JornalCana 260 (Setembro/2015)

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LOGÍSTICA & TRANSPORTES

Setembro 2015

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Brasil, país do etanol e da falta de atenção para sua grande riqueza País carece de logística favorável para melhor escoamento do produto aos portos e para o abastecimento interno JARY MÉRCIO, DE MARINGÁ, PR

O Brasil é o maior exportador mundial de etanol, biocombustível que vem sendo adotado mais e mais a cada ano no planeta como alternativa sustentável ao combustível fóssil, recurso finito e de alto teor poluente. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), só o estado de São Paulo originou em 2015 2,13 bilhões de litros de etanol anidro, tendo como destino além do próprio estado, outros 19 estados brasileiros. Em relação ao etanol hidratado, foram 3,22 bilhões de litros para consumo próprio e destinados para mais 13 estados. As exportações de etanol tiveram como principais destinos em 2015 os Estados Unidos, a China, a Coreia do Sul, o Japão, a Holanda e a Colômbia. Também importam o produto do Brasil, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), países, como: Nigéria, Gana, Suíça, Taiwan, Cingapura, Angola e México, entre outros. Essa contribuição do País ao mundo – sem contar, naturalmente, o próprio mercado

interno brasileiro – é apoiada no tripé plantio/produção/logística, cada um desses momentos com seus problemas próprios e bem específicos, mas é na logística que as dificuldades e a falta de uma visão estratégica orgânica por parte do poder público ficam mais evidentes – e que o barato começa a sair caro. O uso predominante do transporte rodoviário em detrimento de uma maior utilização de hidrovias e alcooldutos provoca transtornos de toda ordem desde a partida

das áreas de plantio da cana e usinas de produção de etanol até a chegada nos centros de distribuição ou nos portos, com inúmeros gargalos e consequente encarecimento de custos. É de se notar, ainda, que o transporte rodoviário da cana e do etanol no País ainda é feito por caminhões, treminhões e carretastanque abastecidas de óleo diesel de matriz petrolífera, o que não deixa de ser um contrassenso. As alternativas de transporte por hidrovias e dutos esbarram em políticas

públicas que ainda não contemplam esses modais com a atenção e o sentido de urgência que não somente o etanol, mas grande parte da produção agrícola do País faz há muito por merecer, pela valiosa contribuição que prestam ao Brasil e ao mundo, o que faz do agronegócio, não por acaso, e apesar da falta de infraestrutura para o escoamento de seus produtos, o único setor com números permanentemente favoráveis na balança comercial brasileira. O grande alcoolduto de mais de 1.300 km que deverá percorrer os estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e que poderá transportar 21 milhões de m³ de etanol/ano e possibilitar o armazenamento de mais de 800 milhões de litros tem sua operação prevista a partir de 2018, mas hoje está empacado, entre outros motivos, por problemas judiciais de diretores e exdiretores da Petrobras, Odebrecht e Camargo Corrêa, integrantes do consórcio encarregado de construir o duto. Nada que não possa ser resolvido, mas por enquanto as obras estão paradas. Quanto ao transporte hidroviário, a principal hidrovia a servir o setor do etanol é a Tietê-Paraná. Mas o baixo nível das águas do Tietê à jusante de Nova Avanhandava, devido à prioridade dada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) à produção de energia hidrelétrica, impede a navegabilidade do rio, situação que talvez venha a ser resolvida só no início do ano que vem, com o período das chuvas.


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