JornalCana 259 (Agosto/2015)

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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

Agosto 2015

MUITO A MELHORAR! Crise atingiu toda a cadeia produtiva sucroenergética mas não intimidou os investimentos em tecnologias WELLINGTON B ERNARDES, DE

R IBEIRÃO PRETO (SP)

Ativo que movimenta a economia sucroenergética, o material vegetal escolhido para produzir nos canaviais tem importância estratégia na geração de produtos e no desempenho produtivo frente às condições ambientais adversas. Com demanda diversificada, que exige da cana-de-açúcar qualidades que agreguem em produção de fibras e sacarose, empresas e institutos ligados ao melhoramento da cana continuam a investir em tecnologia para a cultura, cientes da contínua demanda por novos cultivares. A redução de investimentos atingiu toda a cadeia produtiva do etanol, açúcar e energia, porém não intimidou os investimentos em novas tecnologias. Um exemplo é o desenvolvimento pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) de variedades selecionadas para a mecanização, motivada pela diminuição de renovação de canaviais pelas usinas. “Hoje, o principal fator que impacta a longevidade e produtividade do canavial é o plantio e a colheita mecânica. As variedades desenvolvidas por nós e selecionadas sob mecanização desde o seu nascimento, são inteiramente adaptadas aos novos tempos da cana-de-açúcar”, explica

Edelclaiton Daros: continuidade nos investimentos é importante

Hugo Campos, gerente de melhoramento genético do CTC. Segundo explica Edelclaiton Daros, professor da Universidade Federal do Paraná e integrante da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa), a continuidade nos investimentos é importante, pois prepara o setor para superar possíveis entraves no futuro. “O investimento em melhoramento reflete no desempenho econômico do setor. Um exemplo é o caso da RB72454, a variedade mais cultivada no mundo, que infelizmente foi suscetível à ferrugem alaranjada, no ano de 2010. Imagine se não houvesse uma substituta a altura, no caso a RB867515, qual seria o prejuízo para o setor? Penso que este exemplo justifica o investimento e o retorno financeiro para o setor”.

Cana chega com mais tecnologia ao campo Novas variedades são planejadas e testadas continuamente. Em sincronia com a demanda da cadeia produtiva, profissionais de melhoramento trabalham observando os atuais entraves e planejando possíveis gargalos no futuro. Segundo Edelclation Daros, pesquisador da Ridesa, um entrave para utilizar todo o potencial das variedades está no manejo agrícola dos canaviais. Estudos nas áreas de manejo de solo e adubação de crua são na lista do professor como necessárias para otimizar a produtividade. “Dificilmente sairemos dos atuais patamares produtivos sem o alinhamento com um manejo mais afinado, que possibilite o desenvolvimento pleno da variedade”. Mesmo pressionada pelas condições agrícolas, a cana-de-açúcar está em constante melhoramento. Cientes da necessidade de variedades com maturação cada vez mais precoce, programas focam no lançamento destes materiais. “Em breve lançaremos comercialmente variedades muito precoces, que entregam às usinas e aos fornecedores maior produtividade, maior longevidade e tolerância a doenças”, afirma

Hugo Campos: necessidade de variedades precoces para início da safra é um grande desafio

Hugo Campos do CTC. Para Daros, esta é uma resposta ao atual panorama produtivo, estável ou até em declínio há algumas safras. “Como os ambientes de produção na maioria das unidades apresentam média ou baixa produtividade, a necessidade de variedades precoces, para início da safra, é um grande desafio em nosso segmento”, confirma Daros. Não limitados a estes desafios, grupos investem em pesquisa para trazer à cana o mais recente da tecnologia vegetal. Ferramenta importante para reposicionar a produtividade da cultura, a biotecnologia já está na pauta do setor. “Durante os próximos anos deve chegar ao mercado o resultado de nossas pesquisas com o uso da biotecnologia: canas-de-açúcar com tecnologia pioneira, brasileira e com alto investimento de qualidade para o produtor”, explica Campos. A bioenergia já aparece na pesquisa por novas variedades. Atividade que demanda uma cana com maior teor de fibra, o desafio é trazer materiais versáteis, que possam atender ao diversificado mix industrial. “Temos atualmente cinco universidades ligadas a Ridesa pesquisando nesta linha. Podemos adiantar que avançamos muito na

obtenção de cana biomassa, com foco na cana Tipo I, aquela com fibra até 19% e pol cana (sacarose aparente) entre 10 a 13%”, observa Edelclaiton. No Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) são realizados trabalhos relacionados ao desenvolvimento de variedades específicas para a produção de etanol de segunda geração. As variedades têm que apresentar um perfil de alta produção de biomassa (alta produtividade) e elevado teor de fibra de açúcares. “Estas variedades de biomassa ou cana energia como alguns a denominam (veja mais sobre a cana energia nas páginas 40 e 41), deverão ter um elevado teor de fibra associado a alta produção de biomassa e longevidade. Para tanto, alguns programas tem utilizado genótipos da espécie Saccharum spontaneum, para atingir este fim, já com relativo sucesso. Nos próximos anos deveremos ter várias ações nesta direção, e com certeza, um grupo de variedades colocadas à disposição pelos programas de melhoramento que também tem caminhado nesta direção”, explica Marcos Landell, pesquisador do IAC. (WB)


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