Tese de Mestrado

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134 modernas não se restringe ao processo de exclusão social e cultural da religião: combina, de um modo complexo, a perda de poder dos grandes sistemas religiosos sobre uma sociedade que reivindica sua plena capacidade de orientar seu próprio destino, com a recomposição, sob uma nova forma, das representações religiosas que permitem que esta sociedade pense a si mesma como autônoma. Logo, Hervieu-Léger enuncia quatro proposições: 1. Proclamando que a história humana pertence aos homens que a constróem e afirmando que o mundo dos homens é um mundo a ser apenas construído por eles, a modernidade rompeu radicalmente com todas as representações de um desígnio divino que se realiza inelutavelmente na História. 2. Contudo, o modo como a modernidade religiosa pensa a história permanece dependente da visão religiosa de que ela se separou para conquistar a própria autonomia. Nas sociedades modernas, por muito tempo, se pensou a história "secular" segundo o modelo da chegada do Reino: colocou-se no horizonte de progresso científico e técnico cada vez maior a recapitulação total da história humana e a realização total das potencialidades humanas, no campo material, na esfera do conhecimento e, mesmo, no campo moral. 3. Os valores que fundam a modernidade: a razão, o conhecimento e o progresso, permanecem. Tiram sua capacidade de mobilização do fato de que não se pode lhes atribuir limites. A realização só pode ser, do ponto de vista da modernidade, um horizonte nunca alcançado. As sociedades modernas vivem num estado permanente de antecipação, tanto no campo da ciência no qual toda nova descoberta levanta uma nova problemática que leva a um novo esforço de conhecimento quanto no campo da economia, em que o aumento da quantidade de bens produzidos e dos meios de produção faz continuamente surgir novas necessidades. A dinâmica "utópica" da modernidade situa-se inteira nessa valorização da inovação, ela mesma ligada a um estado permanente de nãosaciedade. É o "imperativo da mudança241". A modernidade retoma o 241

GAUCHET, Marcel, Le Désanchantement du monde. Une histoire politique de la religion, Paris, Gallimard, 1985.


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