Bom de Garfo

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CARTA AO LEITOR

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om o que você sente os alimentos? Nós da Bom de Garfo acreditamos que se come não apenas com o paladar, mas com os cinco sentidos do corpo humano! Vai dizer que, no supermercado, enquanto procura legumes e frutas, você não aperta cada um deles para sentir se estão maduros ou se já passaram do ponto? Ou que o cheiro do churrasco de um fim de semana não atiça o seu desejo de abocanhar uma suculenta e macia picanha? Até mesmo que aquele chiado, de quando você adiciona a cebola na frigideira com óleo quente, nunca fez o seu estômago pedir que o almoço ficasse pronto o mais rápido possível? Vai dizer que você nunca serviu mais comida do que deveria, que até hoje não comprou um sanduíche porque ele estava bonito ou sequer sentiu vontade de experimentar um prato italiano decorado por um renomado chefe de cozinha? É justamente pelo emblemático envolvimento antropológico existente na relação entre o ser humano e o seu alimento – ou melhor: a arte de preparar o seu alimento – que a Bom de Garfo encontrou uma razão para existir. Afinal, existe coisa melhor nesse mundo do que comer? Seja um salpicão de frango bem temperado; batatas assadas recheadas com queijo, tomate e calabresa; filé ao molho madeira acompanhado por uma porção de arroz e farofa com batata palha; lasanha de quatro queijos ao molho branco; vatapá; massa ao molho vermelho com um leve toque de manjericão; pizza de frango com catupiry; de brócolis; de palmito e queijo. Ufa... É muita gula para tão pouca penitência.

Ou nem tanto, pois almejamos que todos nós tenhamos a oportunidade de viver com saúde e por muito tempo com o objetivo final de, é claro, experimentarmos os mais variados pratos mundo afora. Por isso um integrante da nossa equipe entrou nos eixos e, acompanhado por um colega de reportagem, começou uma reeducação alimentar para voltar à forma e mostrar para você que não é assim tão difícil quanto se imagina. Pelo mesmo motivo lhe explicamos, em diversas notas, a importância do uso de temperos naturais, de se conservar um alimento adequadamente, do café da manhã... E além do prazer de comer descobrimos que cozinhar por prazer, como faz um grupo de amigos são-borjenses, contribui não apenas para a saúde do homem como também para ajudar no estabelecimento do equilíbrio psicológico. Entretanto, durante a produção, ainda pudemos descobrir e vivenciar a grande dificuldade de se encontrar comida destinada especificamente ao público vegetariano na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Acima de tudo, a equipe da Bom de Garfo se preocupou em se especializar no feijão com arroz, para dedicar a você, caro leitor, um excepcional estrogonofe. Esperamos que todos se deliciem com nosso cardápio informativo. Bon appétit,

PHILLIPP GRIPP, editor chefe

Cardápio de Conteúdo

Uma velha receita nova Notas de um vegetariano Homens na cozinha

Ano 1 | Edição Piloto

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A reeducação alimentar de um universitário Os benefícios dos temperos naturais

DIREÇÃO: Tabita Strassburger - MTb 16.318

Professor colaborador: Geder Parzianello

EDIÇÃO: Phillipp Gripp

Reitora: Ulrika Arns

REVISÃO: Phillipp Gripp, Tabita Strassburger

Diretora do Campus São Borja: Denise da Silva

REDAÇÃO: Caroline Rossassi, Eduardo Martinez, Renan Guerra, Will Lee

Coordenadora acadêmica: Elisângela Pessoa

REPÓRTERES: Andressa Dantas, Liziane Wolfart, Tamara Finardi, Thalita Chagas, Viviane Alves 08

PRODUÇÃO: Joel Guindani, Juliano Jaques, Vanderson Caetano

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DIAGRAMAÇÃO: Beatriz Wardzinski

Coordenador administrativo: Alex Retamoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Miro Bacin

PROJETO GRÁFICO: Beatriz Wardzinski e Mariah Schmidt DIVULGAÇÃO: Nycolas Ribeiro, Tiago Rosário APOIO TÉCNICO: Jeniffer Lopes, Luciano Costa Quando cozinhar se torna necessidade Opinião: A cozinha de minha avó (e das mulheres) Na fronteira dos preços É hora de organizar a geladeira Entrevista ping-pong

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Visite o nosso BLOG revistabomdegarfo.wix.com/ bomdegarfo IMPRESSÃO Tiragem: 750 exemplares Gráfica Erechim Ltda Erechim, RS Distribuição gratuita

CAPA FOTO: Nycolas Ribeiro


UMA VELHA

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uma ONG sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização da sociedade para um consumo responsável, comida é o que não falta: cada lar brasileiro desperdiça, em média, 20% dos alimentos que compra semanalmente, o que daria para alimentar cerca de 500 mil famílias. Outro cuidado que deve ser levado em consideração para o reaproveitamento é a conservação dos alimentos. A nutricionista Josélia Messa Pires, que orienta as famílias atendidas pelo programa Bolsa Família na Secretaria Municipal da Saúde, destaca que é fundamental ter cuidado com a armazenagem dos alimentos na geladeira, levando em conta o tempo que eles ficam expostos na mesa de refeições em temperatura ambiente. Já a nutricionista Vanessa Oliveira, servidora da Secretária do Trabalho, As-

sistência Social e Cidadania (SMTASC), responsável pelo Restaurante Popular, ressalta a importância de trabalhar com quantidades certas para evitar o desperdício. Segundo Vanessa, tanto no Restaurante Popular quanto nos demais órgãos municipais sob sua orientação, não existe desperdício. Quando há sobras, tudo é reaproveitado, respeitando as orientações técnicas de armazenagem, como separar os alimentos por grupos e de acordo com a data de validade, guardar em local seco, limpo e arejado, longe de produtos de limpeza. De acordo com ela, no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) são desenvolvidos cursos de aproveitamento de alimentos, incluindo as cascas, os talos e as folhas de frutas e legumes, já que muitas vezes as folhas têm mais nutrientes que os próprios legumes.

foto | THALITA CHAGAS

uando a alimentação representa o destino de quase 20% da renda das famílias brasileiras (segundo pesquisa do IBGE), é importante incluir no cardápio uma velha receita: reaproveitamento de alimentos. Afinal, ser bom de garfo exige consciência tranquila e muita criatividade. Para reaproveitar os alimentos é fundamental que antes eles tenham sido bem utilizados. Isso importa não apenas para garantir a economia relacionada ao preço, mas especialmente para aproveitar ao máximo o valor nutricional que eles podem oferecer. Além disso, jogar comida no lixo é um desperdício, principalmente diante de uma realidade social que ainda não encontrou solução para velhas injustiças, como a face mais cruel da pobreza extrema: a fome. De acordo com o Instituto Akatu,

por Eduardo Martinez e Thalita Chagas

foto | THALITA CHAGAS

RECEITA NOVA

Bolinho de arroz

Bolinho de batatas recheado Ingredientes - 1 kg de batatas descascadas, cozidas e amassadas - 2 gemas - 1 xícara de farinha de trigo - 50 gramas de queijo parmesão ralado - 2 colheres de tempero verde picado - 1 pitada de sal

Recheio Sobras de carne moída refogada e temperada. Acrescentar ovos cozidos, azeitonas picadas e tempero verde.

Modo de fazer Misturar todos os ingredientes da massa: purê, gemas, farinha, queijo parmesão, tempero verde e sal. Abrir uma porção da massa com a mão enfarinhada e colocar uma colher de recheio. Fechar moldando um rolinho. Passar na farinha de trigo e levar para fritar em óleo quente. Depois de fritos, colocar em papel absorvente.

Ingredientes - 2 xícaras de sobras de arroz cozido - 50 gramas de queijo parmesão ralado - 2 ovos - ½ xícara de leite - ¾ de xícara de farinha de trigo - 2 colheres de tempero verde picado - 1 colher de fermento em pó - 2 colheres de açúcar - 1 pitada de sal

Modo de fazer Misturar todos os ingredientes e fazer bolinhos na medida de uma colher de sopa. Levar para fritar em óleo quente até que estejam dourados. Retirar os bolinhos e colocar em papel absorvente. Uma boa dica é serví-los como aperitivo antes do almoço.


NOTAS DE UM

VEGETARIANO

por Will Lee foto | WILL LEE

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“Feliz seria a Terra se todos os seres estivessem unidos pelos laços da benevolência e só se alimentassem de alimentos que não implicassem em derrame de sangue”(Buda).

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ão Borja, 15 de novembro de 2012. Sentado à sacada de um apartamento, com a vista para a casa de João Goulart, começa mais uma produção jornalística. O objetivo: retratar a dificuldade de um vegetariano se alimentar no município são-borjense. A ideia de início me pareceu pouco sedutora, pois o esboço de vegetarianismo que eu dominara sucumbia ao senso comum: conceituar erroneamente um vegetariano como sendo um ser que se alimenta única e exclusivamente de vegetais, e ponto! Situação bastante corriqueira.

1° DIA – PONTO DE PARTIDA! Abro uma lata de cerveja, esquecida num canto da geladeira, herdada da noite anterior malsucedida. Como de costume, os miúdos trocados no bolso se foram antes do porre coletivo vir à tona. O carvalho emprestava um tom adocicado à espuma. Indaguei alguns de meus amigos naquela reunião, mas apenas dúvidas e questionamentos recíprocos foram o que eu obtive como resposta! Ninguém sabia ao certo no

que consistia ser um vegetariano. Foi então que acabei elucidando o maior ato de terrorismo cometido contra os que aderem ao vegetarianismo: enquadrar de maneira equivocada o vegetariano como sendo um sujeito que só se alimenta de verduras, vegetais e frutas. Essa é a posição mais costumeira que se nutre, ou, pelo menos, foi a que eu mais pude presenciar na grande parte dos estabelecimentos por onde andei. A partir dessa falsa ideia, penso ser fundamental esclarecer alguns termos para compreendermos no que de fato consiste o regime vegetariano: A União Internacional dos Vegetarianos os conceitua de forma simples, como sendo aqueles que não comem carne bovina, de aves, peixes ou os seus subprodutos. A opção de cortar a ingestão de leite e/ou iogurte e ovos designa outro grupo, o dos ovolactovegetarianos. O vegetariano é movido geralmente por três razões; entrelaçadas ou não: a Ambiental - não come carne em forma de protesto ao direto de vida dos animais. A Religiosa - por aspectos enraizados na cultura

de um povo, como no caso da Índia, com a vaca - e até mesmo questões de Saúde - por estar relacionado ao consumo exagerado, a doenças do miocárdio e à obesidade. Outro erro bastante corriqueiro é a confusão entre os veganos e vegetarianos. O veganismo tem na sua essência não só o anticonsumo de produtos de origem animal para fins de alimentação, como também protesta contra a visão de animais utilizados como objetos de trabalho e condena o uso de produtos que tenham sido testados em animais, ou seja, o boicote de toda e qualquer forma de exploração animal. No meu primeiro dia na dieta vegetariana saí de meu apartamento pela Av. Presidente Vargas, em direção ao Museu Getúlio Vargas. Entrei num restaurante com a fachada espelhada, olhei em volta na esperança de encontrar algum rosto conhecido, mas a tentativa foi frustrada. - Boa tarde, eu sou vegetariano! Disse em voz firme ao balconista, que ficou me olhando sem dizer nada. - Quais alimentos sem carne vocês oferecem? Ele não hesitou, pedindo que eu fosse


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até uma mesa em que havia uma quantidade considerável de saladas e me servisse. Eu expliquei que não gosto muito de legumes e perguntei sobre a possibilidade de eles incluírem carne de soja no cardápio. - A dona do estabelecimento viajou disse ele -, só ela pode resolver! Servi uma porção minúscula de arroz, duas conchas de feijão preto, alguns pedaços de batata cozida e beterraba. Saí dali e fui ao mercado comprar algumas frutas, grãos, leite, massa, e verduras, o que eu comi durante o restante do dia. Achei ser uma boa opção me resguardar com alguns produtos no caso de não conseguir me alimentar de maneira que eu julgasse adequada.

almente para vocês! - Confirmei o pedido. Aguardei cerca de 15 minutos, ouvindo conversas paralelas, mesmo que me esforçasse para o contrário. Nesse momento me senti como um crítico culinário: eu observava como um espião todos os pedidos que cruzavam por mim e sempre os reprovava na medida em que eles estampavam uma aparência gordurosa. Em seguida a garçonete estendeu o braço com o prato nas mãos. Peguei-o, deixei os talheres de lado e o devorei em poucos minutos. O sanduíche vegetariano tinha: alface, pão de forma integral, ricota,

as mesmas “abobrinhas” que foram pregadas nos demais estabelecimentos. - Por que vocês não disponibilizam carne de soja? - Indaguei. - Uma ou duas pessoas vêm aqui, pedindo esse prato e acabamos ficando no prejuízo se oferecermos - Rangeu ele. - Então optamos por retirar do cardápio. Fitei os olhos e apertei o maxilar. Essa é a mesma desculpa apresentada nos outros restaurantes. O número aparentemente “inexpressível” de vegetarianos não é visto de maneira agradável, o que espelha a forma medíocre de falta de investimentos

foto | WILL LEE

2° DIA - A GRANA SE TORNA ESCASSA Às 12h30min do dia seguinte, visitei o Restaurante Popular Municipal. A refeição ali custa R$ 2,00 e eles servem uma média de 80 a 100 pratos por dia. Resolvi almoçar por lá, afinal, por essa bagatela e com o delicioso aroma, não há quem resistiria. Fui à bancada, onde a atendente servia as pessoas que se enfileiravam. - Sou vegetariano - eu disse quando chegou a minha vez. A senhora virou para mim e disse: - Você é o vegetariano que sempre vem aqui, não é? - Não, não! - Pontuei. Na certa ela me confundiu. Em seguida perguntei se ela sabia do que um vegetariano se alimenta: - Vocês só não comem carne vermelha, né? Peixe e frango são liberados respondeu. O peixe que estavam servindo tinha uma aparência ótima, mas infelizmente tive que recusar. Fiz um breve resumo, contando que, como vegetariano, eu não poderia comer carne de peixe, nem frango... Mas as verduras e legumes eram muito bem-vindos! Além disso, eu poderia comer arroz, feijão e as batatas que estavam com uma cara apetitosa. A senhora fez um gesto negativo com a cabeça, como se reprovasse minha escolha: um prato carregado de feijão, arroz e salada. Durante a noite, andei algumas quadras em busca de um lanche. A 100 metros da praça da lagoa, entre as ruas Serafim D. Vargas e General Osório, encontrei uma lancheria que oferece um lanche sem carne, ainda que seja uma única opção. Um atendente me deixou o cardápio e, enquanto o folheava, tive a impressão de que as pessoas me encaravam com olhar sentenciador. A ideia de virar vegetariano me deixou com essas “neuras” (ainda que eu já introduzisse alguns hábitos saudáveis no meu dia-a-dia). Fiz um sinal para a garçonete e logo ela chegou ao meu lado. - Sou vegetariano! - Hesitei por alguns segundos, mas antes que eu completasse minha fala ela se sobrepôs: - Temos o “vegetariano”, feito especi-

A diversidade de um Buffet com opções vegetarianas.

pepino, cenoura e tomate. Confesso que fui surpreendido pelo suculento gosto. Acabei e fui ao caixa perguntar: - O “vegetariano” tem muita saída? O gerente respondeu que o número cresce significativamente no verão; que existe “um gigantesco boom na procura” durante as férias, mas que no inverno o número de pessoas que o pedem é tímido.

3° DIA - O FIM JÁ SE ENUNCIARA O estoque de grãos no meu armário chegava ao fim, assim como as frutas, legumes e vegetais comprados na noite de sexta-feira. Contraditoriamente, eu precisava ingerir algo que me deixasse de pé, mas o meu saldo bancário se esgotara. Ainda assim, guardei algum dinheiro para visitar o terceiro e último restaurante vizinho à praça da lagoa. Servi uma grande porção de arroz integral, duas conchas de feijão com cebolas e alho esmagado, cenoura picada, beterraba e batata da terra. Não demorou para que eu devorasse e, como de costume, fui até o gerente. Como eu já esperava minha conversa não rendeu bulhufas! O homem com sua roupa engomada repetiu o mesmo sermão, com

para esse nicho de consumidores. A noite do dia 19 foi minha última interpretando esse personagem. Como me havia sido inicialmente instigado: enfrentar um regime vegetariano numa cidade que empurra quem segue essa filosofia para o submundo da alimentação. Peregrinei pelos três principais restaurantes endereçados no centro de São Borja, onde, somados, servem em torno de 400 refeições diariamente. Cerca de 300 kg de carnes, das mais variadas origens e cortes, são abocanhados no horário do almoço. Com passos diários visitei ainda: lancherias, bares e boates. Toda essa andança minuciosa permitiu constatar a escassez não só de oferta de alimentos, como também de conhecimento sobre a dieta vegetariana. A realidade é que a comercialização de produtos destinados exclusivamente em prol dessa filosofia ainda é algo utópico, considerando as particularidades da região. Infelizmente, é perceptível o descaso, por parte dos setores econômicos locais, sejam públicos ou privados, com aqueles que priorizam, norteados pelos ideais que forem, apenas a vida.


HOMENS

NA COZINHA

por Caroline Rossasi e Andressa Dantas

É cada vez mais fácil encontrar homens com disposição para aprender e criar novas receitas. Poucas pessoas podem imaginar os inúmeros benefícios que cozinhar por lazer, como hobby, pode trazer ao ser humano. É esse prazer que leva oito companheiros são-borjenses às cozinhas, e comprovam que é possível associar um ambiente descontraído à culinária.

o.

Amigos aliam o bom gosto ao ambiente descontraíd

F

oi-se o tempo em que as mulheres eram simples cozinheiras domésticas e os homens tornavam-se chefs ou gourmets. Apesar do destaque na titulação, eles permaneceram por muito tempo anônimos no trabalho gastronômico, mas não tanto quanto elas. Cada vez mais existem casos de mulheres que ganharam popularidade através da culinária. Um exemplo é Julia Child, norte-americana que, nos anos 50, estudou na escola Le Cordon Bleu em Paris, o que a fez trazer inúmeras pitadas da gastronomia francesa para os Estados Unidos, publicando livros e tendo programas na televisão. Atualmente, ela é considerada uma referência na cozinha de seu país. E quando o assunto é culinária brasileira, quem nunca ouviu falar de Ofélia Ramos Anunciato? Ofélia ganhou espaço no primeiro programa feminino de tele-

visão no Brasil. “A cozinha maravilhosa de Ofélia” foi ao ar por mais de trinta anos e acabou se tornando um livro, com mais de 1200 receitas. A culinarista faleceu em 26 de outubro de 1998 em São Paulo, porém, deixou um pouco de seus temperos nos diversos títulos publicados. Assim como as mulheres conseguiram quebrar alguns tabus, os homens também podem surpreender. Paul Bocuse ganhou o prêmio “Chef do Século” em março de 2011. Ele conduziu entre os anos 60 e 70 o movimento caracterizado por valorizar a aparência dos pratos. O francês de 86 anos foi responsável pelo fim do anonimato dos chefs. Além disso, é considerado pelo Culinary Institute of America o primeiro cozinheiro famoso da época moderna e um dos maiores de todos os tempos. Da mesma forma que, em sua maioria, são os homens que possuem destaque na

culinária, muitos outros sequer conseguem fritar um ovo. Em São Borja, um grupo de amigos está aí para provar o contrário: existem homens que sabem e, principalmente, têm o prazer por cozinhar, dos pratos simples até os mais sofisticados. Roque Andres, Rodrigo Bauer, Giovani Cassafuz, Humberto Andres, Renan Bauer, André Teló, Renato Andres e Vilson Bauer se reúnem todas as quartas-feiras com o único objetivo de preparar as mais variadas e deliciosas receitas e, de quebra, assistir aos jogos de futebol. O espaço é cedido por Roque. Em sua casa há um ambiente especial que acabou se tornando a sede das reuniões. “É uma extensão da casa, uma área que alonguei e dali foi construída a cozinha. (...) No início, era para a família, mas depois resolvemos começar a chamar os amigos para aproveitar esse espaço”, conta.

foto | JULIANO JAQUES

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Os encontros já têm 11 anos. Antes das reuniões é escolhido o cozinheiro, que decide o cardápio. A “confraria masculina”, como eles preferem chamar, é uma exclusividade para o grupo de amigos. “Essas reuniões são meio que o ‘clube do bolinha’, só os homens participam”, sorri o advogado Giovani Cassafuz, que cozinha por hobby há cerca de 14 anos. As junções se tornaram uma competição saudável para ver quem faz a melhor receita. O grupo possui um estatuto desde o ano 2000, o qual dita as regras de participação dos integrantes. Nele está especificado que cada um deve contribuir com uma quantia mensal de 80 reais para o custeio dos ingredientes e bebidas. O prazer em cozinhar pode ser descoberto de diversas formas. No caso de Humberto, foi por necessidade. No período em que fez faculdade o advogado teve que aprender “na marra” e acabou gostando. Hoje em dia, adora inventar pratos e busca o aprendizado em livros, na internet e em programas de tevê. “Minha especialidade é a paleta de ovelha assada no forno, faço com vários tipos de molhos e sirvo como rodízio. Me considero um bom aprendiz, procuro sempre inventar e inovar nas receitas que preparo”.

Em março de 2012 o grupo abriu espaço para mais um apreciador da culinária. O também advogado André Teló aprendeu a cozinhar desde criança e está feliz em desfrutar de seu hobby na companhia dos amigos que conhece há mais de 20 anos. “Nos encontramos todas as quartas com o objetivo de se divertir, relaxar, é um momento de lazer”, afirma. Já o bioquímico Renan Bauer começou a participar da confraria há cerca de oito anos. No início era responsável por organizar os encontros, entretanto, admite que aprendeu a cozinhar observando os amigos. “Agora cada final de mês sou responsável por algum prato, principalmente se planejarmos assar carne”, brinca. De acordo com a psicóloga Tácia Buzata Soares, reuniões como a confraria masculina contribuem para a qualidade de vida e significam momentos de tranquilidade para a construção da subjetividade do ser humano. “O hobby faz com que uma pessoa consiga relaxar e também desviar

as atenções dos problemas para outras coisas, ajuda também na frequência espiritual, trazendo contato de felicidade, faz com que haja relacionamento entre as pessoas e que as mesmas acreditem na sua potencialidade”, explica. A psicóloga avalia a assiduidade na realização dos encontros como uma espécie de terapia. “É preciso um lugar para você ser quem realmente é sem julgamentos. O fato de a confraria existir há tanto tempo mostra que um respeita a individualidade do outro e o papel de cada um dentro do grupo”. Atualmente, o espaço destinado a esse tipo de reuniões se torna cada vez mais comum em condomínios, casas ou apartamentos. O ato de cozinhar está muito além de uma mera necessidade, é uma forma de lazer. A “confraria masculina” é apenas um exemplo de um grupo de amigos que busca momentos de descontração, tendo em comum o desejo de criar pratos que fujam do trivial e o melhor: sentindo o prazer em fazer o diferente.

foto | JULIANO JAQUES

foto | JULIANO JAQUES

Grupo se reúne assiduamente todas as quartas-feiras há 11 anos. O pequeno Matheus Bauer é filho de Rodrigo Bauer e já marca presença em alguns encontros.

Matambrito a la pizza é um dos pratos favoritos dos integrantes da confraria. Confira a receita no blog da Bom de Garfo.


foto | RENAN GUERRA

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A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR

DE UM UNIVERSITÁRIO

86,3 KG

por Nycolas Ribeiro e Renan Guerra

73,5 KG

S

ão diversas as causas do ganho de peso, no caso de Nycolas Ribeiro (21) foi a saída da casa de sua mãe. Mudando-se de São Paulo para a fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul para cursar Jornalismo na Unipampa, o estudante abandonou o hábito de comer alimentos geralmente indicados por mães e nutricionistas, como o feijão e as verduras, para se esbaldar nos congelados e na alimentação de rua, abusando das gorduras e ignorando tudo que pudesse estar mais próximo do natural. O resultado dessa mudança alimentar foram 15 quilos a mais. No terceiro ano de faculdade, Nycolas percebeu que era hora de mudar radicalmente seus hábitos e foi com o lançamento da Bom de Garfo que a oportunidade surgiu: por que não registrar as mudanças para os nossos leitores? Eu aceitei a empreitada de acompanhar essa busca pelo peso ideal

e por uma saúde melhor já que divido apartamento com ele. O primeiro passo foi reavaliar as compras no supermercado. Na correria do dia-a-dia, grande parte de nós opta por congelados e processados, que momentaneamente facilitam a vida, por terem um preparo fácil e ágil, mas acabam nos causando muitos danos. Como nos explica a nutricionista Gabriela Marcelino, “o alimento industrializado já possui uma série de substâncias como sódio, gorduras, conservantes e corantes que podem ser prejudiciais à saúde”. Foi, portanto, o momento de ignorar todos os alimentos prontos e descobrir a área dos legumes. Trocar bifes de hambúrguer por brócolis nem sempre é fácil, pois é preciso muita força de vontade e “conciliar faculdade com estágio e projetos paralelos é algo complicado e cozinhar requer um tempo que é difícil de encaixar nesta rotina”, comenta Nycolas. O segundo passo foi estruturar horários: fazer apenas duas refeições exageradas por dia não leva ninguém a um peso

ideal. A cartilha “Dez passos para uma alimentação saudável”, distribuída pelo Ministério da Saúde, ressalta que se “faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. Não pule as refeições”, por isso Nycolas tentou criar uma rotina que inclui as refeições principais intercaladas por lanches de três em três horas. Um passo importantíssimo nas mudanças foi a tentativa de abandonar o cigarro. Fumante desde os 18 anos, Nycolas era mais um na porcentagem de 14,8% da população que é fumante no país, segundo a pesquisa da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), realizada no fim de 2011. Foram dias difíceis e ansiosos, mudar os hábitos e tentar se adaptar a uma nova rotina sem nenhuma escapada para um cigarro foi uma tarefa árdua. Eu acompanhei com atenção cada passo dele, que tentava sorrateiramente fumar mais um cigarro, na eterna história de “este é o último”, como na curiosa vez em que fingiu falar ao telefone e foi até a área de serviço para ficar fumando. Felizmente o número de fumantes no país está diminu-


foto | RENAN GUERRA

indo, como demonstrou a pesquisa supracitada, é a primeira vez que o número de fumantes é menor que 15% da população. Parar de fumar enquanto se briga com a balança é um ato corajoso, já que, segundo pesquisa da Universidade do Sul de Paris, na França, e da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha, divulgada em junho de 2012, 37% das pessoas que tentam parar de fumar engordam em torno de 5 quilos nos três primeiros meses. Segundo o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), divulgado no mesmo ano, 73% dos ex-fumantes ganharam peso após cortarem o cigarro. Porém, os participantes das pesquisas afirmaram que o ganho de peso é insignificante frente à importância que parar de fumar tem. Nessas primeiras mudanças, com fôlego estabelecido e força de vontade redobrada, depois de ficar uma semana sem fumar, foi hora de partir aos exercícios físicos. Investir na academia foi uma escolha, já que lhe faltava força de vontade para se exercitar por si próprio. Quando se mexe no bolso, parece que a necessidade de tonificar os músculos torna-se uma meta de vida. Nos primeiros dias as dores foram intensas, músculos inchados e um corpo pedindo por relaxantes musculares, mas consciente de que o uso destes

Experimentando legumes: hoje

a vagem faz parte do cardápio

medicamentos pode mascarar problemas maiores e só aliviar a dor momentaneamente. Vale ressaltar que, mesmo com dores, as atividades físicas foram mantidas e acompanhadas por Susana Paraíba, sua personal trainer, que ressalta a importância de “procurar sempre uma atividade orientada por um profissional da área, que vai prescrever algo voltado para seu objetivo dentro das suas limitações”. Após um mês de academia e quase dois de reeducação alimentar, as mudanças são sentidas desde o fôlego para subir es-

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de Nycolas.

cadas até a diminuição do apetite. Nycolas já sentiu a mudança de sua gordura por massa corporal e percebeu que comendo de três em três horas, seu corpo não pede mais por um prato imenso no almoço e no jantar. Agora comer comedidamente tornou-se natural. A personal trainer Susana ainda relembra que está “comprovado que para obter um corpo saudável, 70% disto está relacionado com a alimentação, os outros 30% com alguma atividade física”. A principal atitude agora é tornar estas mudanças hábitos cotidianos.

OS BENEFÍCIOS DOS

TEMPEROS NATURAIS

O

uso de temperos naturais é uma tradição herdada do tempo de nossos avós, os quais afirmam que, além de proporcionarem um sabor delicioso à comida, trazem benefícios à saúde. Esse argumento deve ser levado a sério, pois é comprovado cientificamente que condimentos como salsa, pimenta, orégano, alho e cebola, colaboram para o equilíbrio do nosso corpo, ajudando a aumentar o colesterol HDL (o colesterol “bom”), a melhorar a circulação sanguínea, auxiliam no controle da diabetes, na diminuição da hipertensão, e combatem os radicais livres (responsáveis pelo envelhecimento precoce). Tudo isso porque neles há uma grande quantidade de vitaminas e minerais e pouco sódio, que se consumido em grande quantidade pode ser prejudicial à saúde. A utilização desses temperos é uma prática muito presente na cozinha brasileira e Ana Luiza Azevedo, estudante de Relações Públicas da Unipampa, é um

por Liziane Wolfart

exemplo disso: “como uma boa comida precisa de ingredientes que façam realçar o sabor, na maioria das vezes utilizo muito alho que também traz muitos benefícios para a saúde, já que é bom para o sangue”. O número de adeptos do uso de condimentos, no entanto, tem reduzido, por causa “do pouco tempo para cozinhar, o não cultivo destes temperos em hortas caseiras e a grande gama de produtos industrializados disponíveis no mercado para realçar o sabor dos alimentos. Os temperos artificiais contém elevados valores de sódio e conservantes, o que faz mal à saúde. O sódio, por exemplo, em altas concentrações, pode alterar a pressão arterial”, afirma a nutricionista Ana Claudia Batisti. Os industrializados podem ser trocados por alho, cebola, pimenta, salsa e orégano, que deixam a comida mais saudável e saborosa. Usar temperos naturais leva um tempo maior no preparo, porém os efeitos na saúde são expressivos e, sendo assim, devem ser levados em consideração.

foto | JULIANO JAQUES

Cebola e pimenta vermelha são boas opções de temperos.


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QUANDO COZINHAR

SE TORNA NECESSIDADE

por Renan Guerra e Tamara Finardi

foto | NYCOLAS RIBEIRO

foto | NYCOLAS RIBEIRO

A missão de morar sozinho e se alimentar bem. Macarrão: uma alternativa prática e saborosa.

S

egundo o Censo 2012, quase sete milhões de pessoas moram sozinhas no Brasil. Seja por necessidade ou por comodidade, essa escolha se reflete na cozinha: em determinado momento será necessário cozinhar. Isso é o que aconteceu com Ariel Barcelos, 17 anos, que veio de Santo Antônio das Missões para cursar o ensino médio em São Borja. Ao chegar aqui teve que aprender a cozinhar “na marra”, com todas as agruras, desde o exagero no sal até as panelas de arroz queimado. Nas primeiras semanas em que se viu morando sozinho, Ariel notou que a mudança mais drástica foi em sua alimentação, “Não sei se posso chamar aquilo de alimentação, foi bem precária. Como eu não sabia cozinhar, tive que aprender logo de cara também, claro que peguei algumas dicas e receitas com minha irmã, mas demorei um pouco para acertar a medida de sal do arroz (aqueles que não saíam queimados, é claro)”. Morar sozinho tem suas muitas vantagens, mas a cozinha, enquanto espaço

de convivência, acaba se tornando mais solitária, como observa Ariel “gosto de cozinhar apenas quando tenho companhia, gosto de compartilhar isso com alguém. Quando estou sozinho perco toda a vontade”. Essa dificuldade em cozinhar sozinho acaba levando muitos a optarem por uma alimentação com congelados e comidas pré-prontas, o que não favorece em nada nossa saúde, como é o caso de Ana Letícia Valiatti, estudante de Publicidade e Propaganda da Unipampa, que ao chegar na cidade se alimentava apenas com este tipo de mantimentos e torradas, como conta: “quando eu ia no mercado, eu acabava por não comprar coisas saudáveis, comprava só coisa congelada, comia muita torrada. Do primeiro ano de faculdade até o segundo foi mais ou menos assim. Fazia comida raramente, só final de semana, e quando eu tinha muita vontade. Mas teve um momento que não deu mais pra eu me alimentar desse jeito. Acabei engordando bastante, comecei a ter problema de gastrite, aí vi que não dava pra continuar comendo desse jeito, e parei de comer porcaria.”

Após aprender os passos básicos na cozinha, os seguintes se tornam mais fáceis, até que chega a hora de experimentar. Ariel nos contou que gosta de incrementar o arroz, “logo quando meus arrozes começaram a ficar comestíveis, já quis incrementá-los de alguma maneira”, hoje em dia suas especialidades são o carreteiro e o macarrão. Já Ana Letícia disse que gosta de fazer estrogonofe, mas que sua real especialidade é o ensopado de mandioca. Para quem quer começar, uma saída é recorrer à internet, onde pululam os sites que ensinam a cozinhar desde pratos mais rebuscados até o básico arroz com feijão. Um exemplo destes sites é o Tudo Gostoso, que reúne as mais variadas receitas com passo a passo e cria uma espécie de rede social gastronômica, na qual é possível cadastrar-se e publicar suas próprias receitas, avaliar aquelas que você testou e outras interações. De forma autônoma ou com a ajuda da rede, aprender a cozinhar pode ser trabalhoso no início, mas lhe renderá boas histórias, já que a cozinha costuma ser um local fértil para criatividade.


OPINIÃO 11

A COZINHA DE MINHA AVÓ (e das mulheres) por Renan Guerra

Cena do filme “Volver”, de Pedro Almodóvar.

T

enho pensado muito na canção de Itamar Assumpção “sozinha nesta cozinha / em pé eu tomo um café / na pia a louça suja / me lembra da roupa suja / no tanque que a vida é”, e por causa dela tenho me lembrado que muitos domingos foram dias de almoço de família na casa de minha avó. Neles os espaços eram ocupados de forma quase espontânea: homens em torno da churrasqueira, que fica na área de serviço, e mulheres reunidas na cozinha, preparando a comida e limpando a louça. Eu, com idade intermediária entre os netos, geralmente não me adequava perto dos primos mais velhos nem dos mais novos, acabando sempre na sala, vendo TV ou lendo algum jornal já desatualizado. Além disso, o que mais me chamava a atenção era o pós-almoço: os homens todos esparramados pela sala, comendo a sobremesa que era servida pelas mulheres, enquanto a maioria delas comia a sua na cozinha, já se preparando para a lavagem dos pratos. Naquela cozinha, entre o cozinhar-comer-limpar, ocorria o mais importante: as histórias, as novidades sobre a saúde, as fofocas. Aquelas mulheres todas abarcadas num manto de patriarcalismo opressivo, porém, não sei dizer se elas percebiam isso, se sentiam a linha quase palpável que as separava dos homens e as inferiorizava, a qual elas próprias colaboravam para o fortalecimento com o discurso: “homens não devem ajudar na cozinha”. Era uma interação social um tanto quanto estranha, uma separação de gêneros clara, mas ao mesmo tempo obscura. Contraditoriamente, sempre falávamos “casa da vó”, nunca minha mãe ou meu pai disseram “vamos almoçar

no vô” ou “vamos visitar o vô”, pois aquele lugar era dominado e reconhecido pela figura feminina, a harmonia daquele lar (mesmo que às vezes apenas estética) era mantida por minha avó. Mesmo assim, apenas a cozinha tinha a força de um espaço feminino e parecia que as mulheres o defendiam como delas, não sei se por uma liberdade de expressão, de ação: na cozinha as escolhas são da mulher, na cozinha se fala o que se quer, como quando a festa está acontecendo na sala, mas eu encontro minha mãe ou um amigo na cozinha pra dizer que o bolo é pequeno demais para as pessoas que apareceram ou que a festa estava horrível; a cozinha tinha esse ar de intimidade tão grande, pois é o espaço coletivo da casa onde vivemos, sentimos e agimos de forma intensa. Talvez aqui o foco desse texto se descortine, uma vez que ele não retrata a opressão do sistema patriarcal sobre as mulheres (nem tenho a pretensão de falar sobre, já que me era muito cômodo aceitar o status quo e me manter comendo a sobremesa na sala, esparramado como os outros homens). Esse texto é simplesmente sobre a importância que a cozinha tem em nosso cotidiano: é ali onde conversamos, limpamos, abafamos mágoas com assaltos corriqueiros à geladeira. É o lugar em que nos agitamos com litros de café feitos no afobamento das tensões, em que queimamos o arroz e onde o leite ferve demais sujando todo o fogão. É ali que lavamos e lavamos louça, como num círculo eterno e sentimos o passar do tempo quando o gás termina. É ali que sentimos a vida acontecendo com as colheradas de açúcar para adocicar a amargura. E assim me lembro das mulheres de Almodóvar, que cochicham na cozinha, bebem café, preparam gaspachos e escondem cadáveres em seus frízeres. Almodóvar já falou que as mulheres de seus filmes vêm de sua mãe, suas tias, suas primas, e me pergunto o porquê desse espaço tão importante ser território restrito das mulheres. Na cozinha de casa minha mãe me ensinou a cozinhar, a lavar louça, fazer bolos, a não jogar o óleo no ralo, a limpar o fogão e fazer pipocas. Eu a ensinei a usar o microondas, a fazer pão de queijo e miojo. Juntos nós amassamos pão, fizemos café, fritamos pastel, cozinhamos macarrão. E por isso penso: por que a cozinha não pode ser o espaço da convivência? Do homem, da mulher e de quem quiser. Por que não a cozinha das famílias e dos amigos? Das alegrias e não apenas das tristezas? Afinal, ficar sozinha na cozinha, como fala Assumpção ao início do texto, só nos lembra das dificuldades da vida e delas já estamos todos cheios, só queremos a tranquilidade de boas lembranças.

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foto | REPRODUÇÃO


NA FRONTEIRA

ENTREVISTA PING-PONG

por Andressa Dantas

DOS PREÇOS

CAFÉ DA MANHÃ COM UMA NUTRICIONISTA

por Eduardo Martinez e Viviane Alves

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uem nunca foi ou conhece alguém que tenha ido de São Borja a Santo Tomé para fazer compras? Uma das grandes facilidades de quem mora na Terra dos Presidentes é o privilégio de escolha do país em que sai mais barato a compra de determinado alimento. A operadora de caixa Veronica Sanchez, do supermercado La Economia, na cidade argentina vizinha, explica que, apesar da alta dos produtos em decorrência da inflação na Argentina, o número de

PRODUTOS

Arroz parboilizado - tipo 1 (5kg) Óleo de girassol (900ml) Macarrão com ovos (500g) Feijão - tipo 1 (1Kg) Açúcar refinado - tipo 1 (5Kg) Café solúvel - Nescafé (200g) Sal iodado (1Kg) Carne bovina - Coxão mole (Kg) Bebida à base de soja - Ades (1 litro) Suco de frutas (1 litro) Energético - Red Bull (250ml)

brasileiros que frequenta o supermercado não sofreu queda significativa, por vezes é até maior que o número de argentinos. Os itens mais procurados pelos brasileiros são a carne bovina, o óleo de cozinha, o macarrão, os sucos e os energéticos. Após uma coleta de dados realizada pela equipe da Bom de Garfo, nos supermercados La Economia, na cidade de Santo Tomé, e Rede Vivo, Nacional e Baklizi, em São Borja, em novembro de 2012, os seguintes preços foram comparados:

SANTO TOMÉ

SÃO BORJA

R$ 16,32 R$ 2,40 R$ 1,32 R$ 2,40 R$ 19,04 R$ 6,37 R$ 1,25 R$ 9,52 R$ 2,71 R$ 2,34 R$ 2,89

R$ 6,99* R$ 5,47* R$ 1,99** R$ 3,70* R$ 6,98* R$ 7,99** R$ 0,69* R$ 16,90*** R$ 3,87* R$ 2,99* R$ 5,99*

Legenda - menor preço em São Borja: *Rede Vivo **Nacional ***Baklizi

É HORA DE ORGANIZAR

A GELADEIRA

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por Renan Guerra e Tamara Finardi

uantas vezes você já encontrou sua comida estragada? O espaço mais apropriado para conservarmos os alimentos é a geladeira, mas muitas vezes não a utilizamos corretamente. Alguns mitos foram criados, como o de que se colocarmos comida quente na geladeira a estragará. A professora de gastronomia do Instituto Federal Farroupilha de São Borja, Camila Nemitz, afirma que “hoje as geladeiras são fabricadas para que a gente consiga tirar do fogão e já resfriar o alimento”. Ela ainda ressalta que “no fogão é complicado quando se desliga o fogo e a temperatura começa a baixar, porque a bactéria se prolifera muito

rápido. Então precisamos resfriar o alimento o quanto antes”. É preciso saber o lugar certo para guardar a comida, de acordo com as características de cada alimento. “Por exemplo: batata não se pode congelar, nem ficar muito tempo na geladeira”, afirma Camila. A salada deve ser guardada na gaveta da geladeira. Esse espaço é próprio para isso, pois a temperatura não é tão baixa, e assim as folhas não “queimam”. Outra dica é guardar a carne próxima ao congelador, pois é o local mais resfriado do aparelho. O importante para se conservar os alimentos apropriadamente é os organizarmos na geladeira de forma adequada e rápida.

Muitas pessoas não tomam café da manhã, podendo acarretar em inúmeros problemas para o organismo. Para destacar os benefícios do café da manhã, a nutricionista Alessandra Azevedo explica as características ideais do primeiro prato do dia e como esse hábito deve ser mantido essencialmente por estudantes, que precisam estar alimentados de forma adequada para terem um bom rendimento em seus estudos. BDF: Por que o café da manhã é considerado a principal refeição do dia? AZ: O café da manhã é importante porque ele faz com que o metabolismo volte a funcionar corretamente. Durante a noite o nosso metabolismo fica mais lento, gastando as calorias que o corpo necessita, por isso o café da manhã deve ser nutritivo. BDF: Quais os benefícios de fazer essa primeira refeição? AZ: Até para perder peso o desjejum é importante. Sabemos que pessoas habituadas à refeição matinal têm melhor desempenho em testes de memória e na resolução de problemas. Também é fundamental para reiniciar o estímulo do funcionamento intestinal, prevenindo a constipação e outras doenças. Ao contrário do que se pensa, pulá-lo não emagrece. O ideal é não pular refeições, o aconselhável é fazer seis refeições diárias, no mínimo quatro. BDF: Pessoas costumam dizer que não tomam café da manhã, pois têm indigestão. Por que isso pode acontecer? AZ: Isso é apenas uma questão de hábito. Para essas pessoas que não sentem vontade de comer ao acordar, é melhor que comecem com bolacha de água e sal e um copo de chá até se habituarem. BDF: Qual é o melhor horário para o café da manhã? AZ: Depende da rotina da pessoa. Um bom horário é até umas nove e meia. Depois desse horário sugiro que se coma frutas ou um copo de iogurte, evitando carboidratos. BDF: O café preto é uma boa opção? AZ: O café de maneira alguma é melhor que um leite ou suco. Ele ajuda a despertar em função da cafeína, mas o ideal são alimentos com proteínas, o cálcio do leite ou do iogurte, vitaminas do suco de frutas ou de legumes, e os carboidratos do pão, granola, aveia ou de algum alimento integral. Para um baixo custo, pode-se optar por um pão francês com uma fatia de presunto magro e de queijo, acompanhado de um copo de leite com achocolatado.


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