Tese de Mestrado

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108 ―Era uma vez um mundo perfeito. Os bens duráveis duravam a vida inteira, os casais ficavam juntos até que a morte os separasse, as grandes empresas sustentavam seus funcionários para sempre, as crianças ficavam quietas na hora do jantar. Talvez não se soubesse direito para onde se ia, mas ia-se com passos firmes, subia-se degrau após degrau após degrau e as palavras-chave eram paciência e segurança. O mundo corporativo era um mundo sólido: carreiras sólidas em empresas sólidas, caminhos asfaltados e obstáculos de concreto. Como qualquer mundo perfeito, este era um mundo chato, aborrecido, mas era um mundo cheio de referências: o tamanho da sala, o nome do cargo, o diploma na parede... Até que um dia veio o terremoto da modernidade, e o mundo corporativo teve que se curvar à veracidade do diagnóstico de (quem diria?) Karl Marx: "Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profanado, e os homens são finalmente forçados a enfrentar com sentidos mais sóbrios as suas reais condições de vida e sua relação com outros homens."189 Por isso, surgiu uma nova necessidade para que as empresas possam sobreviver: a capacidade de adaptar-se à mudança porque, segundo Tom Peters, ―a mudança é e deve tornar-se a norma.190‖. A lógica da prosperidade no caos pode assim ser resumida: a incerteza e a complexidade estão aumentando

e só

podem

completamente às exigências da mudança

permanente; o paradoxo, segundo ser vencidas pela ação que acaba levando ao fracasso porque não responde Peters, é que quanto mais rápido o fracasso, melhor para a empresa porque força a inovação a uma velocidade supersônica191! Assim a vida empresarial enfrenta vários paradoxos: a mudança produz a mudança e a ação continuada é o melhor antídoto à incerteza

produzida...

pela ação; a

inovação

permanente garante a

sobrevivência, portanto a estabilidade; o fracasso garante o sucesso e o sentimento de urgência permanente é o alicerce da serenidade; o ―jeitinho‖ e o empirismo são conceitos estratégicos chaves e deve-se desconfiar de teorias, de conceitos, de diplomas, de peritos e de muita papelada; a adesão ao projeto empresarial é mediada pela visão inspiradora do líder; finalmente, cultua-se o herói e o campeão que devem possuir a energia, a paixão, o idealismo, o

189

COHEN, David, As empresas vão ser deles, Exame 31 (661): 105-106, 06 de maio 1998. PETERS, Tom, Le chaos management, Manuel pour une nouvelle prospérité de l’entreprise, Paris, Interéditions, 1988 (traduzido em português por Prosperando no caos pela editora Harbra de São Paulo e já esgotado) citado em AUBERT, GAULEJAC, op. cit. p.100. 191 PETERS, Tom, Le chaos management, Manuel pour une nouvelle prospérité de l’entreprise, Paris, Interéditions, 1988, p. 316. Em Vencendo a crise, p.79, o mesmo autor fala do fracasso perfeito, porque toda tentativa, mesmo que fracasse merece ser comemorada porque conduz mais perto da excelência. 190


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