O SÃO PAULO - edição 3018

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 59 | Edição 3018 | 10 a 17 de setembro de 2014

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Cônego Bizon fala de No ritmo para sediar um dos ‘paz e convivência’ maiores eventos do mundo No artigo de opinião, o diretor da Casa de Reconciliação aborda a importância do convívio pacífico Página 2

A cerca de dois anos da próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a cidade de Cracóvia já começa a traçar uma “estratégia geral” para sediar o evento Página 9

Com a Palavra - Eleições 2014: Alexandre Padilha Ouvindo Alexandre Padilha (PT), O SÃO PAULO inicia entrevistas com os três candidatos ao Executivo Paulista mais bem colocados nas pesquisas Ibope e Datafolha. Página 15

Luciney Martins/O SÃO PAULO

unidos pela Paz

Cristãos, judeus, mulçumanos e membros de outras tradições religiosas participaram de um ato inter-religioso pela paz no mundo, em especial no Oriente Médio no domingo, 7. O ato começou na Catedral da Sé e continuou, após

uma caminhada silenciosa, no Pátio do Colégio, onde os líderes religiosos assinaram um manifesto pelo fim do conflito. Músicas e preces de cada tradição religiosa também fizeram parte do momento, que contou igualmente com

Sem racismo, muitos O que fala a mídia gols pela paz e a quando o assunto é solidariedade imigração? Os casos de violência entre torcedores e de racismo contra atletas negros têm ofuscado o fato de que o esporte “é alegria de viver, jogo, festa”, como afirmou o Papa Francisco, no Jogo Inter-religioso pela Paz, no dia 1º, em Roma. Em São Paulo, um torneio de futsal organizado por jovens católicos mostra que a solidariedade “faz parte do jogo”. Página 17

Angelica Bossa, colombiana refugiada em Manaus (AM), contou ao O SÃO PAULO sua história e como se sente retratada pela grande mídia. Ela e outros imigrantes vivem o drama do preconceito por serem estrangeiros. Membros do Serviço Pastoral do Migrante em todo o Brasil confirmaram que é preciso cuidado para não promover a xenofobia. Páginas 12 e 13

a presença do grupo “Jovens pela Paz”. O jovem Shuaib Al Boustani, 19, mulçumano, lembrou que a bandeira da paz deve ser carregada sempre, deve ser um modo de viver.

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NOSSA SENHORA DAS DORES COM OS NORDESTINOS No próximo domingo, 14, às 15h, os nordestinos que moram em São Paulo estão convidados a celebrar Nossa Senhora das Dores, com missa na Catedral da Sé. Na festa da Exaltação da Santa Cruz, vamos recordar aquela que esteve junto a Jesus até sua morte e que desperta grande devoção do povo nascido no Nordeste.


2 | Ponto de Vista |

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editorial

O futebol deve incentivar a paz e a boa convivência O jornal O SÃO PAULO fez eco aos meios de comunicação ao redor do planeta e noticiou a bela iniciativa do Papa Francisco, que idealizou uma partida de futebol de cunho inter-religioso pela paz. Grandes astros do esporte se mobilizaram para o evento, cuja renda foi revertida para duas entidades beneficentes. Uma delas, a “Scholas Ocurrentes”, tem sede na Academia Pontifícia das Ciências, no Vaticano, e usa a tecnologia, a arte e o desporto para promover a integração social e a cultura do encontro nas escolas. Além do cunho caritativo, o Papa afir-

mou que o jogo foi ocasião para ”refletir sobre os valores universais que o futebol e o desporto em geral podem favorecer: a lealdade, a partilha, o acolhimento, o diálogo, a confiança no outro”. Francisco prosseguiu dizendo que “o esporte, através desses valores, deve unir as pessoas, independentemente da raça, cultura e credo religioso”. Como não vislumbrar essas palavras à luz (ou às trevas) dos tristes acontecimentos que temos presenciado tendo o nosso futebol como cenário. As ofensas racistas sofridas pelo goleiro Aranha, do Santos Futebol Clube, e as

cotidianas cenas de vandalismo e violência provocadas por torcedores organizados chocam a sociedade. Afinal, a palavra que deve vir à nossa mente quando se fala em esporte é “vida”, não morte. A paixão pelo clube, quando deturpada, resulta no fanatismo cego, que trata o próximo como inimigo mortal, pelo simples fato de torcer pelo rival. Esse desequilíbrio faz do time o centro do domingo e, para não poucas pessoas, uma espécie de ídolo em nome do qual se prejudica a família, o trabalho e a relação com Deus. Nesse sentido, aludindo à incidência

que o desporto, especialmente o futebol, como fenômeno humano e social, tem sobre o comportamento e a mentalidade contemporânea, o Papa, dirigindo-se diretamente aos atletas presentes ao jogo pela paz, afirmou: “Nas provas desportivas estais chamados a mostrar que o desporto é alegria de viver, jogo, festa, e como tal deve ser valorizado, recuperando a sua gratuidade e a capacidade de estreitar vínculos de amizade e abertura de uns para com os outros.” Que todos reflitamos sobre isso e resgatemos a genuína beleza do futebol, dentro e fora dos estádios.

opinião

Paz e Convivência entre diferentes raças, culturas e religiões é possível Sergio Ricciuto Conte

Cônego José Bizon Nos últimos tempos, o cenário tem sido de guerra com perseguição e extermínio, de intolerância religiosa e racista, é o que os meios de comunicação social têm nos mostrado: estão matando em nome de “deus” mais do que em uma guerra, o que também não é aceitável e compreensível, no século XXI. O que mais preocupa é o silêncio, quase que total, por parte de autoridades civis, políticas e religiosas nos locais onde esses fatos vêm ocorrendo com força e violência. Falando agora de nós mesmo, deste nosso País: Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil. É verdade que no período colonial, tivemos muitos sofrimentos, sérios problemas religiosos, políticos e culturais; e, recentemente, estamos revivendo situações de discriminações religiosas e raciais, ataques a pessoas e a templos. Ouvi recentemente que o povo que mais tem sofrido discriminações é o povo das Religiões de Matriz Africana, por pessoas que se autodenominam religiosas. O povo brasileiro, devido a sua constituição, é de uma nação de boa convivência, aparentemente amigável e pacífica. Às vezes, ouvimos que o brasileiro não é nem racista e nem machista. Será verdade? Mas, ultimamente, temos visto pelos meios de comunicação social atitudes, isoladas ou não, de intolerância religiosa e racista presentes nas ruas e nos estádios de futebol, em vez de esporte e lazer. É preciso coibir os conflitos religiosos, raciais e políticos os de dentro de casa e os que vêm de fora. Devemos sim exportar, publicar, anunciar e testemunhar a todos, os nossos esforços de convivên-

cia, o nosso modo de viver entre diferentes nações e apresentar as iniciativas religiosas, culturais e políticas da nossa gente. Poderíamos sim, num gesto de resgatar a dignidade e a alegria de viver em paz, sermos exemplos para o mundo. Assumamos um compromisso, vamos espalhar sementes de paz, divulgando nas redes sociais gestos de paz e de cidadania. É possível a convivência entre diferentes culturas em um mundo globalizado, no início do Terceiro Milênio? Cremos que sim, e recordamos o Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre (RS), que afirmou: “Um outro mundo é possível”. E comple-

menta com o que o salmista canta: “Justiça e Paz se abraçarão”... “a Paz e fruto da Justiça”. Na Bíblia, encontramos a afirmação: “Tudo o que vocês quiserem que as pessoas façam a vocês, façam vocês também a elas.” (Mt 7,12). A conhecida regra é de ouro e de fato muitos concordam com esse preceito. Um ensinamento semelhante a esse já era ensinado por pensadores antigos: “Não faças aos outros o que não queres que façam a vocês.” Outro documento que ilustra e amplia a perspectiva da melhor convivência é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo XVIII, que diz: “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião”. A liberdade religiosa deve fazer com que os seres humanos, no cumprimento de seus deveres sociais, atuem sempre com maior responsabilidade. Igualmente na Constituição Brasileira, no Art. 5, § VI, afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção... e que a liberdade de crença e de culto é inviolável...”. Assim também o Concílio Ecumênico Vaticano II declara que a pessoa tem direito à liberdade religiosa. “Tal liberdade consiste em que nenhum ser humano deve estar sujeito à coerção de outros indivíduos, nem da sociedade e/ou de qualquer poder humano”. Concluímos a nossa reflexão com o que Nelson Mandela disse: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. Cônego José Bizon é diretor da Casa de Reconciliação e assessor da Pastoral do Diálogo Ecumênico e interreligioso da Arquidiocese

espaço do leitor Orientações do Magistério sobre o voto (edição 3016) Li no O SÃO PAULO o artigo “Orientações do Magistério sobre o voto”, página 14, de 27 de agosto de 2014. Lamento que nosso jornal O SÃO PAULO

inclua um artigo tão parcial sobre o assunto do voto, de tal forma que não espelha a riqueza do Magistério da Igreja quando trata questões referentes à política, ao bem comum. Estamos na realidade brasileira e o arti-

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

go parece ser escrito para outro mundo. O texto sequer dá atenção ao documento da CNBB: “Exigências cristãs e uma ordem política”, tão bem elaborado. Desculpem-me, mas este texto não trata dos reais problemas da

realidade de nosso povo, da necessidade de uma profunda reforma política, à luz de uma Teologia libertadora. Como leigo, não posso deixar de fazer uma crítica, aliás, construtiva. Roberval Freire (por e-mail)

*Leia no Espaço Aberto (página 5) a nota do editor sobre a reportagem Redação do jornal O SÃO PAULO. Endereço: Avenida Higienópolis, 890, São Paulo (SP), CEP. 01238-000. E-mail: osaopaulo@uol.com.br Twitter: @JornalOSAOPAULO Facebook: Jornal O SÃO PAULO

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação Semanal • www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Chefe de Redação: Daniel Gomes • Reportagem: Cônego Antônio Aparecido Pereira, Edcarlos Bispo, Filipe David e Nayá Fernandes • Institucional: Rafael Alberto e Fernando Geronazzo • Fotografia: Luciney Martins • Administração: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Djeny Amanda • Assinaturas: Ariane Vital • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Revisão: Maria Aparecida Ferreira • Impressão: Alliance Editorial S.A. • Redação e Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 1,50 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

Nos dias 5 a 19 de outubro deste ano, o Sínodo dos Bispos reúne-se em assembleia extraordinária, convocada pelo Papa Francisco, para tratar dos desafios pastorais da família no contexto atual da evangelização. Mais uma vez, a Igreja mostra sua atenção especial para com a família, como tem feito muitas vezes no passado recente. A questão de fundo é a evangelização: como levar a Boa-Nova de Jesus Cristo e da Igreja às pessoas que vivem esses desafios? Os problemas enfrentados pela família são antigos e novos, e o Sínodo não vai fazer uma simples avaliação sociológica sobre o tema em pauta. Mais que tudo, a própria Igreja se questiona: diante das questões enfrentadas pela família, o que vamos fazer? Qual será nossa atitude para ser coerente com a de Cristo, o bom pastor, que “veio buscar e salvar o que estava perdido”? Ou que ensinou: “não são os sadios que precisam de médico, mas os doentes”? Poderíamos ter a tentação de evangelizar de maneira “genérica”, sem nos defrontarmos com as situações reais vividas pelas pessoas e famílias; e, assim, nos iludir que a evangelização está alcançando e envolvendo a todos, mais preocupados em colher frutos do que em

| Encontro com o Pastor | 3

Sínodo dos Bispos em assembleia extraordinária semear... O tema posto pelo Papa Francisco para a próxima assembleia extraordinária do Sínodo é um convite à Igreja para se deixar questionar pelas situações reais e desafiadoras vividas pela família, e para se perguntar: como o anúncio e a missão da Igreja serão “boa-nova” nas mais diversas situações da família? Os desafios enfrentados pela família em nossos tempos também são desafios sérios para a própria ação da Igreja. A Igreja valoriza muito a família e reconhece nela, além de um desígnio especial de Deus, também uma expressão de sua própria realidade: a família é “Igreja doméstica”, célula básica da comunidade humana e eclesial. De quais desafios se ocupará o Sínodo? Começa com a acolhida e o conhecimento do desígnio de Deus sobre a família. A verdade que a Igreja ensina sobre a família está longe de ser acolhida e aceita por todos; difundiu-se largamente a ideia de que a família é uma simples criação humana, fruto da evolução da espécie e de suas culturas; que ela não depende de nada mais do que da vontade do próprio homem e da sociedade. A partir dessa concepção, a família perde seu referencial sólido, relegada ao terreno pouco consistente das ideologias e no espaço vaporoso dos gostos e das culturas. Damos por suposto que todos conhecem o fundamento bíblico da família e o desígnio de Deus sobre ela, explicado pelo Magistério da Igreja; na realidade, porém,

isso é largamente ignorado ou menosprezado. O mesmo se diga em relação à lei natural: sem levar em conta a lei natural, perde-se de vista o fundamento natural da família e a palavra da Igreja acaba sendo vista como “imposição religiosa” indevida. A pretensão do “casamento” de duas pessoas do mesmo sexo parte da confusão grave decorrente do abandono da lei natural no que diz respeito à pessoa humana, ao casamento e à família. Há o drama muito estendido dos casamentos frustrados, desfeitos e refeitos, que envolvem famílias feridas e destroçadas e novas uniões a pedir legitimação; também na Igreja, com o anseio de participar plenamente dos sacramentos e da vida da Igreja. Há também uma gama imensa de questões relativas ao papel da família nas sociedades atuais, mais caracterizados como sociedades de indivíduos que produzem e consomem, do que de pessoas que se relacionam e dependem umas das outras. Há toda a questão do papel educador da família; e aí se acrescenta o seu papel na transmissão da fé e na vida da comunidade eclesial. Ninguém se iluda pensando que as discussões do Sínodo vão se resumir às questões da comunhão para as pessoas divorciadas e recasadas, ou às uniões de pessoas do mesmo sexo. Seria caricatural. A 3ª assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos terá uma vasta gama de questões a tratar: questões que desafiam a evangelização.

Arquivo pessoal

Beatificação de Madre Assunta Marchetti No sábado, 6, o Cardeal participou de reunião com o grupo de trabalho que está preparando os eventos para a beatificação de Madre Assunta Marchetti, cofundadora das irmãs scalabrinianas (carlistas). A beatificação acontecerá no dia 25 de outubro, às 10h, na Catedral da Sé, com presença do Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. A reunião contou com a participação de Dom Edmar Peron, vigário episcopal para a Região Belém, que está acompanhando as questões litúrgicas da celebração.

Memorial e monumento No dia 24 de outubro, na véspera da beatificação, serão inaugurados um monumento em praça pública (na região da rua do Orfanato, onde a religiosa atuou) e a Casa Madre Assunta Marechetti, que contará com um museu para homenagear a nova beata.

Diretório dos Sacramentos será revisado O Cardeal Odilo Scherer, arcebispo metropolitano, reuniu-se com padres e leigos representantes das seis regiões episcopais e constituiu um grupo de trabalho para contribuir com a revisão do Diretório dos Sacramentos da Arquidiocese de São Paulo no que diz respeito à Iniciação à Vida Cristã.

Catequese mistagógica Segundo o padre Paulo César Gil, do setor de Catequese do Regional Sul 1 da CNBB, o grupo deverá adequar as diretrizes segundo às novas orientações para que, por exemplo, a Catequese tenha, de fato, um efeito mistagógico. A próxima reunião do grupo será no dia 26 de setembro.


4 | Papa Francisco |

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L’Osservatore Romano

‘Corrigir é cristão, insultar não é!’, diz Francisco A reflexão do Papa Francisco antes da oração mariana do Ângelus, às 12h do domingo, 7, teve a correção fraterna como tema. O Papa refletiu sobre o Evangelho do 23º Domingo do tempo comum, em que Jesus responde à pergunta: “Como eu devo corrigir outro cristão quando faz alguma coisa não boa?” A correção deve ser feita “com caridade para com ele” e seguindo o itinerário progressivo proposto por Jesus, diz o Papa. Inicialmente, é preciso falar com ele em particular, mostrando que o que disse ou fez não é bom. Se não escutar, se deve voltar a falar com ele com duas ou três testemunhas. Se ele insiste em não escutar, “é preciso que se diga à comunidade”. E se nem mesmo a comunidade não o sensibiliza, “deve-se fazê-lo perceber o rompimento que ele mesmo vem provocando”. Esse itinerário, explica Francisco, indica o esforço que a comunidade deve fazer “para chegar junto de quem erra, a

fim de que não se perca”. Ele adverte que é preciso evitar o clamor das “intrigas crônicas” da comunidade. Falar com o irmão a sós “é atitude de delicadeza, prudência, humildade e atenção aos desencontros de quem tenha cometido uma culpa, evitando as palavras que possam ferir e matar o irmão”. Por que “as palavras matam”, adverte o Papa. A atitude de falar a sós não sacrifica inutilmente o pecador. Falando com a pessoa a sós, com testemunhas e em comunidade, se ajuda a pessoa a se dar conta do que fez e de que o que ela fez não ofendeu a uma só pessoa, mas a toda a comunidade, e se ajuda a nós mesmos “a nos libertar da raiva e do ressentimento que só nos causam mal”. “É terrível ver sair da boca de um cristão um insulto ou uma agressão”, diz o Papa. “Insultar não é cristão!”, afirmou por duas vezes, lembrando, ainda, que “diante de Deus, todos somos pecadores e necessitados de perdão. Todos!”

“A correção fraterna é um aspecto do amor e da comunhão que devem reinar na comunidade cristã. É um serviço recíproco que devemos prestar-nos uns aos outros.” Esse serviço só é possível e eficaz se cada um se reconhece como pecador e necessitado do perdão do Senhor. “O reconhecer o erro do outro me faz lembrar que eu também cometi e cometo erros, tantas vezes.” Em toda missa, o ato penitencial lembra que somos todos pecadores. Nele, dizemos “‘tende piedade de mim!’ e não ‘tende piedade deste irmão que está ao meu lado’”. O Pontífice lembrou que o Espírito Santo nos faz reconhecer nossas culpas à luz da Palavra de Jesus, do mesmo Jesus que convida a todos, santos e pecadores, à sua mesa. O reconhecer que todos somos pecadores e que a todos Deus concede sua misericórdia são as duas condições para participar bem da missa. Por Padre Cido Pereira

‘ONU das religiões’ No encontro com o Papa Francisco, na quinta-feira, 4, o ex-presidente de Israel, Shimon Peres, apresentou sugestões de iniciativas para a paz, entre elas, a criação de uma Organização das Religiões Unidas, semelhante à Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com Peres, “A ONU das religiões”, liderada por Francisco, “seria um modo melhor de contrastar estes terroristas que matam em nome da fé porque a maioria das pessoas não é como eles”. O ex-presidente também sugeriu que seja escrita uma “Carta das Religiões Unidas”, exatamente como a Carta da ONU.

Videoconferência L’Osservatore Romano

O Santo Padre encontrou na quinta-feira, 4, no Vaticano, com os participantes do III Congresso das “Scholas Occurrentes”. A iniciativa reúne realidades educativas de culturas e religiões diferentes. Durante a audiência, o Pontífice lançou a plataforma tecnológica de rede das “Scholas Occurrentes”, que prevê a possibilidade de usar as novas tecnologias para favorecer os encontros e as trocas entre estudantes e escolas de diferentes países. Nesse contexto, o Papa participou de uma videoconferência, via internet, com estudantes que aderiram à rede de ‘Scholas’ de El Salvador, África do Sul, Turquia, Israel e Austrália, representando assim os cinco continentes.

Mensagem a líderes religiosos “A guerra nunca é necessária nem inevitável. Sempre é possível encontrar uma alternativa”. Essas foram as palavras do Papa Francisco contidas na mensagem aos líderes religiosos mundiais, reunidos na Bélgica, de 7 a 9. Promovido pela Comunidade de Santo Egídio, o encontro tem como tema “A paz é o futuro”. No texto, o Papa faz referência aos conflitos atuais, partindo da lição tirada 100 anos atrás, com o início da Primeira Guerra Mundial. “A guerra jamais é um meio satisfatório para reparar as injustiças. Pelo contrário, a guerra arrasta as pessoas numa espiral de violência que depois se torna incontrolável, destrói o trabalho de gerações e abre o caminho para injustiças e conflitos ainda piores”.


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Espiritualidade

fé e cidadania

Os 50 anos da encíclica Ecclesiam Suam

Eleições chegando

Dom Milton Kenan Júnior

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia

No dia 6 de agosto passado, completaram-se 50 anos da publicação da encíclica Ecclesiam Suam, do Papa Paulo VI. Trata-se da primeira encíclica do pontificado do Papa Montini, publicada no ano seguinte à sua eleição como sucessor de Pedro. Nela, o Papa Paulo VI revelou-nos a sua apreensão e, ao mesmo tempo, suas expectativas em relação à Igreja, naquele período de tão grande significado, com a realização do Concilio Vaticano II. O Servo de Deus Paulo VI chama a atenção, em primeiro lugar, para a necessidade da Igreja aprofundar a consciência de si mesma: “do tesouro de verdades de que é herdeira e guarda, e da missão que deve exercer no mundo” (n.7); “deve aprender a conhecer-se melhor, se quer realizar a própria vocação e oferecer ao mundo a sua mensagem de fraternidade e salvação. Precisa experimentar Cristo em si mesma, segundo a palavra do Apóstolo São Paulo: ‘Habite Cristo pela fé nos vossos corações’ (Ef 3,17)”. Num segundo momento, Paulo VI fala da renovação a que a Igreja está sempre sujeita: “Perfeita no seu conceito ideal, no desígnio de Deus, a Igreja deve ir-se aperfeiçoando sempre na expressão real, na sua existência terrestre” (n.19). Porém, é preciso estar atento, afirma o Papa Montini, para compreender a reforma não como mera mudan-

ça, mas como o esforço para manter na Igreja a fisionomia que Cristo lhe imprimiu, para levá-la a corresponder sempre melhor ao desígnio de Cristo sobre ela (cf. n.24). Por fim, ele fala da necessidade da Igreja manter-se aberta ao diálogo: com todos os homens e mulheres do nosso tempo, com os não cristãos e com os que embora cristãos não estão em plena comunhão com a Igreja Católica. Trata-se, porém, de um dialogo que se distingue pela clareza, pela mansidão, pela confiança e pela prudência (n.47); que, “não pode ser fraqueza nos compromissos com a nossa fé... sem transigir com meias atitudes, ambíguas, quanto aos princípios teóricos e práticos característicos da nossa profissão cristã (...) Só quem é de todo fiel à doutrina de Cristo pode ser apóstolo eficaz” (n.50). A face da Igreja, descrita pelo Papa Paulo VI, revela o desejo de levar todas as pessoas àquela comunhão, querida por Deus, dos homens e mulheres entre si, conscientes de serem membros de uma mesma família e, ao mesmo tempo, quer ser instrumento que favoreça a paz entre as nações: “A abertura dum diálogo, tal como deseja ser o nosso, desinteressado, objetivo e leal, pesa já por si em favor duma paz livre e honesta; exclui fingimentos, rivalidades, enganos e traições; não pode deixar de proclamar, como delito e como ruína, a guerra de agressão, de conquista e de predomínio...” (n.59). Por ocasião do 50º aniversário da fundação do Pontifício Conselho para

o Diálogo Inter-religioso, o Papa Francisco recordou a encíclica Ecclesiam Suam, dizendo que a Igreja, no período do Concilio Vaticano II, “sentia-se animada por um sincero desejo de encontro e diálogo com toda a humanidade, em poder apresentar-se a um mundo em rápida transformação, na sua mais profunda e autêntica identidade”. Comprovando a atualidade da encíclica Ecclesiam Suam, o Papa Francisco exorta-nos hoje: “a percorrer o caminho do diálogo e intensificar a cooperação já frutuosa com todos aqueles que, pertencentes a diferentes tradições religiosas, partilham a vontade de construir relações de amizade e tomam parte nas numerosas iniciativas de diálogo”. Fazendo memória de tão importante documento, nestas semanas que antecedem à beatificação do Papa Paulo VI, possamos retomá-lo e acolher as indicações daquele venerável Pastor da Igreja de Cristo, que conduziu a Igreja durante o Concilio Vaticano II e nos anos difíceis que o sucederam. “Alegramo-nos e sentimo-nos confortados ao observar que o diálogo no interior da Igreja, e com os de fora que lhe estão mais próximos, se vai já praticando: a Igreja está hoje mais do que nunca viva! Mas, reparando bem, parece que tudo está ainda por fazer, o trabalho começa hoje e não acaba nunca. É lei da nossa peregrinação na terra e no tempo. É este, Veneráveis Irmãos, o múnus habitual do nosso ministério: tudo o estimula hoje a renovar-se, a tornar-se vigilante e operoso” (Paulo VI, Ecclesiam Suam, n.68).

eSPAÇO ABERTO

Nota do editor referente à carta do leitor publicada na página 2 (edição 3018) Prezado Leitor Roberval, Em primeiro lugar, agradeço a sua crítica construtiva. Com certeza, pensaremos no assunto. Contudo, não posso deixar de manifestar certo espanto e mesmo discordância. Em sua carta, o senhor “lamenta” que o nosso jornal tenha publicado um texto explicitando posições do Magistério da Igreja, vale dizer, dos Papas, afirmando que seu conteúdo não expressa a beleza da Doutrina Social da Igreja e tão pouco cita as recentes orientações da CNBB para as eleições. Recordo que este jornal, recentemente, deu ampla divulgação a essas orientações, como também àquela do senhor Arcebispo de São Paulo. O texto em questão é um complementar da informação, cuja finalidade é explicitar alguns conteúdos da Doutrina Social da Igreja expressos pela voz dos papas, que consideramos pertinentes para ajudar o leitor católico em sua decisão. No caso, o texto do articulista Filipe Da-

vid trouxe à tona três questões: o exercício da cidadania e a legitimidade dos governos; o perigo dos regimes totalitaristas, entre os quais o marxismo e o socialismo, e a defesa à vida desde os primeiros momentos da concepção. Pergunto: em que isso contradiz as orientações da CNBB? Em que “ferem” ou diminuem a beleza da Doutrina Social da Igreja? E por fim, em que são inadequados para a realidade brasileira? Nosso País não tem vivido por acaso verdadeiros ataques à democracia e liberdade de expressão? A questão do aborto, não está na pauta do dia e não faz parte dos programas de governos de alguns de nossos candidatos? Por fim, porque considera o texto tendencioso? E aqui me permito alongar-me. Um texto pode ser considerado tendencioso quando, ao recortar e reportar uma porção da realidade, comete omissões propositais para favorecer interesses específicos. Nele existe uma espécie de traição ao leitor, que espera ser informado de acordo com valores próprios da institui-

ção, quando o jornal é representativo e institucional, como é o nosso caso. O jornal O SÃO PAULO é um jornal católico da Arquidiocese de São Paulo. Em sua linha editorial, instituída desde a sua fundação, consta reportar a realidade, fomentar o aprofundamento em unidade com o Magistério da Igreja e com os bispos! Lendo melhor o artigo, penso que a única crítica justificada seria que faltou nele as denúncias que o Magistério da Igreja faz contra o capitalismo desumano e selvagem, o que registro nesta oportunidade. Porém, a mim causa espanto que um leitor católico “lamente” que em um jornal católico se ensine conteúdos do Magistério. Por fim, concordo plenamente (mas isso é só a minha opinião): este país necessita sim de reformas políticas. Necessita também de honestidade, integridade e, porque não dizer, uma boa dose de vergonha na cara por parte daqueles que comandam esta nação. Padre Michelino Roberto, diretor responsável e editor do jornal O SÃO PAULO

Cônego Antonio Manzatto Estamos entrando na reta final da propaganda política. Embora as eleições sejam em outubro, neste mês de setembro tudo vai entrando na reta definitiva. As pesquisas eleitorais vão anunciando os resultados de suas enquetes como se já fossem resultado das urnas. Os candidatos vão disputando cada vez mais espaço na mídia, pois importa que seus nomes sejam citados e que se tornem conhecidos e comentados. Chama atenção a desinformação reinante que até parece ser proposital. Por exemplo, confundem-se as atribuições aos diversos cargos eletivos. Tem quem pense que basta votar para presidente e tudo se resolve, porque tudo é da competência da Presidência da República. Pensa-se até que ele seja superior hierárquico dos outros cargos. A confusão que daí deriva é bastante ruim, porque se pensa que o Presidente pode tudo, inclusive o que não é de sua alçada. Conhecer as atribuições de cada cargo é tarefa do eleitor, sim. Por isso, ele precisa reconhecer na propaganda eleitoral aqueles que confundem as atribuições e, por isso, não merecem seu voto. Afinal, se não sabem a que atividades eles se candidatam, como poderão ser bons executores de suas tarefas? Se há candidatos que permitem ou promovem esta confusão, nós precisamos saber direitinho o que compete a cada um nos diferentes níveis: o que é atribuição do governo federal ou estadual nas áreas da saúde, da educação, dos impostos e assim por diante. Porque não é o governo federal que arrecada todos os impostos, nem apenas ele que executa projetos e obras no País. Ele não pode tudo nem faz tudo. Assim, também, é preciso conhecer e reconhecer as atribuições do Poder Legislativo e dos candidatos ao Parlamento federal e estadual. Deputados e senadores não executam obras, nem chefiam setores da administração pública. Não é sua função querer administrar nem proporcionar ajuda com recursos públicos, muito menos favorecer corrupção. Um Legislativo forte e não corporativista ou fisiológico pode concorrer para a melhora da democracia no País, caso contrário a enfraquece. Por fim, há quem ainda pense que se pode abrir mão do direito de participação democrática através do voto. Há quem prefira não votar, como se não participasse da vida pública. Não é só questão de direito de escolha ou de reclamação, mas reconhecimento que a construção do bem comum é tarefa de todos, e disso ninguém pode se furtar. Por isso, há que votar com consciência e seriedade, definindo os caminhos pelos quais se quer construir o futuro do nosso País. E-mail: amanzatto@pucsp.br


6 | Fé e Vida |

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LITURGIA E VIDA Exaltação da Santa Cruz 14 de setembro de 2014

O sinal do amor divino ANA FLORA ANDERSON A antífona da missa nos convida a celebrar a salvação e a libertação que nos foram dadas pela cruz do Senhor Jesus. A oração pede que possamos conhecer agora os frutos deste amor divino. Na primeira leitura (Neemias 21, 4-9), encontramos a experiência do povo de Deus no deserto. Escapar da escravidão do Egito foi uma grande felicidade. Na caminhada, porém, o sofrimento foi grande e o povo culpa Deus e Moisés. Diante de um ataque por serpentes venenosas, o povo arrepende-se e pede a ajuda de Deus. Moisés faz uma imagem em bronze de uma serpente numa haste. Quando o povo olha para essa imagem, recebe a cura de Deus. Na segunda leitura (Filipenses 2, 6-11), São Paulo revela que, pelo amor, Jesus se esvaziou da condição divina, e, na pobreza, abraçou a condição humana. Seu amor por nós o levou à morte na cruz. Por esse tão grande dom, devemos glorificar o nosso Salvador. O Evangelho de São João (3, 13-17) narra a conversa de Jesus com Nicodemos, na qual Ele revela que, como Moisés com a imagem da serpente no deserto, o Filho do Homem deve ser levantado na cruz. Diante desse sinal, todos que têm fé compreenderão o quanto Deus nos ama e também receberão a vida eterna.

você pergunta

É certo pedir a intercessão dos santos e venerar suas imagens? cônego Cido Pereira

Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação

A pergunta do Bruno vai e volta sempre: é correto venerar e pedir a intercessão dos santos? Há fundamentação bíblica para isso? Bruno, pedir a intercessão da Virgem Maria e dos Santos não é só correto como recomendado pela Igreja. Tanto que no processo de canonização de um novo santo, se exige um milagre através da intercessão dele. Entenda, porém, que não é o santo ou santa que fazem o milagre. Ele ou ela apenas intercedem diante de Deus pela pessoa que suplica. A Igreja ensina que os santos, isto é, aquelas pessoas que viveram o seu compromisso batismal até às últimas consequências, podem ser cultuados e devem ser imitados por todos. Mais do que o milagre, deve prevalecer a imitação das suas virtudes em nossa veneração por eles. Dom Paulo Evaristo chamava os santos de nossos amigos do povo. São nossos companheiros, nossos intercessores. Ora, se Jesus disse que os anjos estão sempre diante de Deus, as almas daqueles que viveram sua fé também estão. Lembre-se do que disse Jesus ao bom ladrão: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Por que, então, não contar com a ajuda desses que viveram de modo heroico a fé em Cristo? O amor deles a Deus e ao próximo continua na eternidade e eles podem nos valer nesta luta que tempos contra o mal. Quanto às imagens, é bom que você saiba que nós, os seres humanos, necessitamos dos sentidos para enxergar o invisível, para entendermos as realidades espirituais. Quem de nós nunca fez na sua cabeça e no seu coração uma “imagem” de Deus? Lembre-se que a grande proibição bíblica de se fazerem imagens foi estabelecida num contexto em que Israel estava misturado com povos idólatras e era preciso preservar a fé no único Deus. Tanto que Deus em outro contexto recomendou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze e a colocasse no alto de um mastro para que quem olhasse para ela ficasse livre das serpentes que invadiam o acampamento. E na própria construção da Arca da Aliança, Deus pediu que se fizessem as imagens de dois anjos. Eles cobriam a arca com suas asas.

novos santos e beatos

Beato Antônio (Anton) Maria Schwartz 15 de Setembro

Reprodução

Anton, para nós Antônio, nasceu na humilde e cristã família Schwartz, no dia 28 de fevereiro de 1852, em Baden, na Áustria, quarto de 13 filhos. Aos 15 anos, ficou órfão de pai, vivendo uma grave crise pessoal, que durou dois anos. Em 1869, recuperado, foi estudar na escola popular gratuita dos padres piaristas. Lá, conheceu a obra do fundador, São José Calazans, tornando-se seu devoto extremado. Em 1875, ordenou-se sacerdote e assumiu o segundo nome. Padre Antônio Maria Schwartz foi capelão por quatro anos, depois viajou para Viena, para promover assistência espiritual aos doentes nos hospitais das Irmãs da Misericórdia de Schshaus. Além disso, começou a orientar, na religião, os operários e os jovens aprendizes em formação profissional. Tomando como base suas raízes hu-

mildes, percebeu as necessidades desses operários. Após quatro anos, pediu ao arcebispo de Viena que apoiasse essa Obra, mas o prelado mostrou que não tinha recursos para financiá-la. Por isso, Padre Antonio Maria adoeceu literalmente, tanto que precisou dos cuidados das Irmãs da Misericórdia. Dois anos: esse foi o tempo necessário para o Arcebispo dar seu apoio e sua ajuda, permitindo que o padre ficasse apenas com o apostolado

junto aos operários e aprendizes. Padre Antônio Maria recuperou o entusiasmo e, com total dedicação, em 1888, fundou o “Artesanato cristão”, um jornal para os artesãos e operários, que escreveu, durante um longo tempo, sozinho. Também buscou e conseguiu os meios para construir a primeira “igreja para os operários de Viena”, um templo humilde e escondido pelas casas populares. Foi nessa igreja que, para melhor assisti-los, fundou a “Congregação dos Pios Operários”, adotando as Regras de São José de Calazans, ainda hoje florescente. Morreu em 15 de setembro de 1929, em Viena, na Áustria. O Papa João Paulo II proclamou-o bem-aventurado Antônio Maria Schwartz, em 1998, designando a data da morte para a homenagem litúrgica. Fonte: http://www.paulinas.org.br

50

anos

Eduardo Frei, de vivência cristã, é eleito Presidente do Chile A edição do O SÃO PAULO de 13 de setembro de 1964 noticiou como destaque de capa a eleição de Eduardo Frei, como presidente do Chile. “Democrata de ideias bastante arrojadas no que diz respeito à atualização dos métodos de ação política, poderá Frei, por suas qualidades, dentro em breve merecer a confiança da maioria dos habitantes do país e levar avante o seu programa que objetiva o bem comum. Autêntico democrata e profundamente cristão, o presidente eleito do Chile não descuidará dos pro-

blemas vitais de sua pátria, para atender a todos, pois uma vez eleito já é ele o dirigente de um povo e não apenas dos partidos que o elegeram”. O Semanário apontou que Eduardo Frei defendia uma reforma na Constituição para garantir direito de voto a todos os chilenos, inclusive os analfabetos, adoção de plebiscito para questões em que não houvesse consenso entre o Executivo e o Legislativo, e proclamação do direito dos trabalhadores à moradia, saúde, educação, salário equitativo e direito de greve.

Capa da edição de 13/09/1964

O presidente eleito também afirmou que no campo econômico, “o esforço principal se aplicará à estabilização e intensificação das exportações e à melhora das condições sociais”.

ATOS DA CÚRIA NOMEAÇÕES Foram nomeados MEMBROS DO COMITÊ GESTOR DO FUNDO DA PASTORAL DO LAICATO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO : O Revmo. Pe. Zacarias Carvalho de Paiva. A Sra. Ana Filomena Silveira Faleiros para completarem o mandato de dois anos do Revmo. Pe. Hélio Vergueiro e da Sra. Cristina Arraes, que deixaram o comitê.

Foram confirmados os demais membros: Revmo. Pe. Tarcísio Marques Mesquita (Presidente); Revmo. Pe. João Júlio de Farias; Revmo. Pe. Reginaldo Donatoni; Sr. Antônio Zanon e Srta. Edna Fernandes. Todos os membros supra citados cumprirão o mandato até 25 de março de 2015. ADMINISTRADOR PAROQUIAL Em 3 de setembro de 2014, foi nomeado Administrador Pa-

roquial Interino da Paróquia São Bernardo de Claraval, Região Episcopal Ipiranga, o Revmo. Pe. Edson Chagas Pacondes, pelo período em que o Revmo. Pe. Antônio Luciano de Lima, pároco, estiver convalescente. Em 3 de setembro de 2014, foi nomeado Administrador Paroquial da Paróquia Santa Cristina, Região Episcopal Ipiranga, o Revmo. Pe. Wendel Quintino da Silva, SJS, até o dia 31 de janeiro de 2015.


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| Pastorais | 7

pastoral do ecumenismo

O que ensinam o Islã e o Judaísmo sobre a paz No mundo todo, bilhões de pessoas acompanham, apreensivas, a escalada da violência na Faixa de Gaza entre o Governo Israelense e o grupo palestino Hamas. Independentemente das convicções religiosas, de todos os pontos da terra se elevam orações para que a paz prevaleça na área de conflito. Provocadas pela crise que assola a Faixa de Gaza, cerca de 200 pessoas foram o Teatro Eva Herz, na livraria Cultura, em São Paulo, na terça-feira, 26, para o diálogo inter-religioso sobre o que ensinam o Islã e o Judaísmo a respeito da paz. O diálogo foi entre o Rabino Michel Schlesinger, representante para o diálogo inter-religioso da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e o Xeique Houssan A. El Boustani, representante do Instituto Futuro. “Fanatismo existe em todas as religiões”, afirmou o Rabino Michel, diante da estranheza dos conflitos na Faixa de Gaza. Ele

Congregação Israelita Paulista

destacou que a pergunta relevante a ser feita é: “A partir da constatação da existência de dois povos, quais os caminhos possíveis para que vivam dignamente e na paz?”. Segundo o Rabino, judeus e palestinos querem permanecer na região; e é preciso buscar uma maneira para que isso aconteça pacificamente. Salientou que a “paz não é e não pode ser algo que acontece por si só. A paz é produto de uma construção difícil, corajosa, que envolve muita paciência e vontade”. Houssan destacou que, no Alcorão, a paz é a regra na relação entre as pessoas; que ela está presente em 42 momentos no livro sagrado dos muçulmanos e que um dos nomes de Deus no Islã é Paz. “Queremos que os muçulmanos voltem a entender e a praticar o Alcorão Sagrado corretamente; que não interpretem erroneamente as palavras alcorânicas que Deus revelou ao profeta Muhammad como guia para os muçulmanos e para a humanidade”.

pastoral da comunicação

Dia de formação reúne agentes da Pascom Cerca de 70 agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom), das Regiões Lapa, Sé, Ipiranga, Santana, Brasilândia e Dioceses de Marilia, Santo André, Bauru, Guarulhos e Caratinga (Minas Gerais), reuniram-se, no sábado, 30, no auditório Teresa Merlo, para uma formação promovida pelo Serviço à Pastoral da Comunicação (Sepac), em parceria com a Pascom da Arquidiocese de São Paulo. A atividade foi assessorada pela Irmã Helena Corazza, doutoranda em Ciências da Comunicação, e Adriano Miranda, professor, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação.

Pascom Lapa

Irmã Helena falou do assunto principal desse encontro, fazendo uma apresentação sumária e breve do Diretório da Comunicação. Esse documento coloca

uma visão da Igreja situada num mundo em mudanças é uma Igreja em saída. A Irmã ressaltou que a Igreja tem uma história de comunica-

LEGIÃO DE MARIA

Celebração do jubileu de diamante No domingo, 7, a Catedral da Sé estava lotada na celebração dos 60 anos da Legião de Maria em São Paulo. A missa foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, concelebrada por diversos padres diretores espirituais da associação de fiéis, além de massiva participação de legionários vindos de diversas partes da Arquidiocese de São Paulo, região metropolitana, interior e algumas pessoas de outros Estados. Para Wanderley Aparecido Turine, coordenador da Legião de Maria, a celebração proporcionou “novas energias e entusiasmo para a caminhada”. De acordo com ele, para os cristãos e cristãs batizados que assumem a fé, a comemora-

Luciney Martins/O SÃO PAULO

ção do jubileu de diamante “foi um momento de muita espiritualidade e de renovado ardor missionário na ação apostólica”. “Estamos à disposição da Missão da Igreja em nossa cidade. A

exemplo de nossa Mãe, Nossa Senhora Aparecida, queremos contribuir na vida dos irmãos que atingimos em nossa caminhada através da Família Legionária”, afirmou Wanderley.

ção e comentou alguns antecedentes, como documentos pontifícios sobre comunicação antes do Concílio Ecumênico Vaticano II, além de ressaltar a importân-

cia do decreto conciliar Inter Mirifica – promulgado no primeiro ano do Vaticano II – e dos documentos que se seguiram e que falam como a Igreja oficialmente assume para si o direito e o dever de anunciar e pregar o Evangelho pela comunicação. Dando continuidade, professor Adriano falou aos agentes da Pascom sobre o papel da comunicação dentro da própria Pastoral e a “necessidade de potencializá-la” para o diálogo entre as pastorais e a sociedade. O encontro ainda foi uma oportunidade de trocas de vivências entre os participantes.

Pastoral da Pessoa com Deficiência

Em Aparecida: ‘Missa da acessibilidade’ No próximo dia 20, será realizada a Missa da Acessibilidade em ação de graças pelo Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência e defesa de seus direitos, no Santuário de Aparecida, localizado na cidade de Aparecida (SP). A Missa da Acessibilidade no Santuário Nacional é uma oportunidade de mostrar aos devotos de Nossa Senhora Aparecida que estarão no local e também àqueles que acompanharão a missa pelos meios de comunicação que o Evangelho deve ser transmitido e parti-

lhado por todos independentemente do modo como cada devoto o recebe e o profere. O tema da missa será: “Atenção às pessoas com deficiência e sua plena participação na sociedade”.

Serviço: Missa da Acessibilidade no Santuário Nacional Dia: 20 de Setembro, sábado, às 18h. Santuário Nacional de Aparecida Informações: pastoral.pcd.sp@ gmail.com


8 | Igreja em Missão |

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Destaques das Agências Nacionais

PADRE MICHELINO ROBERTO

Ibope: 79% dos eleitores são contra legalizar maconha e aborto Wilson Dias/ABr

A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo revela que 79% dos eleitores brasileiros são contra a descriminalização da maconha, contra apenas 17% a favor. Os números se repetem quando a questão é a descriminalização do aborto: 79% dos eleitores entrevistados se manifestaram contrários, enquanto 16% são favoráveis. A maioria dos eleitores, ainda que por margem menor, rejeita o casamento gay: 53% a 40%. Segundo a pesquisa demonstra, a população está dividida em relação à pena de morte: 46% defendem a medida e 49% a rejeitam. Já a redução da maioridade penal tem o apoio de oito em cada dez brasileiros. A pesquisa demonstra ainda que a candidatura de Dilma Rousseff cresce mais entre os eleitores que recebem Bolsa Família. Em uma simulação entre Dilma e Marina em um eventual segundo turno entre os beneficiados pelo Bolsa Família, Dilma tem 52% dos votos e Marina 22%. Entre os eleitores que não recebem benefícios federais, Marina Silva tem 50% dos votos e Dilma 34%. Fonte: www.estadao.com.br

CNBB promove debate entre os candidatos à Presidência da República A CNBB, em parceria com a TV Aparecida, realizará um debate político entre os presidenciáveis no próximo dia 16, a partir das 21h30,

com transmissão ao vivo por oito tevês de inspiração católicas, 230 rádios e diversos portais católicos. Entre as tevês que transmitirão o Divulgação

debate, estão a TV Aparecida, Canção Nova, Rede Vida e TV Século 21. O debate acontecerá no Centro

de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, localizado no complexo do Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo.

Rede Eclesial Pan-Amazônia: 11 países e diversas entidades reunidas em Brasília O Encontro da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) teve início na terça-feira, 9, na sede das Pontifícias Obras Missionárias (POM), em Brasília (DF). O evento reúne representantes de 11 países, de diferentes entidades, com o objetivo de traçar metas e estratégias comuns em vista da consolidação da Rede Eclesial PanAmazônica. O arcebispo de Manaus (AM) e membro da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, Dom Sérgio Eduardo Castriani, recorda que esse encontro é resultado de outras ações e reuniões que vêm sendo realizadas há um longo tempo, em prol da missão na Pan-Amazônia. De acordo com o Bispo, a criação da Rede é motivada a partir da constatação dos desafios na Região Amazônica. “Precisamos ter uma Rede com ações coordenadas, a fim de

olharmos para situações como migração interna, desmatamento, realidade indígena, além de questões de fronteira”. O projeto da Repam tem como objetivo geral lançar as bases de uma Rede Eclesial na região Pan-Amazônica, a partir do diálogo, da articulação e da construção de um consenso sobre a missão da Igreja na Amazônia. A iniciativa buscará incentivar, legitimar e consolidar um processo de articulação na região a curto, médio e longo prazos. Na oportunidade, serão definidos, pelas entidades dos países representados no encontro, a meta principal da Rede, seus procedimentos e as principais estratégias, que podem levar à definição de responsabilidades, equipamentos, coordenação e uma agenda para o trabalho dos próximos anos. Fonte: CNBB

‘Eleições 2014 – Voto no Brasil’ Durante a reunião do Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da CNBB, realizada na semana passada, em Brasília (DF), o bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação, Dom Joaquim Mol, apresentou aos bispos a série de vídeos “Eleições 2014 - Voto no Brasil”. São seis vídeos que abordam temáticas sobre as eleições no Brasil,

tais como o voto consciente, compromisso do eleitor na escolha dos representantes políticos, entre outros. Os vídeos podem ser reproduzidos em ambientes como salas de aula, reuniões, seminários, debates, meios de comunicação e compartilhados nas redes sociais. Estão disponíveis nas páginas do YouTube da CNBB e da Arquidiocese de Belo Horizonte. Fonte: CNBB


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Especial para O SÃO PAULO, em Cracóvia, Polônia

| Igreja em Missão | 9 FILIPE DOMINGUES

Cracóvia já entra em ritmo de JMJ

A cerca de dois anos da próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a cidade de Cracóvia já começa a traçar uma “estratégia geral” para sediar um dos maiores eventos do mundo. Nas semanas em que O SÃO PAULO esteve na Polônia, no fim de agosto, os principais responsáveis pela JMJ, como o presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, cardeal polonês Stanisław Ryłko, viajavam por todo o País para articular questões de logística, acolhimento e pastoral. Assim como na edição de Madri, em 2011, são esperados cerca de 2 milhões de peregrinos, o que demanda uma enorme estrutura e ótima organização por parte dos poloneses. Afinal, embora Cracóvia já seja uma cidade histórica, medieval e cheia de atrativos turísticos, é relativamente pequena: possui menos de 800 mil habitantes. O grande diferencial da JMJ de Cracóvia deve ser a presença de um expressivo número de jovens do Leste Europeu. “Por causa da distância, a Jornada do Rio de Janeiro (em 2013) foi praticamente inacessível para eles, mas também a anterior, de Madri (2011)”, recordou Aleksandra Szymczak, gerente do departamento de Comunicação da JMJ. Na ausência do novo secretário-geral, o Padre Grzegorz Suchodolski, polônes, foi ela quem

JMJ-Cracóvia 2016

conversou com a reportagem em nome do comitê organizador. “Agora, sendo a JMJ na Polônia, é uma oportunidade única.” Aleksandra explicou que um programa chamado “Bilhete para o Irmão” vem sendo promovido para arrecadar fundos e bancar a viagem dos peregrinos da Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Cazaquis-

Site da Jornada em 8 idiomas Pela primeira vez, o site oficial da Jornada (www. krakow2016.com) será traduzido para o idioma ucraniano, além das outras sete línguas oficiais (inglês, espanhol, português, francês, italiano, alemão e polonês). “Estamos em momento de preparação do novo site e daqui a dois meses, esperamos concluí-lo já com todas as línguas oficiais, inclusive português, que atualmente não funciona”, afirmou Aleksandra. A novidade se deve, primeiro, à proximidade geográfica da Polônia com a Ucrânia. Um grande grupo de ucranianos se prepara para ir à JMJ. E, também, aos confrontos recentes na Ucrânia, ligados à força política e militar da Rússia. A Igreja tem procurado dar grande apoio espiritual aos fiéis daquela região.

tão, Quirguistão, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Turquemenistão, Ucrânia e Uzbequistão. São nações que pertenceram à antiga União Soviética e ainda apresentam nível de desenvolvimento mais baixo do que a Europa Ocidental. “O programa permitirá comprar os ‘kits de peregrino’ para eles (mochilas, livros de oração,

Uma cidade em obras Cracóvia está rodeada de canteiros de obras, como as para a ampliação do aeroporto e expansão de estradas. Embora sejam úteis para a JMJ de 2016, Alesksandra ponderou que essas obras públicas não têm relação direta com o evento. “Nos últimos 15 anos, estamos em obras constantemente na Polônia. São mudanças que melhoram a vida diária dos poloneses, principalmente desde que entramos na União Européia [em 2004]”, disse. De qualquer maneira, “a Jornada será beneficiada, e pode ser que as obras sejam intensificadas por causa da Jornada”, mas são sempre os governos que as colocam em prática. No que depende da organização da própria JMJ, está pendente a escolha do local onde se-

‘Esperamos os brasileiros’ Enquanto esperam, os fiéis poloneses rezam pelo bom andamento da JMJ. “Já temos vários programas de preparação espiritual na Polônia”, comentou Aleksandra. Nos dias 26 de cada mês, grupos de jovens se reúnem para rezar pela organização. Outra iniciativa é envolver pessoas com problemas de saúde, pedindo-as que rezem pelo maior encontro de jovens do mundo. “Queremos mostrar que elas são necessárias para a JMJ, que não

camisetas, chapéus e objetos religiosos).” Procuram-se patrocinadores que queiram ajudar e, além disso, voluntários da JMJ têm realizado campanhas de arrecadação nos grandes santuários da Polônia, como o da Divina Misericórdia e o de João Paulo II, ambos em Cracóvia, e o Santuário de Nossa Senhora de Częstochowa.

só precisam de ajuda, mas que nós precisamos delas.” Segundo Aleksandra, a expectativa é de que peregrinos de todo o Brasil possam participar da JMJ de Cracóvia, especialmente depois que o Rio de Janeiro sediou o encontro. “Esperamos os brasileiros e já temos vários voluntários que querem vir do Brasil. Por causa da experiência e da alegria dos brasileiros, estamos esperando-os!”

rão realizados os atos centrais (as missas de abertura, encerramento e a cerimônia de acolhida do Papa). Aleksandra confirma que o campo de Błonia, na área menos urbana de Cracóvia, será usado. “É quase certo que os três atos centrais serão celebrados nesse campo, onde aconteceram todos os encontros com João Paulo II em Cracóvia. No entanto, para a missa de envio, ainda estamos pensando, junto ao Vaticano e aos serviços de segurança da Polônia, se Błonia é mesmo o lugar mais adequado.” Considerando que os peregrinos costumam passar toda a noite em vigília de oração antes da última missa, a decisão requer atenção redobrada para evitar erros de planejamento observados no passado. JMJ-Cracóvia 2016


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Como vão os avós? A cada dia, torna-se mais evidente que o Brasil jovem está se tornando um país de idosos, a exemplo do que ocorreu na Europa e vem acontecendo em todo o mundo. Propaga-se que as pessoas estão vivendo mais, 80, 90... e muito bem! A medicina, sem dúvida, colaborou muito para o controle de doenças crônicas e evita outras que no passado roubavam a vida até precocemente. Isso leva um número crescente de pessoas idosas, acima dos 65 anos, a morar sozinhas, com plena independência e autonomia. Por outro lado, os avós podem se tornar um “faz tudo” para filhos e noras. Buscam netos na escola, nas aulas de esporte ou inglês, ficam com as crianças por horas intermináveis em casa, acompanham o pedreiro na reforma, fazem a feira, e pegam isto ou aquilo no caminho, porque “não têm o que fazer” (segundo os filhos). Ao lado disso, pesa a palavra mais frequente ouvida por parte deles: solidão. Se é verdade que podem sair, jogar, viajar... também é fato que se percebem cada dia mais desolados com o decorrer dos anos. O esquecimento por parte dos filhos e netos não é tão raro, e a companhia, muitas vezes, se restringe a uma acompanhante. No entanto, esses da-

Sergio Ricciuto Conte

dos não podem esconder outra realidade, que é o fato desses idosos sofrerem um progressivo processo de limitações pela perda de suas condições físicas e psíquicas, esperadas nesta faixa etária. Cinco anos entre 40 e 45, não é a mesma coisa que entre 75 e 80. Às vezes, em seis meses, podem apresentar transformações significativas que levam a uma dependência grande ou até total, necessitando da ajuda de terceiros para atividades da vida cotidiana. É preciso voltar a ter o convívio de família, quando era comum os idosos estarem abrigados por seus filhos nesta etapa da vida. Valorizar os ganhos da qualidade de vida pelos recursos da medicina é maravilhoso, mas isso não substitui o calor do carinho e do amor que deve ocorrer no lar. Dar uma ocupação aos idosos é muito recomendado, desde que respeite as suas condições de saúde, e não considere que ele “não faz nada” e está à disposição para tudo. Valorizar os idosos na sua experiência de vida, ouvir o que pensam a respeito disto ou daquilo, compartilhar o que está acontecendo faz com que se sintam envolvidos, respeitados e “vivos” para todos. Dr. Valdir Reginato é medico de família, professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar.

O dia em que a internet parou Comecei a usar a internet em 1993, e somente uma vez vivenciei um colapso completo da grande rede mundial de computadores: no dia 11 de setembro de 2001. Era mais um dia normal de trabalho no InCor, em São Paulo, quando às 9h46 (8h46 em Nova York) o 767-200ER, que havia sido sequestrado por Mohamed Atta e seus homens, se chocou contra a torre norte do World Trade Center. Logo após esse acontecimento, um colega de trabalho falou: “Puxa, um avião bateu no World Trade Center!” Confesso que, naquele momento, não dei nenhuma importância ao assunto e sequer olhei as notícias na internet.

Apenas comentei: “Que erro grosseiro do piloto!” Poucos minutos mais tarde, veio novamente meu colega: “Outro avião bateu num prédio em Nova York”. E eu, já mais atento, falei: “Que coincidência!” Mas logo em seguida pensei, “Não pode ser...” Foi aí que abri o velho (na época moderno) Internet Explorer 6 para ler as notícias. Vi, então, uma foto do que seria depois confirmado como o voo United 175, que tinha sido tomado por Marwan al-Shehhi e lançado contra a torre sul do edifício. A partir daí, todos começamos a recorrer à internet para tentar entender o que se passava. Meia hora depois, outro avião

caiu no Pentágono em Washington DC - e foi então que a internet parou. Sim, parou no mundo inteiro. Todos fomos, ao mesmo tempo, conferir o que acontecia e a infraestrutura que mantinha a rede funcionando na época não aguentou. A maior parte dos sites de notícias ficou fora do ar até o fim do dia. Só sobraram o rádio e a TV. Os eventos daquele triste dia mudaram o mundo e mudaram também a infraestrutura e organização da internet. E desde 2001, a web nunca mais parou dessa maneira. Pedro Paulo de Magalhães Oliveira Jr. é engenheiro pela PUC-Rio e Doutor em Medicina pela USP. Atualmente ocupa o cargo de diretor de operações da Netfilter.

Cuidar da saúde

Tecnologia

Comportamento

10 | Viver Bem |

Gravidez É muito importante que os casais que desejem engravidar saibam que a gravidez começa bem antes da fecundação. Ela começa quando se decide engravidar. Algumas medidas devem ser tomadas para que a mãe tenha uma gestação tranquila: iniciar tomando ácido fólico por três meses antes; fazer exames de rastreio; ter papanicolau recente; estar no peso adequado; abandonar vícios; ter uma alimentação saudável e praticar exercícios. Não é a mulher que engravida e sim o casal.

Por isso, é importante que ambos estejam conscientes do que é ser mãe e pai. E que seja uma decisão mútua. São muitos os casais que se separam nos primeiros anos de vida do filho ou até mesmo durante a gravidez. Por isso, os homens devem acompanhar suas esposas nas consultas, nos exames e nas orientações da fase pré-natal, para que tirem todas as dúvidas com o médico e assim o casal possa passar por essa mágica fase sem problemas. Dra. Cassia Regina é médica atuante na Estratégia de Saúde da Família (PSF)


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| Reportagem | 11

Grito dos Excluídos relembra manifestações de junho

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em sua 18ª edição, atividade teve como lema: “Ocupar ruas e praças por liberdades e direitos” Edcarlos Bispo edbsant@gmail.com

No domingo, 7, foi celebrada na Catedral da Sé uma missa pela Pátria. Presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese e vigário da Região Episcopal Brasilândia, Dom Milton Kenan Júnior, a celebração relembrou os 192 anos da Independência do Brasil. Membros das diversas pastorais sociais da Arquidiocese também estiveram presentes na celebração que, desde 1994, em diversas dioceses do Brasil, precede o “Grito dos Excluídos” - uma manifestação popular que acontece durante a chamada Semana da Pátria. Essas manifestações buscam fortalecer os movimentos sociais. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Milton destacou que celebrar o Dia da Independência é “fazer memória da caminhada do povo brasileiro”. Ele reafirmou, como havia dito em sua homilia, que ao olhar para a história do País percebe-se que há coisas “muito bonitas”. Sobre o Dia da Pátria e o Grito dos Excluídos, o Bispo destacou: “Quando celebramos o

dia dos excluídos e excluídas e o Dia da Pátria, fazemos memoria dessa história para não repetir os mesmos erros, para que a gente não venha a fazer o mesmo que condenamos do passado”.

Grito dos excluídos Após a celebração, os participantes do 18º Grito dos Excluídos se reuniram na praça da Sé e saíram em marcha pelas ruas do centro de São Paulo. O lema da atividade neste ano foi: “Ocupar ruas e praças por liberdades e direitos”. Segundo explicou, em coletiva de imprensa na terça-feira, 2, Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo da Diocese de Mogi das Cruzes (SP), o lema deste ano lembra os protestos ocorridos em 2013. “Esses atos trouxeram de volta a importância de o povo

se manifestar. Eles foram prejudicados por grupos violentos que entraram para atrapalhar, mas isso não significa que o povo não deva se manifestar. E ele deve se manifestar nas ruas, nas eleições e, sobretudo, no dia a dia, nas associações de bairro, por exemplo, que é também a forma mais difícil porque exige mais perseverança”. Para Marcelo Naves, vice-coordenador da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de São Paulo, o Grito dos Excluídos “consegue congregar várias forças vivas, progressistas e libertadoras de nossa sociedade e faz com que a Igreja coloque para a sociedade toda a importância de se discutir as questões dessas pessoas, como o Papa diz: ‘As sobras do sistema capitalista’. Esse ano, em especial, a partir da exortação apostólica

do Papa a gente não fala nem em excluídos, mas em sobra”.

Plebiscito Popular e eleições Dom Milton destacou, ainda, que, esse ano, o Dia da Pátria e o Grito dos Excluídos se “revestem de um significado mais especial”, pois, continuou “temos diante de nós as eleições, a realização de um plebiscito por uma constituinte exclusiva, tendo em vista a reforma política em nosso País”. Sobre a questão eleitoral, Marcelo destacou que o Grito procura trazer qualidade para o debate eleitoral e não se prende a nomes, mas na discussão de um projeto político para o Brasil, “um projeto popular”, afirmou. De acordo com ele, a atividade retoma os temas debatidos na 5º Semana Social Brasileira e questiona: “Que Estado queremos? Estado para

quê? Estado para quem?” e, acima de tudo, pede reformas para a sociedade. Durante a caminhada e as atividades realizadas na praça da Sé, alguns jovens da Pastoral da Juventude (PJ) estavam com as urnas do Plebiscito Popular, recolhendo assinaturas e pedindo votos para as pessoas que estavam no ato ou para quem estava de passagem pela rua. O domingo foi o último dia de recolhimento de assinaturas. Para Dom Milton, uma reforma é preciso, pois “não basta que os políticos nos representem, é preciso que eles nos ouçam” e prosseguiu que é necessário “criar mecanismos para que possamos acompanhar a ação dos políticos para que eles sejam obrigados a prestar contas de seu mandato, da sua atuação política e partidária”.

20ª edição da mobilização acontece no Santuário Nacional Paralelamente ao Grito dos Excluídos, foi realizada a 27ª Romaria dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, que tem como lema “Mãe negra Aparecida, padroeira deste chão, o povo trabalhador não aceita escravidão”, que é promovida pela Pastoral Operária, com o apoio do Serviço Pastoral do Migrante. O evento começou com uma caminhada do Porto Itaguaçu, em Aparecida (SP), com destino ao Santuário de Aparecida. José Efigênio de Paulo, 67, coordenador da Romaria dos Trabalhadores, explica que os atos de 7 de setembro deste ano tiveram um motivo especial por trazer à tona todas as reflexões feitas na Semana Social Brasileira

e acontecer em meio à Campanha Eleitoral. Para 2014, a intenção é relembrar as manifestações que despontaram em junho de 2013, abrindo diálogo para as iniciativas populares que estão em destaque neste período de eleições, como a Campanha Nacional pelo Plebiscito Popular da Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Sobre as frequentes reinvindicações de mudanças políticas feitas hoje pelos brasileiros, José Efigênio comenta: “Vamos lutar. Não é o voto que muda o País. O que muda realmente um país é a organização e a participação popular. Nós não podemos ser omissos, precisamos nos organizar”! (EB)

Santuário Nacional de Aparecida/A12


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Imigração e violação dos d um capítulo que não m Zoom sobre a mídia, que, a serviço do medo, pode reforçar estereótipos e incentivar a xenofobia Nayá Fernandes

nayafernandes@gmail.com

“Minha vida não foi a mesma desde 2001. Antes disso, era normal, filhos, trabalho e casa, amigos”, contou Angelica Lozano, 39, natural de Cartagena, na Colômbia, que mora no Brasil desde fevereiro de 2011. Antes de chegar ao País, mais especificamente a Manaus, capital da Amazônia, ela passou por muitas cidades da Colômbia, perseguida pelos paramilitares. Um relatório da Anistia Internacional, publicado em 2012, afirmou que “apesar de sua suposta desmobilização, os grupos paramilitares, rotulados pelo governo como “bandos criminosos” foram responsáveis por graves violações dos direitos humanos, como homicídios, desaparecimentos forçados e operações de ‘limpeza social’ em áreas urbanas carentes. Algumas dessas violações foram cometidas com a conivência ou com o consentimento das forças de segurança. Suas vítimas eram principalmente sindicalistas, defensores dos direitos humanos e líderes comunitários, assim como representantes de grupos indígenas ou comunidades afrodescendentes e camponesas”. Desplazada dentro do próprio País, ou seja, tirada à força de lá, Angelica começou a traçar o caminho percorrido por muitos colombianos, bolivianos, peruanos, paraguaios, mas também por africanos, sírios, haitianos: a estrada promissora e difícil da migração. “Desde 2011, minha vida mudou, primeiro porque me

casei; segundo, comecei a trabalhar como administradora dos negócios do meu esposo e foi ali que aconteceram vários incidentes na Colômbia. Os paramilitares achavam que tínhamos muito dinheiro e que devíamos ajudá-los. Como eu me neguei, começaram a chantagear e ameaçar a minha família”, explicou a colombiana que, após mudar várias vezes dentro do próprio País, atravessou a fronteira nacional. Como acontece em alguns bairros das periferias brasileiras, também na Colômbia existe um serviço de proteção paralelo, lá, chamado

de vacina. “Os comerciantes que moram em estados onde os paramilitares têm suas forças ilegais, recebem proteção em troca de dinheiro. Essa segurança é para os comerciantes não serem assaltados ou, se acontecer, por grupos diferentes, eles mesmos solucionam a situação.” O relatório do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) sobre a Colômbia, publicado em janeiro de 2012, reconheceu que “importantes iniciativas legislativas e de políticas públicas foram empreendidas e violações dos

direitos humanos foram cond toridades públicas”. Porém, o r ceu também que “tais esforço alcançar os objetivos esperado O mesmo relatório notou número significativo de viola humanos e do direito internaci continua sendo cometido, so pos armados ilegais, mas tamb te, por agentes do Estado” e estava provocando “sérias humanitárias para os civis”.

O que se fala dos migrante “Vieram para tirar nosso trabalho”, “Temos que ajudá-los, coitados” ou expressões semelhantes são utilizadas em Curitiba (PR) para as pessoas que chegam à cidade e procuram trabalho ou algum tipo de auxílio. Já no Vale do Jequitinhonha, região nordeste de Minas Gerais, os trabalhadores migrantes são conhecidos, por exemplo, por cortadores de cana, ‘boia-fria’, e as mulheres de migrantes como ‘viúvas de maridos vivos’. Os relatos são de Elizeste Santana e Cleia de Fátima Silva, ambas do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) Nacional. Os termos para designar as situações de migração interna, imigração, refúgio, asilo ou apátrida são muitas vezes confusos e causam desconforto e problemas de discriminação e ex-

clusão. Grupos que trabalham com migrantes em todo o Brasil, em entrevista à reportagem, constataram que os enfoques dados, tanto pelas grandes redes de comunicação quanto as locais, são superficiais e, em alguns casos, expõe visões restritas e estereotipadas. Maria das Graças Ferreira, professora e membro do SPM no Piauí, explicou que a mídia local ocasionalmente fala do migrante. “Porém, quando é provocada a falar, nem sempre dá ênfase ao grande problema da migração forçada que permeia todo o Estado do Piauí.” No Amazonas, Valdecir Mayer, missionário scalabrianiano disse que a imprensa assume papéis diferentes, “ora apoia e conscientiza a população para ser solidária, ora fala como se os migrantes

fossem trazer problemas de desemprego, saúde e violência”. Para Mario Geremia, também missionário scalabriniano no Rio de Janeiro, “a grande mídia utiliza a mesma linguagem em todos os lugares porque tem sua própria ideologia xenófoba e sensacionalista. Ao mesmo tempo em que apoia e fala bem da migração seletiva de mais ou menos 70 mil novos imigrantes que são incorporados ao mercado de trabalho qualificado, ela anuncia e divulga como invasão, os pequenos grupos de haitianos, bengaleses, africanos que estão fugindo da fome e da guerra para buscar vida digna aqui no Brasil”. Mário afirmou que existe um discurso xenófobo que faz relação com a eugenia racial e

o medo de contaminação. “C espontânea e forçada por ca naturais, políticas e sociais, a m foba, sensacionalista e atrasada a riqueza do diferente e muit que os imigrantes sempre der ao Brasil em todas as dimensõ A reportagem ouviu tam SPM de Goías, Distrito Feder Pernambuco e São Paulo. Todo em afirmar que o migrante em como um número e, na maiori informações mais aprofundad estereótipos. Denise Cogo, Maria Bade mais 18 pesquisadores elabor


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direitos humanos: merece reprise

denadas pelas aurelatório reconheos ainda terão de os em nível local”. u ainda que “um ações dos direitos ional humanitário obretudo por grubém, supostamenque essa situação s consequências

Angélica, porém, decidiu denunciar e viveu o quase sequestro de uma das filhas. “Comecei a fazer parte da comunidade de desplazados pela violência. Foi quando decidi sair da Colômbia.” Ela enfrentou vários maltratos psicológicos por causa das ameaças dos paramilitares que tentavam levar seus filhos ou até mesmo matá-los. “Passei um tempo na fronteira do Amazonas e decidi vir ao Brasil.” Assim, com os três filhos, Jaime, 7, Maria, 13, e Dina, 17, Angelica viajou quatro dias de barco. “Eles nunca haviam viajado

em navio. Foi muito confuso, entre tristezas e alegrias, desesperanças e novas ilusões”, desabafou. Entender os fluxos migratórios no Brasil é uma tarefa que exige tempo e uma escuta atenta. Tarefa essa que a mídia brasileira nem sempre tem colaborado a executar. A chegada de um grande número de haitianos em São Paulo, por exemplo, vindos do estado do Acre, foi noticiada por alguns meios como “invasão” e, se por um lado, mobilizou a população para doações, por outro, causou na população uma situação de desconforto e medo. Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

es por aí?

Com a imigração ausas econômicas, mídia é dura, xenóa, pois não percebe to menos o aporte ram e estão dando ões.” mbém agentes do ral, Minas Gerais, os foram unânimes m geral é retratado ia das vezes não há das que superem os

et e um grupo de raram o “Guia das

Migrações Transnacionais e Diversidade Cultural para Comunicadores – Migrantes no Brasil”, publicado em 2013 pela Universitat Autonoma de Barcelona e pelo Instituto Humanitas Unisinos. O Guia orienta os comunicadores e oferece ferramentas de pesquisa. Sobre a situação dos haitianos, por exemplo, ele recomenda “explicar o contexto em que ocorre o aumento dos fluxos migratórios. Informar que os haitianos não estão no Brasil na condição de refugiados, mas que receberam vistos humanitários, e produzir reportagens que ajudem os brasileiros a conhecer mais a sociedade e a cultura haitiana”. Angelica contou que, muitas vezes, já se sentiu discriminada assistindo algum noticiário na televisão brasileira sobre migração. “Essa sensação

está em toda parte, nos avisos, nas propagandas: “só para brasileiros”, por exemplo. Como refugiados, temos os mesmos direitos, mas parece que sempre seremos estrangeiros e nunca imigrantes. Eu já passei por coisas parecidas, só que eu simplesmente ignorava. Vários colegas de trabalho me subestimaram quando eu cheguei, era a ‘coitada’ para eles. E não me contratavam porque diziam que tinham muitos brasileiros precisando de trabalho e que eu, por ser imigrante, não tinha direito. Mas, depois de um tempo, você só vive ignora comentários e faz valer a pena morar em outro lugar. Fui também agredida psicologicamente com o idioma. Todo mundo ri às suas costas porque você não pronuncia as palavras certas, mas eu não me importo, eu consigo rir também.”

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A deficiência das leis e das políticas públicas A versão final do Anteprojeto de Lei de Migrações foi entregue no Ministério da Justiça (MJ) na sexta-feira, 29 de agosto. O documento foi elaborado por uma comissão de especialistas do MJ e apresentado, depois de várias discussões e audiências públicas, numa coletiva de imprensa no dia 26 de agosto no auditório da Missão Paz, no Glicério. A instituição mantém a Casa do Migrante que hospeda imigrantes de diferentes lugares do mundo. Desatualizado, o chamado “Estatuto do Estrangeiro” é um dos dificultadores para que o País estabeleça políticas públicas para acolhida e encaminhamento dos imigrantes no Brasil. O Estatuto, de 1980, foi escrito antes da Constituição de 1988 e não prevê, por exemplo, que imigrantes votem no país onde residem. Leonir Chiarello, diretor executivo da Rede Internacional de Migração Scalabrini, afirmou que “o tema principal a ser discutivo é a governança das migrações que envolvem violência e proteção. Ainda que o desemprego não esteja resolvido no País tem-se oferecido oportunidades de trabalho para países com situações ainda piores. O Brasil é visto como um destino de possibilidades. É importante que as instâncias de governo possam dialogar com a sociedade civil para pensar essas políticas”. Jorge Peraza, da Organização Internacional para as Migrações (OIM) também enfatizou que o propósito é refletir sobre o potencial papel da sociedade civil para contribuir com o desenvolvimento da renda em sentido regional, nacional e global. “Destacar os aspectos positivos dos processos migratórios e contribuir para as pessoas que vivem esses processos. É necessária a articulação da sociedade civil para que haja ações mais efetivas. direitos humanos e livre mobilidade”, disse. “Os imigrantes não existem: se você não vota, você não importa, então, você não conta, sua opinião não tem valor, o demais é só papo”, expressou Angelica, que quando chegou ao Brasil, não recebeu nenhum tipo de auxílio do governo. Na fronteira, ela foi encaminhada pela Cáritas e pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). “Fui para um albergue. Meus filhos estavam muito nervosos e a filha mais velha não queria ficar. Tinha pessoas de todos os estados sociais, saídas da cadeia, doentes, moradores de rua, entre outros. Todos dormiam em dois quartos enormes, com muitos beliches. Minha filha chorou por horas e depois se acalmou, graças à ajuda da assistente social do albergue. Foi muito traumático e triste no começo, depois as pessoas viraram nossos amigos e sempre estavam se preocupando com a gente”, lembrou, emocionada. Ela recebeu auxílio de uma congregação das irmãs scalabrinianas quando procurou ajuda desesperada na Igreja dos Remédios, local de referência para os imigrantes em Manaus. Depois, com insistência, Angelica conseguiu uma vaga de estagiária na Cáritas e hoje é membro da coordenação do SPM na capital amazonense. “Meu maior sonho é ter minha própria casa para mim e meus filhos, poder ficar num só lugar que seja meu, em que eu me sinta em casa.”


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Vigília abre mês da Bíblia no Arsenal da Esperança Fernando Geronazzo

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Fraternidade da Esperança realizou na noite da sexta-feira, 5, e na madrugada do sábado, 6, a 4ª Vigília de Leitura Contínua da Palavra. Leitores de diferentes realidades, idades, pastorais, grupos e movimentos se alternaram na leitura de um trecho da Sagrada Escritura no salão do Arsenal da Esperança, na Mooca, região central de São Paulo. Nas edições anteriores, centenas de pessoas leram os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, as cartas do Novo Testamento e os livros do Pentatêuco. Neste ano, foram feitas as leituras dos chamados livros históricos, precedidos pela leitura de alguns

trechos do Evangelho segundo Mateus, proposto para o Mês da Bíblia deste ano. A vigília foi aberta com a leitura do primeiro capítulo do Livro de Josué, feita pelo arcebispo metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer. O Cardeal explicou que os livros históricos da Bíblia relatam fatos da vida do povo de Deus, mostrando como ele se insere, caminha, orienta seu povo. “Nessa história, nem tudo é bonito, generoso, grandioso, justo. Existe tudo aquilo que é humano, existe o pecado, a infidelidade. Mas sempre existe Deus que acompanha esse povo, o educa e mostra o caminho a seguir”.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A iniciativa da vigília nasceu em 2011, por ocasião da peregrinação dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na Arquidiocese. Desde então, jovens, estudantes, membros de comunidades, movimentos, pastorais e da sociedade em geral participam da vigília que marca o mês de setembro, dedicado à Bíblia, no Brasil. De acordo com o missionário italiano Simone Bernardi, a vigília está se tornando uma tradição enquanto momento privilegiado de silêncio, leitura e escuta da Palavra de Deus. “É um momento mais intenso para redescobrirmos que somos habitados por Deus, capazes de dialogar com ele, de levar sua presença para o cotidiano”.

Missa marca 60 anos de dedicação da Catedral da Sé Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu missa solene do 60º aniversário da Dedicação da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, na sexta-feira, 5. Ele falou sobre o significado do templo para os cristãos. “O universo é pequeno para conter Deus, que é maior que tudo isso, mas precisamos dar casa para Deus. É importante para nós

termos esta imagem da presença de Deus no meio de nós. Este, portanto, é o sentido, significado simbólico de construir o templo e dedicá-lo para o uso sagrado”. O Arcebispo também recordou que o templo de Deus é cada pessoa e também “a comunidade de fé é a Igreja viva de Deus”. “Jesus é o templo vivo de Deus no meio de nós. Ele mesmo diz: ‘Destruí este templo, e em três dias o reerguerei’. E São João observa: ‘Ele falava do seu corpo’, destruído na cruz, morto, mas ressuscitado ao terceiro dia”.


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Alexandre Padilha

‘O Estado de São Paulo precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Nayá Fernandes

controle social da ordem de acesso. Organizaremos, também, as redes de atenção à Saúde Mental, à pessoa com deficiência e aos idosos, além de reestruturar os órgãos do Estado que atuam nas áreas de vigilância em saúde para combater endemias e epidemias.

nayafernandes@gmail.com

A partir desta edição, O SÃO PAULO publica entrevistas com os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas Datafolha e Ibope ao Governo de São Paulo. O primeiro a ser ouvido é Alexandre Padilha (PT). Nas semanas seguintes, os entrevistados serão Paulo Skaf (PMDB) e Geraldo Alckmin (PSDB). Por conta do limite de texto da página, algumas questões feitas ao candidato Padilha – referentes a segurança pública, combate ao trabalho escravo e ensino religioso - estão apenas publicadas na íntegra da entrevista, que já está disponível no site da Arquidiocese (www.arquidiocesedesaopaulo.org.br).

O SÃO PAULO - Em seu plano de governo, o senhor fala em um novo modelo de desenvolvimento no qual os ganhos e os benefícios do crescimento econômico sejam apropriados por toda a população. Como isso será viabilizado? Alexandre Padilha - Entendemos que o Estado de São Paulo precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento, que coloque o Estado no século 21, recupere sua participação no setor industrial, que vem diminuindo ao longo dos anos. No entanto, é muito importante que esse desenvolvimento signifique efetivamente a melhoria da vida das pessoas, que seja usufruído por toda a população, principalmente àqueles que mais precisam. Isso vai ser feito por meio de investimentos em políticas públicas nas áreas de educação, geração de empregos, juventude e desenvolvimento regional, entre outras, sempre com participação ativa da população. Um exemplo são as políticas voltadas à formação profissional dos jovens e qualificação dos trabalhadores. Vamos fazer o Pronatec Paulista, que vai oferecer 2 milhões de vagas de ensino técnico e dar mais qualificação à nossa população, e o CEUs (Centro Educacional Unificado) da Juventude, aumentando as oportunidades aos nossos adolescentes. Outra frente fundamental é estimular o desenvolvimento de todas as regiões do Estado, considerando suas vocações e características. Para isso, vamos valorizar fóruns e instrumentos regionais como as regiões metropolitanas, que em muitas regiões só existem no papel, sem ação efetiva.

O que o Governo do Estado pode fazer para melhorar

Qual a sua opinião sobre a legalização, ampliação ou redução do acesso ao aborto? Minha opinião sempre foi muito clara sobre isso, desde quando fui ministro da saúde, por apenas três anos: sou contra qualquer iniciativa de mudança da legislação atual sobre esse tema. Pessoalmente, e como médico, sempre lutarei pela vida e pelo cuidado humanizado e respeitoso a todas as mulheres que procuram um serviço de saúde. Temos leis e resoluções do STF que devem ser cumpridas. O SUS precisa se reorganizar para garantir o tratamento humanizado que está previsto em lei.

o atendimento e acesso a tratamentos de saúde, sobretudo pelo SUS? Temos como prioridade reduzir o tempo e a distância geográfica para o atendimento, garantir atendimento com qualidade e humanização, aprimorando a gestão do SUS em São Paulo, articulado com Governo Federal e municípios. Para que isso seja possível, algumas ações são fundamentais. Iniciativas como o Programa Mais Médicos, o acesso a medicamentos gratuitos e ampliação de UPAS e UBS, já priorizados pelo governo da presidenta Dilma sem qualquer apoio do Governo do Estado São Paulo, serão reforçados. O Mais Médicos, por exemplo, que criamos no período em que fui ministro da Saúde, já é uma realidade de sucesso em todo País. Antes do programa, 700 municípios brasileiros não tinham sequer um médico. Hoje, todos eles contam com pelo menos um. Em São Paulo, Estado que mais solicitou médicos do programa, 345 municípios contam hoje com profissionais do programa, que atendem cerca de 7,5 milhões de paulistas. Vamos agora fazer o programa “Mais Médicos Especialistas”, que vai reduzir o tempo de espera para a realização de exames, consultas e procedimentos especializados. Criamos também o programa Farmácia Popular, que ampliou o acesso da população aos medicamentos de graça. O programa possui uma rede própria de farmácias populares, mas também conta com parcerias com farmácia e drogarias da rede privada,

onde consta o aviso “Aqui tem Farmácia Popular”. Vamos levar esse mesmo modelo de parceria para o “Mais Médicos Especialistas”, em que a população poderá ser atendida numa clínica privada, através do convênio com o Estado e receber o atendimento do médico especialista de graça. Onde tiver o aviso “Aqui tem Mais Médicos Especialistas”, o paciente será atendido no consultório privado, com pagamento pelo SUS. A parceria que deu certo no programa Farmácia Popular, vai dar certo no Mais Médicos em São Paulo. Nosso governo também vai apoiar os municípios, repassando recursos financeiros para financiamento conjunto das redes de atenção à saúde, possibilitando a ampliação da cobertura da atenção básica da saúde da família, com mais e melhores unidades e equipes preparadas para atender com qualidade. Vamos também implantar uma rede de hospitais-dia, chamada “Rede 3 em 1”, em todas as regiões do Estado, para agilizar a realização de consultas, exames e cirurgias, reduzindo as filas de espera. A rede irá contemplar os AMEs já existentes, contratar e formar novos especialistas. Queremos, ainda, integrar os hospitais filantrópicos neste modelo, abrindo mais uma alternativa de participação deles no SUS. A perda de consultas e exames vai ser reduzida pelo envio de SMS ou ligação telefônica, avisando sobre o agendamento, que deverá ser realizado de forma organizada e com transparência - vamos publicar listas, inclusive na internet, garantindo adequada informação e

Que categorias serão priorizadas no seu governo? Como estará em pauta as questões de direitos humanos? Os direitos humanos serão um fio condutor, de caráter transversal, nas diversas políticas públicas de nosso governo. Conforme já tem sido feito em âmbito federal, nos governos Lula e Dilma, daremos atenção especial à juventude, principalmente da periferia, às crianças e adolescentes – com ênfase no combate ao trabalho infantil e à exploração sexual -, às mulheres e às políticas de promoção da igualdade racial. Também consideramos fundamental a atenção às pessoas com deficiência e aos idosos, garantindo a ambos o acesso a tratamentos especializados, acessibilidade e direitos. Entendemos, ainda, que é prioritário o combate às drogas, particularmente ao crack. Para isso, criaremos o programa “Braços Abertos” estadual, além de garantir o tratamento humanizado aos usuários. Que parcerias com as organizações da Igreja o senhor pretende manter ou promover? A Igreja sempre ocupou um importante espaço em nossa sociedade, em especial na área social. Muitas instituições ligadas ou apoiadas pela Igreja realizam um trabalho social importantíssimo, complementar ao do Estado. Nosso governo saberá valorizar as organizações da Igreja e trabalhar junto, para que a população tenha o melhor atendimento possível.


16 | Fé e Cultura |

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Cultura

Educar para quê? Felipe david

especial pra o são paulo

Em muitos dos programas de governo dos candidatos a governador do Estado para a área de educação, publicados pelo O SÃO PAULO na edição 3016, lemos as propostas de introduzir ou ampliar o ensino em período integral e de reformar o currículo. Na mídia e na sociedade como um todo, fala-se muito na crise por que passa a educação brasileira. No entanto, quando se olha para os outros países no mundo ocidental, percebe-se que a crise é, na verdade, de ordem mundial. Portanto, não se trata apenas de baixos salários de professores ou da ausência de estrutura e equipamentos (mesmo que esses problemas também sejam reais, ao menos no Brasil). Mas aqui e no mundo, a educação passa por uma crise sem precedentes, embora o acesso a ela tenha se universalizado na maior parte dos países ocidentais. Essa crise é de princípios. Trata-se dos objetivos que foram estabelecidos para a educação em escala global, por meio de organismos internacionais, como a UNESCO. Esses objetivos têm orientado uma reforma profunda na grade curricular, na estrutura das escolas, na formação dos professores e pedagogos e na forma de ensinar. É dessa profunda transformação, dessa verdadeira revolução da educação, organizada em escala mundial, que trata o autor francês Pascal Bernardin no seu livro “Maquiavel Pedagogo”,

traduzido para o português e publicado no ano passado pela Vide Editorial. O livro descreve e explica as técnicas utilizadas para se realizar essa revolução – que vêm de uma área da psicologia desenvolvida na segunda metade do século XX, conhecida como “psicologia social” – tais como a submissão à autoridade, o conformismo, as normas de grupo, o “pé na porta”, a “porta na cara”, a dissonância cognitiva, entre outras. Entre as mudanças, um ponto chave é a orientação da educação para se obter um determinado comportamento dos alunos, em vez de educá-los para entender alguma coisa. Estamos aqui em clara oposição ao Evangelho: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). O homem é um animal racional e, por isso, busca pela sua própria natureza o conhecimento da verdade. Substituir isso pela introjeção de certos comportamentos considerados desejáveis é tratar o homem como um animal que deve ser domesticado. Que a educação mudou muito nas duas últimas gerações é evidente. Basta perguntar para uma pessoa com mais de 60 ou 70 anos como foi a sua formação escolar e fazer a comparação. O que não se sabe é qual foi a origem de toda essa mudança, e nem se ela foi para melhor ou para pior. Na verdade, parece que não temos mais nem os critérios para fazer essa avaliação. Afinal, qual deve ser a finalidade da educação? Como devemos formar as crianças e os jovens? Enfim, educar para quê?

Dica de Leitura

FISIONOMIAS DE SANTOS | ERNEST HELLO “O Sr. Hello recebeu de Deus o seu gênio”, nas palavras do Santo Cura d’Ars. O francês Ernest Hello (1828-1885), crítico de Ernest Renan e René Descartes, filósofo, ensaísta, crítico literário, biógrafo e tradutor (de Ângela de Foligno e Van Ruysbroeck) e um dos expoentes do pensamento católico do século XIX. Hoje, seu nome é injustamente pouco conhecido. Uma de suas obras mais famosas, Fisionomia de Santos, traz para o leitor retratos de santos, desde os evangélicos José, João Batista, Simeão e Ana, passando pelos mais populares, como Agostinho, Francisco de Sales e Teresa, e destacando os mais esquecidos, como Goar e João da Mata. Hello demonstra que, não obstante suas diferenças, constituem o mesmo Corpo e professam a mesma Fé “Não são vidas que narro, são fisionomias que esboço. Têm a mesma fé, cantam o mesmo Credo. Homens deste século, será

Reprodução

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que esta unanimidade não vos admira? Há somente um único Evangelho!” (Ernest Hello)

Ficha Técnica Autor: Pascal Bernardin Páginas: 325 Editora: Cultor de livros

2º Fórum da Famílias Novas Acontece neste fim de semana, 13 e 14, o segundo fórum da Comunidade Católica Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria. O evento será no Mosteiro de São Bento e contará com os palestrantes: Dom Antonio Augusto, bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro, Benedicto Carlos Cavalcante, Professor Felipe Aquino, Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, Padre José Eduardo e Reinaldo Christofoletti. Entre os temas a serem discutidos estão a nova evangelização e o papel do jovem nela, os reflexos da JMJ 2013 no Brasil e na

família, a castidade, a situação da família no mundo atual e a busca da santidade no seio da família. A Comunidade Católica Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria é uma comunidade de aliança, fundada em 2006. Ela é formada essencialmente por pais, filhos e todos aqueles que se sentem chamados para a missão de efetivar nas famílias do mundo a Igreja doméstica, valorizando a vida de oração e sacramental, vivendo em casa o Evangelho, e ensinando a partir de um testemunho autêntico e alegre em conformi-

dade com a exortação apostólica “Familiaris Consortio”. Todos os membros se evangelizam mutuamente, para a partir daí saírem em uma verdadeira cruzada, em que pais e filhos marcham lado a lado, com o propósito de conquistar o mundo para Deus pelo testemunho do amor, vislumbrando uma sociedade justa e pacífica. Eles cumprem sua missão por meio de diversas atividades apostólicas, e, sobretudo, com o testemunho de cada membro “Famílias Novas”. Para outras informações: www.forum2014familiasnovas.com.br


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| Esporte | 17

Bola rolando pela paz e a fraternidade L’Osservatore Romano

Segundo o Papa Francisco, futebol é ‘alegria de viver, jogo e festa’. A mesma jogada é seguida em torneio de futsal promovido por jovens de paróquia da Região Belém Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

Nas últimas semanas, o futebol tem ganhado espaço entre as notícias policiais. No sábado, 6, por exemplo, aconteceram brigas de torcedores em Recife (PE) e Ribeirão Preto (SP), que resultaram em pessoas feridas. Em todo País, ainda repercute a postura racista de parte da torcida do Grêmio contra o goleiro santista Aranha, que resultou na exclusão do clube gaúcho da Copa do Brasil. E em fins de agosto, na Argélia, o jogador camaronês Albert Ebossé morreu ao ser atingido na cabeça por um objeto atirado das arquibancadas. Tantas notícias ruins colocam em segundo plano que o esporte “é alegria de viver, jogo, festa, e como tal deve ser valorizado mediante a recuperação da sua gratuidade, da sua capacidade de estabe-

lecer laços de amizade e abertura uns aos outros”, como disse o Papa Francisco aos atletas que participaram do Jogo Inter-religioso pela Paz (foto), no dia 1º, no Estádio Olímpico de Roma, entre os quais o argentino Maradona e o italiano Baggio.

O Jogo Paz teve renda revertida para as instituições educacionais beneficentes “Scholas Ocurrentes”, idealizada pelo Papa Francisco, e a Fundação Pupi, do ex-jogador argentino Zanetti. Mas não é só no Vaticano que a bola rola pela solidariedade. Na Arquidiocese de São Paulo, três jovens da Paróquia São Carlos Borromeu, na Região Belém, com o apoio do pároco, Padre Fausto Marinho, organizaram a Copa Asor Novais de Futsal Inter-Igrejas, com 32 equipes masculinas e 8 femininas, em que os “gols de placa” são a arrecadação de alimentos, agasalhos e brinquedos, e o incentivo à doação de sangue. “A ideia foi arrecadar uma tonela-

da de alimentos não perecíveis e já ultrapassamos essa meta. Cada equipe, como parte da inscrição, teve que levar uma cesta básica completa de 15 quilos. Além disso, se o jogador toma um cartão amarelo ou vermelho, recebe uma punição em alimentos e se não cumprila fica impedido de jogar”, contou, ao O SÃO PAULO, Marco Aurélio Martucci Giannini, 29, um dos organizadores do torneio. Criada em 2008, a Copa Asor Novais – nome de um dos idealizadores, morto em 2013 – premia, além do campeão, a equipe menos faltosa e que mais ajudou nas ações solidárias. “A galera preza muito a união entre as paróquias, a fraterni-

Paz, solidariedade e combate ao racismo no futebol orientação sexual ou qualquer outra razão é estritamente proibida e passível de punição por suspensão ou expulsão” – Art. 3, do Estatuto da Fifa. • No 64º Congresso da Fifa, realizado

dade, a amizade. Dentro da quadra existe aquela rivalidade, mas todas as equipes têm ciência que isso fica apenas dentro das quatro linhas e todos os envolvidos repudiam qualquer ato de racismo, até porque há uma mescla de etnias nas equipes”, enfatizou Marco Aurélio. As finais da Copa Asor Novais serão no domingo, 14, às 13h30, no Colégio João XXIII (rua José Zappi, 165, na Vila Prudente), que é um dos apoiadores do torneio, assim como o Círculo dos Trabalhadores Cristãos, a Wizard Mooca e a Uninove, campus Vila Prudente.

AGENDA ESPORTIVA Quarta-feira (10) 19h30 - Brasileirão de Futebol Palmeiras x Criciúma (Pacaembu)

MUNDO DOS ESPORTES

• “A discriminação de qualquer tipo contra um país, uma pessoa ou grupos de pessoas por causa da raça, cor da pele, etnia, origem social, gênero, língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, saúde, local de nascimento ou qualquer estatuto,

povos, excluindo qualquer discriminação de raça, língua e religião”, disse o Pontífice, ressaltando que valores como lealdade, partilha, acolhimento, diálogo e confiança no outro podem ser favorecidos pelo futebol.

A jogada é a solidariedade

Wallace Moraes

Copa Asor Novais de futsal termina dia 14

“Possa o encontro futebolístico desta noite reacender em quantos nele participarem a consciência da necessidade de se comprometer para que o desporto ajude a dar uma contribuição válida e fecunda para a coexistência pacífica de todos os

em São Paulo, em junho deste ano, o presidente da entidade, Joseph Blatter, defendeu que haja retirada de pontos, expulsão de equipes ou o rebaixamento como forma de punição a ofensas racistas ou discriminatórias.

Quinta-feira (11) 19h30 - Brasileirão de Futebol Corinthians x Atlético Mineiro (Arena Corinthians) Domingo (14) 7h30 – Corrida de rua e caminhada (inscrições até dia 10) Circuito Popular de corrida de rua – etapa das subprefeituras Jaçanã/Tremembé e Santana/Tucuruvi (a largada será na Avenida Luis Stamatis, 300, Vila Constança) 16h – Brasileirão de Futebol São Paulo x Cruzeiro (Morumbi)


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Brasilândia

Renata Moraes

Colaboradora de Comunicação da Região

300 pessoas acolhem novo pároco da Nossa Senhora do Carmo Andrea Colucci

Padre Eduardo concelebra missa após ser empossado por Dom Milton

Na noite do domingo, 7, na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Setor Nova Esperança, em missa presidida por Dom Milton Kenan Júnior, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, tomou posse como pároco o Padre Eduardo Binna, que já estava à frente da Paróquia desde 16 de outubro de 2013 como administrador paroquial. Coincidentemente, a posse ocorreu na data em que se completou um ano do falecimento do antigo pároco, Padre Vladimir Anselmo da Silva. A missa, com a participação de cerca de 300 pessoas, foi concelebrada pelos Padres Cícero Alves de França, reitor do

Seminário de Teologia arquidiocesano, e pelo. Padre João Inácio Mildner, capelão do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Em entrevista à Pascom Brasilândia, o novo Pároco manifestou sua alegria. “É muito emocionante esta nomeação. Sou muito grato a nossa Igreja pelo reconhecimento do nosso trabalho. Ser pároco é ser curador das almas deste rebanho da Nossa Senhora do Carmo”, enfatizou. Padre Eduardo Binna foi ordenado sacerdote em 21 de maio de 1994, em São Paulo. Também atuou na Região Belém e estudou na Itália. Ele está concluindo doutorado em Liturgia.

Diretório de Comunicação é destacado em formação O Setor Pastoral Nova Esperança realizou no sábado, 6, uma manhã de formação e estudos sobre a Pastoral da Comunicação. O encontro foi sediado na Paróquia São Judas Tadeu, na Vila Miriam, com assessoria da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Brasilândia, representada pelo Padre Cilto José Rosembach, assessor regional da Pastoral, e por Juçara Terezinha Zottis. Os assessores ajudaram na reflexão sobre o que é Pascom, como se articula e sua importância na vida

AGENDA REGIONAL Sábado (13) às 14h Biblioteca Itinerante em Direitos Humanos, na Paróquia São Francisco (rua Manoel Pinto Nascimento, 591, Jardim Guarani) Sábado (20), das 8h ás 12h Assembleia Regional da Região Brasilândia, na Paróquia Santos Apóstolos (avenida Itaberaba, 3.907, Itaberaba).

da Igreja. Padre Cilto fez referência ao Diretório de Comunicação, aprovado na última Assembleia Geral dos Bispos do Brasil. “O capítulo nove do Diretório trata da importância da Pastoral da Comunicação na vida da Igreja. O documento ressalta a necessidade de que haja capacitação permanente para os membros das equipes, sejam elas paroquiais ou diocesanas”, ressaltou Padre Cilto. Padre Jaime Sena, coordenador do Setor e pá-

roco da São Judas Tadeu, falou sobre a preocupação e o desafio em organizar a Pascom nas paróquias do Setor. O encontro contou com a presença dos membros do conselho de pastoral e as paróquias do setor indicaram representantes para dar continuidade ao debate e se organizarem a nível paroquial. Como encaminhamento, cada paróquia deverá dar continuidade ao tema, promovendo encontros para os novos agentes.

Festa em louvor da Nossa Senhora das Dores segue até dia 15 Com o tema “Nossa Senhora das Dores, ajudai-nos a nos libertar das correntes do pecado”, a Paróquia do mesmo nome (avenida Elísio Teixeira Leite, 7.400, Taipas), no Setor Jaraguá, iniciou no sábado, 6, a festa em louvor à padroeira. Durante a semana, haverá missa

às 20h. No sábado, 13, está programada a 2ª Gincana Interparoquial, das 9h às 17h, um momento cultural, de partilha de fé e também de solidariedade, em que os participantes, a maioria jovens, entregarão doações de alimentos e roupas que serão repassados aos Vicentinos, para serem entregues às famílias carentes da Região.

No mesmo dia, às 18h, haverá missa. No domingo, 14, às 15h, acontecerá a carreata em louvor a Nossa Senhora das Dores, seguida de missa solene. Na segunda-feira, 15, dia da padroeira, haverá missa solene às 20h, com a coroação de Nossa Senhora. Outras informações em (11) 39715386. Paróquia São Judas Tadeu

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Na sexta-feira, dia 5, na Paróquia São Judas Tadeu, Dom Milton Kenan Júnior, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região, festejou 27 anos de ordenação sacerdotal, que aconteceu nesta data, em 1987, na Diocese de Jaboticabal.


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Santana

Diácono Francisco Gonçalves

Colaborador de comunicação da Região

Clero atento à conversão pastoral da paróquia Diácono Francisco Gonçalves

Padres e diáconos atuantes na Região Santana se reuniram na Cúria regional, no dia 2, iniciando com a prece das Laudes, quando ouviram o bispo auxiliar da Arquidiocese, Dom Sergio de Deus Borges, expressar: “Não se esqueçam: mesmo que nós fossemos superados por outros fiéis na eloquência, isto não anularia o nosso ser representação sacramental de Cristo, Cabeça e Pastor, e é disto que deriva, sobretudo, a eficácia da nossa pregação”. O encontro teve a visita do Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, e assessoria do Padre José Roberto (Beto) Mattos, com o tema “A Conversão Pastoral da Paróquia”, baseado no documento 100 da CNBB. Padre Beto falou do esforço a ser empreendido para superar uma pastoral de manutenção e da necessidade de uma conversão pastoral, pois com os desafios atuais a Igreja é

chamada a responder a eles. Citou o assessor alguns deles: “O desafio da vida urbana, com as paróquias territorialmente grandes - daí a necessidade de descentralização por meio da existência de outras comunidades eclesiais; O protagonismo dos leigos - é necessário que o leigo seja valorizado e a ele sejam confiados serviços (ministérios), a partir de seus dons (carismas); Novas expressões - a paróquia deve ser o lugar de acolhida das novas expressões da vida, como os movimentos e as novas comunidades”. Dom Odilo, em sua participação, tratou do Sínodo dos Bispos sobre família, a ser realizado no Vaticano, de 5 a 19 de outubro deste ano. Outro tema abordado pelo Cardeal foram as eleições 2014. Na reunião, ele distribuiu o folder com as orientações para as comunidades católicas da Arquidiocese de São Paulo.

Santa Teresinha acolhe novena missionária saletina A Paróquia Santa Teresinha, Setor Santana, recebeu, no dia 3, os fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Salette, que nas comemorações de sua padroeira têm realizado uma novena missionária, percorrendo as paróquias do Setor Santana celebrando, em cada uma delas, uma noite da novena. “Nem bem os fiéis que participaram da missa das

19h30 na Paróquia Santa Teresinha deixaram a igreja, esta novamente ficou lotada, mas desta vez não somente com paroquianos locais e sim com grande número vindo da paróquia vizinha, a Nossa Senhora da Salette. Havia um motivo mais que especial para essa ‘invasão’”, relatou Carlos Minozzi, da Pascom Santa Teresinha. Ás 20h30, quando o carro trazendo o andor

de Nossa Senhora da Salette encostou à frente da igreja, esta já se encontrava lotada de fiéis que vinham sendo animados pelo pároco vizinho e reitor do santuário saletino, Padre Marcos Queiroz, e que foram recebidos pelo pároco salesiano Camilo da Silva, que lembrou que Nossa Senhora da Salette também é mãe de Santa Teresinha.

Encontro para jovens casados movimenta Santana A Paróquia Nossa Senhora da Salette realizou, em 24 de agosto, o Encontro para Jovens Casados, com o tema: “Deus nos convocou

para amar. Simplesmente Amar”. Com palestras, músicas e apresentações de teatro, o grupo coordenador procura mostrar aos jovens casais a Coordenação de jovens casados

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AGENDA REGIONAL Sábado (13) 8h – Formação Mesac para os Setores Medeiros e Vila Maria, na Paróquia Nossa Senhora da Candelária (praça Nossa Senhora da Candelária, 1). 14h - Assembleia da Pastoral da Pessoa Idosa, no Centro Pastoral Frei Galvão (avenida Mal. Eurico Gaspar Dutra, 1.853).

Domingo (14), das 13h às17h Formação Mesac na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres (avenida General Ataliba Leonel, 3.013) para ministros que não puderam ter formação nos sábados.

experiência de outros casais sobre esse período, que são os primeiros anos do casamento. O evento mostra a vivência da espiritualidade, a oração, o diálogo, o perdão e a fé para criar uma família capaz de superar as dificuldades naturais que aparecem na vida. O evento, realizado pela primeira vez em 2001, chamou a atenção por ser novidade na zona norte, e acabou sendo criado o grupo dos Jovens Casados, que é responsável pela coordenação do evento. “Vivemos momentos de graça

e alegria. O tema que norteou o encontro nos permitiu aprofundar o ‘primeiro amor’ proposto por Deus à santa vocação do Matrimônio. As transformações foram imensas. Muitas pessoas que trabalharam no encontro também foram tocadas”, disse Marcos Galante. Ele e Luciana Pierre fazem parte da coordenação dos Jovens Casados. O evento terminou com missa presidida pelo Padre Guttemberg Souza, na qual os casais encontraram seus familiares.

Grito dos Excluídos Mirins ecoa no Jardim Peri Crianças e adolescentes, juntamente com seus educadores dos projetos sociais do Centro Comunitário Nossa Senhora Aparecida, das Comunidades São José, Jardim Antártica e Nossa Senhora Aparecida, do Jardim Peri, realizaram, no dia 3, caminhada pelas ruas do bairro para reivindicar melhores condições de moradia, saúde, segurança, meio ambiente, entre outros temas. O objetivo do evento foi conscientizar dentro de uma atividade lúdica as propostas sociais do centro comunitário e estar em comunhão com o Grito dos Excluídos, proposto pela CNBB. Essa caminhada, em sua segunda edição, aconteceu ao som de “ia,ia,ia – queremos moradia” além de tantos os outros gritos de guerra entoados pelos jovens e crianças.

“A ideia é mostrar para a cidade que mesmo a periferia sendo esquecida pelos órgãos públicos, quer mais vida digna, justiça social e um bairro mais fraterno”, diz Valdeyr

Aires, organizador do evento. Para José Joaquim, 8, a caminhada foi para “pedir o bem para nós”. Já para Paola, 13, a “Educação é a melhor forma de protestar”. Valdeyr dos Santos


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Fernando Geronazzo

Colaborador de comunicação da Região

Uma comemoração centenária na Paróquia Nossa Senhora de Monte Serrate A Paróquia Nossa Senhora de Monte Serrate, em Pinheiros, festejou sua padroeira na segunda-feira, 8. Ao longo do dia, foram celebradas oito missas, sendo a última presidida pelo arcebispo metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer. Criada em 2 de fevereiro de 1914, a Paróquia ainda vive o clima do centenário. Marco histórico na zona oeste da capital, a presença da Igreja no bairro é fruto da passagem dos primeiros missionários Jesuítas por São Paulo, com destaque para São José de Anchieta. Essa devoção mariana vem da Espanha, datada de 1614, onde há um mosteiro beneditino na região montanhosa da Cataluña, mais es-

pecificamente no MontSerrat, onde é venerada a imagem de Nossa Senhora como protetora dos cristãos, especialmente os que sofriam perseguições. Dom Odilo destacou que os cristãos vivem um momento de grandes perseguições e convidou os fiéis a invocarem a intercessão da Virgem Maria. Pároco desde março, Padre Bartolomeu da Silva Paz ressaltou que a matriz da Paróquia é considerada uma igreja de passagem. Localizada junto ao Largo da Batata e à Estação Faria Lima do Metrô, por dia passam, em média, de 800 a mil pessoas pelo templo. Ao refletir sobre as leituras da liturgia do dia, que celebra a festa da

Fernando Geronazzo

Cardeal Scherer preside missa da festa de Nossa Senhora de Monte Serrate, em Pinheiros

Natividade de Nossa Senhora, o Cardeal motivou a comunidade a continuar a ser um sinal da presença de Deus na cidade. “Que esta Igreja seja o lugar acolhedor de todos, lugar onde

Coroação de Nossa Senhora do Brasil Abrindo as festividades da padroeira, a Paróquia Nossa Senhora do Brasil (praça Nossa Senhora do Brasil, Jardim Paulista) celebrou a coroação de Nossa Senhora pelas crianças da Catequese, em missa solene no domingo, 7. A celebração, presidida pelo

pároco, Padre Michelino Roberto, contou com a participação da cantora Fafá de Belém e do Coral Del Chiaro. Pelas redes sociais, Fafá de Belém manifestou emoção pela participação na celebração. Além de cantar a canção “Ave Maria”, ela cantou “Nossa Senhora

encontrem um olhar de misericórdia de Deus, com suas mãos estendidas, que veio ao encontro das nossas fragilidades. Sejam vocês, testemunhas desta acolhida de Deus”. Daniella Gumiero

do Brasil” e, após a missa, o Hino Nacional, em comemoração ao Dia da Pátria. As comemorações se estendem durante a semana com missas e a oração do Ofício de Nossa Senhora às 9h, 12h e 17h30. No dia da festa, domingo, 14, haverá missa solene às 18h30.

Belém

João Carlos Gomes

Colaborador de Comunicação da Região

Natividade de Maria é motivo de devoção e festa Arquivo pessoal

Fiéis lotam a Comunidade Natividade de Maria durante tríduo em louvor à padroeira

Com a participação de cerca de 300 fiéis, a Comunidade Natividade de Maria celebrou o nascimento de sua padroeira com um tríduo iniciado na sexta-feira, 5, culminando com a solene celebração no dia 8. A Comunidade, uma das sete que compõe a Paróquia São Miguel Arcanjo, nasceu no dia 8 de setembro

de 1990. “Por ter nascido nesse dia, recebeu o lindo nome de Natividade de Maria. Ela já é ‘maior de idade’, tem 24 anos”, explica Laurentina da Silva, a Iracema, secretária de pastoral da Região Episcopal Belém e liderança do Setor Conquista. Iracema lembra que a história da comunidade confunde-se com a do

bairro Jardim da Conquista, local onde se situa. “Iniciou-se no episcopado do saudoso Dom Décio Pereira em frente à Região Belém e o padre que acompanhava o povo de Deus que ainda lutava para construir suas casas era o então Padre Pedro Luiz Stringhini, hoje bispo da Diocese de Mogi das Cruzes e que nos brindou com o seu pastoreio como bispo regional por dez anos”. Pessoas que vivenciaram essa história, lideranças da comunidade, como Sebastião Rosa e sua esposa, Otília Rosa, contam que “antes mesmo de construírem a igreja de pedra, as pessoas perseverantemente se reuniam no terreno para a oração e celebrações litúrgicas”. O atual administrador paroquial da São Miguel Arcanjo, Padre Marcos Antônio Dias, fala da alegria em celebrar com a Comunidade essa festa, lembrando a grande devoção popular. “A Natividade de Nossa Senhora representa o prenúncio da chegada ao mundo da Luz de Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo. Celebrar a festa da Natividade de Maria é celebrar o prenúncio da festa de Natal, é celebrar

já a alegria de receber o Menino Deus no Natal”. Como devoto de Maria, Padre Marcos acentua: “Maria que soube em tudo fazer a vontade de Deus, ensine a todos nós a acolher e obedecer a Palavra de Deus cumprindo sempre a sua vontade”.

AGENDA REGIONAL Quarta-feira (10), 8h Reunião do Clero do Belém, no Centro Pastoral São José (avenida Álvaro Ramos, 366, metrô Belém). Sábado (13), 20h Palestra dos Promotores da Paz, no Colégio São Miguel Arcanjo (rua Campos Novos, 153, Vila Zelina). Domingo (14) 9h30 – Crisma na Paróquia São Sebastião (rua Tenente Godofredo Cerqueira Leite, 300, Mascarenhas de Moraes). 18h – Exaltação da Cruz, na Paróquia Santa Cruz (rua Alfredo Marcondes, 191, na Vila Rica).


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Ipiranga

Padre ricardo pinto e Renata Quito Colaboradores de Comunicação da Região

Um estudo da Bíblia para melhor conhecer a Palavra de Deus Renata Quito

Evangelho de São Mateus é tema da semana bíblica promovida pelo Centro de Estudos Teológicos da Região Ipiranga

Entre os dias 3 e 5, o Centro de Estudos Teológicos da Região Ipiranga (CETI) promoveu a Semana Bíblica, na PUC-SP, campus Ipiranga, com a assessoria do Padre Mauro Negro, OSJ, professor de Sagrada Escritura da PUC-SP. “A Semana Bíblica tem como objetivo que a Palavra de Deus seja mais conhecida, não só do ponto de vista devocional, mas com outros recursos

como análise e história do texto, dados teológicos que o texto propõe, seu uso na comunidade de fé”, explicou o padre. Durante esses três dias, os participantes aprofundaram textos do evangelho. “Fizemos esses encontros sobre a Bíblia, a partir do Evangelho de São Mateus, discípulos e missionários. Nós queremos conhecer Jesus, queremos estar cada vez mais perto dele. Por

isso, esse curso tem uma importância muito grande. Nosso objetivo é estudar a Bíblia, conhecer aqueles que a escreveram, a intenção que tiveram e a mensagem que transmitiram. Queremos estar mais perto das pessoas, com a linguagem de hoje e buscando, certamente, caminhos para construir um futuro digno para o nosso povo, nossa nação”, ressaltou Padre Jorge

Bernardes, coordenador do CETI. Maria Luiza Cardoso Sabino, moradora do Ipiranga, embora não participe ativamente de alguma paróquia, esteve no curso e achou interessante o fato dos apóstolos de Jesus serem pessoas comuns, com desafios e defeitos. “Não basta a gente ler a Bíblia, é preciso entender o que realmente a Bíblia está querendo nos transmitir. É muito bom ver que nas histórias bíblicas, as pessoas eram como a gente, tinham os mesmos problemas. Como nos foi ensinado, cada apóstolo que Jesus escolheu tinha um defeito, como nós. É interessante ver a Bíblia com outro olhar, outro entendimento”, afirmou. No segundo dia da Semana Bíblica, Dom José Roberto Fortes Palau, vigário episcopal da Região Ipiranga, participou e ficou feliz com o número de cerca de cem pessoas. “É muito bom ver um grupo tão grande de leigos participando dessa formação. Quanto mais se conhece a Sagrada Escritura, mais se encanta pela figura de Cristo”, completou .

Retiro dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Padre Ricardo Pinto

“A espiritualidade de Jesus é a espiritualidade da comunhão”, definiu Dom Fernando Penteado, bispo emérito de Jacarezinho (PR), ao orientar o retiro espiritual anual dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão da Região Episcopal Ipiranga, realizado em 30 de agosto. Participaram 330 ministros dos cinco setores pastorais, em profundo clima de oração e relacionamento fraterno. Animados pelo coordenador regional, Diácono Anivaldo Blasques, pelo assistente eclesiástico, Padre Ricardo Pinto, e pelos coordenadores dos setores pastorais e das paróquias, o retiro alcançou o objetivo de oferecer aos ministros um dia de reflexão e oração pessoal em comunhão com outros que exercem o mesmo ministério na Região. O ambiente do Centro Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista (SP), contribuiu para o êxito do retiro, nos jardins, os participantes encontraram espaço para oração pessoal e reflexão, e na Igreja dedicada a Jesus Eucaristia tiveram um local ideal para sintonia com Deus. Em uma de suas reflexões, Dom Fernando sinalizou que a comunhão nasce da simplicidade dos relacionamentos fraternos que devem caracterizar a vida em comunidade. Enfatizou, também, que, muitas vezes, a simplicidade da ação de Deus no dia a dia é trocada por atitudes de poder que escravizam o coração e comprometem a evangelização. Afirmou, ainda, que as comunidades devem torna-se sempre mais “casa e escola de comunhão”, onde todas as pessoas possam fazer a experiência e aprender a viver a “espiritualidade comunhão”. Apresentada por São João Paulo II na exortação apostólica Novo Millennio ineunte, esse estilo de espiritualidade é o caminho de testemunho para o hoje da Igreja e da sociedade, concluiu Dom Fernando.


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Benigno Naveira

Colaborador de Comunicação da Região

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Lapa

Motivar a celebração da vida é tarefa dos catequistas O catequista tem a missão de transmitir às crianças, aos jovens e aos adultos a mensagem do amor, que está encerrada na história da salvação, na caminhada do Povo de Deus, que começou com Abraão e chega até os dias de hoje. No sábado, 6, a reportagem da Pastoral da Comunicação regional acompanhou o 14º Retiro de Catequistas da Região Lapa, na Casa Santa Terezinha, com a presença do bispo auxiliar da Arquidiocese na Região, Dom Julio Endi Akamine, e cerca de 150 agentes da Pastoral Bíblico-Catequética Houve durante o dia inteiro de reflexão e palestras, com o tema “Celebrai o Senhor, porque Ele é bom...” (Sl 118,1). O retiro foi coordenado pelo Padre Geraldo Pereira, que há 14 anos comanda esse evento junto com a equipe de animação bíblico-catequética. As atividades foram iniciadas com uma oração feita pelo Padre Geraldo, que na sequência passou a palavra

para Dom Julio, que demostrou sua alegria e satisfação com a presença de todos. O Bispo destacou a importância do silêncio e da escuta à Palavra de Deus e refletiu sobre o tema do retiro, o Salmo 118,1. Ainda na parte da manhã, Padre Geraldo promoveu três encontros com os catequistas que refletiram sobre: O encontro íntimo com Deus

“Aproxime-se de Deus e Ele se aproximará de vocês!” (Tg 4,8); Encontro “Agradecer a Deus é dizer sim ao amor ‘Tu és o meu Deus, eu te agradeço. Meu Deus, eu te exalto’” (Sl 118,28); Encontro “Ser grato a Deus é multiplicar o seu dom, o seu talento”. No período da tarde, aconteceu a Celebração da Caminhada, com quatro paradas: 1ª parada - “Encontro com

a natureza”; 2ª parada - “Você tem sede de Deus”; 3ª parada - “Maria: Arca da aliança”; e 4ª parada - “Você é templo onde Deus faz morada!”. Todas as paradas foram pontuadas por momentos de reflexões. Padre Geraldo presidiu a celebração eucarística e, ao final, agradeceu a presença de todos, encerrando o encontro. Benigno Naveira

150 agentes da Pastoral Bíblico-Catequética participam de retiro com Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese

Casais, ‘felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática’ Padre Alfonso Pastore, fundador do Encontro de Casais com Cristo (ECC), sentindo a necessidade de desenvolver um trabalho mais forte com as famílias, em abril de 1970, realizou o primeiro Encontro de Casais com Cristo, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no bairro da Pompeia, em São Paulo, com a presença de 20 casais. O ECC teve também seu início no Rio de Janeiro e

expandiu-se por todo o País. O ECC é um serviço da Igreja em favor da evangelização das famílias. Procura construir o Reino de Deus a partir das famílias, da comunidade paroquial, mostrando pistas para que os casais se reencontrem com eles mesmos, com os filhos, com a comunidade e principalmente com Cristo. Para isso, busca compreender o que é “ser Igreja hoje” e de seu compromisParóquia Santíssima Trindade

so com a dignidade da pessoa humana e com a Justiça Social. Entre os dias 5 e 7, a Paróquia São José, no Jaguaré, Setor Butantã, realizou o 5º Encontro de Casais com Cristo (ECC), que aconteceu na Escola Estadual Henrique Dumont Villares e teve a colaboração dos casais da equipe do ECC da Paróquia. Durante os três dias, 27 casais participaram do encontro em que,

No sábado, 6, Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, presidiu a missa de colação dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, na Paróquia Santíssima Trindade, no Setor Pastoral Rio Pequeno. “Eu, meu marido Cláudio e minha filha Veridiana estivemos hoje nesta missa e amamos ter recebido Dom Julio com muitos aplausos. Minha neta Amandinha, na Catequese, pôde desfrutar dessa missa abençoada e muito elucidativa para as crianças e todos, por parte do Bispo”, expressou, em sua página no Facebook, a paroquiana Vera Lúcia Soares Pereira.

unidos e reunidos em oração sob a luz do Espirito Santo, refletiram e meditaram sobre a Palavra de Jesus Cristo: “Felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11,28). O bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, Dom Julio Endi Akamine, no sábado, 6, participou do encontro e parabenizou a todos por este trabalho missionário.

AGENDA REGIONAL Quarta-feira (10) 14h - Reunião do CRAE, na Cúria da Lapa (rua Afonso Sardinha, 62, Lapa). 20h – Catequese de Dom Julio Endi Akamine, na Paróquia Nossa Senhora da Lapa (rua Nossa Senhora da Lapa, 298, Lapa).

PASTORAL CARCERÁRIA NACIONAL - CNBB

Praça Clóvis Bevilacqua, 351 – Conj. 501. Centro - 01018-001 - São Paulo - SP - Tel./fax (11) 3101-9419 – libania@carceraria.org.br - www.carceraria.org.br

EDITAL DE CONVOCAÇÃO Assembleia Geral Extraordinária

A ASAAC – Associação de Apoio e Acompanhamento, de acordo com o artigo 12 e 15 inciso I de seu Estatuto, convoca os associados para a Assembleia Geral Ordinária, que se realizará no dia 23 de setembro de 2014, na sede da Entidade, localizada na Praça Clovis Bevilácqua, nº 351, 5º andar, conj. 501 - Centro, São

Paulo, com a primeira chamada às 10h00, com cinquenta por cento mais um dos associados, e segunda chamada às 10h30 com qualquer número, de associados, quando estarão em pauta os seguintes assuntos: 1. Substituição de membros da Diretoria e Conselho Fiscal

2. Proposta de alteração do Estatuto 3. Outros assuntos de interesse geral São Paulo, 04 de setembro de 2014 Maria Enedina Nogueira de Mello Viola Presidente da ASAAC

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24 | Geral |

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‘Nós cristãos, judeus e mulçumanos reafirmamos nosso compromisso com a paz’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Ato inter-religioso, que começou na Catedral da Sé e terminou no Pátio do Colégio, reuniu membros de diferentes tradições religiosas pelo fim dos conflitos no Oriente Médio Nayá Fernandes

nayafernandes@gmail.com

A praça da Sé foi tomada por uma grande bandeira branca. Cristãos, judeus, mulçumanos e membros de outras tradições religiosas caminharam juntos. De repente, um homem, provavelmente em situação de rua, com dois sacos pretos passou no meio da procissão e gritou: “Paz é respeitar o próximo”. O grito daquele homem desconhecido, sem dúvida, foi o que motivou membros de diferentes religiões a se reunirem no domingo, 7, para um ato inter-religioso pela paz no Oriente Médio e no Mundo. “Em nome de Deus, Paz!”, esta foi a afirmação que se tornou prece nas vozes dos líderes religiosos no dia em que o Brasil inteiro recordou também sua independência, por causa de outro grito, aquele às margens do rio Ipiranga. Antes do ato, Cônego José Bizon, diretor da Casa da Reconciliação, assessor da Pastoral do Diálogo Ecumênico e Inter-religioso e organizador do ato, enfatizou a presença dos líderes religiosos, entre eles, cristãos das Igrejas Católica Apostólica Romana, Católica Greco-Melquita, Ortodoxa Antioquina, Episcopal Anglicana, Evangélica de Confissão Luterana, Presbiteriana Unida e também a Comunidade Mulçumana e a Congregação Israelita Paulista. E, se a paz é universal, a música também o é. Por isso, cantos em latim e hebraico, cuidadosamente escolhidos foram entoados, com a presença da cantora Fortuna Safdié, de origem judaica, dos monges do Mosteiro de São Bento, além do próprio “Coral da Catedral da Sé” e do “Coral Canto de Paz”. Após o ato na Catedral da Sé, todos caminharam silencio-

samente até o Pátio do Colégio. “Estamos aqui no berço da cidade de São Paulo. Somos representantes de várias tradições religiosas e também de muitas

culturas e povos. Todos se sentem em casa nesta cidade. Com este gesto, nós também queremos contribuir para uma cidade de um país de paz, uma cidade Reprodução

de harmonia e de contribuição recíproca, um lugar onde Deus estando, seja um lugar de paz”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, antes da leitura e assinatura do manifesto. O “Amém” final, uníssono dado em meio ao caos do centro da capital paulista, despertou também os olhares de quem por ali passava de ônibus, carro, ou quem aproveitava o domingo com a família. “Em nome de Deus, nós cristãos, judeus e mulçumanos reafirmamos nosso compromisso com a paz”, foi a frase de abertura do manifesto, lido pelo Rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista. “Em tempos de conflito, desejamos fortalecer os vínculos humanos que aqui nos uniu, condenando toda forma de violência, sobretudo quando perpetrada em nome de Deus”, continua a declaração conjunta (veja ao lado). Em coletiva de imprensa, os líderes religiosos explicaram que o diálogo inter-religioso acontece no Brasil com mais facilidade devido à própria formação heterogênea do País, que, desde sua colonização, recebeu muitos imigrantes. Eles enfatizaram também que os conflitos no Oriente Médio têm características mais políticas que religiosas,

e que o nome de Deus é usado indevidamente para justificar atos de violência e crueldade. “Acreditamos que se os dirigentes políticos do Oriente Médio tomarem coragem de levantar a bandeira da paz, dividir as riquezas entre os povos, principalmente entre os pobres, mudarem o sistema de ensino, que planta o ódio em todas as partes, poderemos, sim, transformar aquela região”, salientou o Xeique Houssam El Boustani, da Comunidade Mulçumana de São Paulo. Dom Damaskinos Mansour, arcebispo ortodoxo antioquino, enfatizou que “o problema do Oriente Médio não é religioso, mas, infelizmente, foi colocado um manto de religião sobre tudo isso para confirmar ideias políticas. As vítimas são de todas as religiões”. “O evento lembra algo que já existia e que tem que existir sempre, a paz. Por isso, nós afirmamos que a paz não é coisa de outro mundo. Em toda e qualquer religião, vamos encontrar textos sobre a paz e a harmonia entre as pessoas. E, nos momentos de conflito, precisamos levantar ainda mais forte esta bandeira”, disse Shuaib Al Boustani, 19, mulçumano que pertence ao grupo “Jovens pela Paz”. Ele e outros jovens cristãos, mulçumanos e judaicos carregaram cartazes em que se lia a palavra paz em vários idiomas. “Essa bandeira devemos carregar todos os dias, porque não é só uma bandeira, é um jeito de ser”, afirmou. O sino tocou três vezes, os participantes foram saindo devagar, o Pátio do Colégio foi sendo ocupado novamente e os moradores de rua, ajeitando seus cobertores para passar a noite. A cidade pode não ser tão hospitaleira para todos. Também por aqui, há violência gratuita, há gente que não consegue dormir em paz, que teme não acordar, embaixo dos viadutos ou nas calçadas. Mas o desejo de paz não pode conhecer fronteiras. “Gostaríamos que eles, no Oriente Médio sentissem que, do outro lado do mundo, tem gente que acredita no fim do conflito, que acredita que aqui e lá, se pode viver em paz”, disse Shuaib à reportagem, enquanto guardava sua bandeira branca. Colaborou Fernando Geronazzo


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