Felivro Informa

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FElivro Informa

Ano 4 edição 14 São Borja, 24 a 27 de outubro de 2012

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Uma Feira para a Literatura e para outras artes Por Aline Santana

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F o t o | R ep r o d u ç ã o

nas Feiras do Livro. Em Paraty (RJ), onde anualmente acontece umas das feiras literárias mais famosas do país, a Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), os livros são apenas um complemento na programação que envolve exposição de artes plásticas e cênicas, música, mostra de cinema e dança, além das programações turísticas que a cidade oferece. Num contexto não tão distante, a Feira do Livro em São Borja traz este conceito de multiplicidade artística a partir da Literatura. Na programação, a Leitura só dependerá do olhar de cada um. Quem irá se esquivar, por exemplo, de assistir às apresentações de dança que acontecerão no Teatro da Feira? O lugar, que também será palco da sessão de autógrafos de autores como Lira Neto, Rodrigo Bauer e da apresentação do cantor Nei Lisboa, será o ponto da divulgação de um Prêmio que valoriza a composição do Grafite enquanto arte, o Prêmio GPSNet Arte no Muro . Para o linguista Marcelo Rocha, as especificidades que definem as formas de Arte já não compõem aqueles espaços clássicos na representação da realidade. Segundo ele, que ao citar o filósofo Paul Ricouer explica o que pode ser lido, a leitura é um processo semiótico que leva em consideração não apenas o texto, mas as imagens, os gestos e as expressões da linguagem. Antes da definição canônica que divide os sete pontos da expressão artística em Música, Dança, Pintura, Escultura, Teatro, Literatura e Cinema, o grande filósofo da antiguidade, Aristóteles, jamais poderia imaginar a era convergente e multimidiática na qual estas expressões chegariam. Porém, mesmo que as convicções contemporâneas, consideradas por Marcelo Rocha, tentem expandir o sentido de arte das suas raízes conceituais, os fundamentos greco-aristotélicos ainda prevalecem na procura existencial de cada expressão. Por isso, caro leitor, seja bem-vindo à programação artística da 27ª edição da Feira do Livro em São Borja, que, sem estabelecer fronteiras entre as formas de arte, foi organizada para que você “Provoque suas Emoções”.

F o t o | R e pr o d u ç ã o

Contam-se 61 anos desde que a primeira Feira Popular do Livro foi realizada no Brasil, na Praça da República, em São Paulo. O evento, de caráter público, incomodou a alta-sociedade brasileira que costumava consumir as principais artes - entre elas a literatura - por um preço alto e restrito. A ideia não agradou a aristocracia paulista da época, principalmente pelos resultados alcançados na Europa. Contava-se que o modelo da Feira, que havia começado anos antes em Paris, teria popularizado uma das principais propriedades artísticas clássicas: a literatura. Quando a ideia chegou ao Brasil, o propósito era incentivar o hábito da leitura nos menos favorecidos, mas ao mesmo tempo acabou dando espaço à divulgação dos trabalhos de artistas marginais. Apesar de, à época, o Brasil ter 30% mais analfabetos do que hoje (IBGE, 1960), a ideia da Feira parece ter dado certo. Começando com o uso do termo “Feira”, que funciona como um apelido mais coloquial ao nome “Exposição”, a forma de organização do evento contempla os diversos tipos de público leitor, sendo principalmente direcionada aos que têm pouco contato com o hábito da leitura. Quando foi criada na França, a Feira do Livro foi estrategicamente montada em um ponto da cidade onde os trabalhadores pudessem passar e apreciar os livros – na Praça da Concórdia, em Paris. No Brasil, não demorou muito para que a ideia se espalhasse pelas maiores capitais e comovesse os transeuntes das praças públicas. O público das Feiras de Livros já estava, assim, se caracterizando por pessoas que esperam dela uma oportunidade acessível de consumir arte. Em 1961, porém, alguns diretores de cultura e arte do Museu de Arte de São Paulo (MASP) começaram a acreditar que a ideia de promover uma feira para o incentivo da literatura era muito mais do que apenas popularizá-la. A realização das Feiras do Livro pelo Brasil já tinham grande repercussão - ainda que em pequenos moldes - que o MASP considerou o evento uma oportunidade de valorizar a arte em suas formas mais diversas. Vale lembrar que na década de 60, a Indústria Cultural brasileira já era conhecida pela inovação em vários aspectos artísticos. O MASP, que à época era detentor de muitas obras do período Antropofágico, apostou que um evento como a Feira do Livro pudesse trazer conceitos mais contemporâneos sobre a valorização da arte. Assim foi criada a 1ª Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, que atualmente é o maior evento de exposição que envolve Literatura e Artes no Brasil. Desde então, a não-categorização das Artes tem dado lugar a outras formas de expressões artísticas

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Editorial

EXPEDIENTE O informativo Felivro Informa é uma produção dos acadêmicos integrantes do projeto de extensão Multi-plataforma Felivro Informa, do Curso de Jornalismo, da Universidade Federal do Pampa. Produção e Reportagem: Aline Santana, Pamela Faustino, Phillipp Gripp, Tamara Finardi, Tatiane Bispo e Victor Borges. Revisão: Tamara Finardi. Edição Final: Phillipp Gripp. Diagramação: Pamela Faustino e Phillipp Gripp. Orientação: Prof.a Dr.a Joseline Pippi (MTb 12.164). Gráfica: Mercosul. Tiragem: 500 exemplares. Distribuição Gratuita.

Por Tamara Finardi Foto|Arquivo Felivro Informa

A chuva não foi empecilho para que a 26º Feira do Livro de São Borja fosse um sucesso. O evento contou com diversas atrações culturais, como a palestra com Thedy Corrêa e com o jornalista Juremir Machado, apresentações teatrais em braile e libras, shows com artistas regionais, e sessões de autógrafo com diversos autores. Outra novidade na feira do ano passado foi o lançamento da revista cultural e independente Tudo & Etc (foto com integrantes da revista), além da mudança do local do evento para Rua Aparício Mariense, que possibilitou a montagem de uma estrutura ainda maior que em 2010.

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Quem faz a Feira?

Placa do autor

Por Tamara Finardi

Por Pamela Faustino

Foto|Pamela Faustino

Provoque suas emoções – eis o mote da 27ª Feira do Livro de São Borja. Ousadia – eis a intencionalidade latente desta edição, que almeja mostrar mais do que livros: busca destacar também manifestações artísticas. Dança, teatro, música, artes plásticas, fotografia, cinema, formas expressivas de representação da realidade que fazem o intelecto e também os sentidos transbordarem para além do cotidiano. Este ano as emoções estarão à flor da pele na Praça XV! Firmando-se ano após ano como evento tradicional da cidade, a Feira é arquitetada com esmero e as atividades que acontecem durante os quatro dias preenchem o espaço público com cultura. Como herança dos anos anteriores, a festa se propõe a valorizar as expressões artísticas locais, mostrando que em São Borja também se faz cultura – e cultura de qualidade. Como inovação, o chamamento provocativo e instigante para não apenas visitar a praça, mas participar das atividades, senti-las. Mais do que idealização, a 27ª Feira do Livro é o resultado de muito trabalho e dedicação de instituições e pessoas que acreditam nela e, principalmente, acreditam que São Borja merece ter sua cultura valorizada e visibilizada. Aos mecenas que despretensiosamente emprestaram seus braços, seu precioso tempo e também sua energia para a realização do evento, nossa reverência e nosso respeito. Nós também aceitamos o desafio de provocar as emoções dos são-borjenses. Este ano o Felivro Informa inova no formato e também no conteúdo. Complementando a cobertura multiplataforma veiculada em outros meios de comunicação (rádio, web e televisão), o informativo traz textos que destacam tanto as personagens como as atrações da Feira, emoldurados por uma diagramação atrevida e criativa – no sentido jornalístico do termo. Provocações nos tiram de nossa zona de conforto, nos perturbam, nos desconcertam e, de muitas formas, nos transformam. Aceitar uma provocação é pactuar com o interlocutor na busca do entendimento do que antes era incompreensível, é abrir espaço para o novo, é aceitar renovar-se. Desafie não apenas suas emoções, mas também seus sentidos. Instigue-se pelas artes e suas versões da realidade, rendase a estímulos não apenas literários. Leia, ouça, sinta, deleite-se, transforme-se... e tenha uma ótima Feira do Livro!

Ano passado na Feira

Placa em homenagem aos idealizadores da Feira do Livro de São Borja

Em 1994, quando a Feira do Livro completou 15 anos, o livreiro Luís Carlos Lopes, mentor do evento, e o ex-prefeito de São Borja Salvador Alvarez, que autorizou a realização da 1ª Feira, tiveram suas memórias homenageadas através de uma placa fixada na Praça XV de Novembro. Desde então, 18 anos se passaram e, nesse meio tempo, a placa simplesmente sumiu sem motivo e sem paradeiro. No entanto, este ano ela reapareceu misteriosamente e foi entregue aos organizadores da Feira. No dia 25 de outubro, às 17h30, ela voltará a ocupar seu espaço na Praça, com a sua reentronização, simbolizando o evento que está realizando sua 27ª edição.

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO

A Feira do Livro de São Borja só existe por causa dos livreiros, escritores e de pessoas que, de modo geral, se interessam por cultura. Mas por trás dos estandes enfileirados harmoniosamente, e de cada apresentação cultural, existe muita burocracia. Para que uma feira do livro aconteça de fato algumas pessoas precisam assumir certas responsabilidades: Maria Alice Dornelles Souza, secretária de Desenvolvimento Rural no município é responsável pelos contatos com produtores que irão expor produtos coloniais na feira. Norma Bouchet, diretora da Biblioteca Municipal Getúlio Vargas organiza as atividades realizadas no estande da biblioteca. Viviane Pimenta, diretora do Departamento de Turismo, Cultura e Evento, trabalha na organização de feiras do livro há 15 anos e este ano ela é a responsável pela elaboração do projeto da feira e pela montagem da programação. Com seis meses de antecedência Viviane já começa a entrar em contato com escritores, agendar espetáculos, solicitar necessidades de estrutura e organizar os estandes da feira. Na realidade, não caberia neste jornal o nome de todas as pessoas que fazem com que a Feira aconteça, pois ela só existe graças ao interesse e participação do público.


Entre o som e os escritos de Nei Lisboa

Show de encerramento Por Pamela Faustino

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Futuros motoristas conscientes Por Victor Borges

Foto| Victor Borges

Com carrinhos elétricos e réplicas de sinalizações, a Escolinha buscará instruir sobre a importância de uma direção consciente.

Em 2012 já foram registrados mais de 12 mil acidentes nas rodovias estaduais gaúchas, mas esse número não é alarmante apenas no Rio Grande do Sul. No Brasil, de acordo com dados do Seguro DPVAT, acontece um acidente a cada 30 segundos. Mau estado da malha rodoviária, falta de uma legislação mais punitiva: muitos são os motivos apontados para essas estatísticas. Porém, fato é que ainda engatinhamos na conscientização de nossos condutores. E é com o intuito de educar, divertir e, ainda, conscientizar sobre a importância de conduzir com responsabilidade que a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Trânsito traz à 27ª Feira do Livro de São Borja a Escolinha de Trânsito. De acordo com Élcio Carvalho, Secretário Municipal da SMSPT, a Escolinha simulará uma minicidade, com réplicas de placas de sinalização e semáforos. Para simular situações cotidianas de tráfego, crianças até 10 anos conduzirão, orientadas por instrutores, carrinhos elétricos pela estrutura, que será montada no espaço da Feira.

FELIVRO: Uma pergunta quase clichê, mas que não pode deixar de ser feita a todo bom compositor: que coisas, pessoas ou circunstâncias te inspiram? Como se dá o teu processo para compor uma música, com letra e melodia? NEI: De um modo geral, a música dá um ponto de partida. Sem saber o porquê, surge uma melodia ou sequência harmônica ou ritmo que vai inspirar todo o resto. Muitas vezes, já surge junto uma ou várias frases da letra, sugerindo ou ditando o tema que vai ser depois trabalhado. Então, é a mistura de um processo inicial inconsciente com muita transpiração que se segue, para construir, lapidar e arranjar todas as partes de uma canção. FELIVRO: Em 2009 tu completaste 30 anos de carreira, o que é um êxito, considerando a boa safra que a música brasileira teve no final da década de 70. De lá pra cá, o que no teu trabalho foi mais marcante para a Música Popular Brasileira? E o que faltou ? NEI: Não saberia dizer, não faço muita análise do meu trabalho, e a dimensão dele dentro da MPB como um todo, ao menos comercialmente, é bem pequena. De toda forma, sou um verbete de algumas linhas dentro dessa história, e suponho que com uma importância maior no contexto da música urbana do RS. Provavelmente, minha maior contribuição seja instigar nas músicas, aqui e ali, o pensamento e o debate político, de comportamento, de cultura. FELIVRO: Ainda se tratando de música, existe

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cultura em praça pública devem ser saudadas.”

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Foto|Divulgação: Blog - anaejeankirchoff

O cantor Mário Barbará foi convidado para realizar o show de encerramento da Feira do Livro de São Borja deste ano. No dia 27 de outubro, às 21 horas, ele se apresentará no teatro da feira, na Praça XV de Novembro. Toda a comunidade são -borjense poderá prestigiar o cantor no último dia do evento, pois o show será aberto ao público.

Ouvir falar de um sul-caxiense que estudou Composição e Regência na UFRGS para pouco tempo depois lançar seu primeiro disco (“Pra viajar no cosmos não precisa gasolina”), não é difícil. O músico, conhecido cantor de Música Popular Brasileira, atende pelo nome de Nei Lisboa e desde 1979 faz muito mais do que só cantar. Com nove discos gravados, entre os quais “Carecas da Jamaica” (1987) e “Hein?! (1988) – que lhe renderam o Prêmio Sharp (atual prêmio Tim de Música) – as composições de Nei também são referências de outros artistas: Caetano Veloso já gravou suas músicas. No cinema, filmes como “Deu pra ti anos 70”, “Verdes anos”, “Houve uma vez dois verões” e o mais conhecido “Meu tio matou um cara”, de Jorge Furtado, tiveram as músicas do cantor como trilha sonora. Constantemente envolvido nessa mistura de música e letra, escrita e som, Nei Lisboa é um artista múltiplo. Como o seu lado escritor (autor de dois livros) ainda é pouco conhecido, o FELIVRO Informa conversou com o artista para descobrir um pouco mais do que ele nos trará para a 27ª Feira do Livro. ______________________________________ FELIVRO: A tua presença na feira do livro comtempla a cena artística por vários ângulos. Digo isso porque além da bem-sucedida carreira de cantor, tu também tens uma carreira como compositor e escritor. Neste sentido, tu te consideras um artista múltiplo, isto é, capaz de dar conta de muitos eixos artísticos? NEI: Sou um escritor bissexto, com dois livros publicados num intervalo de quinze anos. Costumo dizer que é um hobby, o que me poupa de defender criticamente uma posição de escritor e preserva o prazer da escrita descompromissada com a produção e o sustento profissional. Como compositor popular, é claro, também trato com as palavras, e gosto aliás de tratá-las o melhor possível, dispendendo tempo na construção das letras das músicas, buscando um artesanato de ideias e sonoridades que instigue o ouvinte dedicado e exigente com essa matéria.

Foto|Reprodução

Por Aline Santana

alguma coisa que tu gostarias de ter feito, mas ainda não fizeste? Algum cantor em especial que gostaria de ter cantado, ou que gravasse uma música tua? NEI: Quero lançar um disco em Portugal, tenho a maior simpatia pela terrinha. E alguns shows nos EUA, uma pequena excursão já seria legal. FELIVRO: E como você descreveria o Nei Lisboa leitor? O que tu aprecias em um livro? O que tens lido ultimamente? NEI: Vou fazer uma confissão chata, e de mau exemplo: sou um leitor preguiçoso, voraz devorador de jornais e revistas mas muito lento com a literatura. Estão há meses na minha cabeceira um livro do Cristóvão Tezza (Beatriz), o “Passageiro do Fim do dia”, do Rubens Figueiredo, e “O tempo e o cão”, da Maria Rita Kehl, entre muitos empilhados. Fico alternando entre um e outro, de um modo geral ficção, embora psicanálise e filosofia e história contemporâneas também me atraiam. FELIVRO: Na 27ª Feira do Livro em São Borja a tua presença será umas das principais atrações musicais da programação. Ouvi falar de pessoas que sempre te admiraram, mas que por morarem no interior, nunca puderam assistir a um show ou apreciar o teu trabalho mais de perto. A Feira do Livro é uma forma de incentivo ao consumo de cultura, e também uma oportunidade de apreciar tais manifestações artísticas. Ouvindo histórias assim, o que tu pensas a respeito da valorização de elementos culturais no Brasil? Isto é, as oportunidades de apreciação à arte são as mesmas em qualquer lugar? NEI: Falar do Brasil é falar de um continente, cada vez mais complexo, já que o crescimento e a inserção de camadas mais pobres gera também a afirmação cultural dessa população, compondo mais diversidade, mas também gerando mercado para uma cultura de massa bem popular, vide Michel Teló ou Luan Santana. Os que defendem um produto cultural mais refinado, ou mais “complicado” como a Literatura, tendem a se entrincheirar em palcos específicos das grandes cidades. As oportunidades de quebrar essa divisão e mesclar arte e cultura em praça pública, como a Feira do Livro de São Borja, devem ser sempre saudadas.


Com a Palavra: Maria Izabel Scalco Por Phillipp Gripp

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da cultura.”

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Foto|Alane Braga

Quem poderia dizer que existe ou quiçá que se pode ensinar alguma técnica para escrever? Não falo essencialmente sobre gramática, mas sobre um bom texto, daqueles que prende o leitor do início ao fim, que envolve e faz sentir vontade de lê-lo o mais rápido possível. Um texto que deixa um sabor de quero-mais quando se chega ao final, provocativo. Maria Izabel Scalco, a patronesse da 27ª Feira do Livro de São Borja, é prova de que para se escrever um bom texto não existe técnica alguma, é necessário apenas senti-lo para fazer com que o leitor também se envolva. As inspirações para escrever suas obras, por exemplo, simplesmente “surgem, elas brotam”. Talvez, o único pré-requisito básico seja escrever sobre o que se gosta. Scalco explica que “normalmente os temas que mais me cativam têm suas raízes voltadas para a história e memória”. Ela revela: “No momento eu estou numa fase mais ou menos letárgica sobre a escrita. Não estou pensando em tema e nem em livro. Estou pensando agora em reabastecer-me com leituras e oportunamente, quando brotar a inspiração, certamente que algo sairá. Não costumo forçar

nada! Rillo dizia que quando ele estava produzindo uma obra ele se sentia grávido de ideias e eu, quando estou gestando uma obra, eu sinto algo muito diferente, muito especial. Tem momentos que se produz muito, tem momentos que se fica pensando em produzir e não sai nada e tem momentos que nem se pensa em produzir”. São-borjense, a autora se emociona ao falar sobre sua cidade-natal, dizendo que, para ela, São Borja “representa muito, porque essa terra de origem missioneira, essa terra que é vermelha como um coração, é uma terra muito acolhedora,

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Quando lecionar se torna um sonho da

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imento para a mente e para o espiírito.

Foto|Arquivo pessoal

Por Phillipp Gripp

“A leitura é um ver

“Comecei a trabalhar aos dois anos”, dizia Zilá, brincando. Por ser a mais velha de uma família de 15 irmãos, junto com seus dois irmãos que nasceram logo depois, ajudava a mãe com os afazeres domésticos, tomando conta das crianças menores. “Levantava, com ela, às 05 ou 06 horas da manhã, e a rotina começava: eu fazia as mamadeiras, dava banho, embalava para dormir (...) meus irmãos ficavam nas brincadeiras, sempre no pátio de casa”. Seu pai era fazendeiro, lia e escrevia perfeitamente. Homem forte, nunca bateu nos filhos

é uma terra que gosta de receber e gosta de doar e doar-se. Eu vejo São Borja como um canto especial do Brasil”.É nesse lugar tão especial para a primeira diretora da Biblioteca Pública Municipal Getúlio Vargas (1964) que ela está sendo homenageada. Ela considera o fato bastante significativo: “Foi uma homenagem que me surpreendeu. Fiquei tremendamente encantada e eu a vejo também como uma grave responsabilidade”. Diversos autores, como Clarice Lispector, Oscar Wilde ou Willian Shakespeare, já escreveram e falaram sobre a palavra e o seu poder. E Maria Izabel também a considera importantíssima: “As palavras são mágicas e, por serem mágicas, elas produzem o inesperado, elas produzem magias, no sentido do bom, do crescimento, da intelectualidade, da abertura de novos horizontes”.

apesar de sua seriedade constante inspirar medo nas crianças. Sua mãe, mulher quieta e corajosa, era analfabeta: aprendeu com o marido a assinar o próprio nome apenas para votar. O pai de Zilá pensava que mulher não precisava estudar, “ele me colocou no Colégio com dez anos e dizia que era só para ser alfabetizada”, relata. Contudo, desde pequena, quando observava uma vizinha que era professora - trabalhando, Zilá se apaixonou pela profissão: “Eu ficava encantada em vê-la com os livros, estudando, corrigindo, saindo para o Colégio. Era uma Professora Catedrática [como ouvira alguns dizerem] e essa foi a primeira palavra - catedrática - que me despertou para a magia das palavras e decidi que queria também ser uma Professora Catedrática”. Começou a trabalhar fora com 14 anos para ajudar no sustento da casa. Apesar das dificuldades, fosse financeira, por problemas com a saúde, ou pela discriminação que sofria por ser mulher, Zilá encontrava a felicidade nas aulas: “Eu tinha verdadeira paixão por estudar, tudo me fascinava”, conta. Com o apoio de alguns professores, ela conseguiu convencer o pai a deixá-la fazer o Exame de Admissão ao Ginásio, porém, precisou parar de estudar para continuar trabalhando. Quando, por sorte, abriu uma turma de Ginásio noturno, próximo à sua casa, não pensou duas vezes sequer: “voltei aos estudos contra tudo e todos. Naquela época, uma moça sair à noite para estudar era um verdadeiro escândalo e da conta não só dos pais, mas de toda vizinhança e da parentalha”. A mãe de Zilá sempre a apoiou na realização de seus sonhos, ajudando-a a fugir do pai

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quando criança para ir às aulas, não se importando com as fofocas quando ela começou a estudar à noite e fazendo o possível para que as intrigas não chegassem aos ouvidos do pai. Zilá conseguiu concluir o ensino médio em 1968, quando também fez um concurso para escrevente datilógrafa na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e foi aprovada no ano seguinte. Em 1970 começou a cursar Letras Português/ Francês na mesma universidade, conciliando as aulas e o trabalho, graduando-se em 1973. Realizou seu grande sonho em 1978 quando começou a lecionar na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Borja (FAFISB). Dois anos depois concluiu Especialização em Letras e, em 1996, tornou-se Mestre na mesma área. No ano seguinte passou a lecionar na Universidade da Região da Campanha (URCAMP), também em São Borja, até sua aposentadoria. Na 27ª Feira do Livro de São Borja, Zilá Terezinha Teixeira Delavy é a professora homenageada. Para ela “É preciso despertar para a leitura, degustá-la e usufruir de seus inomináveis benefícios, de sua incomparável riqueza. A leitura é, sem dúvida, um caminho na preparação do indivíduo para a vida, para a busca da felicidade, para o exercício da cidadania (...); ler para mim, é como diz Lygia Bojunga Nunes ‘um caso de amor’. Não posso viver sem livros, sem leitura. Os livros são nossos amigos, nos livram da solidão, nos dão asas para voar”. A vida de Zilá, apesar desta tentativa, não ousaria caber nesta folha de jornal, pois como ela mesma diria: “É muita vida para poucas linhas”.


Ninguém além de Caéco

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Foto|Alane Braga

“Feira do Livro é vida porque

s livros é vida.” A primeira impressão que Synara Rillo passou quando a vimos chegar pontualmente para a entrevista com nossa equipe de entrevista do Felivro Informa é que se tratava de uma mulher com experiências interessantes. De calça jeans e chinelo de couro, parecia extremamente à vontade no cenário preparado para a conversa, embora seu olhar por trás dos óculos transmitisse

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“Eu nunca fui além de mim. Sou isso que sou

eu participei de jurado... quando ele sabia que eu ia estar de júri, ele retirava suas composições”, revela Mariano. As obras do Caéco traziam o seu olhar sobre a vida. Ele retratava com vocábulos regionalistas tudo o que viveu e conheceu no campo. Para Mariano, o estilo do pai era mais universal do que parecia, “a temática do cavalo, do campo, do trabalho, questões da natureza, da mulher do campo e a solidão do campo são temáticas bem fortes no seu livro de poesia. Mas o que ele tinha mais prazer em fazer era música para carnaval, letras com temas universais como: o amor e o legado”. Por incentivo do escritor Apparício Silva Rillo, Caéco lançou, em 1985, o seu primeiro e único livro, o “Mateando”, que retratava a vida no campo, além de suas observações e memórias acumuladas ao longo da vida. “O Silva Rillo estimulava os poetas são-borjenses de todas as idades e todos quando escreviam levavam suas obras para ele analisar, até eu quando me arrisquei na poesia levei para ele”, conta Mariano. Na fazenda Guapoy a família guarda os troféus do compositor e algumas poesias inéditas. Caéco foi um artista de muitas composições e de apenas um livro publicado, mas, para o filho, este é exatamente o motivo pelo qual o pai deve ser um dos homenageados da Feira do Livro. “É importante essa homenagem, não porque ele produziu muito e não foi reconhecido, mas porque ele produziu pouco, então não se pode deixar morrer, é para se saber que, de repente, tem coisas que ainda podem aparecer”.

seriedade. Sua expressão, sua forma de se portar e de falar mostravam que era alguém centrada e que estava preparada para responder qualquer pergunta, sem vergonha ou sequer medo de ser revelada pelas palavras. A hoje escritora queria ser veterinária desde os cinco anos de idade e dizia para sua família e a todos que a cercavam “eu quero ser médica de bicho”. Quando começamos a conversar sobre sua primeira obra, “Cães, donos e dores humanas”, Synara respirou fundo antes de começar a falar, e, naquele momento, meu palpite inicial foi se materializando, conforme suas palavras: “essa experiência me foi profundamente gratificante, profundamente desgastante, porque as pessoas estão acostumadas a viver com um cão, ou com o seu cão, ou com um gato, ou o seu gato, ou dois ou três gatos, ou dois ou três cães. O mundo animal é muito bruto, então por isso foi uma experiência muito sofrida, mas que me foi de extrema valia, porque eu pude me colocar sobre o ponto de vista dos animais, perceber como o cão e o gato enxergam a nós, seres humanos”. Medindo as palavras para falar sobre essa experiência, Synara passava a mão nos cabelos e gesticulava de modo contido: “foi uma fase bastante gratificante, mas também muito difícil da minha vida! Eu evito, ainda, de trazer à tona essa experiência, pois foi nesse período de isolamento que eu passei por uma fase de autodescobrimento, que fiz um exercício de desapego emocional e material.” Como exemplo citou seu convívio com

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Luiz Carlos Batista, o Caéco, é o homenageado póstumo da 27ª Feira do Livro de São Borja. Ele nasceu em 16 de agosto de 1936 e morreu em 16 de fevereiro de 2010, vítima de câncer de pulmão. Caéco foi casado e teve dois filhos, Gabriela e Mariano. Ao longo de sua vida, descobriu grandes paixões: o campo, a composição e a poesia. Apaixonado pela natureza e pela vida no campo, teve como lar e refúgio a fazenda Guapoy, desde a década de 80. Época em que começou a compor suas letras e poesias, sempre sentado junto à mesa de jantar. “Muita coisa ele fez ali, sentado com um caderno espiral, escrevendo tudo à mão”, relembra Mariano, ao olhar para a mesa que ainda ocupa o mesmo lugar na casa. “Ele era muito tímido para mostrar suas obras... não era muito de se divulgar e se promover, também não gostava muito de expor seu trabalho” revela o filho. No entanto, ainda assim, se tornou um nome conhecido no meio artístico. Nos anos 70, Caéco começou a escrever marchas-rancho para o “Concurso de Músicas para o Carnaval”, evento que lhe rendeu seus primeiros prêmios. Por volta dos anos 80, começou a participar como letrista, dos Festivais Nativistas do Rio Grande do Sul, como o “Festival da Barranca”, a “Ronda de São Pedro”, a “Tertúlia Musical Nativista”, entre tantos outros, nos quais também venceu por diversas vezes. Durante os quase 20 anos em que Caéco participou do “Festival da Barraca” cerca de 80% das vezes foi como letrista. Nos primeiros anos em que compareceu ao festival, ainda muito tímido com as suas composições, foi desafiado a participar compondo uma letra e, desde então, sempre que possível preparava uma canção. “As poucas vezes que ele não apresentou letras, foi quando

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Por Pamela Faustino

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seus 40 ou 50 animais, compartilhando com eles seu espaço e seu cotidiano. Synara está escrevendo seu segundo livro, intitulado previamente de “O que os cães e os gatos me ensinaram”, e conta que nele “estou trazendo minha vida profissional e particular à tona tentando mostrar, de uma forma metafórica, o que esses animais, em 45 anos de convivência, de fato puderam me ensinar perante a vida e, com isso, passar uma mensagem profundamente humanista àquelas pessoas que têm cães e gatos como animais de estimação, já que, hoje, ter um animal está atingindo conotações bastante distorcidas em valores humanistas”, pois a autora acredita que a relação entre os animais e o ser humano é “extremamente perigosa! Extremamente voltada a maus-tratos indiretos, pois existe um comércio violento em cima desses animais, redundando a esses maus-tratos indiretos por meio do estresse que esses animais estão submetidos, eles estão ficando muito confinados e estão virando, hoje, meras mercadorias na mão do ser humano”. Apesar de tudo, Synara nos revela que não se define como escritora, mas como uma pessoa que “gosta muito de escrever, que gosta muito de ler e que tem muita coisa para dizer, por meio das minhas palavras, da minha escrita, da minha inspiração, por meio dos animais”, mas com tanta experiência fica simples dizer o que é necessário para quem quiser se tornar um: “que se desapegue! Que viaje, que converse com as pessoas, que leia muito, que pense muito (...), mas em primeiro lugar tem que ser muito corajoso, porque cada vez mais o escritor não é tão valorizado (...), para quem quer escrever: leia, se desapegue, crie coragem e goste muito da liberdade”.


Rodrigo Bauer em foco

Feira abre espaço para novos escritores Por Victor Borges

Por Tatiane Bispo

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A relação do ser um humano com suas primeiras experiências é sempre envolta em mistério e fascínio. O primeiro dia na escola, o primeiro amor, o primeiro emprego. Tudo que fazemos pela primeira vez causa receio, mas, por outro lado, nos encanta. Afinal, “a primeira vez a gente nunca esquece”. Escrever o primeiro livro e lançá-lo, certamente, não causa sensação diferente, e a 27ª Feira do Livro de São Borja parece ter se inspirado neste sentimento de descoberta. Além de contar com obras e autores já conhecidos da comunidade, o evento abre espaço para aqueles que debutam como escritores. Para a Diretora de Cultura do Departamento de Assuntos Culturais (DAC), Viviane Pimenta, é papel da Prefeitura oportunizar à população um espaço para a exposição de seus trabalhos. Na Feira, este local será o Espaço do Autor, onde Elder Corrêa, 23, jornalista formado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa) participará da sessão de autógrafos de sua obra

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Diário de Bicicleta – Pedaladas Jornalísticas e Narrativas do Cotidiano. “Lançar o livro em São Borja, para mim, é um prêmio, que comemoro pelo simples fato de poder retornar a essa terra vermelha”, declarou Elder, que construiu seu livro em cima de histórias cotidianas e de personagens comuns da cidade. O caminho trilhado pelo escritor é árduo. Sobram talento e dedicação, faltam oportunidades. E a oportunidade foi justamente o que levou Vinicius Lara, 19 anos, acadêmico de Ciências Políticas da Unipampa a ingressar na carreira de escritor. O livro intitulado Getúlio Vargas e o Ministério do Trabalho é fruto de estudos desenvolvidos através do projeto “Nos passos de Jango”, coordenado pelo Ronaldo Colvero, doutor em História, professor da Unipampa e também autor da obra, escrita em parceria. O enfoque da publicação são os oito meses em que João Goulart esteve à frente do Ministério do Trabalho, durante o governo de Getúlio Vargas. Para Colvero, é muito significante acompanhar um acadêmico neste processo de iniciação. Elder, Vinicius e muitos outros autores estarão presentes no Espaço do Autor, que contará com bate-papos, lançamento de livros e sessões de autógrafos, durante todo o decorrer da 27ª Feira do Livro de São Borja.

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ue ningu ém c o ntou. ..” Sarau propaga a cultura da cidade

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Por Tatiane Bispo Foto|Brunno Porto

Rodrigo Bauer, 38 anos, concedeu entrevista ao Felivro Informa na mesma sala onde, há 23 anos, recebeu uma ligação do escritor e poeta Apparício Mariense que mudaria o futuro de sua carreira. É vencedor de diversos festivais de música nativista e autor de cinco livros, sendo o último “20 anos de poesias”. O autor fará a sessão de autógrafos da obra no sábado, dia 27 de outubro, às 18h. _____________________________________ FELIVRO: Quais são os temas que você aborda no seu livro “20 anos de poesia”? RODRIGO: A lida cotidiana gaúcha, temas universais e filosóficos. Sempre com o intuito de entender o porquê das coisas. FELIVRO: Como começou a sua relação com o ato de escrever? RODRIGO: Desde criança eu pegava vários livros regionalistas e decorava os versos. Sempre li grandes autores. Aos 15 anos, enviei duas poesias para um Caderno de Cultura – que circulava em São Borja. Apesar do grande número de poesias enviadas, as minhas foram selecionadas para publicação. FELIVRO: A literatura veio antes da música em sua vida. Você acha que isso foi importante? RODRIGO: Com certeza. Ajudou-me na noção musical de métrica e prosódia. O comum é produzir a letra e depois colocar a melodia. Mas devido a facilidade que possuo – graças a minha relação com a literatura – eu consigo fazer o contrário: Mexer com melodia, para depois inserir a letra por cima. FELIVRO: Tem alguém em que você se espelha? RODRIGO: Apparício Silva Rillo. Ele foi quem acordou toda a gama cultural de São Borja e da fronteira oeste. Além de ter sido o responsável pelo pontapé inicial na minha carreira. Quando eu tinha 15 anos, ele me telefonou e disse que eu tinha futuro como escritor e queria acompanhar de perto o meu trabalho. E ele não fez isso só comigo. O Apparício tirava do anonimato quem ele achava ter talento.

Sarau Literário que aconteceu no Clube Comercial de São Borja.

Comum durante o Séc. XIX, os Saraus Literários consistiam em eventos nos quais apreciadores da cultura se reuniam para expressar ou assistir às mais diversas manifestações artísticas. Dança, pintura, literatura, enfim, todas as artes eram contempladas nessas reuniões que congregavam tanto artistas como apreciadores. São Borja, através da iniciativa do Departamento de Assuntos Culturais (DAC), é um rico cenário para a realização do Sarau Literário, que acontece mensalmente em espaços reconhecidamente voltados à cultura na cidade. “Buscamos não apenas homenagear pelas datas e temas se-

lecionados, mas oportunizar encontros com os apreciadores da literatura”, enfatiza Viviane Pimenta, Diretora do DAC e uma das idealizadoras do evento. A 6ª edição do Sarau Literário, com o tema “Autores são-borjenses” estará presente na 27ª edição da Feira do Livro de São Borja. O evento contará com a presença de músicos e intérpretes e será realizado no Teatro da Feira, no dia 27 de outubro, às 19h. A única exigência é que os textos, ou músicas estejam dentro da proposta do tema. As inscrições serão gratuitas e podem ser feitas na hora do Sarau.


Oficina trabalha para a inclusão de deficientes auditivos Por Victor Borges

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Manoel do Nascimento Varg

Foto|Victor Borges

Já viveu a experiência de viajar para um país onde os habitantes falam um idioma desconhecido para você? Certamente não é fácil conversar, interagir com os nativos, pedir informações ou localizar-se por placas, por exemplo. Agora, já imaginou ter esta sensação de isolamento mesmo vivendo em seu próprio país? A princípio, construir este tipo de raciocínio parece estranho, sem nexo. Porém, a realidade do deficiente auditivo assemelha-se a essa situação. Nomenclaturas como “surdo-mudo” ou “portador de necessidades especiais”, não são mais utilizadas. A maneira correta de referir-se a pessoa com essa deficiência é surdo ou deficiente auditivo. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua oficial dos deficientes auditivos brasileiros, conforme sancionado por lei. O fato de a língua de sinais não ser universal, como qualquer outro idioma, torna seu aprendizado mais complexo. Outra questão que gera equívocos é a confusão entre os termos alfabeto datilológico, linguagem de sinais e escrita de sinais. O primeiro – alfabeto datilológico – serve para uma espécie de ato de soletrar, mas com as mãos. É utilizado para sinalizar tudo aquilo que ainda não possui, ou não tem sinal próprio definido - como nomes de pessoas, ruas ou filmes. A linguagem de sinais utiliza os sinais já definidos como forma de expressão, como laranja, casa, cachorro. Ainda sobre a linguagem de sinais, três aspectos são fundamentais para a comunicação: a configuração das mãos (a forma que a mão toma para sinalizar

Vânia Delapace mostra como soletrar o alfabeto datilológico

algo); o ponto de articulação (onde se deve colocar a mão para fazer o sinal, como em frente à cabeça, ou ao peito); o contexto (há sinais, como os referentes às palavras laranja e sábado, que são idênticos). Já a escrita de sinais é uma representação gráfica, que nos possibilita ler e escrever o que quisermos. As dificuldades que um surdo passa no dia a dia são muitas. Atos simples, como assistir a um jornal na TV, são desafios. Ananda Loiola, 18, acadêmica do curso de Letras - Libras da UFSC, nasceu deficiente auditiva. Porém, através do acompanhamento de fonoaudiólogos e especialistas em inclusão, foi alfabetizada em português e, posteriormente, em LIBRAS. Ananda declarou: “Sempre li muito em português. Mas, mesmo assim, não consigo entender completamente as le-

as Nett o

(190 3-1 977 ), p Feira promove troca de livros oeta t Foto|Acervo da Biblioteca Municipal

Por Tatiane Bispo

radici onalista são-borjense.

Nas edições anteriores a troca de livros despertou a atenção da população.

Dificilmente refletimos sobre a quantia de papel que desperdiçamos todos os dias. De acordo com o Instituto Akatu, ONG que trabalha em prol do consumo consciente, cada tonelada de papel produzido representa a derrubada de 12 árvores, além do gasto de 540 mil litros de água. Já que o consumo sustentável é a regra, existe uma forma de cultivar o hábito de leitura de volumes sem

gendas da TV ou de filmes. Comunico-me muito melhor com outro surdo do que com um ouvinte, pois ele compartilha das mesmas dificuldades, temos a mesma cultura. O ouvinte muitas vezes não entende que minha condição é diferente”. Quando perguntada sobre o que mais deseja em sua vida, a estudante respondeu que as limitações começam já dentro do ambiente familiar. Um grande desejo seu é de que toda sua família aprendesse LIBRAS. Segundo Ananda, a impossibilidade de comunicar-se com muitos familiares faz com que ela mal conheça alguns deles e a sensação de solidão vem como conseqüência disto. Buscando apresentar um pouco desse mundo do deficiente auditivo, a edição deste ano da Feira do Livro terá um espaço reservado à contação de histórias e a uma mini-oficina de alfabeto datilológico. A atração será coordenada por Vânia Delapace, responsável pelo atendimento educacional especializado a deficientes auditivos do Centro de Atendimentos Múltiplos (CAM) de São Borja, e acontece nos dias 25 de outubro, às 14h30, e 26, às 9h, no Espaço da Biblioteca da Feira.

que isso resulte em quedas de mais árvores. Uma das maneiras de evitar o desperdício de papel é trocar os livros após a leitura. Pois é: aqueles tomos empoeirados na estante ou esquecidos nos armários podem, através do projeto “Banca de Troca” desenvolvido pela equipe da Biblioteca Municipal Getúlio Vargas, desocupar espaço e serem lidos por mais pessoas. Promo-

ver a leitura entre os moradores de São Borja, contribuir para a difusão do conhecimento por meio de estímulo ao ato de ler, reduzir os gastos e preservar o meio ambiente são alguns dos objetivos da equipe da Biblioteca com a implantação do projeto. A banca é um espaço em que leitores de todas as idades podem trocar um livro que já leram por outro que desejam ler. O público infantil, curiosamente, sabe da importância desse tipo de atitude, já que, segundo Cristiane de Quevedo, agente da biblioteca, as crianças foram as que mais procuraram a banca de troca na Feira do Livro ano passado. Talvez sequer tenham ideia de como os livros são produzidos, mas pelo simples ato de passar adiante os volumes já lidos, estão colaborando com a preservação do meio-ambiente. “Reutilizando os livros, prolongamos o seu tempo de vida dos volumes e sensibilizamos a comunidade, ao mesmo tempo, desenvolvemos na população o valor de partilha”, afirma Cristiane.


Projeto PELC (Programa de

Sacola Cultural Diversos títulos que podem fazer parte das sacolas culturais.

Tapete Mágico O tapete que estará no chão da Feira.

Projeto Autor Presente

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Onde

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Onde

Teatro da Feira, quarta-feira, dia 24/10, a partir das 14h.

Haverá um tapete no chão da Feira na quarta-feira, 24/10, e quinta-feira, dia 25/10.

Onde

Estande da Biblioteca na Feira do Livro, quarta-feira, dia 24/10, a partir das 16h.

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Projetos

Esporte e Lazer.) Apresentação de dança do Projeto.

Apresentação dos alunos da oficina de dança promovida pelo PELC. Serão apresentadas várias músicas, dentre elas: Addicted to you – Shakira; Some a like you – Adele; e Judas – Lady Gaga.

Alunas do Magistério do CESB, estarão fantasiadas de personagens de histórias infantis trazendo as crianças para o tapete, incentivando-as a conhecer e ler os livros.

Um bate-papo sobre produção literária entre escritores e estudantes. As escritoras que participarão são: Mikita Cabelleira, autora de “A força das Perucas” e Maria Izabel Scalco, que escreveu “Era uma vez um Poeta. Estande da 35ª CRE na Feira do Livro, quarta-feira, dia 24/10, às 11h.

Na descoberta de novos talentos. O objetivo é oportunizar e mostrar que todos podem dançar, o que não pode é ficar parado.

As sacolas ficam nos bairros por 2 meses. Após isso, os presidentes precisam levar os livros de volta à Biblioteca, para sair de lá com novas obras.

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As artes plásticas e o Magistério Estadual

A história de São Borja através da fotografia Alunos do Ensino médio em contato com a história e com a comunidade.

Memória em foco II: Retratos da Cultura Árabe em são Borja A segunda edição do evento aconteceu em junho, no Instituto Federal Farroupilha.

Orgulho de ser Missioneiro: exposição fotográfica

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Exposição de fotografias registradas por alunos do Ensino Médio das Escolas Estaduais de São Borja, cujo objetivo é reconhecer aspectos importantes da história são-borjense.

Exposição de fotos sobre a Imigração Árabe e a presença marcante dessa cultura em São Borja. A exposição é fruto de uma mostra cultural que, em junho deste ano, foi organizada no IFF de São Borja.

Onde

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A professora de dança Vanelise Munró procura trabalhar com a técnica da “dança livre”, para que seus alunos tenham contato com os mais diversos estilos de dança.

Obras com técnica de Óleo sobre a tela e Arte Francesa serão apresentadas na exposição. Quadro: Inês Piantá.

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Exposições

Entrega de sacolas de livros a presidentes de bairros da cidade. Cada sacola será preenchida por obras de diversos gêneros. O intuito é atingir pessoas dos mais diversos pontos da cidade e trazer mais leitores à biblioteca.

Mikita Cabelleira e Maria Izabel Scalco, que estarão participando do projeto.

Exposição de obras das professoras do magistério público estadual, Magali Menegon e Inês Piantá, que durante muitos anos realizam trabalhos com artes visuais na cidade.

Onde

Espaço de exposições da Feira do Livro, quarta-feira, dia 24/10, das 9h às 22h.

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em como a criatividade e a sensibilidade de um educador, também prospera no seu lado criativo, sensível e que é capaz de produzir belos trabalhos.

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A leveza e a complexidade da técnica de Arte Francesa, feita pela professora Magali; e a precisão da técnica de pintura a óleo sobre a tela, realizada pela professora Inês.

Durante a feira, no estande da Biblioteca, onde ficará a banca de troca de livros. Você pode levar seu livro e troca por outro.

Estande da 35ª CRE na Feira do Livro, quarta-feira, dia 24/10, às 9h.

Na criatividade e a paciência com que os alunos que participam do projeto tratam o público infantil.

Todo ano a Biblioteca Municipal Getulio Vargas procura trazer um projeto novo para Feira em parceria com alunos do CESB.

Espaço de exposições da Feira do Livro, quinta-feira, dia 25/10, das 9h às 22h.

na aproximação entre as escolas e as comunidades, proporcionada pelo trabalho de pesquisa e investigação dos alunos ao registrarem as fotografias.

na adaptação para o acesso a cegos. Na edição de junho, a exposição teve, além de imagens, legendas em braile, audiodescrição e interpretação em libras.

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Detalhes, mudanças e curiosidades sobre a Cidade.

Os relatos orais de histórias sobre a comunidade árabe, obtidos pelos alunos que colaboraram na organização da exposição.

Em como os escritores de São Borja sempre se mostram dispostos a conversar e divulgar seu trabalho na cidade.

A Sessão de autógrafos com o Secretário de Educação do RS, José Clóvis de Azevedo, no estande da 35ª CRE.

A foto “Na lida”, de Otaviano Caldas, que recebeu o primeiro lugar no Concurso. Exposição das fotos escolhidas no concurso de fotografia da 1ª Semana de Cultura Missioneira. O concurso foi promovido pela Secretaria de Turismo, Cultura e Eventos da cidade.

Espaço de exposições da Feira do Livro, sábado, dia 27/10, das 9h às 22h. em como as fotografias são representativas ao mostrar a identidade missioneira a partir da conexão de espaço e pessoas.

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A foto deTaylize dos Santos, cujo título revela que “Ao longo dos anos se renova o orgulho de ser Missioneiro”.


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