Jeans, um ícone mundial

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Jeans, Um ícone mundial.

Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Arquitectura 3º ano da Licenciatura em Design de Moda Disciplina: Moda e Mercado Docente: Ana Couto Ano Lectivo: 2010/2011 Carolina Gaspar Iuri Coelho Joana M. Duarte Sara Aguiar

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Índice p. 3

Denim – Jeans, A origem das palavras

p. 4

A história dos jeans

p. 8

A Globalização dos Jeans

p. 9

O tecido

p. 10

Modelos de jeans

p. 11

As jeans e o mundo feminino

p. 12

Curiosidades

p. 14

As jeans e as pessoas

p. 20

A semiótica dos jeans

p. 23

Bibliografia

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Denim – Jeans, A origem das palavras A

palavra

"denim"

surgiu

em França no século

XVII a

partir

da

expressão “serge de Nîmes” (sarja de Nîmes), em referência a um tecido produzido na cidade de Nîmes, mistura de seda e lã, e ao longo do tempo foi sendo abreviada para "denim”. Itália foi o primeiro país a importar este tecido, para confeccionar os uniformes dos marinheiros que trabalhavam no porto de Génova. Esses genoveses, chamados de "genes" pelos franceses, e os norte-americanos aproveitaram a ligação, e criaram a palavra “jeans”. No século XIX passou a estar ligado a um tecido de algodão rústico, produzido nos Estados Unidos, usado pelos trabalhadores da época. E as peças de jeans, artigos de confecção têxtil, destinadas à confecção de vestuário que tem o tecido “denim” como matéria-prima. Em meados do século passado ninguém imaginava que o homem ao usar blue jeans, estaria a promover o que seria uma grande revolução de costumes, já que o denim, se tornaria num dos maiores fenómenos da história da moda. E muito mais! Foi visto simultaneamente como um sinónimo de rebeldia, transgressão, democracia e modernidade, significados que o tecido após mais de 500 anos, continua a envergar.

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A história dos jeans Muito populares na actualidade, as calças de ganga, os jeans em português, evoluíram com o tempo e têm hoje um impacto fortíssimo no mundo da moda.

O percurso das calças de ganga começou nos EUA, quando em 1853 Levi Strauss, um judeu alemão naturalizado americano, se instalou em São Francisco na Califórnia e se estabeleceu como comerciante fundando a empresa Levi Strauss & Co. Entre os seus produtos estava um material – o denim - uma sarja, espécie de lona, que ele pretendia transformar em tendas e vender aos mineiros, que se dedicavam à corrida ao ouro. Em 1873, com a ajuda do alfaiate Jacob Davis a quem se associou, começou a produzir peças de roupa para os trabalhadores das minas. Surgiram as primeiras calças. No início era apenas uma experiência. Mas logo Levi Strauss percebeu que a aposta no tecido forte reforçado com rebites se tornaria num enorme sucesso. Altamente resistentes, as peças duravam imenso tempo. Os rebites de reforço foram patenteados no mesmo ano. Utilizaram tachas de cobre para dar maior resistência aos bolsos. Umas calças duráveis, resistentes e inovadoras. Estava criado o jeanswear, um novo estilo de confecção. A partir de então, o jeans passou a ser uma peça de vestuário para executar tarefas árduas e de grande exigência física, bem como para ocasiões mais casuais. Ou seja, uma peça obrigatória no vestuário da classe trabalhadora e inicialmente masculina. Quem ainda não viu uma referência ao modelo 501 das Levi´s? Foi aqui o seu processo embrionário. A transformação do tecido usado originalmente para confeccionar roupa de trabalho, em matéria-prima de vestuário de lazer e, depois em item de moda, ainda demorou algumas décadas. A calça feita em denim – a princípio privilégio de homens – teve vários nomes e muitas histórias. Ninguém sabe ao certo, mas pensa-se que terá sido a partir de 1925 que os clientes da Levi Strauss & Co, passaram a chamar o produto de jeans.

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Nos anos 30, aquele produto passou a ser divulgado em revistas de moda dos Estados Unidos. Era o estilo de vestir do oeste (western) americano. Nós, os europeus chamávamos-lhe estilo far-west. O cowboy é um verdadeiro símbolo da nação, e os seus intérpretes envergando aquela peça de vestuário, foram atravessando a história como uma imagem de sucesso. A partir da segunda metade da década 40, com a mudança de comportamento da juventude norte-americana, os jeans tornaram-se uma espécie de ícone da rebeldia e independência individuais. Nos anos 50 e 60 ficou ligada aos movimentos beatnik e hippie, sendo usada como sinal de contestação aos valores tradicionais da sociedade ocidental. Jack Kerouac, com o seu livro “On the road” de 1957, considerado por muitos como a bíblia da geração beat, ajudou definitivamente a indústria do denim. Passaram a vender-se milhões de calças jeans no mundo inteiro.

No Brasil, por exemplo, no pós-guerra e nos anos 1950 os jeans tiveram grande aceitação. Inicialmente, as peças eram importadas e o acesso era restrito a pessoas de alto poder aquisitivo ou que, por alguma circunstância, viajavam para os Estados Unidos. A capacidade de seduzir manifestava-se principalmente através

do

cinema,

que

divulgava

o American Way of Life (o estilo de vida americano)

como

um

ideal

a

ser

conquistado. Com o objectivo de atingir as camadas populares, uma imitação de qualidade inferior a partir do brim, um tecido de linho, algodão e fibra sintética passou a ser fabricada no Brasil nos anos 1960. Talvez vinte anos mais tarde, a indústria têxtil do Brasil fez grandes investimentos em máquinas para a produção de denim

e o tecido,

principalmente entre os jovens, tornou-se a roupa mais popular. Sempre atentas às mudanças de comportamentos dos jovens, as indústrias da moda americana e europeia, passaram a utilizar o tecido em maior escala nos anos 70, passando o mesmo por um processo de embelezamento e 5


proporcionando aos consumidores um material diversificado, com enfeites e bordados. Calvin Klein, na mesma década, foi pioneiro ao colocá-lo nos desfiles de moda.

Ao longo dos tempos os jeans ganharam, outras texturas na sua composição. Primeiramente, foi-lhe adicionado o elastano, e este trouxe a possibilidade do tecido se moldar perfeitamente a cada tipo de corpo, permitindo assim, para bem das mulheres, uma silhueta mais elegante. A inclusão do poliéster conferiu praticidade aos jeans, o brilho do poliéster e o cair perfeito do elastano, tornaram esta peça no vestuário de todos os dias e para todas as ocasiões. O estilo de calças rasgadas conhecido como "Bear Wear Band", é um estilo que visa unir o novo ao velho, em que a parte frontal da calça passa por um processo de desgaste sendo depois unida à original parte traseira. Há vários tipos de lavagem na fabricação do jeans. Uma delas, a mais clássica é a utilização de pedras vulcânicas para dar o aspecto de um tecido gasto. Essas pedras são especiais e porosas e são colocadas junto com o jeans dentro da máquina de lavar industrial. Outros tipos de lavagens visam dar outros tipos de imagem ao jeans, seja um aspecto de muito uso, seja de tecido enrugado, ou mesmo de mal engomado. Alguns dos rasgões nos jeans, são feitos com ferramentas de construção antes de sair da fábrica como por exemplo uma rebarbadora. Celebridades como Britney Spears, Jessica Simpson, Christina Aguilera e Jennifer Lopez ajudaram a popularizar os mais diversos tipos de jeans.

Neste processo de inovação surgiram os jeans de marca. Valorizado pelos cunhos pessoais dos costureiros, o jeans prosseguiu a sua trajectória pelos anos de 1980 e 1990, aproveitado não só para confeccionar calças, mas canalizado para outras peças de vestuário como macacões, jaquetas e blusões. A aplicação do jeans estendeu-se a outros acessórios de moda, como bolsas, mochilas e os mais variados objectos. Hoje a textura do jeans, aparece quer em capas de cadernos escolares, quer em embalagens de pastilhas medicinais contra dor de garganta.

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Utilizados desde o século XIX, os jeans passaram a ser utilizados no dia-adia, e podemos considerar que o grande feito do jeans foi a transversal utilização social do produto. Presente no roupeiro de um operário como no de pessoas de elevado estrato social. Todos eles envergam o “tecido azul”. Um conceito de roupa despojada e do quotidiano, sem perder o charme e a elegância.

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A Globalização dos Jeans

Neste início de século XXI, é tarefa quase impossível encontrar no Ocidente alguém com menos de sessenta anos que não traga o jeans na sua memória afectiva. Em cada um de nós, o jeans está associado a momentos inesquecíveis, bons e menos bons, e continua a ser uma peça irrepreensível, tanto pelo conforto quanto pela durabilidade e capacidade de se adaptar às mais diversas situações. O jeans pode tudo e está em todas. A partir dos anos 1950, não existiu nenhum movimento associado à juventude sem a participação do denim. Essa convivência quase permanente uniu gerações e moldou-se às mais variadas necessidades e desejos do consumo contemporâneo. Verdadeiro camaleão, o jeans adaptou-se às características e aos tempos: dos beatniks dos anos 50, aos punks da década de 70, passando pelos jeans oversize dos grupos street do hip hop, na última década do século passado, chegando à era dos conglomerados de luxo, como os caríssimos e exclusivos jeans super premium, do século XXI. Num mundo globalizado, em que as fronteiras são cada vez mais ténues, o jeans mistura desejos e estilos de vida. Um pouco como a música, para a qual não existem barreiras entre culturas, nacionalidades, idades, credos e distinções sociais. O jeans alia energias, confere poder aos seus adeptos, pessoas que escolheram vestir um item intemporal, e provavelmente a peça de roupa com mais capacidade para se renovar e reinventar.

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O tecido Denim é um tecido 100% algodão. Característica marcante desse tipo de tecido é o seu tingimento, com corante índigo. O corante índigo não tem muita afinidade com o algodão, por isso o tingimento fica apenas superficial nos fios de urdume. Em tecelagem, o urdume ou urdidura

é

o

conjunto

de

fios

dispostos

longitudinalmente através dos quais a trama é tecida. Cada fio de urdume num tecido é chamado de "urdume final", formando em cada fio um anel azul e deixando o núcleo branco. Com isso a solidez do tecido é muito resistente ao atrito. Quando o tecido sofre atrito perde a sua camada superficial de fibras e com isso perde a cor. E esta é a matéria-prima para a fabricação de artigos jeans. Uma das classificações do “denim” é pelo peso, que é indicado em Onças/jarda² (1 Oz/jd² = 33,91 g/m²). Os pesos comerciais mais comuns são 14,5 Oz/jd² (mais pesado), 12 Oz/jd² e 9 Oz/jd² (mais leve). Actualmente estima-se o consumo mundial desse tecido acima de 3 bilhões de metros lineares por ano. Sendo que os Estados Unidos, a Europa e o Japão, representam juntos mais de 65% do consumo mundial. O Brasil é um dos principais produtores deste tecido, com uma capacidade de produção acima de 600 milhões de metros lineares por ano.

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Modelos de jeans Tradicional: Cintura no lugar e pernas de corte afunilado. Chamada de five pockets (cinco bolsos), três na frente e dois atrás, uma referência à pioneira 501 americana da Levi's. Porque o seu corte acompanha as linhas do corpo, costuma assentar bem em vários tipos de pessoas. Antifit: Baseada no Modelo da 501. Tem botões ou fecho, adaptada á silhueta do consumidor, com cintura baixa, quadril desestruturado e corte recto nas pernas. Como o próprio nome diz, não é um jeans que se molde perfeitamente ao corpo; fica com pequenas sobras no quadril e cavalo. Tem pontos a favor: o conforto e o estilo. Bootcut (Corte para botas): Uma variação do antifit, tem a perna um pouco mais larga do joelho para baixo, para facilitar o uso de botas para dentro da calça. Semibaggy: Por ter cintura no lugar, quadril largo e corte da perna ligeiramente afunilado, de cintura fina e quadril largo. Tight Fit ou Slim Fit: (molde justo ao corpo): com cintura baixa, tipo SaintTropez, marca bem os quadris e tem as pernas justas, com corte afunilado ou recto. Cigarrete: Molde ajustado ao contorno do corpo, pernas justas e cintura baixa. Algumas versões usam a mistura de jeans com Lycra. O resultado é uma calça ainda mais justa ao corpo. Oversized (tamanho exagerado): são as calças de jeans bastante largas. As formas são amplas não favorecem as pessoas mais baixas (diminuem a silhueta) nem as pessoas mais bem constituídas (encorpam a silhueta). Base extra dimensionada de cintura larga, quadril desestruturado e pernas amplas. Skinny: Molde bem justo, principalmente abaixo do joelho. Parecida com Leggings, porém de tecido jeans.

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As Jeans e o mundo feminino Os jeans inicialmente concebidos para trabalhar nas minas, foram pouco a pouco sendo utilizados por mulheres e crianças. As primeiras mulheres a usar calças jeans foram as hippies dos Estados Unidos em meados dos anos 60, usando os jeans rasgados, dos irmãos ou pais. Embora já existissem jeans para mulheres, tal não estava estandardizado nem na moda, e não era socialmente bem aceite. Por volta dos anos 80, começou a difundir-se o uso dos jeans a outras áreas, e aqueles começaram a ser utilizados por outras mulheres que não tinham qualquer ligação ao movimento hippie.

No início dos anos 90 inicia-se a difusão e o uso de jeans para mulheres a nível internacional, e começou a expandir-se também a sua produção, alterando a sua textura, cor e brilho. Hoje, os jeans são produzidos tanto para homens como para mulheres. Os segundos com uma variedade de detalhes e apliques tanto nos bolsos traseiros como nos laterais, com uma textura, corte e cor diferente. As dos homens com diferentes matizes. O mais comum é o clássico azul, mas hoje podemos encontrar jeans de várias cores. É comum hoje em dia que as mulheres, geralmente jovens entre 10 e 30 anos, mas também de outras gerações usem jeans, com excepção de alguns países, maioritariamente no Oriente Médio, onde a sua utilização lhes está vedada.

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Curiosidades Falando de celebridades, fama e fortuna, não podemos deixar de fora a rainha da pop, Madonna, que usou “look” total de jeans em muitas das suas criações.

Desde os anos 80 que esta tendência de moda explodiu com o fenómeno do “designer jeans” ou jeans de grife. Quando o polémico anúncio de Calvin Klein, em Times Square, Nova York mostrou a então muito jovem Brooke Shields, com uma legenda onde se lia que “nada” existia entre ela (sua pele, sua nudez) e os seus “calvins”.

O tecido participa em movimentos políticos, defende

causas, alia-se a elas, como roupa

utilitária. Um bom exemplo é a ilustração, na capa do jornal Saturday Evening Post, que mostra uma dona de casa americana, masculinizada, uma operária, apoiando o seu país junto dos aliados na Segunda Guerra Mundial. A partir dessa época, muda o estilo de vida da mulher Born in USA. Ela passa

a

fazer

parte

activa

da

sociedade,

trabalhando, contribuindo para a independência da nação. Na ilustração, ela usa um “overalls”, (macacão), que nos anos 60, durante a Revolução Sexual e de Costumes, viraria roupa de hippie. Nas colecções masculinas dos últimos 4 anos, o macacão volta como tendência forte, 12


perdendo terreno apenas desde o ano passado, para o trench-coat, que também já ganhou versão em jeans.

Os jeans fazem parte da cultura pop em todo o mundo. O tecido revolucionário entrou na Casa Branca e o presidente Barack Obama, que os usa com frequência, não é pioneiro ao endossar um visual denim. Nesta foto de 1976, o presidente Jimmy Carter posa, usando uma camisa de chambray.

A ligação do jeans ao fenómeno musical ficou imortalizada em vários discos da pop music & rock’n roll. As capas, “After de Goldrush”, de Neil Young, (1970), “Sticky Fingers”, criado por Andy Warhol, para os Rolling Stones em 1971, a estreia dos Ramones em 1976, e “Born in USA” de Bruce Springsteen, em 1984, são exemplos bem claros do envolvimento.

Embora a estrela da música pop e companheiro de Paul, Ringo e George nos “quatro de Liverpool” John Lennon não nos tenha deixado uma capa de disco louvando o jeans, usava-os no seu quotidiano, como podemos ver na foto, durante a gravação do álbum “The Beatles”, em 1968.

Terra de sonhos e modas, Hollywood imortalizou nos anos 50 personagens criados por James Dean e Marlon Brando, como no filme “O Selvagem” (The Wild One) de 1953, em que o blusão de couro é baseado no modelo jeans 501 da Levi´s. 13


As jeans e as pessoas Long ago, when James Dean and Marlon Brando wore it, denim was "a symbol of youthful defiance." Akst

Em qualquer rua, aeroporto, parque ou centro comercial pode ver-se uma criança, um adolescente com os amigos ou mãe e filha nas compras a usar calças de gangas. Vê-se os jovens todos vestidos de igual forma. Segundo o autor Daniel Akst, a popularidade das calças de ganga é uma manifestação da tendência moderna para se vestir indiferenciado, no qual todas as pessoas se esforçam para se vestir de forma medíocre.

A fantástica história da aventura das calças de ganga começou em Nimes, em França, onde foi fabricado pela primeira vez, e foram popularizadas em 1792 pela indústria têxtil de Maryland, na Nova Inglaterra, Estados Unidos. Por ser um tecido que não merecia grandes cuidados e que era durável, teve como fim as roupas para o trabalho no campo e também para os mineiros de ouro na Califórnia. Estas calças mais macias eram produzido por um alfaiate da Califórnia, que fazia calças para mineiros, e que, mais tarde, se associou à LeviStrauss, que popularizou as jeans de uma forma mais comercial. Mais tarde, estas passam para a passerelle assinadas por Calvin Klein, e a partir daí passam mesmo a ser utilizadas por todas as classes sociais, como uma peça de estilo. Pode-se dizer que as actuais calças de ganga têm o mesmo estilo daquelas que fizeram sucesso com os mineiros, depois com todos os trabalhadores americanos, e, mais tarde, com os hippies, que as utilizaram como símbolo de rebeldia contra as roupas convencionais.

As calças de ganga, tornaram-se uma peça difundida mundialmente e utilizada pela maioria da população. Assim, e mesmo que de forma inconsciente, as pessoas utilizam-nas de forma a obterem um maior conforto social. A maioria dos meios que frequentamos no nosso dia-a-dia estão repletos de pessoas com 14


calças de ganga vestidas, e por isso, quando as trazemos, somos “apenas mais um”, não corremos o risco de sermos “olhados de lado” por destoarmos da multidão. Contudo, exitem determinadas situações em que isto não se verifica. Quer seja em eventos mais formais ou determinadas profissões mais específicas, a maioria das pessoas opta então aqui por outro tipo de peça em detrimento das jeans. Nestas situações, as calças de ganga muitas vezes passam a ser vistas como um factor de diferenciação ou até de rebeldia. Este carácter de diferenciação social pode então ser igualmente atribuído às jeans. Embora de uma forma mais subtil, o facto de existirem diversos modelos, faz com que os indivíduos se sinto singulares com esta peça, quer por se integrarem no estilo de uma determinada tribo urbana, ou por se destacarem da mesma por usarem um modelo mais diferente ou costumizarem as suas jeans à sua própria maneira.

Desta

forma,

por

se

caracterizarem

como

uma

peça

prática,

suficientemente confortável, de fácil manutensão e conjugação com outras roupas e acessórios, esta é uma das peças de vestuário preferida pela grande maioria da população.

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Fotografias: “O alfaiate lisboeta�

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A semiótica dos Jeans Os jeans, contrariamente ao que se passa nos dias de hoje, foram criados para serem usados pelos mineiros, pela sua grande resistência e durabilidade, tendo sido também essas as características levaram à sua popularização e difusão a nível mundial, pois acompanhavam os indivíduos durante vários anos e muitas vezes eram herdados pelos membros mais novos da família. Embora estes sejam factores importantes no que toca à globalização dos jeans, o motivo principal foi a entrada desta peça nos sistemas tradicionais da moda, quando na década de 70 apareceram num desfile de Calvin Klein. Com isto os jeans passaram a ser usados por todo o tipo de pessoas, de todas as classes sociais e faixas etárias, porque se tornaram um símbolo da moda, passaram a significar algo mais e ganharam uma grande visibilidade fora dos EUA. A passagem desta peça, de peça útil, herdada e utilizada por determinados grupos que se opunham aos sistemas tradicionais de moda, como hippies e punks, leva também a uma grande mudança na sua simbologia, o que antes servia de modo de distinção agora era utilizado como modo de integração e uniformização. A semiótica, ou seja a sua simbologia, o que comunica aos outros sobre o indivíduo alterou-se completamente com essa mudança. O vestuário é usado para comunicar constantemente, sempre que nos vestimos estamos consciente ou inconscientemente a passar algum tipo de mensagem, não nos vestimos apenas para nos protegermos do clima ou de cobrir as partes pudicas do corpo, vestimo-nos para dizer algo, para comunicar. Até mesmo as fardas, que quando comparadas com o discurso linguístico, podem ser consideradas mensagens de baixa semântica, pois o que transmitem deixa pouca margem para dúvidas, transmitem uma mensagem, como por exemplo o fardamento militar ou de outros agentes de autoridade expressam claramente o papel social que desempenham, definindo o seu cargo e grau hierárquico. Além dessa primeira função do vestuário de comunicar um papel social, uma classe este pode também servir para despoletar determinado sentimento no observador e até mesmo no utilizador, adquirindo assim uma maior semântica, e por isso uma maior diversidade de interpretações as mesmas fardas podem 19


transmitir segurança, medo ou outros sentimentos, que já dependem do observador, do local e época e não do utilizador. O fardamento, e o vestuário em geral é essencial no desempenho do papel social de cada um de nós, continuando com o exemplo das autoridades, estas sentem-se em pleno desempenho da sua função quando vestem o uniforme, sentem a ascensão hierárquica no momento em que vestem o novo uniforme, outro exemplo é o do executivo que veste o seu fato todos os dias para encarnar melhor a personagem, ou até mesmo os atletas que sentem que fazem parte da equipa quando vestem o uniforme. Como será fácil de perceber as peças com alta semântica serão todas aquelas que podem ter múltiplos significados, que variam consoante o conjunto, o utilizador, o observador, o local e o tempo, pois o mesmo par de calças de ganga pode significar várias coisas dependendo do contexto em que está introduzido. Como qualquer componente da moda, também a semiótica do vestuário está sujeita a constantes mudanças, pois o que hoje pode transmitir uma mensagem de determinada ideologia, na próxima estação pode significar algo completamente diferente, por estes motivos é mais difícil classificar a “linguagem” do vestuário, é difícil defini-la, pois aproxima-se mais de formas de comunicação mais abstractas, mais inconscientes e normalmente menos “notadas” como a comunicação visual, táctil e térmica do que da linguagem verbal, pois ao contrário desta, a semiótica das peças de vestuário está em constante mudança. Desde a sua criação no século XVII (ou século XIX, quando se tornou popular entre os trabalhadores nos EUA) até aos dias de hoje, a sua capacidade de comunicar, o modo como o faz e o que comunica foram mudando e adaptando-se aos seus utilizadores, os jeans deixaram de ser vistos apenas como roupa de trabalho, e ao serem introduzidos no sistema da moda passaram a ser desejados por todos. Começaram como símbolo de rebeldia, era usados por grupos que viviam “à margem” da sociedade, grupos que se “auto - excluíam” desta pelos seus ideais divergentes, pela sua vontade de ir contra o que era aceite por todos e passaram a ser usados por cantores, actores e por todos os seus fãs. Como é frequente acontecer na moda, tudo o que rompe com os valores da sociedade e que vai contra a mesma é facilmente divulgado e aceite por todos, tornando-se uma peça massificada, deixando assim de ser algo contra a

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sociedade passando a fazer parte integral da mesma durante um determinado período de tempo, não sendo diferente com os jeans. Algumas questões continuam a intrigar-nos até hoje como o que tornou os jeans numa peça intemporal, praticamente um ícone, o facto de manter permanentemente na moda e vista como uma peça indispensável e confortável, apesar de terem surgido peças em novos materiais muito mais confortáveis e igualmente resistentes, no fundo o que tem esta peça que fascina tanto o ser humano. Existem vários factores que podem explicar o fascínio pelos jeans, começando pela cor, o azul, a principal cor desta peça, é uma cor que tem várias associações perceptuais, emocionais e simbólicas na cultura ocidental, como por exemplo a virgem Maria, o mar, o céu, está associado com a moral, o lazer e é também a cor associada ao nosso planeta. A ganga azul tanto é considerada colorida como neutra quando comparada com outras peças e é considerada uma peça que se pode facilmente misturar com peças de outras cores sem causar desarmonia. É uma peça que facilmente se molda ao corpo e toma as suas formas, adaptando-se de forma única a cada corpo, tornando uma peça produzida em massa em algo muito pessoal e único. Pelo seu carácter moldável também permite a revelação do corpo contido sem uma intenção expressa, conferindo-lhe o potencial de facilitar a empatia somática e revelar nuances do género e personalidade corporal. Além da personalização inconsciente, feita através do movimento e do uso, é uma peça que pela sua relativa homogeneidade permite e até encoraja o utilizador a personalizá-la de modo consciente com acessórios. As características, normalmente atribuídas a esta peça, de confortável e relaxante, prendem-se a propriocepção, ou seja a percepção corpo/mente, capacidade de sentir o corpo constantemente. O principal factor que se crê que seja o motivo pelo qual os jeans são tão utilizados, pode relacionar-se com não com a mensagem que passa para o exterior mas com a mensagem que passa para o próprio individuo que os usa. A roupa tende a ser vista como um modo de comunicação simbólica apenas para o exterior, transmitindo mensagens mais ou menos claras para o outro, mas mais importante do que a mensagem passada para fora do corpo é a mensagem que passa na direcção oposta, a mensagem que passa para o próprio individuo, sendo por isso o vestuário uma peça de conexão bi - direccional com o mundo. 21


Muitas vezes ao vestirmos determinada roupa estamos, tendo ou não consciência disso, a tentar incutir determinada atitude, sentimento em nós mesmo, podemos tomar como exemplo a já referida farda militar, ou até mesmo pequenas tradições como vestir roupa interior azul no Reveillon para trazer boa sorte, isto são formas que encontramos de incutir em nós mesmos determinados pensamentos, formas de que nos ajudem a desempenhar o devido papel na sociedade, o vestuário é portanto um adereço indispensável na caracterização interior das várias personagens que compõem a nossa personalidade. A própria sensação de vestir a peça, apertar o botão, correr o fecho e movimentar as pernas dentro de uma peça nova que se começa a moldar ao corpo transmite sensações ao utilizador. Os jeans incutem na maior parte dos utilizadores dois sentimentos opostos, o de integração e o de diferenciação. O primeiro relacionase com a sua, chamemos-lhe assim, funcionalidade primordial, a de integração, pois serviam quase como uniformes para os trabalhadores, era um modo de identificar uma profissão, uma classe específica, sendo que hoje em dia transmitem a mesma sensação de integração mas num contexto diferente, o indivíduo que veste calças de ganga pode pertencer a qualquer classe e ter qualquer profissão e ainda assim sentir-se integrado em toda a sociedade pelo simples facto de utilizar esta peça, pois todos a usam. O segundo liga-se com o facto de ser comum encontrar nos guarda-roupas mais do que um par de calças jeans, sendo muitas vezes todos muito semelhantes, mas que são vistos pelo utilizador como peças diferentes e que funcionam como motivo de destaque na multidão, devendo-se isto também ao facto já referido de serem uma peça altamente personalizável. Em suma, os jeans tornaram-se universais pelo seu carácter prático, pela sua capacidade mútua de integração e de diferenciação e pela forma de comunicação bi – direccional, pois além de permitir a comunicação com o exterior, transmitindo mensagens sobre a o grupo social, ideologias, pensamentos, é também uma manifestação material de diferentes modos de habitar e vivenciar o corpo, servindo assim como elo entre o mundo e o eu, pois este também afecta o corpo e a mente, o pensamento e os sentimentos do utilizador.

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Bibliografia  Sites:

http://www.lycrafuturedesigners.com.br

 Livros:

GILCHRIST, William; MANZOTTI, Roberto; A Visual History of Jeanswear American Originals; Sportswear international, cult LITTLE, David; BOND, Larry; Vintage Denim; Little Bond; MONTEIRO, Gilson; A Metalinguagem das roupas ECO, Umberto; O hábito fala pelo monge

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