Tese de Mestrado

Page 146

146 espiritualidade institucionalizada da sociedade moderna, ou seja o espírito com que essas instituições são percebidas e vividas: ―Ora o fetiche como espírito das instituições não surge do nada mas existe ligado a determinada organização social. Existe uma determinada coordenação do nexo corporal entre os homens, onde as relações sociais entre eles aparecem como relações materiais, isto é, como regras naturais e necessárias; pelo contrário, a relação material entre as coisas é vivida como uma relação social entre seres vivos. Os homens se transformam em coisas, e as coisas em sujeitos animados. Já não é o homem o sujeito que decide, mas são as mercadorias, o dinheiro, o capital, que, transformados em sujeitos sociais, decidem sobre a vida e sobre a morte de todos os homens. Os objetos adquirem vida e subjetividade, que é a vida e a subjetividade dos homens projetada nos objetos.(...) Portanto, o espírito de vida ou morte numa sociedade não pode ser analisado como um problema subjetivo ou casual, ligado à boa ou má vontade das pessoas; pelo contrário, é o problema de uma determinada espiritualidade institucionalizada numa determinada organização material da relação entre os homens.‖267

Esta teoria do fetichismo não analisa instituições (como a escola, a empresa etc.) mas sim as relações mercantis e as realidades que elas ocultam: ‖Portanto, o interesse direto da teoria do fetichismo é responder à pergunta: como está organizada e coordenada a divisão social do trabalho e que papel desempenham, dentro dessa organização e coordenação, as instituições?(...) Todavia, à teoria do fetichismo não interessa a análise de qualquer sistema de divisão social do trabalho, mas precisamente aquela que tende a ocultar, a tornar invisível o efeito da divisão do trabalho sobre a vida e a morte dos homens, a saber: a forma de relações mercantis. Com efeito são as relações mercantis que fazem aparecer como se fossem duas coisas totalmente independentes e desconexas, de um lado, as relações entre os homens e, de outro, os efeitos da divisão do trabalho sobre sua vida. Mais ainda, ao contrário de outras instituições, no caso das relações mercantis dá-se uma invisibilidade específica: a de seus resultados sobre a vida dos homens. (...) A teoria do fetichismo projeta-se sobre as formas de ―ver‖, de ―experimentar‖, de ―viver‖ as relações mercantis. Nesta análise, descobrese que, uma vez desenvolvidas as relações mercantis, as se mercadorias transformam em mercadorias sujeitos. Ou seja, adquirem as qualidades de ―pessoas‖; adquirem ―vida‖. Mas se o homem não toma consciência do fato de que essa aparente vida das mercadorias não é mais do que sua própria vida projetada nelas, chega a perder o livre exercício de sua liberdade, e, no final, sua própria vida. Pois bem, aqui chegamos ao ponto

267

Ibid. p. 7 e 8.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.