A Parada 9

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a parada nĂşmero 09 belo horizonte 2010


a culpa não é sua

“se a idéia de utopia está aderida à existência mesma das vanguardas, ainda há futuro para a vanguarda? como falar de poesia com o fim da utopia?” essas são algumas questões que ana caetano, carlos augusto novais, luciano cortez e marcelo dolabela levantam na abertura do encarte de cacograma, cd de poesia lançado em 2001. eles acreditavam que o fim das vanguardas históricas teria marcado também o fim da utopia e o esvaziamento da tríade negar/superar/instaurar gerando um impasse entre a poesia e a lógica de mercado. para manter-se, a poesia (assim como as demais artes) precisou criar estratégias para se atualizar e circular. se agora não é possível ou necessário negar/superar/instaurar, podemos revisitar e recombinar processos, poéticas, estéticas, etc. essas estratégias são traduzidas em procedimentos lingüísticos como a paródia, a repetição, a citação e a remontagem.

no que diz respeito à sobrevivência das publicações, existem ainda algumas saídas possíveis, que costumam se apoiar no baixo custo de certos tipos de produção e/ou na iniciativa coletiva, que pode assumir a forma de plaquetes, zines, jornais, revistas, etc. em geral, os recursos vêm do rateio entre os autores, da captação de patrocínios ou através do estado, por meio de leis de incentivo – é o caso deste jornal. desde 2007, o a parada produziu 5 edições com o apoio da lei municipal de incentivo à cultura de belo horizonte. porém, apesar de todas as vantagens, a lei não tem mecanismos para garantir a continuidade de seus projetos. não aprovado no último edital, o a parada fica à deriva, sem previsão de retorno num momento em que a gestão cultural de belo horizonte vem sendo duramente questionada. mas fique tranqüilo: a culpa não é sua. os editores jornal.a.parada@gmail.com

p edição daniel bilac, daniel prudente e valquíria rabelo textos álvaro andrade garcia, carlos augusto novais, daniel bilac, daniel prudente, diOli, jennefee hahn, jovino machado, lu peixoto, marcelo dolabela, valquíria rabelo e wilmar silva revisão textual flávia almeida capa e ilustrações daniel bilac artistas convidados alessandro lima e mário alex rosa projeto gráfico daniel bilac e valquíria rabelo [excelente projetos] tiragem 3.500 exemplares

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mai /

2010


“stars of track & field� lu peixoto uma estrela decadente despencou nos postes de eletricidade apagou toda a cidade deixou brilho & inveja no asfalto

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eu não sou feito de ouro daniel bilac

.1 estava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a banda passar: the sargent peppers lonely hearts club band caminhando e cantando she loves you yeah yeah yeah enquanto eu gritava - help!, i need somebody / eu sou a morsa e você dizia: só quero que você me aqueça nesse inverno,

.2 42 vezes seguidas seu rosto numa camiseta onde se lê: a poesia é incomunicável, take 2 e agora josé bebe com joão gostoso take three o rei da brincadeira é josé take four o rei da confusão é joão atenção 5 brinde faca, atenção 6 faca corte, atenção 7 corte sorte gota de sangue, moeda de cobre / deus me dê grana pro vale transporte

.3 uma coca-cola na mão o coração na outra; no último gole há 80% de saliva: agora eu era o herói e o meu sapato só falava inglês: all the stars are shinning no asfaltocéu da noite / deus, porque me abandonaste se sabias que eu fraco? se sabias que eu não era fred daphine velma salsicha scooby doo?

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manás wilmar silva cão raiva na boca cão raiva nos olho s cão raiva no nariz cão raiva nas orelha s cão raiva nas axila s cão raiva no umbigo cão raiva nas virilha s cão raiva no pau cães raivam no cu fuck you fuck you fuck you

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daniel prudente que eu antes fosse a baba de um sapo feio tremelicando perto de você me queria perto da cintura, olha eu não sirvo pra isso. todo dia você se limpa feito um esquilo e depois cochila mas um dia vou mijar em você e como era mesmo o corredor daquela casa? quente. você de novo. um cuspe zaz de um tiro espuma branco no olho esquerdo se eu ficar cego eu te mato seu lingüinha.

você voltou. você nem kiss.

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love story machine valquíria rabelo

flash foward

_ preciso ser honesto com você.

_ deixa uma marca em mim,

_ então seja. estou cansada dessas pausas no final de nossas falas, desses silêncios malditos em que você se debate. agora que você se decidiu, fale de uma vez, porque não há nada pior que saber pelas metades. também não vou fazer mais rodeios e acho que você vai ficar feliz com isso. o que é provável é que você não me entenda. você me vê pelos desvios.

disse deitada de bruços, com a voz abafada no travesseiro. mordi seu ombro esquerdo e _ preciso tomar um banho. levantei e fui até o banheiro, deixando suas pálpebras descansarem.

plano geral então eu estava na rua e disse à Júlia _ quero que você se vá. ela me examinou com seus olhos claros sempre ensopados, com cara de quem se surpreende; era encenação. Júlia já sabia o que estava prestes a acontecer, que a qualquer momento eu perderia minha paciência rala e diria cace seu rumo. justo eu que precisava procurar o meu:

mas eu não sou assim. só pego as coisas bem ditas, bem claras, apesar de sempre fazer cara de que compreendo e de pôr a mão no queixo. mas a verdade é que sou muito, muito burra. então você vai ter de me de dizer na lata também, sem pena. nessa hora, minha vontade foi de vendar os olhos dela e chamar mais nove homens para atirar junto comigo. assim, eu poderia dormir em paz, enquanto as lembranças tristes iriam parecer apenas cenas capturadas de uma lente desfocada. mas não havia nove homens, ou sequer alguém por perto,

e eu estava enxergando muito bem naquele dia. senti dó daquela figura magra que me encarava com seus olhos lacrimosos, à revelia de suas palavras. uma dó repulsiva. eu queria fugir e nesse momento me pareceu uma boa idéia. mas eu não poderia simplesmente correr, não seria eficaz. depois viriam os telefonemas em série, os recados na portaria, e eu estaria na mesma enrascada outra vez. que honestidade era aquela, enfim? fiz uma pausa, meio ansiosa meio dramática, e disse: _ é. preciso ser honesto. ela cruzou os braços e fez pose de quem não liga, mas as pontas dos dedos batiam no cotovelo. deixei as palavras se arrastando no ar, até que parássemos de evitar o eye contact. comecei a querer nunca ter começado esse papo. precisava achar o caminho de volta.

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mas eu estava entalado, até o pescoço, preso nessa pretensão estúpida de franqueza que não levaria a nada. sabotagem, pura sabotagem, pensava com a voz de Sean Connery, que provavelmente nunca disse essa frase, mas bem poderia ter dito. ah, James, se fosse tão simples. mas era. era tudo muito simples. _ ah, Júlia, se fosse tão simples. disse com uma voz de cinema noir. baforadas imaginárias de cigarro eram cuspidas de minha boca. a veneziana ziguezagueava meu rosto.

flash back I enquanto assistia à predisposição dramática de seu namorado, Júlia meditava se havia trancado a casa. parece estranho, em meio a um bate-boca mal resolvido, alguém pensar se girou ou não uma chave, até por-

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que certamente havia girado, não? tentava se lembrar e conseguia se ver nervosa fazendo a maçaneta lhe jurar que estava tudo bem. mas e se a casa estivesse escancarada? e se, ao invés de ter verificado várias e várias vezes, tivesse destrancado sem querer, em um dos seus check-up’s? então não sobraria sequer o rodapé dos quartos. levariam tudo, tudo, não lhe restaria nada. _ você é tudo o que eu tenho.

close-up I ah, os olhos de Júlia agora estavam mais chorosos que nunca e os meus começavam a ficar. me comovia com a cena toda, acreditando cada vez mais em meu papel. meu personagem era um homem de trinta e três anos, com olheiras terríveis e costas tortas. gostava de cerveja preta e de gritar bem alto em partidas de futebol.

mas, a sós com uma garota, preferia fazer o tipo sensível. bem verdade que o tipo sensível era minha real personalidade, enrustida por um ou outro motivo. no entanto, somos o que somos, não o que poderíamos ter sido. por exemplo, eu poderia ter sido um poeta ou um médico do exército da paz, mas eu era apenas um corretor imobiliário.

close-up II agora, o personagem de Júlia era muito mais complexo. acho que isso acontece com todas as meninas. elas são sempre meio problemáticas, meio depressivas, dizem tudo pelas metades e acabam fazendo as escolhas erradas. mas não era por isso que o personagem de Júlia era complexo: ela era complicadamente simples. enfim, ser tão simples complicava a sua vida. às vezes, se pudesse ser mais misteriosa, se bancasse uma heroína confusa e prostituída, as coisas seriam mais tranqüilas, não teria de se explicar a ninguém.


_ por que você fez isso comigo? _ porque sou confusa e prostituída;

eu deveria dizer tudo agora mas Júlia hesitou. era natural, porque nada bom iria sair dali.

_ não quero.

ela não perguntou e porque, se eu quisesse me exibir, teria de inventar cliente hotel imóvel. não havia viagem alguma e não havia mais trabalho. na véspera, havia sido demitido sem satisfações. receberia uma indenização, já que não tinha sido por justa causa. mas a causa, imagino, talvez fosse justa: eu era o pior de todos. não digo isso por modéstia, mas nunca tive tino para vendas. não sou simpático, não sei agradar os outros; não chamo uma parede descascada de decoração rústica.

plano detalhe

off

os dedos da mão de Júlia voltaram a bater ansiosos. agora não estavam sozinhos - minhas pálpebras tremiam.

mas não era a respeito disso que eu precisava ser honesto. era sobre outro assunto.

_ melhor a gente se sentar.

contracampo atrás do casal, uma televisão lcd de 12 prestações passava a versão remasterizada de Bonequinha de Luxo. Audrey Hepburn estava mais linda do que nunca, empunhando sua cigarrilha.

a questão era onde. na rua, se quiser uma cadeira e quem sabe uma mesa, você tem de pagar, beber/comer alguma coisa. a pão-duragem e a falta de sede me fizeram mentir.

ainda não havia abandonado seu gato Gato no meio de nova iorque. _ she's a girl who can't help anyone. not even herself.

subjetiva Júlia interrompeu os dedos no cotovelo e olhou para o alto. procurou não pensar, queria uma anestesia. _ e aí?

flash back II há vinte dias, falei com Júlia que iria para Vitória a trabalho. não dei mais detalhes porque

no entanto, me refiz do surto de sinceridade e tirei da manga um plano b. diria que tinha ido a Vitória coisa nenhuma, que meu emprego foi pelos ares, e tudo ficaria bem, porque Júlia jamais me abandonaria no meio de uma confissão. simplesmente adorava sinceridade.

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página 275: nem todos carlos augusto novais

I John Lennon deu um beijo em Yoko disseram: traição Reinaldo rebolou entre os zagueiros e o gol disseram: veado Pelé disse love love love para as criancinhas disseram: alienado Vinícius acendeu a chama de 1000 meninas disseram: maníaco Mário Lago escreveu o amor de Amélia disseram: machista Lupicínio cantou ela disse-me assim disseram: chauvinista Jim Morrison acendeu o fogo da dor do sim disseram: droga Cazuza visitou no improviso o Valparaíso disseram: morte Leminski lembrou os limites da língua disseram: fim

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II Chorou na última sessão de cinema disseram: infantil Comprou um vestido de veludo no verão disseram: insensata Fez luzes nos lindos cabelos disseram: escuridão Modelou o molde da modelo disseram: egoísta À noite, percorreu o Caminho de Santiago disseram: irracional Desfilou seus sonhos numa corda-bamba disseram: insegura

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III Guardou-se para quando o carnaval chegar disseram: dançou Pediu um beijo ardente a cada segundo disseram: obsceno Trancou sua tristeza aguardando por ela disseram: insensível Conversou com a vida a vida toda disseram: mudo Bebou e brindou na taça dos aflitos disseram: amargo Fez um livro de poesias pra ela disseram: marginal Brincou com o silêncio das palavras disseram: jogador

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IV Nem todos deram um beijo em Yoko Nem todos rebolaram entre os zagueiros e o gol Nem todos disseram love love love para as criancinhas Nem todos acenderam a chama de 1000 meninas Nem todos escreveram o amor de Amélia Nem todos cantaram ela disse-me assim Nem todos acenderam o fogo da dor do sim Nem todos visitaram no improviso o Valparaíso Nem todos lembraram os limites da língua Nem todos choraram na última sessão de cinema Nem todos compraram um vestido de veludo no verão Nem todos fizeram luzes nos lindos cabelos Nem todos modelaram o molde da modelo Nem todos, à noite, percorreram Caminho de Santiago Nem todos desfilaram os sonhos numa corda-bamba Nem todos se guardaram para quando o carnaval chegar Nem todos pediram um beijo ardente a cada segundo Nem todos trancaram a tristeza aguardando por ela Nem todos conversaram com a vida a vida toda Nem todos beberam e brindaram na taça dos aflitos Nem todos fizeram um livro de poesias pra ela Nem todos brincaram com o silêncio das palavras Nem todos

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jovino machado

meus amigos falam bem de mim 50% ĂŠ verdade meus inimigos falam mal de mim 50% ĂŠ mentira

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20 pepsi machine trembles does not give change nor gaze just opens huge mouth

pepsi machine รกlvaro andrade garcia


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a mรกquina de pepsi vibra ela nรฃo dรก troco nem fita os olhos apenas abre uma enorme boca

mรกquina de pepsi รกlvaro andrade garcia


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a letra escarlate (de mármore) marcelo dolabela

agente secreto x-9, rogai por nós auguste dupin, rogai por nós charlie chan, rogai por nós dick tracy, rogai por nós doutor fantástico, rogai por nós doutor watson, rogai por nós hercule poirot, rogai por nós james bond, rogai por nós mandrake, rogai por nós mata hari, rogai por nós miss marple, rogai por nós nero wolfe, rogai por nós padre brown, rogai por nós phillip rembrandt, rogai por nós sam spade, rogai por nós sherlock holmes, rogai por nós spirit, rogai por nós zadig, rogai por nós

agatha christie, rogai por nós alex raymond, rogai por nós arthur conan doyle, rogai por nós dashiell hammett, rogai por nós david goodis, rogai por nós edgar allan poe, rogai por nós edgar wallace, rogai por nós ellery queen, rogai por nós frederick forsyth, rogai por nós georges simenon, rogai por nós graham greene, rogai por nós ian fleming, rogai por nós john le carré, rogai por nós jorge luis borges, rogai por nós medeiros e albuquerque, rogai por nós patricia highsmith, rogai por nós raymond chandler, rogai por nós voltaire, rogai por nós

pois nestes banheiros, nestes bares, nestes corredores, nestas cozinhas, nestes elevadores, nestes estacionamentos, nestas escadas, nestas escadas rolantes, nestas galerias, nestas janelas, nestas lanchonetes, nestas lixeiras, nestas lojas, nestas mesas, nestes orelhões, nestas pilastras, nestes porões, nestas portas, nestas portarias, nestes quartos, nestas rampas, nestas salas, nestas sobrelojas, nestes textos, nestas varandas, nestas vitrinas, ninguém disca M para morrer.

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mem贸ria m谩rio alex rosa caixa de vidro, espelho e carimbo com pregos 18 x 10 x 10 cm 2005

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31 NICHTIGKEITEN eine Tages in jeweils 3 Sätzen

31 NULIDADES de um dia cada em 3 frases

jenni-fee han An Weinachten vor 24 Jahre kamen No Natal 24 anos atras os meus meine Eltern auf seltsame Idee, ihr Neugeborenes,

pais tinham essa idéia estranha, chamar a sua filha

Jenni- Fee zu nennen, fada. An sich studiere ich

recém-nascida, Jenni-Fee, fada. Em si mesma, eu

noch an der Bauhaus-Universität in Weimar Produkt-

ainda estou estudando design de produto na Uni-

Design, habe aber für ein kurze Kunstpause Belo Ho-

versidade Bauhaus em Weimar, mas eu visitei Belo

rizonte besucht. Als Neuer in einem fremden Land

Horizonte para uma breve pausa de artes. Se você é

wird man von den vielen verschiedenen Sinneseind-

novo em um país estrangeiro, será tão oprimido por

rücken so überwältig, dass ich einige davon in den

as sensações diversas que eu transformei alguns

folgenden Texten verarbeitet habe.

deles nos seguintes textos.

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31 NICHTIGKEITEN | 31 NULIDADES eine Tages in jeweils 3 Sätzen

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de um dia cada em 3 frases

1. So früh

1. Tão cedo

Die Sonne muss erst seit kurzem wach sein, doch um 6.30 Uhr wirft sie schon die ersten Strahlen in mein Zimmer. Das Aufstehen fällt mir leicht, vielleicht weil ich weiß, dass es eigentlich schon halb 12 ist. Ich drehe mich um, um noch etwas zu dösen, denn ein bisschen brasilianischer bin ich mit meiner Pünktlichkeit schon geworden.

O sol tem que ser acordado só recentemente, mas as 6.30h ele já lança os primeiros luzes no meu quarto. Levantar-se é fácil para mim, talvez porque sei que na verdade já é 11 e meia. Me viro para cochilar mais um poucinho, porque já me tornei um pouco brasileira com a minha pontualidade.

3. Ich bin blond

3. Eu sou loira

Dass es die seltsamen tun, finde ich nicht mehr sonderbar, aber wenn eine Gruppe von 10 Schlipsträgern dir hinterher schaut, ist das schon komischer. Wirklich verwirrend wird es, wenn du von uniformierten Polizisten beäugt wirst: „Hilfe Herr Officer, ich wurde ausgeraubt...“, „Das macht nichts, ziehen sie sich erstmal aus, dann klärt sich alles.“ Ich bin blond.

Que os estranhos fazem, não acho estranho, mas quando um grupo de 10 homems de gravatas seguim você com os olhos já é ridículo. Realmente confusado é quando você esta de olhos por policiais uniformizados: „Ajuda Mr. Officer, fui robada...“,“ Não faz nada, primeiro despe da ropa, em seguida, se esclarece tudo.“ Eu sou loira.


jenni-fee han

6. Erschlagen

6. Batido

Die riesigen getrockneten Palmenzweige brechen einfach plötzlich ab. Gerade ist direkt neben der Frau an der Ampel einer herunter gefallen. Hoffentlich bekomme ich so etwas niemals auf den Kopf.

Os enormes ramos secos de palmeira facilmente se quebram de repente. Assim como essa, que caiu directamente ao lado da mulher no semáforo. Espero nunca receber nada na minha cabeça.

12. Russisch Roulette

12. Roleta Russa

Das sieht seltsam aus und wie immer weiß ich nicht, was ich von diesem Buffet esse kann. Manchmal gibt es leckeres Gemüse, Pão de Queijo oder geröstetes Baguette, doch dann wieder gibt es nur bitteren Salat und alles mit zu viel Öl. Welch ein Glücksspiel, hier essen zu gehen.

Parece estranho, e como sempre eu não sei o que posso comer neste buffet. Às vezes, há legumes deliciosos, pão de queijo, ou baguette tostada, mas outra vez há salada amarga e tudo com muito óleo. O que jogo de azar, vá comer aqui.

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31 NICHTIGKEITEN | 31 NULIDADES eine Tages in jeweils 3 Sätzen

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de um dia cada em 3 frases

13. Auszeit

13. Pausar

Die Sonne schein auf meinen Arm während ich in meinem Skizzenbuch Putzmittel kritzle und der blaue Plastikstuhl unter mir knartscht. Es ist meine Mittagspause und um mich herum unterhalten sich Brasilianer. Ich trinke meinen „Café Expresso com Leite Grand“ und fühle mich wohl.

O sol está brilhando no meu braço enquanto desenho limpa-metais no meu caderno e a cadeira azul de plástico debaixo de mim chia. É a minha hora do almoço e só brasileiros conversandos em torno de mim. Eu bebo meu café expresso com leite grande e me sinto bem.

23. Post

23. Correio

„Nein, dieser Brief wird nicht mehr als 20g wiegen, siehst du, nur 8g“. Die Postdame lächelt mich an, es ist ein freundliches Lächeln, das sie auch so meint. Dies sind wohl die lustigsten Postbeamten, die sichtlich Spaß an ihrer Arbeit haben.

„Não, esta carta não pesa mais de 20g, olhe, só 8g“. A empregada do correio esta sorrindo a mim, é um sorriso amigável de veradade. Estas provavelmente são as funcionários dos correios mais engraçadas, que obviamente gostam do seu trabalho.


jenni-fee han

25. Zurück lassen

25. Deixar para trás

Ein weiterer Volkssport ist wahrscheinlich das Zurücklegen von Dingen an der Kasse. Warum macht man das? Weil man sich dann besser fühlt, dass man doch nicht so viel gekauft hat oder weil man denkt, dass man doch nicht so viel Geld bei sich hat oder weil 90% des Einkaufes sowieso sinnlos ist und man eigentlich nur die 10% benötigt...

Um outro esporte national provavelmente é repor coisas na caixa. Por que a gente faz isso? Porque então você se sentir melhor que você não compradou tanto, ou porque você acha que não tem tanto dinheiro com você, ou porque 90% da compra é mesmo assim inútil e você realmente precisa apenas de 10%.

27. Nüsschen

27. Nozes

Der Geruch steigt mir in dies Nase und ich bin wie jedes Mal gewollt, vielleicht doch einen Real aus meiner Tasche zu holen und der Versuchung zu unterliegen. Hier auf der Straße ist jeden Tag Weihnachtsmarkt oder Kino Abend, Popcorn und Nüsschen für unterwegs. Irgendwie schon seltsame, doch daran könnte ich mich nur zu gut gewöhnen.

O cheiro está chegando no meu nariz e como todas vezes eu queria talvez pegar um real da minha malinha e sujeitar à tentação. Aqui na rua todo dia é feira de Natal, ou noite de cinema, pipoca e amendoim para levar. Mais ou menos estranho, mas me posso habituar a isso bem demais.

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de olho em diOli

Conte o que é e como foi o surgimento do Barkaça. em julho de 2009, o a parada conversou com diOli, poeta e um dos editores do folheto literário barkaça, surgido em divinópolis. nesta entrevista, ele fala sobre as estratégias para manter uma publicação independente e também sobre sua produção autoral em poesia. com uma grande dose de inteligência, irreverência e disposição, a barkaça de diOli, lopes e mingau é bastante promissora: se você não conhece, vai conhecer.

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Eu e os dois outros quixotescos editores – ou editores quixotescos - Lopes e Mingau (sendo que nessa analogia o Lopes, pela vasta experiência e persistência com a poesia/artes divinopolitanas, seria o fidalgo, eu o mulo e o mingau o sancho ou o mingau o mulo e eu o sancho, tanto faz), nós três participamos, com outros amigos, de um projeto literário do Lopes, aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Divinópolis. Nesse projeto, en-

tre o espaço ocioso dos nossos encontros e com o acúmulo de material nosso e de amigos com pouca ou nenhuma divulgação, resolvemos criar uma revista/fanzine/ jornal, que resultou nos folhetos BARKAÇA de poesia e artes visuais. O Barkaça é uma publicação impressa, quase bimestral, que se desdobra em banners e que navega por exposições itinerantes em diversas cidades de Minas Gerais. Quem quiser conhecer ou participar pode visitar o porto virtual barkaca.blogspot.com, onde terá maiores informações, roteiros, novas atracações, resenhas, artigos e fotos.


Como a publicação tem se mantido? Para os primeiros números tínhamos patrocínio de empresas do comércio em geral, mas conseguir grana pra esse tipo de publicação é lutar contra moinhos de vento. Hoje tentamos unir o útil ao agradável e organizamos festas onde a temática não é apenas o entretenimento vazio e a grana. Fizemos exposições de artistas independentes, mostras e apresentações autorais, tudo numa noite, com entrada muito barata e cerveja gelada. O número anterior e o que está por vir serão bancados pela renda da festa. Como tem sido a resposta dentro e fora de Divinópolis? Que retorno vocês vêm tendo? O mais legal dos folhetos BARKAÇA são os banners. Pra quem não conhece, são a reprodução em acrílico dos folhetos em formato maior e circulam espaços públicos e privados em exposições itinerantes que acontecem durante todo o ano em DV e outras cidades do estado. Os banners já atracaram em Ouro Preto, Itapecerica, Mariana, São João Del Rey e Belo Horizonte. É o suporte que abrange um público maior e que cumpre com mais eficiência a proposta de levar a poesia pra rua, para pessoas não tão familiarizadas com esse tipo de leitura.

No geral, esses leitores brincam, interagem e pedem um exemplar impresso, sendo que muitos começam a acompanhar e cobrar a trajetória dos folhetos, o que é gratificante. Confesso que eu não esperava, lá no início da publicação, o sucesso que o Barkaça tem obtido. Seja com poetas, professores, estudantes universitários ou junto à população em geral - que tem pouco ou nenhum contato com poesia - os folhetos são um sucesso. Tem ainda o retorno pessoal, que é o nosso amadurecimento a cada número, conhecendo pessoas e aprendendo a lidar de forma mais serena com a publicação/editoração de poesia. Em julho de 2008, vocês lançaram o Superbarkaça, que se apropriava do projeto gráfico de um tablóide mineiro. Como surgiu essa idéia, quais as repercussões e que análise você faz sobre isso? A idéia dessa edição foi do Mingau. A culpa é dele (hehehe, brincadeira). Depois da idéia lançada, percebemos que se poderia subverter, de alguma forma, esses jornais sensacionalistas de vinte e cinco centavos, existentes em quase todo o país, mas sempre com o mesmo tipo de (des) conteúdo. Acabamos seguindo aquele tipo de diagramação, porém com poesia dentro; isso foi na 4 a edição. Por sorte, ou talvez

porque poucos tenham percebido a nossa intenção, não fomos processados por nenhum jornal sensacionalista de vinte e cinco centavos. Dois poemas publicados naquela edição, o “Poema escandaloso” de minha autoria e o “Pé de maconha” do Mingau, acabaram sendo motivo de censura e o BARKAÇA foi convidado a recolher velas e se retirar de um hospital de DV. O mais interessante do ocorrido é que, provavelmente, estes jornais circulem livremente pelo hospital e pela cabeça das pessoas que ordenaram a retirada dos banners.

Que relações você vê entre o Barkaça e outras publicações de poesia surgidas em Divinópolis (como o jornal/movimento Agora e as iniciativas do grupo Dazibao)? Fico super feliz pelo movimento Agora ter surgido em DV. É esperançoso saber que outros navegadores se aventuraram nas águas inóspitas da pasmaceira cultural. E se estamos hoje seguindo os rastros heróicos daqueles bravos argonautas é porque venceram. O que o pessoal fez foi criar uma das maiores cenas literárias do país naquela época e que continua rendendo frutos quarenta anos depois. Acredito que estamos no caminho certo, publicando principalmente gente nova e, de certa for-

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ma, aprendendo muito e dando continuidade à aventura iniciada no final da década de 60, pelo pessoal do Agora. Com certeza fomos influenciados pelo que fizeram e o que temos em comum é isto: somos românticos o bastante para encarar a edição/publicação de poesia, não em busca de baús cheios de ouro, mas porque gostamos e acreditamos que publicações dessa estirpe são importantes por dar continuidade e vazão à criatividade presa nas garrancheiras acomodatícias da sociedade. Numa cidade do grande-pequeno porte de DV, onde temos que correr à frente pra ver alguma coisa acontecer, é difícil dissociar pessoas e movimentos, principalmente depois da gênese Agora. O Dazibao pode ter sido uma das sementes plantadas, que germinou no ano de 1980 e que é hoje árvore grande, crescida à beira do rio do mundo mas fazendo sombra e esparramando frutos e flores, ou flores e frutos, lá em DV. Existe no Dazibao uma persistência muito grande com DV e é graças aos esforços desse pessoal que o BARKAÇA e boa parte dos meus poemas existem. Seria impossível não têlos como referência, até porque o Lopes fez parte do grupo Dazibao e é admirável como ele luta de coração aberto e punho fechado contra a “pasmaceira cultural”. O Lopes é hoje a pessoa que mais dá sangue e suor pelas artes divinopolitanas.

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Sabemos que você também esteve e está envolvido em outros projetos além do Barkaça. Fale um pouco a respeito. Existe, em Divinópolis, o Coletivo Pulso, um agrupamento social informal, que realiza eventos para bandas/grupos musicais e pessoas com projetos autorais que não têm espaço junto às mídias e circuitos artísticos tradicionais. O Pulso é mais focado em apresentações de bandas, pois é composto principalmente por pessoas que tocam algum tipo de instrumento. Acontecem também mostras de filmes com debates, oficinas e palestras. O Pulso, com apenas três anos de existência, conseguiu levar a DV bandas, debates e palestras de quase todos os estados do Brasil e de países como Finlândia, Croácia, Colômbia, Argentina, Chile, Bélgica, entre

outros. Conseguindo colocar a cidade na rota internacional de turnês de punk rock. Além de ajudar nas atividades do Pulso, estou começando a desenvolver um projeto novo, mas que existe na minha cabeça há mais tempo, o “Adão e Eva no Paraíso de Pedra”, onde tento, com a ajuda de amigos, misturar texturas sonoras e poesia. Além dos projetos coletivos, há também os livrinhos/dobraduras que você mesmo produz à maneira da geração mimeógrafo, só que através de fotocópia. Além das semelhanças materiais e de produção, há outros laços com a poesia marginal dos 70? E hoje?, a sua poesia está à margem de quê? Meus primeiros contatos com publicações alternativas podem ter sido desde a


“pixação” descompromissada quando criança até a leitura dos primeiros fanzines, já no final da adolescência. Além da influência ideológica/estética, penso que a questão da produção independente pode ser também consequência do acúmulo e da diversidade de material que ficaria atravancado caso não houvesse uma vazão e distribuição - mesmo que apenas entre amigos - do que eu ia produzindo. Cheguei a escrever/fazer poesia cursiva, prosa, sonetos, trovas hexassilábicas, poesia visual, vídeo poema, poemas “sonoros” e “atentados poéticos” que, fora este último, são distribuídos principalmente entre amigos. São “livros” com tiragens quase sempre insignificantes. Acho que mais do que um caminho, colocar isso em formatos independentes, semelhantes aos da galera de 70, foi uma necessidade. Hoje, mesmo sabendo que, como autor independente e quase anônimo, fazer/escrever/publicar poesia é ir contra a lógica sem lógica do mercado - pois poesia não é o combustível ideal pra ser queimado nas labaredas incontroláveis do imediatismo capitalista, onde o agora já passou faz tempo - mesmo ciente-inconsciente das limitações (im)postas e encontradas na caminhada epopéica da publicação poiesis uma cambalhota ou duas, gosto de pensar que as dificuldades é que estão à margem da poesia, que a poesia não é nada disso e é maior ainda porque acredito, e essa é a minha redenção, que o corpo passa e a poesia fica.

Sobre os seus poemas visuais: você os faz ou os encontra? Qual é a sua procura?

os poetas, as publicações e as movimentações culturais daqui?

Certamente já aconteceu de eu encontrar ou de ser encontrado por muitos poemas, mas na maioria das vezes eu busco. A maioria dos meus poemas visuais são releituras de outros poemas ou de alguma marca (re) conhecida. Gosto de ficar olhando uma marca/signo e pensar numa maneira de enxergar aquilo de forma diferente e talvez subvertêlo, transformando-o em poesia. Se podemos brincar com a disposição dos caracteres no espaço em branco do papel, possibilitando uma leitura visual de um amontoado de letras e palavras, penso que podemos fazer o mesmo com algumas marcas já sistematizadas no nosso dia a dia.

É bacana conhecer de perto pessoas que admiro. Devido às correrias de mudança, adaptação e trabalho, eu ainda não tive o tempo que eu quero pra interagir ainda mais com a cidade e, quem sabe, aumentar meu círculo social fazendo novas amizades.

O humor dos seus poemas é uma forma de insubordinação? A quê? Talvez não apenas insubordinação, mas também uma maneira de eu re-ver as leis, regras, rótulos, credos, (des)crenças, dificuldades e imposições em geral e me re-ver de novo e de novo, no meio disso tudo e dentro dessa nave à deriva (e sem piloto, putz) que é o meu mundinho. Agora que você está morando em Belo Horizonte, como está sendo o seu contato com

diOli, você quer mandar um beijo pra alguém? Quero. Já tá filmando? Pro meu pai Dino, minha mãe Carminha, meu irmão maninho, minha irmã Marcela, minha irmã Monique, os cinco cachorros e nenhum passarinho lá de casa, minha vó filinha meu vô maná, pois todos estão em Guarapariii e eu estou com saudade demais. Um beijo na careca do Lopes e outro no Mingau e um big beijo glan coletivo pro pessoal do Coletivo Pulso lá de DV, pois moram todos no meu coração, e um último pra minha namorada Karol, que tá lá em casa me assistindo. Valeu.

leia esta entrevista na íntegra em a-parada.blogspot.com

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terezinha sem culpa diOli

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álvaro andrade garcia (20 e 21)

diOli (30~34)

mário alex rosa (24)

poeta, roteirista e diretor de projetos audiovisuais e multimídia. em ciclope.art.br mantém o acervo das suas publicações e sua obra software colaborativa: o sítio de imaginação, agora em sua versão 5.0

tem 29 anos e pouca barba. é co-editor dos folhetos barkaça. publicou os livretos lira dos cinquenta centavos, poema com p de puta – antologíria poética, entre outros. tem poemas publicados nos jornais dezfaces e a parada.

formado em história (ufop), doutor em literatura brasileira (usp). membro do conselho editorial da livraria e editora scriptum - bh. tem poemas publicados nas revistas dimensão, inimigo rumor, cacto, ato, e nos jornais revirarte, folhinha de são paulo, suplemento literário - mg, dezfaces, entre outros.

ciclope.art.br

dioli@rocketmail.com

alessandro lima (36)

jenne-fee hahn (25~29)

valquíria rabelo (2 e 9~11)

nasceu em juiz de fora em 1980 mas morou em vitória durante 15 anos. em 2000, entrou para a belas artes/ufmg, formou-se em pintura, licenciatura e gravura. pinta e grava sem parar.

nasceu na alemanha e tem 24 anos. cursa design de produto na bauhaus. esteve em belo horizonte em 2009 como intercambista da ufmg.

editora e designer do jornal a parada, ao lado de daniel bilac. estuda comunicação na ufmg e design gráfico na uemg. val.rabelo@gmail.com formalguma.blogger.com.br

alessandrolima.blogspot.com

carlos augusto novais (13~16)

jovino machado (19)

wilmar silva (6)

joão monlevade, 1958. poeta e professor de literatura e filosofia. livros: a de palavra, 1989; alvo s.m., 1997; antologia dezfaces, 2008. cd de poesia: cacograma, 2001 (em parceria). co-editor: mostra poética de bh, 1994-1996; coleção poesia orbital, 1997, jornal inferno, 2000; e jornal dezfaces, 2006-2010.

nasceu em formiga, foi criado em montes claros e vive em belo horizonte, onde atua como restaurateur. publicou samba (1999), fratura exposta (2005), amar é abanar o rabo (2009), entre outros.

poeta e curador do projeto terças poéticas. apresenta o programa tropofonia, rádio educativa ufmg, 104,5 fm. publicou yguarani (2008), lágrimas en el lago de púrpura (2009), silvaredo (2010), entre outros.

jojomachado.zip.net jovinomachado@yahoo.com.br

daniel bilac (2 e 5)

lu peixoto (3)

natural de belo horizonte, é artista plástico e editor do jornal de poesia e literatura a parada.

é cancerígena, irariana, escorpiosa, nessa ordem. já se perdeu no meio da multidão no metrô às sete da noite. vezes várias. ainda está lá, mas todas as suas idéias têm acento. e continuarão tendo.

sejalegal@yahoo.com.br flickr.com/danielbilac

wilmarsilva@wilmarsilva.com.br www.cachaprego.blogspot.com

luxfields@yahoo.com.br

daniel prudente (2 e 7)

marcelo dolabela (23)

é baiano, natural da cidade de itabuna. gosta de lápis e de papel, e muito recentemente começou a publicar seus contos. é graduando em artes visuais na ufmg. tem 22 anos.

poeta, artista postal, roteirista e pesquisador (música e poesia). mestre pela universidade são marcos. principais livros: coração malasarte. radicais. abz do rock brasileiro.

dan_prudente@hotmail.com

mdolabela@hotmail.com

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alessandro lima Tamagoshi Rembrandt Dr. Doom

Água-forte, 5 x 5 cm, 2007 Água-forte, 4,5 x 5,5 cm, 2007 Água-forte, 4,5 x5,5 cm, 2008


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