Relatório Azul 2012

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PARTE II - DIREITOS HUMANOS NA AMÉRICA LATINA 202

de 2003), e do impeachment a que foram submetidos três deles, obedeceram a uma razão mais simples, pequena e prosaica: criar espaços e depois preenchê-los com as pessoas que estavam mais comprometidos com aqueles que controlavam o poder político. O impeachment do presidente Fernando Lugo, em junho de 2012, teve conotações diferentes do que os anteriores e, inclusive, inéditas na história do Paraguai. Sua destituição não foi apenas uma ruptura institucional, mas foi uma derrota popular. A direita vitoriosa conseguiu deter as emergentes ações de um governo progressista e garantiu que em 2013 não ocorreria um crescimento dos setores favoráveis a essa tendência. Afastar Lugo do poder era essencial para reduzir significativamente os efeitos das chances eleitorais da esquerda. Agora, a disputa se dará entre os setores conservadores. Essa direita vitoriosa (integrada pelos “partidos golpistas”: Partido Colorado, NRA, PLRA, UNACE, PPQ, PDP), ideologicamente contra Lugo, controla 93% das cadeiras em ambas as casas do Congresso e durante seus quase quatro anos de governo, se constituiu em um obstáculo intransponível. Esta composição das câmaras explica o elevado número de votos, tanto para a acusação como para a condenação do presidente Lugo. Na verdade, o que foi feito sob a roupagem de impeachment é mais um episódio na luta de classes dentro da sociedade paraguaia, episódio em que os parlamentares como representantes das classes dominantes, abortaram um emergente processo de mudança em benefício das classes populares. 14 O DESPERTAR DOS MÁGICOS

Imediatamente após o triunfo conservador e das medidas impostas ao Paraguai internacionalmente, surgirão nas invocações da mídia de massa slogans como “tradição, família e propriedade”, ao mesmo tempo em que reivindicava a “ordem católica tradicional” e se condenava a teologia da libertação, a “neo subversão esquerdista” e o “socialismo do século XXI”, definida como “metamorfose do comunismo”. O Conselho Municipal da Cidade do Leste adoptou a delirante decisão de remover um busto de Simón Bolívar como repúdio ao governo venezuelano. O setor mais conservador da Igreja Católica se manifestou contra o governo anterior e em favor da nova situação, através do Presidente de Conferência Episcopal do Paraguai (CEP), monsenhor Claudio Jiménez, e do Bispo da Cidade do Leste, Rogelio Livieres, principalmente. Os Representantes da Associação Rural do Paraguai (ARP), a Federação de Indústria, Produção e Comércio (FEPRINCO), a União Industrial Paraguaia (UIP) e a União


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