Notícias Ibilce - Ed. 171 - Out/2015

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PESQUISA DO IBILCE OFERECE ESPERANÇA CONTRA O CÂNCER

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA: SEGURANÇA E CONFIABILIDADE

NOTÍCIASIBILCE

Informativo do câmpus Unesp de São José do Rio Preto | ano XVII | edição 171 | out | 2015

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Ensino público, gratuito e de qualidade


EDITORIAL

EVENTO

UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Câmpus de São José do Rio Preto IBILCE — Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas Rua Cristovão Colombo, 2265 Jd. Nazareth | CEP 15054-000 PABX: (17) 3221.2200 | FAX 3221.2500 HOME PAGE: www.ibilce.unesp.br Comentários, dúvidas ou sugestões, entre em contato pelo e-mail: imprensa@ibilce.unesp.br 2 • NOTÍCIAS IBILCE - ED. 171 -

Ibilce sedia evento sobre animais silvestres Proposta inédita foi realizada pelo Projeto Universidade no Bosque Fernanda F. Madeira O Ibilce/Unesp sediou nos dias 8, 9 e 10 de outubro, o “I Simpósio de Animais Silvestres”, o qual reuniu profissionais ligados à atuação e pesquisa na área proposta, contribuindo com informações e conhecimentos atualizados. O evento também colaborou com a ONG Fauna Protetora, uma associação sem fins lucrativos e formada por voluntários. Para que o participante pudesse retirar o seu material no dia do evento, deveria ser feita a doação de 1 kg de ração para gato ou cachorro. O projeto “Universidade no Bosque”, segundo Fernando Cornacini, atual presidente do projeto, vem organizando eventos que tem essa iniciativa de abordar temas pouco discutidos no Instituto por conta das linhas de pesquisas. A

atual coordenadora do projeto, a docente Daniela Sampaio Silveira, também acredita que a importância do tema reside no fato de existirem poucas pesquisas da área no Ibilce. “O simpósio é voltado tanto para a área acadêmica como para a atuação do biólogo no mercado de trabalho, com informações importantes inclusive para a população em geral”, relata. A temática inédita não só atraiu alunos da casa, mas também de instituições vizinhas, como o aluno Aymar Orlandi Neto, da Unesp de Ilha Solteira, que trabalha com animais silvestres: “O evento superou minhas expectativas. As palestras e minicursos eram de alta qualidade, bem como os profissionais que as ministraram”. NAYARA DALOSSI

A edição de outubro do “Notícias Ibilce” aborda a questão da prevenção e informação sobre o câncer em sua matéria de capa, tema pertinente, cuja ampla divulgação serve de ferramenta à conscientização das mulheres de todas as idades, época em que, no Ibilce, os eventos do “Outubro Rosa” preenchem os espaços de circulação.Ainda na editoria de eventos, na página 2, uma matéria sobre o I Simpósio de Animais Silvestres destaca a atuação de docentes e alunos do Ibilce, que promovem eventos e outras iniciativas, como o projeto “Universidade no Bosque”, capazes de atrelar teoria e prática. Na página 3, revelamos como se dá o funcionamento do Comitê de Ética em Pesquisa do Ibilce, instância responsável pela análise de projetos científicos que envolvam a participação de seres humanos. O leitor também poderá conhecer um pouco da história do professor João Ruggiero, que neste ano realizou importante descoberta na ciência em prol da cura do câncer: uma pesquisa que poderá oferecer àqueles que buscam tratamento, uma nova alternativa. Por fim, encerramos esta edição temática reproduzindo um texto do reitor da Unesp, professor Julio Cezar Durigan, no qual revela sua vencedora trajetória na luta contra o câncer. Uma ótima leitura.

DIRETORA: Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira

EDIÇÃO: João Paulo Vani e Nayara Dalossi

VICE-DIRETOR: Geraldo Nunes Silva

REPORTAGENS Erika Molina Silva | Fernanda F. Madeira Jessica Roberti | Natan Guilherme dos Santos Pâmela Coca | Yurika Akiyoshi França

COORDENAÇÃO: ACI — Assessoria de Comunicação e Imprensa JORNALISTA RESPONSÁVEL: João Paulo Vani — MTB: 60.596/SP EDIÇÃO ESPECIAL TIRAGEM: 1.500 exemplares

OUTUBRO - 2015 GRATUITA DISTRIBUIÇÃO

REVISÃO: Manoela Navas DIAGRAMAÇÃO: ACI — Assessoria de Comunicação e Imprensa FOTOS: Nayara Dalossi, exceto capa: Dollar Photo Club e página 8: Eliana Assumpção.


ÉTICA

Comitê de Ética discute trabalhos com seres humanos Com vinte e cinco membros, Comitê oferece confiabilidade e segurança aos projetos do Ibilce Erika Molina Silva No Brasil, toda pesquisa que envolva seres humanos deve respeitar determinados padrões éticos – como a garantia à privacidade e à imagem dos voluntários-, com o propósito fundamental de, justamente, proteger os participantes. Assim, um estudo que teste um novo remédio em seres humanos ou outro que analise as práticas pedagógicas dos professores de uma escola são exemplos de projetos de pesquisa que, antes mesmo de se iniciar a coleta de dados, devem se submeter a normas e procedimentos éticos específicos, preservando a integridade dos pesquisados. O órgão que cuida dessas questões nas instituições de pesquisa é o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), que, por sua vez, é vinculado à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), do Ministério da Saúde. No Ibilce-Unesp, o CEP é formado por vinte e cinco membros, de áreas diversas, sendo alguns deles, inclusive, externos ao instituto. “O CEP proporciona

confiabilidade e segurança aos projetos desenvolvidos na instituição”, avalia a professora Claudia Regina Bonini-Domingos, coordenadora do CEP local. Em termos práticos, o autor da pesquisa deve submeter o projeto ao CEP, que elabora um parecer, aprovando ou não o estudo quanto às exigências éticas demandadas. Em casos especiais, como os que envolverem organismos geneticamente modificados, o CONEP também deve aprovar o projeto. Somente depois de passar pelo crivo do CEP ou do CONEP, é que a execução é iniciada. Os voluntários devem firmar um termo de consentimento e ser plenamente orientados, inclusive quanto aos seus direitos. Periodicamente, são produzidos relatórios acerca da eticidade da pesquisa. Os dados básicos do projeto ficam disponíveis no site da “Plataforma Brasil”. Pode ocorrer que, no decorrer do trabalho, o pesquisador se depare com condutas ilícitas ou eticamente reprováveis por parte de um voluntário. Nesse caso, o autor leva o caso ao CEP, e uma sindicância é aberta para apurar as irre-

gularidades. O comitê, então, pode decidir pela modificação ou pela suspensão da pesquisa, reportando o ocorrido ao CONEP. “Penso ser conveniente que o CEP, ao constatar condutas que extrapolem as raias de apreciação ética, também comunique o fato a órgãos oficiais encarregados de investigação”, entende o Dr. Eudes Quintino de Oliveira Júnior, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no CEP do instituto. A ética na pesquisa envolvendo seres humanos se orienta, principalmente, pela Resolução 466/12 do Ministério da Saúde, a qual, de acordo com a vice-coordenadora do CEP do Ibilce-Unesp, professora Mônica Abrantes Galindo de Oliveira, se relaciona “profundamente com pesquisas das áreas médica, farmacêutica e biológica”. Assim, já se discute, na comunidade acadêmico-científica, um protocolo específico para proteger os participantes de pesquisas em ciências sociais e humanas, considerando as peculiaridades dessas áreas. DOLLAR PHOTO CLUB

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PESQUISA

Do veneno da vespa à cura do câncer: esperança Pesquisa realizada pelos câmpus da Unesp de Rio Preto e Rio Claro descobre ação inédita de peptídeo Natan Guilherme dos Santos

contra o câncer e este foi o resultado mais importante.”, complementa. Resultados Os resultados sugerem que a molécula MP1 pode ser uma boa possibilidade para tratamento de câncer no futuro. Se funcionar, seria o primeiro medicamento contra o câncer no mercado que tem como alvo membranas lipídicas das células. Ruggiero Neto, Beales, e seus colegas dizem que o tratamento com MP1 pode ser especialmente útil como parte de uma combinação de medicamentos, cada um dos quais tendo como alvo uma parte diferente da célula cancerosa. Haverá ainda um tempo até que a molécula MP1 esteja pronta para combater o câncer em seres humanos. Primeiro, os pesquisadores precisam entender mais

NAYARA DALOSSI

Na metade do século passado, nascia um menino na cidade de São Carlos, interior de São Paulo. Rodeado por livros, cresceu alimentando seu enorme gosto pela leitura. Hoje, professor do Ibilce/ Unesp, câmpus de São José do Rio Preto, aquele jovem, de nome João Ruggiero, transformou todo o conhecimento obtido nos livros em uma nova esperança na luta contra o câncer. A expectativa nasceu à partir de um estudo realizado pelo grupo de pesquisa do professor Ruggiero, que trabalha com peptídeos com ação inibitória de proliferação de células de câncer há dez anos, e conta com a colaboração internacional de pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra. A ideia inicial surgiu da leitura de um artigo que mostrava que a

principal diferença entre a célula de câncer e a célula sadia é a perda de assimetria na distribuição de fosfolipídeos na membrana celular. “Nas células sadias, a fosfoetanolamina e a fosfoserina, estão na monocamada interna, e nas de câncer, estão na monocamada externa das células. Daí, passamos a investigar o efeito destes dois fosfolipídeos na permeabilidade induzida pelo peptídeo em vesículas”, conta o professor. O resultado da pesquisa mostra a ação dos peptídeos nas membranas que contém os dois fosfolipídeos, especialmente o fosfoetanolamina. Há a abertura de enormes poros nas membranas que fazem a células perderem parte do citoplasma e sua viabilidade fica comprometida. “Com os resultados recentes aprendemos que a membrana celular pode ser usada como alvo para o desenho de fármacos

O professor João Ruggiero Neto com a doutora Natália Bueno Leite Slade, sua ex-orientanda, cuja tese contribuiu para a descoberta

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sobre como ela funciona, e ter a certeza de que seu uso será seguro para os pacientes. Os resultados são encorajadores até agora, no entanto. Peptídeos antimicrobianos, como a MP1, normalmente não podem diferenciar entre células cancerosas e células saudáveis bem o suficiente para serem considerados como tratamentos. Entretanto, em laboratório, a MP1 matou as células cancerosas e bactérias sem danificar as células normais de ratos. “Como foi obtido um resultado seletivo para células cancerosas, e não-tóxico para as células normais durante os trabalhos em laboratório, este peptídeo tem o potencial para ser seguro. É necessário, porém, mais trabalho para provar isso”, disse Beales.

REPRODUÇÃO

Futuro da Quimioterapia Entretanto, a pesquisa não para por aí: o resultado revela perspectivas para novas terapias. Com a abertura dos poros, outras moléculas podem adentrar o interior das células cancerígenas, promovendo ações contra essas células. Outro quesito a ser explorado pelo professor é o aperfeiçoamento da seletividade, por meio de mudanças na sequência de aminoácidos do peptídeo, e compreender os aspectos físicos relacionados a estes dois fosfolipídeos na formação do poro. A pesquisa, além de trazer esperança na luta contra o câncer, reforça a importância da universidade para a sociedade. “A universidade tem a proposta de extensão, ensino e pesquisa, e creio que todo conhecimento ganho em pesquisa contribui fortemente para melhorar a qualidade de ensino. O conhecimento desenvolvido na universidade não tem preço e é, patrimônio importante para a sociedade.”, finaliza Ruggiero. 2015- OUTUBRO - ED. 171 - NOTÍCIAS IBILCE • 5


PREVENÇÃO

Ibilce realiza atividades na edição 2015 do Outubro Rosa Objetivo é discutir a importância da prevenção do câncer, e oferecer informação a quem precisa João Paulo Vani O movimento conhecido como “Outubro Rosa” nasceu nos Estados Unidos, na década de 1990, para estimular a participação da população no controle do câncer de mama. A data é celebrada anualmente com o objetivo de compartilhar informações sobre o câncer de mama e promover a conscientização sobre a importância da detecção precoce da doença. As ações da campanha do Outubro Rosa promovidas na Unesp Rio Preto aconteceram nos dias 7, 14 e 21 de outubro, e compreenderam palestras, oficinas de maquiagem, cortes de cabelo para doação de mechas, aula de yogaterapia e apresentações culturais da bateria Psicoteria. De acordo com a professora Melissa Alves Baffi Bonvino, coor-

denadora local da campanha, em sua segunda edição, o evento foi realizado em caráter de extensão, buscando envolver as comunidades interna e externa, com o objetivo de evidenciar a questão do câncer de mama, principalmente no que diz respeito à importância da detecção precoce de alterações na mama e focando no incentivo à realização dos exames específicos, como a mamografia. Durante o mês de outubro, as ações realizadas, desenvolvidas em parceria com a Seção Técnica de Saúde do Ibilce, envolveram a disseminação de informações sobre o câncer de mama como os fatores de risco, por exemplo, até a desmistificação de alguns pontos que, de certa forma, impedem que a mulher vá emn busca de cuidados: ‘mamografia causa dor’, ‘quem procura acha’, ‘e se eu tiver aquela doença?’, etc. Na ver-

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dade, o evento tem esse papel de orientar, no sentido de que se há algum problema, que seja descoberto logo e tratado. Além disso, as mulheres da comunidade puderam esclarecer dúvidas sobre a questão do diagnóstico precoce, sendo orientadas sobre como realizar o autoexame com precisão e a procurar um médico em caso de qualquer alteração. Solidariedade O Outubro Rosa no Ibilce, além desse caráter informativo, teve a preocupação com mulheres que estão em tratamento de câncer de mama. O ICA, Instituto do Câncer de Rio Preto, atende mulheres carentes de toda a região. Para a população de mulheres que se caracterizam, principalmente, como carentes de informação, a autoestima é definitiva durante o tratamento. Para elas, a comunidade interna se mobilizou em muitas doações de lenços e mechas de cabelos para a confecção de perucas. “Poder ver alunos e docentes doando 10, 15 centímentros de seus cabelos pensando em alguém que enfrenta um tratamento quimioterápico é algo muito bonito de se ver”, revela Melissa. Para a coordenadora, o Outubro Rosa promovido pelo Ibilce “é um evento que informa, que ajuda, que envolve a comunidade de docentes, alunos e servidores com objetivos nobres: a saúde da mulher e o cuidado com quem já enfrenta um câncer de mama.”


Estimativa 2014/2015 O “Notícia Ibilce” reproduz aqui, na íntegra, a esclarecedora resenha da jornalista Taís Facina, publicada na Revista Brasileira de Cancerologia, edição 60, de 2014. A edição Estimativa 2014 – Incidência de Câncer no Brasil é de referência para os anos 2014 e 2015, trazendo 19 tipos específicos de câncer, com base na magnitude e no impacto. Além de informações consolidadas para todo o país, a publicação também apresenta as análises por região, Estados e capitais. Os 19 tipos de câncer analisados são: cavidade oral, esôfago, estômago, cólon e reto, laringe, traqueia, brônquio e pulmão, melanoma maligno da pele, outras neoplasias malignas da pele, mama feminina, colo do útero, corpo do útero, ovário, próstata, bexiga, Sistema Nervoso Central, glândula tireoide, linfoma de Hodgkin, linfoma não Hodgkin, leucemias. As estimativas são apresentadas por taxa bruta de incidência por 100 mil habitantes, número de casos novos segundo localização primária e sexo, número de casos novos por Estados e capitais, distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes por sexo (Brasil e Estados e capitais) e representação espacial das taxas brutas de incidência. O número estimado para 2014/2015 é de aproximadamente 576 mil casos novos de câncer no Brasil, incluindo os casos de pele não melanoma, que é o tipo mais incidente para ambos os sexos (182 mil casos novos), seguido de próstata (69 mil), mama feminina (75 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil). Duas tendências importantes foram apontadas: a redução

na incidência dos casos novos de cânceres do colo do útero e de pulmão (homens). Resultados das iniciativas para prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero e das ações de prevenção ao tabagismo no Brasil. A Estimativa 2014 também ressalta as mudanças no perfil demográfico brasileiro nos últimos anos, denominado de “envelhecimento” da população, que, junto com a transformação nas relações entre as pessoas e seu ambiente, mostrou uma alteração importante no perfil de morbimortalidade, diminuindo a ocorrência das doenças infectocontagiosas e colocando as doenças crônico-degenerativas como novo centro de atenção dos problemas de doença e morte da população brasileira. Segundo a publicação, é incontestável o fato de que hoje, no Brasil, o câncer é um problema de saúde pública e, por isso, seu controle e prevenção devem ser priorizados no país. Assim, foram incluídas ações de controle de câncer entre os 16 Objetivos Estratégicos do Ministério da Saúde para o período 2011-2015, com destaque para as ações de redução da prevalência do tabagismo e de ampliação de acesso, diagnóstico e tratamento em tempo oportuno dos cânceres de mama e do colo do útero, assim como a publicação da nova Política Nacional de Prevenção e Controle de Câncer na Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas. Os cânceres se desenvolvem com múltiplas etapas ao longo dos anos. Dessa forma, alguns tipos de câncer podem ser evitados pela eliminação da exposição aos fatores determinantes. Se o potencial de malignidade for detectado antes de as células tornarem-se malignas, numa fase inicial da doença, o tratamento pode ser muito mais eficaz e com grandes chan-

ces de cura. Daí a importância da prevenção e do controle do câncer, evitando mortes prematuras e desnecessárias. Medidas preventivas relacionadas ao câncer de pulmão, por exemplo, envolvem estratégias para o controle do tabagismo; para a prevenção dos cânceres de estômago e intestino, a promoção da alimentação saudável; e contra o câncer do colo do útero e do fígado, a vacinação para Papilomavírus humano (HPV) e hepatite. E, por isso, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), em seu papel de instituição responsável pela prevenção e pelo controle do câncer no país, trabalha na organização e análise dessas informações. As estimativas são publicadas a cada dois anos e têm como base as informações geradas pelos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), que hoje são 23 existentes no Brasil, alimentados por uma rede de 282 Registros Hospitalares de Câncer (RHC). Lançada há 18 anos pelo INCA, a estimativa sobre novos casos de câncer no Brasil é um trabalho que vem se aprimorando ano a ano e que tem por objetivo subsidiar gestores, serviços de saúde, universidades, centros de pesquisa, sociedades científicas e a própria sociedade com informações atualizadas sobre a ocorrência do câncer na população brasileira. O conhecimento sobre a situação do câncer no Brasil permite que as diferentes esferas de governo estabeleçam prioridades e aloquem recursos de forma direcionada para o enfrentamento do problema. Taís Facina é jornalista, pós-graduada em “Produção do Livro”, editora de publicações científicas no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva.

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SUPERAÇÃO

Reitor da Unesp revela à “Folha” batalha contra o câncer Depois de quase um ano afastado, professor Durigan concedeu depoimento ao jornalista Fábio Takahashi Julio Cezar Durigan Como reitor da Unesp, vinha num ritmo de vida a mais de 120 km/h. Agenda das 8h às 22h, reuniões, viagens. Logo no início de 2014, procurei um médico. Sofria há seis meses de dores nas costas e nas pernas, ninguém encontrava o que era. Achava que era algum problema muscular. Então, um médico pediu para eu subir na maca. Tive muita dificuldade, e ele percebeu. Me deu um analgésico, que tiraria a dor, se fosse muscular. Não passou. O médico disse que precisaria fazer uma pesquisa. Marcamos ressonância para um sábado e nova consulta para a outra quarta. No sábado à tarde, logo que ele viu o resultado, me ligou. Percebi que era algo grave. “Evite andar, a bater a perna. E me encontre na segunda.” Disse também que havia constatado fratura patológica numa vértebra da coluna. Eu estava com mieloma múltiplo, câncer que se origina na medula e causa traumas, enfraquecimentos nos ossos. A fratura da vértebra era fruto disso, e meu fêmur estava prestes a se partir. Reuni minha mulher e meus três filhos, dois já formados em direito e o mais novo se formando. Quis passar segurança a eles. Como engenheiro agrônomo, sou muito ligado ao ritmo da natureza. Plantas nascem, crescem e morrem. Assegurei a eles que tudo ia dar certo, porque só havia duas opções. Ou eu sarava —o que era dar certo— ou morria —o que também era dar certo, algo natural. Eles sentiram o baque. Foi minha primeira lição: você precisa vencer a doença por você e pela família. Mudei a postura, passei a adotar discurso positivo. Mas com medo. O mieloma é doença grave. Os

ELIANA ASSUMPÇÃO

médicos tentavam passar confiança, mas não podiam assegurar que sobreviveria. A pergunta era ‘por que eu’? Não fumo, só tomo cerveja no fim de semana. Tenho 60 anos, a doença ataca geralmente quem tem mais de 70. Passei um tempo em depressão. O ritmo vinha em 120 km/h e, subitamente, me vi sentado no sofá de casa, apenas esperando chegar as fases do tratamento. Fiquei sem reação. A primeira providência foi colocar haste no fêmur, para evitar fratura. Foi uma operação rápida e bem-sucedida. Depois vieram cinco meses de quimioterapia, para baixar o nível da doença. Para todos os efeitos, ela está no corpo todo. Há medula em todos os ossos, ainda pegar”, se a medula não aceitar as que a doença se manifeste mais em células. alguns lugares. No meu caso foi na Esse processo durou 18 dias. E perna e na coluna. veio um golpe. Tinha um vizinho de quarto, o Vitor, de 18 anos, que tamTRATAMENTO bém estava esperando o transplante A primeira etapa da quimiotera- “pegar”. Estava animado, me disse pia é para preparar o transplante de que queria entrar em medicina na medula. Unesp. Mas o transplante não deu A ideia é mudar o funcionamen- certo. Como foi difícil. to da medula, que estava produzindo erroneamente. Minhas células-tronRECUPERAÇÃO co foram retiradas, para que fossem Hoje consigo levar vida normal, preparadas e reinjetadas. mas com dores na coluna que devem Depois vem uma forte quimi- me acompanhar para sempre. E tenoterapia que mata tudo que você ho de esperar cinco anos para dizer tem na medula, para limpar. Fiquei que estou curado, a medula pode num quarto separado no hospital, voltar a trabalhar de forma errada isolado. Cheguei a 25 leucócitos por neste intervalo. mililitro [de sangue]; o normal são Aprendi muitas coisas. A im5.000, 6.000. Plaquetas, uma pes- portância de falar com as pessoas e soa saudável possui mais de 60 mil. ouvi-las. Fiquei com 500. Estava sem nenhuVou me aposentar em dois anos. ma resistência. Se eu pegasse uma Quero reservar alguns dias da semgripe, morreria. ana para ir a hospitais e conversar As células trabalhadas são então com quem está doente. injetadas, para que colonizem a meA doença me ensinou também dula. Não é um transplante difícil de que não temos todas respostas ou fazer, é só colocar cateter no peito e controle sobre a vida. E que é imporfazer injeção. O problema é o risco tante trabalhar, mas também desde infecção e se o transplante “não cansar.

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