JUP Marco 2010

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Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira Chefe de Redacção Mariana Jacob

Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita || Directores: Filipa Mora e Manuel Ribeiro || Director deAcademia Fotografia:doJosé Ferreira Directora de paginação: Koch Ferreira || Chefe de Redacção: Mariana Jacob Jornal da Porto || Ano||XXIII || Publicação MensalJoana || Distribuição Gratuita

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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 21 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31

Jornalismo Universitário

23 anos a contar história(s)


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Amador na opção, p Este é o mês do 23º aniversário do JUP. Viajamos pela história do Jornal Universitário do Porto, onde histórias de luta e dedicação o tornam um marco obrigatório na vida da Universidade e da própria cidade do Porto. Era um grupo de alunos da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto que decidiu reunir-se para criar o Jornal Universitário. “Uma voz activa, corajosa e determinada”, capaz de apontar as falhas e os êxitos do sistema de ensino. Enfim, capaz de fazer a diferença. Em breve, tornar-se-iam independentes da AEFCUP, para “vincar a sua independência e o seu carácter aberto”. Nascia assim, no final da década de 80, o “Jornal Universitário do Porto”. Acima de tudo, a criação de um Jornal de todos os alunos “impunha-se quando estamos cansados de apontar (e de sentir) as falhas do nosso sistema de ensino”, conforme se podia ler no editorial da edição zero, em 1987, assinado por Jorge Pedro Sousa, actualmente jornalista, professor e investigador na área de Comunicação.

Grandes reportagens Os primeiros números do JUP foram marcados por reportagens sobre os principais problemas que afectavam os universitários: condições de alojamento, as cantinas universitárias, as alterações no Ensino Superior, a Queima das Fitas. Foram várias as reportagens polémicas que causaram burburinho no meio académico. João Teixeira Lopes lembra-se de um artigo de Ana Brandão “em que ela acusava a comissão da Queima das Fitas de ter utilizado dinheiro do seu orçamento para financiar abortos”. Director na altura, confessa que houve tentativas de retaliação após a publicação da notícia. Tal

aconteceu em 1989, dava o JUP os primeiros passos na sua história. Jorge Pedro Sousa refere também os artigos sobre “as iniciativas estudantis europeias, sobre os jovens e a Europa”, numa altura que começavam os programas de intercâmbio. Anos mais tarde, o projecto A Ponte “acompanhou entre 2000 e 2002 as actividades da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, apresentando uma visão reflectiva dos estudantes sobre o que se passava na cidade”, recorda Sara Moreira, presidente do Núcleo de Jornalismo Académico (NJAP). Dino Almeida, jurista e um dos fundadores da revista “Águas Furtadas”, salienta ainda as entrevistas aos então Reitores Alberto Amaral e Novais Barbosa. Já Susana Marinho, antiga directora do NJAP, destaca a reportagem “Deficientes são as Faculdades”, sobre as pessoas com dificuldades de locomoção nas instituições académicas. Refere ainda o artigo sobre a incineradora do hospital de São João e a edição come-

morativa que o JUP dedicou aos 30 anos do 25 de Abril. Dino Almeida realça que “quando alguém queria falar sobre um tema mais polémico e um pouco mais abertamente ia ter com o JUP”. O espírito era sempre de expectativa, de fazer algo novo, de marcar a diferença. O primeiro editorial do Jornal dizia que “ainda estamos longe... muito longe... de dizer: missão cumprida”. E agora, 23 anos depois, será que o JUP continua com o mesmo fôlego para cumprir a missão? O que mudou, afinal, no JUP nas últimas duas décadas?

Desporto e Opinião. A editoria de Internacional acabou por ser abandonada nesta “reestruturação”, assim como Economia e Ambiente, que foram integradas nas outras editorias. Os temas agora abordados pelo JUP passaram a ter um enfoque maior no Grande Porto e na Academia. O livro de estilo do Jornal foi também actualizado. A diferença mais notória, no entanto, registou-se a nível gráfico: o jornal foi objecto de estudo da tese de mestrado de Joana Koch Ferreira, directora de Paginação. Actualmente, a impressão do

Novos tempos O mês de Dezembro de 2008 marcou um novo ciclo na história do J U P,

que passou nesta altura por uma remodelação, a vários níveis, a cargo do director Carlos Daniel Rego. Foi feita uma nova definição das editorias presentes no Jornal: Sociedade, Educação, Cultura,

JUP chega aos 10.000 exemplares por edição. Com cerca de sete publicações por ano, é distribuído “em todas as instituições da Academia do Porto”, afirma Sara Moreira, presidente do NJAP. Mais recentemente, as reportagens que ficaram na memória dos novos directores tratam de diferentes temas. Filipa Mora salienta o destaque de Novembro de 2009, sobre o fenómeno do Admirável Porto Novo noctívago, “pela diversidade da reportagem e pela equipa”. A actual directora refere ainda o artigo sobre a pri-

vatização do Palácio de Cristal, que “merece atenção pelo interesse público”, e o artigo e foto reportagem sobre as Quintas de Leitura, “pelo interesse e qualidade que despertam no espectro cultural”. Já Manuel R i b e i ro destaca a cobertura às férias desportivas (organizadas pela Federação Académica do Porto - FAP) e ainda a reportagem sobre os Jogos GalaicoDurienses, da edição de Dezembro de 2009. Para o actual director, “o “enviado-especial” [Francisco Ferreira, editor de Desporto], que acompanhou a comitiva da UP à Galiza, virou de repórter a atleta e por sinal não desiludiu”. “Entra seguramente para a história deste jornal com 23 anos”, destaca Manuel Ribeiro. Dentre os antigos colaboradores, o carácter crítico do jornal é uma das características que recordam com mais saudade. “Estou convencido que foi isso que marcou os leitores”, ressalta Dino Almeida. João Teixeira Lopes considera que o JUP ainda “é um bom exemplo de jornalismo crítico, de um jornalismo interventivo, sem deixar de ser rigoroso”. Apesar de considerar que o jornal está mais profissional, Jorge Pedro Sousa considera-o “não tão corrosivo” como o foi nos seus tempos de estudante. “Infelizmente, talvez não seja tão impertinente e incomodativo, no bom sentido, como o foi no final dos anos oitenta e princípios dos noventa”, confessa o investigador. Susana Marinho, antiga


Destaque

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rofissional na acção directora do NJAP, reforça a importância do espaço para a opinião no Jornal, “pois penso que uma das obrigações do JUP é defender os interesses dos estudantes, incluindo a crítica a alguns aspectos medíocres que possa haver no seu seio”. Filipa Mora realça o esforço diário do JUP “em despoletar interesse nos temas que cobre”, considerando que a maior evolução reflectiu-se “nos temas de teor mais investigativo que tentamos publicar”. “É com um misto de sangue, lágrimas e suor que cada jornal sai todos os meses”, exalta a directora.

E os estudantes? É um lugar-comum dizer-se, hoje em dia, que os alunos estão mais preguiçosos, menos motivados a participar. No entanto, os próprios alunos não o admitem. Após 23 anos de existência, o JUP continua a contar com vários colaboradores que têm uma visão nova e diferente sobre o Jornal. Mariana Catarino, aluna do Curso de Ciências da Comunicação, entrou no Jornal Universitário “para começar a ganhar alguma experiência” na área do Jornalismo. “Com o JUP sinto-me mais integrada na UP e conheço melhor o Porto”, confessa. Liliana Pinho, do primeiro ano do mesmo curso, acrescenta que “participar neste projecto é muito gratificante”. Dentro dos outros cursos, o caso muda um pouco de figura. Maria, estudante de Ciências Farmacêuticas, confessa que não lê o jornal mais vezes “porque muitas vezes as capas não chamam a atenção”. Uma colega sua comenta que fazem falta mais artigos sobre todas as faculdades, pois “podiam falar do que se faz em toda a Universidade”. Manuel Ribeiro, director do JUP, salienta a necessidade de adaptar o jornal a toda a Universidade, o que passa pela variedade de colaboradores. “Uma das missões do JUP é dar

a conhecer o jornalismo a todos os estudantes do ensino superior”, e xp l i c a. Não deixa de apontar ainda a falta de mais participantes, sendo esta a principal dificuldade do Jornal: “Falta gente ao JUP, com vontade de participar e manter este projecto”. “O JUP sofre do síndrome Bolonha. Os estudantes têm menos tempo para desempenharem actividades em paralelo com os cursos que estão a frequentar”, lamenta o director. Sara Moreira, do NJAP, explica como é difícil gerir “a dicotomia sempre latente no associativismo voluntário versus a necessidade de estabelecer e cumprir compromissos para que a máquina continue a mexer”. Filipa Mora corrobora, lembrando que “o JUP é feito por pessoas que se dedicam voluntariamente à causa, que é o jornalismo amador na opção, profissional na acção”.

O NJAP: um universo de cooperações alargadas O Núcleo de Jornalismo Académico do Porto (NJAP) reúne um conjunto de diferentes projectos. A revista de literatura, música e artes visuais, “Águas Furtadas”, tem o objectivo principal de divulgar artistas promissores com pouca visibilidade. Foi lançada

em 1999 e teve 10 edições semestrais até 2006. Susana Marinho, antiga directora do NJAP, considera a criação desta revista como um grande desafio, “não só por toda a logística que isso envolveu, como também pela qualidade que se procura-

va imprimir à revista”. E para Sara Moreira, não está esquecida: “continua a ser um projecto acarinhado e estamos a analisar formas de continuar a sua publicação”. As Galerias JUP, localizadas na Rua Miguel Bombarda, acompanham a actividade cultural da zona onde se insere. O próprio edifício do NJAP recebe debates, palestras e acções de formação para os estudantes. Susana Marinho aponta os principais desafios do cargo que ocupou: “criar uma imagem do Núcleo como uma associação dinâmica, aberta a todos quantos quisessem contribuir

quer c o m textos para o JUP, quer com o desenvolvimento de outras actividades e procurando sempre novos associados”. A antiga directora fala ainda da “resistência a vários tipos de condicionamento editorial”. Sara Moreira está esperançosa quanto ao futuro do NJAP: “vejo o Núcleo a despontar como estrutura viva, local de trabalho e convívio, ponto de encontro de pessoas, interesses e reflexões, após um período de 3 anos em que as portas estiveram mais fechadas”. A actual Presidente espera que “nunca seja descurada a extrema importância do papel do Núcleo de Jornalismo Académico do Porto enquanto agente e plataforma de reflexão e de consciência colectiva”.

“Caixinha de recordações” Desde a sua fundação, as linhas do JUP foram delineadas pelos

próprios estudantes, que aprenderam no jornal universitário novas formas de se expressar e compreender o mundo académico. João Teixeira Lopes, professor da FLUP e ex-deputado pelo Bloco de Esquerda, conta como a participação no jornal lhe deu “uma noção muito mais vasta das nossas semelhanças e das nossas diferenças”. “Através do JUP consegui aperceber-me de realidades que me estavam distantes”, conta o docente. Os antigos colaboradores continuam a ser leitores assíduos do jornal do qual fizeram parte no passado. Para Dino Almeida, “é como regressar a uma publicação que sentimos nossa e nos faz falta…Quando se trabalhou num projecto sentimo-lo um pouco nosso”. O jurista salienta que “todo o arquivo do JUP é de um enorme capital cultural e social. Deu grandes coisas a esta cidade e mais do que isso inspirou muitos outros projectos de jornalismo e não só”. Dino Almeida considera mesmo que o JUP “é um marco na cidade universitária”. Entre elogios e reclamações, não faltaram sugestões. João Teixeira Lopes considera que o jornal tem que “ser capaz de criar as suas próprias notícias, desocultando muitas vezes o que está obscuro, fazendo investigação, indo para além das fachadas, e tendo um papel interveniente na própria academia”. Jorge Pedro Sousa corrobora esta opinião, já que “o JUP volta-se muito para o exterior, nomeadamente para o campo cultural, o que é bom, mas que tem uma consequência negativa, que é abandonar o olhar sobre a Academia, a principal razão para que foi criado”. Dino Almeida também refere a importância da actividade académica, instigando-se ainda sobre os possíveis desafios para o JUP no futuro, que podem passar pela adaptação ao acordo ortográfico e pela criação de edições electrónicas.


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JUP: uma missão que se cumpre a cada edição Outros jornais universitários juntam-se também à conversa, mostrando como cada um ultrapassa as dificuldades neste (já não tão) novo mundo digital.

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Em tempo de novas tecnologias, ninguém quer ficar atrás quando se fala no salto para a Internet. O meio académico é um meio privilegiado, em que o contacto com as novas redes são não só importantes como essenciais para o enriquecimento dos estudantes. Muitos assumem que os jornais universitários, inseridos neste contexto de inovação, devem acompanhar essa evolução. Mas isso não se passa da mesma forma em todos os jornais. O JUP tenta aliar-se a estas novas potencialidades a passos cada vez maiores. Possui um site e um blog dos Espaços JUP, que destaca as actividades do NJAP (Núcleo de Jornalismo Académico do Porto). No entanto, ainda não tem um espaço fixo para distribuir informação na Internet. A ideia do site de notícias do JUP ainda é um projecto por concretizar.

“Por mais obsoleto que possa soar em 2010, falta um site actualizado. Mas só depois do mínimo de colaboradores assegurado é que partimos para o online”, explica Filipa Mora, directora da publicação. O que falta? “Tu, eu, nós e eles, os estudantes. Falta a equipa!”, pensa Manuel Ribeiro, também director. Enquanto isso, o jornal traça o seu caminho pelas redes sociais. Além da cobertura do Fantasporto através de um blog em parceria com o portal Rascunho.net, está presente no Twitter (ferramenta utilizada para a cobertura das Férias Desportivas) e em outros blogs, como o que cobriu a Queima das Fitas 2009 além das noites do Queimódromo e outro para trabalhos que não são publicados em papel. A pouco e pouco, o objectivo é chegar cada vez mais directamente aos estudantes.


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josé ferreira

Uma redacção à espera de mais colaboradores para arrancar com a edição online do JUP

O meio académico é um meio privilegiado, em que o contacto com as novas redes são não só importantes como essenciais para o enriquecimento dos estudantes.

Jornalismo universitário: intervenção continua em força na era da Internet?

“É difícil pensar um jornal universitário como o JUP que não seja (também) impresso em papel.”

A experiência dos bracarenses… A ideia de entrar de cabeça na vida dos estudantes através do meio que mais utilizam – a Internet – foi o que passou pela cabeça dos fundadores do ComUM, jornal dos estudantes de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Nascido no meio online, em Dezembro de 2005, sobrevive até hoje com vários colaboradores e histórias para contar. A experiência impresso/online é inversa aos outros congéneres: o jornal na Internet veio primeiro e, em 2008, lançaram uma versão impressa do jornal... que durou 9 edições. Primeiro semanalmente, depois quinzenalmente devido a “dificuldades em angariar fundos”, o projecto acabou por ser abandonado. Paulo Paulos, director do jornal bracarense, explica que “o ComUM impresso durou

apenas um semestre porque a equipa directiva, composta, na sua grande maioria, por alunos que estavam no 4º ano e foram estagiar, se desfez.”. Desde então, o ComUM voltou-se, mais uma vez em exclusivo, à edição online, onde continua de boa saúde. As dificuldades em manter a edição online prendem-se com a actualidade que se espera do que é publicado na Internet. “Muitas vezes perdemos alguma actualidade quando noticiamos, mas é complicado exigir mais numa redacção em que não há nenhum elemento profissional”, justifica o director do ComUM.

… e a dos conimbricenses O Jornal Universitário de Coimbra A Cabra nasceu em 1991, numa era onde ainda predominava o analógico. Em 2004, lança a sua versão online, que perdura até

hoje. As versões são distintas uma da outra, mas só desde o início deste ano lectivo é que, com a remodelação do site, houve maior facilidade para gerir e articular os conteúdos da versão impressa com a online. “Desta forma, por diversas vezes remetemos para o site entrevistas na íntegra que saem na edição impressa, assim como foto-reportagens sobre temas abordados no jornal”, explica João Ribeiro, director d’A Cabra. Vanessa Quitério, coordenadora do projecto online no ano passado, explica que existem diferenças entre a abordagem impressa e online. “Ambas se completam. Na Internet, pelo poder do imediato, do hoje e agora, as informações antecipavam as reportagens de profundidade de campo, levantavam o véu para o posterior esmiuçar do papel. Bem como a publicação de reportagens foto-

A presença dos jornais na Internet tornou-se essencial, particularmente os jornais que têm os universitários como público-alvo. gráficas, reacções mais momentâneas”, explica a jornalista. E ainda acrescenta: “O online é isso, é o explanar a realidade no agora”.

Desafios da transição A presença dos jornais na Internet tornou-se essencial, particularmente os jornais que têm os universitários como público-alvo. É um facto que os jovens lêem cada vez menos. O preocupante seria confirmar que os estudantes perderam interesse também por jornais feitos especificamente para si, como o são os jornais universitários. A solução passa por aproximar os jornais do seu público, aproveitando o meio onde este passa grande parte do seu tempo – a Internet – e as suas potencialidades. “No online o objectivo é dar as notícias da cidade e do mundo, do dia, acompanhando a realidade noticiosa”, relembra Vanessa Qui-

tério. A actualidade das notícias junta-se ao multimédia, à capacidade de dá-las a conhecer sob vários formatos, muito além do que a tinta e o papel permitem. Os textos mais curtos, as imagens mais apelativas, o “zapping cibernético” pelos vários conteúdos disponíveis podem ser a arma dos jornais para que os estudantes continuem a dar-lhes atenção. Para continuar a fazer parte da sua vida. Apesar de considerar ser difícil “pensar um jornal universitário como o JUP que não seja (também) impresso em papel”, Dino Almeida, antigo colaborador, não deixa de abordar a importância da adaptação aos novos meios: “não nos podemos esquecer que as universidades estão sempre na vanguarda e por isso não me admira que surjam alterações a esse nível”. Demos aqui exemplos daqueles que começam já a acompanhar este clima de mudança. A Cabra foi bem sucedida na transição, o ComUM começou directamente “na crista da onda”. O JUP, apesar da falta de um site, encontrou aqui e ali soluções para informar com imediatismo na Internet. Os jornais universitários são feitos por estudantes, para estudantes. Abordam questões pertinentes, como só o pode fazer quem está por dentro de quais são os problemas que afectam o seu mundo. Estará o público dos nossos jornais realmente a migrar para a Internet – onde teremos que “armar a tenda” e voltar a cativá-los – ou terá mesmo perdido grande parte do interesse sobre o que se passa no mundo imediatamente à sua volta? Apesar de a ligação com os jornais não ser a mesma de outros tempos, ainda há quem não desista de procurar informação. Para Dino Almeida, é necessário manter algumas características para continuar a suscitar o seu interesse e captar novos públicos: “Bons textos, boa grafia, actividade de reportagem intensa que cative leitores”. Na resposta a este desafio estarão sem dúvida presentes as próximas páginas do JUP – no papel e na Internet – onde se continuará a escrever novos capítulos da História do Jornal que completa hoje 23 anos de existência. ALINE FLOR E TATIANa HENRIQUES alinerflor@gmail.com, tatehenriques@gmail.com


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liliana pinho

O Vice-reitor da UP, Jorge Gonçalves é um dos mais entusiastas a esta iniciativa

Investigação ganha destaque no IJUP A Reitoria da Universidade do Porto foi palco de mais uma edição do Encontro de Jovens Investigadores. O evento decorreu entre os dias 17 e 19 de Fevereiro e contou com a participação de mais de 700 jovens. Promovido por uma vasta equipa de organização da Universidade do Porto (UP), o encontro de jovens investigadores tem “a investigação como pilar fundamental do conhecimento”. Foi o Reitor da Academia do Porto, Marques dos Santos, que procedeu à abertura da 3ª edição do evento no Salão Nobre da Reitoria. Para o Reitor, o IJUP pretende “entusiasmar novos actores e promover novos investigadores” no plano nacional de investigação, para o qual

“a UP tem tido uma contribuição considerável”. Destacou ainda a importância das novas competências que os jovens adquirem com este tipo de eventos, uma vez que este é dirigido a alunos do 1º e 2º ciclos das diferentes unidades orgânicas. Jorge Gonçalves, vice-reitor, considera o IJUP uma “iniciativa fundamental”, já que a “universidade é como o membro de um ecossistema – precisa do conhecimento para sobreviver”.“Numa sociedade como

a de hoje, tão exigente em termos de conhecimento, isto é uma mensagem e uma lição, que eu acho que está a ser apreendida por um grande número de jovens”, exalta. Este tipo de iniciativas “vai permitir descobrir novos talentos” e promover “a formação nas empresas”, mas, acima de tudo, contrariar a teoria do estudante passivo. “Ao envolver o estudante, passamos todos a fazer parte de uma comunidade de criação do conhecimento. E isto é uma contri-

buição importante. É um exemplo que nós esperamos que possa vir a marcar a evolução da universidade para o futuro”, salienta. Além de que incute nos participantes valores como auto-confiança, auto-estima e segurança que para o vice-reitor são fundamentais para preparar os jovens quer para enfrentar o futuro com mais confiança, mas também com mais humildade, “para ouvir as críticas que outros lhe vão apresentar”. Cria

no estudante a percepção de que aquilo que se conhece hoje não é um conhecimento sólido, mas algo que está em “constante mutação” e prepará-lo assim “para acompanhar melhor as evoluções desse conhecimento”. Não deixa de referir também o “papel nuclear deste projecto na universidade”, que se constrói com “muito trabalho”, afirma. A interdisciplinaridade e a internacionalização são as palavras de ordem, uma vez que “a Universidade do Porto pretende, cada vez mais, motivar os estudantes e atrair estudantes estrangeiros”. Encontravamse presentes na sessão delegações da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (UNESP), com quem a UP tem acordos de investigação. Os responsáveis das comitivas fizeram questão de sublinhar a importância e a excelência do projecto. Segundo Jorge Gonçalves, são colaborações que ultrapassam o IJUP. “A parceria com estas universidades faz com que os jovens conheçam como esse conhecimento se cria em outros contextos, noutra realidade” precisamente para adquirirem a confiança no seu trabalho. Quanto a possíveis acordos com outras universidades, Jorge Gonçalves referiu que “nós [Universidade do Porto] já estamos em diálogo com algumas universidades espanholas para os convidar a vir cá e obviamente estamos abertos a esse tipo de colaborações, de experiências enriquecedoras para ambas as partes”. Quer “para descobrir novas vocações e termos em breve novos jovens a engrossar o grupo de investigação da Universidade”, quer pela “possibilidade de abrir novos contactos entre a Universidade e a Sociedade.”

Iniciativa promove diferentes áreas de investigação Durante estes três dias foram apresentados diversos trabalhos de investigação realizados por alunos de todas as faculdades em sessões orais simultâneas em todo o edifício, destacando mais uma vez o espírito empreendedor da Universidade do Porto. Os alunos participantes no IJUP parecem estar de acordo quando à importância deste tipo de iniciativas para a sua formação e para a Academia do Porto. Sandra Soares está no 4º ano de Ciências Farmacêuticas e é a terceira vez que participa no IJUP: “comecei o primeiro trabalho e foram surgindo novas oportunidades, por isso fui continu-


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ando”. Considera que este tipo de iniciativas são “óptimas pelo convívio e pelas ideias que podem surgir para aplicar nos nossos projectos. É uma mais-valia para todos”. Tiago Garcia, aluno de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras, participou no IJUP com o trabalho “Arte da repetição: sobre a possibilidade de reprodução do stencil graffiti”. Para o participante, a principal vantagem do IJUP (no qual já participa pela segnda vez) é que este “permite que, ao estarmos seguros da nossa investigação, que esta ganhe visibilidade”. O nervosismo é inegável, “mas depois de estar em frente à audiência, a única preocupação é a de manter o público interessado”. Tiago Garcia salienta que “o IJUP contribui em muito para a confiança dos estudantes”. Todavia, não deixa de referir que “as sessões são pouco mais povoadas do que pelos próprios oradores”. De qualquer forma, considera que “a investigação científica deveria ser experimentada por todos os estudantes”. O dia de encerramento deu especial atenção às artes. Teresa Santos e Liliana Pinto, alunas de História da Arte da Faculdade de Letras, apresentaram o trabalho “Porto: Património Mundial – da Classificação à Intervenção”. Ambas viram no IJUP uma nova experiência a que não podiam faltar. Liliana Pinto realça que “houve trabalhos muito interessantes e que alcançaram as minhas expectativas”. Já Teresa Santos referiu a importância de iniciativas deste género, pois “além de nos permitir praticar e divulgar os trabalhos, pode ser uma porta aberta para experiências futuras a nível profissional”. A cidade do Porto foi a escolhida para o projecto das duas jovens. Teresa Santos faz um balanço positivo da apresentação: “acho que as pessoas se interessaram, porque também tem a ver com o Porto e portanto muitas pessoas senão vivem, trabalham ou estudam nesta cidade, o que faz com que se relacionem bem com o tema”. O IJUP reuniu muitos interessados e, para a próxima edição, Liliana Pinto apelou a uma melhor divulgação: “uma vez que isto é só divulgado na Internet”. Teresa Santos acrescentou ainda que “havia uma adesão superior se houvesse um contacto mais directo e se fosse explicada a vertente prática e utilitária destes eventos”.

o IJUP contribui em muito para a confiança dos estudantes” Tiago Garcia

Yuri Prado, aluno da delegação da Universidade de S. Paulo, apresentou uma investigação na área da música, sobre o Samba-enredo. Optou pela cidade do Porto pois “era o sítio ideal para a pesquisa que estava a desenvolver, tem ligações com a cultura brasileira. Eu sabia que o povo português já tinha uma ligação com a música brasileira, mas não pensei que fosse tanta”. O jovem brasileiro incentivou ainda a participação dos jovens na investigação científica, algo que para este “não é uma coisa maçante, mas que dá realmente prazer”. Yuri Prado exaltou a importância destas iniciativas, já que “incentiva quem não faz,

e porque divulga um espaço onde se pode trocar ideias”. No Brasil o número de eventos deste género é muito maior, mas para Yuri Prado “aqui a tendência também é para crescer cada vez mais”. Para Jorge Gonçalves, o balanço da 3ª edição do IJUP é positivo. “Houve muita participação, interacção, trabalhos de qualidade e, portanto, sob esse ponto de vista os objectivos foram atingidos”. Além disso, “se pensarmos que a maior parte dos estudantes que estão cá desempenham estas actividades sem qualquer incentivo financeiro, então, o balanço é mais que positivo”. Considera ainda que o aumento do número de partici-

pações em cada edição é um sinal optimista e que permite que o projecto cresça na Universidade. Quanto ao futuro, este é risonho. Já a pensar em futuras edições, o vice-reitor da UP espera que este número continue a crescer e que crie uma “nova geração de investigadores nas diferentes áreas”. Portanto, há todas as garantias de que “o projecto vai correr e crescer. Vamos ter aqui uma sementeira de uma nova geração de investigadores em Portugal”, conclui. Ana Rocha, Júlia Rocha, Liliana Pinho, Sofia Cristino ana.rocha93@gmail.com, julia_margarida@hotmail.com, eahlan@hotmail.com, sofia.cristino.90@gmail.com

Festa no Passos Manuel marca início de Close-Up Uma exposição no final de um curso de artes representa um momento marcante na vida do recém-licenciado. É neste âmbito que surge o projecto “Close-Up”. A iniciativa pretende dar a conhecer os trabalhos de alunos finalistas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) e será complementada por um ciclo de conferências e pela apresentação de um catálogo sobre o projecto. A sua orientação ficará a cargo do Professor João Cruz, docente da FBAUP. A apresentação irá decorrer entre 1 e 11 de Julho de 2010, na antiga sede na RDP, na Rua Cândido dos Reis. Márcia Novais, finalista de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes e responsável pela criação deste projecto, afirma que o Close-Up surgiu devido à “falta de plataformas que dêem a possibilidade das pessoas verem o trabalho de recém-licenciados” Assim, para os finalistas, este projecto deve ser encarado como “um momento de reflexão e uma oportunida-

miguel rodrigues

Cavalheiro foi um dos artistas convidados na apresentação

de”, assegura Guilherme Blanc, responsável pela gestão e planeamento curatorial do projecto. A apresentação formal do “Close-Up” teve lugar no Passos Manuel, no passado dia 6 de Fe-

vereiro. A festa teve início com a actuação de Cavalheiro, seguindose Labrador + PMA e, mais tarde, o Dj Set de Concorrência. O dinheiro arrecadado com a venda dos bilhetes vai custear a exposição e

o catálogo final. Segundo Guilherme Blanc, o principal objectivo da festa era “tornar o projecto público”, dando a conhecer ao Porto a iniciativa que dá agora os primeiros passos. Teresa Castro Viana


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Porto Poliglota Numa época em que falar mais de que uma língua é natural até para os mais pequenos, dar uns toques no Inglês já não basta. E se ‘de pequenino é que se torce o pepino’, a verdade é que nunca é tarde demais para aprender uma nova língua. Os estudos confirmam: aprender e dominar uma língua que não a materna traz confiança, versatilidade, além de uma nova sensibilidade para as subtilezas do falar. Confrontado com uma cultura multilingual que produz conhecimento em quantidades - e qualidades - diferentes, e na qual a tradução é ainda deficiente, o estudante vê-se constantemente na necessidade de compreender e explorar conhecimento em línguas que não o português. As soluções por vezes não são as melhores: os tradutores online falham e a tradução palavra a palavra pelo dicionário nem sempre é concordante com o sentido original. Entre o esforço exigido pelo descortinar de um texto complexo ou técnico e o ignorar de uma potencial fonte de conhecimento, muitos optam pela segunda opção. As consequências são francamente nefastas. A prova da importância crescente da capacidade de dominar uma língua estrangeira e do seu peso na educação e formação dos jovens estudantes, reflecte-se, por exemplo, nos vários cursos ligados às línguas disponíveis na Universidade do Porto. Apesar de, para os leigos, poder soar tudo à mesma coisa, os cursos de Línguas Aplicadas, Línguas e Relações Internacionais, e de Línguas, Literaturas e Culturas – já para não mencionar os cursos de Ciências da Linguagem - versam aspectos diferentes da Língua, sempre assente na aprendizagem de uma ou mais línguas estrangeiras.

Oferta para todos os gostos no Porto Para os menos dedicados, existem muitas opções para quem quer aprender línguas no Porto.

Os cursos disponibilizados pelo gabinete de Formação Contínua da FLUP, que vem em vários formatos, é um dos exemplos. O formato mais tradicional, com duração de um ano, ronda entre os 300 e os 600 euros (para alunos externos) e os 200 e 500 euros para alunos da UP. Oferece desde os mais tradicionais, como o Inglês, Alemão, Espanhol e Francês, até ao Romeno, Sueco, Húngaro, Hindi, Japonês e mesmo Persa. São vários os níveis para cada Língua. Em alternativa, existe ainda o formato intensivo que oferece os cursos de Inglês, Alemão, Francês, Espanhol e Italiano, com 2 níveis de dificuldade, entre os 100 e os 200 euros. Por norma, o período de inscrição dos primeiros é logo no início do ano, entre Julho e Setembro. Os cursos intensivos têm datas específicas que convém consultar com antecedência para a candidatura. Alguns destes cursos pedem uma prova de diagnóstico, para co-

locação no nível apropriado. De apontar que certas línguas são próprias ou tradicionais, em certos campos profissionais e académicos. É preciso ter em conta, para além do sempre obrigatório prazer em aprender uma língua nova, as futuras aplicações e a real relevância no seu dia-a-dia. Por exemplo, apesar de o Mandarim estar na moda, não será a língua mais útil para o trabalhador comum. Quanto as línguas da moda e às apostas seguras, não é fácil distinguir o rumo que se toma. Olhando para os dados fornecidos pelos cursos de línguas da FLUP, o Inglês continua a ser o curso mais procurado, seguido pelo Alemão e Espanhol, que nos últimos anos revelou um crescimento exponencial. Segue-se, surpreendentemente, o Mandarim, o Japonês e o Russo. O Francês, normalmente no grupo das línguas tradicionais, é um dos cursos menos escolhidos dentro deste formato

tradicional, mas um dos mais escolhidos no formato intensivo. Para aqueles que vêem no inglês uma aposta segura, talvez seja melhor reconsiderar – alguns sugerem que o inglês está banalizado hoje em dia. De facto, o Inglês é hoje mais uma exigência que uma maisvalia. Mas se a aposta for mesmo essa, convém investir na aprendizagem de um inglês técnico. Vale a pena recorrer aos chamados IELTS (International English Language

o Inglês continua a ser o curso mais procurado, seguido pelo Alemão e Espanhol, que nos últimos anos revelou um crescimento exponencial

Testing System), um sistema que mede através de exames extensivos (versando todas as partes do emprego da língua falada – compreensão oral e escrita, uso da gramática, expressão oral e escrita) o Inglês do examinado e o classifica em relação a um quadro de competências reconhecido universalmente. No Porto, este tipo de avaliação está disponível no British Council, que aceita candidaturas de alunos externos que queiram fazer o teste. Sempre que possível, há que optar por credenciais facilmente reconhecíveis no mundo do trabalho ou mesmo no mundo académico, caso esteja aberta a opção de estudar no estrangeiro. O Quadro Europeu Comum de referência para as Línguas é a alternativa europeia e foi criado como parte do projecto ’Aprendizagem de Línguas para a Cidadania Europeia’, entre 1989 e 1996. Descreve 6 níveis, baseados no domínio das competências orais e escritas, desde o utilizador elementar ao utilizador proficiente, a ser avaliadas por um Instituto ou pelo próprio utilizador que verifique as suas competências. É esta grelha que serve de base ao preenchimento do modelo de Curriculum Vitae proposto pela União Europeia. Tanto os IELTS, como outros métodos de classificação usados nos grandes institutos, como o Alliance Française e o Goethe Institut (que oferece adicionalmente Cursos à Distância), estão equiparados com a classificação do Quadro Europeu. Ana Pelaez e Inês Antunes

inês antunes

Para consultar 1. O quadro Europeu Comum de Referências para as Línguas Link: http://europass.cedefop. europa.eu/LanguageSelfAssessmentGrid/pt 2. British Council Sede: Rua do Breiner, 155. 4050126 Porto. Tlf.: 222 073 060 Link: http://www.britishcouncil. org/pt/portugal

Falar fluentemente mais que uma língua continua a ser uma maisvalia no mercado de trabalho

3. Goethe Institut Link: http://www.goethe.de/ins/ pt/lis/ 4. Alliance Française Link: http://www.alliancefr.pt/


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Mariana Catarino

Um novo olhar sobre a docência universitária artur costa

Kátia Ramos, docente na Universidade Federal de Pernambuco, apresentou o resultado da sua tese de doutoramento, em que conclui que o nível de ensino da Universidade do Porto está próximo do nível mundial. A autora alerta para o facto de o docente universitário não ter formação para ensinar, tal como os restantes docentes. Kátia Ramos afirma que o docente universitário “aprende a sê-lo com a prática e com a experiência que teve enquanto estudante”. A autora contou com a colaboração do Grupo de Investigação e Intervenção Pedagógica da Universidade do Porto (GIIPUP) na sua investigação que durou cerca de quatro anos. No seu

A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto promoveu o ciclo de “ Cinema e Educação”, nos dias 22, 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro. buco dá um “Excelente” aos professores pela sua vontade em melhorar e conclui afirmando que os docentes devem ter assente a sua responsabilidade de ensinar correctamente para que os alunos aprendam todos os conhecimentos importantes para a sua formação profissional. Carlinda Leite, presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Psicologia (FPCEUP), afirma que o livro “além de produzir conhecimento, gera intervenção”. A presidente ressalva o apoio da reitoria da Universidade do Porto, já que todo o apoio da UP é indispensável para este tipo de projectos. Na cerimónia de lançamento do livro, António Marques, representante da U. Porto editorial, elogiou a obra e louvou o esforço da editora no seu desenvolvimento e afirmação em Portugal. Centrada na qualidade das suas obras, António Marques defende que a U.Porto Editorial preocupa-se com o “carinho e tratamento que deve ser dado aos livros”.

o docente universitário “aprende a sê-lo com a prática e com a experiência que teve enquanto estudante” estudo, Kátia Ramos analisou nove das 14 faculdades da Universidade do Porto. Kátia Ramos agradeceu o apoio de todos os docentes e do GIIPUP no seu trabalho, referindo que o livro não foi somente escrito por ela, “mas por muitas outras mãos e corações”. A autora sente-se realizada com o resultado final, não apenas por produzir conhecimento, mas por marcar a história da docência universitária. “Trata-se de um obra em que os actores são também autores da história”, declara a autora. A professora da Universidade de Pernam-

A Educação como protagonista em Ciclo de Cinema

Nos dias 22, 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro o ciclo contou com a apresentação de três filmes, seguidos de um debate entre o público e o convidado. O JUP esteve presente na exibição do último filme do ciclo – “A Turma”, de Laurent Cantent. O filme, que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes, teve por base o livro do escritor, jornalista, professor e também actor principal François Bégaudeau. “A Turma” reproduz um ano lectivo na vida de um complicado liceu de Paris, onde Bégaudeau leccionou. Segundo a professora convidada, Isabel Batista, o filme “consegue um efeito do real bastante poderoso. Está muito bem feito e é um excelente recurso didáctico”. Os actores do filme são os alunos a quem o escritor deu aulas na realidade e sobre os quais escreveu, o que confere um realismo fora do comum ao filme exibido. Partindo do nome do filme em francês “ Entre Muros”, Isabel Batista começou a discussão. “A escola é uma instituição que tem que ter muros e faz falta um olhar diferente e trabalhar entre estes muros”, afirma. “É um espaço de vida fundamental, é a partir daí que começa muita coisa... A escola permite o acesso à sociedade, à democracia e é onde os alunos aprendem outros sistemas e modelos para além dos aprendidos em casa”, acrescenta. A professora fez uma reflexão sobre a ética profissional, discutindo-se onde acaba a fronteira entre o pesso-

direitos reservados

O filme “A Turma” foi o último a ser apresentado no Ciclo

al e o profissional. Isabel Batista questionou ainda até que ponto o docente deve envolver-se e relacionar-se com os alunos e respectivos problemas. Segundo a sua experiência profissional e pessoal, a professora fala do stress da profissão de docente, considerando-a “impossível”, mas também “a mais bela profissão do mundo”. A escola, como afirma a docente, “precisa de uma mudança de cultura tremenda e de uma mudança de sistema, já que a escola é um espaço de vida fundamental e um lugar de hospitalidade e cortesia”. Por fim, debateram-se o isolamento e separatismo sociais e as relações culturais dentro da escola e da sala de aula. Isabel Batista conclui que “a escola é, hoje, uma organização em sofrimento”. O caminho é “encarar as coisas de uma maneira diferente”.

O ciclo decorreu no auditório 1 da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e foi assistido sobretudo por professores e profissionais da educação, que participaram de forma activa nos debates. Os profissionais partilharam experiências e vivências, numa conversa quase informal, sempre orientada para temas relevantes a nível escolar e educacional. No dia 22 de Janeiro o filme exibido foi “A Língua das Borboletas”, de José Luís Cuerda, com a presença de Teresa Medina. No dia 29 do mesmo mês, os filmes em destaque foram “Zero em Comportamento”, de Jean Vigo e “En Rachâchant”, de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub. Os debates foram conduzidos pelos convidados Regina Guimarães e Saguenail, respectivamente. Eliana Macedo e Diana Ferreira


Sociedade

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A vida de um Jovem Investigador Numa actividade exigente e de desgaste, existem jovens investigadores que esquecem as dificuldades e os poucos apoios para prosseguirem o seu sonho. O que é um Jovem Investigador? De uma forma filosófica, é alguém que tem como objectivo uma busca incessante de descobrir, desvendar, inovar, alguma teoria que não foi provada ou optimizada em diversas áreas. Áreas essas tão díspares como a Biologia, Medicina, Ambiente, Matemática, Tecnologia, Economia, Gestão, História, Literatura, Filosofia, Psicologia, Comunicação e em todas que assumam uma vertente de investigação dos seus próprios conhecimentos e paradigmas. O lado juvenil desta busca, pode significar o ínicio da actividade como Investigador mas também mostra que esta é a parte mais activa do processo, mais prática, mais sonhadora, mais expectante e a mais visionária de uma investigação. O Jovem Investigador geralmente está inserido num projecto, seja de que natureza fôr, onde tem a seu cargo determinados objectivos a cumprir com um deadline definido (mas nem sempre). Esses objectivos podem ser traduzidos como processos fundamentais da investigação, como a pesquisa bibliográfica; a realização de testes para obter, processar e discutir dados; a inovação de novos testes, materiais ou teorias e, por fim, a apresentação dos resultados conseguidos. Um pouco como o método científico, o percurso da in-

vestigação resume-se a localizar um problema, planear algo inovador respondendo a esse problema, obter dados, através de testes, que comprovem a hipótese e apresentá-los à comunidade científica. A introdução à Investigação perante os estudantes de licenciatura, mestrado ou até mesmo recémlicenciados faz-se geralmente por “obrigação”: projectos de final de curso, tese de mestrado, estágios, etc. As instituições que acolhem estes estudantes por norma destinam-lhes pequenos trabalhos ligados a projectos de forma a ambientar e testar as capacidades de determinado Jovem Investigador. Quando obtêm “tempo de casa” suficiente ou avaliações excelentes as responsabilidades incrementam. A responsabilidade já não é aquele processo chato e repetitivo que se fez durante meses, passando a ser novos processos chatos e repetitivos, acompanhamento (leia-se guia turístico dentro da instituição) daquele estudante estrangeiro de ERASMUS ou de doutoramento, ou a trabalhar com os produtos mais nocivos para a saúde porque toda a gente se recusa a fazê-lo. É apenas uma forma irónica de caracterizar as novas tarefas que vão sendo delegadas. Apesar disso, a cada fase superada, o respeito e crédito pelo trabalho conseguido vai sendo justamente reconhecido como um bálsamo

para as expectativas um cientista. A vida de um Jovem Investigador, na minha visão de Jovem Investigador da área de Ambiente, de uma forma pragmática costuma ter um horário fléxivel, dependendo dos objectivos do dia tanto podem trabalhar 5 como 12 horas. Dependendo das responsabilidades de cada pessoa as horas tendem a aumentar até que se tornem workaholics. O quotidiano está repleto de processos de puro tédio de movimentos tal é o seu carácter repetitivo. Apesar de se vivenciar momentos de extrema dinâmica de acções, por vezes acaba-se encalhado num pcr de 2 horas com electrofere a seguir, contagem de colónias, micronúcleos ou dáfnias, HPLC com 30 amostras com tempos de corrida de meia hora, repicagens às paletes de báctérias, fungos ou outros espécimes e outros tantos nomes técnicos possíveis para definir um processo entediante. Semelhantes episódios deprimentes são as situações de falta de um produto específico que nunca mais chega, meses de trabalho intenso para um programa de estatística contradizer a teoria em causa ou aquele reagente que arruinou umas quantas amostras porque não estava em bom estado. Contundo a vida de um Investigador, jovem ou não, é extremamente aliciante. O testar novas hipóteses,

novas ideias, tem um efeito persuasivo pela procura de conhecimento, pelo estudo constante que, de uma forma constante , exige um grande empenho tanto a nível intectual como a nível laboratorial (operário por vezes). Como Michel Foucault disse um dia “saber é poder”. Poder de criar novas ideias, capacidade de construir obra nunca antes vista, realizar o impensável, estando na linha da frente do progresso, do futuro, antevendo toda a panóplia de possibilidades. O Investigador é parte integrante da inovação da nossa sociedade, da nossa vida, da nossa espécie e do nosso mundo. No entanto persistem grandes obstáculos na sociedade para o reconhecimento pleno do trabalho de um Jovem Investigador. Uma forma de exemplificar esses mesmos entraves são os testemunhos de Jovens Investigadores, fascinados e dedicados pela ciência, lutam

na procura de uma vida estável e monetáriamente justa. Mariana Leão, 23 anos e licenciada em Microbiologia dá-nos conta dos seus pensamentos: “no nosso País, por norma, para seguirmos uma carreira de investigação não podemos ficar só com uma licenciatura. Temos que optar por tirar um mestrado e um doutoramento. Ser licenciado não é suficiente para muitos laboratórios de investigação. Por saber isto, mal terminei a minha licenciatura decidi tirar doutoramento, porque só assim poderia fazer o que mais gostava. Como tinha uma média razoável e já algum trabalho científico publicado, decidi candidatar-me a doutoramento. Contudo, tirar um doutoramento hoje em dia não sai barato e é impossível pagá-lo por conta própria. Candidatei-me então a uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, pois é a


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miguel ramos

Investigação cientifica em curso num laboratório da U.P.

única instituição que financia a todos os níveis o aluno de doutoramento. Todavia, não quer dizer que esses financiamentos sejam muito bons”. Este último reparo de Mariana refere-se ao facto do estado desactualizado do regime de bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia, sem direito a descontos (podendo sempre optar pelo desconto voluntário), sem direito a 13º mês, e outras vantagens que num mundo empresarial são pedras basilares de um contrato de trabalho. Outro obstáculo frequente são os critérios de avaliação das candidaturas às bolsas. Francisco Fontes de Carvalho, 24 anos, Investigador, descreve esse mesmo facto: “para aceder a este tipo de bolsas é efectuada uma candidatura a nível nacional cujos critérios de selecção se baseiam, essencialmente, na média do candidato e número de artigos publicados em revistas

O Investigador é parte integrante da inovação da nossa sociedade, da nossa vida, da nossa espécie e do nosso mundo. científicas. O plano de trabalho, o local onde é realizado e os orientadores também são avaliados, no entanto com um peso menor. Sucede por isso que qualquer candidato que tenha terminado o seu curso com média superior a 15 valores mas sem qualquer conhecimento ou contacto com o mundo da investigação científica, à partida não terá quaisquer dificuldades em aceder a um doutoramento financiado com estes critérios. Se a média do candidato for inferior, resta-lhe a hipótese de conseguir

publicar artigos em revistas científicas, o que poderá implicar um ou mais anos de trabalho, sem quaisquer certezas de o conseguir. Normalmente nestes casos, existe a remota possibilidade de a instituição acolhedora conseguir uma bolsa de um ano (renovável até três) e de financiamento inferior.” Toda esta realidade torna-se por vezes num ciclo vicioso onde o investigador pode cair na “industrialização da actividade bolseira”. Francisco realça ainda a necessidade para uma “urgente reflexão e uma atitude no sentido de mudar o rumo das coisas” propondo uma nova política de atribuição de financiamento onde “as verbas disponibilizadas pelo estado ou pelas entidades privadas para este efeito, fossem atribuídas directamente às instituições acolhedoras, reservando-se a estes o direito de avaliar o mérito do trabalho proposto...”. São os desabafos de quem vive as dificuldades de um Jovem Investigador que mostram, uma vez mais, que ainda se faz ciência em Portugal por muito “amor à camisola”, pela ciência e pela esperança de que um dia tudo será melhor. Com a mesma dedicação e paixão pelo conhecimento muitos se mantêm, cultivando os sonhos de um futuro nesta profissão. Sonhos esses que podem passar por fazer Doutoramento e posterior Pós-Doutoramento idealizando subir a pirâmide hierárquica ambicionando um dia chegar a Professor Universitário ou chefe de Laboratório. Uma outra visão dos sonhos é ganhar experiência para mais tarde concorrer ao sector privado, sendo que não raras as vezes o currículo académico não é reconhecido pelas empresas ou instituições privadas. Não esquecendo a alternativa mais sonhadora, o de ser contagiado pela onda do empreendorismo, criando um empresa a partir de uma ideia fantástica que sempre teve em mente. Não se deixem enganar pelo discurso pesado, pessimista com predominância do queixume. Apesar das contrariedades, há força para continuar, há motivação para inovar, há energia para descobrir mais além, há dedicação pelo conhecimento. Miguel Ramos ramos_146@msn.com

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Empreender: a arte de dar forma ao sonho? manuel ribeiro

pelas leis da eficiência económica, mas vive-se com a leitura de poesia e lançamento de livros, a projecção de documentários, o debate e o exercício de uma cidadania que gera movimentos de intervenção social (exemplo da plataforma pela Economia Social e Solidária). Mesmo os princípios de organização laboral do Gato Vadio desafiam os canônes tradicionais da sociedade capitalista: existe igualdade salarial entre todos os que trabalham e não há lugar para a distinção entre trabalho intelectual e manual. Ou seja, a todos cabe limpar as teias de aranha.

Do Porto para o mundo No Gato Vadio “o que se empreende é a vitalidade da existência”

O dicionário diz-nos que empreender é agir, é dar os primeiros passos para realizar um objectivo. Procurámos casos de jovens empreendedores na cidade do Porto. Ser jovem e empreendedor é a receita mágica para o sucesso profissional no mundo em que vivemos. Esta é uma expressão que encontramos vezes sem conta no discurso dos políticos e dos empresários, nos media e nos programas de acção das instituições governamentais. Existem concursos e prémios que apoiam jovens talentosos na realização de ideias de negócio empreendedoras.

Sonhos Vadios “Não sei se o Gato se enquadra bem nesse artigo sobre empreendedorismo”, começa assim a nossa conversa com Júlio Gomes,

o mentor do Gato Vadio, espaço na Rua do Rosário que é Livraria e Café-Bar e muito mais. Talvez pelo estereóptipo de “jovem empreendedor” ser demasiado ortodoxo para a “filosofia de vadiagem” e “personalidade felina” da casa que Júlio, um jornalista que estudou na Universidade do Minho, abriu junto com a sua companheira Maja Marek, uma designer gráfica e ilustradora. Júlio já não consegue lembrarse do momento exacto em que o “sonho de querer viver entre os livros” surgiu. No entanto, diz-nos que a inspiração de criar o Gato Vadio está ligada a uma convicção forte de que “não de-

vemos abdicar de fazer aquilo que gostamos”. Outro dos propósitos do Gato Vadio é “combater a cultura dominante que não valoriza o questionamento”. Numa casa onde “o que se empreende é a vitalidade da existência”, o tempo não se rege

“as pessoas para serem criativas têm de ser estimuladas intelectualmente e de estar num ambiente caseiro e agradável”

Juntaram-se dois amigos, João Seabra e Pedro Marques, o mesmo é dizer imagem e som, com o objectivo de produzir animação para publicidade e cinema e criar um projecto em nome próprio. A Jump Willy, uma empresa de animação 3D, efeitos visuais e composição musical, nasceu na incubadora de empresas de som e imagem da Universidade Católica, e é composta por diversos alunos desta universidade. Já lá vão dois anos e meio desde que João Seabra, o artista de animação 3D e VFX (efeitos visuais), decide que é tempo de aceitar o desafio de Pedro Marques, compositor musical a trabalhar na Suécia na área de publicidade. Depois de alguns anos de experiência profissional, os dois amigos, que receberam o Prémio Jovem Criativo Europeu, decidem criar a Jump Willy. No primeiro ano mantêm os seus empregos investindo o dinheiro que conseguem juntar no arranque do novo projecto. “É preciso antes de tudo coragem para dar o primeiro passo”, explica João Seabra em conversa com o JUP. Outros “segredos de sucesso” deste projecto que

aponta são “o cuidado em escolher a equipa e em tratar as pessoas que trabalham na empresa como se fossem da família”. Isto porque, “os primeiros colaboradores que se contratam são os que fazem a empresa” e, continua, afirmando que “as pessoas para serem criativas têm de ser estimuladas intelectualmente e de estar num ambiente caseiro e agradável”. No último ano e meio, a Jump Willy executou projectos para empresas como a SAAB, BMW, Sony Ericsson, KIA, Stella Artois, focando-se essencialmente no mercado Escandinavo, mas também nos principais países da Europa e nos EUA. Não apostam tanto no mercado nacional, porque “ir a Londres a partir do Porto é mais rápido agora do que ir a Lisboa”. “A existência de ferramentas de trabalho colaborativo como o Skype que nos permitem dirigir uma orquestra a partir de um local distante e a excelente rede de internet que o país possui abrem caminho para o trabalho à distância”, explica-nos João Seabra.“Esta empresa há dez anos seria inviável”, conclui.

Procuram-se “Jovens Empreendedores” O Clube de Empreendedorismo da Universidade do Porto (CEdUP) e a Universidade do Porto Inovação (UPIN) promovem o iUP25k - Concurso de ideias de negócio, que está neste momento aberto a candidaturas dos estudantes e antigos alunos com idade até 35 anos. Este concurso, que decorre até ao próximo dia 8 de Março, irá premiar a melhor ideia de negócio com 15000 euros e atribuirá os Prémios “Empreendorismo Feminino”, “Empreendedorismo Jovem”e ainda o “Prémio do Público” (o mais votado no website oficial). Marisa Gonçalves Mais informações em http://iup25k.up.pt


JUPBOX

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rita gouveia

“Estados” de Sítio Rua do Almada Com a mutação constante da cidade do Porto, o JUP vem reservar o espaço desta rubrica para dar a conhecer o que os moradores e comerciantes de um sítio em particular da cidade do Porto, pensa, sente e como pretende melhorar o seu local. Como ponto de partida escolhemos a Rua do Almada. Foi aberta entre 1761 e 1768 no seguimento da reestruturação urbanística da cidade do Porto pela Junta de Obras Públicas, administrada por João de Almada e Melo, grande reformista que doou o nome a rua. Durante muitos anos o comércio sempre foi a principal actividade e a burguesia o principal grupo dinamizador, fazendo com que fosse uma rua repleta de lojas de ferragens e outras actividades. Hoje em dia, descendo a rua desde a Praça da República até a Rua dos Clérigos, podemos ver que muitas lojas se encontram abandonadas e larga parte dos edifícios estão degradados. No

entanto, após vários anos de um gradual abandono de comerciantes, a rua revitaliza-se com a abertura de novos espaços comerciais. O JUP através dos depoimentos de vários comerciantes dará a conhecer o estado de espírito da rua através de quem da vida ao sítio. O amontoar de caixas nas estantes e o expositor de maçanetas nas paredes que forram a sala dão forma e cor ao ambiente que sempre caracterizou a mais antiga casa de ferragens ainda em actividade da rua, a Viúva Victória. Activa e intocável desde 1876, carregada de história é a única casa que permanece dos tempos gloriosos do Almada. Em conversa com o responsável da loja que não se quis identificar refere que os problemas da rua são a desertificação dos comerciantes, o desaparecimento dos grandes armazéns, a falta de estacionamento e a falta de condições de trabalho. “Cada porta da rua era uma loja de ferragens; era a rua mais rica da cidade”! Há 40 anos atrás a rua era completa-

mente diferente, cheia de movimento e prosperando em riqueza. Vinham até compradores de fora, de Trás-os-Montes e Minho. Considera também que há muitos problemas legais a serem resolvidos para que se possa melhorar as condições de vida e trabalho na rua. Acredita que a rua não vai voltar a ser o que era, pelo contrário, a tendência é que desapareça o comércio tradicional das ferragens. O depoimento de José Baptista, empregado da Raul Santos, Lda confirma o que se ouviu na Viúva Victória. Acredita que a Rua do Almada já não é o que era. “Sofreu uma transformação brutal nos últimos vinte anos. Os comerciantes tradicionais desapareceram em grande parte, restando apenas meia dúzia das lojas originais ou de lojas de ferragens”. A falta de estacionamento e de condições de trabalho são apontadas como o principal factor de desertificação dos comerciantes.Acrescenta ainda que na rua habitam maioritariamente idosos, e que esta é cada

vez uma situação mais precária. Manuel Fernandes, dono da FZ, acrescenta que muitas lojas e armazéns desertaram porque já não tinham condições de trabalho, manifestando grandes dificuldades nas cargas e descargas da mercadoria, situação que se intensificou com as alterações feitas nos passeios da rua há uns atrás. As únicas lojas de ferragens que permanecem são aquelas mais pequenas de venda a retalho e que, como diz “se vão aguentando”. Na sua opinião a abertura de novas lojas, concentradas sobretudo na parte superior da rua junto à Praça da República, é um factor positivo porque vai mantendo a rua viva. Em relação às pinturas de streetart manifesta desagrado dizendo que dão uma má imagem à rua. Como alternativa para o melhoramento da rua, quer a nível comercial quer a nível social, aponta a recuperação dos prédios, de modo a melhorar as condições de vida dos poucos habitantes e dos comerciantes. Na Casa Almada, loja especializa-

da em mobiliário vintage aberta desde 2007, Susana Beirão refere que se considera satisfeita com as vendas no caso da sua loja, isto porque têm um nicho de compradores muito específico. Contudo esperavam mais apoio por parte da Câmara Municipal, no que respeita ao tratamento da rua. Escolheram a Rua do Almada para estabelecerem o seu negócio “devido à sua carga histórica ligada ao comércio” e porque garantem que “a nossa loja tinha de estar na Baixa”, portanto decidiram unir estes factores a um bom preço de compra do imóvel. Como aspectos negativos, assinala também a falta de estacionamento, a falta de limpeza e acrescenta o perigo de derrocada a qualquer momento, assim como acredita que por detrás do melhoramento da rua estão questões sociais ligadas aos habitantes. Leandro Rodrigues E Rita Gouveia leandro_rodrigues1982@hotmail.com, ritagram2@gmail.com


UPorto

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Mar e Indústrias Criativas em destaque 8ª Mostra da U.Porto: 25 a 28 de Março para “quatros dias de informação, experimentação e descoberta” direitos reservados

dústrias criativas e o mar.

Novo mapa da Universidade

A Mostra da U.Porto decorrerá no Palácio de Cristal

Esta é a oitava edição deste evento anual no qual a Universidade do Porto se apresenta à cidade e aos seus potenciais estudantes. Em 2009 a mostra foi visitada por mais de 14.000 pessoas. A aposta da Universidade é a de se mostrar no seu melhor dando a conhecer as suas actividades de ensino, investigação, inovação e interacção com a comunidade. Esse o motivo que tem deslocado para a Mostra professores e investigadores de renome, concentrando no Pavilhão Rosa Mota parte significativa da “massa crítica” da instituição, o que por si só seria razão suficiente para uma visita atenta e com tempo para o diálogo com profissionais que habitualmente só poderia acontecer na sala de aula, no laboratório ou em conferências especializadas e com estudantes que acolhem os interessados no espaço próprio de cada faculdade e unidade de investigação e podem dar conta da sua experiência. Sem fronteiras, como o conhecimento, a instituição vive também das transversalidades que cria. Essa é a temática principal da edição deste ano, que se assinala pela apresentação à cidade de dois pólos criados recentemente pelo Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC)

22 de Março Viriato Soromenho Marques (Professor da Faculdade de Letras da UL), responsável pelo Programa Ambiente da Gulbenkian é o orador convidado para a sessão solene de comemoração do 99º aniversário da Universidade do Porto. Fala sobre “Ambiente, Energia e Sustentabilidade”. Programa: abertura - Luís Portela, presidente do CG da U.Porto; Sérgio Joaquim Guedes da Silva (antigo aluno da FEUP, consultor da ONU para o Programa Mundial de Alimentação); entrega do Prémio Incentivo; Rui Ferreira e Reis, em representação dos estudantes; Felicidade Lourenço (FMDUP), em representação dos funcionários não docentes; entrega do Prémio Excelência e-Learning U.Porto; Proclamação dos Professores Eméritos da Universidade; encerramento pelo Reitor da Universidade.

a partir de sinergias entre investigação e inovação, e que cobrem duas grandes áreas de desenvolvimento estratégico da Universidade: as in-

As competências transversais requeridas por cada área e a conjugação do know how extistente em direcções que surgem da intersecção de interesses, meios, agentes e tecnologias, constituem uma mais valia para a produção de conhecimento e criam oportunidades de negócio. Certo é que a concentração de esforços se concretizou em espaços físicos: o centro da cidade para o PINC (pólo de Indústrias Criativas) que reúne a formação, produção de conteúdos, tecnologias e equipamentos, albergando na Praça Coronel Pacheco o curso de Ciências da Comunicação, o Jornal Público, a Rádio Nova e a agência Lusa, e que vai acolher uma delegação da empresa Produções Fictícias; uma zona relevante do Porto de Leixões para o pólo do mar, com espaços destinados ao CIIMAR no novo terminal de cruzeiros (a sul) e, junto do antigo edifício sanidade (a norte), uma extensão da UPTEC para o sector do mar, com incubação de empresas (quatro já instaladas) e serviços à comunidade. Para antecipar o que poderá vir a ser o seu alcance, foi privilegiada a vertente experimental. Via Laboratório de Sistemas e Tecnologias Subaquáticas (FEUP), diversos sensores irão monitorizar o estado do ambiente no Pavilhão e na cidade. Do lado das Indústrias Criativas um video wall promete passar continuamente conteúdos produzidos para o local e, durante o evento, as muito mediáticas Produções Fictícias, deslocam para a Mostra a maratona de 24h de produção e edição de vídeo “Faz-me um bídeo”. Também ligado ao PINC e na vertente ligação da electrónica ao movimento, está a ser produzido um espectáculo de ginástica rítmica e multimédia.

AGENDA

5ª EDIÇÃO

4, 11 E 18 DE MARÇO

Concurso para monitores da U.Júnior abre em Abril

SCREENLABS – A CIÊNCIA NO CINEMA Passos Manuel dia 4: “I am a Legend”, de Francis Lawrence; dia 11: Selecção U.FRAME – vídeo universitário; Dia 18:“Mary Shelley´s Frankenstein”, de Kenneth Branagh

18 DE MARÇO A 27 DE MAIO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA – CICLO DE CONFERÊNCIAS Dia 18: Salão Nobre da Reitoria, 18h: Fátima Marinho (FLUP); Dia 25: Anfiteatro Nobre da FLUP, 18h: António Ventura (FLUL).

12 DE MARÇO A 17 DE ABRIL EXPOSIÇÃO “IMAGENS PARA A DIGNIDADE” Antigo átrio de Química, Reitoria da Universidade do Porto

ATÉ 15 DE MARÇO CONCURSO DE IDEIAS PARA ARRANJO EXTERIOR E DESENHO DE COBERTURA EXTERIOR NO JARDIM DO E-LEARNING CAFÉ Equipas de 5 elementos, incluindo pelo menos: 1 da FAUP; 1 do Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público da FBAUP e 1 de Arquitectura Paisagista da FCUP.

22 DE MARÇO DIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Reitoria da Universidade do Porto, 9h30.

A primeira fase do concurso para monitores da Universidade Júnior decorrerá entre 5 e 16 de Abril. Os concorrentes deverão ter concluído, no mínimo, o segundo ano lectivo do ensino superior e possuir formação adequada aos projectos a que concorrem. Os interessados deverão consultar o portal desta iniciativa da Universidade do Porto, em http:// universidadejunior.up.pt, procurar os projectos com concurso aberto para monitores e reunir os elementos pedidos. Caso as vagas não tenham sido preenchidas, está prevista uma segunda fase de concurso. As funções de monitor desempenhar-se-ão no tempo correspondente à duração do projecto. Os candidatos seleccionados participarão num curso de formação pedagógica de um dia, a decorrer na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto e receberão 187,5 euros por semanas de actividade. O período de inscrições na Universidade Júnior, para os jovens em idade escolar, abre dia 25 de Março, segundo dia da Mostra da U.Porto.

23 A 25 DE MARÇO “FEUP FIRST JOB” Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP)

25 A 28 DE MARÇO 8ª MOSTRA DA U.PORTO Pavilhão Rosa Mota Quinta e sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 23h, domingo, das 11h às 19h.

ATÉ 26 DE MARÇO EXPOSIÇÃO “ARTISTAS DO JOGO – A ARTE COMO LUGAR DE PASSAGEM ENTRE DESPORTO E CIÊNCIA” FADEUP http://nomadic.up.pt

U.Junior: concurso para monitores de 5 a 16 de Abril


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31 de janeiro:

no passado e no presente No dia 31 de Janeiro de 1891, no Porto, deu-se um levantamento militar contra as cedências do Governo e da Coroa ao ultimato britânico de 1890 por causa do Mapa Cor-de-Rosa. De madrugada o Batalhão de Caçadores nº9, liderados por sargentos, dirigem-se para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República. Descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouvem Alves da Veiga proclamar da varanda a Implantação da República. Depois sobem a Rua de Santo António, em direcção à Praça da Batalha, para tomar a estação de Correios e Telégrafos. São barrados por um destacamento da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. Em resposta a dois tiros que se crê terem partido da multidão, a Guarda solta uma descarga de fuzilaria vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. Os civis entram em debandada e com eles alguns soldados. Terão sido mortos 12 revoltosos e feridos 40.

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Revive-se os combates entre republicanos e monárquicos

Imortalizada nesta fotografia temos o momento em que militares e populares se reúnem na actual Praça da República para avançar para a luta

2 Na recriação os populares avançam juntamente com os militares e aclamam a república

3 Os revoltosos fogem à fuzilaria monárquica

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5 Nesta maqueta podemos ver o percurso seguido pelos militares e os locais defendidos pela guarda leal à monarquia

texto de josé ferreira fotos de manuel ribeiro hermesmarana@hotmail.com, jozeribeiro@gmail.com


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Stefanie Harzbecher

Portugal já tem um forte palmarés na modalidade

Rugby Sevens 2010: tudo a postos para receber os melhores O Porto vai receber pela primeira vez o Campeonato do Mundo de Rugby Sevens Universitário, de 21 a 24 de Julho. Já há 40 selecções inscritas.

O Mundial de Rugby Sevens é a grande aposta da UP para 2010, na área do desporto. Quando faltam cerca de 5 meses para o início da competição, a organização continua a trabalhar a todo o gás para preparar o Mundial. Já terminou o prazo das inscrições, e, no total, foram 40 as selecções (masculinas e femininas) que apresentaram a sua candidatura à prova. Entretanto, a UP ultima alguns pormenores, para que tudo esteja a postos a 21 de Julho, data de início do Mundial.

África do Sul e Espanha defendem o título Ao todo, são já 40 selecções que, ao que tudo indica, vão viajar até ao Porto para jogarem na 4ª Edição do Mundial de Rugby Sevens (26 masculinas e 17 femininas). Na competição masculina, o favoritismo vai, naturalmente, para a África do Sul, actual campeã em títu-


Pedro Janeirinho

O Rugby de 7 ganha cada vez mais adeptos

lo. No entanto, a luta deverá ser intensa. É que os africanos terão pela frente equipas de grande valor. A Espanha, actual vice-campeã mundial universitária, surge também como forte candidata. Já a Rússia e a Austrália partem no lote dos favoritos, mas sem a pressão das outras duas selecções. Portugal ficou em 7º na última edição do Mundial Universitário, mas o factor casa pode ajudar os portugueses a melhorar essa prestação. De resto, a aposta é forte: Tomaz Morais está confirmado como treinador da selecção universitária, e o bom momento que os “Lobos” atravessam pode ajudar a conseguir maior apoio do público. Bruno Almeida, Director do Gabinete de Desporto da UP, refere que Portugal tentará chegar mais longe. “Como anfitrião, Portugal tem que fazer boa figura!”, afirma o responsável do GADUP. “A presença do

Tomaz Morais é importante para esse objectivo, porque é muito respeitado e conhece muito bem os jogadores”, acrescenta.Vários jogadores da Selecção Nacional de Rugby são ainda estudantes universitários, e portanto poderão representar a Selecção Universitária de Rugby Sevens neste Mundial. Portugal tem um historial forte no Rugby Sevens, com as seis vitórias no European Sevens, ou o segundo lugar nos World Games. A prova masculina contará ainda com a presença de várias selecções mais “exóticas”, como o Cazaquistão, o Uganda ou o Guam. Na prova feminina, a Espanha é a principal candidata, entre as 17 selecções presentes. Na última edição do Mundial Universitário, foram as “nuestras hermanas” a subir ao lugar mais alto do pódio. A rivalizar com as espanholas deverão estar países como a Austrália ou a África

África do Sul (Masculinos) e Espanha (Feminino) levantaram o troféu na última edição da prova do Sul. Portugal vai-se estrear no Rugby Sevens Universitário Feminino, e há alguma expectativa para ver até onde podem chegar as jogadoras portuguesas.

Protocolos e parcerias confirmados Nos últimos dias, a organização do Rugby Sevens 2010 anunciou que já está escolhida a bola oficial para a competição. A escolha recaiu sobre a bola Gilbert (da empresa com o mesmo nome), que já foi utilizada nas últimas edições do

Campeonato Mundial de Rugby Universitário. A proposta da Gilbert foi aprovada pela Federação Portuguesa de Rugby. Fora do campo, a competição também ganha forma. O palco do Mundial já está confirmado há algum tempo: o Estádio do Bessa Século XXI vai acolher todos os jogos da prova, graças a uma parceria entre o Comité de Organização do Mundial, a Câmara Municipal do Porto e o Boavista FC. O Bessa, remodelado totalmente em 2003, é um Estádio de grande dimensão, que pode receber cerca de 30 mil espectadores. Segundo os responsáveis pelo Mundial Rugby Sevens 2010, o Estádio do Bessa oferece excelentes condições para a realização da prova. As parcerias estendem-se ainda a outras áreas. A UP e a Organização do Mundial já anunciou que existe um protocolo entre o Campeonato Mundial 2010 e os dois maiores hospitais da cidade do Porto, o Hospital S. João e o Hospital Sto. António. Estes dois hospitais estarão preparados para receber qualquer atleta que sofra alguma lesão gravidade, ou para responder a qualquer acidente que ocorra durante a competição. Ao mesmo tempo, no site oficial da prova, pode-se ainda ler que estão a ser finalizados protocolos com os Bombeiros, médicos de emergência (INEM) e outro pessoal médico. Por fim, já foram estabelecidas parcerias com os STCP, Metro do Porto e CP, para assegurar o transporte dos atletas, e com um hotel em Gaia, que deverá assegurar o alojamento das comitivas presentes no Porto. Neste momento ainda decorre uma campanha de recrutamento de voluntários para colaborar na organização do Rugby Sevens 2010. O programa de voluntariado foi lançado pela própria Universidade do Porto. Recentemente, o Professor Manuel Janeira, um dos principais promotores do Rugby Sevens 2010, referiu, numa entrevista, que esta competição poderá lançar as bases para a UP conseguir organizar outros eventos desportivos desta dimensão. Ao mesmo tempo, o académico refere que existe a possibilidade de a competição ser transmitida em directo na televisão, o que seria “uma grande oportunidade de negócio para al-

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Rugby Sevens

O rugby de sete surgiu em 1883, na Escócia, mas foi apenas na década de 70 que se espalhou pelo mundo. As principais competições são o Campeonato Mundial de Rugby Sevens, disputado desde 1993, e a IRB Sevens World Series, criada em 1999. A modalidade será incluída, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos em 2016. O rugby sevens distingue-se da modalidade tradicional pelo menor número de jogadores – sete, em vez de quinze – e por regras que tornam o jogo mais rápido e fluído. Os jogos têm duas partes de sete minutos, em vez de 40, pelo que as competições costumam fazer-se em poucos dias. As equipas são formadas por três avançados e quatro defesas (um dos quais faz a ligação entre as duas partes, o scrum-half). O sistema de pontos é igual ao do rugby tradicional. Muitos jogadores de sevens pertencem também a equipas de rugby de 15.

gumas empresas”. No entanto, o grande obstáculo, segundo Janeira, poderá ser o Mundial de Futebol, que acaba apnas 15 dias antes do início do Rugby Sevens 2010, o que pode relegar o campeonato universitário para segundo plano. francisco ferreira fd.francisco@gmail.com


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Desafio Seat já arrancou A 4ª edição do Desafio Seat conta com novidades no formato dos testes de selecção e na prova final. Duarte Sá Mota (FEUP) e Roberto Manuel Silva (FEUP) vão ser os representantes da Universidade do Porto no Desafio Seat by Vodafone. Os dois pilotos vão agora frequentar um pequeno curso no Cirucito do Estoril, para depois disputar a corrida final, também na pista do Estoril. A final da prova está marcada para 17 de Abril. Os dois estudantes da FEUP fazem parte de um grupo de 20 apurados após uma série de testes no Kartódromo de Braga, que contou com mais de 200 participantes, no dia 3 de Fevereiro. No total, serão seleccionados 40 alunos a nível

direitos reservados

CDUP com estatuto mas dificuldades Perto de celebrar os 50 anos, a equipa de Rugby do Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP) é hoje uma das mais emblemáticas no panorama nacional do Rugby. O bom ambiente e a força de vontade são as principais razões do sucesso, apesar de hoje as dificuldades serem muitas. O Rugby é o segundo maior desporto de equipas a nível mundial, mas em Portugal ganhou especial expressividade depois da mediática participação da selecção portuguesa no Mundial de Rugby de 2007, em França. A equipa do CDUP não foi excepção e viu o número de atletas aumentar consideravelmente. Hoje, é um dos três maiores clubes nacio-

nais e mantém o estatuto de maior clube do Norte do país. A formação portuense foi a equipa que teve mais atletas representados no último Mundial, e o jogador mais internacional de sempre, Joaquim Ferreira, é também uma figura do clube. O CDUP compete em todos os escalões de formação e tem ainda uma equipa feminina. Mas o grande número de atletas veio acentuar uma das maiores dificuldades do clube, não só para o Rugby, mas para todas as modalidades: a falta de infra-estruturas. Devido às divergências existentes entre a Universidade do Porto e o CDUP, o Estádio Universitário carece de manutenção e está cada vez mais degradado. De resto, o Rugby

nacional, 2 de cada Instituição de Ensino Superior. Estes 40 pilotos vão competir pela vitória final, atribuída à Universidade que fizer mais pontos no Estoril. Neste momento, estão ainda 20 concorrentes por apurar. A última prova de selecção vai-se realizar no Circuito de Palmela, no dia 3 de Março. Assim que estiverem conhecidos os 40 apurados, começa o Curso de Pilotagem, no Circuito do Estoril (14 de Abril). Por fim, no dia 17 de Abril, os alunos vão competir na corrida final, a última fase do desafio.

Algumas novidades em 2010 Mónica Anjos, responsável pela divulgação e promoção do evento, revelou que a edição deste ano contou com um “recorde de mais de 5 mil inscritos”. Além disso, a responsável da Publiracing sublinhou que as fases de testes vão “continuar a ser feitas em Kartódromos”, ao contrário do que acontecia em anos anteriores. Também na fase final há uma novidade: nas edições anteriores, existiam duas corridas diferentes para os dois alunos de cada universidade. No entanto, este ano, vai haver apenas uma única corrida, com troca de pilotos a meio, para “criar mais espírito de equipa entre os alunos”, refere Mónica Anjos.

breves

UP domina Campeonatos Nacionais de Pista Coberta Com 7 primeiros lugares, a Universidade do Porto foi a grande vencedora dos Campeonatos Nacionais Universitários de Atletismo em Pista Coberta. A Universidade do Porto partia como favorita nos Campeonatos Nacionais de Atletismo em Pista Coberta, disputados em Pombal, e cumpriu as expectativas. Com uma pontuação final de 129 pontos, os portuenses foram os mais fortes em quase todas as provas. Os atletas portuenses conquistaram sete primeiros lugares, com destaque para os triunfos nas estafetas de 4x200 (Masculinos e Femininos), e para o Salto em Altura (Feminino), em que o pódio foi todo composto por atletas da UP. Na classificação final, a UP surge no primeiro posto (129 pontos), seguida da Universidade de Lisboa (110 pontos) e do

IP Leiria (62 pontos). No total, foram 180 atletas que marcaram presença na prova que abriu o calendário de provas de 2010. De entre as 17 Universidades em competição, a UP foi a que teve mais atletas presentes (29). Já o IPP (Instituto Politécnico do Porto), contou com a presença de 17 atletas. De referir ainda que, graças à parceria entre Federação Académica de Desporto Universitário e a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD), 12 atletas com deficiência também competiram neste Campeonato de Atletismo em Pista Coberta. Os desportistas inscritos na FPDD disputaram 3 provas: 60 metros planos, Salto em Comprimento e 200 metros planos. Francisco Ferreira

Sara Sousa e Diana Ferreira

UP vira-se para o mar

é actualmente a única modalidade que ainda usa aquele relvado, mas apenas para os treinos. Os jogos são realizados no Complexo Desportivo da Lousada, o que implica custos de aluguer do espaço e de transporte, o que acaba por significar muito menos público para o CDUP. Para Bernardo Pinto, treinador do escalão sub-14 do CDUP, as infra-estruturas e os problemas económicos são, neste momento, as principais dificuldades do clube. “Só há apoios para o futebol”, acusa. O técnico destaca a capacidade dos atletas em ultrapassar as adversidades, bem como o espírito de união e companheirismo, fruto das muitas viagens que fazem. No próximo Mundial de Rugby Sevens, organizado pela UP, esperase que o CDUP esteja representado por alguns dos seus atletas, que também são estudantes universitários. Enquanto isso, alguns dos jogadores mais novos já se inscreveram como voluntários, para ajudar na organização da competição. Vera Tavares

Surf e Kitesurf são as novas apostas do Gabinete de Actividades de Desportivas da Universidade do Porto (Gadup) para os estudantes da UP. As inscrições ainda não abriram, mas já há alunos interessados. A praia vai chegar mais cedo para os estudantes da UP, graças às novas propostas do GADUP: Surf e KiteSurf. Os estudantes portuenses poderão praticar estes dois desportos, depois de uma parceria entre o Gabinete de Desporto da UP e a escola de Surf “Onda Pura”. De acordo com Bruno Almeida, do GADUP, o objectivo é “aumentar a oferta de actividades desportivas à comunidade universitária, a um preço mais baixo”. Apesar das inscrições ainda não terem aberto oficialmente, Bruno Almeida revela que já houve um número considerável de estudantes que pediram mais informações sobre estes dois novos desportos, e a adesão à iniciativa tem sido “bastante positiva”. Os estudantes da UP que se ins-

JP Rocha

creverem nas aulas através do GADUP terão um desconto de cerca de 50% e, para os que se dirigirem directamente à escola Onda Pura rondará os 20%. Todo o material técnico necessário é fornecido pela escola de Surf. Aos estudantes, pede-se apenas que levem fato de banho, toalha e protector solar. Vera Tavares


Filipe Pedro

Entrevista Valter Hugo Mãe

A máquina de fazer espanhóis para explicar a engrenagem portuguesa Em seu mais novo livro, o escritor faz importantes reflexões sobre o século passado e que culminam numa análise da actual conjuntura do país.

meus livros. O discurso que eu construo procura explicar-me, sobretudo, a mim como cidadão e como ser humano, explicar o mundo e os outros. Por isso há uma componente de grande gozo artístico na obra, mas também de quase uma certa utilidade da obra. Cada livro funciona para mim, de facto, como uma oficina de aprendizagem. Se os personagens não fazem parte efectivamente do seu mundo, então o processo de alteridade ocorre com a descoberta de si em personagens distantes do mundo em que você vive? É realmente uma relação de alteridade. As personagens, ainda que factualmente não existam, propendem para uma evidência humana, uma sensação humana que tanto quanto possível pretende criar em mim e no leitor uma veracidade, uma ideia de verdade. Eu costumo dizer que a grande vitória de um livro meu está no facto de alguém dizer que uma personagem, por mais irreal que possa ser, chega à memória como um património afectivo e emotivo. Os grandes livros de que eu sempre mais gostei são aqueles que me deixam um personagem para a vida, que me deixam a memória de ter conhecido e de ter convivido com alguém. Eu gosto de recorrer a essa utopia e fico felicíssimo quando as pessoas me dizem que não conseguem esquecer a Maria da Graça ou o Baltazar Serapião, por exemplo, e agora o seu António Silva, que é profundamente inquietante a ponto de depois de lerem o livro continuarem dias a pensar acerca dele. O envelhecimento é uma das temáticas que surge a partir de uma reflexão filosófica e só depois é que se estende para a reflexão do que é Portugal hoje. O ponto fundamental do livro tem que ver com essa entrada dramática na cabeça de um octogenário para percebermos que revolução é essa a de estar vivo tão ao pé da morte, de estar vivo quando a morte é mais do que uma possibilidade, é uma probabilidade. Todos os restantes temas, como aqueles que envolvem temáticas portuguesas, são uma roupagem que vão sublinhando a ideia fundamental

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Segundo Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta e convidado especial no lançamento do livro, no Porto, em meados de Fevereiro, a máquina de fazer espanhóis “é angustiante e divertida, com uma forte memória analítica do que é Portugal aliada às histórias pessoais das personagens”. Para o actor Rui Spranger, trata-se de “uma obra que nos leva do choro ao riso e que consegue na prosa manter a poesia num estado muito elevado”. O que o público pode esperar de “a máquina de fazer espanhóis”? Um livro com uma ligação muito forte ao tema da terceira idade e à ideia da precipitação para o fim da vida. Uma história contada a partir de episódios com um certo humor e sobre gente comum, gente simples que enfrenta a vida tal qual ela é. A vida, o instinto de sobrevivência já é uma grande aventura e esse livro é mais uma aventura de estar vivo. O seu romance está sempre à margem, isto é, explora fronteiras muitas vezes ignoradas? Sim, eu parto para os meus romances sempre por aproximações, tento chegar ao entendimento do que pode ser a vida de outra pessoa que não eu. Por isso os meus romances nunca são autobiográficos, eu procuro fazer essas aproximações a partir de quem vê, de quem assiste, de quem presta atenção àquilo que não é óbvio ou que não está propriamente no lugar central das preocupações. Interessa-me esse cuidado com as pessoas que estão de alguma forma desfavorecidas, injustiçadas, interessame entender porque o estão e como poderíamos ultrapassar esses problemas. Na sua escolha estética não há uma pureza na linguagem literária. Existe sempre a recorrência a outros âmbitos, como a Filosofia e a Sociologia, por exemplo. Há uma tendência para não esgotar a literatura somente na literatura. O exercício puramente estético – sem um conteúdo que seja relevante axiologicamente, que humanamente não tenha relevo – não me interessa muito. Posso apreciar na obra de outros autores a proposta e o debate puramente estéticos, mas isso não me é natural esgotar nos

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isso os meus romances nunca são autobiográficos, eu procuro fazer essas aproximações a partir de quem vê, de quem assiste”

Esse livro é isso, é uma máquina de conhecer as emoções de um octogenário”

ainda inventamos um Criador tão poderoso que teria criado um campo de flores bonitas por onde poderíamos passear depois de mortos”

de percebermos a idade das pessoas através da intensificação dos sentimentos. A nossa idade, o nosso tempo de vida muda radicalmente o modo como percepcionamos a nossa própria vida, o mundo e, sobretudo, o modo como gerimos emoções. Esse livro é isso, é uma máquina de conhecer as emoções de um octogenário. Desse modo, Portugal surge como uma construção identitária a partir da análise filosófica sobre o indivíduo, sobre o sujeito em si. Cada personagem representa uma parte da reconstrução que você faz sobre a conjuntura das últimas décadas portuguesas. O importante nesse exercício é chegar a grandes conceitos a partir de Portugal e de uma reflexão do sujeito em si. Não me interessa as grandes variantes

macro-observadoras da nação, interessa-me perceber o lugar do pequeno cidadão, do cidadão comum, como ele se transformou de um cúmplice do Antigo Regime num indivíduo livre, democrata e que subitamente se vê numa circunstância completamente diferente no que diz respeito à política e à sociedade em geral. Interessa-me perceber que compromisso de cidadania é esse, e por isso Portugal acaba sendo visto não a partir dessa estrutura mais centralizadora que estaria dentro dos meandros políticos, mas a partir das bases de uma estrutura que assenta na vida de cada pessoa, de cada indivíduo o mais anonimamente possível inserido na sociedade. O livro é a impossível aprendizagem sobre a morte?

É essa ideia de que, de facto, a morte é uma porta que dá para onde não fazemos ideia e de que não sabemos como vamos nos sentir quando chegar a nossa vez. Por isso não há métodos de aprendizagem, podemos ganhar uma certa afeição à morte, vamos criando o hábito de que temos de desaparecer, mas é sempre impossível uma atitude de profunda confiança em relação a esse instante e por isso somos todos estreantes no momento da morte. A morte não aparece no seu livro atrelada à eternidade, embora sejam duas temáticas tão próximas na literatura. A nossa cultura tem nos vendido uma ideia de transcendência e nós temos tido a tentação de achar que a vida é tão boa que não pode acabar nunca e que tem que haver uma maneira de

continuar. Como não se fabricou ainda uma máquina de eternizar, ainda inventamos um Criador tão poderoso que teria criado um campo de flores bonitas por onde poderíamos passear depois de mortos. Estou convencido de que isso não vai acontecer e de que vamos deixar de existir em toda a amplitude da palavra. O importante é percebermos a dignidade da vida por si só, ou seja, absolutamente dessacralizada, a vida é preciosa em si. Creio que essa coisa das crendices religiosas, ao invés de nos ajudar a dignificar a vida, ajudanos a deturpá-la e a desprezá-la porque pensamos que, se calhar, não precisamos nos preocupar nem connosco nem com os outros o suficiente – acreditamos que há sempre um Criador que é mais ou menos responsável


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Filipe Pedro

por nós e que a pessoa, se não for feliz agora, depois de morta será muito feliz no tal campo de flores. Isso é uma maneira de nos desresponsabilizarmos, um modo de deixarmos as coisas por existir porque atiramos para as mãos de uma abstracção a hipótese das pessoas serem redimidas. Eu acho isso inaceitável, pois nós temos que propender para uma sociedade que faça felizes as pessoas enquanto estão vivas, porque acerca do que elas são quando mortas não sabemos nada. Por isso não podemos apaziguar-nos, não podemos baixar os braços e temos mesmo de melhorar esse tempo, o nosso tempo enquanto pudermos e urgentemente. És ateu? Sou ateu e tenho outros tipos de deuses, sou como os gregos. Rezo

mais a Billie Holiday, a Amália e ao Kafka, por exemplo, mais do que rezo a outras coisas, eu tenho os meus santos. Acredita que o ser humano inventa Deus porque não acredita em si mesmo nem no outro? Exactamente, essa é uma das frases do meu romance. Acho que o facto de nos menosprezarmos uns aos outros levou-nos a criar essa Identidade que depois distribuiria a justiça uma vez que não somos capazes de nos fazermos justiça uns aos outros. Inventamos uma espécie de justiça póstuma que eventualmente não acontecerá e, assim, baixamos os braços, ficamos desmobilizados. Quando pensamos na estética de Valter Hugo Mãe, podemos falar em selvagem delicadeza ou mesmo em sensibilidade objectiva?

[risos] Sim, há um lado selvagem, um lado agreste, um lado que pretende desconformar alguns consensos, digamos assim, despentear algumas coisas – eu, careca, gosto de despentear as coisas, a mim ninguém despenteia [risos]. Mas há esse lado mais provocador, mais propendo para uma sensibilização, até uma certa delicadeza eu acho que funciona como esse apanágio de esperança. É no fundo partir de um terreno duro e contribuir para que ele possa florir. António Lobo Antunes afirmou que “a maior parte dos livros é escrito para um público e este livro [“a máquina de fazer espanhóis”] é escrito para leitores”. O que é escrever para as massas? Eu tenho cada vez ais leitores e com isso fico muito contente, mas não escrevo os meus livros

a pensar na sua massificação. O acréscimo de vendas não significa ainda, e longe disso, qualquer massificação, o que há é uma presença mais notada da minha obra e isso deixa-me bastante grato. Agora, não sou a pessoa indicada para ser transformada em grande olímpico de vendas, acho que nunca vou ter vendas olímpicas, não é isso que me faz correr. As minhas corridas não são pelas medalhas, e se acontece alguma medalha não são propriamente as vendas que eu considero as mais importantes. Acho que o reconhecimento entre os pares e o reconhecimento dos leitores ou mesmo uma certa felicidade que vem de uma boa crítica, tudo isso é realmente a grande contribuição que podem dar a um escritor, sobretudo a um escritor como eu.

No seu processo criativo, isola-se do mundo? Sim, preciso ficar sozinho, não marco nada, não pode haver compromissos. Escrevo muito por intensificação e durante muito tempo seguido. Os textos, a ficção acontecem ganhando muita evidência em mim, quase criando uma tridimensionalidade muito grande, por isso isolome muito. Escrever dói por meio de um processo catártico? Não sei se alguns dos meus livros ou algumas passagens poderão ter contribuído como uma certa terapia da minha pessoa, mas escrever para mim não começa exactamente no sentido terapêutico. Eu escrevo sempre pela necessidade de perceber, de compreender algum assunto. Nesse processo de conhecimento existe sempre alguma cosia dentro de mim que pode ser apaziguada e por isso eu creio que melhoro sempre, que aprendo sempre depois de escrever um livro. Essa é a escola da minha vida adulta, pois são os períodos de escrita um tempo de grande aprendizagem, inclusive o momento exterior, em que o livro chega às pessoas e elas conversam comigo, interpretam à sua maneira e criam as suas visões. Toda essa partilha é incrível. Você nasceu em Angola e aos nove anos foi viver para Vila do Conde. Qual a importância desse período para a sua reflexão sobre a cultura portuguesa? A minha relação com Angola permitiu-me entender que um dia vivi num sítio diferente, com gente diferente e com hábitos diferentes e que, por isso, o lugar onde depois fui morar era apenas mais um lugar em que as pessoas possuem apenas mais um modo de ser. Desde criança tenho a percepção de que há uma diferença fundamental e natural entre as pessoas e eu convivo sempre magnificamente bem com todas as diferenças, sejam elas quais forem. Foi assim que aprendi esse meu modo integrador. Não compete a mim ajuizar nem julgar as pessoas, compete-me apenas respeitar a esfera de liberdade delas, fazê-las respeitar à minha esfera de liberdade e ser feliz. Manaíra Aires mana_aires@hotmail.com


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edgardo cecchini

GRAÇA MARTINS PINTORA

DREAM BROTHER, MY KILLER MY LOVER, 2009

A cidade de névoa e granito

O Senhor Gonçalves, gerente do Piolho há 30 anos

conta-me como é...

...ser dono do “Piolho” No ano passado, o café mais popular do mundo académico portuense apagou cem velas, resultado de um conjunto de vários factores. Quais? A dedicação dos seus clientes e o trabalho infatigável de personalidades como o Senhor Luís, por exemplo. Mas também não se pode deixar de lado a chefia cuidadosa dos seus actuais proprietários. O JUP foi entrevistar um deles. “Sou Edgar Gonçalves, 50 anos, meio século no café centenario”. Juntamente com o seu cunhado, José Martins, desde Dezembro de 1979 o Senhor Gonçalves é o gerente do café Âncora d’Ouro, mais conhecido pelo apelido: «Piolho». Para tornar o Piolho o que ele é hoje, operou-se uma pequena revolução ao café dos anos ‘79 e ‘81: «antigamente os alunos das faculdades não podiam estudar dentro do local. Haviam folhas penduradas nos espelhos que os avisavam. Era o eliminar do académico! E a partir de uma certa hora (três ou quatro da tarde) o ambiente tornava-se um bocado mau». Pela descrição, parece o exacto contrário de como o conhecemos. «Connosco voltaram os estudantes» defende o Senhor Gonçalves. Uma boa contribuição

foi dada também pelo horário tardio de encerramento. Hoje em dia o segredo encontrase na gestão da confusão. «Mas confusão no bom sentido: estudantes, caloiros, pedintes, os que já se formaram, Erasmus e tudo isso faz parte do ambiente». Para tornar realidade a vivência dessa espécie de caos controlado, a palavra-chave é «respeito». É saber que, posto um limite, este não será ultrapassado: «a brincar, a brincar…mas quando parou, parou!». E o que é que acontece quando algo correr mal? Tenta-se sempre de mediar, porque «chamar a Policia é chato». Em síntese, a tarefa prevê o afastamento dos que não cumprem a dita «lei» do Piolho, tendo em conta também os perigos que podem vir do exterior. Mas «dentro do estabelecimento não permito nada que diga respeito ao Piolho» salienta. Ao longo dos anos, quase trinta, o Senhor Gonçalves e o Piolho acompanharam as novidades da vida académica. Os Erasmus incrementaram ainda mais a «troca do povo» tornando mais fácil o cumprimento da segunda regra: o conhecimento de novas pessoas passados apenas cinco minutos. Há uns anos, existia uma peque-

na sala de refeições, «mas as pessoas, ali, ficavam isoladas. Havia pessoal que pegava nos pratos e os levava para cá». Daí, a sugestão de mudar a configuração do estabelecimento para acompanhar as exigências da gente e para tornar o café uma única grande concha de vivência humana. Sempre falando de Arquitectura, o JUP tentou de sacar uma opinião sobre as contestadíssimas esplanadas que estão a ser construídas em frente dos cafés da Praça Parada Leitão (que envolvem o Café Universidade, o Café O Mais Velho, a Gelataria Cremosi, o Restaurante Irene Jardim e o próprio Piolho). Mas perante a um resolutivo «no comment», não foi possível aprofundar a questão. Difícil é a descrição da expressão de Edgar Gonçalves quando, pela primeira vez, o JUP o confronta com a pergunta mais importante. Os seus olhos enchem-se de um brilho particularíssimo e a boca abre-se para chutar palavras que nunca saem. No final da entrevista, quando a atmosfera aproximase do «mais a vontade», sem mais nem menos, escoam as palavra certas: «dono do Piolho? O topo. O Cristiano Ronaldo ou o Kakà do Real Madrid». edgardo cecchini

Nas minhas viagens a Lisboa, vivo com mais intensidade as diferenças gritantes entre o Porto e a Capital. Desde os três anos de idade que os meus pais vieram de Vila do Conde para o Porto. Nesta cidade frequentei a escola primária, o liceu Rainha Santa Isabel, a escola secundária e artística de Soares dos Reis e, por fim, a Faculdade de Belas Artes. O prazer de passear na rua de Santa Catarina, frequentar o Café Majestic, as ruas 31 de Janeiro, Passos Manuel, Clérigos, a avenida dos Aliados, os cafés Piolho, ( Ancora de Ouro), Ceuta, Guarany, Brasileira e claro, as livrarias do Porto. A Leitura, a Latina, a Lello. Enfim, um mundo artístico de cafés, livrarias e galerias de arte. Foi na Galeria Alvarez, do recentemente falecido galerista Jaime Isidoro, que realizei as minhas primeiras exposições. Depois, na Cooperativa Árvore, espaço cultural de relevante importância para os artistas, dinamizada pelo escultor José Rodrigues. Mas os tempos são outros e eu também não pertenço ao grupo dos saudosistas. O mundo é dinâmico, a vida avança e o futuro é transformação. Sou optimista por natureza e acredito no FUTURO do Porto. A cidade está bonita, mais arranjada. Respira-se uma atmosfera Europeia. No entanto, existe um forte obscurantismo. Lisboa revela fragilidades na área da recuperação, mas as pessoas que

frequentam a cidade exibem um comportamento urbano e aspecto mais agradável. Relacionamse com disponibilidade citadina, sabem apreciar os momentos do fim da tarde nas esplanadas. Há o espírito do lazer. No Porto as pessoas exprimem-se de forma agressiva, boçal. São desconfiadas. Sinto mais a diferença de classes no Porto. Mesmo nas zonas favorecidas, como a Foz, existe mendicidade. É como se o Porto do Camilo, da Agustina, do Eugénio, continuasse no século passado. Uma cidade medieval e romântica, com torres, mansardas, clarabóias, mirantes, a reflectir a sua luz multifacetada e projectada nas pesadas massas graníticas. Uma cidade de ruas estreitas e soturnas, povoada de jardins provincianos. Uma cidade enleada na prosa do Camilo. A tragédia, a sombra. Torturada por emoções enlameadas. A BELEZA do Porto é um postal de “Recuerdo”. O Porto na sua neblina junto ao Douro e ao casario, nas aguarelas icónicas do pintor António Cruz. Essa luz única do entardecer que atinge os habitantes. E, claro, as gaivotas que sobrevoam a cidade, desesperadamente famintas. Talvez por isso o Porto seja um lugar de pintores e poetas. Afinal, a minha pintura é intimista e melancólica. Uma paleta de cores secundárias, tons quentes, por vezes trágicos, que atingem a representação das figuras na sua duplicidade, de verso e reverso. (…) « Descia a neblina sobre os prédios, gaivotas vinham da Foz. Um mendigo de barbas atravessou a rua, despreocupadamente. » Do poema DESCIA A NEBLINA de Isabel de Sá. Colectânea de Poesia sobre o Porto, publicações Dom Quixote, 2001


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Entre 02 e 07 de Março a Casa Música irá receber a 4ª edição do Harmos Festival, que reúne os melhores músicos/alunos das mais conceituadas escolas superiores de música da Europa. A novidade para este ano é a estreia da Harmos Festival Orchestra, dirigida pelo maestro Dirk Vermeulen e composta pelos 40 músicos presentes no evento. “O objectivo é juntas as escolas numa componente física para que elas possam mostrar os projectos que desenvolvem. É a reunião da música pela música, sem a competição que existe no mundo da música erudita”, afirma o director do festival, Rui Couto. Na abertura, que ocorrera em período diurno, o público poderá acompanhar a clarinete e o piano

dos músicos do Conservatorio di Musica E.F.Dall’Abaco di Verona. No dia seguinte, é a vez da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo do Porto, numa apresentação com violino, viola e cello, seguida pelo Conservatório Superior de Música da Corunha. Na Quarta-Feira, a Lithuanian Academy of Music and Theater leva ao palco o Trio Claviola, composto por viola, clarinete e piano. O Conservatório de Superior de Música da Corunha volta a se apresentar com um quarteto e em seguida os alemães da Hochschule für Musik und Theater Leipzig encerram a noite. Na Sexta-Feira, penúltimo dia (não há programação para Sábado), a Academia Nacional Superior de Orquestra concretiza o enfoque no trio violino, viola e

violoncelo nas apresentações no festival, enquanto o soprano e o piano ficam por conta dos britânicos da Guildhall School of Music and Drama, Royal Academy of Music. O Koninklijk Conservatorium Brussel fecha a noite. Já no encerramento, a Sala Suggia recebe uma orquestra composta por todos os músicos que passaram pelo palco ao longo da semana, algo nunca realizado antes. Está prevista a apresentação da abertura da ópera “Le Nozze di Fiagro”, de Mozart; o concerto triplo para violin, violoncelo e piano em Do M, op.56, de Beethoven; e a Sinfonia nr. 4 em La M, op. 90 Italiana, de Mendelssohn. Os ingressos custam 5 euros por dia para o público em geral e 3 euros por dia para estudante. Manaíra Aires josé ferreira

O virtuosismo vai estar à solta pelo Porto

Harmos Festival na Casa da Música De 2 a 7 de Março a Casa da Música vai receber os mais jovens talentos da música clássica europeia.

Jazz à moda do Porto A Esmae (Escola Superior de Música e Artes de Espectáculo) corresponde à ideia de escola de talentos, de música e de teatros, com pautas, setlists e folhas de castings penduradas nas paredes dos corredores longos e ecos de música longínquos. Para encontrar o pavilhão onde decorrem as jam sessions, actuações dos alunos de jazz realizadas às terças-feiras, bastou, literalmente, seguir a música. A sala está a meia-luz. Os instrumentos reflectem as luzes douradas dos holofotes, a cortina de veludo vermelho desbotado completa o palco simples. À chegada, já havia música no ar. Estariam perto de 60 pessoas na sala, talvez 100 entre entradas e saídas, o ambiente era de descontracção, de convívio e de grande apreciação pela música que se tocava. Mas nem sempre foi assim, conforme nos contou Michael Lauren, responsável pelo departamento de Jazz da ESMAE. «Esta escola tornou-se uma escola de jazz há sete anos. Foi uma oportunidade dos alunos tocarem, trabalharem com música e se divertirem». É também uma oportunidade para os músicos de fora: o palco está aberto a todos que conheçam o repertório de jazz tradicional e que toquem com qualidade e paixão. As Jam Sessions começaram como uma oportunidade dos estudantes e da comunidade jazz do Porto se reunir à volta de um palco só. Depressa se converteram num acontecimento in do Porto: «era uma loucura, tiveram que proibir entradas pois já estavam a ficar 500, 600 pessoas, não havia espaço suficiente» revelou Carlos Azevedo, um dos professores da escola. O barulho e o extravaso era tanto que se optou pelo retorno a um formato mais familiar. O dinheiro da entrada (2€ actualmente), quase simbólico, era utilizado para providenciar

equipamentos e instrumentos de qualidade para o Núcleo de Jazz e para pagar a educação dos alunos de mestrado, «coisas que a escola não pôde fornecer ao longo dos anos» – segundo Michael – «é verdade que acalmou, mas a iniciativa nunca foi pelo dinheiro, mas pela oportunidade de tocar, aprender e crescer, por isso, acaba por não fazer grande diferença». Desde então, as Jams da Esmae tornaram-se um evento quase underground, pouco conhecido entre aqueles que não pertencem à pequena, mas saudável, comunidade de jazz do Porto, embora sejam bem conhecidas pelos estudantes de Erasmus. A ESMAE tornou-se a principal es-

As Jam Sessions começaram como uma oportunidade dos estudantes e da comunidade jazz do Porto se reunir à volta de um palco só. cola de Jazz do país nos últimos anos apesar da abertura de outros centros, maioritariamente privados, em Lisboa e Évora apenas no ano passado, algo que contrasta com as valiosas décadas de tradição do género em Portugal, lembrando alguns grandes talentos como Bernardo Sasseti e Mário Laginha. E foi talento mesmo que vimos em palco no Esmae. Mas apesar da qualidade dos concertos e da descontracção do evento, “pouca publicidade há”, lamenta Michael. Fica aqui portanto, uma sugestão para um serão bem passado, em proveito do que melhor se faz no Porto e no Ensino Superior. Ana Pelaez e Inês Antunes


26 || CULTURA Márcio Matos

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gourmet das tascas

Pelo canudo abaixo Estudar por um bom futuro! Para quem deixa o estudo para o fim do semestre este mês de Março é um descanso. Para quem tem a saudável disciplina de ir estudando todos os dias para que os exames no fim do semestre não serem tão dolorosos já vive com a pressãozinha neste começo de semestre. Uns e outros estão condenados a pensar num futuro sombrio. Para quem é finalista e não é extraordinário no aproveitamento académico sente uma corda no pescoço. O véu que cobre o futuro está descaindo mas o pouco que se vê é sombrio. A licenciatura não tem muito peso nos dias de hoje e mesmo o mestrado não garante o desejado emprego. Mas andam milhares de estudantes a procurarem esse futuro que não existirá. De quem é a culpa? O que fazer? A culpa é do governo. Só o governo pode redireccionar esses estudantes. A bagagem intelectual de tantos anos a estudar não se pode deitar pela cano a baixo. Será impossível para as faculdades criarem contactos que garantem a aquisição profissional de 50% dos seus alunos? Será impossível que as faculdades garantam estágios para todos os cursos? Será impossível para os alunos entrarem para uma universidade sem receios de desperdiçar anos de estudo? Será utópico tomar como medida a redução de vagas por cursos, a criação de mais cursos específicos com menos pessoas mas com a segurança de empregabilidade? Pode parecer utópico mas não será impossível que surjam vários protocolos que munam cada curso com o destino dos estudantes. Se estes não o desejarem, terão a liberdade de procurar outro.

josé ferreira

Sr. José Pinto, o mestre das francesinhas

Bufete Fase A Francesinha é um prato típico das noites do Porto. O Bufete Fase impõe-se, qual santuário de degustação desta iguaria, pois quem lá entra tem apenas o objecto de se deliciar com este belo petisco. Este pequeno restaurante familiar de José Menezes Pinto, que actualmente conta com o apoio da filha, Filipa Menezes, e do genro, existe desde 1984, mas foi precisamente há quinze anos que surgiu a ideia de apenas servir Francesinha: «Tudo começou com uma brincadeira. Na época tinha um cliente que trabalhava na revista Ideias e Negócios e um dia decidiu fazer uma reportagem sobre a casa e as francesinhas. Eu na altura não liguei mas depois de sair a reportagem foi a explosão de clientes à procura

História A Francesinha foi criada, nos anos sessenta do século XX, pelo Sr. Daniel David Silva, no restaurante A Regaleira. Tendo trabalhado em França, Daniel Silva criou este prato típico da gastronomia portuense, adaptando um tipo de tosta designada por croque-monsieur, e adicionando o molho da cobertura, que o torna tão característico. Questionada sobre a opção pelo nome do prato – a “Francesinha” –, Filipa Menezes, deixa uma hipótese interessante ao relacionar o picante do prato com as francesas que eram mulheres muito modernas para a época.

deste prato e eu tive que abdicar de todo o outro tipo de serviços para me dedicar exclusivamente às francesinhas». A casa com cinco mesas tem capacidade para um máximo de quinze pessoas e é usual chegarse à porta do Bufete Fase e, ao perguntar se temos mesa, obter como resposta: «Vai ter de esperar um bocadinho». Não se fazem reservas em circunstância nenhuma e «quando os clientes entram na porta têm de respeitar a ordem de chegada. Não importa se é familiar, amigo ou cliente

O Bufete Fase impõese, qual santuário de degustação desta iguaria, pois quem lá entra tem apenas o objecto de se deliciar com este belo petisco.

habitual, mas se quiser comer, em pé, ao balcão, passa à frente». A Francesinha do Bufete Fase é confeccionada sempre ao mesmo ritmo e o resultado é o pão torrado, o molho a escorrer pelo bife de novilho e pelos enchidos e o queijo que derrete com a temperatura do líquido. Segredo? «O bife, o fiambre e os enchidos são sempre de óptima qualidade. Os produtos e o molho são sempre do dia. Se as quantidades do dia acabarem eu não aldrabo, sou sincero com os meus clientes e tenho o dia ganho». E o segredo do molho? «Bem isso não posso revelar. A receita foi inventada por mim e não uso bases préconfeccionadas. A única coisa que posso acrescentar é que o molho tem que ser feito em grande quantidade para ficar bom. É como as carnes do cozido!». E o preço? «Por 10,00 euros comem francesinha, batata frita e acompanham com uma cerveja de barril fresquinha». mariana jacob


Críticas

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7/10 Norma Palmilha Dentada Aramaico, Judaico e Mirandês! Anunciava-se que a peça era falada integralmente nestas três línguas. Nada mais do que um simples engano! Revelando logo a partida o carácter particular da sua interpretação do Teatro, destacando o Improviso, envolvendo o público na peça com um humor mordaz. A Norma coloca em relevo os valores morais e sociais da actualidade não esquecendo a actual crise económica. Ao entrar-se no Estúdio Latino pode encontrar-se Ivo Bastos e Rodrigo Santos recebendo os espectadores. São estes dois actores que encarnam uma multiplicidade de personagens disfuncionais. Dois publicitários que têm como próximo projecto a criação da nova Imagem de Deus. O próprio Deus, vingativo e severo como é representado no Velho Testamento, que mantém uma relação de pai ausente com Jesus. Jesus é caracterizado como um comum mortal, de barba farta e barrigudo, tendo a televisão como passatempo favorito, sendo sua companheira o Diabo. Uma noiva desgostosa pela morte do noivo no altar entalado com uma hóstia. Dois pastores evangélicos que interligam as diversas cenas questionando os valores da sociedade actual apoiando-se no Livro da Norma, interpretação muito própria da Bíblia. Com uma encenação muito bem conseguida por Ricardo Alves com uma boa fluidez de cenas onde os únicos momentos de pausa são criados pelos actores para explicarem o conceito da peça e da sua forma de fazer teatro. Uma peça com muita boa disposição e em que o espectador se vai sentir integrado na acção. Leandro Rodrigues

9/10

9/10

Invictus Clint Eastwood Passado um ano de Gran Torino, Clint Eastwood lança a sua nova longa metragem: Invictus. O filme surge de uma adaptação do livro de John Carlin Invictus – Playing The Enemy, onde é narrada a história de Nelson Mandela no início do seu mandato como Presidente da África do Sul depois do fim do Apartheid e da sua libertação. Com uma interpretação muito bem conseguida de Morgan Freeman, Nelson Mandela parece mesmo estar presente em certos momentos do filme. A história de Invictus centrase no Campeonato Mundial de Rugby de 1995 na África do Sul, onde os «Springboks» – a selecção nacional do país – eram tidos como derrotados certos do torneio. Para a população negra da altura, os «Springboks» eram vistos como a equipa dos brancos, e nem sequer se interessavam pelo desporto. Assim, Nelson Mandela viu no campeonato mundial uma oportunidade única de unir o povo Sul-Africano em torno da Selecção de Rugby, acabando com as divergências e ódios que sempre os dividira. O filme é simples mas carregado de sentimento, mostrando como um dos homens mais conhecidos da história moderna conseguiu unir um povo tão antagónico apenas através da paixão pelo desporto. Miguel Lopes Rodrigues

Arctic Monkeys Coliseu do Porto

9/10 Memórias das Minhas Putas Tristes Gabriel Márquez Um título que contenha a palavra «memórias» despoleta no seu leitor uma ânsia de descoberta do passado. Gabriel García Márquez, como já era de esperar, não segue a regra e distorce um pouco o conceito de «memórias». O autor não começa a contar a sua vida desde criança ou adolescente, centra-se no seu nonagésimo aniversário. Um velho e solitário jornalista que durante toda a sua vida fez questão de pagar por sexo, descobre aos 90 anos que é capaz de amar. Num mar de metáforas e recursos estilísticos, Gabriel García Marquez demonstra que o verdadeiro amor não é carnal e não existe idade para amar. Um grande romance de escrita inconfundível em que o autor colombiano é capaz de combinar dois aspectos aparentemente antagónicos: a velhice e o amor verdadeiro. Numa sociedade em que muitos dos cidadãos são solitários, Gabriel García Márquez demonstra que nunca é tarde para viver uma vida a dois. A idade não é um estatuto, nem uma doença, são vivências. O amor é intemporal. Não existe nada que impeça a existência de um brilho apaixonado nos olhos de um adolescente, ou de um idoso de 100 anos. Nunca é tarde para começar. Mariana Catarino

Num concerto recheado de emoções, Alex Turner, guitarra e voz, Jamie Cook, guitarra, Nick O’Malley, baixo, e Matt Helders, bateria e segunda voz, mostraram que já não são os meninos de Sheffield. Deram um espectáculo à altura do espaço e da fama que os trouxe ao Porto, ao longo de uma hora e meia de concerto. Ainda que com a postura tímida e naturalmente britânica, não deixaram de interagir com o público, quer com gestos quer com sinceros agradecimentos e um grande prazer em tocar ao vivo. O público soube corresponder com uma recepção fervorosa. A quem a banda também não esqueceu de agradecer foram aos Mystery Jets que abriram as hostes e aqueceram o palco – e o público. Arctic Monkeys escolheram «Pretty Visitors» do fresco Humbug para a grande abertura, mas não deixaram de premiar as cerca de três mil pessoas que inundavam o Coliseu com alguns dos melhores e inesquecíveis êxitos da banda. Apesar da ainda curta mas vibrante carreira, não houve quem não fizesse coro a «When the Sun Goes Down», «The view from the afternoon», ou «Still take you home». Sempre muito constantes, souberam manter ao rubro cada minuto e finalizaram com um espectáculo de confetis que surpreendeu pelo inesperado e um encore que, ainda que breve, não desiludiu. Ficou na memória um concerto intenso, convincente e, acima de tudo, surpreendente. Liliana Pinho


Cardápio

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música

teatro

Eventos

Vários

5 de Março

3 A 8 DE MARÇO

6 DE MARÇO

5 a 7 de Março

Diabo na Cruz Passos Manuel Deep Sleep O Meu Mercedes

“AMOR SOLÚVEL” Cine-teatro Constantino Nery – Teatro Municipal

Feira de objectos de design e decoração Alfândega do Porto

6 de Março

4 A 7 DE MARÇO

“THERE IS A LITTLE BIT OF VIENNA IN EVERY CITY” Embaixada Lomográfica do Porto, 15h INAUGURAÇÕES DE EXPOSIÇÕES Quarteirão Miguel Bombarda, 16h

“FRAGMENTOS DE UM CORPO SÓ” Teatro Helena Sá e Costa

7 DE MARÇO

The Poppers Plano B Baile dos Vampiros Corporal Zarcof (Late of the Pier - dj set), DJ Ride, Fritus Potatoes Suicide, Roice, Zé Pedro, BlackBambi Teatro Sá da Bandeira

FEIRA DE TROCA DE LIVROS E OBJECTOS CULTURAIS Solar Condes de Resende, 9h – 19h

5 A 14 DE MARÇO

An Evening with Joan Baez Casa da Música

“BLACKBIRD” Teatro Carlos Alberto

10 de Março

18 A 27 DE MARÇO

ATÉ 16 DE MARÇO

Mono Serralves

“QUINZENA DE TEATRO FÍSICO E NOVO CIRCO” Teatro Helena Sá e Costa

“PAROLE, PAROLE, PAROLE” – SESSÃO DE CINEMA Espaço NEC – Fábrica Social, 22h

8 de Março

Clash Club Fischerspooner, Ali Love, Huoratron, Gun n’ Rose Teatro Sá da Bandeira

19 A 28 DE MARÇO

ATÉ 20 DE MARÇO CALE-SE 4 – FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO Associação Recreativa de Canidelo, 22h

15 de Março

25 DE MARÇO

Yo La Tengo Casa da Música

16 de Março

“PÕE A CASSETE DA TEMPESTADE” – QUINTAS DE LEITURA Auditório Teatro Campo Alegre, 22h

Russian Circles Plano B

27 DE MARÇO HANDMADE MUSIC @ DIGITÓPIA – ESPECTÁCULOS – [MÚSICA E MAIS] Casa da Música, 21h30

18 de Março Beach House Centro Cultural Vila Flor Sven Väth Gare Clube

20 de Março

Clubbing Blasted Mechanism, Sofa Surfers Casa da Música

27 de Março Pantha du Prince Teatro Sá da Bandeira

City Zen Tertúlia Castelense, 23h30

6 Março a 13 de Julho

ATÉ 7 DE MARÇO FANTASPORTO 2010 – 30º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DO PORTO Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório, Pequeno Auditório/ Espaço Cidade do Cinema

13 de Março

6 de Março

“O DEUS DA MATANÇA” Teatro Nacional São João

ATÉ 31 DE MARÇO

ATÉ 31 DE MARÇO “MOSTRA DE TEATRO AMADOR DO CONCELHO DE VALONGO” Centros Culturais de Alfena, Campo e Sobrado, Sala das Artes e Fórum Cultural de Ermesinde

NOMADIC.0910 – ENCONTROS ENTRE ARTE E CIÊNCIA Universidade do Porto/ Faculdades da UP

Yo La Tengo vão estar presentes na Casa da Música

Lourdes de Castro e Manuel Zimbro: A Luz da Sombra Museu de Serralves

09 A 18 DE MaRÇO Curso CINEMA E PSICANÁLISE: IMAGENS REVERSÍVEIS das 21:30 às 23:30 - Terças Biblioteca de Serralves

18 de Março “Guitarmageddon” concurso de bandas de garagem da academia do Porto Eliminatórias - dias 9, 10 e 11 de Março. Final: Plano B

19 DE Março COSSACOS DE DON Dança Coliseu do Porto, 21h30

26 e 27 de Março I Conferência sobre Abuso de Crianças e Jovens Aula Magna da FMUP. Inscrições até dia 20 (75€)


Opinião

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Palavras leva-as o vento Ricardo França

Quotidiano de purificação nas águas do rio Ganges que precede os momentos de oração diária

Momento de contemplação antes ou depois de uma reza, junto ao rio Ganges

Em directo da Índia Em Junho do ano passado, momento em que me inscrevi no program Inov Contacto, era-me impossível adivinhar que hoje, finais de Fevereiro de 2010, poderia estar na incrível Índia. Em boa verdade, no final desse 6º mês de 2009, faltando-me ainda 5 cadeiras para acabar o curso de economia pela FEP, tinha apenas uma ideia em relação à minha futura vida profissional: a de que queria ter uma experiência internacional! Mas daí a vir para a Índia… Chegado dia 15 de Janeiro à Índia, sozinho e só com 1 ou 2 contactos de algibeira, os primeiros dias foram mentalmente devastadores mas fortificantes para o resto da estadia. De facto, o choque cultural é enorme, todavia, pessoalmente penso que se aplica melhor o termo de choque social. A miséria e a pobreza que se pode constatar facilmente pelas ruas,

deixou-me, em primeiro lugar, apático, quase que incrédulo e, em segundo lugar, pensativo, tentando compreender a dinâmica social que este país atravessa, em particular a cidade de New Delhi. Para mim, as diferenças religiosas, os novos costumes, as diferentes formas de relações sociais e tudo o resto que se pode enquadrar no plano do denominado choque cultural, é tudo uma fonte de curiosidade, de conhecimento e de aprendizagem. Entendo que esta deve ser a postura de quem trabalha “abroad”, para que se possa assim crescer pessoal e profissionalmente com sensibilidade para outro tipo de factos, questões e factores com os quais temos que lidar. E nesta perspectiva, esta minha experiência Indiana é ideal, pois coloca-me fora da zona de conforto, especialmente no plano da realidade social.

Depois dos primeiros dias terem sido ocupados na procura de casa e nos normais preparativos para iniciar o meu estágio na embaixada de Portugal, nos dias seguintes tive a preocupação de estabelecer contactos com outros estagiários internacionais e jovens locais. Felizmente, pude usufruir da minha rede de contactos que adquiri enquanto membro da AIESEC, maior organização mundial gerida exclusivamente por estudantes que, entre outras coisas, tem também o seu próprio programa de estágios internacionais. Ora, depois de ter conhecido alguns estagiários da AIESEC e de iniciar também alguma vida social, estavam reunidas as condições para iniciar um ritmo de vida já minimamente normalizado, com normal trabalho de 2ª a 6ª, interrompido pelas entusiasmantes e sempre deslumbrantes viagens de fim-de-semana.

Este país surpreende-me todos os dias, quer seja na rotina diária de ida para o trabalho onde me cruzo com vacas, macacos e elefantes, quer seja nas viagens de fim-de-semana onde já pude constatar que a colorida Índia, um paraíso para os fotógrafos, é culturalmente riquíssima nas várias perspectivas, seja na religião, arquitectura, música, gastronomia, etc. Neste primeiro mês já tive o prazer de visitar Jaipur, uma cidade com belos e coloridos monumentos, incríveis palácios e fortes; Agra, local do fantástico Taj Mahal; Varanasi, cidade sagrada para a religião Hindu, onde se dão as conhecidas cerimónias fúnebres e os banhos de purificação no rio Ganges e, a cidade onde vivo e trabalho, New Delhi, palco de uma enorme riqueza cultural e patrimonial. Na calha já há planos para visitar sítios conhecidos como Mumbai (Bombaim), Goa e os Himalaias, mas também outros locais menos conhecidos, como Jaisalmar (deserto), Amritsar, Rishikesh ou Udaipur. Neste mundo global em que vivemos, há cada vez menos espaço para mentalidades retrógradas e fechadas no seu umbigo, no seu cantinho de terra. Como se cos-

tuma dizer quando nos referimos ao efeito borboleta, um bater de asas de uma simples borboleta na China pode provocar um furacão nos Estados Unidos e, neste sentido, temos de estar preparados para pensar global e agir localmente, sendo importante estarmos conscientes do quão vital é ter uma experiência internacional, algo que o ERASMUS deixa muito a desejar. Vou ser directo e lanço-vos o repto. Numa altura em que se fala em tantas dificuldades de emprego, porque não vir cá para fora? Não tenham medo de partir. Outrora, os Portugueses lançaram-se pelo mar fora à descoberta do mundo (aqui, tantas vezes já me perguntaram acerca disso), tal como nesses tempos, devemos ser ambiciosos, aventureiros e empreendedores. Façamno de forma planeada e objectiva, dessa forma poderão retirar ainda mais dividendos da vossa experiência. Este é um mundo demasiado pequeno e belo para não ser conhecido e, como diz um amigo meu que trabalhou em HongKong, “siga em frente que atrás vem gente”. Ricardo França Ricardo.franca.alves@gmail.com


30 || OPINIÃO

JUP || MARÇO 10

Vieram de longe Dana Elborno

Bandeira palestiniana que acompanhou a “Gaza Feedom March”

Dana e Lara Elborno, estiveram no Porto a convite do SOS Racismo, vieram de longe falar do Oriente, dos “outros”. Ouvimos testemunhos que nunca são dados pelas televisões. Vieram falar da sua experiência como palestinas e activistas e comprovaram factos que nunca nos tinham sido apresentados. Ouvimos falar da ocupação Israelita, tal como ela é. Falaram de pessoas e de sofrimento. Deram rostos às estatísticas e vieram dar visibilidade a um conflito que é relegado para rodapé dos noticiários. Ouvimos relatos de opressão e de humilhação, de uma prisão ao ar livre e de um povo que sofre há seis décadas.

Mas apesar disso, nós o Ocidente e nós, Portugal, somos cúmplices na violação da lei internacional Isto tudo para dizer, que falaram da Palestina. Numa rápida análise da sociedade em Gaza, alguns números: a população de Gaza é de 1,500,202 em que 70% destes são refugiados; o desemprego é de 45.4% e a idade média é de 17.2 anos; a dependência de ajuda externa é de 86% e o nível de pobreza é de 80%.

FICHA TÉCNICA DIRECÇÃO DIRECÇÃO DO NJAP/JUP - PRESIDENTE Sara Moreira VICE-PRESIDENTE Rita Falcão TESOURARIA Rita Bastos VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurtadas) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde (galerias) DIRECÇÃO DO JUP Filipa Mora DIRECTORA DE PAGINAÇÃO Joana Koch Ferreira DIRECTOR DE FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro chefe de redacção Mariana Jacob EDITORES E SUB-EDITORES EDUCAÇÃO Filipa Mora SOCIEDADE Manaíra Athayde CULTURA Filipa Mora e Tiago Sousa Garcia OPINIÃO Pedro Ferreira DESPORTO Francisco Ferreira COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

A Faixa de Gaza sofre uma crise humanitária deste Abril de 2006 quando Israel fechou a sete chaves as fronteiras, impedindo que bens essenciais como medicamentos, gasolina e comida entrassem. É uma punição colectiva por exercerem a sua “liberdade” e por terem, democraticamente, elegido o Hamas, eleição que Jimmy Carter, antigo Presidente dos Estados Unidos da América, classificou como uma das mais democráticas que já teria presenciado. Existem múltiplos causadores desta catástrofe: de forma directa, o Estado de Israel; de forma indirecta, com o cruzar de braços,

Aline Flor || Ana Rocha || Ana Pelaez || Artur Costa || Dana Elborno || Diana Ferreira || Edgardo Cecchini || Eliana Macedo || Filipa Mora || Filipe Pedro || Francisco Ferreira || Graça Martins || Inês Antunes || Leandro Rodrigues || Liliana Pinho || José Ferreira || Júlia Rocha || Manaíra Aires || Manuel Ribeiro || Márcio Magalhães || Mariana Catarino || Mariana Jacob || Marisa Ramos Gonçalves || Miguel Ramos || Miguel Lopes Rodrigues || Nuno Moniz || Pedro Ferreira || Ricardo França || Ricardo Sá Ferreira || Rita Gouveia || Sara Sousa || Sofia Cristino || Tatiana Henriques || Teresa Castro Viana || Vera Tavares imagem da capa Arquivo JUP Depósito Legal nº23502/88 Tiragem 10.000 exemplares Design logo JUP Bolos Quentes Design Editorial/Grafismo Joana Koch Ferreira Paginação Joana Koch Ferreira

o Governo do Egipto. Israel encontrou um aliado para asfixiar a Faixa de Gaza: o Egipto. O Governo de Hosni Mubarak prepara neste momento um “muro de aço” para vedar os túneis subterrâneos de acesso a Gaza, alegadamente, como forma de impedir o “tráfico de armas”. De facto, este muro irá travar o tráfico de armas, mas também irá bloquear a única artéria de mantimentos que mantém as pessoas de Gaza vivas. Gaza viveu em 2008, 23 dias de guerra militar. Porque é importante que se faça justiça, deixamos uma lista de violações da lei internacional por parte do Estado de Israel: O cerco a Faixa de Gaza viola directamente o Artigo 43 dos Regulamentos de Haia, os Artigos 33, 55 e 56 da 4ª Convenção de Genebra, o direito à vida, o direito a um padrão de vida decente, o direito à saúde, o direito à liberdade de circulação e ao direito a viver humanamente. Gaza é, assim, um epicentro da violação dos direitos internacionais. Mas apesar disso, nós o Ocidente e nós, Portugal, somos cúmplices na violação da lei internacional sendo que sob os acordos de Genebra, a comunidade internacional é obrigada a garantir que a convenção seja respeitada. Ricardo Sá Ferreira e Nuno Moniz

Fontes: CIA World FactBook, UNRWA, Palestinian Monetary Authority, Palestinian Central Bureau of Statistics, Palestinian Economic Policy Research Institute

Pré-Impressão Jornal de Notícias, S.A Impressão NavePrinter - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário Redacção e Administração Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Porto, Portugal || Telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail jup@jup.pt Apoios Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.

editorial Passas aqui todos os dias, olhas para as letras gordas impressas na primeira página mas não paras, continuas o teu percurso e eu, cá fico, neste corredor, à espera que voltes, que me levantes desta banca, dobres ao meio e metas debaixo do braço. Que me leves contigo. Leias as minhas crónicas e as reportagens. Muitas vezes sirvo para te abrigar da chuva, deitas-me ao chão, limpas o sopé da porta com as minhas páginas para te sentares, fumas um cigarro, convives com os teus colegas. Desprezas-me por completo, mas sabes que estou aqui, à tua espera! Outras vezes, seguras-me com carinho, juntas-me com os teus apontamentos e levas-me para a aula, para casa. Aguardo pelo teu tempo, pela tua disponibilidade. Para que te apercebas que muitos como tu se juntam todos os meses com um único propósito: Informar! É de tempo que te falo, de tudo o que tenho feito desde que nasci (1987) para te dar voz! Passei por muitas aventuras, estive em inúmeras manifestações, procurei reivindicar pelos teus direitos. Dei-te a conhecer a academia e a cidade. Levei-te à queima das fitas, ao teatro e a concertos. Mostrei-te cultura, ciência, história e arte. Ajudei-te a reflectir, a criticar e a opinar. Recebi-te em minha casa, dei-te formação, debates e festas. Ciclos de cinema e exposições. Disse-te como escrever e fotografar. Ao fim de todo este tempo continuo a percorrer os corredores da tua faculdade. Insisto nesta árdua missão de unir toda a academia. Tenho mais ou menos a tua idade e é precisamente sobre o meu aniversário que te vou falar no Destaque. Vá, deixa o facebook! Sai para a rua, vai para o café, levame contigo e apresenta-me aos teus amigos! Sou o JUP – Jornal da Academia do Porto, tenho 23 anos, vivo na Miguel Bombarda e a minha casa é a tua casa! manuel ribeiro


JUP || MARÇO 10

OPINIÃO || 31 Pedro Ferreira

Devaneios Cansei-me… Cansei-me de acreditar em quem promete e não cumpre. De esperar por quem diz vir e nunca vem. Cansei-me de gostar do mesmo que os outros. De ver os mesmos filmes. De ouvir as mesmas músicas. Cansei-me de ser inútil. Cansei-me do preto. E do branco. Cansei-me dos meios-termos. Cansei-me de ser prática. Comodista. Cansei-me de ceder. Cansei-me de compromissos. De memórias inabaláveis. Cansei-me da desarrumação. Das faltas de respeito. Dos “mal agradecidos”. Cansei-me dos invejosos. E dos oportunistas. Cansei-me de ter vergonha. De me controlar. De ser “politicamente correcta”. De respeitar tudo e todos. Cansei-me de discussões. De momentos de desespero. Cansei-me de meias palavras. E de palavras em vão. Cansei-me de ter medo. Cansei-me da ponderação. Da sensatez. Cansei-me dos “ses”, dos “quases” e dos “talvez”. Cansei-me de não alargar horizontes. De não me ultrapassar. Cansei-me de tentar ser aquilo que não sou. Cansei-me de ser. Cansei-me de parecer. Cansei-me do cansaço e afastei-o… Teresa Viana


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