Nº 3
No Mínimo Obsceno «Para livrar-se dos governos não é necessário lutar contra eles pelas formas exteriores, é preciso unicamente não participar em nada, basta não sustentálos e então cairão aniquilados.» Liev Tolstói
Setembro de 2012
Há poucos dias o primeiro ministro de Portugal
anunciou
mais
medidas
gravosas para todos os que vivem à custa do seu trabalho e nos Açores são cada vez maiores dificuldades com que vive o povo trabalhador. É o número de desempregados que não para de crescer, são muitos trabalhadores com salários em atraso, são os cortes nos ordenados e nas pensões, é o aumento do custo de vida…
É nesta situação que 12 forças políticas se candidataram às eleições regionais nos Açores que se realizam no próximo dia 14 de Outubro com vista a elegerem 57 deputados.
De acordo com uma notícia publicada, recentemente, no jornal publicado na Este boletim vem a público numa altura
ilha de São Miguel, Açoriano Oriental,
em que, embora não oficialmente, já
serão astronómicos e imorais as verbas
começou a campanha eleitoral para a
que vão ser esbanjadas durante a
Assembleia Legislativa Regional dos
campanha nomeadamente pelos grandes
Açores.
partidos com vista a enganar o zé-
povinho que em outubro vai como um
um orçamento global de 48 mil euros,
obediente rebanho eleger os deputados
dedica a maior fatia à despesa referente
cujo partido mais brindes ofereceu.
à conceção da campanha, agências de comunicação e estudos de mercado,
A título de exemplo, o partido que se
onde gastará 26 mil euros.”
diz socialista apresentou um orçamento de 996 mil euros e o partido que de
Não é uma afronta, a quem passa por
reclama social-democrata 651 mil
dificuldades, gastar cerca de 2 milhões
euros.
de euros para eleger quem nos diz representar mas que estará ao serviço
Ainda de acordo com o referido jornal
dos grandes interesses do capital ou
“ao nível das despesas com promoção e
apenas a servir-se do cargo para
comunicação impressa e digital, o PS
abocanhar as migalhas que sobram
prevê gastar 261 mil euros, seguido pela
àquele?
CDU, com 65 mil euros, e pelo CDSPP, com 61 mil euros, prevendo o PPM
José Libertário
gastar com esta rubrica apenas 1.450
9 de setembro de 2012
euros. A Plataforma de Cidadania, com
rancisco Soares Silva e António da Costa Mello foram diretores da Escola União dos Operários que terá sido fundada em 1907, pois acreditavam que a emancipação da humanidade só seria possível se aos
A ILUSÃO DO VOTO por CABN Chegam
praticada as
eleições
e
discursos
pomposos de democracia são feitos em
apenas
profissionais,
a
pelos “política
políticos para
os
políticos”.
todas as mídias. Candidatos assumem
O verdadeiro sentido das eleições não é
para si o dever de administrar e legislar
o
o bem público, tudo em nome da
democrático de inclusão e participação
democracia. Querem nos fazer acreditar
popular,
que o maior símbolo de realização
aumentar a sua participação nas esferas
democrática é o exercício do voto e, é
de decisão, mas o de representar um
aqui que a democracia aparece para a
retrocesso e um distanciamento do fazer
população,
política – este é o principal objetivo dos
é
só
aqui
que
a
“democracia” invade a vida social. O
sistema
de
representatividade,
vigente nas eleições, é criado e mantido
de
levar
onde
adiante
a
um
processo
população
possa
partidos envolvidos nesse processo, o logro das eleições com o número de votos.
pelos grupos dominantes de nossa
Os partidos de esquerda, comumente
sociedade, os lacaios e exploradores do
chamados de populares, hoje encostam-
povo que dessa forma mantêm seus
se no muro da moderação, tornando-se
próprios interesses, sejam políticos ou
conciliadores de classe. Alimentam a
econômicos. É uma ilusão pensar que,
falsa esperança de que uma mudança de
um partido, aliança ou indivíduo possa,
fato poderá ocorrer, caso se elejam
de fato, ser o mais fiel representante de
alguns autodenominados representantes
milhares e milhares de pessoas. O que
do povo. Em vez disso, apropriam-se da
está em jogo é, na verdade, uma luta das
manutenção de um sistema eleitoral,
elites pelo poder e o trabalhador não
político, jurídico, econômico e social
passa de uma mera marionete no meio
totalmente controlado pelas elites.
dessa disputa.
No perfil das siglas, o que se observa,
Cada vez mais, a política passa a ser
apesar
de
muitos
encarada com total descrédito pela
considerarem
massa. A cultura do delegacionismo –
oposição, é que o quadro permanece
“eles farão por mim” – cria uma falsa
inalterado: quem sobe e quem desce faz
ilusão de que a política é suja e deve ser
parte de um jogo de dominação e
da
partidos
situação
ou
se da
exploração que necessita subsistir para
fazem parte desse jogo, impregnado de
sua continuidade, para a manutenção de
podridão, existem homens e mulheres
um Estado que defenda os interesses
honestos (as), que procuram de fato
dos poderosos e se apresente para o
ajudar as suas comunidades ou os
povo como democrático.
movimentos
O atual regime, de usurpação e espoliação do trabalho e da natureza, busca através do sufrágio universal sua legitimidade. A adesão de suas vítimas –
cidadãos
(dimensão
política)
e
trabalhadores (dimensão econômica), nos mecanismos do Estado, chancela o
sociais
representar.
No
somarem
que
entanto,
uma
pensam além
de
reduzidíssima
quantidade, encontram-se perdidos no meio de tanta corrupção e falsos acordos
e,
se
não
acabarem
incorporados ao esquema fétido, estarão reduzidos à impotência.
que este mesmo representa: a tomada de
O período eleitoral, no lugar de
posse do Poder pela classe dominante.
representar um período democrático e
Já dizia Sebastien Faure “O Estado é o
de participação popular, representa de
guardião das fortunas adquiridas; é o
fato
defensor dos privilégios usurpados; ele
entregamos
é a muralha que se ergue entre a minoria
política, de discutir as questões da
governante e a multidão governada; é o
cidade, do estado ou da nação e de
dique alto e largo que põe um punhado
decidir sobre elas, àqueles que se
de milionários ao abrigo dos assaltos
apresentam
que lhe lança a torrente agitada dos
profissionais.
espoliados.”
decidam nossas vidas por nós, decidam
Está aberta a caçada! Candidatos disputam com propostas, personalismo, estratégias de marketing, cada eleitor, ou melhor: cada voto. Pois basta olhar para o espetáculo marcado por drama, comédia,
farsa,
do
trágico
ao
um
pequeno nosso
período poder
de
como Permitimos
onde fazer
políticos que
eles
sobre as creches, os hospitais, as escolas, sobre nossos salários, sobre o preço da nossa comida, nos roubem através de impostos e nos façam sustentá-los em seus palácios cheios de privilégios concedidos por nós.
sentimental, para perceber sua obsessão
Afinal, já dizia Elisée Reclus, geógrafo
pelo voto. E ainda proclamam que votar
francês: “votar significa abrir mão do
é realizar um dever sagrado. Mas
próprio poder. Eleger um senhor, ou
sejamos justos: em alguns partidos que
muitos senhores, seja por longo ou curto
prazo, significa entregar a uma outra
vários companheiros trabalhadores de
pessoa a própria liberdade” . Criticando
outros países: na Argentina, após a era
radicalmente
de
Menem, os panelaços derrubaram 5
representatividade, votar é legitimar as
presidentes em 2 semanas; na Bolívia, o
origens do Estado, é fortalecer seu
povo enfrentou a privatização da água;
poder, ser cúmplice de seus crimes. É
no Equador, também foram destituídos
delegar nosso poder de decisão a outros.
presidentes;
o
modelo
atual
O sistema de eleição reflete um absurdo: acreditar que alguém possa emitir opinião e legislar sobre todas as questões: saúde, agricultura, transporte, comércio, indústria, educação, guerra, moradia, etc., e até mesmo sobre seu próprio salário (??!!). Permite que o banditismo e a corrupção façam parte do dia-a-dia da administração do bem público.
apenas um passo que podemos dar, porém, para que ele seja efetivo de fato, devemos ir além e participar da vida política da cidade, de nossos bairros, de escolas,
hospitais,
creches.
Precisamos nos organizar, entre nossos pares e ir às ruas quando aumentam a tarifa de ônibus, o preço do pão, quando fecham
árabes
recentemente, demonstraram
os sua
capacidade de luta contra os velhos ditadores que, por anos exploravam o povo. Nos anos de 2004 e 2005, em Florianópolis, fomos às ruas e logramos a redução daquela tarifa que a prefeitura tentou impor. Isso é fazer política além do voto! A capacidade de mobilização popular gera uma força social que, se não contida pelos poderes reacionários do Estado, pode causar sérios danos à
Não acreditar no jogo das eleições é
nossas
povos
mais
nossas
escolas,
quando
precisamos de mais hospitais, quando privatizam a saúde, a educação, etc.
estrutura de dominação e exploração. Nosso poder está nas ruas, nosso poder é popular. Enquanto uns votam com os de cima, nós escolhemos lutar com os de baixo, o povo, aqueles que vivem sustentando essa injusta pirâmide social que
representa
a
nossa
sociedade
desigual e desumana. Viva o Poder Popular! Fonte: Palavras de Luta, nº 3, set, out, nov 2012, Informativo do Coletivo
Precisamos dar uma lição nesses
Anarquista Bandeira Negra – CABN
políticos e esta lição vem das ruas,
(www.CABN.libertar.org)
como
demonstraram
recentemente
PARA QUE (M) SERVE AS ELEIÇÕES concreta rumo a uma sociedade justa e igualitária, onde as necessidades do povo são realmente atendidas. Pelo contrário, Lula, por exemplo, já afirmou que os banqueiros nunca ganharam tanto quanto em seu governo, e agora, Dilma faz os mega empresários darem pulos de alegria com suas privatizações e retirada dos direitos conquistados com a
luta
de
nós
trabalhadores.
No
município, as “previsões” eleitorais apontam
para
a
continuidade
das
De quatro em quatro anos assistimos ao
políticas de criminalização dos pobres e
que a mídia chama de “festa da
dos movimentos sociais, onde são
democracia”.
lei
tratados como caso de polícia. Junto a
nos obriga a votar em políticos que
isso vem o despejo de comunidades
supostamente
inteiras
É
quando
vão
a
representar
e
para
a
infraestrutura
das
defender os interesses do povo. Surgem
Olimpíadas e da Copa do Mundo ao
dezenas de candidatos pedindo nosso
invés de resolver os problemas do povo.
voto, fazendo suas promessas e jurando honestidade. Mas sabemos que eles só dão as caras nas ruas em período eleitoral. Enfim, anos e décadas se passam e os discursos parecem nunca mudar, como não muda o descaso crônico do poder público em áreas como saúde, educação, moradia, entre outros. As eleições servem para que(m)? Historicamente,
a
representativa eleições, NUNCA foram
democracia e
as responsáveis
por nenhum tipo de transformação
O Estado remove os moradores de
opinião povo”, não hesitarão em ter
favelas, utilizando laudos técnicos que
“pulso firme” com os trabalhadores,
condenam casas supostamente em áreas
cortar o ponto dos grevistas “se for
de
necessário”,
risco,
favorecendo
empresários
e
os
ricos:
especuladores
reprimir
e
manter
as
mesmas políticas de seus “opositores”
imobiliários. Essa mesma lógica de
se
“tudo para os ricos e nada para os
governabilidade
pobres”
carreiras políticas (como foi o caso do
atinge
outros
serviços
essenciais. Na educação, na saúde e nos transportes
públicos,
tiverem
que ou
garantir alavancar
a suas
PT).
pouco
investimento, sucateamento e muito dinheiro
para
empreiteiras
e
os
empresários,
empresas
privadas.
Curiosamente são estas que financiam as campanhas da maior parte dos candidatos. A alternativa apresentada pelos partidos de esquerda também não foge muito disso. Discursam muito sobre o chamado “voto consciente” ou sobre o “voto crítico”,
como
mudanças
As eleições garantem a participação
passassem pelo ato individual de votar
política do povo? Não! Pois as eleições
nas eleições. Seja o candidato do rosto
e a democracia representativa fazem
simpático, que encontra voz nos anseios
parte do problema, e não da solução,
e
(ou
reforçando a desigualdade social e
passivos) de setores da classe média, ou
legitimando que os ricos e poderosos
aquele da radicalidade que não passa do
continuem a concentrar poder para
discurso. Na prática, tudo isso traduz-se
oprimir e explorar o povo. Frente a isso,
em centralismo político, pois esses
construímos desde já o poder popular,
partidos,
nos locais de moradia, trabalho e
sentimentos
democrático
se
as
conservadores
apesar para
do as
discurso “bases”
se
estudo, tendo o povo como protagonista
organizam de cima para baixo. Mesmo
das
que se digam preocupados em “ouvir a
movimentos sociais urbanos e rurais.
lutas.
Povo organizado em
base de nosso programa de intervenção na
criação
e
participação
nos
movimentos populares. Um programa que não troque sua independência de classe por cargos, favores ou razões governistas. Devemos
atuar
como
motor e fermento nas lutas sociais, que
é
onde
se
constrói
o poder
popular e o novo sujeito histórico. Não devemos ter ilusão com o Estado, pois Decidindo e propondo junto, de baixo
historicamente ele é o aparelho político
para
nossos
da classe dominante que absorve e
problemas com autonomia política e
destrói nossos sonhos. O socialismo
econômica, independente de partidos,
com liberdade não se produz com as
políticos, governos e empresas. São
armas do velho mundo. Os meios
muitos os exemplos de movimentos
determinam os fins e só um povo forte,
sociais do campo e da cidade com
unido pela solidariedade de classe e
cultura,
por meio da ação direta pode produzir
cima para
coletivo,
resolver
educação, oficinas
investimento
e
atividades
de
uma verdadeira transformação rumo
como
à revolução
social e
reivindicações e mobilizações de base
Libertário!
Chega
onde o povo fala sem intermediários e
democracia representativa! Pelo poder
constrói o poder popular.
popular!
produção
coletiva,
Entendemos
que
o federalismo devem www.farj.org
assim
a autogestão e fundamentar
a
ao Socialismo da
farsa
da
Federação Anarquista do Rio de Janeiro – FARJ