Jornal Lampião - edição 16

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Outubro de 2014 Arte: Natane Generoso

Saúde Hugo Coelho

Jovens atendidos pela Fundação Sorria vão às unidades do projeto semanalmente para fazerem a escovacão preventiva com flúor e receberem outros atendimentos odontológicos

Crianças com sorriso em dia ONG de Ouro Preto é referência há 25 anos em dedicação à saúde bucal de meninos e meninas a partir de sete anos Raquel Lima Ter um sorriso bonito é sinal de saúde e cuidado, além de dar confiança e auto-estima para quem o carrega. É sabendo disso que a Fundação Sorria realiza seu trabalho. Organização sem fins lucrativos radicada em Ouro Preto, presta assistência odontológica gratuita a crianças e adolescentes da comunidade, por meio da conscientização sobre a importância da saúde bucal. Em 2014, a entidade comemora 25 anos de trabalho e responsabilidade social, somando mais de 20 mil crianças atendidas em 11 unidades, providas de escovários e consultórios odontológicos, distribuídas pela cidade. A odontologia esteve por muitos anos em segundo plano nas políticas públicas de saúde do país. O acesso ao atendimento era muito difícil e por vezes a única opção oferecida como tratamento era a extração do dente. Foi por

meio da constatação de que essa política era falha também em Ouro Preto que o odontólogo e presidente da fundação, Aluísio Fortes Drummond, começou a percorrer morros e distritos da cidade na década de 1980, com um projetor de slides, escovas e fio-dental, levando para a comunidade as primeiras noções de higiene bucal. “Queria divulgar que é possível ter um sorriso compatível com sua dignidade.” À medida que o trabalho se desenvolveu, mais pessoas se juntaram à equipe, dando força ao projeto, que na visão de Aluísio “é um trabalho árduo, mas precisamos ver o resultado da nossa bandeira, sem fugir da luta”. E essa luta levou, em 1991, à inauguração da primeira unidade de atendimento do Projeto Sorria, em uma creche no bairro Santa Efigênia. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal mais recente, realizada pelo Siste-

ma Único de Saúde (SUS) em 2010, a cárie continua sendo o principal problema de saúde bucal dos brasileiros, e ações como essa, que ensinam e incentivam os jovens a tratar adequadamente da dentição, podem ajudar a diminuir os números desse problema, que ainda atinge cerca de 56% da população com 12 anos, idade utilizada para avaliar a situação. Segundo o mesmo levantamento, existem diferenças regionais. A média de dentes cariados, perdidos e obturados aos 12 anos é de 2,2 no interior, sendo que nas capitais esse número diminui para 1,7. Famílias É na unidade do Pocinho que Alessandra Tadeu Longuinho, moradora do bairro, leva seu filho e a sobrinha para os atendimentos uma vez por semana. Alex, 5 anos, é atendido desde 1 ano e 9 meses na unidade. “Gosto muito de vir escovar os dentes aqui”, diz o

menino, que não tem cáries. Ele receberá o acompanhamento pelo tempo necessário. Já Laurinda Assunção Filha é moradora do bairro e técnica da unidade desde 2001. Ela é a responsável por realizar a escovação e a aplicação de flúor nas crianças, e quando necessário, encaminhá-las para tratamento clínico. Sua filha adolescente também foi atendida na unidade do Pocinho, que considera muito importante para a comunidade. Maria Dalva Maia Freitas, assistente social, trabalha a cerca de 23 anos na instituição. É ela quem realiza as entrevistas com as famílias candidatas ao atendimento no projeto: “O que dificulta mais a vida das pessoas é a falta de conhecimento, de informação. Tem gente que às vezes não sabe seus direitos sociais nem como buscá-los. Minha função é acompanhar essas famílias, é um trabalho maravilhoso, sou apaixonada”.

Crescimento Em duas décadas e meia de trabalho, somam-se mais de 350 mil procedimentos odontológicos destinados a pessoas que antes eram, muitas vezes, excluídas do convívio social pela impossibilidade de sorrir. Porém, o crescimento da fundação não ocorreu facilmente. Foi preciso muita dedicação, profissionalismo e principalmente participação da comunidade, já que a organização sobrevive com o apoio de colaboradores (que podem contribuir com carnês de valores a partir de R$10 mensais) e de iniciativas privadas. Os custos de cada unidade chegam a até R$130 mil por mês. Para ser atendida em alguma das unidades do projeto, a criança, com até 7 anos, precisa realizar um cadastro na fundação. Para mantê-lo ativo, é necessário que ela compareça acompanhada do responsável uma vez por semana na unidade de atendimento.

Mais renda

Com o objetivo de gerar renda e garantir parte de sua sustentabilidade, a Fundação Sorria desenvolveu um projeto especial e inaugurou no final de 2005 a Fábrica e Loja de Sabonetes Finos Pérola Ouro Preto. Todo o lucro desse trabalho é revertido para a manutenção da fundação. Se você deseja comprar, os produtos podem ser encontrados na loja, no hall do Cine Vila Rica. São sabonetes, óleos corporais, xampus e condicionadores com aroma e qualidade certificados e que contam com o apoio técnico da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Mais informações no telefone (31) 3551-5079 ou pelo e-mail: contato@fundacaosorria.org.br.

esporte

Fanáticos pelo 13 de Maio Giovanna de Guzzi

Núbia Azevedo Elas são conhecidas pelo amor incondicional. Responsáveis por abrilhantar o espetáculo do futebol. São sempre motivo de muita atenção, seja pela paixão que demonstram, pelas polêmicas ou críticas. As torcidas organizadas são exemplo da forte identificação dos torcedores com os clubes do coração. Os que pensam que esse amor é privilégio de times profissionais não conhecem o 13 de Maio Esporte Clube. Fundado em 1979, um dos mais tradicionais clubes da várzea ouro-pretana conta com o apoio do fanático Bonde do 13. Inspirados pela principal torcida organizada do Atlético Paranaense, cinco amigos fundaram em 2009 Os Fanáticos - 13 de Maio. O atual presidente do clube ouro-pretano, Wesley Gomes, conta que em 2011 Os Fanáticos passaram a se chamar Bonde do 13. A mudança ocorreu a pedido de um grupo de amigos de Curitiba. Devido à ligação com a organizada do AtléticoPR a coincidência dos nomes poderia gerar confrontos em possíveis viagens que o Bon-

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Torcedores no carnaval

Durante os jogos do campeonato municipal, torcida organizada acompanha e incentiva com paixão o clube ouro-pretano

de da 13 viesse a realizar.Para se manter a torcida organizada vende camisas, conta com apoio financeiro do clube e promove eventos. O diretorgeral do clube e da torcida, Wandrey Cristiano, responsável pela criação de toda a arte do Bonde do 13, explica que é o clube que patrocina a confecção dos uniformes dos torcedores. O dinheiro levantado com a venda das camisas é usado na compra de novos materiais como bandeiras, faixas e instrumentos.

A principal dificuldade que enfrentam hoje é a falta de uma sede. Por não terem ainda um espaço, os troféus, uniformes do time e materiais do Bonde do 13 são guardados nas casas dos diretores do clube e da torcida. Para realizar as viagens, muitas vezes cada um paga a passagem ou um determinado valor para fretarem um ônibus. Mas dificuldades não impedem que esses fanáticos acompanhem o time do coração. “Sem o 13 de maio, não existe o Bonde do 13”, diz Wandrey Cristiano.

Entretanto, quando se fala em torcida organizada, não é apenas o amor incondicional que se destaca. A violência que as rodeia tem sido cada vez mais comum. Essa semelhança o Bonde do 13 não possui com as demais organizadas. Por se tratar de uma torcida de clube amador, com apenas um grande rival declarado, o Sport Club Camarões, as provocações existem, mas nunca chegaram a se transformar em um confronto. Em dias de jogo, o Bonde do 13 se reúne no bairro e

desce junto rumo ao Estádio Dr. Genival Alves Ramalho. Transforma o popular “Campo da Barra” em um verdadeiro caldeirão. Em média, 70 pessoas apoiam o clube nas partidas. No entanto, cerca de 400 torcedores já se juntaram para ver o 13 de Maio jogar. No estádio, os torcedores jogam papel picado e entoam cantos como “Treze!/ estaremos contigo/ não importa onde for/ que torcida é essa/ vai começar a festa/dálhe dá-lhe dá-lhe ôooo/ Treze do meu coração”.

As semelhanças com uma torcida organizada de um time profissional não param no amor. A exemplo das organizadas de times de ponta que no carnaval desfilam escolas de samba, o Bonde do 13 possui um bloco carnavalesco. Nascido da união de amigos em 2010, o bloco reúne famílias da Rua 13 de Maio e desfila pelas ladeiras de Ouro Preto atraindo cada vez mais seguidores. Para se manter, conta com o auxílio financeiro dado pela prefeitura da cidade e com a venda de camisas do bloco. O bloco Bonde do 13 é mais uma fonte de ajuda financeira tanto para a organizada quanto para o clube 13 de Maio. Os eventos produzidos pela direção do bloco durante o ano também têm sua renda revestida para a melhoria da estrura da organizada ouro-pretana.

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