Tese de Mestrado

Page 153

153 o número de entidades estranhas a que o homem fica sujeito e o homem se torna cada vez mais pobre como homem. Fromm acrescenta que Marx não previu até que ponto a alienação chegaria a ser o destino das pessoas, como os executivos, que manipulam símbolos e homens em vez de máquinas282. O operário depende da expressão de certas qualidades pessoais como habilidade e confiança de que é merecedor; não é obrigado a vender sua personalidade, seu sorriso e suas opiniões ao ser contratado. Os manipuladores de símbolos não são contratados apenas por sua perícia, mas também por suas qualidades pessoais que os tornam ―acondicionamentos de personalidades atraentes‖ de fácil trato e manuseio. São verdadeiros homens da organização, cujo ídolo é a empresa. O próprio Fromm283 sugeriu a leitura de Paul Tillich, que analisa o conceito de alienação (estrangement) numa dimensão mais existencial e teológica284. As duas abordagens, portanto, parecem complementares. Numa visão teológica, Tillich considera que o conceito de alienação (estrangement), embora não bíblico, está presente em muitas descrições das dificuldades e difíceis escolhas do ser humano. Está presente na descrição que o apóstolo Paulo faz da luta interior do homem contra si mesmo quando perverteu a imagem de Deus, transformando-a em ídolo285. O autor prossegue mostrando que essa alienação traduz-se por duas expressões na Confissão de Ausburgo: o ser humano se encontra ―sem fé e com concupiscência‖ (sine fide erga deum et cum concupiscentia)286. Ele acrescenta uma terceira expressão: a hybris, que poderia se traduzir por orgulho, no sentido de auto-elevação. Pensamos que as duas últimas expressões (hybris e concupiscência) ajudam a entender com mais profundidade o conceito esboçado por Marx e permitem uma análise mais acurada da alienação presente nas organizações.  Alienado, o homem se encontra fora do centro divino e é centro de si mesmo e do seu mundo; por isso, ser ele mesmo e ter um mundo 282

Ibid. p. 60. Confere, no capítulo 2, a definição do executivo como analista simbólico que encontramos em Robert Reich. 283 Menciona na nota 1 da pág. 50 a conexão que Paulo Tillich faz entre os dois conceitos. 284 TILLICH, Paul, Systematic Theology three volumes in one, Chicago, The University of Chicago Press, 1967, Volume two, Part III, I, C e D p. 45 ss. 285 Op.cit. p.45. 286 Op.cit. p. 47.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.