Tese de Mestrado

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101 reflexão crítica sobre a "civilização"169. A idéia principal desse filósofo é que a humanidade caminha desde suas origens para estados de desenvolvimento cada vez mais perfeitos. No seus discurso de recepção na Academia Francesa, ele tinha dito que "Toda descoberta é um benefício para a humanidade." Portanto, por um estudo científico do homem e da sociedade, seria possível criar uma arte social que permitiria que uma elite esclarecida pudesse conduzir o resto da humanidade em direção à felicidade. Seriam constituídas ciências que teriam como objeto o próprio ser humano e como objetivo sua felicidade: elas poderiam prever os progressos da espécie humana, dirigi-los e acelerálos, teriam o mesmo progresso e ofereceriam a mesma certeza que as ciências físicas desde que a humanidade se libertasse dos antigos preconceitos e do peso da tradição para os quais só pode existir o desprezo. Condorcet apresentava o aperfeiçoamento das leis e das instituições públicas como a conseqüência lógica do progresso destas ciências. Segundo ele, nas sociedades arcaicas existiam dois tipos de pessoas: os impostores e os que eram enganados por eles. Porém, a civilização era o fruto de um processo, que podia passar por períodos de decadência mas era irreversível. Ele, também, insistia sobre o papel importante das atividades comerciais e industriais que ajudavam o desenvolvimento das ciências e das técnicas, que permitiam progressos na produção dos bens de consumo mais comuns, enaltecendo ao mesmo tempo a superioridade do novo conhecimento e as vantagens do desenvolvimento do comércio170. Podemos resumir, com Passmore, as etapas do raciocínio que leva os pensadores do iluminismo a acreditarem que os tempos novos chegaram: até essa época, o homem foi uma criança em termos de conhecimento e, por conseqüência, em termos de virtude; pela ciência, ele tem agora condição de determinar como a natureza humana se desenvolve e o que o ser humano deve fazer; esse novo conhecimento pode ser expresso de modo inteligível para todos os homens; sabendo o que se deve fazer, os homens agirão em conseqüência e, portanto, melhorarão suas condições morais, físicas e políticas. Desde que nada de sinistro prejudique a transmissão do

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THUILLIER, Pierre, La grande implosion, rapport sur l'effondrement de l'Occident 19992002, Paris, Fayard, 1995, p. 65s. Oferece uma boa síntese do pensamento de Condorcet embora não nos sentimos obrigados de aceitar todas as suas conclusões.


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