EXPRESSõES nº 14

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EXPRESS천ES! mais que dizer - transmitir ed. 14 - ano 2


Capa: Continentes, Ana Paiva

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EDITOR José Danilo Rangel CO-EDITOR: Rafael de Andrade COLABORADORES: Laisa Winter - Quadro a Quadro Ana Paiva - Grande Angular César Augusto - Visões Poéticas Saulo Gomes de Sousa - Conto Alessandro Amorim - Crônica Luiz Cochi - Poesia Leo Vincey - Poesia Mari Azuelos - Fotos Bruno Honorato - Poesia

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ÍNDICE Conto

A Cidade dos Mortos Por Saulo Gomes de Sousa

pág. 06

Crônica

Fuja, Esconda-se! Por Alessandro Amorim

pág. 09

Quadro a Quadro

As Virgens Suicidas

pág. 32

Por Laisa Winter

Grande Angular

Continentes Por Ana Paiva

Número Anterior

pág. 34

Preâmbulo..................................................................04 A Cidade dos Mortos..............................................................06 Fuja, Esconda-se: Deixe Só a V ida Encontrar Você........................09 A Transgresaum............................................................12 A Insdústria do Horror........................16 Pureza............................................21 A Garganta.........................................................22 Coletivo......................................................24 Canção do Acaso......................................................26 Cyber Head................................29 Duro Concreto..................................30 Visões Poéticas: Vamos Tomar Um Cappuccino?.........31 Quadro a Quadro: As Virgens Suicidas.................................32 Grande Angular: Continentes............................34 Do leitor.......................................................................42 Ao leitor.................................................................................43 EXPRESSõES! Set. de 2012 | 03


PREÂMBULO

Para crescer, é preciso mudar. Quando comecei a fazer a revista EXPRESSõES!, não tinha ideia de como seria fazer uma revista, como seria mantê-la, sabia, entretanto, de outras experiências, que o básico é ir fazendo. É na manufatura que conhecimento e prática vão se associando e se desenvolvendo, um puxando o outro para frente, daí, experimentar, daí, as mutações que essa revista vem sofrendo desde seu primeiro número, são tentativas e mais tentativas, aprendizado mais aprendizado. Não é à toa, portanto, que a cada mês, você, leitor, coça a cabeça diante de algo que mudou. Apesar do que sugerem os grandes manuais de como fazer uma revista, fazê-la assim é mais divertido. Além do mais, leitor, é step by step que vamos alcançando nossos objetivos, apresentando uma grande diversidade de trabalhos, sempre incluindo, sempre fazendo caber. Para este mês, temos a inclusão da seção Grande Angular, assinada por Ana Paiva, que gostou da experiência feita na seção EXTRA, com dois ensaios de fotos conceituais. A ideia principal da Grande Angular é dar continuidade ao trabalho já em desenvolvimento. Para a estreia da seção, Ana Paiva preparou o ensaio Continentes. Ainda sobre fotos - Mari Azuelos adorna com seu trabalho, que é intrigante e curioso, o entresseções. Na seção conto, A Casa dos Mortos, conto de Saulo Gomes de Sousa, que aparece pela primeira vez nas páginas da EXPRESSõES!. O conto faz parte de um projeto maior, uma profunda reflexão sobre a morte e as várias formas de tratar dela. Mais adiante, Alessandro Amorim dá uma dica muito importante para manter sanidade nesses dias de tumulto e desordem que vivemos, Fuja, Esconda-se: Deixe Só a Vida Encontrar Você! – é a crônica deste mês. Em Decodificando, falo um pouco sobre a transgressão, refletindo sobre o seu valor, que não é incondicional. Rafael de Andrade, em A Indústria do Horror, num texto menor que o costume, traz uma reclamação sobre alguns programas de TV e pondera sobre seus efeitos sobre as mentes humanas. Depois, é hora da Poesia. Luiz Cochi, Bruno Honorato e Leo Vincey, e eu também, tomamos o espaço. O resultado é variado. O trabalho de Luiz Cochi chega a lembrar a poesia percusiva futurista, o de Bruno Honorato aproveita a onda ON, Leo Vincey observa o homem e a natureza, eu falo de uma coisa para falar de outra coisa. Fechando a área poética da revista, César Augusto e um convite, em Visões Poéticas: Vamos Tomar Um Cappuccino? Para terminar, Laisa Winter nos fala sobre As Virgens Suicidas, um filme de Sofia Coppola, aproveitando o ensejo para pensar a missão das mães na Terra. Espero que goste.

Porto Velho - Setembro de 2012 José Danilo Rangel EXPRESSõES! Set de 2012 | 04


Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opini찾o formada sobre tudo. Raul Seixas

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Conto

A Cidade dos Mortos

UM PENSAMENTO DA PÓS-MORTE: ENTRE PASSOS E SOL

por Saulo Gomes de Sousa

Aqui estou, em um cemitério, já passam das quinze horas. O sol está castigando, apesar de haver uma leve brisa. Aqui não estão sepultados os meus. Enquanto caminho, descubro que estou sobre um grande livro que reúne as mais variadas histórias, escondidas e enterradas. O tempo guardou seus verbos e escondeu seus ossos. Aqui, jazem histórias que foram escritas por mais de um século junto às que foram rascunhadas em poucas horas. Este cemitério não é muito antigo, nem sequer chegou ao seu centenário. Mas espelha o espírito da sociedade. Um túmulo imponente todo em mármore cercado por grades, ao lado de um amontoado de terra marcada por uma cruz de madeira apodrecida, onde só é possível ler o ano de nascimento do morto. Um lugar onde os mortos são esquecidos pouco a pouco. Os mortos que foram filhos, pais, irmãos, esposos, amigos, grandes homens, grandes mulheres, conforme seus tempos e outros, que apenas existiram. Os mortos vivem? Ao menos é o que a maioria acredita. Conforta-nos pensar que nossos mortos terão uma vida melhor onde quer que estejam. Nos preparamos para a vida tentando inculcar em nossa

mente o esquecimento desta sombra inaceitável que é a morte. Meu pai costumava dizer que muitos querem ir ao céu, mas ninguém quer morrer para encontrá-lo (desconhecido de todos) ninguém retornou de lá. E se alguém retornasse, sua condição de ex-morto incomodaria. Entre vida e morte existe uma brecha fina de profundeza abismal. O medo da morte impede algumas pessoas de abrirem um pouco seu lado mais espiritual, salvo algumas poucas pessoas e culturas que se preparam para o além. Morre um vizinho, um primo distante, o irmão mais velho, o pai idoso. Mas nós mesmos não queremos sentir nossa morte, se é que sentimos. Morremos todos os dias. O que nos perturba é a incerteza do que está além das fronteiras do que conhecemos. Mas não podemos esquecer que morreremos, sem vírgula. Sigo até a parte sul do cemitério, vejo três grandes árvores que definem o limite entre os mortos e a floresta. Entro em um corredor à direita, apesar das três grandes árvores o sol ainda me castiga. Adentrando no corredor vejo quatro pequenos túmulos, um apresenta o retrato de uma criança e azulejos de cor azul celeste, os outros são de azulejos brancos, alguns EXPRESSõES! Set. de 2012 | 06


quebrados, parecem que há muito tempo não são visitados. Ao contrário de um túmulo de outra criança mais a frente, este é um pouco maior, atesto a visita recente ao ver as ceras derretidas sobre a terra seca. Continuo caminhando ao som de alguns pássaros, vejo agora um único túmulo “de terra bruta” com três cruzes, todas de madeira. Paro um pouco, vejo os nomes e os anos (estrelas e cruzes) e penso naquelas vidas, “de onde vieram e o que fizeram?”, de repente, sou surpreendido por um homem que, pensado ser eu um parente dos mortos das três cruzes, me faz uma proposta para a construção de um túmulo. Agradeço e digo: “Não são os meus”. Ele se desculpa e retorna de onde veio. Ainda caminhando por entre os caminhos daquela cidade, o cemitério, vou construindo em minha mente vários caminhos, diversos filmes baseados nos nomes e nas datas de nascimento e morte. Agora estou frente a um túmulo antigo, bonito, nele há uma foto de um ancião e seu destacado bigode. Fico impressionado com o ano de nascimento 1899, falecimento em 1998 “Quase cem”, que livro foi a vida deste cidadão: “José Faustino!”. Quantas pessoas ele conheceu, as gerações que viu nascer, quantos despediu, quantas mulheres amou e quem me dirá? As cruzes? As velhas árvores? ESTRELAS E CRUZES Dona Lúcia do Triste Texto (*1921, + 2008).

veitando-se da ocasião, levou sua caçula, enchendo seu velho coração de amargura. De suas lágrimas apenas faltava sair sangue. “Mas ainda continuava viva, lúcida e esgotando os sonhos.” A amargurada senhora toda vez que visitada pelos netos, quando estes a perguntavam: “Como a senhora está vovó?”, respondia: “Triste, como sempre”. Mas meses depois, um dia antes de seu aniversário de oitenta e sete anos, Dona Lúcia adentrou em seu mundo interior e não abriu mais os olhos. Era já fim de tarde, o último cochilo da velha, que deitada sob a cama suspirou o último ar. Somente um resto de sol testemunhou. Foi velada pelos seus, e depois sepultada ao lado do marido e filhos na cidade dos mortos. O Boamorte (*1909, + 2001) O nome dele era Luís da Boamorte e contava já 92 anos de nascido. Tinha, segundo ele, “não sei quantos filhos espalhados por tanto lugar”. “Quasi morri”, dizia ele, “e não foi só uma nem duas, acho que o meu nome me protege. Meu finado pai morreu de velho também e dizem que meu avô se converteu em uma pedra. A morte tem sido decente com a gente, porque nós somos os Boamorte.” Luís, ou Luís Velho, tinha nesse sobrenome, “Boamorte”, um amuleto para seus longos dias, era impossível acreditar que um velho saudável apesar das marcas e efeitos do tempo em sua pele, morresse de forma tão estranha. Era uma noite chuvosa, raios e fortes trovões. A noite acabava de começar e o velho Luís Boamorte resolveu sair para banhar-se na chuva em plena noite (não se sabe se foi delírio ou um desejo), só se sabe que dali ele não retornou para casa. Na manhã do dia seguinte, uma das filhas encontrou o idoso deitado no chão, estava nu e de braços abertos, parecendo o Homem Vitruviano de Da Vinci, ainda se via as mãos enlameadas. Se a morte tivesse voz, diria que o velho escolheu a forma e a hora para morrer, sob a chuva fria daquela noite de novembro. E quase me esqueci de dizer o que me contou sua filha: “o velho estava sorrindo”.

Por ali, naquele mundo dos esquecidos, dos ossos, das lembranças apagadas como a tinta de um escrito em uma cruz de madeira já consumida pelo tempo, jaz uma dona. Dona Lúcia. A anciã, depois de muitos anos de dores e angústias, ansiava pela chegada da morte. Mas ainda não era sua vez, morreu seu marido. E ela chorou os cinquenta anos de uma união conturbada. Mas se é o destino que comanda, ele novamente a surpreendeu. Na quinta-feira durante a grande chuva ao entardecer, veio a morte e levou seu primeiro filho. Em dores, que são sentidas somente na alma gritou aos ouvidos do Eterno: Que desgraça eu fiz para sofrer tal dor? E sua tristeza foi tamanha que desejou não ter nascido: Melhor nunca ter existido do que enterrar meu filho! ..................................................................... E se passaram os sóis, cada vez mais melancóli- Para mais de Saulo Gomes de Sousa, acesse: cos. Certo dia, em forma de acidente, a morte, apro- http://arvorenegra.blogspot.com.br/

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Foto : Mari Azuelos

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Crônica

FUJA, ESCONDA-SE:

deixe só a vida encontrar você

por Alessandro Amorim

De vez em quando, nos pegamos pensando naquele lugarzinho especial que traz tantas recordações de um passado distante. De vez em quando, recordamos aquele “esconderijo”, que poucas pessoas conhecem e que nos faz, ou fazia, tanto bem. De vez em quando sentimos uma incrível necessidade de fugirmos para aquele lugar, longe de tudo e de todos, onde não temos amigos – no máximo conhecidos – e que temos a certeza de que sentiremos paz. Existe um lugar, encravado entre a montanha e o mar, lugar este que não é grande, não é tão bonito; praia esta que nem é tão boa, mas que é minha.

Neste lugar, para onde não vou há muitos anos, sinto a paz e a alegria necessárias para viver mais tantos anos quanto os anos que não o visito. Neste lugar me sinto eu... Todo ser humano dever ter este lugar, este esconderijo, este refugo. Todo ser humano precisa visitá-lo, para se sentir humano novamente. Pode nem ser tão longe, mas tem que ser seu. Melhor ainda quando temos alguém especial para nos acompanhar. Aquele alguém que sabe quem você é e sabe o quanto isso significa, mesmo jamais tendo estado lá. Quando este alguém conhecer seu esconderijo, EXPRESSõES! Set. de 2012 | 09


Procuremos nossos esconderijos. Levemos nossos amores para se esconderem conosco. Deixemos que a vida seja real e saibamos que nosso passado, mesmo que longínquo, também é real e parte essencial de nossos eus.

você será ainda mais realizado como pessoa, dividindo mais um de seus grandes segredos com ela, cúmplice de sua vida e de suas realizações. Lá você se renova e renova seu alguém. Você vai relembrar de quando era criança e de como era gostoso viver sem problemas e preocupações, mas vai perceber que todos os problemas e preocupações do presente são apenas a mola propulsora para que continue tentando, vivendo e oferecendo tudo de bom que você tem. Você vai perceber que aqui é o seu lugar e que lá é seu escape. Você vai apreender que toda sua vida valeu e vale a pena, pois, mesmo com tantas dificuldades, você pode fugir de vez em quando, para aprender e perceber tudo de novo, pois o trabalho e a vida corrida de hoje fazem de tudo para nos tirar o passado. Procuremos nossos esconderijos. Levemos nossos amores para se esconderem conosco. Deixemos que a vida seja real e saibamos que nosso passado, mesmo que longínquo, também é real e parte essencial de nossos eus. Coroa Grande, meu esconderijo escondido, fez e fará sempre parte de minha vida. Agora fará parte de minha metade. No futuro, será o passado de meu presente. Terei minha cúmplice, que conhecerá minha rota e meu cativeiro; nosso cativeiro. Certamente, quando voltar, ressurgirei renovado para mais uma longa jornada. Onde fica sua Coroa Grande? Nunca se esqueça de seu esconderijo. Vá até lá. Passeie de mãos dadas. Arraste seus pés e escreva seus nomes na areia até que a onda os leve. Vá até o pé da montanha para roubar mamão; jogue sua tarrafa para pegar camarão; faça tudo refogado e coma de olhos fechados; corra no escuro da noite pela praia; faça amor; durma e acorde extasiado. Seja um fugitivo livre e despreocupado. Renove-se para enfrentar o dragão do dia a dia. E, quando você perceber que o dra-

gão encontrou você novamente, fuja de novo. Todos precisam de uma Coroa Grande, mesmo que seja igual à minha: bem pequenina e irrelevante para o resto do mundo. Só quem conhece minha Coroa Grande sabe o que estou dizendo; só quem tem uma Coroa Grande sabe do que estou falando. Fuja! Esconda-se! Seja livre! De vez em quando, todos precisamos virar as costas para o mundo e reencontrar a vida e fazê-la mais fácil. Fuja, esconda-se e deixe a vida encontrar você.

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Foto : Mari Azuelos

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A TRANSGRESAUM Por José Danilo Rangel

Todo o comportamento repetido tende a ser automatizado, tê ó dó - TODO. Dirigir, andar de bicicleta, fazer café, chutar uma bola, escrever, digitar, pensar, avaliar, ponderar, sentir. Embora tenhamos consciência de que estamos praticando estes e outros atos da mesma natureza cotidiana (e de outras, nem tão cotidianas assim), tanto quanto controle sobre eles, não constitui prerrequisito prestar grande atenção para executá-los, agimos, portanto, em menor ou maior grau, como o trabalhador representado por Chaplin em Tempos Modernos, mecanizados. Antes de compor um mal, a automatização é um bem, um bem para economia de esforço mental e se o entendimento teleológico não basta, consideremos, pelo meEXPRESSõES! Set de 2012 | 12


nos, que é uma qualidade da mente humana, aprender e passar a operar o aprendido cada vez mais prescindindo de energia mental. Se isso é válido para o comportamento motor, não parece razoável que também o seja para o que podemos chamar comportamento intelectual? Sendo assim for, estamos, em menor ou maior grau, expostos à automatização. Skinner chamaria de condicionamento. Para Skinner, e para outros teóricos do comportamentalismo, o comportamento humano é elaborado a partir da interação com o meio, com predominância deste sobre aquele. Mais adiante, entrarei no mérito dessa predominância, por enquanto, basta o entendimento sobre aprendizagem defendida pelo behaviorista-mor. Ao agir sobre o mundo, o homem gera uma consequência externa que, por sua vez, gera uma mudança no comportamento do próprio homem. Algumas repetições e plim! – temos um comportamento estereotipado. Mais simples e talvez mais fácil seja imaginar como se adestra um cachorro, mais complexo e bem menos fácil de imaginar (como de aceitar) é o adestramento do homem pela realidade que o circunda. Em todo caso, são coisas bem semelhantes, pelo menos basicamente. Mal explicada a automatização, ou condicionamento, como preferiu chamar Skinner, passemos ao que interessa. Apenas a automatização mais trivial é mal vista e denunciada por aqueles que se dizem livres, como eles estivessem isentos das limitações do próprio cérebro humano, às formas mais sofisticadas de automatização, entre elas algumas atividades transgressoras (especialmente quando são envoltas pelo manto mágico da intelectualidade), nada se diz. A seguir, defenderei a transgressão em muitos casos apenas mais um modalidade de condicionamento, aliás, nem um pouco passível da comemoração que lhe dão os ávidos por novidades, boa parte daqueles que se acreditam seguidores do devir.

paralinguísticos, como emoticons, numa construção linguística non sense, teve a sua justificativa em fatos mais relevantes que desatenção dos usuários da rede ou a intenção de abolir as “contenções imperialistas da maldita gramática burguesa opressora” – como já ouvi por aí. A conjuntura que comportou a mudança radical das práticas de conversação também envolveu o aumento significativo de usuários sem prática na digitação, ou seja, indivíduos que demorariam para digitar caso digitassem todas as letras das palavras, a existência prévia (ou simultânea) da necessidade de se abreviar as palavras nas mensagem de texto do celular, para não ter que mandar mais que uma, mais que duas. Estes e ainda mais alguns outros fatores contribuíram para as transgressões das normas características da última flor do Lácio, em prol da fluência das conversas virtuais. Até mesmo a necessidade de uma linguagem mais geral para atender ao nicho comunicacional capaz de abarcar o mundo inteiro – e as pessoas nele – é uma das circunstâncias que certamente influíram na produção desta nova língua. Outra coisa a se considerar é o fato de não haver tantas restrições comportamentais na internet, como na vida real. A zoação dos amigos, ou o terrível olhar dos mais velhos e professores de português diante de verbos mal conjugados, palavras grafadas com z em vez de x, com g em vez de j, sem falar em palavras que simplesmente não existem, não estão no mundo virtual, onde posso escolher um nome fictício e atuar através dele, como praticado nos bate papos. Enfim, há um número enorme de eventos que podem ser responsabilizados pelo desenvolvimento de uma linguagem própria para a internet. Contudo, nenhum deles ultrapassa a necessidade de comunicar, de dizer, de se fazer entender. Pois é a partir do anseio comunicativo, uma necessidade, que a língua vai se desenvolver. O que tenho a dizer? Como devo dizer? Como posso dizer? O que por fim se torna a pergunta fundamental: como dizer? Toquei no assunto para assinalar a transA NOVA LÍNGUA? gressão sadia. Diante dos limites da gramática e das oportunidades expressivas surgidas com a internt, A revolução da língua portuguesa acon- boa parte de nós, usuários da rede, aproveitou a oportecida e, graças aos grandes conservadores cabeças tunidade para superar normas e desenvolver outros duras, contida, na Web, ensejada pelo surgimento de meios de se comunicar. Chega a ser poético! É assim programas mensageiros e bate papos, cujo dialeto se que vejo a transgressão, como um movimento para caracterizava pelo abuso das abreviações, o descarado frente, para superação, para o experimento. Se ainda desrespeito à ortografia e o uso excessivo de elementos não disse isso, aí está dito. EXPRESSõES! Set de 2012 | 13


O TEMPO ERRADO

UM MEIO EM VEZ DE UM FIM

Partamos para outro exemplo. Pense naquele senhor que vive como ainda estivesse na década de quarenta, ou mesmo nos seus pais, que vivem o agora segundo a conjuntura experimentada em outro tempo. Eles respondem mais ao passado, que o presente. Pense em seus valores e em como a maioria deles parece não se coadunar com a realidade circundante. Simples, não? Como se explica isso? Condicionamento. Ora, leitor, pensando bem, você também está disposto a isso, assim como eu. Nós também um dia olharemos para a atualidade e diremos: no meu tempo as coisas não eram assim! Se não me engano com a capacidade que você tem de interpretar o que digo, ou mesmo com a impressão de clareza que isso tem para mim e não para você, superestimando minha capacidade como escritor (o que não seria novidade), chegamos ao mesmo ponto: um determinado comportamento, gerado a partir da interação com uma determinada época, pode aparecer noutra, sem que para isso sejam necessárias as circunstâncias suas geradoras e mantenedoras. Conhece o dito popular que diz “não se pode ensinar truques novos a cachorros velhos”? Pois, está nele tudo o que é preciso entender para seguir adiante. Certamente, quando passou da primeira série para a segunda, ou quando foi transferido para outra escola, ou mudou de bairro, enfim, se passou de um grupo a outro fica fácil. Não é verdade que para o novo grupo levou consigo o que aprendera no anterior? O que levou foi o produto do adestramento, estava adestrado a responder a um determinado grupo e no seguinte, teve que reaprender algumas coisas e aprender outras, estou certo? Se não, então deixe de ler o texto e vá procurar outra atividade, talvez um autor menos obscuro. Agradecemos a compreensão. Eis o condicionamento influindo nas atitudes e o comportamento elaborado noutra conjuntura sendo apresentado como próprio da circunstância presente. Isso acontece muito, especialmente porque não é tão fácil atualizar nosso comportamento, não basta clicar em sim na janela de updates, é preciso refazer o que podemos chamar de vínculos contingenciais, aprender qual que é a da parada, para usar de outras expressões. E aqui, já chegamos no nosso problema: a transgressão, já despojada de seu cárater inovador e de resposta, adotada como postura.

Se um adolescente, sentindo-se sufocado pela opressão dos pais, que querem decidir o que ele come, quando dorme, o que estuda e ainda deliberar sobre todos os aspectos de sua vida adolescente, veste-se de punk e aprende uns palavrões novos e passa a ouvir Ramones em lugar do amado Roberto Carlos, não digo que isso é razoável, porque no mínimo é o que ele deve fazer, é o que alguns farão, é o que muitos fizeram. Talvez você não se vestiu de punk, mas certamente, praticou um conjunto de ações por vontade e interesse próprios que dissonaram um tanto da expectativa dos seus pais, para se afirmar. E depois, o que aconteceu? Se aconteceu de você se sentir um idiota e aprendeu a odiar seu “eu” passado, achando-o desnecessário, ouso supor que você conseguiu o espaço pretendido e agora não precisa mais ser idiota, não como antes. Acredito que se alguém não satisfaz seus anseios se utilizando das práticas estabelecidas, não é só razoável, como mais que necessário que ele rompa as barreiras impostas e passe a inventar, a fim de encontrar um modo de contentar o seu sempre descontente coraçãozinho. Para alguém que assim justifica a transgressão, justifica-a como um meio para alcançar o espaço que outros modos não permitem alcançar, então, o perigo está em o comportamento transgressor consolidar-se de tal maneira que passe a ser o próprio fim.

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Literatura em Rede

´ A Industria do Horror Por Rafael de Andrade

O sociólogo Adorno, juntamente com seus companheiros da escola de Frankfurt, diz que tudo que hoje é tido como novidade é a repetição de um padrão gerado pela indústria cultural (A Indústria Cultural, Adorno e Horkheimer) e esse padrão sempre está dentro do que é pedido pela grande ideologia. Os programas policiais que se reproduzem infinitamente nos horários de almoço da televisão brasileira – e vamos nos concentrar na mídia rondoniense – é um grande exemplo disso. Em algum momento, eles fizeram sucesso em algum lugar e foram copiados em massa. Hoje, eles são usados como forma de se “apoiar a justiça”, de demonstrar uma situação social ao espectador, até mesmo usado como plataforma por alguns candidatos políticos. Mas de fato, essa não é bem a verdade. EXPRESSõES! Set de 2012 | 20 EXPRESSõES! Set de 2012 | 16


Imagine agora, o leitor, uma mesa de família onde pai, mãe, filhos, avós e parentes estão se alimentando. Esse clima de comensalidade em família é, muitas vezes, o momento mais calmo e sublime de nossa vida agitada. Se não estamos com a família, estamos com os amigos, com a namorada... Só se almoça com pessoas que se deseja ter uma boa relação, até mesmo os grandes executivos repetem esta lógica, só se almoça com futuros clientes, parceiros, sócios. O almoço é considerado o momento sagrado da família, de comunhão de pensamentos, de intenções. E é nesse momento de alegria que a indústria do horror abre suas garras para cima da sensibilidade das pessoas. Vamos continuar nosso exercício de imaginação. A pessoa que assiste a morte, o assassinato, o roubo, a destruição de vidas durante um momento tão agradável não pode internalizar em sua subjetividade (em sua percepção pessoal) nada além de que a morte e a violência são coisas naturais e banalizadas, que devem ocorrer e que não devem atrapalhar nenhum momento de felicidade. Dessa forma, de forma subjetiva, é que a maior perversidade da mídia se aplica sobre a massa, ela tira a sensibilidade do homem, deixando-o alheio à importância da vida do outro, o homem passa a odiar o outro, animalizá-lo – é bandido, tem que morrer mesmo, é vagabunda, tem que morrer mesmo – estando alheio de tudo, sem saber, o pai de família apoia a pena de morte sem julgamento enquanto isso os políticos nos roubam, matam milhares de fome, ignorância e falta de assistência médica. A falta de sensibilidade, de apoio ao oprimido, de luta por uma sociedade mais justa, a conformidade é a maior arma do capital e da indústria cultural (sua fábrica de pessoas e produtos) contra os homens e a favor do acúmulo inescrupuloso de dinheiro por parte de alguns. Sem percebermos, ela implanta em nós um sentimento de descaso semelhante ao sentimento que o nazismo implantou sobre os alemães, impelindo estes à matar judeus, negros, homossexuais. Essa mesma ideologia permite que a morte seja algo comum e que vidas continuem a serem devoradas pela máquina da produção. Vidas são perdidas todos os dias. Vidas essas que são frutos do próprio capital. Vidas essas que respiram, sentem fome, sentem medo, temem pelo que vem após a morte, igual a qualquer outra vida humana no planeta. Quem sabe, negando os programas que banalizam a vida e a morte possamos ser mais humanos dentro de uma sociedade que há muito tempo não é mais, uma sociedade que

é mais consumo e máquina que qualquer outra coisa. Não podemos esquecer que no século vinte nazismo, capitalismo, fascismo e o comunismo lutavam pelo domínio do mundo e que todos são considerados ideologias perversas. O que ocorreu é que o capitalismo venceu e escreveu a história, saindo como bom moço da parada. Mas ele não o é, é tão assassino quanto Hitler, quanto Mussolini e continua a matar, e continua a nos ensinar que tudo é normal, “a história é assim mesmo”. Quem escreve a história é o vencedor, e podemos sim vencer, ela não está acabada, nem nunca estará. Lutar contra a programação do sistema pode ser o primeiro passo para a mudança. E ler esse texto até aqui pode ter ajudado em algo.

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PUREZA por detrás do silêncio movem-se tentáculos fecundados de cristais sonoros ampulhetas fecham olhos e ventres. cruza o ar, o pássaro na cortina do dia, desperto! sonho fábricas de dor, moedores de miolos e suco gástrico. travestis mergulham nos bolsos os olhares procuram o sol saltando anos e alvos no espelho; reflexos secos estirados no asfalto um fotógrafo encomenda sangue combustível para sorrisos, carvão e castas não sou um homem mal! não sou um homem mal! gemia, contorcia, grasnava o ar vago repeliu o silêncio a voz jazia só no meio fio. diriam que tinha a cabeça entre as pernas e o olhar perdido no chão. os homens, sempre muito ocupados, viam pureza e cifras caindo dos postes, mas não podiam ouvir. calado o mundo suspira o carrasco.

Luiz Cochi

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A GARGANTA nas horas, em pleno ar temos dragões em nosso estômago duas mil noivas para um único cadáver sopra o dia sopradia dia sopre sobias dia! dia! dia! enlatado o sol desembarca nas mãos de pequenas crianças, minha agulha atravessa a parede dura da luz, encanta, sólida lisa superfície, somos, somos, quem escuta não fala, quem fala vive, apaguem o dia, então assopra, assopra. sopra o dia sopretudo sobia dia.. apagados sóis dormem ausente, sonho; desperto, escuto mastigando pedra e piche o olho pulsa amarelo calado o sorriso do pássaro enfrenta alegrias e torce a tarde ficou parado na rua fitando o fio dos trabalhadores mamando a teta da lua fugindo das dores o dia foi guardado com u’a pedra na porta e uma navalha, na minha garganta jorrou o sol das horas dos salmos fechou o vento

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A GARGANTA e ent茫o tudo calmo dentro da lei esqueceu: do p贸 ao p贸.

Luiz Cochi

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COLETIVO A grande máquina pára, bem no seu lugar de parar, exatamente no seu lugar de parar e de se abastecer de gente, rangendo muito, como doendo o estancar aos poucos, para, geme, sempre muito empoeirada, É assim mesmo e não há outro modo! murmuram todos os rostos e todos os braços e mãos vagarosos, e pernas e passos contidos, e cotovelos descuidados empurram, e pés desajeitados pisoteiam, é preciso passar, encontrar um lugar na máquina. O gigante urra, treme, ronca, expele fumaça pela traseira, e também exausto, começa a rodar e a sacolejar sobre o asfalto incerto, submisso à rota de todos os dias, esquerda na rua tal, direita na rua qual, pega essa avenida, depois aquela, depois aquela. Dentro, a gente, que conseguiu entrar, apertada, misturada, grudada, agarrada como pôde se agarrar, vai para a direita ou para esquerda segundo a lei da inércia, e salta nas lombadas e nos buracos, e há em todas as gargantas, pesado, grosso, o mesmo ai.

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Às vezes, uma boca se destaca de entre a multidão enlatada, e grita: isso é uma sacanagem! e outras bocas aderem, respondem, isso é uma merda, isso é muito caro, não era pra ser assim! e indisposições se mostram, e inquietações montam revoltas que quase acontecem. Mas todos estão dentro, apertados, condensados, e mais movimento só traz mais desconforto, e é o silêncio de todos e não o enorme ronco do coletivo que abafa os impropérios, que cala os poucos que gritavam. Segue, seguem, o dia segue, a marcha segue, a rota é obedecida, esquerda, direita, esquerda, direita, é assim mesmo e não há outro modo: eis o que está enfiado em todos os juízos.

José Danilo Rangel

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CANÇÃO DO ACASO O Acaso não tem um motivo, Não tem pressa, não tem calma, Não tem desejo, não tem medo, Não tem alma; O Acaso tem jogos, tem truques, Tem tramas, tem tempo, Tem pernas e pés e rasteiras, E braços que esmurram, E bocas que cospem E dizem não; E a gente com o que tem Tem que se virar. A gente com o que tem Tem que se virar. O Acaso não tem casa, Não tem templo, não tem anseios, Não tem filhos, não tem pais, Não tem afetos, não tem desafetos; O Acaso tem dentes, Tem garras, tem lâminas, Tem planos, tem vermes, Tem balas, tem vírus, tem juros; E a gente com o que tem Tem que se virar. A gente com o que tem Tem que se virar.

José Danilo Rangel

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NA CURVA DO RIO Quando o barco do porto se aproxima O medo e a esperança crescem nos viajantes Famílias saudosas oram por seus filhos Corações aflitos arrumam as bagagens Muitas línguas... Muitos sonhos... Um só desejo Sobreviver A floresta parece muito mais assustadora agora Madeiras flutuam no rio seguindo seu caminho Ao longe, o berro de uma onça anuncia a morte de mais uma presa A Morte,companheira de todos, anota os nomes um por um... Uma máquina de ferro romperá o silêncio amozônico Os trilhos mostrarão o caminho Caminho possível, urgente A Selva acolhendo almas A Terra sugando o sangue Gritos clamam por socorro Na curva do rio, dezenas de barcos se aproximam Não vem não!! Vai sim!!! Não vem não!!!!! Vai sim, vai sim , vai sim... Ahistória sendo feita Em cada dormente, muitas vidas Dor mentes Mentes dor Dor entes Doentes

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NA CURVA DO RIO Uma a uma a vestimenta da máquina chega Muitos já não ouvirão seu apito Outros sonham com isso O impossível começa a ganhar forma Terá seu brilho? Será apenas lembrança? A dúvida alí não existe Na memória, fotos com risos amarelos Amarelo se está de espanto Na curva do rio derramei meu pranto As palavras joguei ao vento A história, no esquecimento

Leo Vincey In: http://poesiemfoco.blogspot.com.br/

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CYBER HEAD

ou Poema de necessidade Pós-moderno

É preciso saber que não se sabe tudo. É preciso saber que não se pode acessar todos o sites. É preciso saber que não se pode ler todos os livros. Não se pode comentar em todos os blogs, Tuitar todas as frases feitas. É preciso ter um Deus É preciso ter seguidores na sua página. Justiça e Ética não é preciso. É preciso pornografia e pedofilia Nas páginas escuras, criptografadas. Não é preciso Papel A4 É preciso um pen drive para levar o projeto. É preciso Cavalos de poemas em forma de trojan. Não é preciso apalpar o livro. Não é preciso amar as pessoas. É preciso um HD maior. Um processador mais rápido. É preciso processar todas as informações... É preciso... ERROR021 (net::ERR_HUMANITY_DISCONNECTED): A conexão com a realidade foi perdida.

Bruno Honorato

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DURO CONCRETO Posso fazer um saque Cair da cadeira, criança, fazer um “baque!” Sorrir, tomar Prozac IntelE processar A informação O motorista Inteligente patho paixão Tirar menção Em rasgar a lista Indenizar a estrelas Matar a escuridão E lucrar um sorriso

Bruno Honorato

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Visões Poéticas

Vamos Tomar um Cappuccino? Texto: César Augusto Fotos: Henderson Baena

Vamos tomar um cappuccino: - que a vida anda uma bagunça, Descafeinada Grãos mal moídos, gosto ralinho Des-CAFÉ-i-NADA. Me vê dois Expressos, em um Latte Pra não dizer que tudo é tão forte, Um Machiatto de arte E um Doppio de ode. Vamos tomar um cappuccino: - que a vida anda uma corrida, Me vê um duplo, Que talvez eu dobre, talvez eu sinta Talvez um Lungo. Vamos tomar um cappuccino: - que a vida anda sorteando surpresas, Sem açúcar. Me vê um Ristretto e me deixa na mesa - que a vida anda uma bagunça.

para mais de César Augusto, acesse: http://sempropositodeproposito.blogspot.com.br/ EXPRESSõES! Set de 2012 | 31


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As Virgens Suicidas por Laisa Winter

Com esse título já se imagina o final trágico, mas não se trata de uma história triste, As Virgens Suicidas é melancólico e cômico. É o primeiro longa de Sofia Coppola e trata-se de uma adaptação do livro homônimo de Jeffrey Eugenides. Recomendo o livro também, tem uma linguagem simples e, assim como o filme, é marcante. Todo esse universo feminino fica bem presente nos filmes de Coppola. Suas personagens não apresentam uma exagerada sen-

sibilidade, e não dispõem seu tempo com deveres domésticos ou filhos. São mulheres que estão em suas próprias buscas e projetos sem qualquer homem coordenando ou condenado sua vida. A personagem Charlotte (Scarlett Johansson) de Encontros e Desencontros (2003) pode acompanhar seu marido até o Japão, mas se mostra estar bem atenta ao seu casamento e seus próprios sentimentos e desilusões. Já Lux usa seus garotos da mesma forma que eles a usam, sem qualEXPRESSõES! Set de 2012 | 32


quer envolvimento emocional. E Maria Antonieta, não só por ser uma rainha, é a personagem que talvez demonstre mais poder. Na casa dos Lisbon moram a mãe, sra. Lisbon, Lux, Cecilia, Mary, Thereza e Bonnie, e o pai, sr. Lisbon. A beleza das filhas chama a atenção, o que é natural, mas o fascínio aumenta por se tratarem de garotas inalcançáveis. As únicas saídas autorizadas eram: escola, igreja ou alguma aula extra, e a única forma de vê-las era expiando por cima dos arbustos enquanto tomavam sol no jardim de casa, ou quando passavam pelos corredores da escola arrancando suspiros. O filme é narrado, o que me faz amá-lo ainda mais. E narrado em primeira pessoa, assim como no livro, aproximando o expectador/leitor. As garotas são apresentadas por seus maiores fãs, seus vizinhos, garotos na mesma faixa etária das Lisbon e que nutrem uma paixão platônica por elas. Pois mesmo estudando na mesma escola, morando na mesma rua, e tendo o sr. Lisbon como professor de matemática, eles nunca tiveram uma longa conversa com as garotas. O que não é de se espantar observando a sra. Lisbon, que se mostra bem desajustada para fazer um carinho nas filhas. Sempre regulando as roupas das filhas, a maquiagem e os discos do Aerosmith, a maioria de Lux, que podia até ser suicida, menos virgem. A explicação do suicídio fica obvia ao observar a vida das Lisbon, elas nunca tiveram uma vida, mal haviam começado algo que poderia ser grandioso. Elas nunca viveram ou experimentaram um amor, nem sentiram a dor de perdê-lo, passavam o dia trancadas dentro de casa. Foram prisioneiras de uma mãe que não

aprendeu uma importante lição: criamos filhos para o mundo. Li há algum tempo uma crônica de autor desconhecido que começa com a frase: “Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até de nossas ordens”. Os filhos devem ser livres para que construam suas histórias e andem com suas próprias pernas, cometendo erros e comemorando acertos, sem ter que agarrar na barra da saia ou recorrer à ajuda da mãe a cada rasteira, afinal, pais e mães também são mortais.

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Ficha Técnica Título no Brasil: As Virgens Suicidas Título Original: The Virgin Suicides País de Origem: EUA Gênero: Drama Tempo de Duração: 97 minutos Ano de Lançamento: 1999 Direção: Sofia Coppola

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Gr nde ngular

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APRESENTAÇÃO Nas duas edições anteriores da Revista Expressões, tomei posse da Seção Extra, publicando nela algumas fotos, a diversão foi tanta que decidimos manter o recreio em uma seção fixa todo mês e brindar os próximos números com interessantes, ou nem tanto, conceitos fotográficos. Eis aqui a mais nova novíssima novidade da Expressões: A Grande Angular! Um espaço dedicado, exclusivamente, à fotografia. Por enquanto, e por estar muito entusiasmada com o feito, estou me sentido a mega dona do lugar, então, por enquanto, vocês terão que aturar meus inquietantes conceitos, pois não vim ao mundo a passeio e sim pra dar trabalho a alguém. Entanto, quero que num futuro breve, neste local caibam outros olhares de outras gentes com outros pensamentos. Aproveito o ensejo para convidar quem quiser participar que já entre em contato.

mais inquietante, ser partejado a partir de um pensamento persecutório e obsessivo no melhor estilo faça ou morra. A captura do conceito exige que toda uma parafernália esteja em perfeito funcionamento. É estudo de luz, cores, foco, texturas, cena, lentes e objetos manipulados à exaustão para o alcance do ato criativo. Então, a máquina fotográfica da modalidade conceitual não deseja sair a passear pela cidade em busca da cena, ela sente a sede de querer criar sua própria imagem e exige do fotógrafo incansável dedicação. A imagem não termina no clique, mas reverbera até a abstração a partir do olhar, é saborosa ao fitar, puro deleite ao imaginário e bom aporte ao pensamento.

Apesar de ofertarmos conceitos um tanto elaborados, não há intenção de explicá-los, assim, evita-se uma verborragia que subestima e condiciona o observar do outro, o segundo olhar. Espera-se que a imagem fale por si e se não falar, ainda assim, valiosa será se causar algum efeito de belo ou não, O enfoque conceitual, ao contrário da de admiração ou não, de incômodo ou não, de aceifotografia que intenta capturar uma cena, não bebe tação ou não. Os títulos dos ensaios por vezes dão em fontes temáticas prontas, menos ainda busca pistas, no mais, despistam. E assim vamos, lindaelementos contidos no belo cotidiano da vida. A foto mente, nos confundindo. conceito é um olhar além da imagem, é o amoldar do embrião. Advém do que se pode chamar insight, em que a ideia surge como num passe de mágica, uma epifania. Ou também, ser fruto de constante esforço transpiratório ao sofisticar o pensamento até surgir uma ideia. Mas ainda, e essa é um tanto Ana Paiva EXPRESSõES! Set de 2012 | 34


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por Ana Paiva

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DO LEITOR Olá, pessoal da revista EXPRESSÕES!. Antes de tudo, parabéns pelo empenho e dedicação! Até mesmo o design da revista denota esmero e criatividade. Fico feliz que a cada edição surjam mais matérias e colaboradores, afinal, quanto maior a diversidade, melhor nos é apresentado o talento de nossos conterrâneos. Grande abraço! Lílian Silveira

expressoespvh@hotmail.com EXPRESSõES! Set de 2012 | 42


ENVIO DE MATERIAL Para submeter o seu texto, foto ou desenho para a revista EXPRESSõES!, é muito fácil: escreva um e-mail explicitando a vontade de ter o seu trabalho publicado na revista, anexe o material, na extensão em que ele estiver, .doc, .jpeg, e outros, e seus dados (nome, idade, ocupação, cidade) com a extensão .doc, para o endereço: expressoespvh@hotmail.com Para contos, a formatação é a seguinte, fonte arial, 12, espaço simples, máximo de 10 páginas. Para crônicas, arial, 12, espaço simples, máximo de 5 páginas, Para poesia, arial, 12, espaço simples, máximo de 10 páginas. Ainda temos as seções Decodificando, que abarca leituras de diversos temas, e a 10 Dicas, também com proposta de abraçar uma temática diferenciada, onde você pode sugerir filmes, revistas, música, conselhos e não sei mais o quê, além dessas, a seção EXTRA, visa abranger o que ainda não couber nas outras seções. Para fotos ou desenhos, a preferência é por imagens com resoluções grandes, por conta da edição, e orientação retrato, por conta da estética da revista. A revista EXPRESSõES! sai todo dia 10, de cada mês, então, até o dia 20 de cada mês aceitamos material,

Porto Velho - Setembro de 2012 José Danilo Rangel

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EXPRESS천ES! mais que dizer - transmitir!

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