Jornal Lampião - Edição 1

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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Ana Sophia Figueiredo e Camila Dias

Editorial

Charge

Quem precisa de um jornal laboratório? José Marques de Melo diz que o jornal laboratório é instrumento básico do curso de Jornalismo, por integrar os estudantes na problemática da futura profissão. Porém, produzir um jornal faz mais do que nos integrar – nós, os futuros jornalistas – nas dúvidas e felicidades da profissão escolhida. Produzir um jornal significa a integração entre a universidade e a sociedade. Entre os visitantes e a cidade de Mariana. Entre os estudantes e a comunidade. Entre a vocalista Neila Ferreira e o repórter Allãn Passos. Entre o bairro Cabanas e o centro da cidade. Os problemas e as soluções. Entre as ruas, os entrevistados, as histórias e as letras impressas no papel. E, para as letras serem impressas, é preciso estar atento aos detalhes. Propor pautas como a situ-

ação de trabalho das varredoras ou a acessibilidade nas escolas demanda cuidados tanto na abordagem, quanto na transmissão das ideias. Temos ainda que andar muito, subir ladeiras, ligar repetidas vezes para o mesmo número de telefone, voltar outro dia. Tentamos não perder nada. E os detalhes continuam.

Buscamos entender Mariana pelo lado de dentro. Como recompensa, ganhamos de vez o status de moradores e queremos demonstrar isso no papel. Na edição, cada vírgula tem seu lugar. A mesma página lida e relida, medida, contada e recontada. A eterna discussão sobre o que vai estar na capa, sobre qual

é o espaço dedicado a cada assunto. São muitas ideias que transformam a todo momento um jornal em vários outros. A mesma cidade desdobrada em várias outras, sob uma porção de aspectos diferentes. Caminhar por aí, tentando enxergar a cidade com outros olhos, exigiu que tivéssemos lentes extras. Tentamos encontrar assuntos que da­riam uma boa conversa, que permaneceriam latejando na cabeça por alguns dias. Buscamos entender Mariana pelo lado de dentro. Como recompensa, ganhamos de vez o status de moradores e queremos demonstrar isso no papel. Cada matéria escolhida e desenvolvida está impressa porque teve fôlego para chegar até as páginas do jornal. Cada jornal foi entregue porque o fôlego do Lampião é você, leitor.

Opinião

Entre olhares CAMILA DIAS

Mariana e o dragão Cristiano Vilas Boas

Desde o dia em que a Vale anunciou sua pretensão de reativar a mina de minério de ferro praticamente dentro da área urbana da cidade, nós, moradores, não tivemos paz. Pressentimos a ameaça sem conseguir determinála com precisão. Só sabemos que o estrago será enorme. Danos irreparáveis à nossa saúde, ao nosso direito de bem-viver, à estrutura urbana já em colapso, ao nosso patrimônio histórico e ambiental. A mineradora nega. Fala em “convivência saudável”, em “mitigação” dos impactos. Acena com algumas poucas benesses econômicas. Prega a boa nova do progresso e apela para nossa suposta “vocação” para a mineração. Há quem acredite: “Que se tire minério debaixo da Sé se for o caso!” – andam fazendo coro por aí os convertidos à seita do desenvolvimento a todo custo. Como Mamon, o homem que, por causa de sua ambição material, foi condenado a passar a eternidade vivendo sob a forma de um dragão, esses profetas do progresso vendem a alma para o dragão da vez, que é chinês. Montanhas inteiras, e junto com elas as pes-

soas que nelas vivem, têm sido sacrificadas em nome do lucro cada vez maior. É que a ambição de um bicho desses não tem fim. Engole tudo que vê pela frente. Não é à toa que o símbolo da inflação é justamente um dragão. O do fim dos tempos também. O dragão é um e sempre o mesmo em todas as Minas: a exploração sem limites. Sem nada que o constranja, exige cada vez mais. Cidades inteiras. Agora quer Mariana, a cidade que vive a ameaça de ser oferecida em sacrifício a esse dragão desde seu nascimento. No seu hino, Mariana já lamenta sua sorte; chora as agressões sofridas ao longo dos séculos por causa da ambição e da exploração predatória do seu chão e pede socorro. Cabe a cada um de nós, que es­ colhemos essa cidade para viver, defender a Mariana dos cálidos sentimentos, cantada em verso e prosa – a Primaz de Minas. Afinal, Mariana é muito mais que minério de ferro. A história de Minas nasceu aqui. Esse chão é berço! Cabe a nós lutarmos para que ele não seja transformado em túmulo. Cristiano Vilas Boas é estudante de direito na Universidade Federal de Ouro Preto

FALA, CIDADÃO! A praia – Cada lugar é, à sua maneira, o mundo. Cada Prainha é, à sua maneira, o mundo. A rua que vem de lá é de asfalto, a daqui é de terra macia. Algo é certo, pipas no céu. Sorrisos ingênuos, mesmo que entre as embalagens de leite e as fraldas descartáveis. Em um sábado de sol, o escuro da água, o cheiro da falta de preocupação impregnava os sentidos. A Prainha contava, mesmo que de forma inconsciente, como a vida ali é solitária, cheia de lacunas e desconhecidos. A menina brinca descalça, com roupa amarela e roxa, com boneca no colo. As crianças correm, gritam por entre a sujeira. Mas alguns também brincam com os olhos, com a imaginação, essa inexplicável capacidade de nos transportar para todos os lugares possíveis. Havia um menino na cadeira de rodas, com um olhar de gente grande. Estava no andar de cima deste mesmo barranco, apenas observando. A sua mente parecia se esparramar ludicamente para um espaço onde tudo é permitido, até andar. (Camila Dias)

Lampejos desta edição “Elas tem que gastar a própria roupa para atender ao serviço público.” Darcy Carvalho, sobre as varredoras. p. 4

É grande a angústia dos moradores de Mariana com a execução das obras de transposição do córrego do Catete. Sobre a construção do túnel bala. p. 6 e 7

“Há vinte anos não tinha ônibus, a gente andava a pé e a luz era de querosene.” Maria Aparecida de Jesus, sobre o Cabanas. p. 5

“O que sobrará de Minas Gerais se não for barrado este processo de mineração?” Aida Anacleto, sobre a reativação da Mina Del-Rey. p. 3

Diferente

Mais humor

Achei a escolha do nome muito interessante, me chamou a atenção. O jornal se destacou entre os outros do mercado local. As reportagens deram ênfase à nossa região. Mas senti falta de esportes. Poderia ter mais serviços também, em um sentido de esperar o Lampião chegar para saber as oportunidades.

Excelente! Sugiro ter mais humor na próxima edição.

Edmilson Eloy José Rodrigues – balconista

Política clara Um jornal que trouxe a política de uma forma clara, que integrou as pessoas. Carlos Alberto Alves – professor

Leonardo dos Reis – comerciante

Engajado A criação do Lampião é uma mostra de que o curso de Jornalismo da UFOP preocupa-se com a configuração de espaços democráticos de circulação das informações, já que a sociedade necessita de veículos independentes como este. Parabéns aos estudantes e professores envolvidos na produção deste importante veículo de informação para a comunidade local. Marta Maia - professora da UFOP FALE VOCÊ TAMBÉM! para enviar sugestões de matérias, opiniões e críticas, escreva para jornallampiao@gmail.com

Jornal laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo D Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) D Reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Juçara Gorski Brittes.Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Marta Regina Maia D Professores responsáveis: Hila Rodrigues (Laboratório de Jornalismo Impresso), Anderson Medeiros (Fotografia) e Ricardo Augusto Orlando (Planejamento Visual) D Reportagem, fotografia e edição: Allãn Passos, Amanda Rodrigues, Ana Beatriz Noronha, Ana Cláudia Garcêz, Camila Dias, Douglas Gomides, Enrico Mencarelli, Fábio Seletti, Fernando Gentil, Izabella Magalhães, Leidiane Vieira, Lorena Caminhas, Luana Viana, Lucas Vasconcellos (Lucas Aellos), Lucas Borges, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mari Fonseca, Mateus Fagundes, Mayara Gouvea, Olívia Mussato, Paulo Dias, Raísa Geribello, Rodolfo Gregório, Sabrina Carvalho, Sara Oliveira, Simião Castro, Sophia Figueiredo, Tábata Romero, Tabatha Campelo, Thales Vilela Lelo D Projeto gráfico: Enrico Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mayara Gouvea, Simião Castro, Tábata Romero D Colaboração: Fábio Germano, Neto Medeiros D Impressão: Conceito Gráfica Editora Ltda D Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço eletrônico: jornallampião@gmail.com. Endereço: Rua do Catete nº 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG.


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