JUP Novembro 2008

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JUP NOVEMBRO ‘08 CULTURA

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Simian Mobile Disco no Eco UnderSky

“QUANDO AS MÚSICAS NÃO SÃO ESTIMULANTES, TEMOS DE DEITAR TUDO AO LIXO” Filipa Mora

Fato preto. Camisa branca. Metros de altura que me obrigam a um olhar ascendente até encontrar a extremidade loura de James Shaw. Está sozinho e o outro James não veio, o que faz com que este James se restrinja a apenas um dj set de Simian Mobile Disco. A Alfândega do Porto iluminada e a vista privilegiada do outro lado do rio torna o momento profissional mais lírico e só os kicks de Bloody Beetroots que ecoam para fora do edifício me despertam para o trabalho. E começa a agradável conversa com o inglês simpático de sorriso contagiante e humor tímido. JUP – Vocês têm remixes altamente cotadas e conhecidas como de referência. O que preferem? As vossas próprias produções ou remisturar algo que já existe?

processo de criação/produção temos de dar um nome qualquer em segundos. Então é tipo “como vamos chamar-lhe?” ok, pode ser one.wav” [risos]

Simian Mobile Disco (SMD) - Eu acho que acaba por ser a mesma coisa. Quando fazemos uma remix (rmx), pensamos nela como uma música completa, e quando a acabamos, pensamos nela como se já fosse nossa. Não há grande diferença, é muito semelhante o empenho que dedicamos tanto a uma coisa como outra. Acabamos por criar, de forma diferente, algo novo. Existindo já numa versão ou partindo do zero, resulta sempre num produto novo. É uma tarefa difícil.

JUP - Os vossos vídeos… Não posso evitar a pergunta que, se calhar, vos foi feita mais vezes. No vídeo da “Hustler”, é mesmo verdade que vocês “drogaram” de forma leve aquelas raparigas? SMD - [risos] Não temos nada a ver com isso! Foi um amigo nosso que fez isso tudo. Ele ligou-nos a meio da noite e dissenos que estava a gravar outro videoclip para outra banda.

JUP – Como é o processo de remisturar? Qual é o primeiro passo? Escolhem o artista, a música, o desafio em si? SMD- Normalmente ouvimos uma música e pensamos se podemos apresentá-la de um ângulo diferente. E como trabalhamos muito rápido, em menos de um dia podemos modificá-la , caso estejamos empenhados em reconstruir essa mesma música. Como no álbum passado, tínhamos cada vez mais propostas para remixes…E adorávamos faze-las mas chegou a um ponto em que tivemos de recusar, caso contrário nunca acabaríamos o álbum. [risos]

JUP – Que era New Young Poney Club. SMD - Sim, NYPC. E ele tinha um equipamento que dava para rodar e filmar daquela maneira. E nós não tínhamos dinheiro para pagar mas ele queria mesmo fazer o vídeo e, basicamente, o que aconteceu foi dar champanhe e isso a amigos e

JUP - Más músicas são fáceis de remisturar? Vocês já chegaram mesmo a afirmá-lo... SMD - Para ser sincero, não sei bem. Eu acho que a razão pela qual dissemos isso é que quando temos de fazer um remix duma música boa, já sentimos que está tudo feito. O que quer que adicionemos ou alteraremos na música não se justifica por podermos estragar o trabalho já feito. Temos receio disso. Se mexermos nelas, vamos acabar por fazer asneira. E quando é ao contrário, quando as músicas não são tão estimulantes e boas, temos de deitar tudo ao lixo, retirar o que achamos que fica mal e reconstruir a música para que se torne boa. JUP- Vocês conseguem uma fusão entre o maximal/electro e esta nova “era” do rock, indie, o que resulta nesse vosso som peculiar. Como equilibram isso? Começa a ser natural as bandas terem um dj a acompanhá-las. SMD – Para ser sincero, não sei bem. Acho que nunca pensamos muito nisso, acaba por acontecer naturalmente. Acho que o nosso background ajuda muito, sempre ouvimos muita electrónica mas crescemos em bandas. Acaba por sair assim naturalmente. JUP – O que é pensas destas novas “ondas”? Como se houvesse uma nova vaga francesa e outra, a alemã, cada uma muito peculiar mas, igualmente, populares. Achas que, hoje em dia, ser-se alemão é uma vantagem no panorama electrónico? SMD- Historicamente, sim. Se vives em Berlim, podes fazer música electrónica. Quando sais lá, quando fazes um dj set lá, é muito diferente de nos EUA. As pessoas sentem as coisas de forma diferente. É possível tocar-se lá minimal e o público estar atento, os americanos são muito mais rockabillys. JUP – E sobre o futuro electrónico? É a idade de ouro para mais música híbrida?

JUP – Sei que vocês têm alguma dificuldade em dar nomes às músicas, tanto que nem pensam muito nisso. Nas vossas próprias palavras, é muito “em cima do joelho”. E agora? Já é mais fácil? SMD – Isso deve-se à forma como trabalhamos. Como usamos patterns, vamos gravando de x em x tempo e a meio do

Sara Araújo

SMD - É um fenómeno interessante. Temos assistido a imensas coisas a misturarem-se cujo resultado é, deveras, curioso. Do meu ponto de vista, há imensa música, imensas pessoas a fazerem música. Há tanta porcaria por aí, precisamente por esse factor, mas simultaneamente, descobrem-se ideias bastante boas, criativas e bem produzidas. Felizmente, as coisas vãose alterando e tudo se adapta.

resultou naquilo. Gostámos do resultado. Ele fez o vídeo para nós e concordámos. Não nos metemos muito no processo dos videoclips. JUP - O que podemos esperar do teu dj set? SMD – Não sei bem… JUP - Algum italo disco? SMD - Estava a pensar, como é um público pequeno, tocar algo mais agressivo. Resulta bem, normalmente. Acho que é preciso equilibrar o que nós gostamos com gosto do público e ver o que eles querem; caso contrário, não tem piada tocar para pessoas que se sintam desconfortáveis com o teu som, caso só sejas completamente egoísta no teu dj set. E também gosto de aproveitar para passar músicas nossas novas para ver a reacção do público. Acima de tudo, é equilibrar os hits com unreleaseds, por aí. Gosto de ver a reacção das pessoas e dar-lhes o que elas querem e o que eu quero também, claro!


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