XIII CADERNO NACIONAL DE FORMAÇÃO

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Caderno Nacional de

formação

13ª Edição - outubro de 2016

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)


SECRETÁRIO FRATERNO (PRESIDENTE) NACIONAL Washington Lima dos Santos SECRETÁRIA NACIONAL PARA A ÁREA NORTE Adrielly Alves da Silva SECRETÁRIA NACIONAL PARA A ÁREA NORDESTE A Jéssica Maria de Lima Rocha SECRETÁRIO NACIONAL PARA A ÁREA NORDESTE B José Douglas Soares Cordeiro de Souza SECRETÁRIA NACIONAL PARA A ÁREA CENTRO OESTE Maricélia Morais Ribeiro SECRETÁRIO NACIONAL PARA A ÁREA SUDESTE Marcio Bernardo de Oliveira Ramos

CNF - Caderno Nacional de Formação Organização

Juliana Caroline Gonçalves Almeida

Revisão:

SECRETÁRIO NACIONAL PARA A ÁREA SUL Bruno Oliveira Soares SECRETÁRIA NACIONAL DE FORMAÇÃO Juliana Caroline Gonçalves Almeida SECRETÁRIO NACIONAL DE AÇÃO EVANGELIZADORA Antonio Gean de Sousa SECRETÁRIA NACIONAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, REGISTRO E ARQUIVO Danielle Maria dos Santos e Silva

Mateus Agostini Garcia

ASSESSOR PARA REGISTRO E ARQUIVO Emanuelson Matias de Lima

Arte e diagramação:

SECRETÁRIO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, JUSTIÇA, PAZ E INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO (DHJUPIC) Igor Guilherme Pereira Bastos

Luiz Valério Peixoto Seles Filho

Imagens: As imagens contidas nessa edição foram retiradas na sua maioria da internet e outras tiradas por Jufristas e encaminhadas para essa publicação.

SECRETÁRIA NACIONAL DE INFÂNCIA, MICRO E MINI-FRANCISCANOS Sabrina Ferreira da Silva SECRETÁRIO NACIONAL DE FINANÇAS Humberto Martins de Lima ASSISTENTE ESPIRITUAL NACIONAL Frei Wellington Buarque de Sousa, OFM ASSISTENTE ESPIRITUAL NACIONAL Frei Alexandre Patucci de Lima, OFM Conv ANIMADORA FRATERNA NACIONAL Maria Aparecida Pereira Brito, OFS

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Apresentação Queridos irmãos e irmãs da JUFRA do Brasil Que a Paz e o Bem estejam em vossos corações Com muita alegria, - no dia de nosso seráfico pai, São Francisco de Assis, chegamos a 13º Edição de nosso Caderno Nacional de Formação. Esse importante instrumento formativo, fruto do trabalho que envolve a Equipe de Formação da JUFRA do Brasil, chega mais uma vez para fomentar partilhas, formações, reflexões e provocações. Nessa Edição a Jufra tem a honra de entrevistar o mineiro Luiz Gonzaga de Souza Lima, cientista político e professor universitário. Essa entrevista chega as nossas fraternidades neste momento histórico e conturbado, podemos até dizer um momento novo, propício para recomeçar; e em pessoas como nosso irmão Luiz e o jovem Francisco, podemos buscar forças para seguir em frente! Ao mesmo passo, a formação humana traz o tema: “Democracia e a Participação Popular”. E uma pergunta nos ronda: Como cristãos, podemos ignorar a politica? Somos convocados a sermos protagonistas da mudança tão necessária no Brasil e no mundo! Precisamos viver o Evangelho na sua totalidade, é preciso denunciar os mecanismos sociais de exclusão e juntos propor caminhos alternativos de uma sociedade mais inclusiva. É preciso dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado. Além do momento histórico, vamos contemplar o momento oportuno e sagrado que a nossa Igreja está vivendo, o Ano da Misericórdia. Nossas reflexões nas formações, cristã e franciscana, nos ajudarão a relacionar este momento da Igreja, com outro muito importante para nós Franciscanos e Franciscanas, os 800 anos do Perdão de Assis. A Assistência espiritual nos presenteia ainda com um belíssimo texto oferecendo-nos uma rica visão, - a partir das fontes, de Francisco de Assis sobre a misericórdia. Quanta alegria! Este também é um espaço para Provocações, e é assim que a IMMF chega até você. Para provocar, desafiar! IMMF é Prioridade neste Triênio e juntos vamos trabalhar para alcançarmos nossos objetivos. Vale ainda destacar que quando esse caderno termina, o encarte continua. Nessa edição teremos uma proposta de encontro sobre nossa mãe, a Senhora Aparecida. Nesses dias já começam as festividades dos 300 anos do encontro da imagem no Rio Paraíba. Ainda falando em provocações, que tal experimentar as práticas de oração com o Ofício Divino das Comunidades?! Lembrando que o ODC compõe as Pistas e Estratégias de AE (Documento: Luzes para nossa Juventude). Nosso caderno conta ainda com o espaço para uma reflexão muito interessante sobre Comunicação; alguns apontamentos para nos ajudar sobre a Gestão Financeira nas nossas fraternidades regionais e um texto sobre a Vocação Franciscana Secular no espaço da Animação Fraterna. O resultado deste caderno é fruto de uma equipe abençoada e muito empenhada. Na festividade deste dia, louvo a Deus por cada um dos envolvidos, e suplico ao Senhor que frutifique sempre mais o amor, o carinho e a dedicação que cada um tem com a formação da Juventude Franciscana. Que a Senhora Aparecida, mãe e Rainha do Brasil, abençoe ricamente estes irmãos e irmãs e que São Francisco os inspire a recomeçar sempre, cuidando e zelando dos irmãos, seja pelo abraço, seja pela formação que nos faz abraçar o mesmo carisma. Que Deus abençoe a todos nós! Grande abraço,

Juliana Caroline Gonçalves Almeida Secretária Nacional de Formação 2016-2019

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“Quando trabalhava assiduamente na obra da referida igreja, querendo que as lâmpadas permanecessem permanentemente acessas, andava pela cidade mendigando óleo... E, entrando naquela casa com espírito fervoroso, [...] pediu óleo pelo Amor de Deus [...].” Legenda dos Três Companheiros

CARTA CIRCULAR Nº 002/2016 Maceió-AL e Campo Grande-MS, 04 de outubro de 2016.

A todos e todas que acreditam na Juventude Franciscana,

Paz e Bem!

Com quase cinquenta anos de missão no Brasil, a Juventude Franciscana vê-se desafiada a continuar a crescer e a dar frutos. As demandas aumentam, a JUFRA se expande e a necessidade de fortalecer nossas articulações e estruturas também. Temos um país de tamanho continental que exige de nós capacidade de organização, atuação conjunta e constante acompanhamento às Fraternidades Regionais e Locais estruturadas, bem como às localidades onde surgem sementes de JUFRA. Nossa ousadia de jovens franciscanos/as tem-nos feito “bater à porta” de frades, irmãs religiosas, exjufristas, irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular e parceiros em geral para pedir ajudas financeiras para nossas atividades. E assim vai continuar! Temos, sobretudo, insistido na formação de nossos jovens sobre a necessidade de partilhar e contribuir. E isso também terá continuidade. Enquanto Secretariado Fraterno Nacional, avaliando as demandas da JUFRA do Brasil e percebendo nossas necessidades financeiras, amadurecemos também a ideia de criar uma rede de benfeitores/as da JUFRA do Brasil. E é esta a proposta que temos a apresentar para você, irmão e irmã. Você topa nos ajudar a manter essa lâmpada acesa? O que significa ser um/a benfeitor/a? Um/a benfeitor/a é um canal de ajuda. Um/a missionário/a em sua própria casa. É alguém que acredita nas ações da JUFRA do Brasil e se envolve com Amor através do ato da doação.

Como posso me tornar um/a benfeitor/a? É simples! É só encaminhar a ficha de inscrição em anexo preenchida para o e-mail: benfeitoresjufra@gmail.com ou preencher o formulário online neste link: https://goo.gl/bnqAht Existe um valor fixo para a contribuição? Existe a necessidade de que as doações sejam em forma de um plano contínuo, para melhor organização administrativa e orçamentária. Porém, deixamos livre para que cada doador/a crie um plano de doação mensal, semestral ou anual. Você pode criar o próprio plano (Ex.: 25,00 mensal/anual. De que maneira concreta minha contribuição ajudará a JUFRA do Brasil? A contribuição da Rede de Benfeitores/as será aplicada basicamente em dois âmbitos: a) Estrutural – Realização das reuniões do Secretariado Nacional; Realização de visitas frater nas às Fraternidades Regionais e Locais; Produção e envio de materiais formativos aos/às jufristas; Sustentação dos nossos meios de comunicação e etc; Dentre outras; b) Missionária – Realização de trabalhos de expansão do carisma nas regiões que não

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possuímos fraternidades; Garantia da presença e participação da JUFRA do Brasil em diversas redes e atividades eclesiais e sociais das quais é membro ou parceira; Promoção de atividades nacionais voltadas às ações das Secretarias da JUFRA tendo em vista sua missão evangelizadora; Dentre outras.

Quais os meios disponíveis para a realização da ajuda? A conta bancária da JUFRA do Brasil será disponibilizada para a efetuação da contribuição. Para maior controle, pedimos o envio do comprovante da transação bancária para o e-mail: benfeitoresjufra@ gmail.com. Estes são os únicos meios oficias para as atividades relacionadas à Rede de Benfeitores/as da JUFRA do Brasil.

Quer sugerir algo? Estamos em um processo de construção e estruturação da Rede. A ideia é que nossos/as benfeitores/as sintam tamanha gratidão (Carteirinha de Benfeitor/Lembranças...). Bem sabemos da necessidade de criar um regimento, um sistema interno de comunicação para mantê-los informados sobre as contribuições e suas aplicabilidades. Acolheremos suas propostas através do e-mail: benfeitoresjufra@ gmail.com. Vale salientar que já possuímos um site para nossos/as benfeitores/as. Acessar em: http:// benfeitoresjufra.com/. Veja um pouco mais das nossas atividades em: http://www.jufrabrasil.org/ Fraternalmente, _________________________________________

Washington Lima dos Santos, JUFRA/OFS Secretário Fraterno (Presidente) Nacional da JUFRA do Brasil Triênio 2016 / 2019

______________________________________ Humberto Martins de Lima Magalhães, JUFRA/OFS Secretário Nacional de Finanças (Tesoureiro) Triênio 2016 / 2019

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08. Entrevista - Luiz Gonzaga de Souza Lima 12. Formação Humana - Democracia e participação popular 14. Grito dos excluídos, papa Francisco e juventudes: o protagonismo na mudança urgente e necessária no mundo 22. Formação Cristã - Papa Francisco e a Igreja da misericórdia e da caridade 24. Formação franciscana - São Francisco: misericordioso como o pai 26. São Francisco de Assis e a misericórdia: um olhar a partir das fontes 28. A IMMF como uma das prioridades para o triênio 29. Celebrar o que nos é comum: a vida! 31. Mídia, violência, juventude e esperança 34. Administração financeira 36. Vocação franciscana secular 39. Formação complementar 41. Secretários Regionais de Formação 43. Encarte IMMF

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Entrevista Nesse XIII Caderno Nacional de Formação, a Jufra do Brasil tem a honra de entrevistar o cientista político e professor universitário Luiz Gonzaga de Souza Lima. O mineiro de Montes Claros estudou psicologia na PUC-Minas e é doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Milão. Lecionou Sociologia do Desenvolvimento e Política Internacional na mesma instituição, de 1974 a 1979. Foi professor de Ciências Políticas e Política Internacional na PUC-Rio. A partir de 1992 foi professor da Faculdade de Direito da UERJ, ensinando Teoria Política e Política Internacional, aposentando-se da universidade em 2008. Atualmente vive entre a Fazenda Inglesa, em Petrópolis, e Cumuruxatiba, na Bahia, e dedica-se a compartilhar suas reflexões e a escrever ensaios sobre a crise contemporânea. Ana Carolina - Luiz, primeiramente, agradecemos o carinho e a disponibilidade em contribuir para a formação da Juventude Franciscana do Brasil, especialmente neste momento tão conturbado de nossa sociedade. Sabemos que você também foi um jovem muito atuante, seja na Juventude Estudantil Católica (JEC) ou na Ação Popular (AP). Conte à nossa fraternidade nacional um pouquinho dessa caminhada e da paixão imensa que o senhor tem pelo nosso país. Luiz Gonzaga - Vim lá do Sertão mineiro. Cheguei a Belo Horizonte com 13 anos, em 1957. Como todas as crianças da minha época, aprendi no ensino elementar (primário) que o Brasil era um país poderoso, lindo, invejado por todo o mundo por suas riquezas naturais, pela sua história (foi um Império!). Tinha orgulho do meu país. Comecei a cursar o ginásio e um ano depois comecei a trabalhar, como mensageiro (Office boy) nos escritórios da Usiminas, que estava começando a ser construída.Na época seria a maior siderúrgica do hemisfério sul. Naquela época a política envolvia a todos. Mas não conseguia estabelecer um entendimento dela, não tinha opções, tinha curiosidade. Na capital eu via as lutas sociais. Greve de bancários, de tecelões, de estudantes, etc. No início de 1961, dois fatos me marcaram muito. Eu trabalhava e estudava. Eu pagava meus estudos. Os donos do colégio aumentaram o valor da mensalidade acima de minhas possibilidades de pagar. Vários colegas estavam na mesma situação. Começamos então um movimento. Participei intensamente. Resultou em várias consequências. Vencemos a luta, fui eleito um dos dirigentes do então Diretório Estudantil e entrei em contato com as esquerdas brasileiras. Um seminário da JEC sobre a realidade brasileira foi definitivo em minha vida. Descobri que, ao contrário do que tinha aprendido no sertão, o Brasil era um país subdesenvolvido, subalterno no campo internacional, com uma população na maioria pobre, doente, desprovida de direitos, com a maioria analfabeta (e sem direitos políticos, porque para votar tinha que ser alfabetizado). A maioria da população vivia no campo, no interior, subordinada aos coronéis, aos latifundiários. As terras e a renda eram altamente concentradas, nas mãos de uma elite insensível à questão social. Passei a ter pena do meu país e do meu povo. E desejei acima de tudo lutar para melhorá-lo. Entrei para a JEC e me engajei no movimento estudantil. Mas, como também trabalhava, era

por Ana Carolina Miranda

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metalúrgico, passei a frequentar as reuniões da JOC. Lá decidimos lançar uma chapa para concorrer às eleições sindicais. Era um modo simples de mostrar aos metalúrgicos que também os cristãos lutavam pela emancipação da classe operária, pela soberania brasileira, pelo desenvolvimento e pela justiça social. Até então somente os comunistas defendiam estes programas. Vencemos as eleições sindicais de 1962. Aos 18 anos, me transformei em diretor do mais importante sindicato dos metalúrgicos do país (ainda não existia o ABC paulista). Decidi parar de estudar para dedicar-me à luta sindical. Veio o golpe de ‘64, e, com ele, minha primeira prisão. Fui mandado embora do emprego. Participei da fundação da AP e voltei a estudar. Fui para Universidade (PUC Minas, psicologia), onde em 1967 fui eleito presidente do DCE. Em ‘68 passei quase seis meses nas prisões da ditadura, e após o AI-5, parti para o exílio, na Itália, onde vivi até a anistia. Lá me doutorei em Ciências Políticas e era professor na Universidade de Milão. No meu retorno fui pesquisador do IBRADES, onde fiz a pesquisa sobre a evolução política da Igreja no Brasil e fui professor de Ciências Políticas na PUC-RJ. AC - Você escreveu um livro denominado “Evolução Política dos Católicos e da Igreja no Brasil”. Como se deu esse processo de envolvimento dos cristãos em nosso país? LG - O envolvimento dos católicos e da Igreja com a política brasileira começou desde o momento que este nosso território foi conhecido, invadido e ocupado pelos portugueses. Os católicos e a Igreja participaram do planejamento e da construção do conjunto de empresas que fundaram o Brasil. O Brasil, as capitanias hereditárias, foi formado por empresas agroexportadoras, instaladas em um território sob soberania portuguesa, reconhecida e politicamente garantida pela Santa Sé, e financiadas por grupos de vários países europeus... Os católicos foram os dirigentes, tanto das empresas como da colônia. Para que a Igreja se transformasse em um instrumento do projeto português, o papa concedeu aos soberanos portugueses, inclusive os que reinaram no Brasil, o “padroado” que permitia o controle total sobre o clero, os leigos e toda a vida religiosa. Ou seja, a Igreja sempre esteve envolvida com a dominação, tendo abençoado e feito vista grossa para o genocídio dos índios e para a escravidão. As coisas começam a mudar com a

República - separação igreja-estado - e se aprofunda com as transformações sociais que levaram à Revolução de 1930. A industrialização e a urbanização impuseram um ciclo vigoroso de transformações da vida social. Então, na década de cinquenta a Igreja decidiu por um caminho novo para a organização da vida religiosa dos leigos. A vida religiosa dos fiéis passou então a se organizar de um modo mais próximos do estilo francês. A juventude – grande maioria da população – passou a ser organizada em função do seu engajamento social. Assim nasceriam os antecessores da Juventude Franciscana. Surgiu então o AEIOU da Igreja, ou seja, a Juventude Agrária, Estudantil (secundarista), Independente (profissionas), Operária e Universitária. Como se pode imaginar, em poucos anos, ainda no início dos anos sessenta, os jovens católicos estavam já integrados nas lutas operárias, nas lutas estudantis, nas lutas no campo – ligas camponesas -, nas lutas universitárias. Já no início dos anos sessenta, os católicos engajados já tinham elaborado ideias próprias para a orientação política de sua ação e se transformaram em força política hegemônica no âmbito estudantil, secundaristas e universitário e importante força no movimento operário e camponês. Foi difícil para a hierarquia aceitar os posicionamentos inevitáveis, fruto do engajamento nas lutas sociais. Os jovens fundaram uma organização política, a Ação Popular, e a hierarquia se afastou e não mais reconheceu o movimento. Este processo de evolução política da Igreja e dos católicos é descrito no meu livro. A conclusão mais importante é que somente nos anos sessenta do século passado é que os católicos se engajaram na luta para mudar as estruturas sociais criadas pela colonização. Durante 460 anos estavam engajados em construir, dirigir e legitimar estas estruturas. Por ocasião do golpe militar de abril de 1964, a hierarquia apoiaria o golpe, enquanto os jovens cristãos engajados enchiam as prisões da ditadura. Como se sabe, nos anos setenta, após dez anos de ditadura, houve grandes transformações no posicionamento da Igreja, que a transformaria em uma das forças de oposição à ditadura, em uma importante força a favor da democratização política e das transformações sociais no Brasil. AC - Vivemos um tempo em que os brasileiros estão mexidos devido ao momento político. Há uma descrença nas lideranças e ansiedade quanto ao presente e futuro. Qual a sua análise

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desse contexto atual? LG - Escrevi uma reflexão sobre o momento atual, que foi publicada pela Unisinos. http://www.ihu. unisinos.br/noticias/552637-reflexoes-politicassubsidios-para-um-dialogo-sobre-o-brasil. Nos dias que correm estamos todos perplexos. Com tantas coisas. Mas devemos olhar a história inteira. Da formação social empresarial, escravocrata e racista, das nossas origens até o nosso modo social de ser em nossos dias, muitas transformações ocorreram. Todas foram frutos de muitas lutas. Foi uma longa caminhada através da história. Hoje nos desafia a invenção de uma nova utopia democrática e igualitária. Como em outros momentos passados, como nos anos sessenta. Entretanto devemos todos ter confiança. Este é o nosso campo, pois a invenção é a força dos dominados, dos oprimidos, dos excluídos. Daquela força social e política que chamamos de esquerdas. Recomeçaremos. Inventaremos caminhos, sonhos e sujeitos políticos para construí-los. É assim que tem sido o Brasil. E assim que tem sido as esquerdas brasileiras. AC - contato com a juventude sempre foi bastante intenso. Quais as diferenças entre os jovens da década de 60 e os do século XXI? LG - É muito difícil comparar gerações afastadas por meio século de história. Ainda que os anos sessenta estejam muito presentes na vida de hoje. A música, as artes, comportamentos.... Mas podemos eleger duas questões e refletir sobre a postura das duas gerações diante delas. A primeira é a questão da estrutura social. A estrutura social brasileira do pós-guerra era ainda aquela de um pais rural. A força da economia estava no campo, onde vivia a grande maioria da população, subjugada ao latifúndio. A maioria era analfabeta, então essa maioria não possuía direitos políticos porque só o alfabetizado votava. Era ainda uma sociedade com muitas marcas da sociedade colonial. Rígida e hierarquizada. Elitista. A juventude dos anos sessenta se orientou por contesta-la, se orientou por fazer uma revolução para desmancha-la. Revolucionar as estruturas sociais, o comportamento, a estética, a arte, a família. A revolução das estruturas sociais não teve o ê xito, que parecia iminente, por conta do golpe militar de ’64, mas ocorreu uma revolução em outros campos, sobretudo no comportamento. Hoje a juventude se encontra no contexto de

uma sociedade de alta flexibilidade. A sociedade industrial está se decompondo diante dos olhos de todos. Está nascendo a tal nova sociedade “pós”, pós-moderna, pós-industrial, etc, marcada, sobretudo, pela precariedade. Tudo é provisório. Existe – basta olhar para a Itália, a Espanha, a Grécia – uma nova marginalidade, uma grande massa de jovens que não veem como inserir-se na estrutura social. A juventude de hoje ainda não amadureceu uma estratégia para manter estruturadas algumas relações sociais em campos importantes, como o trabalho, a educação, a saúde combinada com propostas de transformações estruturais capazes de construir uma sociedade includente, solidária, integradora, igualitária. Uma sociedade democrática em sentido amplo. Estão nascendo novas utopias. Estão brotando novos sonhos. A “Refundação” do Brasil e a construção de uma sociedade biocentrada pode ser um caminho. Estes sonhos se transformarão em força política, em força material, quando forem sonhados de olhos abertos. Bem acordados. A segunda é a questão da política. Os jovens dos anos sessenta consideravam que era através da política que a questão social seria decidida. O campo da ação política era fundamental. Entraram no mundo da política transformando-o. A política era o campo da esperança. Mas depois da ditadura a política sofreu grandes transformações. A política se transformou em negócios, os partidos são empresas que tem por objetivo o controle do estado para apropriarse dos recursos imensos que nele se concentram. Política hoje é corrupção. Política é hoje o campo da desconfiança. O desafio hoje é de inventar outro modo de prática política, criar outro jeito de fazer política. Outro modo de se relacionar com o poder e a criação de um outro tipo de poder. Porém, estas duas gerações são ligadas em modo radical e profundo. A ambas a história apresentou imensos desafios. AC - O senhor se divide entre a moradia em Petrópolis e Cumuruxatiba, pequeno povoado de pescadores e índios pataxós, próximo ao Monte Pascoal, BA. O que nessa comunidade o atrai e como é a experiência de conviver com esses nossos irmãos? LG - Em primeiro lugar quero dizer que é um privilégio ter a oportunidade de viver simultaneamente experiências tão diferentes. A Bahia para mim não é um engajamento. Não estou “fazendo um trabalho” em Cumuruxatiba.

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Há mais de vinte anos que venho aqui. Para repousar, para fazer férias, mas também para uma experiência de recolhimento, de contemplação, de meditação. Aos poucos foram nascendo grandes amizades com o povo daqui. Com o avanço do processo de organização dos índios aqui da região, estes amigos acabaram se transformando em lideranças, caciques, educadores. Esta circunstância me permite ser testemunho, me permite estabelecer uma relação privilegiada com um processo social fascinante que é a retribalização. Esse processo encerra consigo importantes novidades, conteúdos, e desafios de imenso valor para a construção de novas utopias. É só uma experiência de convivência, de acompanhar, de sentir junto com eles as alegrias e dores desse processo. Mas também continua a ser uma vivência de recolhimento, de contemplação e de perder-se nos encantos de uma paisagem fascinante. AC - Depois de tudo o que o senhor viveu e lutou por essa nação, temos muito a agradecê-lo por acreditar tanto em nosso povo. Despedimo-nos, pedindo que deixe uma mensagem aos jufristas do Brasil. LG - Todos os humanos estão sujeitos a condicionamentos definitivos, dos quais não podem fugir. Assim como o condicionamento biológico, nascemos e, inevitavelmente, morreremos. Mas existem outros. Entre estes destaco o que chamaria de histórico-social. Nos breves anos que temos a graça de existir como humanos, vivemos em uma só época histórica. Não nos é dado escolher. Não podemos escolher viver no passado nem no futuro. Estamos todos juntos vivendo este nosso

presente, no Brasil, no início do século XXI. Estamos vivendo uma sociedade marcada por profundas injustiças e discriminações com uma absurda concentração da renda e da propriedade, com a maioria da população submetida a formas absurdas de exploração por parte daqueles que concentram riqueza e poder. A maioria dos humanos que partilha conosco a existência no Brasil de hoje se encontra na pobreza extrema ou na miséria, de onde aproximadamente uns vinte milhões apenas acabaram de sair, mas já estão sendo empurrados para voltar. Todos os humanos, de todos os países, estão submetidos a uma organização social semelhante. Os dados são chocantes. Para se ter uma ideia, 1% da população mundial está se apropriando de uma renda igual à metade desta população, quase quatro bilhões de seres humanos. Diante desta realidade, não é possível ser neutro. Temos o dever de transformá-la. Um dever ético, em respeito a nossa condição de humanos, pois todos são igualmente membros da nossa espécie. Todos nós somos iguais. A desigualdade foi construída historicamente, não é natural, portanto, pode e deve ser dissolvida, transformada, superada. Agir para transformar as estruturas sociais injustas está entre as mais importantes atividades humanas. Este agir é fazer política. Duvidem daqueles que querem tirar a ação política das organizações e das práticas coletivas. Não agir politicamente para as transformações da sociedade é a proposta dos grupos que dominam a sociedade, que propõem a todos a quietude da subserviência. A neutralidade é a escolha pródominantes, pró-injustiças. Para os cristãos, agir para transformar estas estruturas sociais injustas é o único comportamento coerente. Não temam a política. Ela produz decepções, mas é o campo da esperança, o campo onde se podem construir socialmente os sonhos de liberdade, de justiça e de igualdade, utopias que vivem no coração de todos os humanos. Então, minha mensagem para vocês é simples: Sigam o que disse nosso Papa Francisco – “Sejam revolucionários! Sempre.”

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FORMAÇÃO HUMANA

Democracia e participação popular Diante da situação atual do Brasil, tratar temas como a Democracia e a Participação Popular trazem diversas discussões e reflexões. Até que ponto estamos realmente vivendo em uma democracia e o quanto podemos participar de nossa política? Outro ponto importante a ser pensado diz respeito à influência das redes sociais em questões políticas; somos constantemente informados de acontecimentos relacionados ao cenário político e de alguma forma nos vemos obrigados a tomar um lado e formar uma opinião. Muitas vezes a liberdade de expressão acaba se confundindo com o discurso de ódio e é nesse momento que devemos nos questionar como cristãos e principalmente como franciscanos, como discutir e compreender a política partindo de ideais igualitários e justos. Primeiramente é importante compreender o que realmente significa Democracia. Segundo o Dicionário Silveira Bueno esse termo diz respeito à “forma de governo na qual o poder emana do povo e em nome dele é constituído”, ou seja, é um regime político em que todos os cidadãos participam de forma igualitária, independente da classe social, econômica e

cultural. Esse sistema surgiu na Grécia Antiga e desde então já teve diversas reformulações, visto que eram considerados cidadãos apenas homens maiores de idade de forma geral; mulheres, negros, estrangeiros entre outros eram excluídos e marginalizados desse modelo. Apesar de atualmente o direito de participação política ser assegurado para todos, percebe-se que ainda há uma exclusão social significativa nesse processo, o que nos leva a refletir o que realmente é ser cidadão no contexto atual, mais especificamente no Brasil. O Papa Francisco, no dia 07 de junho de 2013, em um encontro com estudantes do Colégio Jesuíta da Itália, afirmou que "Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão", acrescentando ainda que os cristãos não poderiam se "fazer de Pilatos, lavar as mãos". Como cristãos, não devemos "ignorar" a política, pois, sendo esta a ciência da governança de um Estado, é de extrema importância para que sejam alcançados direitos e igualdade entre as pessoas. O Papa Francisco alegou que "os leigos cristãos devem trabalhar na política. Dir-me-ão: não é fácil. Mas também não o é tornar-se padre. A política é demasiado suja,

por Thaís Mota Guerra Formadora Regional NE B4 (BA)

por Amanda Corrêa Rocha Formadora Regional Sul 3 (RS)

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mas é suja porque os cristãos não se implicaram com o espírito evangélico. É fácil atirar culpas... mas eu, que faço? Trabalhar para o bem comum é dever de cristão". O cristão tem que se conscientizar que não pode haver separação entre a vida espiritual e a vida secular, pelo contrário, deve haver harmonia entre ambos. Assim, os mesmos valores e princípios que regem nossa vida espiritual, também regerá nossa vida civil, e poderemos ser verdadeiramente cidadãos. Aquele que pensa no próximo, aquele que coloca os desejos para o bem comum acima dos próprios desejos. O modo mais comum do cristão participar na política é através do voto, mas também existe - e não podemos esquecer - a fiscalização, que, infelizmente, poucos o fazem. Biblicamente, muitos dos servos do Senhor não hesitaram em denunciar os erros das autoridades, como Samuel, que denunciou os pecados de Saul (1 Sm

15,10-19). Atualmente, a Igreja tem um compromisso com a política, apoiando um modelo democrático, politicamente soberano e participativo, economicamente inclusivo e socialmente justo. E, nós, como cristãos católicos, além de termos que, sabiamente, participar na política, devemos rezar pelos nossos governantes. De acordo com I Timóteo (2,1-3): "¹Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens, ²pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e honestidade. ³Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador (...)". REFERÊNCIAS: https://padrepauloricardo.org/blog/politica-umdever-do-catolico http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artte xt&pid=S0103-40142004000300009

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Grito dos excluídos, papa Francisco e juventudes: o protagonismo na mudança urgente e necessária no mundo Neste ano, o Grito dos/as Excluídos/as está completando 22 anos. A partir da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era “Fraternidade e os excluídos” e o lema ”Eras tu, Senhor?”, o Grito segue dando voz e vez ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo sistema e pelos Governos. Na sua 22º realização, o lema “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata” nos provoca a sermos agentes das mudanças urgentes e necessárias em um sistema global e excludente, onde a lógica do mercado e do lucro sobressai ao valor da vida. Este lema é parte do discurso do Papa Francisco durante o IIº Encontro Mundial com os Movimentos Populares, ocorrido na Bolívia, em julho de 2015. Depois de quase um ano do primeiro encontro ocorrido em Roma, a Bolívia foi o local escolhido para “debater os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo”. Mais de 1.500 delegados de diversos movimentos populares do mundo inteiro, junto a dezenas de bispos e agentes pastorais, participaram de três dias de reuniões, análises e debates sobre os problemas sociais e ambientais que eclodem no mundo. A JUFRA do Brasil foi representada por Maria Aparecida Brito (São Paulo), Elson Matias (Paraíba) e Igor Bastos (Minas Gerais). No início de seu discurso, o Papa Francisco reforçou necessidade de uma mudança urgente e necessária no mundo. Segundo ele, não podemos

por Igor Guilherme Pereira Bastos Secretário Nacional de Direitos Humanos, Justiça, Paz e Integridade da criação (DHJUPIC)

ser coniventes com uma sociedade em que há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade; uma sociedade que produz tantas guerras sem sentido e faz com que a violência se banalize e se torne parte do nosso cotidiano; uma sociedade que ameaça o solo, a água, o ar e toda a criação em nome de um crescimento que exalta o valor econômico e descarta o valor da vida e a dignidade humana. E reforça: Precisamos e queremos uma mudança. Uma mudança real, uma mudança de estruturas. Devemos reconhecer que há um elo invisível que une cada uma das exclusões e injustiças presentes em todo o mundo. Devemos reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global e impõe a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza.

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Mas afinal, como podemos ser protagonistas nessa mudança? Devemos ressaltar a importância de uma colaboração real, permanente e comprometida da Igreja com os movimentos populares. Segundo Francisco, é uma alegria ver a Igreja com as portas abertas a todos que se envolvem, acompanham e conseguem sistematizar em cada Diocese, em cada comissão de Justiça e Paz, a união com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais. Este é o segredo: Organizar, unir as forças e promover alternativas humanas à globalização da exclusão. Devemos ser semeadores desta mudança no nosso cotidiano, caminhando junto com os movimentos populares na busca diária dos “3 T”: TRABALHO, TETO, TERRA. Temos também três grandes tarefas que são transversais e essenciais para promovermos as mudanças necessárias: A primeira tarefa é pôr a economia ao serviço dos povos. A segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça. A terceira tarefa, e talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra. Devemos assumir estas tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, levando no coração todos aqueles que sofrem. Todos aqueles que tem sua vida marcada pela injustiça e também pela esperança. “Como a Virgem Maria, uma jovem humilde de uma pequena aldeia perdida na periferia de um grande império, uma mãe sem teto que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. ”(Papa Francisco) O futuro da humanidade está nas nossas mãos. Na nossa capacidade de nos organizarmos e também na nossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudanças nacionais, regionais e mundiais. Que possamos viver o carisma franciscano à luz do Evangelho na construção de um mundo mais justo e fraterno, sendo promotores e promotoras da globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres. Confiram o discurso na íntegra:

Discurso do papa aos movimentos populares (Bolívia, Santa Cruz – Expo Feira, 9 de Julho de 2015)

Boa tarde a todos!

Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-vos de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado Senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro. Então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz» presidido pelo Cardeal Turkson, que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos movimentos populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vós, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada diocese, em cada comissão «Justiça e Paz», uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais a aprofundar este encontro.

Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu

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povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, tecto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra. 1. Comecemos por reconhecer que precisamos duma mudança. Quero esclarecer, para que não haja mal-entendidos, que falo dos problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas, que têm uma matriz global e que actualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo. Feito este esclarecimento, proponho que nos coloquemos estas perguntas: - Reconhecemos nós que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem tecto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade? - Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros? Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante? Então digamo-lo sem medo: Precisamos e queremos uma mudança. Nas vossas cartas e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada actividade laboral, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas. Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos nós que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco. Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença. Hoje quero reflectir convosco sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança – poderíamos dizer – redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que buscais uma mudança e não apenas vós: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza. O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: estão a produzir-se danos talvez irreversíveis no ecossistema. Está-se a castigar a terra, os povos e as pessoas de forma quase selvagem. E por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava «o esterco do diabo»: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se

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torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioecónomico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum. Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vós conhecei-los! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos. Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, tecto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem! 2. Vós sois semeadores de mudança. Aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: «processo de mudança». A mudança concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social. Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por «viver bem». Vós, a partir dos movimentos populares, assumis as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem tecto, do imigrante perseguido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes «rostos e nomes» estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos…. Porque «vimos e ouvimos», não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstracta ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita acção comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um plus de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros movimentos populares. Vós viveis, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falastes-me das vossas causas, partilhastes comigo as vossas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalhais no insignificante, no que aparece ao vosso alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais opondo uma resistência activa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata. Vi-vos trabalhar incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e comunidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela auto-construção de moradias e o desenvolvimento das infra-estruturas do bairro e em muitas actividades comunitárias que tendem à reafirmação de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos “3 T”: terra, tecto e trabalho. Este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia-a-dia, com as suas misérias e os seus heroísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encontro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pessoas. A entrega, a verdadeira

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entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades... Rostos e nomes que enchem o coração. A partir destas sementes de esperança semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo. Vejo, com alegria, que trabalhais no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvoredo. Trabalhais numa perspectiva que não só aborda a realidade sectorial que cada um de vós representa e na qual felizmente está enraizada, mas procurais também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão. Felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização exclusiva. Vós sois semeadores de mudança. Que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuar a semear. Podeis ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos. Peço aos dirigentes: sede criativos e nunca percais o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adoptar posições ideológicas, mas se construirdes sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos vossos irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, de certeza não vos equivocareis. A Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promovendo os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreendimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, desporto e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os movimentos populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança. No coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia perdida na periferia dum grande império, uma mãe sem tecto que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padroeira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro seja fermento de mudança. 3. Por último, gostaria que reflectíssemos, juntos, sobre algumas tarefas importantes neste momento histórico, pois queremos uma mudança positiva em benefício de todos os nossos irmãos e irmãs. Disto estamos certos! Queremos uma mudança que se enriqueça com o trabalho conjunto de governos, movimentos populares e outras forças sociais. Sabemos isto também! Mas não é tão fácil definir o conteúdo da mudança, ou seja, o programa social que reflicta este projecto de fraternidade e justiça que esperamos. Neste sentido, não esperem uma receita deste Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o monopólio da interpretação da realidade social e da proposta de soluções para os problemas contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que não existe uma receita. A história é construída pelas gerações que se vão sucedendo no horizonte de povos que avançam individuando o próprio caminho e respeitando os valores que Deus colocou no coração. Gostaria, no entanto, de vos propor três grandes tarefas que requerem a decisiva contribuição do conjunto dos movimentos populares:

3.1 A primeira tarefa é pôr a economia ao serviço dos povos.

Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra. A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. A sua finalidade não é unicamente garantir o alimento ou um «decoroso sustento». Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos “3 T” pelos quais combateis. Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, «prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos».[1] Isto envolve os “3 T” mas também acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recreação. Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar duma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de actividade e ter acesso a uma digna aposentação na velhice. É uma economia onde o ser humano, em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Vós – e outros povos também – resumis este anseio duma

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maneira simples e bela: «viver bem». Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto do trabalho intergeneracional dos povos e dos dons da criação, são mais que suficientes para o desenvolvimento integral de «todos os homens e do homem todo».[2] Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objectivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsavelmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agricultura que sacrificam a Mãe Terra na ara da «produtividade», continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos económicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projecto de Jesus. A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afecta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário. Neste caminho, os movimentos populares têm um papel essencial, não apenas exigindo e reclamando, mas fundamentalmente criando. Vós sois poetas sociais: criadores de trabalho, construtores de casas, produtores de alimentos, sobretudo para os descartados pelo mercado global. Conheci de perto várias experiências, onde os trabalhadores, unidos em cooperativas e outras formas de organização comunitária, conseguiram criar trabalho onde só havia sobras da economia idólatra. As empresas recuperadas, as feiras francas e as cooperativas de catadores de papelão são exemplos desta economia popular que surge da exclusão e que pouco a pouco, com esforço e paciência, adopta formas solidárias que a dignificam. Quão diferente é isto do facto de os descartados pelo mercado formal serem explorados como escravos! Os governos que assumem como própria a tarefa de colocar a economia ao serviço das pessoas devem promover o fortalecimento, melhoria, coordenação e expansão destas formas de economia popular e produção comunitária. Isto implica melhorar os processos de trabalho, prover de adequadas infra-estruturas e garantir plenos direitos aos trabalhadores deste sector alternativo. Quando Estado e organizações sociais assumem, juntos, a missão dos “3 T”, activam-se os princípios de solidariedade e subsidiariedade que permitem construir o bem comum numa democracia plena e participativa.

3.2 A segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça.

Os povos do mundo querem ser artífices do seu próprio destino. Querem caminhar em paz para a justiça. Não querem tutelas nem interferências, onde o mais forte subordina o mais fraco. Querem que a sua cultura, o seu idioma, os seus processos sociais e tradições religiosas sejam respeitados. Nenhum poder efectivamente constituído tem direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afectam seriamente as possibilidades de paz e justiça, porque «a paz funda-se não só no respeito pelos direitos do homem, mas também no respeito pelo direito dos povos, sobretudo o direito à independência».[3] Os povos da América Latina alcançaram, com um parto doloroso, a sua independência política e, desde então, viveram já quase dois séculos duma história dramática e cheia de contradições procurando conquistar uma independência plena. Nos últimos anos, depois de tantos mal-entendidos, muitos países latino-americanos viram crescer a fraternidade entre os seus povos. Os governos da região juntaram seus esforços para fazer respeitar a sua soberania, a de cada país e a da região como um todo que, de forma muito bela como faziam os nossos antepassados, chamam a «Pátria Grande». Peço-vos, irmãos e irmãs dos movimentos populares, que cuidem e façam crescer esta unidade. É necessário manter a unidade contra toda a tentativa de divisão, para que a região cresça em paz e justiça.

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Apesar destes avanços, ainda subsistem factores que atentam contra este desenvolvimento humano equitativo e coarctam a soberania dos países da «Pátria Grande» e doutras latitudes do Planeta. O novo colonialismo assume variadas fisionomias. Às vezes, é o poder anónimo do ídolo dinheiro: corporações, credores, alguns tratados denominados «de livre comércio» e a imposição de medidas de «austeridade» que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres. Os bispos latino-americanos denunciam-no muito claramente, no documento de Aparecida, quando afirmam que «as instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais impotentes para levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações».[4] Noutras ocasiões, sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo – graves males dos nossos tempos que requerem uma acção internacional coordenada – vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemáticas e muitas vezes tornam as coisas piores. Da mesma forma, a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adopta o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante».[5] Temos de reconhecer que nenhum dos graves problemas da humanidade pode ser resolvido sem a interacção dos Estados e dos povos a nível internacional. Qualquer acto de envergadura realizado numa parte do Planeta repercute-se no todo em termos económicos, ecológicos, sociais e culturais. Até o crime e a violência se globalizaram. Por isso, nenhum governo pode actuar à margem duma responsabilidade comum. Se queremos realmente uma mudança positiva, temos de assumir humildemente a nossa interdependência. Mas interacção não é sinónimo de imposição, não é subordinação de uns em função dos interesses dos outros. O colonialismo, novo e velho, que reduz os países pobres a meros fornecedores de matérias-primas e mão de obra barata, gera violência, miséria, emigrações forçadas e todos os males que vêm juntos... precisamente porque, ao pôr a periferia em função do centro, nega-lhes o direito a um desenvolvimento integral. Isto é desigualdade, e a desigualdade gera violência que nenhum recurso policial, militar ou dos serviços secretos será capaz de deter. Digamos NÃO às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas. Bem-aventurados os que trabalham pela paz. Aqui quero deter-me num tema importante. É que alguém poderá, com direito, dizer: «Quando o Papa fala de colonialismo, esquece-se de certas acções da Igreja». Com pesar, vo-lo digo: Cometeram-se muitos e graves pecados contra os povos nativos da América, em nome de Deus. Reconheceram-no os meus antecessores, afirmou-o o CELAM e quero reafirmá-lo eu também. Como São João Paulo II, peço que a Igreja «se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus filhos».[6] E eu quero dizer-vos, quero ser muito claro, como foi São João Paulo II: Peço humildemente perdão, não só para as ofensas da própria Igreja, mas também para os crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América. Peço-vos também a todos, crentes e não crentes, que se recordem de tantos bispos, sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a boa nova de Jesus com coragem e mansidão, respeito e em paz; que, na sua passagem por esta vida, deixaram impressionantes obras de promoção humana e de amor, pondo-se muitas vezes ao lado dos povos indígenas ou acompanhando os próprios movimentos populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os seus filhos e filhas, fazem parte da identidade dos povos na América Latina. Identidade que alguns poderes, tanto aqui como noutros países, se empenham por apagar, talvez porque a nossa fé é revolucionária, porque a nossa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro. Hoje vemos, com horror, como no Médio Oriente e noutros lugares do mundo se persegue, tortura, assassina a muitos irmãos nossos pela sua fé em Jesus. Isto também devemos denunciá-lo: dentro desta terceira guerra mundial em parcelas que vivemos, há uma espécie de genocídio em curso que deve cessar. Aos irmãos e irmãs do movimento indígena latino-americano, deixem-me expressar a minha mais profunda estima e felicitá-los por procurarem a conjugação dos seus povos e culturas segundo uma forma de convivência, a que eu chamo poliédrica, onde as partes conservam a sua identidade construindo, juntas, uma pluralidade que não atenta contra a unidade, mas fortalece-a. A sua procura desta interculturalidade que conjuga a reafirmação dos direitos dos povos nativos com o respeito à integridade territorial dos Estados enriquece-nos e fortalece-nos a todos.

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3.3 A terceira tarefa, e talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra.

A casa comum de todos nós está a ser saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra cimeiras internacionais sem qualquer resultado importante. Existe um claro, definitivo e inadiável imperativo ético de actuar que não está a ser cumprido. Não se pode permitir que certos interesses – que são globais, mas não universais – se imponham, submetendo Estados e organismos internacionais, e continuem a destruir a criação. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir – pacífica mas tenazmente – a adopção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este assunto, expressei-me devidamente na carta encíclica Laudato si’. 4. Para concluir, quero dizer-lhes novamente: O futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Estou convosco. Digamos juntos do fundo do coração: nenhuma família sem tecto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice. Continuai com a vossa luta e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra. Rezo por vós, rezo convosco e quero pedir a nosso Pai Deus que vos acompanhe e abençoe, que vos cumule do seu amor e defenda no caminho concedendo-vos, em abundância, aquela força que nos mantém de pé: esta força é a esperança, a esperança que não decepciona. Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis por mim.

[1] JOÃO XXIII, Carta enc. Mater et Magistra (15 de Maio de 1961), 3: AAS 53 (1961), 402. [2] PAULO VI, Carta enc. Popolorum progressio, 14. [3] PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 157. [4] V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE (2007), Documento de Aparecida, 66. [5] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 52: AAS 88 (1996), 3233. Cf. IDEM, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 22: AAS 80 (1988), 539. [6] JOÃO PAULO II, Bula Incarnationis mysterium, 11.

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FORMAÇÃO CRISTÃ

Papa Francisco e a Igreja da misericórdia e da caridade A Igreja reconheceu a exigência de ouvir o clamor dos oprimidos, esse clamor deriva da própria obra libertadora da graça em cada um de nós, pelo que não se trata de uma missão reservada a apenas alguns. A Igreja, guiada pelo evangelho da misericórdia e pelo amor ao homem, escuta o clamor pela justiça e deseja responder com todas as suas forças. Nessa linha, se pode entender o pedido de Jesus aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Cf Mc 6, 37. A atenção aos mais pobres – física, espiritual e humanamente pobres – não surge principalmente do fato de se tratar um problema econômico, social ou pastoral, mas do conhecimento fundamental de que o Deusamor, que se tornou pobre entre os pobres, e deu um lugar privilegiado na sua vida e no seu ministério. A igreja pobre para os pobres do

por Maricélia Ribeiro Formadora Regional Oeste (RO/MT/ MS) e Secretária Nacional para a área Centro Oeste

por Antônio Gean de Sousa Secretário Nacional de Ação Evangelizadora

Papa Francisco é, consequentemente, um princípio norteador que orienta e qualifica, no sentido evangélico, a escolha e o serviço aos pobres. A Igreja com Francisco quer ser reconhecida, antes de qualquer outro aspecto, como a casa de misericórdia, no que diz respeito ao diálogo entre a fraqueza dos homens e a paciência de Deus, acolhe, acompanha e ajuda a encontrar a boa notícia da grande esperança cristã. Porque quem entra nessa casa e se deixa envolver da misericórdia de Deus, além de não se sentir sozinho e abandonado, descobre o significado de uma existência plena iluminada pela fé e pelo amor do Deus vivo: o Cristo. No livro A Igreja da Misericórdia, o Papa Francisco nos diz: Somos uma igreja de pecadores; e nós, pecadores, somos chamados a nos deixar transformar, renovar, santificar por Deus. Na história houve a orientação de alguns que afirmavam: a igreja é só a igreja do puros, daqueles que são totalmente coerentes, e os outros devem ser afastados. Isso não é verdade. Isso é uma HERESIA! A igreja, que é santa, não rejeita os pecadores; não afasta nenhum de nós; não rejeita, porque chama e acolhe todos, está aberta também aos distantes, chama todos a deixar se abraçar pela misericórdia, pela ternura e pelo perdão do pai, que oferece a todos a possibilidade de O encontrar.

por Getúlio Martins Formador Regional Nordeste A1 (MA)

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Na Misericordiae Vultus (Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia) o Papa Francisco nos fala que misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. É o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro, é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. É o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado e que precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia, pois é fonte de alegria, serenidade, paz e condição da nossa salvação. A misericórdia de Deus: é uma bela realidade da fé para nossa vida! Como é grande e profundo amor de Deus por nós! É um amor que não falha, que sempre segura nossa mão, nos sustenta, levanta e guia. Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor, mas nos deixemos conquistar pela proposta de Deus. A proposta d’Ele é uma carícia de amor, pois não somos números, somos o que Ele tem de mais importante, apesar de pecadores, somos aquilo que Lhe é mais caro. Referências: Francisco, P. (2014). A Igreja da Misericórdia. Minha visão para a Igreja. São Paulo: Paralela.

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FORMAÇÃO FRANCISCANA

São Francisco: misericordioso como o Pai

A palavra Misericórdia vem da expressão Miser cordis, em latim, que quer dizer coração de pobre. O Antigo Testamento, ao falar de Misericórdia não usa a palavra ‘coração’, mas útero (rahamim). O misericordioso é aquele que tem espaço interior para acolher a vida, as pessoas. Deus tem materna Misericórdia. Todos fomos gerados em seu divino ‘útero’. Ser misericordioso como Deus é ter espaço no coração para os irmãos. As Sagradas Escrituras nos apontam incessantemente a misericórdia do Pai para conosco e nos pede com a mesma constância que sejamos igualmente misericordiosos para com os irmãos. Assim o Senhor resume os seus mandamentos: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. ” (Mc 12, 3031). Assim somos convidados a esvaziar nosso interior de toda forma de egoísmo e acolher em nossos corações cada irmão e cada irmã, estando sempre a serviço do outro, sendo misericordiosos como o Pai. Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos sinais eficazes do agir do Pai. Neste sentido o Papa Francisco convoca um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja,

a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes. O lema deste Ano Santo é “Misericordiosos como o Pai”, e a principal intercessora do Jubileu é Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe de misericórdia. A cada 25 anos, a Igreja celebra um Ano Santo Ordinário. O próximo será em 2025. Fora dos anos santos ordinários, a celebração do Ano Santo é “extraordinária”. O Papa quis que o tema fosse a misericórdia para nos unir mais ao rosto de Cristo, no qual se reflete a misericórdia do Pai, para que num exercício constante vivamos a misericórdia não só na perspectiva vertical, relação da misericórdia divina aos homens, mas também na perspectiva horizontal, ou seja, atendendo ao chamado de pôr em prática as obras de misericórdia neste tempo em que o mundo tem presenciado cada vez mais o desamor entre os homens. Neste ano de 2016, nós católicos, em particular franciscanos, temos a alegria de vivenciar duas importantes datas: o aniversário de 800 anos da concessão da indulgência plenária da Porciúncula (02/08) - desejada por Francisco “para mandar todos ao Paraíso”; e o Jubileu da Misericórdia, desejado por um Papa que leva o nome de Francisco. Misericórdia é uma palavra diretamente relacionada com São Francisco de Assis, que a usa frequentemente em seus escritos e que a utiliza em partes iguais em duas direções: “o agir de Deus misericordioso e o nosso agir com os irmãos com misericórdia”. Assim como no

por Muhammed Araújo Formador Regional Nordeste A3 (RN, PB)

por Agnes Larissa Formadora Regional Nordeste B1(PE/AL)

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TAU, o símbolo franciscano que nos aponta o olhar misericordioso de Deus e nos lembra que devemos lançar este mesmo olhar em direção a todas as criaturas. Em São Francisco encontramos muitos exemplos de atitudes misericordiosas e cheias de compaixão para com os irmãos, ele mesmo era como uma mãe para seus confrades, por estes tinha um zelo maternal sendo justo e misericordioso assim como o foi o próprio Cristo. Nada Francisco desejava para si, suplicava incessantemente ao Senhor por todas as criaturas. Numa noite de inverno do ano de 1216, enquanto Francisco, prostrado em oração diante da misericórdia de Deus, pensava sobre a conversão e a salvação dos pecadores, uma luz suave o circundou e um Anjo o convidou para a Capela, onde o esperavam Nosso Senhor, a sua Santíssima Mãe e muitíssimos Anjos. Francisco adentrou na capela e adorou a Jesus e venerou a Virgem Santíssima e os Anjos. Enquanto ele se humilhava assim na vildade do seu nada, Jesus lhe deu a coragem de pedir a graça que lhe agradava. E São Francisco então, como novo Moisés, não pensou em si, mas cheio de misericórdia pensou em todas as almas e respondeu: "Senhor, peço que todos aqueles que, arrependidos e confessados, entrando nesta igrejinha, tenham o perdão de todos os seus pecados e a completa remissão das penas devidas às suas culpas". E Jesus disse a ele: "Grande é a graça que me pedes, ó Francisco; todavia, concedo-lhe a ti, se a minha Mãe me pedir". Francisco então pediu a mediação da Virgem Maria, a qual com sua súplica, seu Divino Filho concedeu a graça. Porém, quis que apresentasse ao seu Vigário, o Sumo Pontífice, para obter a sua confirmação. Dito isso, cessou a visão e Francisco imediatamente foi ao Papa Honório III e ele, depois de várias dificuldades, lhe confirmou a

graça, limitando-a, porém, a um dia somente, por todos os anos e fixando para esta o dia 2 de agosto, a começar das Vésperas da Vigília. Este acontecimento da vida de São Francisco fica conhecido como indulgência da Porciúncula ou Perdão de Assis. A festa do Perdão de Assis é uma celebração da misericórdia em todo o mundo e é tão pertinente de ser vivenciada quanto a 800 anos atrás, quando esta graça foi concedida ao Pobrezinho de Assis. Olhando para esses Francisco’s com as suas as atitudes de misericórdia e esforços para que a Misericórdia de Deus se derrame sobre a humanidade inteira, somos chamados a refletir sobre nossas atitudes com relação a cada irmão e cada irmã. Neste Ano Santo da Misericórdia e a cada 2 de agosto, com o Perdão de Assis, que saibamos nos deixar envolver pelo olhar amoroso e cheio de misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo e façamos de nossas vidas um amparo materno para acolher a dor e as necessidades de todos que passarem por nossas vidas. Sejamos misericordiosos como o Pai! Referências: http://www.salvemaliturgia.com/2010/08/o-perdao-deassis-ou-indulgencia-da.html http://br.radiovaticana.va/news/2016/08/01/8%C2%BA_ centen%C3%A1rio_do_perd%C3%A3o_de_assis_ mensagem_dos_franciscanos/1248562 http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_ letters/documents/papa-francesco_bolla_20150411_ misericordiae-vultus.html http://www.diocese-sjc.org.br/ano-da-misericordiamisericordiosos-como-o-pai/ http://www.ais.org.br/oracao/palavra-viva/item/990-10perguntas-sobre-o-ano-santo-da-misericordia

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São Francisco de Assis e a misericórdia: um olhar a partir das fontes Estamos no ano da Misericórdia proclamado pelo nosso atual papa. Não poderia deixar de ser sugestivo que o ano da misericórdia, tenha sido proclamado por um papa que escolheu por nome (e missão): Francisco! De fato, pode-se dizer que a misericórdia é central na experiência de Francisco, tanto que já no fim da vida, ao lembrar-se de sua conversão, cita como ponto alto: “O senhor deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência assim: como estivesse em pecado, parecia-me demasiadamente amargo ver leprosos. E o próprio Senhor me conduziu entre eles e fiz misericórdia com eles” (Test, 1). Francisco já estava em um processo de conversão. Tinha experimentado a misericórdia e a bondade de Deus no crucificado já que “O Senhor ofereceu sua misericórdia” (OfP 4Comp); no entanto, parece que este processo somente culminou quando Francisco foi capaz de ‘fazer misericórdia com os leprosos’, e então sim, a partir dai tomar a decisão firme de ‘sair do século’ (Test 1). É possível lembrar e comparar com o que disse Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Francisco faz sua, a misericórdia do Senhor, a misericórdia que experimentou no Deus que se fez pobre, no crucificado! Assim, nas fontes franciscanas, percebemos como Francisco louva a misericórdia de Deus por um lado, e exorta à que sejamos misericordiosos como ele, por outro! Francisco, “Muitas vezes se lembra com a alma comovida, da misericórdia divina” (LM 6,6). Tem ciência de que “Deus nos salvará unicamente por sua por sua misericórdia” (RNB 24,24), e que tudo, desde a criação à salvação, é

por Frei Alexandre Patucci de Lima, OFM Conv Assistente espiritual Nacional

obra do amor, da misericórdia e da bondade d’Ele, pois Ele é o sumo bem, a plenitude do bem! Esta bondade se manifesta como misericórdia, pois Deus se compadece e experimenta nossa ‘miséria’, nossa pequenez; Francisco contempla essa misericórdia de Deus, sobretudo no presépio; na cruz e na Eucaristia: Deus doando-se a si mesmo à humanidade por amor e com misericórdia, para o perdão dos pecados: “Perdoai-nos as nossas ofensas: por vossa inefável misericórdia” (EPN 10). Numa de suas orações, assim Francisco reza: “Onipotente, justo, eterno e misericordioso Deus...” (CtOr 50). Pode-se dizer que Francisco (que não era teólogo) experimentou e viveu aquilo que São Tomás de Aquino mais tarde expressou “A onipotência de Deus é a sua misericórdia”. De fato a maior ‘demonstração’ do poder de Deus não está nos milagres que Ele pode realizar, mas na sua misericórdia, no seu querer compartilhar a sua vida divina conosco, no seu ‘abaixamento’ (que Francisco contempla principalmente, como foi dito, no presépio, na Cruz e, sobretudo na Eucaristia: ‘Eis que todos os dias ele se humilha, assim como quando desceu do trono real para o útero da Virgem: cada dia vem a nós, sob a aparência humilde: cada dia desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote” (Ad 1). A este Deus Francisco pode dizer: “é meu auxilio... minha misericórdia” (OfP 1Prim), e também: “confio em vossa misericórdia” (OfP), “porque sois nossa esperança...Vós sois a nossa vida eterna... misericordioso Senhor” (LDA 6). A misericórdia que Francisco contempla e louva o conduziu a “fazer misericórdia”. De fato, ela passa a ser central em sua vida e “colocando em sua boca a Palavra da vida’ ele passa a pregar e anunciar ao povo “justiça e misericórdia” (Ap 8). Francisco quer corresponder à bondade de Deus: “doce é a vossa misericórdia, conservai-me na plenitude de vossa bondade” (OfP 3Nom). Dessa forma Francisco se reveste da misericórdia de Deus, sempre agindo com ternura, cordialidade,

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docilidade, indo de encontro aos pobres, marginalizados, feridos, para com eles “fazer misericórdia.” Nas Fontes Franciscanas transparece o ensinamento do santo sobre a misericórdia, também no trato com os frades. Diz Celano que Francisco se compadecia de seus irmãos que enfrentavam dificuldades: “acompanhava com bondade os que sabia expostos a tentações ou que achava mais fraco, evitando toda aspereza.” (2Cel 177), e ensinava aqueles que estavam à frente da Ordem a agirem com misericórdia: “use, e tenha, na direção dos irmãos, a misericórdia que ele mesmo gostaria que fosse usada para com ele em caso semelhante” (CtFi 28). Ao escrever uma carta a um ministro, ou seja, alguém com função de ‘autoridade’ na Ordem (que para Francisco é serviço), assim dizia o santo: “E nisto reconhecerei que amas realmente o Senhor e a mim, (...), se fizeres o seguinte: não haja irmão no mundo, mesmo que tenha pecado a não poder mais, que, após ver os teus olhos, se sinta talvez obrigado a sair de tua presença sem obter misericórdia se misericórdia buscou. E se

não buscar misericórdia, pergunta-lhe se não na quer receber. (...) E se ele se apresentar diante de ti mil vezes...que sempre tenhas misericórdia” (CtMt 5-7). Também dizia: “Os que estão investidos do poder de julgar os outros exerçam o cargo de juiz com piedade assim como eles mesmos esperam obter do Senhor a misericórdia” (CtFt 28). Não é possível falar de misericórdia sem tocar na questão do perdão. No cântico das criaturas Francisco canta: “Louvado sejas meu Senhor, por aqueles que, por teu amor, perdoam” (CSol 10). Perdoar é uma atitude de misericórdia, pois é a capacidade e a disponibilidade de fazer o bem ao outro mesmo quando ele me fez algo que não era bom. É preciso para isso exercitar um ‘olhar de misericórdia’ para com os irmãos: ter em mente se todos temos dons e qualidades, também todos trazemos feridas, traumas, sofrimentos, frustrações, etc. Nada disso justifica os erros humanos, mas ajudam a olhar o outro com mais compaixão e misericórdia! Deus age assim conosco: mesmo diante de nossas misérias e pecados, doa-se a si mesmo, ama e perdoa! Perdoar é justamente um doar-se de novo ao outro no bem, no amor, com misericórdia que é esta capacidade de amar sem medida. Amor e misericórdia que antes vem a nós em Cristo Jesus, e que devemos buscar partilhar e viver, tal como Francisco, semeando sempre a paz e o bem! “Onde há caridade e sabedoria, não há medo nem ignorância. Onde há paciência e humildade, não há ira nem perturbação. Onde a pobreza se une a alegria, não há cobiça nem avareza. Onde há paz e meditação, não há nervosismo nem dissipação. Onde o temor de Deus está guardando a casa o inimigo não encontra porta para entrar. Onde há misericórdia e prudência, não há prodigalidade nem dureza de coração.” (São Francisco de Assis) “Eu vos louvarei no meio de todas as nações, porque aos céus se eleva a vossa misericórdia” (OfP 1Prim)

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A IMMF como uma das prioridades para o triênio Gente grande gosta de números. Quando falamos de um novo amigo, gente grande nunca indaga sobre o essencial (…). As crianças precisam ser muito compreensivas com a gente grande.

Na tentativa de entender o que é essencial, a Jufra do Brasil, a partir da decisão tomada no último CONJUFRA, em Campo Grande/MS 2016, estabeleceu o serviço da Infância Micro e Mini Franciscanos (IMMF) como prioridade para o triênio (2016-2019). Vê-se como necessária a reformulação das diretrizes que embasam o serviço, a criação de materiais formativos – algo a ser feito de forma contínua e, mais especialmente, a sensibilização por parte das fraternidades em manterem o zelo pelas IMMF já existentes ou pelas que venham a ser implantadas. Uma JUFRA que se preocupa com as crianças e com os adolescentes é uma JUFRA que se importa com seu presente e que se preocupa com o seu futuro. A IMMF é o futuro da JUFRA. É também o presente. Uma fraternidade que tem IMMF é adornada, é animada e torna o sim ao compromisso de jufrista mais alegre e mais firme. "As crianças precisam ser muito compreensivas com a gente grande." (SAINTEXUPÉRY, 2016, p.17). O louvor, a alegria, a espontaneidade, a capacidade de amar e de doar gratuitamente que os pequenos franciscanos possuem, fortalecem o testemunho de viver o evangelho como Francisco tanto fez. A IMMF pode se tornar uma das forças evangelizadoras mais eficazes para os franciscanos a serviço do reino de Deus. Assim, é importantíssimo que ela receba o zelo necessário.

por Sabrina Ferreira da Silva Secretária Nacional de IMMF

Antoine de Saint-Exupéry

"Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele." (Provérbios 22:6). Esse provérbio aplica-se bem à realidade da Família Franciscana, a saber, que muitos irmãos jufristas e da OFS, religiosos e religiosas, tiveram acesso ao carisma franciscano por meio da iniciação formativa na infância. Sim, “Gente grande gosta de números.” (SAINTEXUPÉRY, 2016, p.17). Apenas 41,6% das fraternidades de JUFRA no Brasil têm IMMF segundo último relato fornecido pelos secretários regionais em junho de 2016. Esse fato traduz quanto o envolvimento com a IMMF deve ser mais amplo, devendo ultrapassar este triênio e extrapolar a própria JUFRA. Todos devem se envolver! Todos devem buscar o essencial! Têm-se exemplos de algumas fraternidades de OFS que, tendo encontrado dificuldade em se envolver com os jovens, iniciaram atividades com as crianças - utilizando material produzido pela JUFRA - e tiveram e têm experiências positivas. São exemplos inspiradores! Por isso o futuro deve ser construído agora. Sua fraternidade ainda não tem IMMF? Busque seu/sua secretário(a) de IMMF regional, chame a fraternidade para se engajar nesse projeto, leia os materiais formativos para o serviço que estão disponíveis no site da JUFRA do Brasil. O trabalho e o cuidado com os pequenos franciscanos determinará a ideia do tipo de JUFRA que somos e do tipo que seremos amanhã. “Irmãos, comecemos, pois até agora pouco ou nada fizemos.” São Francisco de Assis

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Celebrar o que nos é comum: a vida! Reflexão sobre o Ofício Divino das Comunidades (ODC) em nossas fraternidades. Celebrar é uma atividade humana e religiosa universal. Celebrar traz como objetivo realçar o significado de aspectos próprios e fundamentais da vida pessoal, familiar, social e religiosa. Está presente na vida das pessoas, na sociedade e no cotidiano (olimpíadas, aniversário, casamento, funeral...). Está presente nas religiões tradicionais em sociedades modernas e pós-modernas, em meios e culturas diferentes, como expressão do sagrado. A cultura ocidental, racionalista, tem dificuldade em compreender e valorizar a meditação do rito (liturgia), pois esta escapa do domínio da razão. Sobretudo com a modernidade, que valoriza exageradamente o pensamento e a sua eficiência, se reforça ainda mais o preconceito em relação à liturgia, principalmente quando se fala em expressões mais populares. No entanto, rejeitar o rito significa rejeitar nossa própria identidade e experiência vital (cf. Terrin p. 9). Entre os indígenas aprender o rito significa aprender a cultura dos antepassados, aprender os mitos que explicam a origem e o sentido da vida e do mundo. A memória da resistência coletiva do povo africano em situação de escravidão no Brasil, só resistiu graças à fiel observância dos rituais. O catolicismo popular se expressa por meio de uma variedade de símbolos e ritos, com suas essências profundamente ligadas à vida. A liturgia é a constante recordação da manifestação

por Antônio Gean de Sousa Secretário Nacional de Ação Evangelizadora

de Deus na vida e na História. “Quando teus filhos perguntarem ‘o que significa esse rito’ respondereis: é o sacrifício da páscoa do Senhor. Ele passou no Egito junto às casas dos israelitas, ferindo os egípcios e protegendo nossas casas. (Êxodo 12, 26-27). No cristianismo, historicamente vivemos uma experiência negativa com o rito quando ele ficou destituído de sentido. Sem teologia, o rito virou ritualismo. No entanto, a liturgia é um dado fundamental à vida cristã, ao lado da palavra. Mas a liturgia refere-se também aos momentos celebrativos. Liturgia é ação simbólica, ritual: de um lado, é ação de Deus santificando, transformando; do outro, é expressão comunitária da nossa fé, acolhendo a salvação. O Ofício Divino das Comunidades, como forma de expressão popular da liturgia, tem origem nas práticas de oração das primeiras comunidades, que herdaram do judaísmo o costume de rezar nas horas do dia. Com base no simbolismo do sol que nasce e se põe a cada

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dia, as comunidades cristãs organizaram a oração diária, com salmos e leituras, associando a morte de Jesus ao sol poente e a sua ressurreição ao sol nascente. E assim, cada ofício volta a nossa atenção ao mistério da hora, possibilitando-nos expressar a nossa participação no mistério pascal de Cristo. Com o tempo, essa maneira de rezar desapareceu do cenário da Igreja e ficou restrita aos mosteiros e aos clérigos. O povo foi encontrando nas práticas devocionais formas de substituir o ofício: 150 ave-marias no terço no lugar dos 150 salmos; a oração do Ângelus nas mesmas horas do ofício; o ofício de Nossa Senhora formado dos hinos de todas as horas (mas numa hora só). O Concílio Vaticano II, na constituição sobre liturgia, propôs novamente o Ofício Divino a toda a Igreja (cf. SC n. 84 e n. 100). Houve uma reforma do antigo ofício que era rezado em latim pelo clero (breviário), resultando na Liturgia das Horas. Foi um grande avanço, mas não chegou a ser acessível ao povo. Em 1988, foi elaborado o Ofício Divino das

Comunidades, uma versão da liturgia das horas em linguagem brasileira, acessível às novas comunidades eclesiais. Foi um trabalho sério, procurando integrar a tradição das primeiras comunidades, o jeito de ser Igreja da América Latina e a piedade popular, com estilo oral, simples e afetuoso. A reforma litúrgica insiste na participação do povo nas ações litúrgicas. Num primeiro plano fala-se da participação ativa: tomar parte na ação, cantar, responder, banhar, ungir... Num segundo plano, fala-se em uma participação consciente, interior, plena e frutuosa. Com isso, é importante que não só os secretários de Ação Evangelizadora(AE), mas todos os irmãos fomentem dentro da fraternidade práticas de oração – o ODC por exemplo, como prática de oração mais profunda e gratificante. Fonte: Mistério Pascal de Cristo – Introdução à liturgia (formação sobre liturgia e ofício divino). Todas as imagens foram extraídas do Google Imagens em 06/08/16 às 12hrs51min.

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Mídia, violência, juventude e esperança "A mídia ensina - excita, vende, distrai, orienta, desorienta, faz rir, faz chorar, inspira, narcotiza, reduz a solidão - e num paradoxo digno de sua versatilidade, produz até incomunicação".

O debate sobre a influência da mídia na vida das pessoas não é novo; há tempos a sociedade brasileira já se deu conta que a grande mídia participa da formação das consciências, da construção do senso comum, das tomadas de decisão, especialmente, dos rumos do país. Por isso, é preciso dizer com objetividade: é a mídia uma das principais responsáveis diretas pela criminalização da juventude brasileira e, indiretamente, pelo seu extermínio – falamos especialmente da juventude negra e pobre. As mulheres também são vítimas recorrentes, tendo seus corpos vendidos como objetos de consumo masculino. Um estereótipo é criado e são excluídas as que não o obedecem. Mulheres, na mídia, se convertem em mercadoria. E a juventude, como um todo, é evidenciada como uma das principais culpadas pela situação de violência do país, mesmo sendo sua principal vítima. Contudo, é necessário que não percamos de vista um aspecto: a grande mídia é uma empresa. Como qualquer empresa, objetiva o lucro. O produto que vende são as propagandas, ou seja, tudo aquilo que aparece nos intervalos

por Emanuelson Matias Assessor Nacional para Registro e Arquivo

comerciais, pois, como sabemos são essas empresas que financiam a TV, os jornais, as rádios. Todo o conteúdo é eleito por um grupo muito pequeno de pessoas. São normalmente homens, brancos, adultos, de classe alta. É desse lugar que propõem o que passará nas rádios, nos jornais, na TV. Ou seja, a definição do conteúdo da mídia passa longe da imensa maioria dos expectadores brasileiros, os pobres, as mulheres, os/as negros/as, os/as jovens, os/as operários/ as. Os que decidem, decidem-no tendo como parâmetro o que dará mais audiência. Quanto mais o conteúdo é impressionante, aterrorizante, cruel, sangrento tanto mais o público se interessa, assiste e tanto mais a grande mídia fatura. Interessante perceber que a situação atual do país favorece os grandes. Aí entendemos os seus esforços em manter as coisas como estão e em responsabilizar os jovens e os demais oprimidos por sua condição. E a vida das pessoas que têm seus dramas – mortes, assaltos, sequestros, violências – televisionados, são profundamente desrespeitadas. Com os fatos distorcidos, suas vidas se transformam em ficção para prender as pessoas em frente ao televisor. Vale recordar também os inúmeros casos que não são veiculados, mesmo sendo de

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profundo interesse social, como é o caso das tantas mortes diárias de jovens, especialmente negros, nas grandes periferias brasileiras, por violência. A mídia dominante que temos hoje não tem a preocupação de denunciar as injustiças para melhorar a vida das pessoas. A mídia quer vender, quer lucrar. Está a serviço daquela pequena elite econômica que domina a sociedade em nome de seus próprios privilégios e, portanto em nome da negação dos direitos de quase todos/as. Mesmo assim, é preciso lembrar: a mídia pode cumprir um papel transformador da realidade. Com todo o seu potencial comunicador, ela pode ser ferramenta de cultura, de educação, de lazer, de informação, de mobilização, de vida. Não podemos compreendêla como fato determinado; ela é assim e pronto. A sua transformação passa, em primeiro lugar, pela compreensão de que mudar é possível. São muitas as iniciativas fecundas em usar a comunicação como instrumento de resistência, de organização e de informação contextualizada, pela libertação dos povos e pela construção de um mundo democrático e justo. Fonte: Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens.

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Administração financeira Neste espaço do Caderno de Formação destinado para a Secretaria Nacional de Finanças seguiremos com textos que gerem reflexões, não apenas para que a contribuição fraterna seja compreendida e efetiva, mas também para que coloquemos em prática o que foi eleito como uma das prioridades do XVI Congresso Nacional da Jufra do Brasil, “Formação para a Gestão Econômica das Fraternidades”.

Uma boa administração financeira permite que se visualize a atual situação da fraternidade e vise à conscientização da importância da contribuição fraterna e trabalhos de arrecadação. E quais seriam as principais funções de uma boa Administração Financeira? • Análise e planejamento: Analisar como as fraternidades locais arrecadam e planejar ações necessárias para obter melhorias caso precise. Um bom planejamento com as despesas do Regional para o ano é muito importante, como contribuição para o nacional, visitas fraternas e encontros regionais. • A boa utilização dos recursos: Analisar e planejar captações de recursos como projetos financeiros e doações de pessoas ou parcerias, para que possa ser investido nas atividades do Regional. • Cobrança: Conscientizar todos os irmãos a importância de suas contribuições nos prazos estipulados. • Caixa: Controlar entrada e saídas do caixa. • Contas a receber e a pagar: É importante que o Regional receba dentro do período estipulado para pagar suas despesas no prazo.

por Humberto Martins de Lima Secretário Nacional de Finanças

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No entanto, é muito comum algumas fraternidades deixarem as finanças um pouco de lado e ficarem em dívidas com os Regionais ou com terceiros, e os principais problemas que ocasionam isso são: • • • • • • •

Falta de registro adequado (entrada e saída de dinheiro do caixa); Falta de compreensão da importância da contribuição fraterna; Falta de trabalhos em fraternidade; Falta de compreensão dos gastos do Regional e do Nacional; Falta de prestação de contas; Não saber de quem cobrar; Falta de planejamento de gastos anuais.

Muitas vezes, as fraternidades se mobilizam e trabalham para arrecadar, mas depois não dão continuidade pelos erros acima citados. É preciso que todas as fraternidades do Regional tenham uma conscientização da importância de uma boa gestão financeira. A Secretaria de Finanças deve ter uma atenção especial nas fraternidades locais e nos regionais, pois é uma necessidade para todos, pois encontros regionais, locais, de área, CORJUFRA, CONJUFRA, reuniões do secretariado em nível nacional e regional, encontros nacionais, todos esses eventos geram gastos, e muitas vezes existe a dificuldade da realização e participação no evento por falta de dinheiro. É importante que o Regional esteja unido com as fraternidades ajudando uma a outra para que juntos possamos ter uma boa conscientização e gestão. Somos todos irmãos com o mesmo ideal de vida. Por fim, sugerimos algumas práticas para que as fraternidades possam corrigir algumas "falhas" e melhorar sua relação com as finanças: • Organizar os registros; • Acompanhar contribuições a pagar e a receber; • Controlar o movimento de caixa; • Pensar em meios de arrecadação como promoções e trabalhos em fraternidade; • Definir quem são os irmãos a contribuir; • Fazer um planejamento com a previsão de recebimentos e gastos; • Cabe ao Regional acompanhar as fraternidades e conhecer seus meios de lucratividade e de rentabilidade.

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Vocação franciscana secular “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 8,22). Como franciscanos seculares temos conhecimento que dentre as famílias espirituais suscitadas pelo Espírito Santo na Igreja, a Família Franciscana reúne aqueles que se sentem chamados à vocação de seguir o evangelho de Jesus Cristo a exemplo de São Francisco de Assis. Ou seja, somos mulheres, homens, idosos e jovens, leigos, religiosos ou sacerdotes que pela comunhão no carisma franciscano tornam-se testemunhas da mensagem evangélica a maneira do jovem de Assis. Na Ordem Franciscana Secular os irmãos e irmãs são impulsionados pelo Espírito Santo a viver no próprio estado secular, ou seja, no mundo, no seu dia a dia, nas fraternidades uma conversão evangélica e penitencial. Um constante caminhar que dura a vida inteira através da profissão que é um compromisso público diante de Deus e da Igreja. A OFS caminha em comemoração ao jubileu dos 800 anos da aprovação da primeira regra pelo Papa Gregório IX a “Memoriale Propositi”, aprovada em 20 de maio de 1221. Sendo assim, o Conselho Nacional da OFS iniciou uma peregrinação em setembro de 2015 de uma imagem com a Relíquia de São Francisco. A imagem foi um presente da cúria geral dos Frades Menores Capuchinhos e a Relíquia, um fragmento de osso, foi ofertada pela cúria geral dos Frades Menores Conventuais. Ambas vieram de Assis na Itália. Essa peregrinação passará por todas fraternidades de OFS do Brasil e deverá terminar no ano jubilar em 2021. Estamos vivendo um importante momento na OFS. Que deve alegrar e motivar nosso coração com vigor, ânimo e força na vocação. Em sintonia histórica, também celebramos o Ano da Misericórdia e os 800 anos do Perdão de Assis. A Jufra do Brasil também comunga de um importante momento. Comemorou-se os 45 anos de oficialização (janeiro de 1971) e uma nova equipe do secretariado nacional foi eleita no CONJUFRA - Congresso Nacional da Juventude Franciscana do Brasil- realizado em fevereiro, na cidade de Campo Grande/MS, assumindo para o triênio 2016-2019. A partir de março desse ano assumi o serviço da Animação Fraterna Nacional e junto ao Conselho Nacional da OFS, a disposição em animar e fomentar o estudo/uso da “Cartilha para Animação Fraterna”. “Como material de formação permanente, onde todos os franciscanos seculares voltam seus olhos a JUFRA e para que também os jufristas se esforcem em melhor compreender a relação com a OFS, estreitando os laços de fraternidade” (Raphael Taboada, Animador Fraterno Nacional 2013-2016) e família.

por Maria Aparecida Pereira Brito, OFS Animadora Fraterna Nacional

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A OFS por força de sua vocação deve estar disposta a comunicar a sua experiência de vida evangélica aos jovens (Estatuto da Animação Fraterna). Comunicar a experiência é testemunhar o carisma franciscano secular, a espiritualidade, o amor fraterno. Cada um de nós que somos chamados a essa vocação, temos dons a oferecer a partir também de nossas possibilidades. A missão é servir pois a messe é grande, poucos são os operários, já dizia o Senhor. No entanto, é preciso despertar e motivar sempre para o desafio de lançar as sementes, especialmente aos jovens. “Os jovens não são apenas o nosso futuro, são o nosso presente” Unesco, 2016 Alguém poderia dizer: “A juventude está perdida!”, “É muito difícil lidar com essa juventude.”, “Não querem saber de nada.” Chegar a essa definição parece mais fácil, apesar de não ser totalmente errada. Nossa juventude precisa de um ideal, de boas referências que lhes façam sonhar mais alto, sair da inércia e do comodismo. Ela precisa ser evangelizada, ter um encontro pessoal com Jesus Cristo. E qual homem tão quanto Francisco de Assis que conquiste mais jovens? Para terminar transcrevo trechos da homília do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, Cracóvia 2016. Como OFS e animadores (as) fraternos (as) vamos refletir individual e em fraternidade: Estamos fazendo a nossa parte de testemunhar/ animar ao mundo, aos jovens e as crianças esse carisma, essa vocação?

“Não queremos vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chamase fraternidade, chama-se irmandade, chamase comunhão, chama-se família. Alegramo-nos pelo fato de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmonos em oração. Façamos um momento de silêncio, e rezemos; ponhamos diante de Deus os testemunhos destes amigos, identifiquemo-nos com aqueles para quem «a família é um conceito inexistente, a casa apenas um lugar para dormir e comer», ou com aqueles que vivem no medo porque creem que os seus erros e pecados os baniram definitivamente. Coloquemos na presença do nosso Deus também as vossas “guerras”, as lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração... Queridos jovens, não viemos ao mundo para “vegetar”, para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade.” (Papa Francisco, JMJ 2016)

Que São Francisco de Assis o qual festejamos nesse mês de outubro nos inspire, que o Espírito Santo nos guie e ilumine em nossa missão. Que Maria, a padroeira Nossa Senhora Aparecida caminhe conosco e proteja esse tão grandioso país. Acesse e baixe a cartilha no site www.ofs.org.br/cartilha-animacao-fraterna Contato com a Animação Fraterna Nacional pelo email: cidajufra@yahoo.com.br

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Capítulo das Esteiras Celebrando os 800 do Perdão de Assis e 50 anos da CFFB 03 a 06/08/17 - Aparecida SP Esclarecimentos e dúvidas: Email: ffb@ffb.org.br secretaria@ffb.org.br tesouraria@ffb.org.br Tel: (61)3349-0157 (61)3349-0187

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Formação complementar

A Igreja da Misericórdia - Papa Francisco

“Uma Igreja que sabe abrir os braços para abraçar todos, que não é a casa de poucos, mas de todos, onde todos podem ser renovados, transformados e santificados pelo seu amor: os mais fortes e os mais fracos, os pecadores, os indiferentes, os que se sentem desanimados e perdidos.” - Papa Francisco Francisco é o papa mais carismático da história recente da Igreja. Desde que assumiu o posto, o número de visitantes ao Vaticano triplicou. Eleito homem do ano pela revista Time e candidato ao prêmio Nobel, o papa Francisco já fez história ao longo do primeiro ano de seu pontificado, provocando uma verdadeira revolução na Igreja. Com uma bonita e esperançosa mensagem de misericórdia, o homem capaz de mudar a Igreja busca rever seu papel no mundo moderno, ressaltando a importância de servir e acolher os necessitados.

O Amor Não é Amado - José Germano Fuck, OFS

Ao bom estilo franciscano, os textos foram escritos numa linguagem simples, porém oportunos e profundos em seus conteúdos. Por si próprios, conduzem ao leitor à oração e à reflexão; são um convite à conversão. Refletir cada texto é participar da experiência de fé do autor, discípulo de Jesus Cristo na vivência do carisma franciscano; é gritar ao mundo hoje que "O Amor não é amado!" O livro é uma compilação de textos do autor escritos para revista Cotovia e para programas de rádio.

Amoris Laetitia - Sobre o amor na família - Papa Francisco (Exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco) A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio - como foi observado pelos Padres sinodais -, "o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens, e isso incentiva a Igreja". Como resposta a esse anseio, "o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia".

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Secretários Regionais de Formação

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Encarte IMMF

Apresentação Irmãs e irmãos, Paz e Bem! É com felicidade que trazemos mais este presente para a IMMF do Brasil, mais um encarte no caderno de formação! Um material preparado com muito carinho numa linguagem própria para os nossos irmãos e irmãs menores. Resolvemos trazer um pouco da história de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e cuja festa é celebrada neste mês de outubro. A proposta do encontro é formativa, porém a fraternidade que desejar pode fazer um encontro celebrativo. Esperamos que este material seja bem aproveitado e trabalhado em nossas fraternidades de Infância, Micro e Mini Franciscanos, pois ele foi preparado para as nossas crianças e adolescentes com muito carinho. Fraternalmente, Sabrina Ferreira da Silva Secretária Nacional da Infância, Micro e Mini Franciscanos

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NOSSA SENHORA APARECIDA - Ambiente: Manto azul e branco, bandeira do Brasil, imagem de Nossa Senhora Aparecida ou foto, velas e flores. (Sugestão de música para receber as crianças ou outra a escolha)

Romaria É de sonho e de pó O destino de um só Feito eu perdido em pensamentos Sobre o meu cavalo É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida cumprida a Sol Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida O meu pai foi peão Minha mãe solidão Meus irmãos perderam-se na vida À custa de aventuras Descasei, joguei, investi, desisti Se há sorte, não sei, nunca vi

Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida Me disseram porém Se eu viesse aqui Pra pedir de romaria e prece Paz nos desaventos Como eu não sei rezar Só queria mostrar Meu olhar, meu olhar, meu olhar Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida

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- Oração Inicial: (distribuir a oração ou ler para as crianças repetirem) Querida Mãe Nossa Senhora Aparecida, Que nos ama e nos guia todos os dias, Nos proteja, nos guarde e nos ilumine. Mãe Maria, Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós. Amém.

Após a oração, peçam para observar a ambientação e incentivem questionamentos:

• • •

O que vocês conhecem sobre Nossa Senhora Aparecida? Por que vocês acham que a bandeira do Brasil está aqui? Qual a diferença entre Maria e Nossa Senhora Aparecida?

(Deixar o momento livre para as partilhas entre as crianças, caso apareçam dúvidas peçam que elas tentem se ajudar. Falar dos outros títulos de Maria e por que a padroeira do Brasil chama Aparecida. Dessa forma o tema já começa a ser introduzido.

Aprofundando o tema A PESCA MILAGROSA João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia eram pescadores, quando, em outubro de 1717, o Governador de Minas e São Paulo, Dom Pedro de Almeida Portugal, o Conde de Assumar, veio visitar a cidade de Guaratinguetá. A cidade, portanto, deveria dar demonstrações de respeito e organização. Então, foi pedido aos três pescadores que conseguissem muitos peixes para serem servidos no jantar ao Conde de Assumar e seus amigos. Mas, era uma época muito ruim para pescar. Os três pescadores desceram no Rio Paraíba, acompanhando a correnteza. Jogaram a rede muitas vezes, mas nada conseguiam pescar. Não é raro um pescador voltar com as mãos vazias. Mas, como a Câmara estava oferecendo bom preço pelo pescado, era decepcionante não oferecerem nada depois de trabalhar o dia todo. Ante o apuro, os três pescadores rogaram à Mãe de Deus pedindo auxílio. Chegando ao Porto Itaguaçu, lançaram novamente a rede e sentiram que havia pescado alguma coisa, um peso diferente. Surpresos, viram que era o corpo da Imagem da Senhora da Conceição.

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Lançando a rede mais abaixo, outra surpresa! Algo tão pequeno se agarrar às redes parecia impossível! Uma cabeça de uma Imagem e que se encaixava direitinho no corpo da Imagem achado primeiramente. Embrulharam as duas partes da Imagem em um pano e guardaram, com muito cuidado, no fundo da canoa. Um raio de luz iluminou a imaginação do pescador. Sem dúvida era um sinal. Lançou com mais ânimo a rede e, desta vez, um só pescador não conseguiu puxar sozinho, pois estava abarrotado de peixes. Em um instante o barco ficou cheio. A notícia se espalhou rapidamente, atraindo a atenção das pessoas para a pequena Imagem. Todos queriam ver a “Aparecida” que se encontrava na casa da Filipe Pedroso, o mais velho dos três pescadores, a quem coube a honra da sua guarda. PRIMEIROS MILAGRES Quinze anos se passaram até que o filho de Filipe Pedroso, Atanásio, construiu um oratório junto da estrada para que todos pudessem ter acesso à Imagem. Numa ocasião em que a comunidade se tinha reunido para rezar o terço e as ladainhas, as velas que ladeavam a Imagem se apagaram repentinamente, sem que houvesse qualquer vento. A esposa de Atanásio foi acendêlas de novo. Qual não foi a surpresa, quando, diante dos olhos de todos, as vela se reacenderam sozinhas. A notícia correu rapidamente: “A pequena imagem de barro faz milagres!” Um dos milagres que contribuiu muito para a expansão da devoção foi a libertação do escravo Zacarias. Esse pobre escravo, que escapara de uma fazenda em Curitiba, acabou sendo recapturado já no Vale do Paraíba. Circundaram seu pescoço, pés e mãos com correntes e começaram o percurso de volta. Ao passar diante da capelinha da Aparecida, o escravo pediu permissão ao feitor para rezar diante da Imagem. Sem delongas, lhe concederam. Zacarias, de joelhos, rezando e chorando, implorava o auxílio da Mãe de Deus. E enquanto

seus olhos estavam fixos na imagem, as correntes se soltaram e caíram ao solo, de modo inesperado. “Sou livre, sou livre”, gritou o escravo. Diante desse milagre, o feitor deu liberdade a Zacarias, que durante muito tempo serviu na capela. DEVOTOS Nossa Senhora, depois de tocar a alma dos pescadores, foi despertando a devoção em outras camadas da sociedade. O mais impressionante é que todos os que suplicavam sua intercessão eram sempre atendidos. O príncipe D. Pedro II, em 20 de agosto de 1822, viajava do Rio para São Paulo. Entrou na capela da Aparecida e pediu uma grande graça: a Independência do Brasil. Pouco tempo depois, já como imperador, consagrou o Brasil à Senhora Aparecida, com toda sua corte. A Princesa Isabel foi a grande devota da Senhora Aparecida, dela recebendo diversas graças. E para demonstrar publicamente sua gratidão e amor, em 8 de dezembro de 1868, ofertou a Nossa Senhora um lindo manto azul, cravejado com 21 brilhantes, para simbolizar os 20 Estados e a capital do País. Como a Princesa ainda não tinha filhos suplicou a Nossa Senhora que lhe concedesse a graça de ter um herdeiro. Anos mais tarde, em 1884, ela e o Conde D’Eu, seu marido, voltaram a Aparecida, para agradecerem, juntos com seus três filhos, a graça recebida. Nessa ocasião, ofereceu à Imagem uma riquíssima coroa de ouro, cravejada de quarenta finos brilhantes brasileiros. Com esse precioso objeto, a Imagem de Nossa Senhora Aparecida foi solenemente coroada no Rio de Janeiro, em 1904, por determinação do Papa São Pio X. Sugestões de dinâmicas Dinâmica 1 Peça de teatro sobre a história de Nossa Senhora Aparecida Dicas:

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- Para simbolizar o rio, forre o chão com um pano azul. - A canoa poderá ser uma caixa de papelão grande. - A rede poderá ser um pano, ou um saco de linhagem que geralmente são encontrados em feiras e sacolões de frutas e verduras. Deixar as crianças/adolescentes contarem a história da forma como entenderam. Deixar livre para fazer as adaptações de diálogos atualizados. Dinâmica 2

Quebra cabeça gigante

Preparação: Se na fraternidade ou algum amigo tiver habilidade para desenho, peça que essa pessoa faça um desenho de Nossa Senhora Aparecida em um papel bem grande, ou em tecido, de modo que a imagem tenha tamanho de 1 metro de altura. Caso não tenha quem faça esse desenho, pode-se mandar fazer em uma oficina de faixas e banners para propaganda. Essa imagem deverá ser colada em papelão ou papel cartão grosso e depois recortada em vários pedaços (no mínimo 1 pedaço para cada criança participante). Cortar de forma irregular, para que sejam encaixadas depois como um quebra cabeça. Esses pedaços não podem ser muito pequenos, mas ter um tamanho suficiente para escrever atrás algumas frases. Numere as peças na parte de trás, começando pelas que ficam em volta do desenho e continuar seguindo a ordem de cada peça, deixando a peça que tiver o rosto de Nossa Senhora por último. À parte, Escreva a história do aparecimento de Nossa Senhora Aparecida em frases (tantas frases quantos forem os pedaços). Depois copie cada frase nas peças, seguindo a ordem das peças, de modo que a história estará completa quando a imagem também estiver. Evite colocar o nome da imagem nas frases. Somente na última peça ele será colocado.

Aplicação: No dia do encontro, convide as crianças para montarem o quebra cabeça, mas sem dizer de que se trata a imagem. Entregue uma peça para cada criança (ou até duas peças para cada uma se tiver mais peças que crianças, porém as peças entregues para cada uma não devem ter numeração seguida.) Depois que todas as peças forem entregues, comece a montagem pela criança que recebeu a peça número 1; ela deve ler a frase que está atrás da sua peça e colocar no lugar. Pergunte se alguém sabe dizer de que é a imagem. Continue a colocação das peças, seguindo a ordem de numeração das mesmas, sendo que a criança deve ler primeiro a frase da sua peça antes de colocá-la. Mesmo que as crianças descubram de quem é a imagem continue com o jogo até o final. Conclua a brincadeira cantando uma música de Nossa Senhora Aparecida que todos saibam.

Oração final

CONSAGRAÇÃO À NOSSA SENHORA Oh, Minha Senhora e também minha mãe Eu me ofereço inteiramente, todo a vós E em prova da minha devoção, eu hoje vos dou meu coração Consagro a vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca Tudo o que sou, desejo que a vós pertença Incomparável mãe, guardai-me e defendei-me Como filho e propriedade vossa, Amém Como filho e propriedade vossa, Amém

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Referências: Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil 1ª edição, 2013. http://catequesecomcriancas.blogspot.com.br/2012/10/historia-de-nossa-senhora-aparecida.html http://universovozes.com.br/editoravozes/web/view/BlogDaCatequese/index.php/historia-de-nossa-senhora-aparecida/ Sugestão de música: https://www.youtube.com/watch?v=eCRewFutsNc

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VAMOS COLORIR?

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