Senso Incomum 014 - março 2013

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ARTE: Beatrice Bonami Rosa

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JORNAL‐LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO UFU ANO 03 Nº 14 MARÇO ‐ ABRIL/2013


EDITORIAL

VOZES

O MEC está nos avaliando bem? Falta pesquisa estudantil na EaD Neimar Alves

Avaliar é necessário. Qualquer tipo de projeto ou trabalho precisa ser analisado nos seus méritos, erros, falhas, conquistas, perdas, objetivos alcançados e não alcançados. A questão problemática é quando temos de fazer essa análise de algo tão grande, amplo e complexo como o ensino superior público do país. A atual prova do ENADE, que é uma parte importante do sistema de avaliação do MEC, vem causando divergências e polêmicas pelo Brasil inteiro. Estudantes de vários cursos, de várias regiões do país boicotam a prova como protesto ao atual método do Ministério da Educação de checar a qualidade das graduações. Esse tipo de contestação do movimento estudantil tem ganhado repercussão e tem trazido o debate mesmo que de forma superficial, mas não tem se mostrado a melhor ferramenta de crítica ao exame e ao processo de avaliação. É uma forma válida de protesto, mas suas consequências, por muitas vezes, são preocupantes e acabam por piorar a situação dos cursos. É preciso partir para ações mais propositivas. As universidades devem ser avaliadas sim, ainda mais quando falamos de instituições públicas que

utilizam verba do Estado. O dinheiro investido em uma instituição federal é público e, portanto, tudo feito com ele deve envolver prestação de contas com a sociedade, mas é importante que essa avaliação tenha o objetivo de constatar os reais problemas e tentar melhorálos, não apenas punir as faculdades que não consigam bom resultado. É importante que o governo, no caso das universidades federais, analise a fundo as falhas e as dificuldades dos cursos que estão se saindo mal nas avaliações e tente auxiliá-los da melhor maneira possível. É essencial uma política que não vise apenas a punir ou premiar, mas que vise um real diálogo com as instituições com o fim de construir universidades mais bem-estruturadas e de qualidade. Políticas que realmente possam deixar as autoridades cientes das reais questões problemáticas e que tragam soluções e investimentos, não apenas punições. É preciso debater, discutir e analisar o assunto. É necessário realmente trazer essa pauta para o meio acadêmico. A universidade não é uma criança que precisa de castigo ou de presentes, ela precisa de estrutura e de suporte para que possa corrigir seus erros e evoluir.

As experiências práticas no desenvolvimento de pesquisas são imprescindíveis para aperfeiçoar os estudos aplicados em classe e os trabalhos agregam conhecimento tanto à academia quanto à formação profissional dos docentes e discentes envolvidos. A invetigação científica nasce da inquietação, carece de novas respostas e conceitos ou reafirma pensamentos existentes. A formação, em qualquer nível de ensino, exige a prática prévia, pois os futuros profissionais serão os responsáveis pela aplicação na sociedade dos conhecimentos adquiridos e, por consequência, cai por terra o falso pensamento de que pesquisas devem ser feita apenas pelos que almejam a carreira acadêmica. Uma das modalidades de ensino, que vem se popularizando nos últimos anos, é a educação a distância. Regulamentada no País em 1996, permanece em fase de consolidação e peca por não receber incentivos consideráveis para o desenvolvimento de estudos científicos no âmbito das universidades. Por se tratar de um processo de ensino-aprendizagem em que aluno e professor não permanecem juntos no mesmo espaço, há uma ingênua impressão de que as orientações seriam prejudicadas e os trabalhos falhariam. Ledo engano, estudos adaptados a esse ritmo de trabalho podem ser desenvolvidos por docentes e discentes, mesmo que a distância, como já ocorre com sucesso, com o ensino. A problemática maior está na liberação de verbas para a construção de laboratórios nos pólos de EaD que permitam aos alunos um espaço extraclasse fora do horário de aula e com a supervisão de profissionais capacitados. O governo federal demonstrou preocupação em relação às pesquisas sobre EaD, mas falha ao não incentivá-las dentro da própria educação a distância. Em setembro de 2002, por exemplo, o Ministério da Educação (MEC) sinalizou a criação do

Programa de Apoio à Pesquisa em Educação a Distância (Paped). Projetos de mestrado ou doutorado, cujos temas fossem relacionados à educação a distância e envolvessem a produção de materiais didáticos multimídia para transmissão via internet, poderiam concorrer a um fomento federal. Pouco adiantou. A boa proposta governamental de incentivo à aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) à educação simplesmente estagnou. Segundo informações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), os últimos editais do Paped datam do ano de 2005. A pesquisa é força-motriz das universidades e, para que mais de dez mil estudantes à distância da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) exerçam atividades de pesquisa, são necessários infraestrutura adequada, laboratórios, fomento e estímulo docente. Não é o que se tem notoriamente observado na EaD. Enquanto há um forte investimento em ensino de qualidade, a pesquisa é inexistente. São ofertadas mais de 750 bolsas de iniciação científica aos alunos da modalidade presencial e nenhuma aos de educação à distância. Além de ensino de qualidade, é necessário que os alunos estejam aptos à pesquisa. Na EaD, implica um programa de trabalho engendrado de forma que o contato indireto entre professor e aluno não comprometa o resultado final. Estudos à distância requerem disciplina por parte dos estudantes e avaliações que confiram com responsabilidade a qualidade dos estudos. Enquanto quase 1,6 mil trabalhos completos de pesquisas desenvolvidas na UFU, na modalidade presencial, foram publicados em anais de eventos científicos nacionais, em 2011, temos o incômodo placar de que nenhuma pesquisa realizada pela educação a distância foi sequer divulgada. Repito, nenhuma...

Arte capa: Beatrice Bonami Rosa / Edição de opinião: Caio Nunes e Verônica Jellifes / Revisão: Mirna Tonus e Ana Spannenberg / Monitoria: Arthur Franco / Finalização: Danielle Buiatti

Igor Miranda, Isabel Gonçalves, Lívia Rodrigues, Lucas Bonon, Lucas Tondini, Mariana Marques, Monique França

cultura e lazer Editores-chefe: Emílio Lins e Hugo de Sousa Sub-editores: Guilherme Gonçalves, Isabela Lavor, Laura Junqueira, Laura Máximo, Luísa Salviano, Marilia Coelho, Priscila Mendonça, Laura Máximo, Luísa Salviano, Marília Coelho, Taís Bittencourt e Túlio Calegari

Bazinga! Gabriel Zuccolotto

Expediente Reitor: Elmiro Resende Santos / Diretor da FACED: Marcelo Soares Pereira da Silva / Coordenador do curso de Jornalismo: Gerson de Sousa / Professores responsáveis: Mirna Tonus, Christiane Pitanga, Marcelo Marques e Ana Spannenberg / Edição de capa: Carlos Gabriel e Thiago Lima / Edição de fotografia e arte: Isabella Carvalho e Isley Borges /

atualidades Editores-chefe: Neimar Alves e Raissa Dantas Sub-editores: Ana Luiza Honma, Debora Bringsken,

ciência e tecnologia Editores-chefe: Leticia França e Juliana Gaspar Sub-editores: Aline Pires, Daniela Ávila, Júnior Barbosa, Kênia Leal, Letícia Daniela, Michelle Júnia


TRANSPORTE

Pesquisadores propõem metrô de superfície Projeto estuda viabilidade de instalação do Veículo Leve sobre Trilhos em Uberlândia ARTE: Isabella Carvalho

Guilherme Gonçalves Repórter

Os ônibus de transporte público lotados podem estar com os dias contados. Pesquisadores da UFU, em parceria com o governo municipal, estudam a viabilidade de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos em Uberlândia. Os recursos para a pesquisa foram disponibilizados por emenda parlamentar do deputado federal Weliton Prado (PT/MG). A equipe envolvida é formada por professores dos cursos de Geografia, Arquitetura e Urbanismo, Engenharias Civil e Elétrica, Economia, Administração e Biologia. De acordo com o professor Fernando Garrefa, do curso de Arquitetura e Urbanismo, a expectativa pela implantação do VLT é antiga. “É um tipo de transporte que nós entendemos como sustentável, não tem poluição sonora e atmosférica, além de transportar mais passageiros”, explica. O estudo ainda está no começo, foram feitas visitas técnicas em cidades do Brasil e da Europa que já possuem o sistema e agora é iniciada a modelagem, processo no qual se verificarão os maiores fluxos de passageiros. Mesmo não tendo os resultados

Possível trajeto do metrô de superfície em Uberlândia, partindo do campus Glória

finalizados, o professor Garrefa acredita que o Corredor da Avenida João Naves de Ávila seja o principal fluxo de pessoas em Uberlândia; o Campus Glória da UFU também seria contemplado. “O veículo partiria do Glória, passaria pela João Naves, no local onde hoje circulam os ônibus, e iria até o Terminal Central”, planeja. A instalação do trem não significa que o sistema de ônibus será extinto na região contemplada. “Ele pegará um fluxo maior e redistribuirá em rotas de

grande densidade. Os ônibus internos aos bairros continuariam a existir”, explica o pesquisador. Se confirmado o trajeto, o Campus Santa Mônica também seria beneficiado, bem como seus estudantes. Para Natália Melani, aluna do curso de Biotecnologia, com aulas nos camp i Umuarama e Santa Mônica, a obra facilitará muito a mobilidade. “É uma ideia muito interessante, porque as linhas que passam entre esses camp i sempre

estão congestionadas, além de a viagem ficar mais rápida”, opina. Os custos da obra também são analisados com cuidado. O professor de economia Fábio Terra afirma que os gastos não são baixos e podem afetar diretamente na viabilidade do projeto. “O valor de implantação e manutenção do VLT é muito alto, não é tão alto quanto o do metrô, mas ainda assim um grande investimento precisa ser feito”, pondera. A aplicação de grande quantia de dinheiro para o funcionamento do veículo afeta diretamente o preço das passagens. Para mantê-las a um preço considerado justo, Terra acredita que algumas alternativas deverão ser estudadas. “Precisaríamos ampliar o número de usuários do transporte público, a tecnologia usada teria que ser avançada para que o gasto energético seja pequeno. Além disso, alguma subvenção estatal precisaria acontecer”. Se viabilizada, a obra seria feita com recursos federais, mas parcerias com as esferas estaduais e municipais não são descartadas. Os resultados da pesquisa devem ser divulgados para as autoridades e população em setembro deste ano.

Equipe da UFU desenvolve robôs com Lego Estudantes de Mecânica produzem robô que pode auxiliar diversas atividades humanas

Isabel Gonçalves Repórter

O inventor Ole Kirk Christiansen fundiu duas palavras em dinamarquês para obter o nome Lego: "leg godt", que significa "brincar bem". As peças de montar são mundialmente famosas entre crianças e adultos e comemoram 80 anos de existência em 2014. As inúmeras combinações garantiram à empresa a posição de líder mundial no segmento de brinquedos infantis. O que muita gente não imagina é que, além de passatempo, as peças também são usadas em grandes institutos de educação, para que os alunos se aperfeiçoem em robótica, design e mecatrônica. Na UFU, estudantes dos cursos de graduação da Faculdade de

Engenharia Mecânica (FEMEC) desenvolvem projetos de robótica móvel utilizando os kits educacionais de montar. Orientados pelo professor Rogério Sales, a Equipe de Desenvolvimento em Robótica Móvel (EDROM) abrange especialidades como: mecânica; elétrica e eletrônica; computação; cinemática; dinâmica; controle e otimização; inteligência artificial; projeto assistido por computador; biologia e geologia, entre outras. Segundo Sales, os alunos utilizam as peças para montar e desenvolver todo o robô, desde a mecânica até o controle e programação, para que, assim, ele cumpra determinada tarefa. Os projetos, além de serem aplicados em competições, possibilitam também o desenvolvimento de dispositivos robóticos que podem ajudar as pessoas em atividades como

exploração de regiões de difícil acesso e na localização e salvamento de pessoas em regiões atingidas por catástrofes naturais, como terremotos e maremotos, entre outras funções sociais. O grupo já conquistou resultados importantes em grandes eventos. Em 2012 foi campeã na Competição Latino Americana de Robôs, na qual já havia conquistado o vicecampeonato em 2010 e 2011. Na Competição Brasileira de Robótica, em 2011, ficou em primeiro lugar. Para a estudante de Engenharia Mecatrônica Carolina Verri, os meses investidos na transformação dos kits em robôs valem à pena. “Uma grande felicidade é ver o seu trabalho cumprido. Os bons resultados compensam”, relata.

FOTO: Visa Freepik


INOVAÇÃO

Tecnologia auxilia treinamento de taekwondo Sistema de captura de movimentos e medição de dor permite aumentar rendimento de competidores

Neimar Alves

Um gesto bem planejado pode ser a diferença entre a vitória e a derrota de um atleta. Pesquisadores nas áreas de Educação Física, Ciência da Computação e Engenharias Biomédica e Elétrica estudam a relação entre os movimentos de lutadores de artes marciais - em especial o taekwondo -, problemas musculares originados na prática de exercícios físicos e o desempenho dos atletas. O projeto multidisciplinar desenvolvido na UFU aperfeiçoa os golpes dos esportistas, minimizando as dores que podem levar à ocorrência de lesões. A pesquisa é fomentada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e executada por sete professores com o auxílio de alunos voluntários e bolsistas de graduação e pós-graduação. Adriano Pereira, professor de Engenharia Biomédica e coordenador da pesquisa, propôs o projeto para que atletas e treinadores tenham suporte tecnológico adequado para otimizarem as técnicas esportivas, pois, segundo ele, há baixo incentivo em esportes amadores no Brasil. O grupo de voluntários inclui esportistas recrutados em uma academia especializada da cidade de Uberlândia, MG. O bicampeão brasileiro Adriano Júnior pratica taekwondo há oito anos e integra a pesquisa com vistas a atingir

uma boa colocação no Aberto do Rio de Janeiro, no final de março. “É um campeonato nacional que vale pontos para o ranking de classificação na seletiva de entrada na Seleção Brasileira do ano que vem”, explica. Os treinamentos acontecem cinco vezes por semana e as aferições da pesquisa auxiliam na melhora do desempenho do atleta por meio de um plano de condicionamento físico formulado por especialistas. “A falta de flexibilidade sempre foi o maior índice de lesão no taekwondo e ocasiona distensão muscular”, alerta o técnico da equipe, Ridenes de Lima. Segundo ele, as regiões anterior e posterior da coxa são as mais prejudicadas. O doutorando em Engenharia Elétrica Daniel Fonseca é o responsável pela criação e aperfeiçoamento do software de Adriano Pereira captura de imagem usado na pesquisa. Ele propõe a distribuição do programa a outros interessados a um custo menor que os similares estrangeiros. “As técnicas utilizadas poderão ser empregadas na construção de um sistema nacional com custo menor que os importados e mais acessível”, afirma. O sistema empregado na pesquisa é genérico e pode ser aplicado em praticamente todos os esportes e em outras áreas como na reabilitação de movimentos por meio da fisioterapia e terapia ocupacional.

"Estamos mudando o conhecimento das outras pessoas"

Expectativas Adriano Andrade, professor de Engenharia Biomédica e integrante do projeto, afirma que a pesquisa atende a interesses nacionais. “O Brasil vai sediar eventos importantes, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e os órgãos de fomento estão incentivando as pesquisas nessa área, principalmente visando ao desenvolvimento de tecnologia nacional para apoiar nossos atletas”, destaca. Ainda segundo o docente, o treinamento de alto desempenho exige muito do corpo e, se os movimentos não forem feitos de maneira adequada, sem um plano de treinamento e alimentação, podem gerar uma sobrecarga no corpo acarretando em dor, e o rendimento do competidor é reduzido. “A tecnologia pode ser uma grande aliada em auxiliar o atleta a chegar ao seu ponto ótimo, aquele que é o limite do corpo e o limite da física”, explica. No decorrer da pesquisa, ocorre a incorporação dos resultados obtidos ao treino dos atletas participantes. Segundo Pereira, além da tecnologia de ponta, pioneira na região, há a contribuição fundamental dos recursos humanos. “A ponta da lança é o treinador, se ele não conseguir seguir

o que os dados estão mostrando e não incentivar a equipe, o projeto cai por terra”, esclarece. Além dos docentes, estão envolvidos na pesquisa multidisciplinar cinco estudantes de graduação e pós-graduação, oito atletas e o técnico da equipe. “Estamos mudando o conhecimento das outras pessoas, se um treinador que atua há muitos anos vê possibilidade de melhorias e aceita as ideias de pesquisadores que não entendem nada das regras de taekwondo, demonstra humildade”, ressalva. A coleta e a tabulação dos dados ocorrem a cada mês e, de posse dos cálculos das variáveis, os participantes da pesquisa debatem os resultados para encaminhar treinamentos adequados a cada atleta como a correção de erros gestuais. Para o doutor em Ciência do Esporte Silvio dos Santos, a individualidade biológica é fator preponderante ao traçar planos de exercício físico. “Há um substrato científico por trás de cada sessão de treinamento, estamos tentando implementar isso para que a gente atinja um nível mais elevado rapidamente”, assinala. Trabalhos acadêmicos com base na pesquisa estão sendo submetidos a congressos nacionais e a periódicos como maneira de divulgar os avanços encontrados. Para mais informações, acesse o endereço: sensoincomumufu.blogspot.com.br

O sistema pode ser aplicado em quase todos esportes

FOTOS: Neimar Alves. ARTE: Isabella Carvalho

Repórter


ATITUDE

Campanha “Não ao Desperdício” alerta alunos Iniciativa de estudante tenta reduzir o alto índice de descarte de alimentos na UFU

Kênia Leal

FOTO: Priscila Costa

Repórter

Campanha de conscientização sobre o desperdício de alimentos está sendo realizada no Restaurante Universitário (RU) do Campus Santa Mônica da UFU. Em média, são descartados 247 quilos de alimentos por dia. O número de pessoas que se alimentam no RU não é sempre o mesmo; em razão dessa oscilação, ocorre desperdício de parte da comida produzida diariamente. O restaurante oferece à comunidade acadêmica duas refeições diárias, que são servidas em bandejas pelos funcionários, e os alunos, na maioria das vezes, não consomem tudo. A iniciativa partiu da aluna do mestrado em Análise, Planejamento e Gestão Ambiental no Programa de Pós-Graduação em Geografia na UFU, Cyntia Andrade Arantes, que confessa ter se surpreendido com os alimentos desperdiçados no Restaurante Universitário. “Para ser sincera, quando tive a ideia de promover a campanha, não tinha noção de que as sobras do RU eram tão significativas, pensava em números menores, mas me surpreendi com a quantidade dei-

Quantidde de alimentos deixados nas bandejas surpreende: mais de 200 quilos desperdiçados por dia

xada nas bandejas”, relata. Para a campanha, foram distribuídos, no espaço do restaurante, cartazes com dados e informações sobre o desperdício de alimento no Brasil e no mundo. Uma faixa grande também informa aos usuários do RU a quantidade de comida desperdiçada no dia anterior e quantas pessoas poderiam ser alimentadas com esse número. De acordo com Cyntia, a intenção é sensibilizar os usuários, conscientizar e

provocar uma mudança de comportamento e atitude.

Outros problemas O índice de sobras nas bandejas é alto, mas não é o único transtorno. Como o número de pessoas que se alimentam no restaurante é variável, parte do alimento produzido não é consumida. A nutricionista Marília Neves Santos, que atua no RU, explica: “É feito um con-

trole, coletamos diariamente os dados e lançamos em uma tabela, e assim conseguimos ter uma dimensão de quantas pessoas se alimentam no almoço e no jantar e a variação por dia da semana, mas não é possível ter um número exato”. O alimento que resta nas panelas dos restaurantes é próprio para o consumo, mas, de acordo com a Lei 3.071, de 1916, quem doa uma refeição pronta assume os riscos, caso venha a fazer mal a alguém. A legislação prevê detenção de até cinco anos para o responsável, mesmo que a comida seja doada em boas condições e venha a estragar por deficiência no armazenamento ou manipulação de quem a recebe. Por esse motivo, o excedente é descartado e não doado. A responsável pela campanha no RU propõe algumas soluções para o restaurante. “Apesar da lei ferrenha, existe o chamado Banco de Alimentos, que recolhe os que podem ser reaproveitados e leva para instituições de caridade. Para os alimentos que não podem ser aproveitados, ou seja, aqueles que são descartados na bandeja, há a opção de compostagem, que é a produção de adubo orgânico”, explica.

ENADE provoca questionamentos na comunidade Método de avaliação do MEC gera polêmicas e críticas entre professores e alunos da UFU Emílio Lins Repórter

Para avaliar os cursos de ensino superior em todo o país, o Ministério da Educação aplica o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), em todos os cursos de faculdades públicas e particulares do Brasil. Na comunidade acadêmica, muitos vêem a prova como uma forma equivocada de classificar as instituições e os estudantes sobre conhecimentos específicos da sua área. O assunto ganhou destaque nos últimos meses com a notícia de que o curso de Ciências Sociais da UFU poderia ser proibido de oferecer novas vagas para o ingresso devido à baixa avaliação feita pelo MEC. O coordenador da graduação Rodrigo Barbosa ex-

plica que nunca houve ameaça definitiva do corte de vagas. “A partir do momento em que a universidade se comprometesse a reverter essa situação, assinando um termo por escrito e aprovando um plano de melhorias, essa suspensão seria cancelada. Foi só uma advertência”, explica o professor. A baixa avaliação recebida se deve ao boicote da prova do ENADE, feito por 100% dos discentes. Marcos Campos, estudante de Ciências Sociais e membro do Centro Acadêmico, afirma que o exame é falho. “Esse sistema vem, muito mais, para controlar as universidades federais. Para premiar ou punir”, avalia. Ele acredita que o ideal seria o MEC averiguar os motivos pelos quais um curso recebeu uma nota ruim e auxiliálo, não simplesmente puni-lo por isso.

Contraponto

O Boicote ao ENADE é uma campanha do Fó‐ rum Nacional de Federações e Executivas de Curso (FENEX)

Do lado oposto dessa questão na UFU, o curso de Relações Internacionais, recentemente, conseguiu nota máxima na avaliação do governo. O coordenador José Rubens acredita que o resultado reflete a qualidade da graduação. “A prova é rica no sentido de apontar falhas, méritos e potencialidades”, reitera. A professora Marisa Lomônaco, próreitora de Graduação da UFU, entende que é preciso responsabilidade na questão do boicote. “A manifestação tem que ser contextualizada, os estudantes têm que saber o que estão fazendo, as conseqüências do que fazem, porque elas podem não ser favoráveis. Eu penso que os estudantes das Ciências Sociais têm essa clareza”, opina.


FOTOS: Carlos Gabriel Ferreira, Isley Borges, Raissa Dantas e Divulgação

Carlos Gabriel Ferreira Repórter

Em meio aos ideais materialistas e diante da luta pela igualdade e liberdade, placas são erguidas com ordens de protesto pelo voto universal. No Reino Unido, ainda no final do século XIX, mulheres reúnem-se nas avenidas para propor à política daquela época o direito de brandir a sua opinião nas decisões do povo. Com as mãos calejadas e aos gritos, questionam as funções sociais dos indivíduos na era moderna. Suas pautas são diversas, incluindo mudanças burocráticas no trabalho e no divórcio. O movimento feminino surge com a reivindicação pela democracia, que reconhece a profundidade da diversidade humana. A sua primeira onda teve início no século retrasado, mas as suas ações continuam até hoje. O feminismo é a ação política das mulheres, que, enquanto sujeitos históricos, buscam a transformação de suas atuais condições sociais, de modo que compreendem combates coletivos distintos, com diferentes significados e contornos. Este movimento é uma luta universal heterogênea, de todxs que reivindicam, desde o passado, uma série de direitos universais, como, por exemplo, a democracia. Ao contrário do que são colocadas, de modo estereotipado, tais ações surgem como uma forma de democratizar a sociedade, e não para elevar o perfil feminino acima do masculino. Apesar de o feminismo estar presente historicamente em território brasileiro desde 1907, quando uma greve de costureiras por melhores condições de trabalho deflagrou uma série de protestos a favor da jornada de oito horas, o movimento ganhou novos ares ao enfrentar o regime militar nas décadas passadas. As mulheres contribuíram para a luta em prol da anistia e iniciaram uma nova crítica ao governo vigente, na tentativa de resgatar a democracia da nação. Suas pautas abrangeram desde o direito dos homens à licença paternidade até a reivindicação contra o aumento do custo de vida, indo às ruas pelos seus direitos e modificando as normas tradicionais de que se limitavam ao âmbito privado do lar, desconstruindo a segregação sexual. Atualmente, o contexto da luta das mulheres no país é distinto e complexo, mas não menos importante do que nas décadas passadas. Várias perspectivas e correntes teóricas se espalharam a fim de representar cada pessoa que se sentisse em poder da opressão de gêneros, combatendo o ideário superior masculino. O feminismo deixa de combater apenas a diferença entre os sexos, para abarcar também em sua luta a questão das comunidades indígenas, a democratização dos meios de comunicação, a invisibilidade lésbica, o direito ao aborto, o que torna o movimento fragmentado.

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São elas que protestam e reinvindicam É o que destaca Carolina Gasparetto Barin, integrante do Coletivo Nacional de Mulheres, da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (ENECOS), ao relatar que existem várias organizações que planejam a ação das mulheres diariamente no país, mas que cada uma delas defende uma política. “Todas essas são bandeiras que carregam diversos elementos em comum entre si e essa divisão das pautas feministas dificulta a compreensão de que o feminismo é algo que faz parte de uma luta por uma transformação do mundo”, reforça a estudante.

O feminismo em movimento O meio acadêmico é uma forma de organizar reivindicações sociais que partem para a reflexão e crítica a algum ideário vigente na sociedade. No início de 2011 um representante da polícia canadense ofereceu uma palestra em uma universidade de Toronto relatando que as mulheres deveriam evitar se vestir como prostitutas para não serem vítimas de abusos sexuais. A afirmação do oficial deu origem ao Slut Walk, que, no Brasil, recebeu o nome de Marcha das Vadias. Em Uberlândia, a vontade de construir o movimento surgiu no ano passado, em reuniões auto-organizadas por universitárias. “As mulheres estiveram isoladas por muito tempo, então é tempo de aglutinar as forças para reivindicar nossos direitos”, é o que relata Flávia Franco, estudante de História da UFU e uma das diversas organizadoras da marcha. Em média, 30 componentes se reúnem semanalmente para debaterem assuntos pertinentes ao universo feminista, como a violência, o direito ao corpo, as etnias e os padrões de beleza, o que permite a diversidade de perspectivas.


de março

seus direitos pela igualdade de gêneros

Para que a ação em Uberlândia também afetasse a comunidade externa à universidade, as militantes entraram em contato com a Delegacia Adjunta da Mulher e a Associação Homossexual de Ajuda Mútua (SHAMA), a fim de convidá-las a compor a construção do movimento de igualdade de gêneros. “O movimento é composto por todos e todas, e não apenas por mulheres que se sentem oprimidas em nossa sociedade, mas também daqueles que se reconhecem na luta diária pela democracia”, completa Flávia. A Marcha das Vadias aconteceu em Uberlândia no dia 9 de março pela primeira vez, concentrando-se na Praça Clarimundo Carneiro, na Avenida Afonso Pena. Até o ápice da caminhada no centro da cidade no sábado, atividades foram realizadas ao longo do mês de fevereiro. Mulheres e homens discutiram os princípios do movimento social e confeccionaram cartazes, promovendo não apenas a visibilidade nas ruas, mas também a edificação ideológica e crítica da marcha na cidade, demonstrando sua importância.

A flor que nasce em solo árido “Loucas de indignação/ Mulheres vão à luta/ Loucas por querer respeito/ Mulheres vão à luta/ Loucas pelas prisões e opressões/ Loucas pelas prisões e opressões machistas/ Loucas.../ Mulheres: Força/ Seguiremos em Luta”. É assim que as meninas do coletivo Flor de Cacto se apresentam ao público. Beatriz Zocal, Geisyane Ferreira, Nathália Neiva, Núbia Tortelli e Mayara Biasi, dos cursos de Medicina, Psicologia e História da UFU, organizam-se desde 2012 para formar um coletivo que pensa acerca do modo como a mulher é tratada na

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contemporaneidade, a fim de elaborar críticas e reflexões por meio de intervenções no espaço acadêmico. “A flor de cacto nasce em um lugar totalmente inóspito para se tornar algo bonito, representando a força de luta”, justifica Beatriz. De acordo com o coletivo, é preciso entender que o machismo é anterior ao capitalismo. Desde a Grécia Antiga, a mulher era destinada à esfera privada da sociedade, isto é, suas funções limitavam-se às casas, não as incluíam como sujeitos na história e com a possibilidade de mudanças; enquanto os homens, por sua vez, estavam alocados ao espaço público de discussão e comunicação. Esta ideologia acaba por apresentar indícios nos dias de hoje e toma novas formas no modo de operação da economia. É o que explica Nathália, ao relatar que é necessário romper com o sistema vigente, que se apropria da imagem feminina, transformando-a em mercadoria em capas de revista e propagandas de cosméticos. Como indaga a aluna: “por que a gente tem que ficar restrita ao lar? É justamente para não se criar lavanderias públicas, creches públicas, para que continuemos restritas em nossos supostos lugares”. As intervenções e discussões com xs demais alunxs da universidade partem de diversas pautas, como a violência e o aborto, de modo a compartilhar diferentes articulações para tentar transformar a atual situação em uma cultura livre de preconceitos. Como relatam as estudantes, também é preciso combater o ideário de que a igualdade de gêneros já foi conquistada, pois, em média, 15 mil mulheres ainda são estupradas anualmente no país. “É preciso romper com o ideia de que, pra sermos bem-sucedidas, precisamos achar um príncipe”, afirma Mayara. As reuniões do coletivo acontecem às quartas-feiras, às 18 horas, nos campi Santa Mônica e Umuarama. Para mais informações sobre o grupo e como participar, basta acessar a página do Facebook das meninas: www.facebook.com/flor.decacto.52. Todxs estão convidadxs para a discussão e reflexão acerca das pautas feministas.

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Todxs, convidadxs? Quê? Estranhou a presença das letras “x” no lugar da colocação do “o” nas palavras em plural? Pois bem, é desta forma que surge a neutralidade linguística: uma forma de proporcionar maior igualdade também na escrita. A Proposta com Inclusão de Gênero (PCIG) pretende limitar ou eliminar a hegemonia masculina nas determinações do plural, de modo que o idioma se torne o espelho da sociedade que o utiliza. O emprego de “@”, “x” ou “æ” em seus mais diferentes termos designa a possibilidade de inserir o respeito colocado na significação das palavras. Todxs estão incluídxs nas formas mais justas de se expressar.

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LIMITAÇÕES

UFU enfrenta problemas de infraestrutura Infiltrações, alagamentos e equipamentos defeituosos são recorrentes nos edifícios

FOTO: Junior Barbosa

Parte do muro principal do Campus Santa Mônica despencou após forte chuva em fevereiro Junior Barbosa Repórter

A estrutura física da UFU vem passando por diversas obras nos últimos anos. Com a implantação do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) pelo Governo Federal, a instituição recebeu grandes quantias de verba pública para a construção de novos blocos, adequação e reformas. Porém, tantos recursos e investimentos não impedem que problemas de infraestrutura sejam encontrados e frequentemente identificados pela comunidade acadêmica. Com a chegada das chuvas, os transtornos aumentam de forma considerável. Uma turma do curso de

Psicologia da UFU sofreu com goteiras e infiltrações no dia 12 de dezembro de 2012, em uma sala do bloco 8C, no Campus Umuarama. Wanessa Cristina, aluna que presenciou o incidente, relata: “Quando eu cheguei à sala, já tinha um balde aparando uma goteira. Com o passar do tempo, a chuva foi ficando mais forte e partes do teto de gesso começaram a cair”. Passados mais de dois meses, a sala continua com o teto sem forro. No dia 2 de fevereiro de 2013, após uma forte chuva, parte de um dos muros do Campus Santa Mônica cedeu com a força da água. O bloco 3D também foi afetado pelo temporal, sofrendo um alagamento. Samara Castro, aluna de Direito, conta que inundações no local ocorrem frequentemente. Afirma que

havia pessoas no bloco durante o incidente. “De repente, tínhamos cachoeiras nas escadas e o elevador que existe dentro do bloco estava cheio de água e barro também”, lembra. Antes desse imprevisto, bueiros haviam sido instalados nas entradas do prédio para o escoamento da água, mas não foram suficientes. “Precisamos de uma estrutura que garanta a segurança da comunidade acadêmica”, opina Samara. No Campus Pontal, os problemas se repetem e os discentes reclamam da falta de espaço físico. A ausência de um restaurante universitário e de um prédio apropriado para a biblioteca é a principal queixa dos estudantes. O aluno do curso de Geografia, Emerson Oliveira, conta que a biblioteca está instalada em um espaço provisório e inadequado para estudos, devido ao excesso de barulho. O local já foi, inclusive, inundado. O estudante ainda relata o problema com elevadores que não funcionam. Sobre os problemas encontrados nos prédios recém-inaugurados da instituição, o diretor de Infraestrutura e professor do curso de Engenharia Civil

da UFU, Antônio Carlos dos Santos, garante que os blocos são seguros e estão em condições de receber os estudantes. “A inauguração significa, para nós, o seguinte: dá para usar, mas, no momento da inauguração, nós temos uma vistoria preliminar, onde os fiscais da universidade e da prefeitura andam pelo prédio, identificam erros e coisas que não estão boas”, explica. De acordo com o diretor, a responsabilidade de fazer reparos nas construções, quando necessário, é da construtora, sem custos adicionais para a universidade. Santos diz que o processo de fiscalização pode demorar a acontecer. Segundo ele, isso é natural, pois são consideradas questões climáticas e é dado um prazo de utilização da obra para a verificação de possíveis problemas. Nos blocos mais antigos e que já tiveram seus contratos encerrados com as construtoras, o diretor afirma que a responsabilidade de realizar reparos e manutenções é da Diretoria de Logística, e devem ser feitos mediante solicitações. “A solicitação vai para a diretoria e é encaminhada para as divisões de manutenção”, explica Santos.

Entre em contato com a Prefeitura Universitária para solicitar reparos ou manutenção em equipamentos, salas de aula ou relatar problemas. A Prefeitura Universitária fica no bloco da Reitoria, no Campus Santa Mônica: Diretoria de Logística Wesley Marques da Silva Email: secretaria@prefe.ufu.br Telefone: (34) 3239-4358

Diretoria de Infraestrutura Antônio Carlos dos Santos E-mail: diretoria@dirob.ufu.br Telefone: (34) 3239- 4107

Centros Acadêmicos aguardam espaço físico Hugo de Sousa Repórter

Desde 2008, a UFU criou 17 novos cursos de graduação através do REUNI, que integra o Plano de Desenvolvimento da Educação. Com a expansão, a universidade passa por problemas de infraestrutura e não oferece espaço físico para todos os Centros Acadêmicos (CAs) e Diretórios Acadêmicos (DAs). São 12 os que não possuem sala permanente: Biomedicina, Biotecnologia, Dança, Engenharia Mecatrônica, Fisioterapia, Gestão da Informação, Gestão da Saúde

Ambiental, Jornalismo, Nutrição, Sistema de Informação, Tradução e Zootecnia. O primeiro passo para conseguir uma sala permanente é entrar em contato com a Prefeitura do Campus. O setor possui o mapeamento e faz a gestão de todo o espaço físico da universidade. O DA de Sistemas de Informação (DASI) existe há dois anos e meio e é um dos oito que não têm sede. Gustavo Templar, assessor geral do DASI, considera que a sede é necessária, já que o curso possui cerca de 360 alunos, e que a UFU trata esse problema com descaso. “Nós criamos o DA e pedimos apoio para

os coordenadores, para o diretor e nada foi feito. Um ano depois, criaram o Programa de Ensino Tutorial (PET) do curso e, em uma semana, eles já tinham sala”, desabafa.

Redistribuição Interna O diretor de Assuntos Estudantis da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da UFU, professor Leonardo Barbosa, propõe uma solução. O contrato de aluguel de uma cantina localizada em frente ao bloco 1B está vencendo e os locatários não têm interesse na renovação. “Pretendemos transformar a cantina numa

extensão do Restaurante Universitário (RU) do Campus Santa Mônica. Esvaziaremos o bloco 1N, transformando todo o bloco em área de CAs e DAs”, explica. Isso resolveria o problema de espaço físico dos centros e diretórios acadêmicos sem salas, enquanto a universidade não cresce mais. “A nossa alternativa é a construção e ocupação do Campus Glória. Vários cursos serão deslocados para lá e teremos novas salas no Campus Santa Mônica. Em um ano, provavelmente, teremos condições de alocar todos os CAs e DAs sem sala”, informa Barbosa.


FOTO: Lívia Machado

CRIAÇÃO COLETIVA

Lívia Machado e Raissa Dantas Repórteres

Carcará incentiva população na produção artística.

Carcará: nova proposta cultural para a cidade

Agentes culturais se unem e organizam cena uberlandense para difundir produções e eventos locais Carcará é o novo Coletivo de Cultura da cidade de Uberlândia. Da convergência de artistas, produtores e apreciadores, nasceu, há cerca de quatro meses, o grupo. A ideia central é a troca de vivências e de criações autorais entre os próprios colaboradores, que, além de produzirem coletivamente, socializam os conteúdos entre parceiros do meio. A busca em contribuir para o cenário cultural da cidade reuniu diversos grupos organizados, como Arte Fosca, Bicicletada, Fora do Eixo, Rompendo Amarras, entre outros. Para Rafael Vaz, músico e produtor ligado ao Fora do Eixo, o Carcará é importante catalisador de cultura para os envolvidos, pois “todo ser humano é artista, só precisa de um incentivo”. O companheiro de produção João Carlos Duarte complementa que a mudança no cenário político de Uberlândia está vinculada ao desejo de contribuir de maneira inovadora, e pontua: “Como a mudança sempre traz coisas novas, nós também queremos ser algo novo”. Até o momento foram realizados quatro eventos, nos bairros Santa Mônica e Fundinho. Além de reunir diversos setores da cultura de Uberlândia, o Carcará prioriza incentivar a

produção autoral e democratizar esses produtos culturais locais em regiões marginalizadas da cidade. Para Bruna Cristine Gomes, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e membro do Rompendo Amarras, “o maior desafio do grupo é levar os trabalhos para quem não tem acesso, para as periferias”. Duarte complementa que a ideia do Carcará é realizar os próximos eventos no bairro Morumbi, inovando nas atividades, como sarau gastronômico e oficina circense. O nome Carcará é referência à canção de João do Vale e José Cândido. Bruna explica que a alusão é feita porque “o pássaro ‘pega, mata e come’, tendo ligação tanto com o habitat, Cerrado, quanto com a interpretação da música, de que também no cenário cultural é necessário o fazer, no nosso caso, coletivamente”. Para a estudante, a importância

da articulação entre os coletivos deve se ampliar também para entidades estudantis da UFU, incentivando as diversas organizações para “reivindicar e ocupar os espaços públicos, como os da UFU”. A maioria do público é composta por universitários como João Pedro Figueiredo, que cursa Psicologia na UFU. O estudante, que aprecia música e artes em geral, explica que se interessa por acontecimentos como os realizados pelo Carcará, por serem em “espaços abertos para as pessoas mostrarem sua arte”. Ele complementa que “iniciativas como essas são importantes, porque modificam a cena local de cultura”. O primeiro espaço de construção aconteceu na república Maloca, no bairro Santa Mônica, reunindo estudantes e integrantes do Arte Fosca, que ministraram uma oficina de grafite no local. O segundo foi um pouco diferente: cerca de 50 pessoas se reuniram na Casa Verde para produzir música e poesia. O sarau contou

“Todo ser humano é artista, só precisa de um incentivo”

com um “palco aberto”, onde os presentes compartilhavam a sua arte ou tinham o primeiro contato com um instrumento musical. Já a terceira construção coletiva mobilizou uma quantidade menor de participantes, pois foi realizada em uma terça-feira chuvosa. Nela, o Cine Casa Verde fomentou um debate com base no filme francês “La Belle Verte”, com direito a pipoca e refrigerante. Os eventos não têm nenhum fim lucrativo. De acordo com o estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Marcos Campos de Oliveira, o dinheiro arrecadado com ações entre os membros do Coletivo tem apenas o intuito de produzir material para divulgação e ajudar os colaboradores. “A intenção é cobrar um valor simbólico de R$5 em alguns espaços e fazer rifas, apenas para manter a autonomia do grupo”, explica Marcos. O Coletivo de Cultura Carcará se reúne periodicamente em encontros idealizados à partir do grupo no Facebook. Os próximos eventos serão abertos à contribuição do público com ideias ou participação na produção. As discussões estão no grupo Cultura Uberlândia: goo.gl/5CwLd.


DIVERSÃO E ARTE

Do ambiente universitário para os picadeiros Alunos de Educação Física da UFU conseguem bolsas para ingressar na Escola Nacional de Circo FOTO: Olavo Rocha Muniz

Mariana Molina Repórter

Rio de Janeiro, Praça da Bandeira, nº 4. Ponto tradicional de armação de picadeiros no século XIX, e terreno da Escola Nacional de Circo (ENC) há 30 anos. Considerado legítimo espaço cultural e pedagógico direcionado à arte circense, cria meios de preservar e difundir a tradição milenar dessa arte, com processos seletivos para ingresso de novos estudantes todos os anos. Embora localizada no Rio de Janeiro, a ENC, mantida pela Fundação Nacional de Arte (Funarte), está muito próxima dos estudantes de Uberlândia. Alguns alunos do curso de Educação Física da UFU têm contato direto com a arte ministrada na Escola, participando de seus cursos e processos seletivos. Mariana Matos, aluna da Educação Física da UFU, está matriculada no curso básico de um ano na ENC. Ela conta que se interessou por essa arte quando assistiu a um musical gospel da Broadway, “Todo Olho Verá”. Por dançar no Centro de Cultura e Arte Cristã da Igreja Sal da Terra (CCAC), órgão que apresentou o musical para Uberlândia e passou a oferecer curso

dança e musculação. Aline Peres, estudante de Educação Física da UFU, também teve a oportunidade de fazer parte da rotina do Circo e comenta que seu maior aprendizado está relacionado à construção de vida, futuro e caráter. "A história do circo foi construída através de famílias que reuniam gerações de artistas que cresiam e aprendiam juntos", afirma a aluna formada na primeira turma de bolsistas da ENC. Mariana Matos é aluna de Educação Física e destaca os benefícios adquiridos com o treino com Tecido

de Tecido Acrobático, Mariana teve a oportunidade de receber uma bolsa para começar a praticar a modalidade na cidade. Após se informar sobre a existência da ENC por meio da internet, Mariana se candidatou para uma vaga e hoje faz parte da terceira turma do curso básico. Além da possibilidade de ter contato com outras formas de arte, ela comenta sobre os benefícios que a prática proporcionou para sua vida. “A partir do momento em que comecei a treinar Tecido, ganhei

resistência, melhorei meu condicionamento físico, a coordenação motora e o tônus muscular”. Após o fim do curso básico, a expectativa de Mariana é continuar na ENC para finalizar o curso regular. Além disso, ela deseja viajar trabalhando com o Circo para acumular o máximo de conhecimento possível antes de voltar para Uberlândia. A aluna pretende terminar a faculdade e abrir uma academia que ofereça aulas de modalidades circenses,

A visão institucional De acordo com o cubano Alexís González, professor da ENC, o contato de jovens com o circo é importante, pois tal arte prepara o corpo e a mente para os desafios da vida, uma vez que o curso oferece não só formação física, mas também acadêmica. Embora a arte circense não seja muito valorizada no Brasil, González ressalta: “O circo foi uma das primeiras artes que surgiram. Todos os gêneros artísticos saíram do picadeiro, por isso é tão importante”.

Patinação ganha força em Uberlândia FOTO: Isabella Carvalho

Isabella Carvalho de Paula

organização de horários, eventos e locais para futuros encontros”, opina. Atualmente, reúne mais de 450 integrantes no Facebook, em um grupo chamado Sabiá Inline – Patins Parque do Sabiá Uberlândia. Os encontros são marcados na rede social, e os participantes interessados devem levar seu próprio equipamento.

Repórter

A patinação surgiu em meados do século XVIII, com o inglês Jean-Joseph Merlin e, por volta de 1820, ganhou visibilidade. Hoje, o esporte reúne cada vez mais adeptos. Um exemplo é o Sabiá Inline, grupo que surgiu com amigos que queriam praticar alguma atividade físicaem Uberlândia. O servidor público Leonardo Santos é membro desde a criação e conta que diversas pessoas os viam patinando pelo Parque do Sabiá e se interessavam. “Aos poucos, o grupo foi crescendo e tomando forma. Decidimos, então, ‘organizar a casa’ e definir algumas funções, para administrar melhor o próprio grupo e manter as coisas sob ordem”, explica. O Sabiá Inline, apesar de seu pouco tempo de existência, já tem diversas conquistas. Além de possuir

Problemas Integrantes do Sabiá Inline se reúnem em qualquer período do dia

identidade e logomarca próprias, o grupo conseguiu, juntamente com a Fundação Uberlandense de Turismo, Esporte e Lazer (FUTEL), uma quadra dentro do Parque do Sabiá para a prática do esporte e um depósito para materiais, onde mantém seu escritório.

O integrante Wender Vecchi diz que andava de patins quando criança e voltou a praticar nos últimos meses. Ele afirma que, com o Sabiá Inline o esporte ganhou mais visibilidade na cidade. “Com certeza, a criação do grupo alavancou a patinação em Uberlândia, pois passou a ter uma

Há poucas estruturas específicas para a prática da patinação em Uberlândia. Nas pistas e rampas construídas pela Prefeitura, falta manutenção. Em sua modalidade mais agressiva, lugares como a Pista do Azul e a Pista do Jardim América, além de escadarias, bancos de praças e corrimões, são utilizados informalmente pelos patinadores, denunciam os praticantes.


Thiago Pethit, uma estrela cadente O rap é compromisso, não é viagem Caio Nunes

Isley Borges

Quando ouço Pethit tenho a impressão de estar adentrando um cabaré francês dos anos 1940. Cortinas enormes de veludo vermelho. Mulheres louríssimas com espartilhos negros coladíssimos e sensuais. Muita gente conversando, fumando e bebendo. Ele tem algo de teatral que incomoda. E não incomoda porque é ruim, mas porque é profundamente sincero, assim como seu álbum, o "Estrela decadente". A obra foi lançada em agosto do último ano e conta com nove faixas. Cida Moreira e Mallu Magalhães são estrelas parceiras. Metalinguagem, obscurantismo, cotidiano, pessimismo, percalços amorosos são as principais temáticas das músicas. O paulista, que iniciou carreira em 2008, quer mostrar para o mundo como é difícil ser estrela. “Estrela decadente” é mais ousado que “Berlin, Texas”, primeiro disco do artista. É mais sentimental, geracional,

plural. Thiago “quer se perder por aí”, como canta em “Dandy darling”, quer “dançar com você, e basta só você querer”, como recita em “Pas de deux”, quer se rimar com Mallu, como em “Perto do fim”, quer dar até logo a um novo amor, como deixa claro em “So long, new love”. Quer tudo isso porque, quem sabe, é estrela decadente e quer ficar só com o seu choro, com a sua dor. Para ele, nada serve de consolo. Minha preferida é a oitava faixa, “Devil in me”. Um Mick Jagger satânico maquinado pelo cantor. A canção foi inspirada, claramente, em “Sympathy for the devil”. Outra que merece destaque é “Surabaya Johnny”. A segunda maior e mais importante cidade da Indonésia veio com uma pegada de blues incrível e com a aspereza da voz de Cida Moreira, figura que já há algum tempo não vemos nos meios de comunicação. Pethit esteve no Festival Grito Rock, que ocorreu entre os dias 8 e 10 de fevereiro, em São Paulo. Convidou Lobão, Cida Moreira e Michelli Provensi para estar com ele no palco. A apresentação teve como base as músicas do “Estrela decadente” e muitos amigos meus que estavam presentes disseram que foi um show de fazer chorar. É por essas e outras que acredito na estrela de Pethit e no seu trabalho de criação.

Há dez anos o rap nacional perdia um de seus maiores pilares, Sabotage. O homem que transformava o rap brasileiro em algo novo, e o levava além das fronteiras das favelas, morreu a tiros, perto de sua casa na Zona Sul de São Paulo. Sabota fez parte de uma era de ouro do rap nacional, juntamente com Racionais MC’s e RZO. Sabota fez samba e trouxe banda para a produção das tracks, além de participar de filmes. Nas palavras de Rincon Sapiência, um dos nomes do rap nacional, “tudo que era tido como ‘subversivo’ de se fazer no rap foi quebrado por ele”. Mas, mesmo assim, não fugia da “precariedade” do rap brasileiro, que é muito diferente do superproduzido rap americano. Em sua marcante, porém curta trajetória, Sabota lançou apenas um álbum: "Rap é compromisso", de 2001, que conta com participações importantes, como a de Helião (RZO) e Black Alien. O CD foi um marco na história do rap. O trabalho traz a essência do que era o som de Sabotage. Um dos primeiros MC’s brasileiros a empregar

uma linguagem gangsta, ele fazia uso intenso de gírias e muitas referências a sua “quebrada”, a Zona Sul. O registro traz canções que viraram verdadeiros hinos para o rap nacional. A faixa que carrega o mesmo nome do álbum produziu um bordão para os rappers brasileiros, “O rap é compromisso, não é viagem”. A faixa traz outra característica das músicas de Sabotage, que são registros “retalhados”. Muitas vezes, a letra da música não trata do mesmo tema do refrão. Pode soar estranho, mas isso só tornava seu trabalho mais único. Segundo um dos grandes pilares do rap nacional, Kamau, “eu não me atreveria a pensar em escrever um som dele”. Outros hinos do gueto que esse álbum traz são “Um bom lugar” e “Respeito é pra quem tem”. “País da fome” talvez seja a música mais visceral do registro, ao tratar da morte do irmão de Sabotage. As outras faixas do disco são “No Brooklin”, “Cocaína”, “Na Zona Sul”, “A cultura”, “Incentivando o som” e “Cantando pro santo”. Que o rap é compromisso, Sabota sabia bem. E seu disco de estreia só nos faz pensar a que patamar chegaria o rap nacional caso ele ainda estivesse vivo.

O aspecto obscuro de uma mente brilhante Lucas Tondini

O ano é 1968. Leon, um garoto de 10 anos, fracassa em uma tentativa de suicídio por enforcamento. Pouco depois, sua mãe, sentindo-se sufocada pelo marido, decide mudar de vida e vai morar na Grécia, deixando seus filhos com o pai. Enquanto seu irmão faz de tudo para conseguir viver em uma família normal (tudo o que sua família não era), Leon revira a casa dos seus vizinhos que estão viajando, conta mentiras extremamente inteligentes para seu pai, finge ter um problema de visão para justificar suas notas ruins na escola, enfrenta sem pudor sua professora e manipula contra todos. Léa, sua amiga da mesma idade, foi abandonada pelo pai e decide ajudar Leon a roubar di-

nheiro para comprar uma passagem para a Grécia, onde sua mãe está. "Não sou eu! Eu juro", dirigido e produzido por Phillipe Falardeau, retrata uma infância perturbada, tema já abordado em muitos filmes, mas não de uma maneira tão surpreendente. A genialidade de Leon impressiona a cada cena e faz com que um garoto atentado e mentiroso se torne, ao mesmo tempo, querido pelo público. Recheado por filosóficas e ricas frases, a obra encanta por trabalhar temas preocupantes de uma maneira natural com uma pitada de humor. O amor entre duas crianças, que, apesar da pouca idade, já têm maturidade suficiente para lidar com as mais adversas situações da vida, quebra o

ritmo dos acontecimentos do filme. Por outro lado, o romance vivido por Leon e Léa sana a ausência da figura feminina e masculina de maior importância durante a infância. A trilha sonora é outra grande sacada do diretor. As músicas parecem ter sido feitas para o longa e entram nas partes mais tocantes. O roteiro do filme é impecável durante toda a trama, mas o momento-auge está no grand finale. Com falas emocionantes do ator que interpreta Leon, a trama consegue surpreender ainda mais o espectador, encenando um desfecho inesperado se comparado aos dos “contos de fada” a que costumamos assistir na grande maioria dos filmes feitos com crianças.


Quem traz no corpo a marca:

Marias!

"Maria, Maria, Mistura a dor e a alegria Mas é preciso ter manha, É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida..." Milton Nascimento

Créditos: Isabella Carvalho Isley Borges Letícia França Priscila Costa Raissa Dantas


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