É importante tentar perceber o que provocou a abstenção. Sendo que há, também, quem afirme que houve uma abstenção técnica de 7%, o que, ao não existir, vincularia automaticamente a Assembleia da República ao resultado do referendo. Tal “falha” técnica resultará da manutenção de óbitos ou de cidadãos que, entretanto, mudaram de

freguesia de recenseamento nas listagens actuais de cidadãos com direito a voto. Por outro lado, o assunto não seria dos mais mobilizadores e a verdade é que muitos católicos, pela influência dos padres da sua paróquia, ter-se-ão sentido tão “divididos” ao ponto de evitarem manifestar o seu desejo de voto. Houve um certo stress decorrente de uma campanha ao longo da qual, muitas vezes, se confrontaram, sempre os mesmos argumentos. Paradigmáticos na repetição, foram aqueles que, negando a falta de consenso da classe médica, diziam obsessivamente que às 10 semanas havia vida humana porque... sim. Foi, de facto, um combate tão repetitivo que muitos portugueses já nem foram votar, fartos que estavam de ouvir falar em aborto. Tudo isto, não serve para dramatizar a fraca adesão às urnas, mas, antes, para acreditarmos no referendo. Esta modalidade de acto eleitoral deve ser usada em assuntos que dividam o país, de forma

facilmente observável. Não podemos abdicar do referendo, precisamos dele, a nível nacional e local, até porque, como vimos, é uma forma muito interessante de chamar a sociedade civil supra partidária a participar no debate político.Este referendo foi importante porque pode ajudar a mudar a mentalidade vigente em certos sectores da sociedade portuguesa, o que, por sua vez, pode ajudar a aceitar, daqui em diante, as ideias progressistas das sociedades modernas, nomeadamente as respeitantes às liberdades individuais. Em relação à IVG em particular, as mulheres serão agora acompanhadas com a dignidade que merecem e o conceito de maternidade desejada, fundamental para o crescimento saudável e feliz de uma criança e para o equilíbrio emocional de uma família, passou a ser, de uma vez por todas, respeitado no nosso país. O que desejamos todos é que Portugal tenha cada vez menos abortos e que as políticas de planeamento familiar e educação sexual funcionem cada vez melhor.


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APETECE DIZER...

MADEIRA

Alberto João Jardim e o abismo moral e eleitoral Dia 21 de Fevereiro de 2007, o país foi confrontado com o pedido oficial de demissão de Alberto João Jardim, há alguns dias atrás anunciado pelo próprio numa anterior declaração.

S

em qualquer dúvida que sobre este peculiar acto encontramos muitas análises e comentários possíveis e dignos de ser feitos. No meu entender, considero que o acto demissionário de Jardim está obviamente carregado de motivações e intenções que representam o pior da política numa escala já poucas vezes vista. Por outro lado, esta sua acção empestada de sensacionalismo pode ter alguns efeitos realmente positivos, se é que já não os teve. É notório que a Democracia portuguesa condenou esta demissão. Todos os partidos políticos, com excepção do PSD que é ainda obrigado por conveniência eleitoral interna e externa, a ser conivente com as loucuras do Alberto João, criticaram fortemente esta posição. Mesmo na intimidade política do PSD, acredito que muitos tenham posto as mãos na cabeça e exclamado para as suas consciências – “é desta que estamos tramados!”. Pois bem, não restam dúvidas de que acabaram de adquirir essa hipótese quando se mostraram solidários com o líder do partido madeirense. Da nossa parte, o Partido Socialista reagiu de imediato, cumprindo com o seu dever e tanto a nível nacional como no PS-Madeira, eclodiram criticas justas e honestas que não pouparam a acção de Jardim na sua tentativa de deliberadamente provocar uma crise política escolhendo como álibi a Lei das Finanças Regionais e abrindo uma frente de combate contra o Governo Português. Alberto João Jardim falha completamente na postura de Estado que deveria manter (o que aliás julgo acontecer desde 1978) e cria este cenário inédito (mesmo para as originalidades da sua governação) ao desempenhar as funções de Presidente do Governo Regional. Em representação meramente teatral (e ainda por cima de má qualidade) faz-se passar por indignado e pinta o arquipélago da Madeira como região acabada e ingovernável na consequência da promulgação do diploma das finanças regionais por Sua Excelência, o Presidente da República. Entra assim o mais importante factor que vai ser obrigado a reagir directamente sobre a demissão: o povo madeirense. O dignitário Alberto João Jardim outrora sufragado positivamente para desempenhar a honra de liderar a Madeira, prejudica deliberadamente o seu próprio povo deixando o Governo Regional em auto-gestão até há convocatória de novas eleições. As suas motivações, como aliás afirmou o PS, são de clivagem em jeito de uma pseudo guerrilha institucional e estão alicerçadas no desejo deste dinossauro iniciar um novo ciclo eleitoral na Madeira pensando que com este acto populista vai aumentar a percentagem eleitoral conquistada pelo seu partido no parlamento regional (que tem vindo a diminuir de eleição para eleição estando hoje o PSD Madeira mui-

to longe dos históricos resultados esmagadores de outras eras). Assim, a Madeira entra num vazio de poder durante tempo suficiente para realmente criar instabilidade; o problema é que esta instabilidade não será sentida directamente no continente mas sim pelos madeirenses. Numa avaliação partilhada por muitos, Alberto João Jardim está a olhar apenas para os seus objectivos pessoais e com este acto demonstra uma irresponsabilidade institucional tremenda, falta de seriedade política perante a República Portuguesa e a entrega à sorte do futuro de um povo que claramente (e para quê esconder?) já o venerou. Nem que seja pelo sentimento que os madeirenses mostraram, no passado, nutrir por ele diria que é uma vergonha esta demissão ter lugar nestas circunstâncias. Assim, esta demissão da maneira como foi colocada e levada avante é indiscutivelmente negativa e afirmaria mesmo, um exemplo puro de como o maquiavelismo político pode ser feito ainda a uma escala considerável, sem olhar a meios e sem responsabilidade ou humildade perante aqueles que nos elegeram. Agora... como um mal nunca vem só, Jardim anunciou a sua recandidatura às eleições que ele próprio vai causar. Isto vem reforçar toda a ideia que se tenta passar ao longo deste texto, constatando que é puramente a suposição de que alcança maior força eleitoral numas eleições provocadas para daqui a uns meses do que as marcadas no calendário regular que desenrola e motiva este pequeno déspota. A parte positiva deste processo de que falei no início remete-nos a um comentário ao PS Madeira observando que este tem vindo a crescer e a fortalecer-se ao longo das mais de três décadas de democracia. Actualmente, o PS com o camarada Jacinto Serrão na linha da frente tem alcançado uma posição cada vez mais destacada entre os partidos da oposição, podendo até ser dito que estamos prepara-

dos para disputar o poder no arquipélago. É apenas o facto de o poder voltar ao povo e por conseguinte a Madeira poder-se livrar de vez de Jardim que este decurso tem o seu lado positivo. Se analisarmos correctamente, um passo já está dado para o descrédito de Alberto João: o abandono furtivo do poder. Nestas circunstâncias, o Partido Socialista estará, com certeza, disponível para enfrentar um sufrágio positivo por parte dos cidadãos desta região. Saberemos dar respostas ao futuro e trabalhar ao lado das Leis da República, sem termos de encenar indignações e muito menos apresentar demissões motivadas por pseudo sublevações morais, pois compreendemos que a realidade financeira da Madeira tem de estar ligada à de todo país sofrendo os mesmos sacrifícios e também as mesmas venturas. A Juventude Socialista, seguramente estará do lado dos Madeirenses e erguer-se-á para lutar por uma região mais justa, solidária, igualitária e livre, como aliás é sua tradição.

por Diogo Leão

diogo.leao@juventudocialista.org


INTERNACI NAL 07

JUSOS in der SPD Nome Jungsozialistlnnen / Alemanha – Jusos Website www.jusos.de N.º de Militantes 65 mil (até aos 35 anos)

PRESIDENCIAIS EUA

A viragem à esquerda nos EUA

Secretário-Geral da actualidade Björn Böhning

As candidaturas de Obama e Clinton personificam uma mudança política nos EUA e no mundo

A

recente formalização da candidatura de Barack Obama às eleições primárias no Partido Democrata para as presidenciais nos EUA confirmou a abertura de portas para um diferente tipo de candidatos, para uma nova estirpe de presidenciáveis. Devemos registar que o ideal tipo de presidentes norte-americanos é homem e “branco” – os media norte-americanos adoram tipificar a raça dos indivíduos. O Partido Republicano encontra-se há mandato e meio com o controlo da Casa Branca – sede de poder presidencial - mas as sedes legislativas haviam sido liminarmente controladas ainda no mandato de Clinton e Gore. Agora o poder republicano encontrase em claro declínio, também fruto da rotatividade do poder em Washington, mas com o fim do seu ciclo acelerado pelas políticas internas inaptas - aumento do desemprego, da inflação e do déficit público, deficiente combate á imigração ilegal; e políticas externas autistas, prepotentes e belicistas – o protocolo de Quioto por ratificar; a Guerra ao Terrorismo, que acicatou os extremismos um pouco por todo o mundo, e a invasão do Iraque, que num primeiro momento uniu a maioria dos americanos em torno de Bush, mas agora, com o fracasso militar e político anunciado e admitido em Washington, paira sobre a cabeça de Bush e dos republicanos como que indicando o fim da linha para estes, pelo menos por ora. Por tanto, tudo parece indicar o início de um estado de graça para o Partido Democrata, cuja duração está dependente da forma como resolver a questão Iraque. O eleitorado norte americano tende a reagir mal às mudanças bruscas. Logo, quando temos a candidatura de uma mulher – Hillary Clinton – e uma candidatura de um homem “negro”, isso significa que ou os candidatos estão numa corrida perdida à partida, ou os estudos de viabilidade eleitoral efectuados por ambos dão uma real possibilidade de discutirem o acesso à Casa Branca com qualquer candidato que ainda possa

surgir. Como ninguém está disposto a gastar milhões de dólares em campanhas perdidas, isto poderá dar um sinal claro da mudança de mentalidades a registar-se nos EUA, operado de forma lenta, mas segura. Hillary granjeou fama mundial como primeira-dama de Bill Clinton, obtendo de entre o público, especialmente o feminino, uma imagem favorável, decorrente da forma quase estóica como aguentou a pressão dos media e se manteve firme ao lado do seu marido aquando do caso Lewinsky. Geriu sempre muito bem a sua imagem e chega a esta corrida como uma figura blindada, à qual ninguém reconhece reacções desmedidas. Com base nestas premissas foi construindo uma carreira política moderada, posicionando-se ao centro, ganhando apoios essencialmente dos «barões», das grandes figuras democratas. Alguns chamam-lhe a candidata do sistema. O seu maior problema para resolver nesta fase da campanha foi ter apoiado, numa primeira fase, a invasão do Iraque, sendo agora uma partidária da retirada. Quanto a Obama, existe uma euforia à sua volta, pois este é muito jovem e chegou há relativamente poucos anos à política. Para uns é sinónimo de frescura, para outros de inexperiência. Para uns é irreverente, para outros é arrogante. Uma coisa é certa, no seu discurso está presente a renovação dos meandros políticos de Washington, o combate à burocracia. Não tem, para já, optado por um discurso enfatizando a questão racial, o que só o poderá favorecer. O que aos olhos do mundo parece estar a acontecer é uma viragem à esquerda dos EUA. Entre os dois candidatos existem imensas diferenças, mas a maior semelhança é que corporizam, neste momento, a alternativa ao neo-conservadorismo e ao radicalismo dos republicanos. E, enquanto maior potência política, económica e militar, existe a esperança de uma abordagem mais humanista, mais sustentável, mais responsável quanto às questões que a todos preocupa.

por Vitor Reis

vitor.reis@juventudocialista.org

Orgânica: A JUSOS tem uma Comissão Nacional e um Secretariado Nacional a nível federal (eleitos de 2 em 2 anos). Tem também 20 estruturas regionais, correspondentes às regiões alemãs. A JUSOS tem também um Congresso Nacional que se reúne anualmente (com cerca de 300 delegados de todas as regiões) para aprovar as orientações políticas. A nível local a JUSOS organiza-se em clubes de política. Principais bandeiras políticas na actualidade: Maior justiça social (combate ao desemprego, luta contra a privatização da segurança social e dos serviços de saúde, aumento do imposto sucessório e sobre a propriedade); Ensino universal e gratuito (aumento do financiamento público e abandono das propinas); Luta contra o desemprego jovem; Sistema de quotas a nível eleitoral (introdução de legislação nesse sentido); Luta contra a discriminação a todos os níveis.

POSIÇÃO RELATIVAMENTE A: Interrupção Voluntária da Gravidez: A favor Casamento entre pessoas do mesmo sexo: A Favor Liberalização das Drogas Leves: A favor


C O N C U R S O A EUROPA: R igualdade de oportunidades para todos T A Z E S

O Grupo Socialista no Parlamento Europeu e as suas delegações nacionais alemã e portuguesa convidam jovens residentes nestes dois Estados-Membros a apresentarem um projecto criativo sobre a igualdade de oportunidades na Europa, através de um Concurso de Cartazes que irá decorrer no primeiro semestre de 2007. Este evento está directamente relacionado com o exercício da Presidência da União Europeia pela Alemanha e por Portugal. Em anos seguintes, o Grupo Socialista tenciona organizar iniciativas semelhantes, dirigidas a jovens residentes noutros países que venham igualmente a exercer a Presidência da UE. A primeira parte do Concurso de Cartazes é organizada a nível nacional pelas delegações alemã e portuguesa. Ao Grupo Socialista caberá a promoção da segunda fase do concurso, que irá decorrer a nível europeu. O tema do Concurso é "Europa: Igualdade de Oportunidades para Todos". O objectivo da iniciativa é contribuir para a divulgação do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, que se assinala em 2007. O Grupo Socialista irá seguir uma orientação aberta e não discriminatória no que respeita à participação no Concurso, aplicando, de forma estrita, o princípio da igualdade entre mulheres e homens. Com este Concurso de Cartazes, o Grupo Socialista pretende ainda dar a jovens artistas a oportunidade de apresentarem o seu trabalho a audiências nacionais e europeias. Os cartazes escolhidos poderão vir a ser utilizados pelo Grupo Socialista em campanhas relacionadas com o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades.

Informações, regulamento e inscrições em:

www.posterpse.eu Grupo Socialista no Parlamento Europeu Organização em Portugal em colaboração com a Juventude Socialista.


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